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A lanchonete estava lotada para uma manhã de quarta-feira, mas Jungkook não viu problema em ficar por lá para ter a, tão esperada, conversa com a sua suposta irmã. A maior parte das cadeiras estava tomada por pessoas aproveitando o tempo livre antes de irem trabalhar.

Por um momento, ele cogitou usar uma desculpa para adiar a conversa, mas estava ciente de que Paige não desistiria tão fácil; então só restou ao detetive aceitar o convite dela.

Jungkook percebeu que Jimin ficou observando-os à distância até ser chamado pelo porteiro para entrar na instituição. Ele relutou a princípio, mas acabou cedendo em seguida.

Paige tentou convencer Jungkook a aceitar um café, mas ele resistiu e disse que não estava com fome. Não vendo outra saída, a mulher requisitou apenas o seu pedido enquanto o rosto de seu irmão se mantinha fechado em concentração.

— Eu estou feliz que tenha aceitado conversar comigo. — Paige disse, se encontrando tomada por um súbito ressentimento. — Quando te encontrei, imaginei que você fosse reagir daquele jeito e me pedir um tempo para se recuperar de tudo o que passou no Canadá. Infelizmente, tive que viajar com a minha equipe a trabalho, por isso não deu para te procurar mais cedo.

— O que você quer tanto me falar? — Jungkook perguntou sem mais rodeios, não parecendo realmente interessado em saber.

A mulher hesitou por um segundo antes de responder:

— Você deve saber porque estou aqui.

Jungkook suspirou.

— Olha, Paige, eu vou ser sincero com você. Não estou nem um pouco interessado em saber sobre a sua família e no porquê de eu ter sido abandonado por ela. Eu nem sequer conheço os seus pais. O que aconteceu no passado ficou no passado, hoje eu tenho uma nova vida.

— O que te faz pensar que eles te abandonaram?

— Eu não fui parar em um lar de adoção a toa. — retrucou.

Paige piscou para ele com surpresa e balançou a cabeça para os lados, como se ele estivesse blefando.

— Você não foi abandonado, Jungkook, eles te tiraram de nós. — Ela confessou de repente. — Eu sei que você deve estar confuso agora, mas é importante que tudo seja esclarecido.

Por um momento, Jungkook ficou preso na palavra 'eles', tentando entender o significado por trás dela. Obviamente, Paige não estava falando dos próprios pais, mas de pessoas inimigas, o que serviu para deixar o detetive ainda mais confuso.

— Do que está falando? Quem são eles? — Finalmente, ele decidiu perguntar.

— Antes de você nascer, o nosso pai acabou se envolvendo com alguns agiotas e você sabe que esses caras sempre colocam juros excessivos em cima de um pagamento. — explicou. — Eu tinha sete anos quando esses homens foram até a minha casa cobrar o pagamento deles. E o pior, todos estavam armados. Essas invasões começaram a ser frequentes e por causa disso a nossa mãe teve você um pouco cedo demais.

Jungkook supôs, mentalmente, o que Paige diria a seguir, mas decidiu se certificar disso esperando em silêncio que ela prosseguisse.

— Não tínhamos dinheiro, Jungkook, e tudo o que tínhamos era passado para os agiotas. Minha mãe entrou em desespero quando você nasceu, porque não tínhamos nada, nem uma migalha de pão. Os nossos pais brigavam o tempo inteiro e os vizinhos chegavam a chamar a polícia. Enquanto a nossa mãe só queria nos alimentar, o nosso pai roubava para dar aos agiotas.

— O que vem depois? — perguntou.

— Nossa mãe conseguiu um emprego, mas não durou muito tempo, porque você ainda era recém-nascido e precisava de leite materno. Meu pai achou que tinha se livrado dos agiotas depois de ter pago uma parte da dívida, mas eles voltaram de novo com juros absurdos. Foi então que eles quiseram algo para além do dinheiro: você.

— Por que eu interessaria aos agiotas?

— Antes eu não entendia, mas hoje tenho certeza de que eles quiseram você só para desestabilizar a nossa família. — Ela contou. — Você não tinha valor para eles, mas tinha para nós.

Jungkook ficou em silêncio por um tempo. Paige sabia que ele não estava acreditando naquela história e, se estivesse, certamente desconfiava de algumas partes. Depois de conhecer a reputação de seu irmão, ela imaginou que isso pudesse acontecer.

Já era esperado que ele reagisse duvidosamente, afinal se passaram mais de vinte anos sem que ninguém, sequer, o procurasse. Jungkook nem ao menos tinha uma prova palpável de que Paige era, de fato, sua irmã de sangue. Para esse problema, no entanto, a moça tinha uma solução.

— Olha, talvez você esteja achando essa história absurda, mas tudo o que te contei é verdade. — Paige disse olhando nos olhos dele. — Podemos fazer um teste de DNA se quiser. Você mesmo pode escolher o laboratório e pegar o resultado.

— Como você me achou? — Foi tudo o que ele disse em resposta.

— Pode não parecer, mas eu estou te procurando há anos. — confessou. — A nossa mãe entrou em desespero quando o nosso pai te entregou para os agiotas. Ela nem sequer comia direito, passava a noite em claro planejando formas de te achar. Depois que isso aconteceu, ela pediu o divórcio e fomos embora para Manhattan, mas mesmo estando longe, ela nunca deixou de te procurar. Eu fiquei devastada vendo o sofrimento da minha mãe e prometi para mim mesma que te encontraria para que ela parasse de pensar que você estava morto.

Para resumir, Paige jogou com a sorte, pois, naquela época, nem ela mesma sabia se Jungkook estava vivo. No entanto, não foi esse ponto que prendeu a atenção do detetive. Por mais estranho que pudesse parecer, ele desejou saber onde a sua mãe estava agora.

— Onde ela está? — perguntou, surpreendendo Paige.

— Em uma clínica psiquiátrica. — disse. — Ela está há 24 anos sofrendo de uma depressão severa e sempre que volta para casa, tem recaídas. Mas eu tenho certeza que o pontapé para a cura dela está na minha frente agora.

Jungkook não deveria ter se sentido mal por ouvir aquilo, mas ele se sentiu. Ele não se culpava por ter julgado a sua mãe biológica antes de conhecer a verdade sobre ela, mas isso não significava que, agora, ele não estava magoado consigo mesmo por não ter procurado conhecer o seu passado.

— Quando eu cresci, procurei um emprego para ajudar nas despesas da casa e foi nesse trabalho que uma amiga me falou que sonhava em ser policial. — Paige prosseguiu. — A partir de então, eu comecei a estudar sobre a CIA e descobri que esse era o único jeito de saber se você ainda estava vivo. A minha mãe já tinha tentado de tudo, mas você era um bebê sem nome, pois ela não tinha conseguido te registrar a tempo, por isso não foi possível filtrar a consulta.

— Então como você conseguiu me achar?

— A CIA esconde muitos métodos de investigação por serem considerados "ilegais". Eu tive acesso a um desses métodos enquanto estava na academia de treinamento. — Ela confessou, medindo as palavras para que não caíssem em orelhas erradas. — Foi um homem quem me ajudou a coletar o máximo de informações possíveis sobre você. Não posso te dar detalhes sobre isso, só posso dizer que essas buscas me direcionaram ao lar de adoção onde você foi deixado e, posteriormente, à família que te adotou.

— Quem foi o homem que te ajudou? — Ele interpelou, parcialmente confuso, parcialmente interessado.

— Seokmin.

Jungkook ficou, vagamente, esverdeado com a revelação. Ele não podia crer que Seokmin esteve ao seu lado durante a força-tarefa conjunta no caso da máfia e nem sequer comentou sobre a sua trajetória investigativa com Paige. Mesmo que não pudesse revelar a identidade dela, poderia ao menos contar que alguém o estava procurando.

— Antes que você tome conclusões precipitadas, Seokmin não sabe que você é o meu irmão. — Paige disse, como se tivesse lido os seus pensamentos. — Ele me ajudou nas buscas, mas deixou que eu fosse atrás das respostas por conta própria. Quando descobri que você se chamava Jungkook e que estava estudando na academia do FBI, esperei que o seu treinamento fosse finalizado para ir te encontrar, mas não deu certo, porque você teve de viajar para o Canadá.

— Por que você não participou da força-tarefa com o Seokmin quando a CIA foi chamada?

— Eu estava em outra missão quando soube da força-tarefa. Entrei em contato com o Seokmin, mas ele disse que só poderia me encaixar se a equipe estivesse desfalcada. No final, eu só pude ir atrás de você quando soube que vocês estavam de volta aos Estados Unidos.

Jungkook a encarou enquanto pensava sobre tudo aquilo. Depois da morte de sua irmã, ele achou que nunca mais voltaria a ter contato com um membro de sua família de novo, exceto Cecily, que agora morava com uma amiga em Seattle.

Era estranho pensar que sua irmã de sangue o procurou por todos esses anos e que, mesmo sem conhecê-lo, ela se comportava como se fossem íntimos. Jungkook podia ver o brilho de felicidade nos olhos dela sempre que mencionava o seu passado. Especialmente as partes em que citava-o.

De repente, Jungkook sentiu o toque sutil de uma mão em seu braço. Ele foi atraído para o gesto dela, que não recuou mesmo depois de perceber o movimento dos olhos dele para o seu súbito contato. Em vez disso, Paige deslizou os dedos de encontro aos de seu irmão e segurou-os com força.

— Eu estou tão feliz por você ter sobrevivido e por finalmente poder te conhecer. — Paige disse, sorrindo. — Se a nossa mãe estivesse aqui, ela diria que milagres acontecem.

Jungkook suspirou.

— Na verdade, eu tive sorte. — Sua voz tinha uma ponta de mágoa. — Minha família adotiva não gostava muito de mim, eles diziam que eu era uma aberração. Minha irmã tentou me matar, meu pai arrancava sangue das minhas costas sempre que eu me recusava a ir à igreja e a minha mãe me xingava por não ser "homem o bastante". Bem, ao menos ela se arrependeu das coisas que disse.

— Foi por isso que você fugiu, não é?

Jungkook ficou surpreso por ela ter conhecimento dessa parte de sua história, mas não tanto, pois sabia que, por ser uma agente da CIA, Paige possuía muitos recursos de investigação ao seu alcance, então não era tão difícil somar os fatos.

— Eu morei com uma senhora durante a minha adolescência e foi ela quem me deu forças para entrar no FBI. — Jungkook contou. — Infelizmente, ela faleceu quando eu ainda estava na academia.

— Sim, eu a conheci. — Paige revelou. — Ela estava muito doente quando nos encontramos. Foi ela, inclusive, quem me contou que você estava treinando para entrar no FBI.

— Sou muito grato por ela ter me aceito. — Jungkook disse, deixando escapar uma nota sugestiva.

Quando Paige finalmente percebeu que ele não estava falando apenas de ter sido bem recebido na casa dessa senhora, de repente, o funcionário da lanchonete surgiu com o seu pedido, fazendo-a recuar a mão do braço de Jungkook na mesma hora.

O funcionário deixou a xícara de café próxima a ela e em seguida se retirou. Paige encarou Jungkook, como se o que estivesse prestes a dizer fosse sigiloso demais para ser dito em voz alta.

— Você está namorando com Park Jimin, não é? Eu soube que ele foi uma das vítimas do caso em que você trabalhou.

— Sim, é verdade.

— Os seus superiores não devem ter reagido bem a essa notícia... — Não havia nenhuma acusação em seu tom, mas Jungkook não gostou de entrar nesse tópico. — Mas o importante é que vocês estão bem. Ele me parece ser um garoto adorável, embora eu não o conheça.

— Sim, ele é.

Paige se calou diante da resposta de seu irmão. Jungkook não ficou incomodado por falar de Jimin, na verdade, ele não queria dar detalhes sobre a sua vida amorosa para uma pessoa, ainda, desconhecida e que acabou de chegar em sua vida de paraquedas.

Aparentemente, Paige percebeu isso, pois de repente ela se convenceu de que deveria mudar de assunto.

— Olha, Jungkook, sei que não temos nenhum vínculo afetivo, mas eu gostaria de começar do zero, de te conhecer melhor e de me aproximar de você. Quero que me dê um voto de confiança para investir nisso.

Jungkook suspirou.

— Acho melhor irmos com calma. Eu não quero magoá-la, mas ainda estou processando tudo o que você me disse.

— Eu te esperei por anos, então consigo aguentar mais um pouco. — Ela disse com uma centelha de expectativa. — Vou te dar o tempo que precisar, mas pense com cuidado, principalmente por causa da nossa mãe. Ela nunca se recuperou do que o nosso pai fez com você, e te ver seria um bom remédio.

— Acha que ela me reconheceria? — Ele sabia que a resposta era não, mas quis perguntar mesmo assim.

— Quando ela te olhar nos olhos, saberá que é você. — Paige disse com um sorriso nos lábios. — Antes de você ser levado, ela já tinha escolhido o seu nome, mas infelizmente não pôde usá-lo.

— E como seria?

— Ethan.

Jungkook parou para pensar sobre aquele nome e a sua definição. Ethan significa homem sábio, que se destaca por sua força, coragem e firmeza. Se os nomes fossem capazes de definir a individualidade de cada pessoa, Jungkook poderia ter se chamado Ethan.

— Talvez ainda seja cedo para te pedir isso, mas eu acho que você deveria ir visitá-la. — Paige falou, esperando ouvir uma objeção em resposta. Mas, ao invés disso, Jungkook ficou quieto e pensativo. — No início ela pode não te reconhecer, mas se você disser que é o Ethan, com certeza ela saberá. Até hoje você é chamado assim, mesmo sem um registro, então não será difícil.

— Eu não estou preocupado com a reação dela e sim com a minha. — respondeu. — Eu não a conheço e não tenho sentimentos por ela, isso pode decepcioná-la.

— Ela sabe que você ficou longe por mais de vinte anos. — Jungkook ainda parecia indeciso. — Tudo o que a nossa mãe quer é construir uma relação com você, Jungkook. E depois de tanto tempo afastada, ela merece ter esse encontro.

— Você contou a ela que estou vivo?

— Não, porque eu queria falar com você primeiro. Fiquei com medo de ela criar expectativas sobre um possível reencontro e depois você não concordar em vê-la.

Por mais que não a conhecesse, Jungkook desejava encontrá-la pela primeira vez, conhecer o seu rosto, ouvir a sua voz, a sua risada, o seu choro e as suas palavras de mãe. Mesmo não sabendo se a sua reação iria assustá-la ou decepcioná-la, Jungkook queria ajudar ela a se livrar dos remédios e, para isso, era necessário reencontrá-la.

Depois de passar tanto tempo achando que a sua mãe biológica era insensível e que o tinha abandonado, Jungkook acreditava que esse seria o melhor momento para pedir desculpas a si mesmo pelas conclusões errôneas que tomou. Ele precisava olhar nos olhos da mulher que também foi vítima de seu pai de sangue e fazê-la sorrir ao chamá-la de mãe.

Por um momento muito breve, Jungkook pensou em perguntar a Paige o que tinha acontecido com o seu pai nos últimos anos, mas desistiu assim que percebeu que não seria uma boa ideia. Ele não queria ter notícias do homem que o entregou aos agiotas, mesmo suspeitando que o destino dele não parecia ter sido bom.

Antes que Jungkook pudesse dar a sua resposta final, o celular em seu bolso vibrou. Quando ele fisgou o aparelho e observou o visor, viu que era uma mensagem de texto de Yoongi.

— Está tudo bem? — Paige perguntou depois de ver Jungkook mudar de expressão.

— É a minha equipe, eles precisam de mim.

O estômago de Paige de repente ficou pesado. Ela forçou um sorriso compreensivo, embora tenha ficado triste por dentro. Depois de tanto tempo longe de seu irmão, ela gostaria de passar mais tempo com ele, mesmo entendendo o motivo por trás de sua partida.

— Tudo bem, você precisa ir. — Paige disse, deslizando a xícara que o funcionário trouxe para perto de seu tronco. — Eu me faço companhia enquanto você trabalha.

Jungkook sorriu.

— Eu gostaria de ficar um pouco mais, mas a minha equipe precisa de mim.

— Não se preocupe, eu realmente entendo como isso funciona. — Ela sorriu e viu a sua chance de reforçar o pedido anterior. — Pensa com carinho no que eu te pedi. Você não vai se arrepender de reencontrar a nossa mãe.

Seu irmão deu um longo suspiro.

— Eu vou processar tudo o que você me falou e tomar uma decisão. — Mesmo não sendo uma confirmação, Paige sorriu para a sua resposta. — Pode me passar seu número, caso eu queira te ligar?

— Claro.

Ela abriu a bolsa e procurou por algo no meio de suas coisas; em instantes, estendeu um pequeno cartão na direção de Jungkook, que o pegou na mesma hora.

— Este é o meu número pessoal. — Ela informou. — Vou esperar que me ligue, mas não tenha pressa, eu te esperei por todos esses anos e posso esperar por mais uns dias.

— Obrigado.

Depois de agradecê-la, Jungkook se pôs de pé, sendo imediatamente acompanhado por Paige, que se levantou ao mesmo tempo que ele. Ela abriu a boca para lhe dizer algo, mas as suas palavras não saíram no primeiro momento, elas demoraram alguns segundos até serem ouvidas.

— Posso te dar um abraço? — Ela perguntou hesitante, sua voz estava tão tensa quanto um fio.

Jungkook demorou a responder e quando o fez, apenas balançou a cabeça em um sim. Depois da história que ela contou, o detetive não quis parecer arrogante e negar o seu pedido. Embora o seu instinto o dissesse para ter paciência, ele quis abraçá-la mesmo assim.

Qualquer dúvida que estivesse pairando ao redor deles desapareceu quando Paige tomou a iniciativa de o abraçar, envolvendo os braços em torno de seu pescoço. Ela o apertou contra si, descarregando a saudade que acumulou durante todo esse tempo sem vê-lo. Jungkook retribuiu o gesto depois de fazer uma pequena pausa no caminho.

Era estranho abraçar a sua irmã tendo a sensação de que ela era uma desconhecida. Jungkook não estava acostumado com esse tipo de intimidade no primeiro momento, mas também não quis desagradá-la agindo com indiferença. Por mais que não houvesse vínculos afetivos entre eles, Jungkook lançou sua resistência para longe e decidiu dar uma chance a esse momento.

Em instantes, eles se afastaram, mas Paige desejou continuar atrelada nos braços reconfortantes de seu irmão por mais um tempo. Jungkook olhou para ela, recompondo-se para, finalmente, partir, e então disse:

— Eu te ligo depois.

A mulher acenou com a cabeça, sorrindo, e então recuou uma pegada, ciente de que Jungkook só estava esperando pela sua resposta para ir embora. Prevendo isso, Paige observou o seu irmão dar as costas e dirigir-se até o carro do outro lado da rua, onde entrou, olhando-a pela última vez, e deu partida.

✮✮✮

— Pronto, agora podemos conversar. — Taehyung disse ao fechar a porta da cabine de estudos que ficava nos confins da biblioteca.

— Tem certeza que a Carly não te viu? — Jimin perguntou quando o observou fisgar a cadeira à sua frente e sentar-se. — Ela não parece gostar muito quando venho aqui.

— A Carly é lerdinha, ela quase nunca percebe nada. — Ele respondeu, dando de ombros e, então, se debruçando sobre a mesa. — Agora me conta, por que você me chamou aqui? Não me diga que é alguma fofoca cabulosa.

— Então... — Jimin pausou, tomando um pouco de fôlego antes de prosseguir. — Eu te chamei aqui porque quero te contar sobre a minha noite com o Jungkook.

Seu amigo abriu a boca em surpresa e, em um tom histérico, disse:

— Rolou?

— Não é o que você está pensando. — Taehyung comeu as próprias palavras e recuou o tronco, brevemente desapontado. — Na verdade, nós conversamos sobre isso e eu desabafei com ele sobre o meu receio de avançarmos um pouco mais na nossa relação.

— Eu pensei que você tivesse dormido fora justamente por isso. — Ele observou.

— Não, eu dormi na casa do meu pai por um outro motivo. — explicou. — Lembra da mensagem que o Jungkook recebeu de alguém se passando por mim? Ele disse que seria melhor eu morar com o meu pai por um tempo até descobrirem quem fez aquilo.

— Então eu e a Hannah vamos morar sozinhos?

— Sim. — Taehyung pareceu endurecer. — Mas não será por muito tempo, só até descobrirem quem clonou meu celular. Além do mais, eu vou te ver todos os dias aqui no colégio e também vou visitar Hannah.

Meio entristecido, meio conformado, Taehyung balançou a cabeça em concordância entendendo os motivos por trás da partida de seu amigo. Para a segurança de Jimin, ele tinha de morar em uma casa, potencialmente, segura, mesmo que não tivesse sido diretamente ameaçado.

— Ok, agora me conta o que vocês conversaram. — Taehyung retomou o assunto, curioso demais para esperar.

— Eu disse a ele que me sinto inseguro e que não consigo me entregar dessa forma. Sempre que penso em nós dois juntinhos desse jeito, uma coisa estranha embrulha o meu estômago. Não é que eu sinta nojo do Jungkook, na verdade eu sinto nojo do ato, não dele.

— E o que o Jungkook respondeu?

— Disse que isso nunca será um problema, porque eu sou a prioridade dele. — Engolindo em seco, Jimin continuou com a voz mais calma que conseguiu: — Não estou certo de que isso seja totalmente verdade. Ele é um homem experiente, Tae, uma hora ou outra sentirá vontade, sendo comigo ou não.

— Olha, anjinho, se o Jungkook disse que o sexo não é a prioridade dele e sim você, então é verdade. — Taehyung opinou com sinceridade. — Talvez você esteja confuso agora porque está acostumado a ouvir que o sexo é essencial em um relacionamento, mas lembre-se que o seu namorado é Jeon Jungkook e ele é o tipo de cara que detesta padrões.

— Você acha que isso é essencial no seu relacionamento com o Yoongi?

— Ursinho, eu e Yoongi praticamente vivemos disso. — Jimin abaixou a cabeça, sentindo vontade de se chutar por pensar naquele tipo de pergunta. — Mas nós somos diferentes de vocês. Para o Yoongi, sexo é indispensável. Para o Jungkook, sexo é irrelevante. Não compare o relacionamento de vocês com o nosso, pois somos diferentes em todos os aspectos.

— Tae, eu não digo essas coisas só pelo Jungkook, mas por mim também. Às vezes, tenho vontade de tirar a minha roupa e me entregar; o meu corpo responde dizendo que posso ir além, mas a minha mente me impede de continuar.

— E o que a sua mente diz?

Jimin se calou por um momento, esperando ganhar tempo para formular uma resposta, mas a verdade era que ele não conseguia verbalizar aquela resposta. Ele tinha dificuldades para encarar a realidade de seus problemas, ainda mais sabendo que todos eles estavam voltados para uma única pessoa.

— Eu me sinto observado por ele, Taehyung. — Ele confessou, sentindo um aperto de pânico em seu peito. — Sempre que estou sozinho com o Jungkook, sinto que o Derek está me observando. Tenho medo de me envolver com o Jungkook dessa forma e na hora H sentir que aquele desgraçado está me vendo. Não consigo nem sequer me olhar no espelho, porque acho que ele está no quarto me espiando.

— Mas o Derek está morto...

— Não na minha cabeça. — respondeu. — Ele ainda está dentro de mim e toda vez que o Jungkook me toca de um jeito diferente, é o Derek quem eu vejo.

— Está dizendo que o Jungkook te faz lembrar o Derek?

— Não! — Ele disse rápido demais. — Ele simplesmente aparece, como se eu estivesse fazendo algo de errado. O Derek era muito possessivo comigo e agora eu sinto que ele pode me pegar no flagra e me punir a qualquer momento.

— Anjinho — Seu amigo segurou suas mãos sobre a mesa. — O Derek não existe mais. Ele morreu e você precisa se convencer disso.

— Eu tenho medo de não conseguir me livrar dele, Taehyung...

— Você não era assim antes de ser levado, era? Se esse medo apareceu com o tempo, ele pode desaparecer também. — Jimin suspirou, como se fosse difícil acreditar naquelas palavras. — Se você sente vontade de se envolver intimamente com o Jungkook, então consiga isso, mas dentro do seu tempo. Não apresse as coisas como se o seu trauma fosse desaparecer depois de vocês transarem. Seu problema pode se agravar ainda mais se não for bem trabalhado por um psicólogo antes.

Jimin parou para pensar nas palavras de seu amigo e se perguntou no quão reais seus pensamentos eram. Se o que pensava estivesse mesmo acontecendo, Derek teria aparecido meses atrás para atormentá-lo, mas as notícias que circulavam por aí eram de que o seu corpo havia sido cremado. Talvez se tivesse visto as suas cinzas, Jimin não estaria tão convencido de que ele ainda estava vivo.

— Não pense nessas coisas, ok? — Taehyung disse de repente. — Não fique tão focado se o Jungkook está com tesão ou não, ele sabe pelo que você passou e vai respeitar o seu tempo. Se ficar sem sexo fosse um problema para o seu namorado, tenho certeza que ele já teria achado uma desculpa para terminar com você.

— Você acha?

— Claro! O trabalho do Jungkook é pesado, ele poderia facilmente usar isso a seu favor para romper o namoro de vocês, mas ao invés disso ele tenta conciliar as duas coisas porque se importa com você.

Jimin suspirou.

— É, talvez você esteja certo.

— É óbvio que estou certo! — Ele se vangloriou. — Se o Yoongi tivesse um terço da responsabilidade que o seu namorado tem, com certeza eu teria me casado com ele há muito tempo.

Finalmente Jimin riu. Ele achava engraçada a forma como Taehyung e Yoongi se tratavam, ao mesmo tempo que tudo parecia flores, de repente se tornava um mar de espinhos. Era óbvio que eles se gostavam, mas ainda não tinham aprendido a lidar com as diferenças um do outro.

Sob a ótica de Jimin, o que eles viam como comportamentos desiguais, na verdade eram mais que idênticos.

— Por falar no Yoongi, vocês se acertaram? — Jimin perguntou, mudando o foco da conversa anterior.

— Ele esteve na minha casa ontem... — Imediatamente, Jimin deduziu o que o seu amigo diria a seguir. — Nós conversamos sobre aquele desentendimento no parque e decidimos seguir em frente. O Yoongi é um cabeça-dura às vezes, mas ele também sabe se redimir... menos quando o assunto é Ric Stewart.

— Não me diga que ele ainda está cismando com o Ric.

— O Yoongi colocou na cabeça que eu me envolvi com o Ric na mesma época em que ficamos. Bem, não deixa de ser verdade, mas não namorávamos.

— Ele deveria esquecer esse assunto. O Ric não tem culpa de nada. — Jimin disse. — Além do mais, eu soube por aí que o Ric está em outra.

Taehyung endureceu os olhos em sua direção de repente, como se tivesse acabado de ver um fantasma.

— O que disse? Como assim "está em outra"?

— Foi o Jungkook quem me contou. Parece que ele e Layla estão saindo, sabe? — Quando Taehyung não disse nada em acréscimo e continuou a observá-lo em completo transe, Jimin prosseguiu: — Por que está me olhando assim? Você mesmo disse que o Ric foi um passatempo.

— Não era exatamente verdade.

— Taehyung. — Ele disse o seu nome em um tom de repreensão, ganhando os olhos sorrateiros de seu amigo. — Você não pode namorar os dois ao mesmo tempo. Decida-se logo.

— Na verdade, eu posso! — Ele pausou quando Jimin apertou os olhos. — Mas o Yoongi não quer.

— Nem o Ric. — acrescentou.

— Tudo bem! — Ele levantou as mãos em rendição, declarando inocência. — O Ric não quer mais saber de mim e eu não estou nem aí. Por mim, tanto faz.

— Bem melhor assim, não acha?

Taehyung o encarou com uma falsa incredulidade.

— Você fala que eu estou dividido, mas você também ficou perturbado quando o Vernon voltou. — Por mais que o seu comentário tenha sido parte de uma brincadeira, Jimin não gostou disso.

— Diferente de você, eu sei com quem quero ficar. — Ele rebateu, entrando, inevitavelmente, na brincadeira. — E vamos parar de falar sobre o Vernon, porque ele não vem ao caso. Estamos falando desse trisal mal resolvido em que você se meteu.

— Calma, ursinho, foi só uma brincadeira. — Ele disse entre risos, embora estivesse nervoso por dentro. — Olha, não tem o que resolver entre mim e eles, ok? É o Ric e o Yoongi que precisam se resolver.

— Você sabe que eles estão se engalfinhando por sua causa, não sabe? O Yoongi acha que você ainda tem sentimentos pelo Ric e por isso insulta o pobre coitado. Está na hora de dizer ao Yoongi de quem você gosta de verdade, ele precisa dessa certeza. — Taehyung suspirou, finalmente concordando. — Não fique chateado por eu dizer essas coisas. Você me deu alguns conselhos e agora é a minha vez de fazer isso.

— Não estou chateado.

— Então posso confiar que a partir de hoje essa história estará resolvida?

— Pode. — disse e como se tivesse uma janela para os pensamentos de Jimin, Taehyung falou em seguida: — E eu posso confiar que você vai acreditar mais no seu namorado?

— Eu acredito nele.

— Se acreditasse mesmo não acharia que ele é capaz de te trocar por causa de sexo. — Jimin ficou mudo diante de sua resposta. — Se você concordar, o nosso acordo está feito.

Jimin permitiu-se refletir sobre aquele comentário. Ele acreditava muito em Jungkook, mas em certas ocasiões sua mente o sabotava e o fazia enxergar o lado ruim das coisas. E o garoto sabia que essa insegurança era uma sequela deixada pelos homens que o tocaram, especialmente Derek.

Antes de ser levado, inclusive, Jimin conseguia se relacionar normalmente com os seus parceiros e não tinha medo de ser tocado por eles. Nunca chegou a ter relações sexuais com nenhum, mas já experienciou momentos íntimos com a maioria, principalmente com Vernon.

Talvez Taehyung estivesse certo, pensou; se esse medo apareceu de repente, ele poderia desaparecer da mesma forma, Jimin só precisava descobrir como o fazer.

Antes que pudesse dar a sua resposta, Taehyung deu um salto quando Carly abriu a porta da cabine e olhou para ambos com uma expressão entediada. Pela forma como ela os encarava, aparentemente trazia alguma notícia.

— A diretora está chamando todos no pátio, ela quer dar um aviso. — informou.

Jimin e Taehyung se entreolharam ligeiramente.

— Isso inclui nós dois? — Taehyung perguntou, referindo-se a ele e a Carly.

A menina deu um sorriso desdenhoso e respondeu:

— Óbvio. — Quando ninguém disse nada, Carly terminou: — Não demorem.

Dito aquilo, ela deu as costas e avançou para longe. Jimin e Taehyung se levantaram ao mesmo tempo depois de ficarem alguns segundos em silêncio; ambos desconfiados sobre o aviso da diretora. Eles trocaram olhares quando perceberam que a biblioteca estava completamente vazia.

— Você não tinha dito que a Carly era lerdinha? — Jimin perguntou quando eles finalmente se puseram para fora da biblioteca, seguindo um grupo de estudantes que também marchava para o pátio.

— Acho que me enganei. — Ele respondeu naturalmente.

Jimin revirou os olhos por dentro, mas se manteve inexpressivo por fora. Conforme andava, percebeu que todos os corredores estavam vazios, exceto aquele que dava para o pátio. Muitas pessoas começaram a se amontoar uma atrás das outras para ouvir o aviso da Sra. Torres, que já se encontrava posicionada em cima de um palanque improvisado.

Não havia muito espaço sobrando, então Jimin e Taehyung tiveram que ficar próximos da parede traseira para não serem espremidos. A maioria dos estudantes estava conversando entre si enquanto a Sra. Torres organizava o comunicado com a professora de biologia.

— Parece que o Vernon e o Josh não estão se falando. — Taehyung comentou baixinho, fazendo Jimin olhar na mesma direção que ele.

Vernon estava reunido com o time de basquete à sua esquerda, enquanto Josh, à sua direita, olhava fixamente para o palanque. Ele estava de braços cruzados e com uma expressão séria, indicando seu típico mau humor. Por um momento, Jimin se assustou ao ver que ele era o único que estava concentrado demais nas duas mulheres em cima do palanque, especialmente na professora de biologia.

Antes que pudesse pensar sobre aquilo, Jimin ouviu a Sra. Torres dar duas batidinhas no microfone, o que chamou a atenção de todos para a plataforma suspensa.

— Bom dia, meus queridos! Houve um pequeno problema técnico, mas tudo já foi resolvido. — Ela disse com gentileza. — Bem, eu chamei todos aqui porque quero fazer um convite especial. Não se preocupem, isso não tomará o tempo de vocês, será breve.

Jimin olhou para Josh novamente e percebeu que ele ainda olhava para a professora de biologia, que agora se encontrava às costas da diretora enquanto a mesma discursava. Ele se perguntou brevemente o porquê de Josh estar tão fixado nela, mas não teve tempo de pensar em uma resposta, pois Taehyung puxou o seu braço e cochichou em seu ouvido:

— O Vernon não para de te olhar.

Depois de ouvi-lo dizer isto, Jimin olhou para Vernon e o flagrou sorrindo na sua direção. Após ganhar a sua atenção, ele acenou disfarçadamente por baixo do braço, sendo retribuído na mesma proporção. O menino não quis ser mal educado e, por isso, não viu problema em corresponder o seu gesto de cumprimento.

— Antes de darmos início às aulas, gostaria de informar que teremos um baile de boas vindas no sábado. — A Sra. Torres prosseguiu, arrancando cochichos da platéia. — Tragam os seus amigos, seus familiares, seus namorados e namoradas, qualquer pessoa que esteja disponível para acompanhá-los. Nós daremos início ao baile após o jogo de basquete, que ocorrerá duas horas antes do festival. O time do treinador Alex estará representando a nossa escola e irá disputar com o time de basquete de Tacoma. Espero que todos possam comparecer.

Após mencionar a festa de boas vindas, muitas pessoas começaram a conversar entre si sobre a programação para o sábado, inclusive Taehyung, que não perdeu tempo e disse:

— Nós precisamos vir! — Jimin o encarou, desanimado. — Você chama o Jungkook e eu chamo o Yoongi. A Hannah pode vir também, senão ela vai virar uma múmia de tanto que dorme. Podemos achar um par para ela, o que acha?

— Não sei se quero vir...

Taehyung colocou as mãos no quadril e o encarou incrédulo.

— Por quê?

— O Vernon vai estar aqui, não quero que ele e o Jungkook se esbarrem.

Seu amigo revirou os olhos como se tivesse acabado de ouvir uma blasfêmia.

— Não seja bobo, anjinho, o Jungkook está cagando para o Vernon. Além do mais, quem é que tem coragem de negar comida e bebida de graça?

— É uma festa para as pessoas do colégio, não sei se o Jungkook iria se enturmar. — justificou.

— Não arrume desculpas. Nós vamos vir e ponto final. — Ele finalizou.

Aparentemente, Taehyung estava decidido a comparecer ao baile, então, só restava a Jimin concordar em vir também. Ele preferiria ficar na casa de Jungkook ao invés de perder tempo escolhendo as roupas para o baile.

Jimin nunca gostou de ir aos bailes da escola, porque sempre tinha de escolher o seu par, que, na maioria das vezes, deveria ser uma menina, então acabava se sentindo desanimado antes mesmo do evento começar. Para a sua sorte, Hannah o salvava nesses momentos indecisos e o acompanhava em todos os bailes, ajudando-o a ficar com Vernon às escondidas.

Aparentemente, a escola decidiu descartar essa regra e permitir que os meninos convidassem qualquer pessoa para o baile além das meninas. No entanto, esse era o menor dos problemas para Jimin agora.

— Estejam prontos para o baile de boas vindas e não percam o jogo de basquete que também estará valendo medalhas. — A diretora continuou. — O nosso time precisa do apoio de vocês, assim como o nosso baile. Estamos preparando um show musical, uma peça de teatro e muitas outras novidades, então não deixem de vir para o nosso evento e de aproveitar todas as surpresas que estamos organizando. Agradeço a atenção de todos e tenham uma ótima aula!

A Sra. Torres disse algo no ouvido da professora de biologia e elas desceram do palanque juntas. Quando o aglomerado de pessoas começou a se dispersar para as suas salas, Taehyung e Jimin finalmente puderam se desgrudar um do outro. Taehyung parecia inevitavelmente feliz com a notícia do baile, enquanto o humor de Jimin continuava o mesmo. Ele decidiu fazer o convite para Jungkook, mas estava quase certo de que ele negaria devido à sua rotina no trabalho.

— Não fique com essa cara, Jimin, vai ser divertido. — Taehyung disse.

— Eu só vou vir porque você está insistindo.

Taehyung abriu um sorriso de orelha a orelha, mas antes que dissesse algo em acréscimo, uma voz interrompeu a conversa deles.

— Oi, pessoal. — Vernon os cumprimentou, mas o seu olhar demorou tempo demais em Jimin.

— Oi. — Eles disseram ao mesmo tempo.

— Como você está, Jimin?

O garoto pescou o discreto olhar que ele deu para os seus braços expostos e, rapidamente, entendeu a sua pergunta. Jimin sentiu-se grato por Vernon não ter mencionado na frente de Taehyung o fato de ele não estar usando o moletom.

— Eu estou bem. Obrigado.

Vernon sorriu.

— Vocês vêm para o baile? — Ele perguntou, apenas para aliviar a tensão que pareceu florescer em Jimin.

— Estamos pensando em vir com os nossos namorados. — Taehyung enfatizou, mesmo que o termo "namorado" não se aplicasse a Yoongi na prática.

— Que bom... — apreciou. — Vocês vão estar aqui na hora do jogo também?

— Bem, se o namorado do Jimin estiver disponível, acho que eles vêm. Mas o meu, neste caso, não vai poder vir, então eu também não. — Taehyung argumentou, recebendo um beliscão nas costelas e um olhar censurador.

— Ele está blefando, Vernon. — Jimin reformulou a resposta de seu amigo. — Mesmo que o Jungkook não compareça ao jogo, eu vou estar aqui para torcer por vocês.

Vernon sorriu encantadoramente.

— É muito importante para mim que você esteja me assistindo, Jimin. Eu estou trabalhando duro nesse time, então espero que o resultado seja bom.

— Aposto que será.

Taehyung olhou para eles com os olhos semicerrados, mas não disse uma palavra. Ele estava preparado para cortar qualquer investida que Vernon ousasse soltar no meio da conversa. Mas, até o momento, ele tinha se comportado bem.

— Eu tenho que treinar agora. Te vejo no sábado? — Vernon perguntou, especificamente para Jimin, que confirmou com um chacoalhar de cabeça. Em seguida, ele se virou para Taehyung e disse: — É uma pena que você não possa vir, eu adoraria que estivesse aqui para torcer por nós. Quem sabe o seu namorado te libera da próxima vez.

— Ei! — Ele realmente se ofendeu. — Não preciso pedir permissão para ninguém.

— Então por que não vem assistir ao jogo sem ele? — Taehyung se calou. — Relaxa, eu estou brincando com você.

A carranca desapareceu do rosto de Taehyung, mas sua expressão continuou fechada. Jimin quis rir da reação de seu amigo, mas se conteve. Ele se recordou de todas as vezes que Vernon e Taehyung se provocaram, chegando ao ponto de serem repreendidos em sala de aula.

Vernon foi obrigado a se despedir deles quando o treinador Alex o chamou com um assopro no apito. Quando ele se ausentou às pressas, Jimin virou de frente para o seu amigo e cruzou os braços contra o tronco, parecendo aborrecido.

— Você não deveria ter falado com ele dessa forma, Taehyung.

— Eu só disse que você iria vir com o seu namorado. Qual é o problema nisso?

— Ele sabe que eu estou namorando outra pessoa, Tae, não precisa frisar o tempo todo. Isso pode soar como se nós estivéssemos tentando provocá-lo.

Taehyung suspirou.

— Eu não pensei por esse lado, me desculpe. — Jimin balançou a cabeça para os lados, recusando as suas desculpas.

— Fica tranquilo, tá? — Taehyung apenas o encarou. — Bem, o professor já deve estar na sala. Posso te encontrar no intervalo no mesmo lugar de sempre?

— Claro.

No momento em que Jimin virou, um par de mãos pesadas empurrou o seu corpo com força, fazendo-o tropeçar nos próprios calcanhares e atingir as costas na parede. Quando ele se deu conta do ataque, seu semblante ficou pálido e seu estômago azedou.

Josh Parker estava na sua frente, prometendo atacá-lo novamente caso ele se movesse. Taehyung ficou petrificado no mesmo lugar, vendo o seu amigo ser encurralado pelo agressor, que deu dois passos à frente e o segurou pelo colarinho.

— O que você disse ao Vernon, sua bicha? — Josh rosnou, ficando a centímetros de distância do rosto dele.

— Eu não sei do que você está falando!

— Sabe, sim.

Os instintos de Jimin o alertaram de uma possível agressão, mas nada aconteceu. Josh estava olhando-o com uma mistura de raiva e repulsa, desejando que ele pudesse confirmar as acusações que fizera. Jimin tentou regular a respiração quando o rapaz espremeu o seu colarinho entre os dedos.

— Contou a ele sobre as coisas que eu disse, não contou? — Josh perguntou, seus olhos estavam cheios de desprezo. — Você não passa de uma putinha desamparada.

— Me larga!

— Você acha que o Vernon vai te comer se o colocar contra mim? Não se iluda, idiota. — Jimin tentou se livrar do controle de Josh, mas sua blusa foi esmagada ainda mais pelas mãos dele.

— Solte ele, Josh. — Taehyung ordenou, ganhando os olhos do rapaz por alguns segundos. — Se você não o soltar agora...

— Vai fazer o que, Taehyung? Me bater? Você é igual ao seu amiguinho: não tem colhões.

Tarde demais, a raiva incendiou o peito de Jimin e uma estranha força cresceu dentro dele, fazendo-o acertar um soco na mandíbula de Josh, o suficiente para fazê-lo escorregar para trás. Depois de se recordar dos treinamentos que fez com Jungkook, uma parte de Jimin não se importou em operar as habilidades de luta recém descobertas.

Surpreso pelo súbito ataque, Josh o encarou friamente antes de acertar um golpe em seu peito, rápido e forte, mas Jimin se esquivou da segunda investida, o que serviu para acabrunhar o ego de Josh. Enfurecido, o rapaz o agarrou pelo pescoço e o enfrentou nos olhos, ciente de que eles tinham uma pequena plateia à distância.

Jimin ficou muito atordoado pelo que tinha feito segundos atrás para reagir aos golpes dele de imediato. Tudo o que ele fez foi tentar recuperar o ar que Josh havia arrancado ao atacá-lo. Taehyung arregalou os olhos e tentou pensar em algo para livrar o seu amigo dos ataques.

— Não se atreva a tocar em mim de novo, seu merdinha. — Josh disse, rangendo.

— Então tire as suas mãos nojentas de mim! — rebateu.

— Eu vou te dar um aviso, Park. — Ele se aproximou de Jimin, fazendo o cabelo dele esvoaçar com o seu hálito. — Se voltar a falar de mim para o Vernon novamente, eu te mato. Não pense que tenho medo de menininhas.

Taehyung não tinha agido até aquele momento, mas bastou ouvir aquele insulto para que algo em seu interior explodisse, fazendo-o empurrar o corpo de Josh para longe de Jimin. Ele ficou na frente do amigo como se fosse uma muralha, sem temer as consequências de seu ato. Os olhos de Josh passaram por ele com puro desdém.

— Já disse para você ficar longe dele. — reforçou, sua voz parecia mais séria do que antes.

— Ou o quê? — Josh disse, curvando o canto da boca em um sorriso de escárnio. — Acha mesmo que o soco de menina do seu amiguinho me intimidou?

Taehyung deu um passo à frente, ficando cara a cara com Josh. Mais de perto era possível enxergar uma pequena impressão arroxeada causada pelo golpe de Jimin.

— Por que não intimida o namorado dele? — Taehyung perguntou, debochadamente. — O que acha disso, Parker? Eu realmente estou curioso para saber se você tem colhões para enfrentar o diretor-assistente do FBI.

De repente, o sorriso no rosto de Josh desapareceu. Taehyung percebeu que aquela informação o deixou chocado por dentro, embora ele tenha sido cuidadoso em não demonstrar. O olhar dele encontrou o de Jimin por cima do ombro de Taehyung. Havia um brilho diferente em seus olhos, algo que Jimin nunca viu antes.

Foi então que sua mente concluiu: Josh Parker estava assustado.

— O que foi, Parker? Perdeu a língua? — Taehyung prosseguiu com um tom venenoso. — Olha, se eu fosse você ficava bem longe do Jimin. Ele odiaria saber que tem um babaca perturbando o namorado dele. Talvez você consiga se safar, mas vai ser difícil ficar tanto tempo escondido.

— Acha mesmo que vou acreditar nessa baboseira?

Taehyung riu.

— Realmente, você não é tão inteligente assim. — Os olhos de Josh estavam cheios de raiva. — Eu só vou te dizer uma coisa, Parker: reze para que ele não descubra sobre isso. Tenho certeza de que você não quer rivalizar com um agente do FBI, porque sabe que ele pode acabar com você em um estalar de dedos.

Tudo ficou em completo silêncio em seguida. Jimin ficou imóvel, como se esperasse pelo pior, mas nada aconteceu. Em vez de reagir agressivamente, Josh optou por dar as costas e sair, passando por um grupo de pessoas feito redemoinho. Jimin, finalmente, pôde respirar aliviado, embora tivesse ficado preocupado por Taehyung expor a identidade de Jungkook no meio da conversa.

— Aposto que ele borrou as calças. — Taehyung sacaneou, rindo para si mesmo.

— Você não deveria ter mencionado a profissão do Jungkook... — Quando seu amigo o encarou, Jimin sorriu traiçoeiramente. — Mas eu confesso que adorei! Você mandou muito bem.

— Só assim para esse verme te deixar em paz. — Jimin riu de seu comentário. — Bem, agora você tem que ir para a aula. Vamos.

Jimin inalou fundo e se encorajou a seguir adiante. Mesmo que tivesse se livrado de Josh naquele momento, ele ainda tinha de encarar uma dúzia de pessoas desconhecidas pelo resto do ano. Sem mencionar que mais tarde teria uma sessão com a terapeuta, então era melhor começar a se acostumar com as sensações desconfortáveis até se adaptar a todas elas.

O garoto disse a si mesmo que tudo ficaria mais tranquilo quando começasse a se adequar à sua nova vida. Ele seguiria os conselhos de Taehyung e tentaria se livrar da sombra de Derek para sempre, assim como passaria a enfrentar Josh, quando fosse confrontado.

Estava na hora de se desapegar do medo.

✮✮✮

Oi meus amores, como vcs estão? Dessa vez eu demorei um pouquinho pra atualizar, mas espero que tenham gostado do capítulo.

Quem achou que o Josh se daria bem nessa treta, se enganou!! Já adianto que o baile de boas vindas promete muita coisa rs. Fiquem ligados!

O nosso menino Ji finalmente entendeu que ele precisa se desapegar da sombra do Derek. Esse é o primeiro passo para a recuperação. Vamos esperar que o nosso anjinho se livre desse medo nos próximos capítulos.

Enfim, se cuidem direitinho e bebam bastante água. Até mais! <3

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