twenty five᠉

O céu já começava a escurecer em um azul profundo, derramando seus pontilhados de estrelas pela cidade. Durante todo esse tempo, Seokjin não acordou, mesmo após a realização de alguns exames.

Ele estava em um quarto exclusivo sob a proteção de dois guardas do FBI. Jungkook e Yoongi temeram que o estado de saúde do ex-chefe pudesse piorar, mas os médicos garantiram que ele estava estável.

Encostado na parede, Jungkook olhava para Seokjin como se esperasse vê-lo acordar. As luzes do quarto permitiam que ele visse a extensão dos ferimentos do homem e a palidez em seu rosto adormecido. 

Como prometido, o detetive ligou para Jimin e, com a voz mais firme que conseguiu fazer, contou para ele o que aconteceu com Seokjin. O menino entrou em desespero, mas Jungkook conseguiu acalmá-lo com suas palavras.

Obviamente, Jimin implorou para ir vê-lo no hospital, mas Jungkook o convenceu a permanecer na base. Sem contestar, o menino concordou com os termos dele e decidiu aguardar. 

Agora, no entanto, já tinham se passado quatro horas desde o momento em que ligou para Jimin. O detetive tinha consciência de que o garoto devia estar esperando boas ou más notícias, porém a situação de Seokjin continuava a mesma.

De repente, alguém bateu na porta e varreu os pensamentos de Jungkook para longe, fazendo-o caminhar até ela para abri-la. Em sua frente estava Yoongi, segurando dois copos de café. Ele adentrou o quarto em silêncio, mas antes entregou um dos copos a Jungkook.

— Ele não acordou ainda? — O detetive balançou a cabeça para os lados, suspirando. — O que o médico disse sobre os exames?

— O resultado ainda está sendo processado. 

Jungkook sentou-se na cadeira de visita mais próxima e indicou outra para Yoongi, que recusou com um aceno de cabeça. O detetive apoiou as costas no espaldar enquanto bebia seu café e olhava para Seokjin.

Ele sabia que não podia ficar esperando por tanto tempo, afinal a investigação ainda estava em andamento, mas tinha esperança de vê-lo acordar antes de voltar para a base subterrânea do FBI.

— Eu quero te ajudar — Yoongi disse e, de repente, seus olhos ofuscaram. 

— O quê? — Ele pareceu confuso.

— Caleb Garner. — Jungkook não reagiu diante daquele nome familiar. No entanto, sabia que Yoongi não disse da boca para fora. — Esse é o nome do hacker que está te ajudando, não é? Ele tentou acessar as nossas bases cibernéticas uma vez.

— O que sabe sobre ele?

— Quase nada… — Deu de ombros. — Na verdade, eu já ouvi o Seokjin mencionar esse nome. Juntei as peças quando li as iniciais do nome dele no próprio carro. Nada inteligente, devo admitir. 

Jungkook ficou em silêncio por um momento e ponderou sobre que resposta dar a Yoongi. Ele não queria revelar que Caleb era o hacker contratado para investigar seu passado, porém, Yoongi parecia ter provas do que falava.

— Eu admito que pisei na bola com você, por isso quero provar que estou do seu lado — Yoongi disse, parecendo realmente arrependido. — Tudo bem se não quiser a minha ajuda, você tem todo direito de estar chateado comigo.

— Eu não quero falar sobre isso em um hospital. — Ele não estava fugindo do assunto, apenas evitando que informações pessoais caíssem em ouvidos errados. — Não estamos na sede do FBI, e até mesmo lá devemos tomar cuidado.

Yoongi concordou com um murmúrio e levou o copo de café até a boca, sentindo a temperatura do líquido rasgar as paredes de sua garganta. Assim como Jungkook, Yoongi começou a andar pelos corredores do FBI como se estivesse pisando em ovos.

Depois que o Zakon deu as caras, tornou-se difícil saber em quem confiar. Por mais que os verdadeiros inimigos estivessem fora dos muros do FBI, outros, no entanto, podiam estar mais perto do que nunca. 

— Você falou com o Jimin? — Yoongi perguntou quando olhou para Seokjin, vendo o peito dele subir e descer lentamente. 

— Sim.

— E como ele reagiu?

— Do jeito que eu imaginava. — Ele sentiu uma enorme onda de cansaço atravessar seus ossos. — Ele queria ver o pai, mas eu achei melhor não.

— Foi melhor assim. — Ele fez uma pausa para tomar outro gole de café. — Você acha que ele vai demorar pra acordar?

— Eu não sei — Um pequeno suspiro escapou de seus lábios. — Tentaram matá-lo assim como tentaram matar o Jimin. 

— Foram métodos diferentes. Seokjin foi deixado desacordado, mas vivo, já o Jimin não teve tanta sorte assim. Os caras que invadiram a casa do Seokjin realmente queriam matá-lo.

— Você tem algum palpite em mente?

Yoongi olhou para a porta do quarto e observou uma discreta sombra atravessar por baixo dela, arrastando o que parecia ser uma mesa de metal hospitalar. Ele esperou alguns segundos e logo percebeu que a silhueta pertencia a um dos enfermeiros que estava de plantão.

Em seguida, seus olhos retornaram para Jungkook e com a voz baixa ele disse: 

— Eu achei a lista do Zakon e o Seokjin não está nela — o detetive apertou as sobrancelhas, parecendo meio confuso, meio reflexivo. — O que significa que…

— Ele foi usado como uma distração. — Yoongi murmurou em concordância. — Quem mais está na lista?

— Eu, você, Jimin, Ric, Layla, Seokmin… a lista é enorme. Acho melhor você ver pessoalmente.

— Jared está nela também? — A dúvida de Jungkook deixou Yoongi intrigado. 

— Eu não lembro de ter visto o nome dele — respondeu. — São muitos nomes e valores; por essa lista já podemos descartar o nome de alguns agentes.

— Ainda não, primeiro vamos verificar a credibilidade dessa lista. O fato de você ter achado os nomes tão depressa torna tudo suspeito. Um grupo como o Zakon não deixaria algo tão secreto ser acessado com tanta facilidade.

O rosto de Yoongi sofreu uma leve mudança. 

— Pensei que isso se devia ao fato de eu ser bom no que faço — ele comentou.

— Isso também — acrescentou. — Você sabe que não estou falando mal do seu serviço.

— É, eu sei. — Ele fez uma rápida pausa e se aproximou de Jungkook, sentando-se na cadeira ao lado dele. — Nos últimos dias eu tenho me sentido um pouco inútil no trabalho. É como se eu tivesse perdido a habilidade de trabalhar no FBI.

— Você é um dos melhores que temos.

— Fale isso para os meus pensamentos. Eles têm me atormentado nas últimas semanas. — Jungkook o observou em silêncio. — Quando você me trocou por esse hacker, esse sentimento de inutilidade piorou. Não estou te culpando, que fique claro.

— Eu não pensei isso.

— Ainda assim prefiro esclarecer as coisas — disse ele, e então, sua boca se curvou em um sorriso não muito agradável. — Posso te confessar uma coisa?

— Sim.

— Eu tenho medo de perder a sua amizade por causa do meu comportamento impulsivo. Sou um idiota, Jungkook, mas também sou amável com aqueles que amo. E eu amo você, amo trabalhar ao seu lado. Não quero fazer tolices e pedir desculpas toda vez que cometo um erro.

— Esqueça, eu não vou ser seu psicólogo — ele brincou, tornando o momento mais leve.

Yoongi riu.

— Acho que depois de tudo isso eu vou precisar de uma sessão com a Srta. Morgan.

— Uma não, várias. 

Eles riram juntos, julgando a própria situação, além de trágica e catastrófica, cômica. As risadas foram subitamente cessadas quando eles ouviram Seokjin se mexer na cama, parecendo despertar-se aos poucos.

Jungkook foi o primeiro a se levantar e se aproximar do leito, vendo-o com os olhos abertos e fixos nele. 

— Jimin — Seokjin sussurrou, sua voz parecia fraca e confusa. 

— Eu vou chamar o médico — informou Yoongi após se erguer da cadeira, indo em direção à porta. 

— Onde está o Jimin? — Foi a primeira coisa que ele perguntou depois de recuperar a consciência. — Que lugar é esse?

— É um hospital. — Seokjin tentou lutar para se levantar, mas seu corpo inteiro doeu, como se alguém tivesse quebrado algo pesado em sua cabeça. — Não se mexa muito, você foi ferido gravemente.

— Eu quero ir atrás do meu filho.

— Jimin está seguro, preocupe-se apenas com você. — Embora suas palavras tenham soado firmes, sua voz estava branda.

Com uma espécie de submissão, Seokjin se inclinou para trás contra o travesseiro e fitou o detetive antes de dizer: 

— Eu não posso simplesmente fingir que não estou preocupado com o Jimin. Tem pessoas querendo matá-lo. 

Jungkook olhou para ele com uma mistura de preocupação e curiosidade. Ele gostaria de contar a Seokjin o que tentaram fazer com Jimin, mas o homem não parecia muito bem para receber essa informação.

Então ele decidiu perguntar outra coisa.

— Você se lembra do que aconteceu? — Não havia clareza na expressão de Seokjin, mas ele parecia se recordar de algumas coisas antes de ficar inconsciente.

— Eu fui visitar um amigo e, de repente, uns homens me encurralaram em um beco — contou-lhe. — Não sei como eles eram porque estavam encapuzados, mas lembro de ter visto uma tatuagem no pulso de um deles.

— Como era essa tatuagem?

— Parecia uma estrela. — Jungkook não se surpreendeu, pois já esperava por essa resposta. — Eu não sei como eles me acharam. Toda vez que visitei o Axel tomei cuidado para não ser visto. 

O detetive enrugou a testa diante daquele nome desconhecido. 

— Quem é Axel?

Naquele momento, Seokjin fez uma pausa como se pensasse sobre que resposta dar a Jungkook. Ele não parecia estar elaborando uma mentira, mas ponderando sobre como contar ao detetive. 

— Axel é um ex-agente do FBI. Ele também foi vítima dos abusos do treinador Robert. — Jungkook ficou tão surpreso que não conseguiu dizer nada à princípio. — Fiquei me sentindo muito culpado com o que aconteceu com o Namjoon naquela época, então procurei o Axel para dar apoio. 

— Como ficou sabendo que esse tal de Axel também foi abusado?

— Eu vi o nome dele nas fitas que a perícia encontrou no dia em que fui dar entrada na papelada — respondeu e, então, acrescentou: — Axel foi o meu parceiro de operações em campo quando éramos mais jovens. Ele não sabia sobre as fitas. Me aproximei dele com a desculpa de que agora somos dois agentes aposentados. 

— Você o visita toda semana? 

— Sim. — Um suspiro escapou de seus lábios machucados. 

— Agora sabemos como esses caras te encontraram. Eles estudaram seus passos e tudo o que você fez ao longo da semana, não é à toa que escolheram um lugar estratégico para te atacar.

— Eram muitos, eu não podia fazer nada — lamentou-se.

— Você chegou a encontrar o Axel? — Jungkook perguntou, tentando investigar suas opções. 

Seokjin balançou a cabeça para os lados, negando. 

— Eu não tive tempo de vê-lo, eles me encurralaram antes.

— E a mulher com quem você está saindo? — Seokjin apertou as sobrancelhas, confuso. — Tem visto ela essa semana? 

— Não, por quê? — O detetive não respondeu. — Acha que ela pode estar envolvida? 

— Foi só uma suposição.

Seokjin não rebateu a hipótese de Jungkook, não por acreditar que ele estava certo, mas por não saber quem eram as pessoas por trás do ataque. E, obviamente, ele não colocaria a mão no fogo por uma pessoa que conheceu a pouco tempo.

De repente, a porta do quarto foi aberta, revelando a imagem do médico com Yoongi às suas costas. Ele cumprimentou o detetive antes de se aproximar do leito para examinar Seokjin.

Quando Jungkook se lançou para o pequeno armário que ficava instalado ao lado da porta, ele e Yoongi trocaram um rápido olhar. Naquele momento, seu parceiro soube que ele queria dizer alguma coisa. 

O detetive serviu um copo de água e entregou a Seokjin, que pegou o copo e agradeceu. Ao retornar para perto de Yoongi e perceber que o médico conversava com Seokjin enquanto examinava-o, Jungkook perguntou através de um sussurro:

— Você conhece um tal de Axel? 

— Ele saiu pouco tempo depois que eu entrei na equipe. — Houve um pequeno lampejo de hesitação na voz de Yoongi. — Por que está me perguntando isso?

— Seokjin estava indo visitá-lo quando foi atacado — Yoongi expressou surpresa. — Sabe onde ele mora?

— Não, mas posso descobrir. — Jungkook agitou a cabeça, concordando com a ideia. — Ele disse alguma coisa sobre a mulher com quem está saindo?

— Eles não se viram essa semana, mas isso não a isenta totalmente. Temos que investigá-la.

— Eu posso fazer isso.

— Ótimo.

— Rapazes — A voz do médico interrompeu a conversa dos detetives, que olharam, simultaneamente, na direção dele. — Ele terá de ficar em observação nas próximas horas. O resultado dos exames ainda não saiu, temos que esperar.

— Podemos ficar com ele? — Yoongi perguntou.

— Apenas um de vocês.

— Então eu fico — Yoongi se ofereceu, olhando para Jungkook em seguida. — Você pode ir, a equipe precisa mais de você do que de mim.

— Tem certeza?

— Claro — garantiu. — Se precisar de alguma coisa, me ligue.

No fundo, Jungkook sentiu-se aliviado por Yoongi ter se oferecido, por conta própria, para fazer companhia a Seokjin, afinal de contas ele não estava inteiramente disposto. 

— Jungkook… — Seokjin o chamou baixinho e parou quando o detetive fixou os olhos nele. — Venha aqui. 

— Eu tenho que ver outro paciente. Estarei na recepção caso precisem de alguma coisa. Com licença, detetives — disse o médico, retirando-se do quarto educadamente.

O detetive trocou um ligeiro olhar com Yoongi antes de arrastar os pés até Seokjin. Após se aproximar do leito, ele ouviu o homem dizer: 

— O beco onde eles me cercaram fica próximo da casa do Axel. Encontre-o e ele te dará as imagens de segurança. — Ao invés de se sentir tranquilo, no entanto, Jungkook pareceu mais desconfiado.

— Qual é o sobrenome dele? 

— Thompson. — Um sentimento de familiaridade percorreu por Jungkook. — Ele é irmão da Scarlett, sua supervisora, mas acredite em mim, ele é muito diferente dela.

Jungkook continuou olhando para Seokjin, mas seus pensamentos correram em outra direção. Ele não podia acreditar que Seokjin estava enviando-o para se encontrar com o irmão de uma mulher que o odeia. 

Obviamente, isso não o tornava semelhante a Scarlett, mas não podia negar que relações familiares carregam consigo histórias de vida parecidas. A depender do vínculo entre Axel e Scarlett, o detetive podia estar se colocando em um beco sem saída. 

— Eu farei isso. — Foi tudo o que ele respondeu. 

— Só mais uma coisa — prosseguiu. — Traga o Jimin mais tarde. Eu preciso ver o meu filho. 

— Seokjin…

— Não discuta comigo. — Ele pareceu firme, mas não arrogante. — Se eu não posso ir até ele, traga-o até a mim. 

— Você mesmo disse que estão tentando matá-lo — pontuou.

— Eu nunca confiei tanto em alguém como confio em você, Jungkook. Por isso, sei que você é a única pessoa capaz de proteger o Jimin.

As palavras de Seokjin mexeram com Jungkook. Ele sabia que podia protegê-lo, mas não o suficiente. E, querendo ou não, toda vez que alguém dizia que ele era o único detetive capaz de proteger Jimin, um terrível sentimento de culpa o invadia.

Da mesma forma que se responsabilizou quando Namjoon o prendeu no prédio do FBI, Jungkook também se responsabilizava toda vez que algo ruim acontecia com o garoto. 

— Não acho que seja uma boa ideia trazer o Jimin — disse Jungkook depois de ficar um tempo em silêncio. — Quando você se recuperar, e eu espero que isso aconteça logo, poderá vê-lo. 

— Eu concordo com o Jungkook — Yoongi interviu, emergindo atrás do detetive. — Você quase morreu e o Jimin também. Não acho seguro trazê-lo aqui.

— O que você disse? 

Após se dar conta do que disse, Yoongi se calou. Ele olhou para Jungkook e, em seguida, para Seokjin, sentindo toda a cor de seu rosto ir embora. Naquele momento,  Yoongi soube que Jungkook não tinha contado a ele o que aconteceu com Jimin.

— Eles machucaram o meu filho?! — Seokjin perguntou quando ninguém disse nada. 

— Não — respondeu Jungkook. — Jimin está bem, eu já te falei.

— Houve uma tentativa, mas o seu filho conseguiu sair ileso, já a sua casa… — Yoongi acrescentou, recebendo um olhar duro do parceiro. 

— Vamos falar sobre isso outra hora — O detetive disse antes que Yoongi soltasse mais coisas. — Seokjin, eu volto mais tarde para vê-lo. E, mais uma vez, Jimin está bem. 

Desta vez, Seokjin não disse nada. Ele parecia exausto e indisposto até mesmo para prosseguir com aquele debate. É claro que ele acreditava nas palavras de Jungkook, mesmo que o sentimento de preocupação parecesse ainda mais forte.

— Pode me ligar se precisar de mim — disse Yoongi para Jungkook. — Posso estar em um hospital, mas ainda tenho meios de investigação.

O detetive balançou a cabeça em afirmação. Ainda existiam muitas pontas soltas no caso e Jungkook sabia que esperar sentado não faria todas elas se unirem por conta própria.

Layla estava cuidando dos resultados laboratoriais de Hannah enquanto Ric comandava a equipe da base secreta para desvendar os responsáveis por trás do ocorrido com Seokjin.

Em contrapartida, Jungkook se preparava para encontrar Axel para solicitar as imagens de segurança da casa e, obviamente, entender algumas questões por trás dos encontros dele com Seokjin.

✮✮✮

Depois de Yoongi lhe passar a localização de Axel, Jungkook dirigiu até o local apontado no GPS. O céu acima de sua cabeça era de um preto límpido, com inúmeros pontilhados brilhantes.

Ele passou por trás de um carro estacionado e atravessou a rua. A mansão em que Axel morava ficava em uma rua sofisticada e silenciosa, cheia de arbustos e gramas.

Jungkook parou de frente para a residência do homem e tocou o interfone. Ele observou a região enquanto esperava, pacientemente, alguém atendê-lo. À distância, vislumbrou um beco estreito e escuro, acreditando que aquele era o lugar onde Seokjin sofreu a emboscada.

Naquele momento, Jungkook se perguntou porque Seokjin preferiu passar pelo beco em vez de vir pela estrada principal. Sua primeira suposição, no entanto, era de que Seokjin poderia estar evitando ser visto.

Diante disso, o segundo pensamento do detetive foi: por que Seokjin não queria ser visto visitando Axel? 

Quem está aí? — Uma voz masculina perguntou através do interfone, expulsando Jungkook dos próprios devaneios.

— Sou o diretor-assistente do FBI, Jeon Jungkook. Quero conversar com Axel Thompson em particular. 

Tem algum mandado?

— Por que eu precisaria de um mandado para ter uma simples conversa, Sr. Thompson? 

O homem ficou em silêncio pelos próximos cinco segundos, em seguida disse: 

Me espere, já estou indo. 

Minutos depois do interfone desligar, Jungkook ouviu um suave som, semelhante a um clique, e então a porta se abriu, revelando a imagem de Axel em suas roupas despojadas.

Ele tinha os cabelos meramente castanhos e as linhas de expressão em seu rosto eram quase imperceptíveis. 

— Boa noite, Sr. Thompson — O homem agitou a cabeça em cumprimento, parecendo, de alguma forma, impressionado com a presença de Jungkook. — Estou aqui para falar do Seokjin. Posso entrar? 

— Fique à vontade! — Ele deu espaço para que o detetive passasse.

O interior da casa cheirava a produtos de limpeza, embora muitos livros, garrafas de cerveja e objetos pessoais estivessem espalhados pela sala. Jungkook observou dois pratos com farelos de pão em cima de uma bancada, indicando que Axel não estava sozinho — ou não esteve. 

— Não ligue para a bagunça, senhor detetive. Hoje eu estou de folga.

— Folga? — repetiu, as sobrancelhas franzidas, e virou-se para encará-lo. 

— De atividades domésticas — acrescentou, andando até o meio da sala para recolher os pratos sujos. — Você disse que gostaria de falar sobre o Seokjin. Aconteceu alguma coisa?

— Não se perguntou por que ele ainda não apareceu?

Axel parou por um segundo, ainda segurando os pratos, e balançou a cabeça em afirmação.

— É claro que me perguntei, não é à toa que liguei para ele várias vezes. Pode conferir o histórico do meu celular se quiser. 

Ele deu as costas e levou os pratos até a pia, mas não demorou muito para retornar. Jungkook permaneceu imóvel no mesmo lugar, estudando-o em silêncio à medida que acompanhava seus passos.

— Aconteceu alguma coisa com o Seokjin? — Axel perguntou, sentando-se no canto do sofá. Ele indicou a poltrona à sua frente para o detetive sentar-se. 

— Ele foi encurralado por alguns homens quando estava vindo para sua casa — explicou. — Acredito que o senhor tenha câmeras do lado de fora, não é, Sr. Thompson? 

— Sim, detetive. 

— Eu gostaria de olhar as imagens.

— Claro. — Ele fez uma pausa, a expressão em seu rosto indicava preocupação. — Mas antes me diga como está o Seokjin.

— Ele está no hospital. — Axel esboçou surpresa. — Mas não se preocupe, ele não corre risco de vida.

— Quem fez isso com ele?

— É isso que estou tentando descobrir — respondeu. — Seokjin me enviou aqui porque acredita que você pode me ajudar a encontrar os responsáveis. — Ele fez uma pausa. — Você já trabalhou no FBI, não é?

Axel enviou-lhe um olhar de pura melancolia, como se o tópico da conversa, naquele momento, tivesse atingido-o. Jungkook o observou baixar a cabeça por alguns segundos antes de dizer: 

— Sim, já trabalhei e me arrependo. — Um músculo na sua mandíbula saltou. — A agência me trouxe muitas coisas boas, o Seokjin foi uma delas, mas também me trouxe momentos ruins.

— Eu imagino que não seja fácil falar sobre isso. — Os olhos de Axel assumiram um brilho diferente, algo parecido com tristeza, mas ele parecia tão acostumado a velar esse sentimento que não foi difícil escondê-lo. 

— Você já deve saber o que aconteceu comigo e o treinador Robert, estou certo, detetive? — Jungkook optou por manter-se em silêncio. — Eu fui colega do Steve também e me arrependo de não ter assegurado o que ele disse quando dedurou o Robert ao diretor da academia.

— A sua irmã sabe disso, Sr. Thompson? — Ele estava tentando se aprofundar nas perguntas sem intenção de parecer inconveniente.

— Scarlett? — gargalhou. — Nós nunca tivemos uma boa relação. Quando a bomba estourou, Scarlett foi para Nova York. Ela nunca me perguntou se a história era verdadeira ou não. 

— Ela não comentou nada com você nem o porquê de ter ido para Nova York?

— Uma vez eu a escutei falando ao telefone com o diretor da academia. Ela disse que os boatos tinham que ser enterrados imediatamente ou a academia perderia sua credibilidade.

— Você não suspeitou dela? 

Axel suspirou pela boca.

— Eu era só um garoto na época, detetive. Scarlett era mais velha do que eu e já tinha experiência no FBI. Nunca passou pela minha cabeça que ela poderia estar falando dos boatos envolvendo o Robert, afinal sempre existiram diversos boatos na base de treinamento.

Jungkook ficou tão surpreso com aquela revelação que não conseguiu verbalizar nada após a fala de Axel. Depois de tudo o que ouviu do ex-agente, ele concluiu que Scarlett provavelmente sabia dos abusos ocorridos no vestiário masculino e influenciou o diretor a esconder os boatos. 

Se a suposição de Jungkook estivesse certa, Scarlett podia ser condenada a muitos anos de prisão. O único problema é que ele não tinha provas contra a supervisora além do relato de Axel, que, por sinal, detestava a irmã e o seu antigo emprego.

Scarlett possui status e poder dentro da agência, enquanto Axel não passa de um ex-agente frustrado com o FBI. Juridicamente, ela tem mais capacidade de influência do que ele.

— Seokjin se aproximou de mim quando soube disso. — Axel falou, atraindo a atenção de Jungkook. — Ele me procurou várias vezes para prestar apoio, mesmo eu dizendo que já me sinto melhor. Não posso fingir que a morte do Robert não me deixou aliviado.

— Em quais horários o Seokjin costuma vir te ver? 

— No mesmo horário de sempre — respondeu. — Eu gosto de fazer alguns passeios durante o dia, então costumo voltar para casa depois do almoço. 

Jungkook gostaria de saber mais sobre o paradeiro de Scarlett e Axel, mas não podia desviar o foco da sua visita. 

— Pode me mostrar as imagens de segurança agora? 

— Sim, claro. Venha comigo! 

Axel ergueu-se do sofá na mesma hora que Jungkook. Eles avançaram pela sala e subiram por uma escada com degraus de madeira. O detetive observou um espelho enorme na parede onde podia ver, com nitidez, o próprio reflexo cansado.

Havia uma espécie de vitrine fixada na parede acomodando diversos tipos de armas como se fossem relíquias. Jungkook fixou os olhos nos números gravados na madeira da vitrine e leu: 

1963

Para Jungkook, o ano registrado pertencia ao pai de Axel, o que significava que as armas eram relíquias deixadas pelo homem. Eles seguiram para dentro de um cômodo espaçoso que brilhava num laranja luminoso. 

Uma estreita porta de metal estava logo depois da entrada. Axel levantou a mão e digitou um código numa caixa ao lado da porta, ouvindo-a destrancar instantaneamente. Ele deu espaço para que Jungkook passasse na frente.

Havia muitos monitores alinhados com câmeras diversas. Jungkook percebeu que uma delas apontava para o beco que Seokjin mencionou. 

— Por quanto tempo as imagens ficam gravadas? — O detetive perguntou.

— Um mês. 

— Quero que me dê as imagens dessa câmera nos últimos sete dias. — Ele apontou para o monitor que exibia o beco do outro lado da rua. 

— Isso pode levar algumas horas — pontuou Axel.

— Não tem problema, eu espero. 

Axel deu de ombros e sentou-se em uma cadeira expressiva, ficando de costas para o detetive. Jungkook cruzou os braços contra o peito enquanto o assistia fazer o procedimento de filtragem.

— Diga-me, detetive, o que exatamente fizeram com o Seokjin? — Axel perguntou ainda sem olhá-lo.

— Ele foi colocado, desacordado, no porta-malas do próprio carro com explosivos. — Axel não se virou para Jungkook, mas a ausência de palavras após a fala do detetive indicava que ele ficou chocado. — Já deve ter ouvido falar que o FBI sofreu alguns atentados recentemente. 

— Sim, esse assunto está dando o que falar na mídia. — Finalmente, ele girou a cadeira e ficou de frente para Jungkook. — Acha que os homens que atacaram o Seokjin são os mesmos que provocaram os atentados?

Jungkook elevou apenas um lado da sobrancelha, como se dissesse a Axel que o seu achismo não era da conta dele. O homem não se ofendeu, no entanto.

— Uma coisa que eu gostava muito quando trabalhava no FBI eram os interrogatórios — Axel comentou, sorrindo. — Eu me sentia no poder, no controle, como se ninguém soubesse mais que eu. Aposto que você também se sente assim, não é, detetive?

— Eu pareço assim? — Havia um pouco de escárnio em sua pergunta.

— Não o julgo por isso — ressaltou. — Quanto maior o cargo, maior a arrogância.

— Eu não sou a sua irmã, Sr. Thompson — ele disse, sorrindo, mas sem qualquer traço de humor. 

Axel estalou os dedos e riu como se Jungkook tivesse dito algo extraordinário. Claramente, ele detestava Scarlett. Jungkook tinha certeza que se chamasse-o para passar uma tarde falando mal da própria irmã, ele aceitaria sem pestanejar.

— Seokjin me contou que tem um filho — Axel disse e Jungkook teve certeza que havia uma insinuação por trás de sua fala. — Ele me contou a história de vocês. Isso daria um belo filme de romance policial. O que pensa disso, Jeon?

Jungkook apertou, discretamente, os ossos da mandíbula, sentindo-se incomodado ao saber que Seokjin compartilhava sua relação com Jimin com outras pessoas. É claro que o seu romance com uma vítima de um caso em aberto deu o que falar na época, mas ele não queria ser lembrado por isso. 

De repente, uma mensagem emergiu na tela do monitor, mostrando que a transferência de dados foi concluída. Axel recolheu o pendrive e entregou a Jungkook. 

— Até que não demorou muito — Comentou o homem com um tom divertido. — Isso é tudo?

— Sim — disse. — Eu volto a procurá-lo se for necessário. 

Axel balançou a cabeça e varreu os dedos pelos cabelos, a linha de sua boca ficou firme de repente. Naquele momento, Jungkook percebeu que ele queria lhe dizer algo.

— Está tudo bem, Sr. Thompson? — Jungkook encontrou seus olhos instantaneamente. — Quer me dizer alguma coisa?

Axel respirou pela boca, um som baixo e cansado. 

— Eu acho que a minha irmã ajudou a academia de treinamento a esconder os abusos — ele contou calmamente, seu tom de voz parecia guardar um punhado de segredos. — É por isso que ela foi para Nova York, para que ninguém soubesse do seu envolvimento. 

— Você tem provas disso? — Jungkook não estava duvidando do relato dele, mas se quisesse colocar Scarlett na cadeia ele precisaria reunir muitas provas.

— Não, infelizmente. Talvez seja esse o motivo de eu ter tanta raiva dela. Scarlett ganhou poderes dentro da agência rapidamente e nós sabemos que para evoluir de cargo precisamos nos destacar em campo. Ela nunca fez nada de grande destaque, então, eu lhe pergunto, como ela conseguiu tantos poderes lá dentro?

Após a revelação de Axel, Jungkook começou a ficar intrigado com o passado da sua supervisora. No entanto, diferente da outra vez, ele tinha de tomar cuidado para não comprometer o seu distintivo, visto que a mulher possuía o triplo de poderes que ele.

Se Jungkook quisesse descobrir algo sobre Scarlett, teria de recorrer às investigações extra oficiais, e mesmo assim corria o risco de ser descoberto. Querendo ou não, a possibilidade disso acontecer era tremendamente grande. 

— Pode investigá-la? — Axel perguntou, arrancando-o de seus pensamentos.

— Você é um ex-agente, sabe dos meios de investigação tanto quanto eu — Jungkook pontuou sem descartar a possibilidade de abrir uma investigação privada contra Scarlett.

— Eu deixei de ter esse privilégio quando pedi demissão. Tudo o que posso fazer agora é encontrar um detetive particular.

— Então contrate um. — Jungkook sorriu. — Tenha uma boa noite, Sr. Thompson. 

Obviamente, Jungkook não queria confessar para Axel que pretendia investigar Scarlett. Mesmo que o homem não tenha apresentado nenhum sinal suspeito, não deixava de ser uma pessoa que Jungkook acabara de conhecer.

Ele tomou essa decisão consciente de que as intenções de Axel eram uma incógnita, nem mesmo os seus relatos possuíam credibilidade, embora acreditasse que eram sinceros. 

Diante disso, Jungkook decidiu não entregar as suas cartas para, até então, um estranho.

— Se mudar de ideia, saiba que estou disposto a ajudá-lo. — As palavras de Axel fizeram Jungkook deduzir que ele já sabia das intenções do detetive. 

— Obrigado. 

Educadamente, o homem caminhou até a porta e abriu-a para o detetive. Jungkook gostaria de dizer a ele que Scarlett era sua supervisora, mas, em última análise, decidiu manter a informação para si.

Primeiro, ele iria ter certeza se o homem era digno da sua confiança.

✮✮✮

Jimin estava se sentindo exausto de tanto esperar. Havia se passado apenas algumas horas desde que Jungkook o levou até a base subterrânea, mas o garoto tinha a sensação que se passaram dias. 

A constante sensação ameaçadora do desconhecido não diminuiu, muito pelo contrário, ele se sentia ainda mais inseguro do que antes, especialmente por estar na ausência de Jungkook.

Quando soube que Seokjin estava no hospital, Jimin ficou tão preocupado que começou a sentir uma pequena agitação nauseante na barriga. Ele pediu a Ric para que o levasse a um lugar quieto e longe daquelas pessoas.

Estar perto de informações conflitantes envolvendo seu pai não parecia uma boa ideia, então Ric sugeriu um cômodo confortável, porém incomum, onde as paredes eram lisas e os aparatos pendurados, diferenciados.

Havia um conjunto de aparelhos disposto em simetria ao longo da parede que emitia uma luz verde. Por um momento, Jimin perguntou-se qual era a funcionalidade daqueles aparelhos inusuais. 

O menino ficou sentado no chão enquanto olhava para a minúscula luz verde, tentando decifrar o seu padrão. Suspirou pela boca e puxou os joelhos para cima, abraçando-os. Ele sentiu como se estivesse, novamente, em cativeiro.

Embora o lugar fosse diferente de um cativeiro comum, a sensação de aprisionamento era a mesma. Ele tentou dormir várias vezes na tentativa de não se prender ao tempo, mas falhou em todas elas.

De repente, ele viu uma sombra se aproximar da porta e seus olhos focaram instantaneamente nela. Todos os músculos de seu corpo ficaram tensos e suas mãos formigaram de suor, preparando-o para um possível perigo.

No entanto, esse sentimento se quebrou em mil pedaços quando ele reconheceu as características corporais da sombra, até mesmo a forma como ela se movia pelo corredor.

— Jungkook… — ele sussurrou para si mesmo e levantou-se do chão às pressas. 

Ele alcançou a porta ao mesmo tempo que Jungkook, abrindo um enorme sorriso ao ver que seu namorado estava de volta. Jimin se jogou nos braços do seu amado com tanta animação que quase o desequilibrou. 

Jungkook envolveu seus braços em torno da cintura do garoto, apertando-o contra o seu corpo de modo protetivo. Ele respirou o cheiro dos cabelos de Jimin como se fosse a primeira vez. Nada se comparava a sensação de ter o seu garoto em seus braços mais uma vez.

— Que saudade, anjo… — ele disse baixinho, abraçando-o ainda mais forte.

Jimin não conteve o sorriso. Ele recuou a cabeça para encarar o namorado e se surpreendeu ao vê-lo com um olhar melancólico. Ali, portanto, o garoto soube que Jungkook esteve pensando nele o tempo todo.

— Ainda bem que você está aqui — Jimin murmurou, fazendo sua mente viajar em retrospectiva para o momento em que Jungkook partiu. — Eu tive tanto medo de alguma coisa acontecer com você.

— Foi um dia difícil. — Ele respirou fundo, sentindo o corpo gritar de cansaço. — Falei com o Ric para comandar a equipe enquanto descanso. Não posso ir a campo desse jeito. 

— Você está certo, não pode trabalhar assim.

— Ele me disse que você pediu para sair da sala de operações — comentou. 

Jimin assentiu.

— Eu não queria ver nem ouvir nada sobre o meu pai porque estava com muito medo — respondeu. — Mas quando você ligou e disse que ele estava vivo, eu consegui me acalmar.

— Yoongi está com ele agora — informou.

— Ele está bem? 

— Bom… ele está tagarelando como nunca, então está, sim.

Um sorriso pequeno pairou nos lábios de Jimin, demonstrando o seu imenso alívio. Ele gostaria de visitar o pai, mas entendia os termos de segurança.

— Nós vamos ficar aqui esta noite? — Jimin perguntou, curioso, e então deslizou as mãos para os ombros dele. 

— Sim, meu bem. — Jimin segurou no rosto uma expressão tranquila, mas Jungkook pescou um vislumbre de preocupação em seus olhos. — Há quartos específicos para os agentes que trabalham aqui. Nós vamos dormir em um deles.

— Nós? — o garoto repetiu, parecendo gostar de ter ouvido a palavra "nós". 

— Eu não me atreveria a dormir sem você ao meu lado.

Jimin mordeu o lábio inferior para conter o sorriso. A forma como Jungkook conseguia melhorar o seu humor em níveis absurdos chegava a ser assustadora. Ele não precisava fazer nada além de estar presente.

Enquanto refletia sobre isso em seus pensamentos, Jimin sentiu os lábios do namorado selarem a sua testa e as mãos dele puxarem a sua para que o seguisse. Os olhos do garoto se atentaram no caminho que Jungkook fez até um quarto incomum.

Eles cruzaram alguns corredores com câmaras de proteção. Jungkook usou o cartão-chave e a senha digital em uma das portas que dava para uma passagem secreta. Jimin se surpreendeu quando viu, com seus próprios olhos, as paredes se moverem. 

O lugar possuía paredes à prova de som e não tinha móveis, exceto uma cama. No canto esquerdo ficava um duto de ventilação, mas o que mais chamou a atenção de Jimin foi uma caixa preta com um botão vermelho no centro que estava anexada ao lado da porta.

— Eu não sabia que existiam quartos em uma base secreta — Jimin comentou após adentrar o cômodo.

— Este lugar é enorme, anjo. Existem quartos, prisões, salas de operações e de treinamento e alguns compartimentos que só os superiores têm acesso.

Jimin ficou reflexivo sobre aquilo. Ele perguntou-se brevemente se havia criminosos enclausurados naquela base e quais os motivos de mantê-los presos naquele lugar em vez de uma prisão comum.

Seus pensamentos foram soprados para longe quando ele observou Jungkook retirar as armas do corpo. Primeiro, ele pegou a arma que estava no coldre, depois removeu a que estava no cós da calça, partindo, posteriormente, para a lâmina no tornozelo.

Após se despir das armas, Jungkook começou a tirar a camisa e os sapatos, ficando apenas de calça. Jimin segurou o olhar nos movimentos dele como se fosse incapaz de desviá-los. 

Por um momento, ele se repreendeu por sentir o corpo esquentar diante do que estava vendo. Embora soubesse que não podia controlar suas reações fisiológicas, Jimin não queria dar espaço para esse tipo de pensamento enquanto seu pai estava no hospital.

— Anjo — Jungkook o chamou, quebrando seu devaneio. 

O garoto o observou fazer um sinal com a cabeça, chamando-o para se deitar com ele. Sem relutar, Jimin arrastou os pés na direção do namorado e rolou sobre a cama, jogando um braço sobre a barriga de Jungkook.

— Será que o meu pai vai demorar a sair do hospital? — Jimin perguntou com os lábios encostados no peito de Jungkook. 

— Eu espero que não, meu bem.

— Ele sabe o que aconteceu comigo? 

Jungkook ficou em silêncio por um momento.

— Não contei que invadiram a casa dele, mas ele sabe que esses caras foram atrás de você. — Jimin suspirou baixinho. — A melhor coisa a se fazer agora é esperar o Seokjin ser liberado.

— Você acha que a casa dele não é mais segura para mim? — O menino levantou um pouco a cabeça para encará-lo. 

Ele sabia que estava fazendo muitas perguntas, mas não podia evitar o sentimento de apreensão.

— Talvez seja melhor você morar comigo por um tempo. — Os olhos do garoto brilharam, esperançosos. — Assim posso estar mais perto de você.

— Eu sempre me imaginei morando com você… — ele comentou e então interrompeu a própria fala, sendo invadido por uma avalanche de pensamentos. — Mas eu não quero que o meu pai fique chateado. Ele fez tanta questão que eu morasse com ele e agora, de repente, vou sair sem mais nem menos.

— Você não vai sair sem mais nem menos, tentaram te matar na sua própria casa. Querendo ou não, aquele lugar deixou de ser seguro para você.

Jimin fechou os olhos e deitou a cabeça no peito de Jungkook. No fundo, ele sabia que o namorado tinha razão: a casa de Seokjin não era mais segura para ele. Mesmo que voltasse para lá, o medo de tudo se repetir continuaria existindo.

— Tenho certeza que o Seokjin não ficará chateado porque ele sabe o que é melhor para você. — Jungkook acrescentou, acariciando os cabelos do menino de leve.

— Você me falou uma vez sobre o Programa de Proteção — Jimin pontuou, pensativo. — Como funciona isso?

— Eles transferem a vítima de território para garantir a proteção dela e recrutam mais de uma dúzia de policiais treinados para vigiá-la. Na maioria dos casos, a vítima retorna à sociedade em segurança.

— É como uma prisão?

— Não exatamente, funciona como um lugar de proteção, uma casa. Em vez de se sentir aprisionada, a vítima se sente livre. — Jimin parou para pensar sobre aquilo, imaginando como seria se ele estivesse dentro do programa. 

Ele teria que se mudar de estado — ou de país — e andar com uma dúzia de homens no seu encalço. No entanto, quando Jimin parou para pensar que seria Jungkook a pessoa responsável por recrutar seus seguranças, concluiu que não parecia uma má ideia.

Obviamente, o detetive escolheria a dedo quem iria cuidar do seu menino.

— A parte negativa desse Programa de Proteção é que eu ficaria longe de você — Jimin confessou sua frustração, suspirando.

— Não se eu for o seu segurança. — ligeiramente, o menino recuou a cabeça para encará-lo. 

— Isso é possível?

— Sim, eu posso ser recrutado, basta seguir todo protocolo e prescrever meu nome na documentação. — Jimin pareceu empolgado com a ideia. — O único problema é que esses documentos devem ser assinados pela minha supervisora. Ela é quem deve autorizar minha participação.

— E por que você não conversa com ela? 

Jungkook riu, mas sem um pingo de humor.

— É mais fácil convencer o diabo de que ele não tem chifres — respondeu.

A expressão de Jimin, subitamente, entristeceu.

— Eu odeio essa mulher e nem a conheço. — O garoto resmungou, arrancando uma risadinha de Jungkook.

— Vamos esquecer essa mulher e focar no que importa. — Ele tocou o rosto de Jimin gentilmente, acariciando-o. — Que tal treinarmos um pouco? 

— Agora?!

— É um bom momento para isso, não? 

Jimin estava certo de que podia ver um brilho sugestivo nos olhos de Jungkook. Ele gostaria de começar os treinamentos o quanto antes, mas não podia exigir que o namorado o fizesse neste momento.

Jungkook estava visivelmente cansado, o que era incomum de se ver, e mesmo assim queria cumprir com a promessa que fez ao garoto. Portanto, Jimin decidiu reforçar a necessidade dele descansar.

— Podemos começar os treinamentos quando você não estiver cansado. — Jungkook sorriu para as suas palavras, honestamente encantado.

— Tem certeza disso, anjo? 

Jimin murmurou em confirmação, então Jungkook correu as mãos pelas costas dele suavemente e o abraçou mais forte, como se o agradecesse pela preocupação. 

Os olhos de Jimin se fecharam diante do toque do namorado. Ele se lembrava de estar deitado com Jungkook pela primeira vez quando, na época, ele ainda era o seu detetive. Lembrava-se da sensação perigosa de estar se envolvendo com um agente do FBI em segredo.

Por mais que tivesse medo, também sentia fascínio. Os encontros secretos, os toques ilegais, as palavras não ditas, tudo fazia parte de um sentimento compartilhado e, deliciosamente, proibido.

— Ric cuidou de você? — A pergunta de Jungkook varreu seus pensamentos para longe.

— Ele ficou ocupado a maior parte do tempo, eu não quis atrapalhá-lo.

— Pensei que você ia dizer que apenas eu posso cuidar de você. — Ele forçou uma voz dramática, fingindo estar magoado.

Jimin riu. 

— Você sabe que é único, gatinho. — Ele virou a cabeça para o detetive, roubando um rápido beijo dele. — Ninguém chega aos seus pés.

— Melhor não dizer isso na frente do Seokjin — brincou, fazendo o menino rir baixinho.

— Vocês se amam tanto...

— Sim, claro, como Tom e Jerry. — Jimin riu mais alto e, em seguida, o silêncio caiu sobre eles.

Ele voltou a deitar a cabeça no peito de Jungkook, sentindo o calor dele e o cheiro de sua pele perfumada. O garoto amava estar envolvido nos braços do detetive. Além de ser um lugar de conforto, também era um lugar de segurança.

E eles ficaram assim pelos próximos vinte minutos: se acariciando, se acolhendo e se amando através do toque. Jimin podia sentir o ar quente da respiração de Jungkook soprando os fios de seu cabelo.

Quando os dedos do detetive pararam de acariciá-lo, Jimin soube que o seu amado adormeceu. Ele virou a cabeça para observá-lo e sorriu. Jimin ficou admirando-o por um longo tempo até se inclinar mais perto e beijá-lo na boca; um beijo suave para não acordá-lo.

Jungkook sempre era o último a dormir quando ele e Jimin passavam a noite juntos. Mas, desta vez, as posições mudaram e obviamente o garoto sabia que se dava ao fato de Jungkook estar trabalhando ininterruptamente.

Jimin sentiu a garganta seca quando engoliu a saliva e o estômago roncar de fome, então decidiu levantar-se para pegar um pouco de café. Ele não comia nada desde o café da manhã, seu corpo estava começando a tremer de fome. 

Muito devagar, ele tirou o braço de Jungkook de baixo de seu pescoço e sentou-se na cama lentamente, evitando fazer qualquer movimento que pudesse acordá-lo.

Ele andou na pontinha dos pés até alcançar a porta, puxando-a devagar para não fazer barulho, mas, mesmo assim, o metal rangeu no concreto. Jimin olhou para Jungkook rapidamente para se certificar se ele continuava dormindo e suspirou, aliviado, quando percebeu que sim.

Após sair do cômodo, Jimin olhou para a imensidão do corredor e tentou se recordar do caminho que fizera até o quarto. Ele se lembrava de ter passado por um emaranhado de corredores e uma passagem secreta, só tinha esquecido um detalhe: Jungkook usou o cartão-chave para transitar pelas passagens.

Como Jimin não tinha o cartão de acesso, sua única alternativa era recorrer à sorte. Ele pensou em voltar para o quarto e esquecer o café, mas seu estômago já estava começando a dar sinais de fome.

Naquele lugar, Ric era a única pessoa que poderia ajudá-lo a resolver esse problema. Então, se Jimin conseguisse falar com o agente, não precisaria perturbar Jungkook para pedir o cartão de acesso. 

Ele caminhou próximo à parede para não ser visto, mesmo sabendo que, provavelmente, tinham câmeras naquele setor. A escuridão ao longo do corredor era espessa e quase não dava para enxergar o chão sob seus pés. 

A cada poucos metros, ele se aproximava de um ponto de luz minúsculo, consciente de que ali ficava uma sala de armamentos. De repente, Jimin ouviu vozes, mas ele estava longe demais para entender o que diziam.

No momento em que ele beirou a câmara de armamentos, pôde ouvir as vozes mais altas e audíveis.

… e você sabe que não temos muito tempo — uma mulher disse através de um murmúrio. 

Jimin, imediatamente, reconheceu aquela voz: Layla. Por um momento, perguntou-se o que ela estava fazendo na base. Curioso, escondeu-se para não ser visto e começou a escutar a conversa, mesmo que soasse errado. 

Você não devia estar aqui — Ric respondeu com o tom de voz baixo, como se estivesse sussurrando. — Jungkook acabou de voltar de uma operação, ele está descansando agora.

Não podemos demorar mais.

Jimin colocou a cabeça entre uma pequena fresta para observá-los. Layla estava virada de frente para o lugar onde o garoto se escondia. Ela parecia muito apreensiva, até mesmo a sua respiração estava irregular.

Layla — Ric segurou o braço dela com delicadeza. — Me conte exatamente o que aconteceu.

Ela puxou o ar pelo nariz e olhou ao redor para se certificar de que estavam a sós. Jimin se camuflou na sombra e, instintivamente, sua audição ficou mais aguçada. Ele já tinha feito isso uma vez quando espionou a conversa de Namjoon e Rose.

Alguém invadiu a sala do Jungkook e revirou tudo. Eu não sei o que essa pessoa estava procurando, mas acho que encontrou. — os olhos de Jimin ficaram arregalados após ouvir o que Layla disse. — Todos os relatórios envolvendo o Zakon foram roubados. Tudo sobre eles desapareceu e as coisas que restaram foram queimadas.

Queimadas? — Ric repetiu, chocado, e então tocou o rosto de Layla com ambas mãos. — Você se machucou? 

Eu estou bem — ela conseguiu dizer com um pouco de dificuldade. — O fogo foi contido, mas as provas contra o Zakon desapareceram.

O garoto franziu a testa ao ouvir aquela palavra, desconhecendo-a. No entanto, ele suspeitou que tinha ligação com a organização criminosa que estava sendo investigada pelo FBI. 

Jimin ficou tão chocado que não conseguiu sair do lugar. Antes que pudesse refletir sobre a revelação de Layla, seus olhos avistaram as mãos da mulher viajando em direção ao pescoço de Ric e os lábios dela indo de encontro aos dele antes de abraçá-lo. 

Por algum motivo, Jimin sentiu-se aliviado por vê-los juntos. 

O que aconteceu com as câmeras? — Ric perguntou depois de se afastar dela. — A sala do Jungkook só abre com o cartão de acesso dele. Como essa pessoa conseguiu entrar?

As câmeras foram misteriosamente desativadas nesse período. — Ric parecia incrédulo. — Jared chamou os superiores da Corregedoria e todas as passagens foram isoladas para que ninguém saísse sem ser sondado.

Como você conseguiu sair? — Jimin perguntou-se a mesma coisa no pensamento. 

Jared me enviou para falar com o Jungkook. — ela suspirou. — Todas as provas sobre o Zakon que tínhamos até então não existem mais. Qual a probabilidade de quem fez isso ainda estar no prédio?

O Jungkook vai pirar — Ric esfregou a testa, igualmente apreensivo.

É por isso que nós temos que avisá-lo. A pessoa que invadiu a sala dele estava atrás de algo que o Jungkook guardava. Ele é o único que sabe o que pode ter sumido.

Você mesma falou que eles roubaram os relatórios. — pontuou.

Sabemos que os relatórios possuem cópias, eles não iriam querer apenas isso. — Ric ficou pensativo por um momento. — Vá chamá-lo, ele tem que saber o quanto antes.

Podemos resolver isso sem ele — Layla apertou as sobrancelhas, parecendo contrária àquela ideia. — Você não faz ideia do quão exausto ele está. Temos que deixá-lo descansar por algumas horas pelo menos.

E o que vamos fazer?

Se essa pessoa conseguiu entrar na sala do Jungkook, ela pode ter uma cópia do cartão-chave dele ou ter acesso às biometrias do sistema. 

Central de comando — Layla disse de repente. — Ela teve acesso à sala de controle. A sala restrita é o único lugar onde as câmeras do prédio podem ser monitoradas e controladas.

Vamos descobrir quem passou pela sala de controle nas últimas horas e olhar o histórico de frequência. — o coração de Jimin começou a acelerar com aquele diálogo. — Todos que entram na central fazem check-in e check-out.

Tenho a sensação de que foram mais de uma pessoa. — Layla opinou. — Quem consegue desligar as câmeras, ir até a sala do diretor, revirar todas as coisas e atear fogo sem ser visto? A pessoa que fez isso também tem acesso à sala do Jungkook, por isso ninguém desconfiou. 

Só existe uma pessoa na nossa central que tem acesso a todas as salas da agência… 

Os olhos de Layla deram um fraco solavanco, como se os pensamentos de Ric tivessem penetrado os dela. Jimin, em contrapartida, não fazia ideia de quem eles estavam desconfiando. 

Jared

Quando Layla verbalizou aquele nome, Jimin sentiu um pequeno choque zunir através de seu corpo. É claro, pensou o garoto, Jared é um membro dos superiores e possui mais poderes que Jungkook. Obviamente, ele tem autoridade para transitar pelos escritórios da Central.

Se Jared estivesse por trás do ocorrido, pensou o garoto, Jungkook, definitivamente, saberia. Naquele momento, Jimin cogitou voltar para o quarto e contar ao namorado o que ouviu, mas antes iria esperá-lo acordar.

Se algo desse nível estava acontecendo dentro dos muros da Central, tanto Jungkook quanto o restante da sua equipe não estavam seguros naquele lugar, nem mesmo para fazer o básico do seu trabalho: investigar.

✮✮✮

Olá, meus amores, como vocês estão? Dessa vez a atualização foi rápida, espero poder atualizar mais depressa os próximos capítulos, vai depender muito da minha rotina.

Quero saber o que vocês acharam do capítulo e se têm uma teoria em mente... eu dei algumas pistas ao longo do cap e agora quero saber de vocês.

Outra coisa, eu fico muito feliz quando vocês votam e comentam, isso me motiva bastante a continuar a história. Não esqueçam do votinho, ok? <3

Eu amo vocês, fiquem bem!!

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