twenty four᠉

Em completo silêncio, Jimin olhava para um ponto fixo enquanto o carro se movia pela estrada. À sua esquerda, Jungkook ligava para Seokjin pela terceira vez.

O menino parecia estar anestesiado depois do que aconteceu na casa de seu pai. Uma parte sua não parava de se perguntar como aqueles homens conseguiram entrar na residência de um ex-diretor do FBI com tamanha facilidade.

Para Jimin, é estranho pensar que até mesmo agentes de alto escalão não conseguem se proteger, mesmo utilizando mecanismos de inteligência potencialmente eficazes.

A sensação que tinha era de que os episódios de perseguição estavam só começando. Isso o deixava mais induzido a aceitar o Programa de Proteção, embora presumisse que não estaria seguro em nenhum lugar.

— Droga! — Jungkook resmungou baixinho após fracassar em sua quarta tentativa de ligar para Seokjin. — Seu pai não atende de jeito nenhum. 

— Onde ele deve estar?

— Não faço ideia, mas vou rastreá-lo. 

Jimin engoliu em seco quando um pensamento assustador o penetrou.

— Você acha que estão atrás dele também? — O menino perguntou com a voz hesitante.

— Não sei, anjo. — Ele olhou para Jimin e percebeu que o menino já o encarava. — Eu espero que não.

— Quem são esses homens e por que eles estão atrás de mim? 

Jungkook sabia que não podia dar muitos detalhes do caso, mas estava ciente de que deveria preveni-lo. 

— Nós prendemos o cara que você descreveu. — Os olhos do garoto se arregalaram. — Ele falou sobre uma lista com nomes de pessoas que estão sendo caçadas para morrer. Tudo o que sabemos até então diz respeito a um grupo na Dark Web que está disposto a pagar bilhões de dólares pelas nossas cabeças.

— Eu estou nessa lista, não estou?

— Sim, anjo. — O coração de Jimin acelerou. — Eu não queria te assustar com esse assunto, mas é impossível falar disso sem causar pânico.

— Quando isso vai acabar? — Sua voz parecia exausta, não assustada. 

— Eu temo que esteja só começando.

Um misto de sentimentos inundou o peito de Jimin e ele não soube dizer qual deles estava predominando mais. O garoto só queria que isso acabasse e ele pudesse ter uma vida normal como a de qualquer outro rapaz da sua idade.

— Yoongi me enviou uma mensagem, ele já encontrou o Taehyung — Jungkook informou o garoto. — Ele e a equipe estão olhando as imagens de segurança da casa do Seokjin e das ruas locais.

— O que fizeram com os corpos?

— Levaram até a sede do FBI para serem identificados.

— Será que o Taehyung está bem? Eu posso falar com ele?

— Por agora não, anjo — respondeu pacientemente. — Eu sei que você está assustado com o que aconteceu, mas vamos manter a calma. 

— Como!? — Sua voz falhou. — Meu pai sumiu e dois caras estranhos tentaram me matar! Eu não consigo ficar calmo!

Jungkook, simplesmente, pôs a mão sobre a de Jimin, fazendo-o encarar o gesto com uma expressão minimamente surpresa. Os dedos do detetive entrelaçaram os seus, mantendo-os conectados. 

Ele sentiu a umidade do suor na mão do garoto, deixando claro o quão apavorado Jimin estava. Jungkook não podia exigir que ele ignorasse o medo e fingisse estar calmo como se fosse capaz de controlar suas emoções. 

Diante das atrocidades que o garoto sofreu é natural que ele reaja dessa forma, portanto Jungkook estava disposto a acalmá-lo em vez de fazer cobranças.

— Eu vou fazer de tudo para te proteger custe o que custar. — As palavras de Jungkook soaram firmes. — Se for preciso, eu sacrifico o meu distintivo para te manter a salvo. Não importa o que aconteça, ninguém mais vai tocar em um fio de cabelo seu.

Jimin observou que o namorado assumiu o mesmo olhar de quando enfrentou Derek: frio, calculista e implacável. A lembrança de quando Jungkook matou Derek invadiu os seus pensamentos, fazendo-o ter certeza de que o detetive estava ansioso para repetir a lição.

— Eu não tenho dúvidas disso — Jimin respondeu baixinho, acariciando-lhe as mãos. — Me sinto até melhor quando você diz essas coisas. 

O sorriso que se abriu nos lábios de Jungkook contribuiu para que os seus batimentos cardíacos se equilibrassem mesmo ainda estando com medo. Saber que Jungkook estava ao seu lado em momentos como esse o deixava mais tranquilo.

— Para onde estamos indo? — O garoto perguntou quando observou os atalhos desconhecidos por onde Jungkook dirigia.

— Uma base secreta do FBI. 

Jimin desviou os olhos da estrada de terra e o encarou instantaneamente. 

— Eu vou ficar escondido lá?

— Nós vamos ficar lá até termos certeza de que você está seguro. — Ele entendia os motivos de Jimin não querer ficar confinado, mas sentia-se na obrigação de convencê-lo a aceitar. — Não será por muito tempo, anjo, só precisamos de um lugar seguro para te manter a salvo enquanto investigamos o que aconteceu.

— E o prédio do FBI?

— Se tornaria a mesma coisa — respondeu. — Essa base fica instalada em uma área isolada da cidade. Muitos radares estão em volta desse lugar para garantir que a localização seja preservada. 

Aquela informação despertou uma pequena curiosidade em Jimin. Ele nunca esteve em uma base secreta, embora tivesse uma caracterização formada em sua cabeça em virtude dos relatos de Seokjin. 

Ao lembrar-se daquele nome, o coração do garoto espremeu dentro da caixa torácica. Ele não podia negar que estava apreensivo com o sumiço do homem. Uma parte sua queria acreditar que Seokjin estava bem, mas a outra parte não estava convencida disso.

Jimin varreu esses pensamentos para longe e ficou em silêncio. Ele estava contando os minutos para chegar à base do FBI, confiante de que Jungkook conseguiria descobrir o que aconteceu com Seokjin através dos mecanismos tecnológicos existentes lá.

Por um momento, Jimin perguntou-se o porquê de Jungkook escolher um lugar ultrassecreto em vez do prédio do FBI. Ambos eram protegidos por tecnologias avançadas e possuíam vigilantes treinados, incluindo atiradores de elite, que são profissionais preparados em práticas de camuflagem, reconhecimento, infiltração e observação.

Seokjin lhe contou uma vez que o FBI já manteve alguns criminosos perigosos trancafiados em uma dessas bases secretas sob a vigilância de atiradores de elite. Qualquer tentativa de fuga resultou em morte imediata. 

O garoto sentiu o carro manobrar para dentro de um atalho de pedras. Ele observou Jungkook ativar alguma coisa no painel de controle à medida que diminuía a velocidade. Naquele momento, Jimin entendeu que eles já estavam se aproximando do lugar.

Curioso, o garoto tentou decifrar a entrada da base, mas tudo o que ele enxergou não se assemelhava a uma. Jungkook estacionou o carro em um refúgio recôndito no meio de um matagal e gesticulou para Jimin, chamando-o para sair do carro.

À princípio, o menino pensou que Jungkook colocaria o carro dentro da base para garantir a sua discrição, mas se enganou quando o detetive escolheu ir a pé. Aparentemente, Jimin pensou, ele sabia o que estava fazendo.

Enquanto caminhava, Jimin podia sentir cada sussurro do ar contra sua pele. Jungkook se agachou de repente e varreu a terra com a mão, o bastante para que as características de uma máquina digital pudessem ser vistas por Jimin. Ele observou o namorado colocar o cartão-chave ali e, imediatamente, a tranca destravar.

O detetive puxou a maçaneta do alçapão e indicou a entrada para o garoto, que não reagiu por um momento. Jimin se perguntou como uma base secreta poderia ser facilmente acessada por qualquer cartão-chave do governo.

É claro que Jungkook possuía mais benefícios por ser o diretor do FBI, mas, refletiu o garoto, e se o cartão-chave dele fosse roubado ou clonado? Aquela dúvida permaneceu na sua cabeça mesmo depois de seguir as instruções do namorado e adentrar a base.

Jungkook atravessou o alçapão logo em seguida. Um momento depois, eles estavam dentro de uma espécie de túnel; o teto era esférico e guarnecido de um metal robusto. Não se via lâmpadas em meio à profusão da passagem subterrânea, apenas pequenos pontos vermelhos que revestiam as arestas das paredes.

Jimin se perguntou brevemente o que eram aqueles pontos, sentindo um arrepio estranho subir ao longo de sua nuca. Não demorou muito para ter a sua resposta, visto que Jungkook acendeu uma luz ultravioleta, revelando o emaranhado de lasers ao longo do corredor. 

O garoto nunca tinha visto algo tão sinistro. Com a boca entreaberta, Jimin olhou para Jungkook e perguntou:

— Como você vai desativar isso? 

O detetive avançou para perto da parede ao lado e apoiou a mão nela, em poucos segundos um som diferente ecoou no ambiente e, de repente, os raios sumiram. Jimin apertou as sobrancelhas, principalmente quando não avistou nenhum dispositivo no lugar em que Jungkook encostou a mão.

— Como você fez isso!? — ele parecia impressionado.

— Há um dispositivo secreto embutido na parede, apenas alguns agentes têm acesso. 

A fascinação de Jimin perdurou por mais alguns segundos. Ele tinha de admitir que aquilo era impressionante, especialmente para ele que passou a ter contato com essas tecnologias nos últimos meses.

— Vamos, anjo. — Jungkook o abraçou lateralmente e o guiou até os confins da passagem. 

Jimin não conseguia parar de observar a estrutura do lugar, seus olhos brilhavam à medida que se deparava com algo novo. Ele não conseguia ouvir nada além da sua própria respiração.

As paredes eram à prova de som, então não era possível escutar os ruídos do lado externo nem dos compartimentos vizinhos. Jimin só se deu conta de que eles não estavam sozinhos quando alcançou uma sala com a porta ligeiramente aberta, derramando um feixe de luz vertical.

Ali, o garoto pôde ouvir um coro de vozes vindo através da porta. Havia um entrelaçado de corredores e câmaras ao seu redor, todos engolidos pela escuridão. Jimin se assustou quando, de repente, todas as luzes foram acesas em sincronia.

Naquele instante, Jimin percebeu o quanto aquela base era enorme. Ele imaginou, secretamente, que o compartimento em que estava era a área investigativa, porém devia haver muitas outras camadas escondidas sob o solo. 

Jungkook abriu a porta de aço por completo, revelando a imagem de alguns membros do FBI trabalhando em seus respectivos computadores. Para Jimin, aquele lugar não era tão diferente da sede do FBI. 

— Eu não sabia que havia tantos agentes em uma base de operações — Jimin murmurou para que ninguém além de Jungkook ouvisse. — Pensei que nesse lugar não ficava ninguém. 

— Essas pessoas monitoram a base vinte e quatro horas por dia. Elas praticamente vivem aqui. 

O garoto ficou estarrecido com aquela informação. A primeira coisa que veio à sua cabeça foi: como essas pessoas vivem? Ele não conseguia entender quem se dedicava integralmente ao trabalho e não reservava tempo para si mesmo. 

— Senhor! — A voz de Ric atravessou os seus ouvidos, fazendo a dupla olhar na direção do som. Ao se aproximar, Ric continuou: — Localizamos o carro do Seokjin como o senhor nos pediu. 

Naquele momento, o estômago de Jimin virou água. Ele teve uma sensação de queda, como se parte de seus órgãos estivessem flutuando até a garganta. Não podia negar que estava com medo de ouvir o que Ric tinha a dizer sobre seu pai.

— Onde ele está? — Jungkook perguntou. 

Ric o chamou com um pequeno aceno de cabeça. O detetive o tinha convidado para compor a equipe comandante da base, afinal ele precisaria de agentes com a inteligência de Ric para ajudá-lo na investigação.

Jungkook e Jimin foram conduzidos até uma tela digital que transmitia imagens de segurança. Havia um mapa geográfico no painel ao lado que o detetive supôs pertencer ao local da filmagem.

— O carro dele foi encontrado nesta rua, em frente a um museu — Ric sinalizou o lugar no mapa. — Pelas filmagens é possível observar o carro estacionando, mas o Seokjin não sai em momento algum. 

— Por quanto tempo o carro ficou parado?

— Ainda está lá. — A testa de Jungkook enrugou. — Nós inspecionamos o veículo com um scanner virtual, mas ninguém parece estar dentro dele. A minha teoria é que o vídeo pode estar cortado ou o painel de controle sofreu alguma alteração e agora o carro pode se mover sozinho através de um monitoramento remoto.

— Se você estiver certo, então quem o está monitorando quer que achemos o veículo. Eles estão repetindo a mesma estratégia. 

— O senhor está dizendo que…

— O carro pode estar com explosivos. — o coração de Jimin acelerou com aquele diálogo. — Vamos enviar uma equipe antibombas.

— Agora mesmo, senhor. 

Ric se afastou brevemente para comunicar a ordem a um dos peritos de inteligência. Nesse intervalo, Jimin não conseguiu tirar os olhos das imagens de segurança. Ele pensou em perguntar a Jungkook se Seokjin poderia estar em perigo, mas as palavras simplesmente se derreteram em sua garganta.

— Tudo certo, a equipe antibombas já foi acionada. — Ric informou ao retornar para perto deles, recebendo um aceno de aprovação. 

— Você disse que o vídeo pode estar cortado — Jungkook pontuou. — Reproduza para que eu veja. 

Ric se aproximou do painel e apertou um dos botões. O detetive cruzou os braços enquanto assistia ao vídeo atentamente. Ele observou que o veículo estava com os vidros fechados, dificultando a sua tentativa de analisar o interior.

Nada parecia estranho no vídeo, exceto a forma como o carro manobrou antes de estacionar. O movimento foi tão bem desenhado que qualquer pedestre diria que alguém estava dirigindo. 

— Eu preciso das imagens de segurança da casa do Seokjin, ou melhor dizendo, do momento em que ele sai de casa. — Jungkook requereu, tentando formular uma hipótese. 

— No que está pensando, senhor?

— Temos que identificar em qual momento o Seokjin deixa o carro e para isso é preciso estudar o trajeto que ele fez. Todas as imagens de segurança que você trouxer serão bem-vindas para que possamos entender o que aconteceu com ele.

— A equipe que está na casa dele agora deve ter todas as imagens — disse Ric.

— Sim. 

— Por que eles iriam atrás do meu pai? Ele não é mais um agente do FBI — Jimin interviu, sentindo-se triste e raivoso.

— Seokjin deve ter algo que eles querem — Ric opinou.

— Eu… — o menino respondeu.

— Não, o controle de segurança da casa — Jungkook disse, olhando de Ric para Jimin. — Seokjin nos disse uma vez que um dos controles está com ele. 

— Mas o código que está no controle é invisível. — Jimin recordou-o. 

— Se essas pessoas tivessem os equipamentos certos, elas poderiam facilmente identificar o código através de uma luz ultravioleta.

— Bom, isso nos ajuda a pensar que o controle facilitou o acesso deles à casa do Seokjin, caso contrário não teriam ludibriado o sistema de segurança — Ric observou.

— Isso significa que feriram o meu pai! — Jimin acrescentou, emitindo uma dolorosa exalação de ar. — Nós temos que encontrá-lo! 

— Anjo, — Jungkook segurou o rosto do garoto entre a concha de suas mãos, fazendo-o encará-lo — a minha equipe vai atrás do seu pai e você ficará aqui. 

— Eu não quero ficar. 

— Jimin, esses caras tentaram te ferir! — A sua voz ficou mais firme, porém calma. — Se eu souber que você está seguro aqui, posso ir atrás do Seokjin com a cabeça tranquila.

— Quem garante que estou seguro nesse lugar?! — O frio de uma lembrança formigou a pele de Jimin. — Namjoon conseguiu entrar no prédio do FBI e expulsar todos os agentes sozinho. Ele não precisou de nada além da própria inteligência.

Jungkook entendia que os sentimentos do garoto estavam acumulados e devido a isso toda a sua dor estava sendo despejada através das palavras. Dominado pelo cansaço mental, o detetive não respondeu nada, apenas deslizou as mãos para longe do namorado. 

— Acredite no Jungkook, Jimin. — A voz de Ric penetrou os ouvidos do garoto, fazendo-o observá-lo. — Ele está tentando te proteger a todo custo. Eu sei que não está sendo fácil para você, mas também não está sendo fácil para ele. 

Com o coração apertado, Jimin olhou para Jungkook, sentindo-se estúpido por não ter considerado os sentimentos dele. A raiva, o medo, a tristeza e o pânico o tinham cegado.

— Eu vou solicitar as imagens de segurança da casa do Seokjin — informou o agente Stewart, reconhecendo que deveria dar um espaço para o casal. 

No momento em que Ric se afastou, o garoto desejou que Jungkook o encarasse de volta. Quando ele o fez, Jimin finalmente se deu conta do quão exausto ele estava.

— Me desculpe, por favor… — Sua voz ecoou trêmula. — Eu fui injusto com você.

— Está tudo bem, anjo. 

— Não está! Eu deveria escutar as coisas que você diz em vez de me opor — respondeu. — Eu prometo que vou ficar aqui.

Houve um pequeno silêncio quando Jimin terminou de falar. Ele não queria se tornar mais um problema para Jungkook, visto que o namorado já estava coberto de ocupações. E, apesar destas ocupações, ele se dedicava ao garoto para além dos seus limites. 

— Obrigado, meu bem. — Foi tudo o que Jungkook respondeu ainda olhando para Jimin.

Uma torrente de culpa acertou o garoto, mas ele não conseguiu verbalizar mais nada. Ele sentiu o corpo de Jungkook se movimentar em direção ao painel para analisar o vídeo de segurança mais de perto. 

Porém, nos pensamentos de Jimin, ele tinha se afastado para não revelar seu estresse particular. Não querendo atrapalhá-lo, o garoto deslizou os pés para longe e procurou um assento para se acomodar enquanto os detetives apuravam o caso. 

Ele decidiu não se meter no andamento da investigação e optou por ficar quietinho em seu canto. Com os ombros encolhidos, Jimin abraçou-se para apartar a sensação de frio, que, familiarmente, se parecia com sintomas de ansiedade. 

— Ric, olhe isso! — Jungkook o chamou com um pequeno aceno e sinalizou alguma coisa na gravação. O agente Stewart se aproximou rapidamente. — Observe essa lanchonete com atenção. Há duas crianças com seus pais, mas, no instante seguinte, elas desaparecem. Houve um corte na gravação! 

— De um período longo, aparentemente — observou.

— É o bastante para arquitetar os explosivos.

— É impressão minha ou aquilo é uma embalagem de trinitrotolueno? — Ric perguntou, enxergando algo peculiar ao lado do pneu dianteiro.

Jungkook ampliou a imagem e aperfeiçoou a qualidade, tornando a embalagem mais nítida. Ele e Ric se entreolharam por um instante, parecendo compartilhar o mesmo pensamento. Ali, portanto, o detetive se certificou de que um material explosivo foi injetado no carro de Seokjin.

— Será que fizeram isso de propósito? — Ric perguntou. — Não é qualquer embalagem, é um composto sólido usado em demolições. Se isso explodir, não vai destruir apenas o carro e sim tudo o que estiver ao redor. 

— Esse tipo de explosivo geralmente é acionado por um dispositivo conectado a ele. Uma certa temperatura ou uma fagulha elétrica pode ser o bastante para tudo explodir. — A informação de Jungkook arrepiou todos os pelos do corpo de Jimin. 

— Sr. Jeon, acabamos de receber uma informação da localização de Seokjin. — Um investigador informou-lhe, aproximando-se da dupla. — O rastreamento indica que ele estava perto do parque Woodley.

— Não fica muito longe da rua em que o carro foi deixado — Ric observou.

Jungkook confirmou com a cabeça.

— Eu vou até lá para descobrir, talvez tenham câmeras por perto — disse o detetive. 

— Me deixe ir com você. — Ric se ofereceu, ignorando todas as recomendações médicas. 

— Você ainda não está liberado para ir à campo.

— Já me sinto bem melhor.

— Continua não estando liberado. — O agente Stewart suspirou pela boca, acatando a decisão de Jungkook. — Eu vou chamar o Yoongi para vir comigo. Fique com o Jimin até eu voltar.

— Sim, senhor. 

— Qualquer informação que tiver sobre o explosivo, me avise.

Ric balançou a cabeça em afirmação. Por um momento, Jimin ficou instigado a perguntar se poderia ir com ele, mas desistiu da ideia quando se lembrou das palavras de Jungkook.

Além disso, o garoto não queria ser um contratempo na vida profissional do namorado. Desde que saiu do baile, Jungkook não parou um minuto nem sequer dormiu direito, ele estava lutando contra a própria fisiologia em função do trabalho. 

Portanto, Jimin não podia ser injusto com ele.

Ele sentiu uma sombra se aproximar sem movimentos bruscos e olhou na direção dela, observando Jungkook se agachar na sua frente. Jimin antecipou as palavras de Jungkook nos pensamentos depois de ver a expressão dele.

— Eu preciso ir, meu bem. — O menino assentiu. — Ric vai ficar com você enquanto eu vou atrás do Seokjin. Quando eu encontrá-lo, você será o primeiro a saber. 

— E se não o encontrar?

— Eu vou! — Ele abriu um pequeno sorriso. — Seu pai ainda precisa me aturar um pouco mais. 

Jimin acabou rindo do comentário de Jungkook, embora o seu humor continuasse triste. 

— Me promete que vai encontrá-lo vivo? — O coração de Jungkook ficou machucado com a pergunta do garoto. — Eu sei que você não pode me prometer isso, mas as suas palavras sempre me confortam.

Jimin sabia que a promessa do namorado não significaria nada, afinal ele não podia adivinhar o que aconteceu com Seokjin, porém desde que foi resgatado das garras da máfia, o garoto começou a se segurar nas palavras de Jungkook para não se sentir tão ansioso. 

Então, o que ele desejava, na verdade, era ouvir palavras de conforto em momentos pesados como esse.

— Vou dar o meu melhor, eu prometo — Jungkook respondeu.

Eles ficaram em silêncio por um curto momento. Então, Jungkook se inclinou para beijá-lo nos lábios, um beijo carinhoso, demorado e cheio de sentimentos. A mente do menino, ocupada com pensamentos agitados, começou a se acalmar aos poucos.

Ao senti-lo se afastar, Jimin abriu os olhos bem a tempo de ver Ric se aproximando atrás de Jungkook. Ele parecia querer dizer algo ao detetive, porém demonstrou uma pequena relutância. Aparentemente, Jimin pensou, Ric não queria ser inconveniente. 

— Senhor… — O detetive girou de frente para ele. — Seokmin está aqui. 

— Como ele tem acesso a nossa base? — Jungkook apertou as sobrancelhas, confuso.

— Yoongi — Ric respondeu. 

Jungkook deveria ter imaginado, afinal, ninguém além de Yoongi tinha motivos para autorizar a entrada de um agente da CIA em uma base secreta do FBI. 

— Deixe-o entrar. 

Ric agitou a cabeça na direção de um policial, que, imediatamente, desativou os sensores de movimento e todos os dispositivos de segurança para que Seokmin tivesse acesso à passagem. 

Em instantes, a porta metálica deslizou para o lado e revelou a imagem do agente recém-chegado. Ele parecia sério como em todas as outras vezes e sua postura, tensa. Seokmin caminhou em direção aos detetives e Jungkook não ousou tirar os olhos dele nem por um segundo.

— O que está fazendo aqui? — Jungkook perguntou, poupando sutileza.

— Olá para você também, Jeon. — Seus olhos caíram sobre Jimin e, em seguida, Ric, voltando para o detetive posteriormente. — Eu soube o que aconteceu com Seokjin. Gostaria que me permitisse participar das buscas. 

— A minha equipe já está cuidando disso. 

— Ele é um grande amigo, faço questão de ajudar vocês — insistiu. 

— Por que você tem acesso à nossa base? — A pergunta de Jungkook fez Seokmin perceber que o detetive estava desconfiado, mesmo sabendo a resposta.

— Eu recebi autorização para usar esta base quando ajudei o FBI em uma operação perigosa. Desde então tenho acesso a ela. — Ele fez uma pequena pausa. — Você tem algo contra isso, Jeon? 

— Sim. 

— Tudo bem, mas você não pode negar que todas as vezes que propomos uma força-tarefa conjunta as operações do FBI tiveram sucesso. — Jungkook não disse nada sobre aquilo. — Além do mais, o FBI também tem acesso às nossas bases. Veja bem: bases.

Naquele momento, Jungkook se deu conta de que estava sendo influenciado pelo seu lado pessoal. Depois de descobrir que Seokmin sabia sobre o seu passado, inclusive sobre ter um irmão gêmeo, o detetive começou a ficar com um pé atrás. 

Sabendo que não podia misturar o lado pessoal com o profissional, Jungkook decidiu autorizar a participação de Seokmin. 

— Ok, você tem a minha permissão para participar das buscas já que faz tanta questão. — Seokmin sorriu em sinal de agradecimento. — Mas lembre-se que não se trata de uma força-tarefa. 

— Como quiser.

— Stewart, avise a equipe de reforço para me encontrar no local. — Ric balançou a cabeça. Jungkook olhou para Seokmin. — Vamos nessa!

Com um pequeno aperto no coração, Jimin os observou caminharem em direção à saída. Ele não sabia quais notícias Jungkook traria e talvez tenha sido esse desconhecimento que fez suas mãos suarem. 

Embora estivesse com medo, o garoto tinha que forçar a sua mente a manter a calma e torcer para que o seu pai fosse encontrado sem ferimentos. Desde que começou a conviver com Seokjin, Jimin não conseguia imaginar a sua vida sem ele. 

A sensação disso fazia o seu estômago se agitar, como se um intenso redemoinho tivesse passado por dentro de seu corpo. Tudo o que aconteceu ainda estava vivo em sua memória, tão vivo que ele se sentia preso naquele cenário novamente. 

Instintivamente, Jimin ergueu os dedos nus até o pescoço, em direção à âncora, e sentiu o toque gelado do pingente. Naquele momento, lembrou-se das palavras de Jungkook e do significado do objeto.

✮✮✮

Minutos depois, eles chegaram na rua em que Seokjin supostamente estava juntamente com a equipe de reforço. Jungkook ligou para Yoongi minutos depois de deixar a base, fazendo-o ir ao seu encontro instantaneamente. 

Yoongi chutou a raiva para longe e decidiu ajudar o parceiro quando soube que Seokjin estava desaparecido. Após se certificar que Taehyung havia recebido todos os cuidados médicos, Yoongi deixou o prédio e seguiu para o local indicado. 

Ele estacionou o carro atrás de Jungkook, sendo surpreendido por uma figura familiar.

— O que você está fazendo aqui? — Foi a primeira coisa que Yoongi perguntou quando avistou Seokmin saindo do carro de Jungkook.

— Pensei que fosse ficar feliz em me ver, querido. — Ele abriu um sorriso atrevido.

— Você não muda mesmo, não é?

Seokmin deu de ombros, deleitando-se do rubor que subiu às bochechas do seu ex-amado.

— Não é hora para isso. — Jungkook repreendeu, juntando-se a eles. — A localização do Seokjin está apontando para este parque. 

— O que o identificou? Sensores de reconhecimento facial? — Seokmin perguntou.

— O celular dele. — Yoongi bufou após ouvir a resposta de Jungkook. 

— Algo me diz que isso é armação. — O detetive concordou. — Se fosse reconhecimento facial teríamos certeza que ele passou por aqui, mas o rastreamento do celular não significa muita coisa. Alguém pode ter roubado dele e colocado aqui.

— Sim e é por isso que devemos tomar cuidado. 

— Vamos nos separar e ficar à espreita — Seokmin recomendou. — Se o celular foi colocado aqui de forma estratégica, então significa que eles estão observando o aparelho à distância.

Jungkook olhou em torno da rua em busca de algum edifício com sacada. Ele acreditava que podia observar com mais diligência se estivesse em uma altura considerável, usando, obviamente, seu rifle de precisão. 

À distância, ele avistou o terraço de uma construção que ficava próxima do parque. Naquele momento, o detetive começou a traçar suas estratégias de espionagem.

— Yoongi, quero que você rastreie o celular. Eu vou me posicionar naquele terraço para ter uma visão mais ampla do parque. — Jungkook explicou seu plano. — Enquanto isso, Seokmin e os outros cuidarão de identificar os possíveis suspeitos. 

— E o que vamos fazer depois? — O agente da CIA indagou.

— Os suspeitos podem nos levar até o Seokjin, é isso que o Jungkook está tentando dizer. — Yoongi pontuou, olhando de esguelha para o parceiro, que o olhou de volta.

— Bom, vamos dar início à operação — Jungkook decretou, apressando-se para pegar o rifle e as munições no bagageiro do carro. — Quero todos em suas posições. Mantenham os olhos atentos. 

Yoongi e Seokmin correram em direções opostas, assim como a equipe de reforço, que se espalhou em pontos estratégicos. Jungkook se apressou até o imóvel em construção, rastejando-se pelas sombras ao lado dos edifícios vizinhos.

Ele procurou um acesso com destino ao terraço e localizou um elevador de carga industrial, lançando-se dentro às pressas e mantendo-se posicionado com o seu rifle. Em poucos instantes, as engrenagens começaram a ranger e a máquina de transporte moveu-se para cima.

Naquele momento, por mais que tentasse manter a cabeça na operação, os pensamentos de Jungkook viajaram até Jimin. Ele começou a se questionar mil e uma coisas, inclusive o fato de tê-lo inserido no meio desse caos.

Jungkook prometeu protegê-lo, mas a realidade estava longe de seu alcance. Ele não podia prever o inimigo nem interceptar os seus passos, tampouco estar em dois lugares ao mesmo tempo — o que era óbvio.

Quando alcançou o terraço, o detetive saiu do elevador e olhou em volta do pavimento em busca de um suporte. Ele avistou uma pequena coluna de pedra e correu na direção dela, se agachando para se proteger de olhares furtivos.

Com o rifle devidamente posicionado, Jungkook começou a observar o parque através da luneta óptica. O lugar era coberto por um verde musgo, havia bancos de madeira e árvores por toda parte.

O ar cheirava a folhagem e terra molhada. Pessoas de diferentes idades passeavam enquanto alguns pombos caminhavam pacientemente em busca de petiscos. 

Por mais que algumas ondas de cansaço estivessem começando a surgir em Jungkook, ele se manteve concentrado à procura do celular. Ele observou Yoongi encostado ao lado de uma árvore enquanto sondava a redondeza. Seokmin, por outro lado, andava pelo parque à medida que explorava a grama abaixo de seus pés.

Com o seu dispositivo portátil, Yoongi começou a rastrear o aparelho, torcendo mentalmente para não ter bloqueadores. Um homem de meia idade que estava sentado em um banco observou a movimentação dos detetives e, discretamente, levantou-se. 

Ele olhou para os lados e seguiu o seu caminho com as mãos nos bolsos. Jungkook acompanhou os passos dele na tentativa de pescar algum movimento suspeito, porém o homem não olhou para trás e continuou andando. 

Encontrei alguma coisa — Seokmin informou no ponto de escuta e Jungkook pôde vê-lo se agachar para pegar o objeto. — Me parece uma escuta danificada. 

Eles estavam com pressa — Yoongi comentou. 

Jungkook continuou com os olhos pregados na luneta óptica, ciente de que a qualquer momento poderia encontrar o que estava procurando. De repente, alguma coisa apitou no dispositivo de Yoongi e ali Jungkook percebeu que ele tinha recebido a localização do celular. 

Yoongi começou a ir na direção indicada, mas antes trocou um rápido olhar com Seokmin. Ele reparou que a posição apontava para uma lixeira, que, por sinal, estava aninhada ao lado de uma escultura de pedra. 

Tome cuidado! — Seokmin disse quando o assistiu se aproximar da lata. 

Com uma mistura de apreensão e fascínio, Yoongi arrancou a tampa e avistou o celular enrolado em um saco. Aquilo serviu para deixá-lo intrigado, não só a ele, como também aos outros agentes. 

— Encontrou o celular? — Jungkook perguntou, confuso. 

Tem algo de errado — Yoongi pontuou enquanto analisava o aparelho, mas sem tocá-lo. — Há um cronômetro na tela.

Seokmin se aproximou de Yoongi para entender o que ele estava vendo. À distância, Jungkook pegou um vislumbre do aparelho e pôde ver uma espécie de cronômetro correndo na tela. Ali, o detetive tentou chegar a uma conclusão.

Juntando as peças, Jungkook teve certeza que a contagem regressiva pertencia ao explosivo implantado no carro de Seokjin. Naquele momento, ele se deu conta de que a equipe antibombas estava no lugar errado, pois o propulsor do explosivo era o celular de Seokjin.

— Yoongi, verifique se o aparelho está conectado a algum fio ou se possui um padrão numérico, mas tome cuidado para não ativar a bomba — Jungkook ordenou, pegando o celular no bolso para ligar para Ric.

Você está pensando o mesmo que eu, detetive? — Seokmin perguntou.

— O painel de controle está interligado ao celular, não aos explosivos. Temos que desativá-los. 

Achei um padrão numérico. — Yoongi informou. 

— Ótimo, me aguarde um minuto. — Jungkook fez uma pausa para falar com Ric ao telefone. — Stewart, avise a equipe antibombas que nós localizamos o painel de controle dos explosivos, mas temos que desbloqueá-lo para conseguirmos desativar. 

Sim, senhor, farei agora mesmo. — Ele fez uma pausa. — Nós encontramos uma filmagem em que o Seokjin aparece.

— E onde ele está? 

No bagageiro do carro. — Jungkook levou um tempo para absorver aquela informação. — Pelas imagens, ele parecia desacordado. 

— Yoongi, quanto tempo resta no cronômetro? 

Dez minutos.

Naquele momento, Jungkook sentiu a cabeça latejar e esperou parecer mais confiante do que se sentia. A sensação que tinha era de que o tempo estava escorrendo entre os seus dedos. Havia apenas um profundo silêncio ecoando em sua cabeça.

Muitas dúvidas murmuravam nos pensamentos de Jungkook naquele momento, deixando-o inerte e sem reação por um curto tempo. Ele não parava de se perguntar o que tinha levado Seokjin a ser o próximo alvo do Zakon.

Senhor? — Ric o chamou. — A equipe antibombas já está a caminho. 

Jungkook murmurou algo e saiu de sua posição em um movimento ágil. Ele correu pelo pavimento e se atirou no elevador de carga, refazendo todo o percurso. Tudo o que ele conseguia enxergar enquanto corria era um borrão de cores ao seu redor.

Antes mesmo de alcançar Yoongi e Seokmin, ele avistou o furgão da equipe antibombas parando na frente de um veículo do FBI. Duas pessoas com trajes robustos e capacetes lacrados saíram do carro.

Eles fizeram um sinal para Yoongi e Seokmin, que se afastaram da lata de lixo instantaneamente, dando espaço para que os profissionais fizessem o seu trabalho. Jungkook arrastou as botas pela grama molhada de orvalho até alcançar os colegas na metade do caminho. 

— O que o Ric te falou? — Isso foi tudo o que Yoongi perguntou após alcançá-lo. 

— Tem uma imagem de segurança que mostra o Seokjin sendo colocado no bagageiro — ele explicou.

— Não há nada que possamos fazer? — Seokmin quis saber.

Jungkook balançou a cabeça para os lados.

— Temos que esperar o esquadrão desativar a bomba para, então, tirá-lo de lá. — ele respirou, sentindo o ar fresco, com um estalo de inverno, inundar as suas narinas. — Estamos de mãos atadas. 

— Filhos da puta! — Yoongi resmungou.

Jungkook avistou uma pequena pulsação na têmpora dele, indicando toda a sua fúria. O detetive entendia a raiva que seu parceiro estava sentindo. Em poucos dias, Zakon conseguiu plantar uma semente no FBI e assombrar, até mesmo, pessoas que não pertenciam à equipe oficial.

— Vocês acham que o Seokjin está… — Yoongi fez uma pausa, incapaz de terminar a frase.

— Ele está vivo — o detetive respondeu. — Eles não colocariam um cadáver para queimar na explosão. Para eles é mais impactante assisti-lo agonizar enquanto queima. 

— De qual inimigo estamos falando? — A pergunta de Seokmin fez Jungkook encará-lo com as sobrancelhas erguidas. 

Imagens caíram na mente do detetive como inúmeros confetes sacudindo, fazendo-o lembrar que Seokmin não era confiável. Ele estava em campo por ser uma peça útil, não de confiança.

— Esse assunto não te diz respeito. — Seokmin levantou as mãos em rendição após a resposta de Jungkook. 

Ele não pareceu ofendido apesar de demonstrar inquietação. Enquanto isso, Yoongi não escondeu sua confusão. Ele não sabia das mesmas coisas que Jungkook, apenas que Seokmin ajudou Paige a localizá-lo. 

Porém, naquele momento, ele teve certeza que seu parceiro escondia mais informações.

À distância, Jungkook avistou novamente o homem de meia idade, desta vez parado ao lado de um poste amarelo enquanto olhava na direção dos detetives. Ele segurava uma cerveja na mão, não parecendo curioso com a movimentação dos federais e sim confiante.

— Estão vendo aquele homem? — Jungkook perguntou sem tirar os olhos do marmanjo.

Yoongi e Seokmin seguiram o seu olhar.

— Não vejo ninguém — Yoongi respondeu.

— Eu também não — Seokmin completou. 

Muito rapidamente, o detetive focou em seus colegas para ter certeza se eles estavam olhando na mesma direção e eles estavam, contudo. 

— Vocês só podem estar brincando — ele resmungou. — Como não estão vendo aquele homem com uma lata de cerveja na mão?

— Não tem ninguém ali, cara. — Yoongi reforçou, olhando-o de forma estranha. — Você tem dormido direito?

Por um momento, um lampejo de raiva cresceu em Jungkook, mas, na verdade, ele parou para considerar a pergunta de seu parceiro.

Não podia fingir que as noites mal dormidas não estavam afetando a sua saúde. Desde que ficou sabendo da existência do Zakon e a quem eles desejavam ferir, Jungkook não conseguiu dormir bem ou sequer dormir. 

— Senhores, esse explosivo foi desativado. — Uma voz feminina quebrou o devaneio de Jungkook e a confusão de Yoongi e Seokmin. — Nós tivemos sorte, pois a temperatura ambiente estava acelerando o cronômetro. Conseguimos desativar nos últimos segundos. 

Jungkook suspirou pela boca como se tivesse tirado um peso enorme das costas.

— Vocês fizeram um ótimo trabalho! — o detetive parabenizou, olhando para Yoongi em seguida. — Vamos atrás do Seokjin.

— Eu recomendo que não toquem no carro até que ele seja todo inspecionado — a mulher alertou, deixando Jungkook confuso.

— Vocês não desativaram o explosivo?

— Sim, mas ainda estamos verificando se não há outros dispositivos conectados à bomba. — Yoongi esfregou as têmporas após a fala da mulher, demonstrando preocupação.

— Voltamos à estaca zero mais uma vez — Seokmin murmurou, impaciente.

Jungkook olhou novamente para o local em que avistou o homem estranho, mas, desta vez, ele não estava mais lá. Ele estava quase convencido de que não passava de um devaneio devido ao cansaço mental. 

Sem dizer nada, ele deu as costas e caminhou até o carro estacionado do outro lado da rua. Confuso, Yoongi olhou para Seokmin como se esperasse que ele soubesse o que Jungkook estava fazendo. O agente da CIA deu de ombros, demonstrando ter a mesma dúvida.

Por fim, Yoongi decidiu ir atrás do parceiro. Ele o alcançou instantes depois de Jungkook entrar no carro. Quando o detetive estava prestes a fechar a porta, a mão de Yoongi surgiu em seu campo de visão e segurou-a.

— O que está fazendo? — ele perguntou, seus olhos castanhos o encararam confusos. 

— Indo atrás do Seokjin.

— Você ouviu a especialista, não podemos fazer nada até que o esquadrão examine o veículo inteiro.

— Não posso deixá-lo morrer…

Yoongi bufou e acertou um tapa no braço de Jungkook. 

— Pare de palhaçada, seu idiota, você não pode se culpar por todas as coisas que dão errado! — Ele abriu a porta do carro por completo e fez um sinal com a cabeça. — Saia do carro e vamos esperar. 

Silêncio.

— Qual é, Jungkook, você quer que eu te arranque desse carro na força do ódio? — ele ameaçou.

— Seokjin estava saindo com uma mulher — Jungkook disse de repente, pensativo. Yoongi recuou os ombros diante daquela informação. — Ele comentou sobre ela algumas vezes, mas nunca disse quem era. 

— No que está pensando?

— Talvez tenha sido ela quem pediu a ele para não revelar sua identidade — supôs. — Assim, se algo acontecer com ele, vamos ter dificuldade de interrogá-la porque não sabemos quem ela é.

Yoongi bateu a mão na testa.

— Não acredito que ele caiu no charme de uma mulher de novo.

— Temos que procurá-la! — Ele deixou o carro e se aproximou de Yoongi como se fosse contar um segredo. — Não quero que o Seokmin saiba disso. 

— Por quê?

— Não confio nele.

— Então porque permitiu que ele participasse dessa operação?

— Mantenha-se próximo de seus amigos e mais próximo ainda de seus inimigos.

— É sério que você o considera um inimigo? 

— Enquanto eu não souber das reais intenções dele, sim. — Yoongi olhava para Jungkook como se desejasse perguntar-lhe alguma coisa, mas, por algum motivo, manteve a pergunta para si. — Por mais que o seu passado com ele ainda te afete, não pode permitir que isso atrapalhe o nosso trabalho. 

— Eu sei separar as coisas com ele.

— Ótimo — O detetive permaneceu fitando-o com o mesmo olhar intenso. — Vamos nos juntar ao Ric para descobrir quem é essa mulher.

— Acha mesmo que ela está envolvida?

— Seokjin é um cara esperto, menos quando se trata de mulheres. Ele não se deixaria ser sequestrado tão facilmente e saberia se alguém estivesse atrás dele.

— Ela pode ter colocado alguma droga na bebida dele. — Jungkook concordou com um aceno de cabeça. De repente, Yoongi olhou para alguma coisa — ou alguém — às costas do detetive e disse: — Seokmin está vindo, vamos mudar de assunto.

Jungkook pôde ouvir os passos do agente da CIA sobre o asfalto, mas não se virou para encará-lo. Quando as pegadas cessaram, o detetive, finalmente, virou de frente para o homem, que fitava a dupla com uma curiosidade estranha.

— O esquadrão finalizou a vistoria. Eles não encontraram nenhum outro dispositivo que estivesse ligado à bomba. — Seokmin fez uma pausa criteriosa. — Não receberam o aviso no ponto de escuta? 

— Nós estávamos ocupados. — Yoongi respondeu.

— Imagino que sim. — Havia deboche escorrendo de suas palavras. — E então, vamos atrás dele ou querem ficar aqui parados?

Em silêncio, Jungkook se afastou deles, entrou no carro, bateu a porta e ligou o motor, mas não tirou o carro do lugar. Naquele momento, Seokmin e Yoongi entenderam que ele estava aguardando-os. Apesar das pequenas alfinetadas, o detetive sabia como agir durante uma força-tarefa. 

Após todos se acomodarem em seus respectivos bancos, Jungkook afundou o pé no acelerador e lançou o carro na estrada, consciente de que o lugar não ficava tão longe do parque.

— Você parece estressado, Jeon. — Seokmin comentou com um tom diferente, uma familiaridade que incomodava Jungkook. — Eu sei o motivo por trás de toda essa fúria. 

O detetive tirou os olhos da estrada para encará-lo, mas Seokmin estava fitando um ponto para além do parabrisa.

— Está com raiva de mim porque eu sabia sobre você! — Jungkook estava esperando ouvir aquelas palavras para justificar a raiva que começou a incendiar seu peito. 

— Por que escondeu que eu tinha uma irmã?

— Quando terminarmos aqui, posso te contar do começo. Parte por parte. 

Yoongi olhou de Seokmin para Jungkook e de Jungkook para Seokmin, repetindo esse movimento toda vez que um deles tomava a fala.

— Não estou convencido de que você vai me contar a verdade — Jungkook disparou. — Tenho quase certeza que a sua história foi inventada. 

— Você nem a escutou.

— Diga a verdade, Seokmin, você me conhecia antes mesmo do Seokjin chamar a CIA para participar do caso da máfia e mesmo assim fingiu surpresa. — Houve um minuto de silêncio no carro. — Você sabia que a Paige estava atrás de mim e que eu tive um irmão gêmeo.

Yoongi quase se engasgou com a própria saliva.

— Irmão gêmeo?! — Ele limpou a garganta como se tivesse engolido uma grande quantidade de ácido. — Como assim um irmão gêmeo?! Existe outro com a sua cara no mundo?! 

— Tem um motivo para eu não ter te contado, Jeon.

— Bom saber… — havia um traço de zombaria na voz de Jungkook, mas sem maldade. 

Ele apertou no freio quando avistou a equipe do esquadrão parada ao lado do carro de Seokjin. À distância, Jungkook percebeu que o bagageiro estava aberto e que dois homens com roupas de proteção olhavam para dentro.

Rapidamente, Jungkook pulou para fora do veículo em companhia de Yoongi e Seokmin. Toda a sua atenção, neste momento, estava de volta ao caso. Enquanto isso, Yoongi continuava com os pensamentos presos na revelação, meio incrédulo por saber que Jungkook tinha um irmão gêmeo.

Ao se aproximar, o detetive apresentou sua credencial para o chefe do esquadrão, embora não fosse necessária, vendo-o acenar na direção do carro. Jungkook deu um passo para perto do veículo e ali pôde observar o corpo de Seokjin amarrado. 

Os olhos dele estavam entreabertos, parecendo fora de foco como se tivesse sido drogado. Um líquido transparente escorria de sua boca ressecada e grande parte de sua pele exposta estava com hematomas arroxeados. 

Jungkook chegou perto o bastante para checar o pulso dele, sentindo-se aliviado quando sentiu-o palpitar contra os seus dedos nus. Ele deu um suspiro audível e começou a desamarrar a pesada corda que envolvia os braços de Seokjin.

— Ele está vivo! — o detetive disse enquanto cortava a corda com uma lâmina. — Chamem uma ambulância depressa!

Yoongi pegou o celular no bolso e começou a discar o número do hospital mais próximo. Enquanto isso, Jungkook terminava de desprender a corda sem fazer movimentos bruscos, afinal ele não sabia até que ponto Seokjin estava machucado.

Lembrou-se de Jimin e da promessa que fez ao garoto. Ele, sem dúvidas, teria chorado se pudesse ver com os olhos de Jungkook nesse momento. O estado em que Seokjin se encontrava indicava que ele havia sofrido um golpe na cabeça e inúmeras tentativas de sufocamento para deixá-lo desacordado. 

Naquele intervalo, ele se perguntou como aquilo aconteceu e quais pessoas estavam envolvidas no acontecimento. Jungkook tinha quase certeza que a mulher com quem Seokjin estava se encontrando podia saber de algo.

Embora estivesse aliviado por achá-lo com vida, Jungkook não podia negar que sentiu medo de perdê-lo, principalmente por Jimin, que vinha se acostumando com a ideia de tê-lo como pai biológico. 

Diante disso, Jungkook chegou a conclusão que teria de marcar uma reunião de emergência com todos os profissionais da área forense para discutir o caso e traçar uma linha do tempo referente aos últimos episódios e aos envolvidos.

A ideia é alcançar uma estratégia para findar de vez as investidas do Zakon, nem que para isso fosse necessário chamar alguns membros do governo para fortalecer as defesas do país contra espiões russos.

Minutos depois, Jungkook ouviu as sirenes da ambulância ecoando à distância. Levou mais ou menos um minuto para que a van alcançasse o trecho em que eles estavam. O detetive se afastou de Seokjin para que os enfermeiros pudessem socorrê-lo com mais precisão. A coisa toda passou como um borrão.

Ele ouviu o ruído de uma respiração às suas costas e virou-se, dando de cara com Yoongi. Dava para ver nos olhos dele e no modo como olhava para Seokjin sendo levado para a ambulância que ele estava apreensivo.

— Eu trabalhei com ele por tanto tempo e nunca o vi tão machucado. — a voz de Yoongi parecia tensa e cheia de arranhões. Ele olhou para Jungkook com uma crescente fúria. — Temos que impedir esses filhos da puta! Eu vou matar um por um! 

— Era isso que eu queria ouvir de você.

✮✮✮

Oi, meus amores, espero que todos vocês estejam bem e que tenham gostado da atualização.

Não vou falar muito porque posso acabar soltando alguns spoilers, mas no próximo vocês vão entender um pouco mais o que aconteceu com o Seokjin. Claro que nem tudo foi revelado nesse capítulo porque muitas surpresas ainda virão.

Fiquem bem e aguardem o próximo capítulo, que, por sinal, está sendo escrito.

Beijinhos, amo vocês <3

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