twenty seven᠉
Desde que ingressou no FBI, Jungkook nunca esteve em uma sala de necropsia, embora soubesse que era uma atividade comum em seu trabalho. Agora, lá estava ele para pegar os laudos da avaliação.
O lugar era composto por três grandes mesas, usadas para a realização da autópsia e várias câmaras frias, que armazenavam os cadáveres. As paredes eram pintadas de um cinza opaco e a maioria dos equipamentos era de metal.
Quando pisou os pés no interior da sala, Jungkook teve a sensação de que estava dentro de um refrigerador. A semi escuridão o impedia de observar o lugar por completo, mas os pequenos refletores iluminavam as etiquetas nas câmaras frias.
Os olhos do detetive pousaram na etiqueta que continha o nome da ex-agente. Ele ouviu um barulho de pegadas e observou o médico, junto com o seu enfermeiro-auxiliar, se dirigirem até a câmara e tirarem o corpo da mulher cuidadosamente.
Eles colocaram-na em uma das mesas de metal com o tronco para cima e deixaram seu corpo coberto por um lençol branco. Após ajudar na retirada do corpo, o enfermeiro-auxiliar dirigiu-se para fora da sala, deixando o médico a sós com Jungkook.
À princípio, o detetive só queria o relatório da autópsia para confirmar sua teoria, mas, depois de ouvir o médico-legista dizer que estava à sua procura para mostrar-lhe uma coisa, Jungkook decidiu olhar o cadáver pessoalmente, desejando que essa visita fosse breve.
— Sr. Jeon, aproxime-se, por gentileza — Jungkook pôde ouvir o homem cujo nome era Patrick chamando-o. Ele se aproximou do médico, ficando a poucos centímetros de distância do cadáver. — Eu estava te procurando para mostrar uma coisa. Observe.
O médico segurou a cabeça de Samantha e girou para o lado com cuidado, deixando o lugar que a tatuagem de pentagrama ficava à mostra. No entanto, não era a tatuagem que estava diante dos olhos de Jungkook e sim um minúsculo corte na vertical.
— Esse corte foi feito depois que a vítima morreu — explicou Patrick. — Esse tipo de ferimento costuma ser feito em pessoas grampeadas com pequenos aparelhos eletrônicos.
— Você encontrou algum microchip no corpo dela?
— Não — respondeu. — Não há como saber se era um chip, mas acredito que quem fez a implantação do aparelho, provavelmente o retirou.
Naquele momento, Jungkook pensou em ir até o depósito de evidências para conferir todos os achados na cena do crime. Talvez, pensou o detetive, a perícia tenha encontrado algum micro aparelho no apartamento dela que servisse de prova para a sua teoria.
Porém, lembrou-se que todas as provas do Zakon foram roubadas, então, provavelmente, tudo sobre o assassinato de Samantha também desapareceu, uma vez que o Zakon estava envolvido.
Ainda assim, Jungkook queria acreditar que teria sorte ao procurar no depósito de evidências. Se Samantha realmente estava grampeada, isso significa que os russos que foram presos também possuem o chip.
— Todos os detalhes do crime estão expostos no laudo da autópsia — Patrick informou, fazendo uma pequena pausa antes de prosseguir. — Mas eu gostaria de contar uma coisa que não está no laudo.
Embora a compostura de Jungkook tenha permanecido a mesma após a fala do médico, seus sentidos entraram em alerta, pois, naquele momento, ele sentiu que Patrick estava prestes a fazer uma confissão.
— A Sra. Thompson me ligou para pedir o laudo médico. Ela disse que precisava saber os detalhes do crime. — sua revelação fez todas as linhas da mandíbula do detetive endurecerem.
— Do crime?
— Ela me pediu para não revelar sobre o corte, pois as autoridades buscariam explicações para isso. — Jungkook não pôde esconder sua raiva diante das confissões de Patrick. — Eu quis mostrar pessoalmente o corte porque esse detalhe foi retirado do laudo, não por mim, mas pela Scarlett.
— Ela não tem o direito de fazer isso!
— O senhor sabe que a minha função é estudar o corpo e elaborar os laudos com todos os detalhes da morte, mas a Sra. Thompson se ofereceu para fazer a checagem final.
— O senhor está ciente de que a omissão de um detalhe como esse pode prejudicar a sua carreira, não está? — Patrick suspirou, afirmando com a cabeça em um singelo gesto. — Tudo o que for encontrado deve ser colocado no relatório, caso contrário você estará omitindo informações.
— Eu estou ciente disso, Sr. Jeon.
— E mesmo sabendo dos riscos você decidiu fazer o que a Scarlett mandou. — rebateu. — Quero que refaça o laudo e me entregue em até 24 horas. — ele fez uma pequena pausa. — Melhor dizendo, quero que me entregue os dois laudos.
Patrick apertou as sobrancelhas em sinal de confusão, mas não rebateu às ordens do detetive. Naquele momento, Jungkook teve uma ideia: ele usaria o laudo alterado para manipular Scarlett e o original para dar continuidade às investigações.
Ele iria vestir essa ideia para desvendar as intenções de Scarlett e recolher mais evidências de sua manipulação no caso.
— Se eu não estiver na Central, meu enfermeiro-auxiliar estará com os documentos. — informou Patrick quando o detetive não verbalizou mais nada.
Jungkook balançou a cabeça e colocou a mão no bolso à procura de algo.
— Este é o meu número, me ligue quando os relatórios estiverem prontos.
— Eu tenho o número do senhor. — o olhar no rosto de Jungkook disse a Patrick que aquele não era um número qualquer. — Oh, entendi…
Ele pegou o cartão das mãos do detetive e o guardou no jaleco. Obviamente, Jungkook não daria a ele o seu número de contato usado na agência, afinal os superiores costumavam grampear as conversas para manter a organização.
— Obrigado pela sua honestidade, doutor. Eu vou voltar a procurá-lo mais tarde. — disse o detetive, arrancando um gesto de agradecimento por parte do médico.
— Espero ter ajudado, Sr. Jeon.
Jungkook decidiu não prolongar aquela conversa para evitar que outros federais se deparassem com a sua visita ao necrotério. Scarlett possuía olhos e ouvidos por toda a agência, então, para o detetive, era difícil saber quem eram seus espiões.
Nem ao menos tinha certeza se podia confiar no médico-legista. Nada ali poderia fazê-lo acreditar cegamente em uma informação entregue de bandeja, no entanto, tinha de admitir que Patrick fez questão de mostrar-lhe o corte.
Diante disso, Jungkook escolheu confiar na palavra do médico, estando, evidentemente, de olhos bem abertos. Depois de combinar o horário com Patrick, o detetive dirigiu-se para fora da sala, conferindo a movimentação nos corredores antes de sair por completo.
As paredes daquele setor eram quase nuas de decoração, era puramente um local de mortos. À medida que caminhava, Jungkook percebia os corredores ficarem cada vez mais silenciosos, o que não era comum para uma agência cheia de policiais.
Naquele meio tempo, ele refletiu sobre as informações que Patrick lhe passou. Para Jungkook, todos os membros do Zakon, exceto o líder, possuíam um chip. Embora não soubesse a função do dispositivo, ele supôs que servia como um GPS.
Depois de um tempo, Jungkook se deparou com algumas pegadas e um coro de vozes ecoando à distância. O detetive virou a cabeça na direção do som, avistando, de longe, os ombros aprumados de Seokmin.
Ao lado do agente da CIA estava Layla em seu traje pesado e robusto, abrindo a porta de uma sala para que Seokmin entrasse. O homem voltou-se para Layla, que não fazia questão de esconder sua pressa. Ela balançou a cabeça para o interior da sala, dando-lhe uma ordem.
Seokmin, em contrapartida, não reagiu àquele comando, apenas se manteve observando-a com uma expressão mista de aborrecimento e desafio. De alguma forma, o homem percebeu a presença de Jungkook e os olhos dele se viraram, lentamente, na direção do detetive.
— Veja só quem está aqui… — disse Seokmin, rindo, e caminhou lentamente até Jungkook, que sequer atreveu-se a respondê-lo. — Aposto que foi ideia sua, não é, Jeon? Foi você que mandou a sua parceira me chamar para um interrogatório, não foi?
Layla quase soltou fumaça das narinas após ouvi-lo dizer “parceira” em um tom cínico e sarcástico. Jungkook, no entanto, nada disse, mas seu olhar transmitiu muita coisa.
— Diga-me, por que eu, o diretor da CIA, tenho que me sujeitar a entrar na sua sala de interrogatório? — Seokmin prosseguiu, parando de frente para Jungkook e ficando cara a cara com ele.
— Prefere a minha sala?
— Não seja debochado. — seus dentes rangeram. — Eu não sou qualquer pessoa para me submeter a isso.
— Você não precisa tremer igual a um pinscher, Seokmin. Tudo o que você vai fazer é entrar naquela sala e contar para a agente Layla o que ela quer saber. Simples assim.
— E do que se trata?
— Pergunte a ela. — a postura de Seokmin pareceu tensionar ligeiramente. — Não sou eu que estou responsável por essa função.
— É sobre a Hannah Miller, não é? — perguntou. — Estou certo de que até agora vocês não sabem o que aconteceu com ela e querem a minha ajuda para descobrir.
— Parece que você veio com o discurso pronto. — o escárnio era evidente em sua voz. — E agora você está com medo de não conseguir manipular o seu discurso a ponto de enganar a Layla, porque sabe que ela é muito boa no que faz.
— Como ousa insinuar que eu participei do sequestro da garota!? — ele parecia furioso com a possível acusação. — Eu te ajudei a procurar o Seokjin, me ofereci para cooperar nas investigações e agora você está me acusando de algo que não fiz!
— Em que momento eu te acusei de participar do sequestro? — Seokmin se calou imediatamente. — Acho que você está um pouco alterado. Talvez seja melhor tomar uma água antes de começar o interrogatório. Muitos homens costumam passar mal dentro daquelas paredes cinzas.
Jungkook não deu a Seokmin tempo para pensar em uma resposta, apenas deu as costas e continuou a seguir o seu trajeto, deixando-o aborrecido com o seu atrevimento.
Layla se aproximou de Seokmin de maneira intimidadora e recebeu os olhos furiosos do agente da CIA. O silêncio de Layla foi o bastante para que o homem entendesse a sua ordem. Ele bufou e, em seguida, dirigiu-se até a sala de interrogatório.
A mulher sorriu, satisfeita.
Enquanto isso, Jungkook seguia para o seu carro no estacionamento. Ele pretendia encontrar Caleb no galpão para dar início às investigações sobre Scarlett e, obviamente, recuperar tudo o que perdeu do Zakon.
Não seria uma tarefa fácil, no entanto.
Ele se aproximou do carro quando o avistou no meio de outros veículos e antes que pudesse abrir a porta, uma ligeira sombra passou atrás de suas costas, fazendo-o virar abruptamente na direção dela.
Jungkook não enxergou nada para além dos carros estacionados. Ele estava, aparentemente, sozinho. Com a mão livre, agarrou a arma na cintura da calça, mas não a sacou. Ele esperou ouvir algum barulho para, então, puxar a arma.
Seu sexto sentido dizia que alguma coisa estava errada, mas ele não quis ficar para descobrir. Então, abriu a porta do carro e deslizou para dentro, mantendo-se atento aos retrovisores externos.
Ele aguardou, em silêncio, a aparição da sombra, mas nada aconteceu. Jungkook considerou a possibilidade de ser um dos funcionários do prédio, mas não fazia sentido, visto que todos cumprimentavam o detetive quando o viam.
Desta vez, a sombra rastejou-se pela traseira do carro de Jungkook, mas não foi possível discernir as suas características. O detetive, sentindo-se repentinamente furioso, saiu do carro e sacou a arma.
— Quem está aí? — exigiu, sua voz parecia mais grossa e insistente.
Silêncio.
Jungkook, ainda encarando os arredores, fechou a porta lentamente. Ele pressionou a arma e começou a caminhar devagar até a traseira do carro, mas seus olhos não localizaram nada além do vazio.
Jungkook podia sentir que estava sendo observado à distância, mesmo que seus olhos não tenham enxergado algo que era visível para ele.
O detetive começou a andar nos espaços entre um carro e outro, atentando-se, especialmente, às movimentações abaixo dos veículos. Talvez pudesse ouvir o som de pegadas ou até mesmo ver a silhueta indistinta.
Os passos de Jungkook foram abruptamente interrompidos quando um pequeno grupo de agentes saiu do elevador, conversando animadamente entre si. Eles pararam de rir no momento em que avistaram o detetive com a arma na mão, apontando para um ponto fixo.
— Está tudo bem, Sr. Jeon? — um deles perguntou com a voz distante, parecendo relutante.
Naquele momento, Jungkook sentiu um solavanco momentâneo, como se estivesse passando por uma situação constrangedora. Em silêncio, ele abaixou os braços e guardou a arma enquanto alguns pares de olhos o encaravam com estranheza.
— Está tudo bem. — Ele, finalmente, respondeu, dirigindo-se para o seu carro sem dar mais detalhes.
Os agentes trocaram olhares entre si, achando tudo aquilo muito confuso, e seguiram o seu caminho. Jungkook soltou um suspiro pela boca, meio irritado, meio frustrado.
Querendo ou não, sentir-se perseguido tornou-se, inevitável e desagradavelmente, um sentimento comum. Ele odiava ter a impressão de que não estava seguro nem mesmo em uma agência de segurança do governo.
Com as mãos no volante, Jungkook ligou o carro e fez os pneus cantarem para fora do estacionamento. O vento estava forte lá fora, o bastante para derramar o seu som sibilante sobre os ouvidos de Jungkook.
Ele conferiu os retrovisores externos para se certificar de que não estava sendo perseguido e afundou o pé no acelerador, empurrando o carro para uma rodovia deserta.
Em algum lugar da sua mente, ele sentiu que alguém estava em seu encalço, mas a estrada atrás de si encontrava-se vazia. Jungkook pensou em voltar para a agência para procurar quem estava espionando-o, mas o tempo estava correndo e ele não podia atrasar suas buscas.
De repente, o celular dele começou a tocar no bolso da calça, fazendo-o desviar a atenção da estrada momentaneamente. Jungkook nem sequer checou quem estava ligando para ele, apenas aceitou a chamada.
— Alô? — sua voz parecia séria.
— Onde você está? — era a voz de Caleb.
— Estou voltando para o galpão. — ele fez uma pequena pausa, começando a se perguntar o motivo da ligação. — Aconteceu alguma coisa?
— Eu descobri duas coisas que você não vai acreditar. — no fundo da ligação, Jungkook pôde ouvir a voz de Jimin, depois de um profundo suspiro de impaciência, falando: “conta logo!”. — Seu namorado é um pouco apressadinho.
— Do que se trata essa descoberta?
— A sua cabeça foi colocada na deep web por alguém da companhia do FBI, sabe o que isso significa, não sabe? Alguém que trabalha com você está encomendando a sua morte por um valor absurdo. — a revelação de Caleb fez a mente de Jungkook entrar em combustão. — As identidades são anônimas, não consigo desvendar quem está pagando pela sua cabeça, mas o meu sistema reconheceu o código usado pela agência do FBI na operação de lances.
— Lances?
— Existe um leilão virtual, mas diferente dos leilões comuns, este é usado como uma barganha. O agenciador, que não tem a identidade revelada, oferece a cabeça que deseja barganhar; os mercenários, como são chamados os assassinos de aluguel, são enviados pelos mestres que se interessam pela oferta.
— Eu estou sendo caçado por mercenários, que maravilha!
— Não apenas você, mas todos que estão na lista deles. — mesmo já sabendo daquilo, a revelação soou como um soco no estômago de Jungkook. — O nome da equipe é Zakon. A maior parte dos membros é russa, mas muitos estrangeiros participam dos leilões.
— O que mais você descobriu?
— Os métodos desses caras envolvem infiltrações, contrabando de armas e explosivos e falsificação de identidades. Embora eles se comuniquem através da deep web, existe um comércio de armas ilegal sendo montado em nome deles — Caleb explicou. — Esse comércio está produzindo projéteis e explosivos próprios, o que pode dificultar a identificação do material no sistema de reconhecimento federal.
— Consegue localizar esse comércio de armas?
— Por enquanto, não. O projeto ainda está em andamento. — Jungkook lamentou-se internamente. — Os mercenários utilizam armas reconhecíveis, por isso vocês conseguem localizá-los, mas quando esses caras começarem a produzir as próprias balas… fodeu.
— Mais alguma coisa que você descobriu para que eu, finalmente, chegue à conclusão que estamos fodidos?
— Tem mais uma — Jungkook respirou fundo. — O mercenário tem que levar a cabeça encomendada dentro de uma caixa até o agenciador e entregá-la pessoalmente. Depois disso, o mestre desse assassino recebe o dinheiro da oferta. Coisa bizarra, não?
Jungkook lembrou-se da lista que Yoongi desvendou com todos os nomes. Nela, estavam muitos nomes de agentes do FBI e até mesmo da CIA. Por um momento, Jungkook perguntou-se quem encomendou a morte deles.
— Os mestres do leilão possuem uma insígnia de identificação. Estou te mandando a foto agora mesmo. — informou Caleb quando Jungkook não disse nada.
Em instantes, o seu celular recebeu uma mensagem e ele o afastou da orelha para observar a imagem enviada por Caleb. O que estava diante dos seus olhos era muito diferente do pentagrama: em vez de uma estrela de muitas pontas, havia uma mão aberta com um olho no meio.
Ali, portanto, Jungkook percebeu que Zakon era uma hierarquia e que cada grupo possuía uma marca de identificação. Até o momento, tudo o que ele sabia era que o pentagrama pertencia aos assassinos de aluguel e, agora, a mão com o olho referia-se aos mestres desses assassinos.
— Jungkook, tem mais uma coisa — desta vez foi a voz de Jimin quem falou ao telefone. Jungkook, rapidamente, levou o celular de volta à orelha. — Caleb rastreou uma ligação do Yixing com essa facção. Não sei se eles trabalham juntos, mas o Yixing, de alguma forma, está envolvido.
Aquela informação pegou o detetive desprevenido, o bastante para fazê-lo frear o carro em cima do semáforo. Ele balançou para frente, mas o cinto de segurança o trouxe de volta para o banco.
— Esse filho da puta continua foragido. — ele resmungou, conferindo os retrovisores externos. — Consegue localizá-lo, Caleb?
— Nem precisou mandar, detetive. O cara esteve na prisão feminina de Washington semana passada, obviamente, disfarçado. — Jungkook sentiu-se, repentinamente, furioso. — Quer uma dica de quem ele foi visitar?
— Rose. — Jungkook respondeu, sentindo o ódio rasgar sua garganta.
— Checkmate!
O ódio de Jungkook cresceu ainda mais. Ele não podia crer que Yixing teve a audácia de colocar os pés no território inimigo sabendo que estava sendo caçado pelas maiores agências governamentais do país.
— Eu vou atrás da Rose na prisão. — disse o detetive. — Vou verificar a lista de visitas para saber qual nome ele está usando.
— A não ser que ele tenha entrado por causa de uma influência interna… — sugeriu Caleb. — Se alguém conseguiu a visita, ele, não necessariamente, precisou assinar nada.
— Eu vou ficar atento a esse detalhe.
Jungkook levou a sugestão de Caleb em consideração, afinal no FBI, assim como em outras agências e instituições prisionais, existem corruptos disfarçados de agentes da lei.
Portanto, era de se esperar que alguma autoridade interna tenha permitido a visita de Yixing. Ainda não se sabe quantos infiltrados atuam em sigilo dentro das paredes das agências governamentais, então todo cuidado é pouco.
A depender da potência do Zakon, a resposta pode causar pânico.
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Por um longo momento, Jungkook ficou tão irritado que teve vontade de mudar o caminho e dirigir-se até a floresta mais próxima para realizar uns tiros ao alvo, apenas para desestressar.
Seus pensamentos estavam correndo uma maratona, ele mal conseguia raciocinar o que perguntaria a Rose quando a encontrasse. Toda aquela situação estava alterando o seu humor, deixando-o cansado, estressado e zangado.
No entanto, ele não quis desviar-se do seu foco principal e essa decisão o levou até a prisão feminina na qual Rose estava presa. Ao chegar na instituição, Jungkook avisou ao diretor executivo que desejava conversar com a prisioneira em particular e o homem, educadamente, concordou.
Um guarda, alto e corpulento, conduziu o detetive até uma sala particular, deixando-o sozinho por cerca de vinte minutos. Jungkook verificou as horas em seu relógio de pulso pela terceira vez, começando a ficar impaciente com a demora.
Ele esperava uma ligação de Caleb a qualquer momento para dar mais informações sobre o paradeiro de Yixing e Rose, ou até mesmo da facção, porém o hacker não ligou.
Um instante depois, a porta da sala abriu aos trancos, revelando a imagem do guarda segurando o braço de Rose. A mulher ficou surpresa ao se deparar com Jungkook e, apesar do espanto, um sorriso venenoso e divertido brincou em seus lábios nudes.
Ela foi conduzida até uma cadeira de metal que ficava posicionada de frente para Jungkook e acorrentada, por uma das argolas da algema, na mesa. O detetive se manteve inexpressivo desde o momento em que ela apareceu até a saída do policial.
A aparência de Rose mudou drasticamente com o tempo. Seus cabelos, apesar de amarrados, estavam bagunçados; seu rosto tinha cortes e arranhões por toda parte, certamente eram resultados de brigas, e seus lábios pareciam mais ressecados.
Rose apoiou os cotovelos na mesa e debruçou-se, desejando provocá-lo, no entanto Jungkook não deu a mínima, apenas permaneceu neutro como um papel em branco.
— Que surpresa agradável, bonitão — ela murmurou, sorrindo ainda mais. — Eu esperava a visita de qualquer pessoa, menos a sua. Diga-me, sentiu minha falta?
Jungkook, finalmente, sorriu, mas sem um pingo de humor. Ele estudou-a em silêncio antes de dizer:
— Você está horrível, Rose! O que fizeram com seu cabelo? — o sorriso no rosto da prisioneira morreu instantaneamente e os seus olhos escureceram tal qual uma tempestade.
— O que você quer? — A voz dela, antes sedutora e provocante, ficou mais rude e aborrecida.
— Fazer algumas perguntas. — Ela revirou os olhos e inclinou-se contra o espaldar da cadeira.
— De repente, eu me tornei útil para você de novo. — desdenhou. — O que gostaria de saber, Jeon?
— Você conhece Yixing?
— Nunca ouvi falar. — Jungkook sabia que ela estava mentindo. — O que esse cara fez de tão ruim?
— Não se faça de sonsa, Rose. Eu sei que o Yixing te visitou nos últimos dias. — desta vez, ela não pôde esconder a surpresa. — O que ele queria com uma prisioneira inútil?
— Se eu fosse inútil, ele não precisaria de mim!
— Ótimo, você acabou de confirmar a minha pergunta. — Rose rangeu os dentes, lembrando-se, amargamente, dos joguinhos de Jungkook. — O que ele queria com você?
— O que eu ganho em troca? — ela perguntou — Estou cansada de ficar atrás das grades. Eu quero um pouco de liberdade para variar.
— Primeiro você me conta, depois eu vejo o que posso fazer por você. — Rose ergueu o dedo e balançou para os lados, discordando da proposta dele.
— Eu te conheço, bonitão. Você dirá que suas mãos estão atadas e que não pode fazer nada por mim, o que não é totalmente verdade.
— O que há de tão errado nesta prisão? Vejo que suas colegas de cela são muito amigáveis com você. — Após a provocação de Jungkook, Rose o encarou com um olhar assassino.
— Você não tem noção do inferno que estou passando neste lugar! Apesar dos meus erros, mereço um pouco de liberdade. — ela protestou e, em seguida, fez uma breve pausa. — Quando você for preso por fazer investigações extraoficiais, Jeon, saberá do que estou falando. Eles odeiam os federais.
O detetive ficou em silêncio por um momento, perguntando-se o que Rose sabia sobre as investigações extraoficiais que ele andava fazendo. Ele até pensou em perguntá-la, mas desistiu quando considerou a possibilidade de ela estar jogando verde.
— Vou perguntar novamente, Rose: por que o Yixing veio atrás de você?
— Já disse que não vou abrir a boca até fazermos um acordo.
— Tudo bem, a escolha é sua, mas saiba que a partir de hoje as autoridades vão reforçar a segurança deste presídio e demitir quem ajudou o Yixing a falar com você. Então, caso esteja pensando em fugir, é melhor tirar o cavalinho da chuva — o rosto de Rose perdeu a cor.
Ela cogitou, por um instante, que Jungkook estava jogando verde como de costume, porém as palavras dele foram tão certeiras que Rose duvidou dessa possibilidade.
— Yixing é meu ex-cliente, foi ele quem me indicou para o Namjoon. — a mulher confessou após refletir muito. — Até então, eu pensava que o Namjoon tinha se interessado por mim por acaso, mas na verdade foi o Yixing que falou sobre mim. Eu soube que ele manteve essa informação em segredo para preservar a minha imagem e a dele.
— Que amante mais amável. — Jungkook debochou.
— Ele me procurou várias vezes para termos aqueles encontros íntimos. — ela ignorou o escárnio do detetive e prosseguiu. — Não vou te dizer o que conversamos, mas tem uma coisa que você precisa saber: o atual comparsa dele é muito mais perverso do que o Namjoon. O plano deles para acabar com o FBI é extraordinário.
— Realmente, é uma surpresa e tanto saber que o Yixing planeja acabar com o FBI — disse. — Vamos para o que, de fato, interessa: qual é o seu papel no plano deles? Eu sei que ele não viajaria por horas, disfarçado, apenas para te contar esse segredo. Você foi escolhida para participar de alguma missão, mas para isso precisa da ajuda do Yixing para fugir. Estou certo, Rose?
Ela riu.
— Você me enche de tesão, sabia? — murmurou, deslizando as unhas para perto do braço dele. — Por mais que eu te odeie, tenho que admitir que já me peguei pensando em nós dois transando. Você, com certeza, faria um belo trabalho com essa língua.
Jungkook recuou o braço para fora do alcance dela, deixando-a, esquisitamente, mais contente. Rose mordeu a pontinha do lábio e cruzou as pernas. Apesar de sentir o movimento sob a mesa, Jungkook não reagiu como ela gostaria.
— Eu vou te dar mais uma chance de abrir o jogo — o detetive disse com a voz dura, impaciente.
— Você acha mesmo que eu vou dedurar a única pessoa que está fazendo algo por mim? — suas palavras soaram como facas afiadas. — Diferente dele, você não tem nada a me oferecer.
— E o que o Yixing tem para te oferecer, Rose? Você acha que é uma prisioneira gourmet só porque foi escolhida pelo Zakon? — os olhos de Rose deram um fraco solavanco, indicando surpresa. — Eu sei que o Yixing faz parte de uma organização criminosa instalada na deep web. Eles escolhem seus mercenários para realizar algumas tarefas. Mas você não é uma mercenária, longe disso.
— Você adora me desprezar, não é? — ela disse entredentes.
— Estou certo que ele planeja tirar você deste lugar para que cumpra uma tarefa designada pelo Zakon e a pessoa que está acobertando o encontro de vocês também faz parte disso. — supôs. — Eu já conversei com o diretor deste presídio, ele já está ciente de tudo.
— O que quer dizer com isso?
— O guarda que arquitetou o seu encontro com o Yixing já está sendo procurado. Enquanto isso, você será encaminhada para uma das prisões subterrâneas do FBI até que todos os membros do Zakon sejam presos.
Ela perdeu as palavras subitamente, sentindo os músculos do corpo endurecerem. Nada do que Jungkook disse era verdade, mas ele teve de usar alguma estratégia para coletar as informações da prisioneira.
— Você não tem esse direito! — ela protestou.
— Eu pensei que odiasse este lugar, Rose. — sorriu. — Podemos considerar a decisão se você abrir o jogo, até porque você conhece bem as prisões substâncias do FBI e não gostaria de estar lá.
— Você está blefando, bonitão.
— Quer pagar pra ver? — ele não parecia estar para brincadeiras. — Eu tenho permissão para te encaminhar agora mesmo. Aposto que o Yixing não contou com esse detalhe.
— Yixing quer acabar com o FBI, mas eles têm planos muito maiores do que só destruir a sua agência. — ela contou, mas alguma coisa em Rose indicava que ela não estava sendo totalmente honesta. — Você achou mesmo que o Yixing não entraria para outra organização depois de destruírem a que ele fazia parte?
— Disso eu já sabia.
— Também deve saber que os russos estão por trás de tudo, não é? — sorriu dissimuladamente. — Yixing procurou o chefe da facção quando a água bateu na bunda. Ele precisava de esconderijos, de disfarces, de armamentos e, acima de tudo, de dinheiro. Esse homem deu tudo a ele.
— Ele não daria todos esses utensílios ao Yixing a troco de nada.
— O mercado clandestino é enorme, Jungkook, muitas pessoas envolvidas fazem parte do alto escalão. Yixing conhece dezenas de homens influentes nos Estados Unidos que podem ajudá-lo no que for necessário. — contou-lhe. — Ele precisou da ajuda do Zakon e o Zakon da dele. É uma via de mão dupla.
Jungkook estudou as palavras de Rose com cuidado, sabendo que a história dela podia ser uma grande invenção para despistá-lo, afinal, até então, Rose se negava a contar o que sabia.
— Sabe, Rose, eu fico me perguntando o que você tem de especial a ponto de atrair os olhos do Zakon. — ele observou. — Você não passa de uma presidiária, seus poderes foram arrancados e tudo o que você tinha, não existe mais.
Ela debruçou-se sobre a mesa.
— Diferente de você, bonitão, eles me veem como uma mulher de valor.
Jungkook sorriu.
— Aí está, Rose, você não sabe guardar segredo. Na primeira oportunidade, você entrega o jogo. — ela apertou as sobrancelhas, confusa, em seguida recuou o tronco. — O Yixing não te contou sobre o Zakon porque confia em você, ele disse apenas o que era necessário porque sabia que eu viria atrás de você. Ele sabe que estou procurando-o e se aproveitou disso para implantar as pistas.
— Por que ele me usaria como isca para te atrair?
— Ele te visitou várias vezes nas últimas semanas, provavelmente usando o mesmo registro, e não fez questão de camuflar a localização. Isso me faz pensar que o Yixing não quer se esconder de nós, ele quer nos atrair.
— E aqui está você, bonitão.
Naquele momento, Jungkook teve certeza de que alguma coisa estava errada. Ele voltou em retrospectiva e analisou toda a conversa com Rose, chegando à conclusão que a sua ida àquela prisão fazia parte do plano de Yixing, que, certamente, traçou uma estratégia para soltar Rose.
Mesmo que tudo não passasse de um blefe, Jungkook não podia brincar com a sorte. Yixing é articulado demais e a máfia da qual ele faz parte está desenvolvendo um estoque de armamento poderosíssimo para destruir as agências governamentais.
Talvez, pensou Jungkook, Yixing quisesse que ele pensasse que Rose não apresentava perigo algum por estar presa, o que, obviamente, fazia parte do plano.
— No que está pensando, Jeon? — perguntou Rose, sorrindo.
O detetive continuou em silêncio, explorando-a. Ele observou uma pequena costura disforme na farda dela que parecia ter sido retalhada propositadamente. Naquele momento, Jungkook deduziu que Rose estava grampeada.
Sem dizer nada, o detetive ergueu-se da cadeira e dirigiu-se até a porta, deixando Rose completamente confusa. Ela gritou o nome dele diversas vezes, mas foi ignorada em todas elas.
Quando saiu da sala, Jungkook esperou dar de cara com o guarda que o conduziu até lá, mas não havia ninguém no corredor. Ele perguntou-se brevemente o porquê de terem deixado-o a sós com Rose.
O detetive estudou o corredor, observando três câmeras em diferentes ângulos. Ele sabia que estava sendo assistido na central de controle. Antes que a sua consciência tentasse convencê-lo do contrário, Jungkook dirigiu-se até o banheiro mais próximo, pois era o único ambiente sem câmeras de vigilância.
Ele entrou e fechou a porta às suas costas, soltando um xingamento quando percebeu que não tinha tranca. Jungkook se apressou para dentro de uma das cabines e arrancou o celular do bolso, discando o número de Caleb.
— Alô? — Caleb atendeu.
— Não tenho muito tempo, preciso da sua ajuda. — o hacker ficou mudo de repente, esperando-o prosseguir. — Quero que olhe a planta da prisão em que a Rose está.
— Ok, espere um pouco — ele fez uma pequena pausa para iniciar suas buscas. — O que descobriu sobre eles?
— Yixing não apareceu nos radares sem querer, ele quis revelar a própria localização para me atrair até aqui e eu presumo que muitos guardas estão acobertando.
— Uma armadilha?
— Definitivamente.
— Estou te vendo pelo rastreador. Siga para o corredor leste e vire à direita. Há três policiais armados indo em sua direção pela área oeste.
Jungkook seguiu as orientações de Caleb e caminhou para o local indicado, conferindo, primeiramente, se tudo estava limpo. Ele ouviu um conjunto de vozes preencher o corredor no momento em que virou à direita, onde deu de cara com uma porta metálica.
— Que maravilha, agora eu estou preso! — Jungkook debochou.
— Tranca aberta em 3, 2, 1…
De repente, a pesada porta destravou com um clique.
— Você está dentro da Central de Controle? — Jungkook perguntou.
— Não é tão difícil quanto parece.
As vozes estavam se aproximando em um coro de comando. Jungkook puxou a maçaneta às pressas, deparando-se com outro corredor.
— Continue andando — Caleb instruiu. — Tem dois policiais indo na sua direção.
O detetive segurou na arma, mas sem sacá-la, no instante em que a segunda porta daquele corredor foi aberta por uma dupla de policiais. Os homens frearam os passos, como se dissessem que não eram uma ameaça.
— Está tudo bem, detetive Jeon? — um deles perguntou.
— Tenha cuidado, um deles tem uma tatuagem de pentagrama na nuca. Estou vendo pela câmera de vigilância. — Caleb alertou.
Jungkook percebeu que um deles estava com a mão nas costas, preparando-se para sacar a arma. Prevendo isso, o policial puxou o revólver da cintura, mas o detetive agiu depressa e atirou nele antes que fosse atingido.
O colega do policial baleado tentou agir em sua defesa, mas também foi ferido com três disparos. Ambos, aos guinchos, caíram no chão em profunda agonia. A mente de Jungkook o alertou para que corresse antes que fosse pego em flagrante.
— Como eu faço para sair deste lugar? — o detetive perguntou enquanto corria.
— No refeitório tem uma passagem que te leva diretamente para a área de caminhões de distribuição alimentícia. Por lá, você consegue acessar o portão de saída.
— Ótimo, eu só tenho que saber onde fica o refeitório.
— Você vai precisar de um cartão de acesso.
— Não seria mais fácil desligar os geradores? — ele parou de correr para conferir se a passagem estava limpa.
— Se você quiser chamar mais atenção, sim.
Jungkook suspirou, parando para conectar a escuta no ouvido. Ele interceptou a ligação e transferiu o áudio para o aparelho para que as duas mãos ficassem livres.
— Quantos policiais eu vou ter de enfrentar?
— Se eu te disser, isso vai te desanimar. — Jungkook resmungou um xingamento enquanto recarregava o cartucho do revólver. — Os policiais estão cercando a área em que você está. Entre no corredor à esquerda, tem um guarda vigiando a porta de acesso. É a sua chance de conseguir o cartão.
Jungkook levou um tempo para forçar seus pés a andarem, em seguida se apressou na direção indicada por Caleb, observando mais câmeras de vigilância naquele setor. Ele tentou não chamar atenção do guarda com seus passos.
— Eu ficaria muito grato se você desligasse as câmeras ou bloqueasse o acesso deles na central de controle. Se você está me vendo, eles também podem me ver. — Jungkook pontuou, abaixando-se ao longo da parede para não ser visto.
— Apenas se preocupe em pegar o cartão, o resto é comigo.
No momento em que o guarda virou-se de costas para acender um cigarro, Jungkook pulou em seu pescoço com uma chave de braço, arrancando todo ar de seus pulmões até fazê-lo desmaiar.
Jungkook avistou o cartão de acesso anexado no crachá, o que, obviamente, poupou o seu tempo. Ele o agarrou às pressas e o inseriu na máquina de identificação, recebendo, em poucos instantes, a liberação.
— Escada à direita. — Caleb instruiu.
Jungkook alcançou as escadas após virar-se à direita, pulando de dois em dois degraus para chegar ao seu destino mais depressa. Um ruído de sirene começou a ecoar dos alto-falantes, fazendo o detetive supor que, agora, a perseguição ia começar de verdade.
— Quatro policiais estão subindo as escadas. — Caleb alertou.
— Eles são do Zakon?
— Não dá pra saber sem uma tatuagem de identificação. Eles são uma facção fantasma, suas identidades são muito secretas. Você vai ter que lutar com a sorte.
Dividido entre atacar os guardas e seguir adiante ou convencê-los de que estava perdido, Jungkook escolheu a primeira opção, pois estava certo que, a essa altura do campeonato, todos os policiais já sabiam que ele matou dois guardas.
— Parado aí! — um policial, poucos degraus abaixo, gritou. Ele apontou a arma na direção de Jungkook. — O que está fazendo neste setor, detetive Jeon?
— Estou atrás da saída.
— Está na direção errada. Fomos informados que o senhor estava neste setor sem autorização. — ele explicou, em seguida recuou a arma. — Venha comigo, vou levá-lo até a saída.
Jungkook não se mexeu. Em vez disso, ele observou os outros policiais que estavam recuados, percebendo que um deles encarava-o de modo estranho, como se estivesse prestes a fazer algo.
Ligeiramente, quase como um raio flamejante, o homem que o encarava disparou contra os próprios colegas. Jungkook não teve tempo para pensar, apenas apertou o gatilho no momento em que o sujeito ameaçou matá-lo, fazendo o corpo dele rolar pelos degraus.
Esguichos de sangue foram espalhados por toda parte. Jungkook estava ciente que muitos mercenários estavam infiltrados naquele presídio se passando por policiais e a única forma de desmascará-los seria identificando o símbolo do grupo.
— Acho melhor você se apressar, tem uma equipe inteira na sua cola. — Caleb alertou.
Jungkook escutou o ruído de passos frenéticos vindo em sua direção, ficando cada vez mais próximo. Seus instintos de fuga o alertaram para correr. Ele não fazia ideia do que o aguardava do lado de fora, mas estava confiante que Caleb o ajudaria a se safar.
— Como eu faço para passar pelo refeitório sem ser visto? — perguntou Jungkook com a respiração ofegante.
— Eu vou bloquear o acesso às câmeras do refeitório e você vai se passar por um agente comum. Não tem nenhum oficial lá, apenas os funcionários, então finja que ninguém está tentando te matar.
Sabendo que o refeitório estava bem à frente, Jungkook se apressou, saltando sobre os cadáveres. Seus pés deslizavam pelos degraus tão rapidamente que ele teve de se segurar no corrimão para não cair.
Ao avistar uma porta de metal adiante, Jungkook usou o cartão roubado para abri-la, empurrando-a com o peso de seu corpo. Alguns olhares surpresos caíram sobre o detetive, deixando-o perturbado por chamar a atenção.
— A saída está do outro lado. — Caleb informou no seu ponto de escuta.
Adotando uma postura mais formal, Jungkook caminhou até o outro lado do refeitório, apresentando a credencial para o pequeno grupo de funcionários que o encarava estranhamente.
Jungkook gostaria de perguntar a Caleb se ele conseguiu bloquear as imagens de segurança, mas desistiu quando se deu conta que os funcionários não tiravam os olhos dele. Era melhor acreditar, intuitivamente, que o hacker completou o serviço.
À distância, o detetive avistou uma porta de acesso entreaberta. Depois de se certificar que os funcionários retomaram suas atividades, Jungkook empurrou a porta e se deparou com três vigilantes fazendo a ronda naquele perímetro.
Ele recuou um passo e correu para o fundo de um caminhão alimentício. Havia uma cerca de arame dividindo o pátio do campo, onde algumas mulheres caminhavam em seus uniformes laranjas.
— O guarda à sua esquerda tem o símbolo do Zakon. — após a informação de Caleb, Jungkook prestou atenção no homem à sua frente. — Tente não matar mais ninguém.
— Então me deseje sorte.
Aparentemente, o policial infiltrado ouviu alguma coisa, pois, de repente, os olhos dele se viraram na direção do caminhão em que Jungkook estava escondido. Ele apontou para o detetive e gritou.
Jungkook saiu do esconderijo após ser descoberto propositadamente. Quando o homem fardado ergueu a arma, Jungkook aplicou um golpe no braço dele para desarmá-lo e, em seguida, desferiu um soco em seu estômago, fazendo-o se curvar de dor.
Um policial emergiu às suas costas muito rapidamente. Jungkook conseguiu neutralizar o ataque e desarmá-lo com um chute na arma, fazendo o instrumento voar para longe. Ele avistou um punho fechado vindo na sua direção, mas, instintivamente, sua cabeça esquivou-se do golpe.
Depois de imobilizar os guardas e deixá-los desacordados no chão, ele correu para o portão principal, consciente que a qualquer momento as viaturas iriam cercá-lo.
Enquanto corria, o detetive perguntou-se como explicaria para as autoridades do FBI o que aconteceu no presídio sem parecer que foi um massacre. Apesar de ter matado apenas os policiais que tinham o símbolo, outros também morreram no ataque.
Jungkook agradeceu mentalmente por ter estacionado o carro próximo do portão principal. Ele olhou sobre os ombros e avistou uma dúzia de policiais correndo em sua direção, muitos deles com cachorros de porte grande.
Ao aproximar-se do carro, o detetive destravou e se jogou no banco do motorista, empurrando a chave na ignição às pressas. Ele soltou a embreagem e afundou o pé no acelerador sincronicamente, dando partida no carro.
— Que porra foi essa!? — ele guinchou, sentindo a adrenalina no sangue.
— Você sobreviveu. — Caleb disse.
Jungkook conferiu os espelhos retrovisores para se certificar de que não estava sendo perseguido. Ele sabia que não demoraria muito para as viaturas aparecerem.
Uma cacofonia de vozes apressadas e passos frenéticos ainda corriam em sua mente. Ele entrou em uma rua escura que ficava distante do presídio e pesquisou mentalmente as suas opções de fuga.
O galpão de Caleb ficava muito longe de onde ele estava, mas Jungkook não tinha outra opção de esconderijo. Cogitou dirigir até o prédio do FBI, mas nem a corporação parecia segura neste momento.
— Três viaturas estão atrás de você. — a voz de Caleb penetrou os seus ouvidos.
— Que boa notícia, Garner. — ele disse. — Vou pedir reforço à minha equipe.
— Eles não chegarão a tempo. É melhor você lidar com isso sozinho.
— Você quer que eu enfrente três viaturas sozinho?
— Não são policiais de verdade, são mercenários disfarçados.
— Isso me deixa mais tranquilo. — debochou.
Jungkook ouviu o ruído das sirenes cada vez mais perto. Ele conferiu, novamente, os retrovisores, avistando três pares de faróis acesos. Seu pé afundou o acelerador, fazendo a agulha do painel disparar.
— Você vai ter que entrar na mata. Está escuro, eles não vão te achar. — propôs Caleb.
— Eles devem possuir equipamentos com visão noturna.
— Faça o que estou te falando!
Jungkook apertou as mãos no volante e empurrou o carro para dentro do matagal, desligando os faróis para não chamar atenção. A luz dos postes iluminava apenas os primeiros metros, depois disso não era possível enxergar nada através da escuridão.
Ele fisgou um óculos com visão noturna dentro do porta-luvas, recolheu algumas munições e uma lanterna, em seguida desligou o motor, lançando-se para fora do veículo instantes depois. Jungkook correu e se escondeu atrás de uma árvore robusta enquanto aguardava a aparição das viaturas.
Pouco tempo depois, os automóveis da polícia pararam na estrada, bloqueando-a, e desligaram suas lanternas vermelhas. Jungkook ouviu as portas batendo, os passos ecoando sobre os galhos secos e as armas sendo engatilhadas.
Ele segurou o revólver próximo do peito e sentiu a movimentação do vento, calculando o momento certo para atirar em seus adversários. Um deles cochichou algo e, ali, Jungkook percebeu que se tratava de um código diferente.
Um código que, por sinal, não fazia parte de nenhum repertório policial.
Pelo som das pegadas, Jungkook deduziu que havia mais de meia dúzia de capangas. Ele podia ter sorte de gastar uma bala em cada cabeça, mas sabia que se desse o primeiro disparo, seria alvejado.
Ele agachou para se camuflar no mato que se erguia e rastejou até uma rocha grande. Com o dedo próximo ao gatilho, Jungkook prestou atenção na movimentação, tentando decifrar a localização de cada homem.
Antes que pudesse apertar o gatilho, ele ouviu uma sequência estrondosa de disparos, cada um sendo milimetricamente aferido contra os capangas. Jungkook permaneceu imóvel à medida que escutava os corpos caindo no chão, um atrás do outro, e os gritos de dor.
Um longo silêncio estendeu-se repentinamente, exceto pelo som dos insetos noturnos e das folhas balançando. Jungkook não ouviu mais as pegadas nem as vozes.
Ele saiu, lentamente, de trás da rocha e olhou ao redor, observando uma pilha de corpos caídos e ensanguentados. Quem quer que os tenha matado era um atirador de elite e sabia exatamente onde Jungkook estava.
Desconfiado, o detetive procurou o atirador fantasma pela mata, mas não avistou ninguém além dos mortos. Jungkook não sabia quais eram as intenções do atirador em matar os mercenários para salvá-lo.
Ligeiramente, uma figura emergiu no pequeno monte, mas Jungkook não conseguiu discernir suas características. Mesmo não vendo seu rosto, o detetive reconheceu que a silhueta era de um homem.
O desconhecido apoiou o rifle no ombro e começou a descer o acervo de cascalhos. Ao vê-lo a poucos metros de distância, Jungkook ligou a lanterna e avistou Nathan, o agente do Serviço Secreto que ficou admirando-o.
— Nathan? — perguntou Jungkook com uma nuvem de confusão no rosto.
— É um prazer te ver de novo, detetive.
✮✮✮
Amores, como vocês estão? O capítulo demorou muito pra sair, mas finalmente saiu! Quero agradecer, acima de tudo, a paciência de vocês, estou me esforçando para continuar atualizando no tempo que posso <3
Devido a demora das atualizações, muitas pessoas podem ficar confusas com os capítulos, então, sempre que puderem, voltem o capítulo anterior e recapitulem o que aconteceu, tá bem? Assim vocês vão se manter atualizados :D
Estão sentindo falta de um momento Jikook? Estou preparando um maravilhoso pra vocês! Aguardem!
Obrigada por chegarem até aqui! Se gostaram do capítulo, deixem um votinho, isso me ajuda muito!
Beijos, meus amorzinhos <3
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