twenty eight᠉

Após Nathan ter salvo a sua vida, Jungkook não soube dizer se deveria agradecê-lo ou interrogá-lo. Ele ainda estava com a adrenalina à flor da pele, apesar de sentir a respiração se regulando aos poucos.

— O que está fazendo aqui? — foi a primeira coisa que Jungkook perguntou.

— Eu estou em uma missão — sua resposta arrancou vincos da testa do detetive. — Posso ver que você também.

— Que tipo de missão?

— O Serviço Secreto reabriu o caso do Zakon após os ataques sofridos pelo FBI — ele fez uma pequena pausa. — Nós rastreamos alguns membros da facção e aqui estou eu.

— Vocês não têm mais a jurisdição do caso — pontuou.

— O caso era nosso antes de vocês serem atacados, ele só estava arquivado — respondeu. — Isso não quer dizer que você não possa pedir uma cooperação conjunta com o nosso departamento. Podemos trabalhar juntos nesse caso.

— Não estou certo de que vai funcionar. — Ele olhou ao redor da mata, certificando-se de que não havia mais capangas escondidos.

Nathan deu um sorriso pequeno e aproximou-se do detetive.

— Tenho a impressão que esta missão não foi autorizada pelos seus superiores. — Jungkook o encarou seriamente, mas não lhe deu nenhuma resposta. — Fique tranquilo, eu sei guardar um segredo.

— Obrigado por me salvar, Nathan — ele desconversou. — Não sei se foi sorte ou muita coincidência te achar aqui.
Nathan sorriu.

— Você é sempre tão desconfiado? — Jungkook deu de ombros, encontrando mais uma razão para deixá-lo no escuro.

Ele nunca tinha parado para pensar se a sua desconfiança era fruto de um árduo treinamento profissional ou uma consequência emocional do seu passado. De qualquer forma, Jungkook estava mais preocupado em pôr um fim na missão a conseguir respostas para o seu comportamento.

— Você está de carro? — Nathan perguntou, indo em direção à estrada.

Jungkook ouviu alguns sons de pegadas ecoarem à distância e isso o fez segurar o braço do rapaz no momento em que ele passou ao seu lado. Nathan o encarou, confuso, mas não conseguiu construir um pensamento, pois o detetive o arrastou para o meio da mata.

— Capangas? — Nathan perguntou através de um sussurro e Jungkook confirmou com um aceno.

— Você não matou todos eles. — Sua observação não soou como uma advertência.

— Da próxima vez eu faço o serviço direito.

Jungkook acabou sorrindo, apesar da seriedade do assunto. Ele apontou para um pequeno acervo de pedras, fazendo Nathan girar os calcanhares naquela direção. O rapaz correu e deitou sobre as folhas, camuflando-se nas sombras.

O detetive, em contrapartida, agachou-se atrás de uma árvore robusta enquanto ouvia os passos frenéticos se aproximarem. Ele tentou calcular na cabeça quantos capangas eram, mas não conseguiu chegar a um resultado exato.

Ele levantou a mão no ar para chamar Nathan e conseguir sua atenção. O rapaz olhou na sua direção e observou-o fazer um gesto com os dedos, pedindo-lhe para verificar, daquele ângulo, quantos homens ele estava vendo.

Um minuto depois, Nathan apoiou o rifle na sua frente e olhou através da luneta óptica, tentando identificar quem eram seus adversários. Após uma longa observação, ele olhou para Jungkook e mostrou-lhe sete dedos.

O detetive manteve a arma firme nas mãos, como se esperasse o momento certo para atacar. Ele ficou parado por mais dez segundos até ouvir alguns detritos próximos de si, sendo esmagados, o que, obviamente, indicava que um dos capangas estava muito perto.

Ele saiu do esconderijo e atirou bem no rosto do marmanjo, fazendo-o desabar sobre os ramos caídos como um saco de batata. Jungkook voltou a se esconder atrás da árvore, consciente que a sua ação chamou a atenção dos outros, pois, de repente, eles começaram a gritar alguma coisa e a correr.

Sabendo que estava sendo cercado, Jungkook correu para se esconder atrás de uma rocha grande, ouvindo vários disparos zunindo às suas costas. Ele saltou para trás da pedra bem a tempo de evitar que os projéteis atingissem-no.

Ele ouviu os pedaços de detritos sendo brutalmente alvejados. Nathan, concentrado atrás do seu rifle, calculou a direção do vento e começou a disparar contra os capangas que foram atrás de Jungkook.

Com a ajuda de Nathan, o detetive também começou a disparar contra os mercenários, apreciando o som das balas atravessando a carne deles. Quando Jungkook parou para recarregar a arma, foi surpreendido por um par de mãos em sua jaqueta.

Ele foi arremessado para o chão, sentindo algumas pequenas pedras afiadas contra as costas. O capanga deu um soco em seu maxilar, arrancando sangue da sua boca, mas Jungkook reverteu a situação rolando sobre ele.

Com a mão fechada, o detetive desferiu um golpe no rosto do sujeito, deixando-o impressionado com a sua força. Antes que Jungkook pudesse atacá-lo de novo, o mercenário acertou um tiro na sua perna. Ele grunhiu de dor e rolou para longe enquanto sentia o ferimento queimar.

O marmanjo ergueu-se do chão aos tropeços à medida que limpava o sangue do nariz. Ele olhou para Jungkook com uma mistura de ódio e aversão, e antes que pudesse matá-lo, um projétil emergiu velozmente na cabeça do capanga, fazendo-o desabar no chão.

Jungkook suspirou, aliviado, e olhou na direção de Nathan, observando-o com o rifle apontado para o capanga que acabara de matar. Depois de se certificar que todos os mercenários foram mortos, o rapaz desceu o acervo às pressas para socorrer o detetive.

Ele pendurou o rifle no ombro e agachou-se próximo de Jungkook, rasgando um pedaço de tecido para fazer o estancamento. Jungkook espremeu os dentes quando sentiu-o apertar o ferimento.

— Você precisa ir ao hospital.— disse Nathan enquanto fazia um nó com o tecido.

— Nada de hospitais. — Conseguiu falar meio travado e com um pouco de dificuldade. — Não posso deixar registrado o meu nome. Essa missão é secreta.

— Sinto muito, detetive, mas você tem que tirar essa bala ou o ferimento pode infeccionar. — O olhar que Jungkook deu a ele lhe disse que não queria ter de repetir. — Tudo bem, então vou te levar para minha casa. Lá eu posso tirar a bala e fazer um curativo.

Jungkook pensou em tirar o projétil por conta própria apenas para não ter de ir para a casa de Nathan, mas lembrou-se que não tinha os equipamentos em mãos. Ele não via o rapaz como uma ameaça, no entanto.

— Temos que sair daqui antes que mais homens apareçam — Nathan disse. — A essa altura eles já devem saber que estamos aqui. Venha comigo!

Antes que Jungkook pudesse formular uma resposta, Nathan o ergueu do chão com cuidado, apoiando o braço dele em torno de seu pescoço. O detetive se esforçou para andar sobre os cascalhos e o chão desigual, tentando não sobrepor o peso do corpo na perna machucada.

— Podemos ir no seu carro? — Nathan perguntou, olhando para todos os lados para ter certeza que eles estavam a sós.

— Onde está o seu?

— Eu o deixei escondido em uma rua — respondeu. — Além do mais, você não vai conseguir dirigir desse jeito.

Jungkook levou a mão até o ouvido, mas não sentiu o ponto de escuta. Ele chegou à conclusão que o dispositivo caiu durante o seu combate físico com o capanga. Não tinha como ele pedir ajuda a Caleb, exceto por uma ligação.

No entanto, Jungkook não queria trazer o nome do hacker na presença de Nathan. Apesar de não vê-lo como uma ameaça, o detetive queria preservar a identidade de Caleb e manter as suas investigações extra oficiais em sigilo.

— Aquele é o seu carro? — Jungkook afastou os pensamentos quando escutou a voz de Nathan.

— Sim.

O rapaz o carregou até o veículo estacionado em um canto recôndito, disfarçado pela escuridão da noite e pelas sombras dos ramos mais altos. Jungkook pegou o controle e entregou nas mãos de Nathan, deixando-o assumir o manuseio do carro.

Com cuidado, Nathan abriu a porta e ajudou Jungkook a se acomodar no banco, colocando, inclusive, o cinto de segurança nele. Pela expressão no rosto do detetive no momento em que Nathan bateu a porta, era óbvio que ele estava sentindo dor.

— Você não está em uma missão, agente Hayes? — Jungkook perguntou assim que ele entrou no carro.

Nathan sorriu.

— A missão pode esperar, detetive — ele disse. — Assim que eu chegar em casa, falo com o Metias.

— As operações do Serviço Secreto são, de fato, secretas? — sua pergunta arrancou um sorriso ainda maior dos lábios de Nathan. — Não é comum um agente ir a campo sem se comunicar com sua equipe.

— As nossas operações não são como as do FBI, detetive. — Jungkook fez um pequeno gesto de tanto faz. — Agora, vamos cuidar do seu ferimento.

Nem um segundo a mais, Nathan girou a chave na ignição e deslocou o carro para fora da mata. Ele olhou os retrovisores para conferir as estradas antes de afundar o pé no acelerador.

O carro, de repente, foi tomado por um silêncio espesso. Jungkook pensou em perguntar a Nathan se o departamento dele conseguiu mais materiais sobre o Zakon, mas ele não quis parecer que estava aceitando a ajuda do rapaz apenas para colher informações.

Em vez disso, ele perguntou:

— Há quanto tempo você conhece a Layla?

— Trabalhamos juntos por um tempo — ele respondeu sem tirar os olhos da estrada. — Nos conhecemos na academia de treinamento e entramos juntos na equipe.

— Vocês parecem ser grandes amigos — ele observou especulativamente.

— Sim, somos — sorriu — Mas desde que a Layla trocou de departamento, nós ficamos afastados devido ao trabalho.

— Entendo.

Ele fez uma pausa, sentindo o ferimento à bala arder como uma fornalha. Seus olhos caíram sobre o curativo improvisado e avistaram uma grande quantidade de sangue sobrepondo o tecido.

Jungkook resmungou um xingamento nos pensamentos e colocou a mão sobre o machucado, pressionando-o para conter o derramamento. Nathan olhou para o detetive, preocupado, e acelerou o carro quando percebeu que a bandagem que ele arranjou não duraria muito.

— Você se mete muito em encrenca, Jeon. — ele brincou, tentando trazer o foco dele para qualquer coisa que não fosse o ferimento. — Acho que temos isso em comum. Layla costuma dizer que a encrenca me procura quando estou entediado.

— A encrenca, nesse caso, seria eu?

Nathan riu.

— Eu não diria isso.

Depois de dirigir por alguns minutos, o agente Hayes adentrou uma rua silenciosa e pouco movimentada, indo em direção a um apartamento no final da rua. Ele parou o carro de frente para a portaria e realizou a identificação, sendo autorizado a entrar instantes depois.

Após encontrar uma vaga no estacionamento, Nathan abandonou o veículo e correu para ajudar Jungkook a descer do carro, segurando-o pelo braço. O detetive gemeu quando a perna machucada fez um pequeno movimento brusco, fazendo-o quase tropeçar nos próprios pés.

Nathan o conduziu até o elevador. Jungkook prendeu a respiração por alguns segundos, certo de que essa técnica poderia ajudá-lo a resistir à agonia da contusão. Quando o elevador parou, ele agradeceu mentalmente.

Jungkook estava inquieto para resolver esse problema antes que as coisas saíssem do controle. Ele estava certo que a qualquer momento o FBI saberia sobre a sua visita à Rose e, obviamente, o faria muitos questionamentos.

No entanto, suas mãos estavam atadas até ele remover o projétil, pois não podia ir a campo com a perna baleada. Jungkook planejava retornar para o galpão de Caleb ainda esta noite não para prosseguir com as investigações, mas para reencontrar Jimin.

Ele estava com tanta saudade do seu garoto que seu peito doía.

— Por aqui. — Nathan disse, indicando um corredor à frente.

Jungkook podia ouvir o assoalho rangendo sob seus pés à medida que caminhava. Ele se flagrou olhando para uma porta com fechadura especial e rapidamente supôs que pertencia ao apartamento de Nathan.

Como previsto, o agente Hayes parou de frente para a porta de tranca especial, digitou um código e apresentou o reconhecimento da retina, ouvindo o estalo das dobradiças quando a porta deslizou aberta.

Jungkook dirigiu-se até o sofá com a assistência de Nathan, que se apressou na direção de uma mobília com gavetas. Ele pesquisou o kit de primeiros socorros às pressas, esterilizando as mãos antes de retornar para perto do detetive.

— Você sabe como fazer isso? — Jungkook perguntou, mas ele não parecia com medo ou qualquer coisa do tipo.

— Relaxe, Jeon.

— Não respondeu a minha pergunta. — observou.

Ele assistiu Nathan abrir o recipiente transparente com todos os materiais básicos de primeiros socorros e calçar as luvas descartáveis. Ele removeu a bandagem do ferimento, deixando-o exposto, e pegou uma tesoura para cortar as calças de Jungkook.

Após limpar a região com algodão, Nathan vasculhou o recipiente à procura de uma pinça cirúrgica. Jungkook queria reforçar a pergunta, mas desistiu quando percebeu que o rapaz estava concentrado demais.

Com muita cautela, Nathan enfiou a pinça no buraco e começou a remexer em busca do projétil. Jungkook rangeu. Ele afundou os dedos no sofá e apertou os dentes com muita força, tentando transferir a dor para outra região do corpo.

— Não se mexa muito. — Nathan alertou.

— Essa porra dói! — disse entredentes.

— Continue assim, você está indo bem.

Jungkook desejou não ter corrido para a maldita floresta. Se ele tivesse despistado os capangas de outra forma, talvez não estivesse com a perna sangrando. Para a sua sorte, a bala não atingiu uma artéria.

No momento em que Nathan fisgou o projétil e puxou, um xingamento saltou da garganta de Jungkook. Ele apertou os lábios quando o agente Hayes começou a costurar o buraco.

A dor era insuportável, concluiu o detetive, mas seria muito pior se o projétil continuasse dentro da carne. Ele tentou focar em qualquer coisa que não fosse a sua perna sendo costurada.
Jungkook perguntou-se, por um momento, o que estava se passando na cabeça de Jimin após vê-lo fugir de uma emboscada e, em seguida, perder a comunicação com Caleb.

Seu melhor palpite era que Jimin estava desesperado como em todas as vezes que ficou quando Jungkook correu perigo.

Decidiu-se, por fim, ligar para Jimin para avisá-lo que estava bem. Mas só poderia falar com seu namorado quando não estivesse mais na casa de Nathan; gostaria de contá-lo sobre o que aconteceu e esses detalhes não cabiam ao agente Hayes.

— Terminei. — disse Nathan, fazendo uma pausa intencionada. Jungkook olhou para o ferimento coberto por um curativo. — Você quer tomar um banho e trocar de roupas?

— Não, obrigado. — ele ergueu-se do sofá, sentindo uma intensa dor por baixo do curativo.

— Espere aí… onde você vai? — perguntou Nathan, colocando-se de pé. — Você acabou de ser baleado, não pode sair desse jeito.

— Eu tenho algumas coisas para resolver, não posso ficar aqui.

— Essas coisas não podem esperar? — Jungkook olhou para ele como se dissesse que essa opção não estava em jogo. Nathan suspirou. — Pelo menos eu posso te dar uma carona?

— Talvez agora seja uma boa hora para dizer que tenho namorado. — Nathan hesitou por um instante, parecendo ter sido pego em flagrante.

— Maneiro — ele disse meio nervoso. — Eu não falei isso com essa intenção se quer saber…

— Eu já saquei os seus olhares, agente Hayes. — respondeu. — Obrigado por salvar a minha pele. Fico te devendo essa.

Quando Jungkook ameaçou virar-se na direção da saída, Nathan agiu mais depressa e segurou seu braço. O olhar que o detetive lançou para o seu gesto fez alguns arrepios dançarem na sua espinha.

— Me desculpe se passei essa impressão. — ele disse com o rosto meio vermelho. — Layla me disse que você namora. Eu não tenho intenção de prejudicar seu relacionamento, mas não posso negar que me senti atraído por você desde que te vi.

Jungkook continuou o encarando, não vendo razão para argumentar a confissão dele. Nathan estava atraído por ele. Ponto. O detetive não podia fazer nada a respeito disso, apenas não corresponder a essa atração.

— Eu não vou mais tocar nesse assunto — ele assegurou quando Jungkook não disse nada.

O detetive assentiu bruscamente.

— Eu espero que não.

Embora tenha soado sério, Jungkook não quis parecer rude, só esperava que Nathan não voltasse a mencionar o seu relacionamento, que, diga-se de passagem, não era da conta de ninguém.

— Eu te acompanho até o estacionamento. — Nathan se ofereceu.

Jungkook recusou a oferta dele com um suave aceno de cabeça.

— Não precisa se preocupar, você já fez demais por mim.

— Desista, detetive, você não vai me convencer do contrário. — Jungkook sorriu, mas logo seu sorriso foi substituído por uma breve careta de contração. — Ainda está doendo muito, não é?

— Bastante.

— Fique mais um pouco, eu posso preparar um chá quente — ele estudou o rosto do detetive, desejando que sua oferta fosse aceita. — Você vai se sentir melhor se repousar.

— Não tenho tempo para um repouso.

— Está com medo do seu namorado ficar chateado por você estar na casa de outro cara? — ele realmente parecia em dúvida. — Ligue para ele e diga o que aconteceu.

Jungkook pensou por um segundo no convite dele, não por estar interessado, mas por recear que outros capangas emergissem e o atacassem. E estando ferido, obviamente, ele não teria chances.

No entanto, ficar na casa de Nathan até se sentir bem o bastante para dirigir não era uma opção para Jungkook. Em vez disso, ele decidiu que ligaria para alguém da sua equipe ir buscá-lo.

— Obrigado pela preocupação, Nathan, mas eu tenho que ir agora. — o rapaz ergueu as mãos ao nível dos ombros, dizendo a Jungkook que não iria mais insistir. — Mais uma vez, obrigado por salvar a minha pele. Acho que agora você pode ligar para o seu chefe e contar o que houve, ele deve estar atrás de explicações.

— Eu vou falar com o Metias. — assegurou. — Ele deve estar se perguntando o motivo de eu ter deixado meu carro na missão.

— Isso vai te prejudicar?

Nathan sacudiu a cabeça para os lados em sinal de negação.

— Vou pedir para ele buscar o carro. — fez uma rápida pausa. — Meu convite ainda está de pé caso você mude de ideia.

— Valeu.

Jungkook não estava, de fato, agradecendo-o pelo convite, só queria encerrar de vez aquele assunto e retornar para o galpão de Caleb. Ele parecia dispensar qualquer investida com muita facilidade.

Ele sabia que a qualquer momento o FBI ligaria para perguntá-lo sobre a sua visita à Rose e o massacre ocorrido no presídio. Jungkook queria ganhar tempo para pensar em um argumento convincente, apesar de supor que nada do que dissesse iria induzir Jared a decidir algo a seu favor.

A atitude de Jungkook, certamente impensada, poderia prejudicar o andamento do caso ou até mesmo afastá-lo do departamento por tempo indeterminado, visto que ele agiu sem a aprovação dos superiores.

Jungkook estava ciente que seus métodos investigativos estavam indo contra as leis do departamento e isso poderia arruinar sua carreira futuramente.

No entanto, mesmo que tentasse tirar os pés da lama a essa altura do campeonato, as chances de investigar o Zakon de forma limpa, sabendo que havia infiltrados no FBI, eram mínimas.

Depois de refletir em silêncio, Jungkook tomou consciência do tempo e cambaleou até a saída, apoiando-se nos móveis para se equilibrar. Nathan se ofereceu mais uma vez para acompanhá-lo até o estacionamento, embora desejasse levá-lo para casa.

Quando pararam de frente para o elevador, os olhos de Nathan se ergueram para Jungkook, não com interesse ou curiosidade, mas com um perceptível remorso.

— Por que está me olhando desse jeito? — a pergunta de Jungkook o pegou desprevenido, pois ele estava de costas para Nathan e, mesmo assim, sentiu o peso de seu olhar.

— É um pouco difícil não te olhar.

— O que conversamos sobre isso?

— Tem algo de errado em olhar para você? — perguntou.

Houve um minuto de silêncio.

No momento seguinte, as portas do elevador se abriram e Jungkook avançou silenciosamente, fazendo um ligeiro movimento com as mãos quando Nathan fez menção de entrar no elevador.

— Não precisa vir comigo, eu sei o caminho.

Ele apertou o botão do estacionamento, não dando espaço para que o agente Hayes respondesse. A porta deslizou para o lado e a imagem de Nathan, com a expressão surpresa, começou a sumir aos poucos.

✮✮✮

Jungkook demorou mais tempo na estrada do que normalmente demoraria e isso só aconteceu devido a dor pungente que estava sentindo na perna. Ele lutou contra isso a maior parte do tempo até chegar ao galpão de Caleb.

Ao adentrar o lugar, ele ouviu o som agudo de vozes ressoando à distância, sabendo que uma delas pertencia a Jimin. A julgar pela entonação do garoto, ele presumiu que Jimin estava preocupado com o seu sumiço.

Jungkook pensou que, após ter perdido a comunicação com o Caleb, ele usaria outros métodos para localizá-lo, principalmente depois de descobrir que os membros do Zakon estavam atrás dele, no entanto, isso não ocorreu.

Ele cambaleou até alcançar a sala de Caleb, fazendo dois pares de olhos correrem na sua direção. Pela reação de Jimin, o detetive supôs que ele não esperava vê-lo de repente. Caleb, em contrapartida, pareceu surpreso, mas aliviado.

Quando os olhos de Jimin caíram sobre o curativo na perna de Jungkook, seu cérebro enviou uma mensagem de alerta e, naquele momento, ele não pensou em nada além de correr na direção do detetive e abraçá-lo.

— Pensamos que eles tivessem pegado você! — Jimin disse contra o tecido da roupa dele e recuou a cabeça para encará-lo. — Você está bem? O que aconteceu com sua perna?

— Eles me encurralaram na mata, eu acabei levando um tiro na perna. — os olhos de Jimin se encheram de preocupação.

— Tentei interceptar a sua localização, mas alguma coisa estava me bloqueando. — Caleb informou. — O que aconteceu com a escuta?

— Ela caiu na terra quando eu fui atacado. — ele cambaleou até a cadeira mais próxima e sentou-se. Jimin fez menção de ajudá-lo, mas não foi necessário. — Conversei com a Rose, mas não prolonguei o assunto porque ela estava grampeada.

— Uma armadilha. — pontuou o hacker.

— Sim. — respondeu. — A minha teoria estava certa: Yixing pretende tirar a Rose da prisão para que ela faça parte de alguma missão do Zakon. Temos que descobrir que missão é essa.

— Acho que isso pode ter ligação com o que eu descobri enquanto você a interrogava. — informou Caleb, erguendo o dedo indicador. — Espere um pouco, eu volto em um instante.

Ele correu para o compartimento vizinho em busca de algo. Jimin não tirou os olhos do namorado, muitas dúvidas estavam inundando a sua cabeça. Perguntou-se o motivo de Jungkook estar tão calmo mesmo sabendo que a missão saiu dos eixos.

— Você não contou como conseguiu se safar dos caras que estavam atrás de você — Jimin falou sem intenção de parecer que estava cobrando uma justificativa plausível.

— Eu recebi a ajuda de um agente do Serviço Secreto. Ele estava em uma missão quando nos deparamos com os capangas do Zakon.

— Foi ele quem fez o curativo na sua perna?

Jungkook ficou em silêncio por alguns segundos.

— Sim, anjo.

Jimin não soube dizer se ficou aliviado em saber que Jungkook recebeu os primeiros socorros ou intrigado com a súbita aparição do agente. Ele poderia cogitar que o encontro foi uma coincidência, mas, no mundo policial, onde muitos meios de informações estão disponíveis, coincidências são eventos raríssimos.

— Ele te levou para o hospital? — Jimin quis saber, tentando não soar desesperado por uma resposta.

— Anjo, você está tentando chegar em algum lugar?

— Não. — respondeu ligeiramente. — Mas você fugiu da minha pergunta.

— Ele quis me levar ao hospital, mas eu não o deixei. Em vez disso, ele me levou até a casa dele para retirar a bala.

Jungkook pensou que ele faria um comentário sobre o que acabara de dizer, mas Jimin se manteve em silêncio, observando-o. O detetive estava ciente que muitas perguntas estavam rondando a cabeça do garoto e, por algum motivo, ele escolheu guardá-las para si.

— Venha aqui. — Jungkook arrastou uma cadeira para perto de si e indicou o assento para o namorado, que não hesitou em se aproximar. — O que o meu anjo está sentindo?

— O quê?

— Você não parece ter gostado do que eu disse. — Jimin engoliu a saliva com um pouco de dificuldade. — Alguma coisa te deixou desconfortável?

— Tudo o que vem acontecendo não te faz questionar a aparição desse agente? — perguntou. — Eles sabiam que você ia visitar a Rose, eles tem espiões por toda parte.

— Anjo… — Jungkook acariciou sua bochecha gentilmente. — Não foi isso que eu perguntei.

Jimin foi surpreendido pela resposta de Jungkook. Mesmo que tentasse, ele não podia esconder o olhar surpreso em seu rosto. Talvez, refletiu o garoto, agora fosse a hora certa para colocar em evidência as suas inseguranças e fazê-lo ter clareza disso.

— Sou um idiota por sentir ciúmes de você nessas horas. — declarou, finalmente. — Eu não deveria estar preocupado em saber que você esteve na casa de outro homem enquanto tudo desmorona lá fora.

— Não há motivos para sentir ciúmes de mim. Eu só tenho olhos para você.

— Eu gostaria de controlar esse sentimento. — pontuou. — Por isso não quero parecer injusto, você só esteve na casa dele porque precisava de cuidados.

— Apenas isso.

— Mas não pode negar que a aparição dele é suspeita. — Jimin reforçou. — Você pode até dizer que ele estava em uma missão, mas se até os seus colegas de trabalho foram comprados por uma facção criminosa, quem dirá um agente desconhecido.

— É difícil saber em quem confiar. — respondeu.

Jimin pensou em acrescentar uma observação à resposta dele, mas Caleb chegou de repente, fazendo-o guardar os pensamentos para si.

— Eu invadi o sistema da prisão em que a Rose está e vi que ela recebeu muitas regalias nas últimas semanas. — Caleb informou enquanto segurava um aparelho portátil nas mãos. — Sabe as marcas no rosto dela? Uma detenta foi obrigada a machucá-la em uma briga forjada, tudo isso para que a Rose fosse transferida para um setor diferente, onde Yixing e seus capangas policiais pudessem ter acesso.

— E você só descobriu isso depois de eu ter servido de isca para os leões? — Jungkook perguntou com um tom de brincadeira.

— Depois que você foi visitá-la, algumas mudanças internas ocorreram, o que significa que, possivelmente, a Rose vai fugir hoje.

— Como eu posso parar a fuga dela?

— Não tem como! — Caleb disse. — Se voltar à prisão, eles te matam. Se ligar para a agência, os infiltrados darão um jeito de avisá-los. A facção é grande, eles têm espiões por toda parte, inclusive nas delegacias do Estado.

— Eu e a minha equipe temos que desenvolver um planejamento tático. Não posso deixar a Rose fugir! — ele fez uma pequena pausa. — Yoongi, Ric e Layla são as únicas pessoas do FBI em que confio.

— Vou ceder o meu espaço para que vocês possam se reunir. — Jungkook olhou para Caleb, surpreso com a oferta dele. — Não dá para confiar nas bases secretas do FBI. Se vocês têm acesso, os infiltrados do Zakon também têm.

— Obrigado, Caleb.

— Eles podem estar te rastreando através dos radares, não sei. — Jimin disse para Jungkook. — O que devemos fazer para evitar isso?

— Eu posso dar um jeito de camuflar a localização do Jungkook. — propôs Caleb, atraindo os olhos do garoto. — A sua também, Park.

— Caleb está certo, não podemos arriscar até termos as identidades de todos os infiltrados. — o detetive assegurou. — Neste momento, a agência do FBI é uma fortaleza vulnerável.

— Eles abriram uma investigação privada para descobrir quem ateou fogo na sua sala e você, inclusive, está na lista de interrogados. — informou Caleb.

— Qual é o sentido de eu atear fogo na minha própria sala e denunciar o crime às autoridades?

— Talvez essa estratégia faça parte do plano do Zakon. — opinou. — Eles querem você fora de campo.

— Isso significa que eles são capazes de implantar uma evidência falsa para incriminar o Jungkook? — Jimin perguntou, sentindo-se confuso.

— Totalmente.

— Filhos da pu-

— A qualquer momento eles vão entrar em contato com você. — Caleb disse como um terrível presságio. — Esteja preparado para se safar das perguntas.
Jungkook suspirou, sentindo-se exausto.

— Por que você não descansa um pouco? — Jimin disse com um tom baixo, carinhoso. — Talvez agora seja a hora de cuidar de si. Sua perna está machucada, você escapou da morte e a agência não é um lugar seguro para estar nesse momento.

— Tenho que avisar aos outros onde estou. — Jimin sabia a quem o namorado estava se referindo. — Eles não estão seguros dentro das paredes da agência.

— Eu posso entrar em contato com eles. — ele se ofereceu. — Descanse um pouco, eu e Caleb vamos cuidar do resto.

— O seu garoto está aprendendo as coisas muito rápido. — Caleb observou. — Estou ensinando o Jimin a decodificar alguns padrões numéricos.

Jungkook sorriu, orgulhoso, e acariciou a bochecha esquerda do garoto.

— Você é o meu orgulho, anjo.

Jimin sentiu o rosto esquentar de repente. Ele ainda não aprendeu a reagir aos comentários afetuosos de Jungkook, qualquer mínimo elogio era suficiente para deixá-lo quente.

— Eu acho que agora é uma boa hora pra dizer que tem um cômodo no final do corredor, caso vocês queiram ficar a sós. — informou Caleb após perceber o clima entre o casal.

Jimin olhou para o hacker com uma expressão séria, mas Caleb vislumbrou a sombra de um pequeno sorriso querendo se formar nos lábios dele. Jungkook, em contrapartida, balançou a cabeça em resposta à oferta do rapaz.

De repente, uma mensagem emergiu na tela do computador de Caleb, fazendo-o correr na direção do aparelho. Jimin e Jungkook se entreolharam rapidamente, cientes de que a notificação era importante.

— Meu sistema detectou alguma coisa — Caleb disse, tentando interpretar a mensagem codificada.

— O que é? — perguntou Jungkook.

Houve um momento de silêncio até Caleb soltar um uivo de comemoração. Ele deu um pulo da cadeira como se tivesse ganhado uma partida muito acirrada. Antes que Jungkook perguntasse o motivo por trás da alegria de Caleb, o hacker disse:

— Quando invadi o site do Zakon, eles me bloquearam, então eu pensei em criar um sistema automático para criptografar as combinações da chave digital sem parecer uma invasão. E aqui está! Eu entrei novamente no site deles.

Jungkook e Jimin levantaram da cadeira ao mesmo tempo, e se aproximaram do computador de Caleb. Enquanto Jimin não entendia o que os números e letras na tela estavam dizendo, Jungkook parecia compreender a mensagem.

— Aqui, na posição de observador fantasma, eu posso ver quem são os usuários, quantos lances eles já deram, se estão online ou negociando em tempo real. — explicou Caleb, deixando Jimin impressionado.

— Sabe quem é o administrador? — perguntou Jungkook.

— A identidade dele é muito secreta. Ele é quem organiza todo o sistema operacional de lances. — esclareceu. — Como estou dentro da página, posso tentar desvendar algo para além do que já descobrimos. Sabendo as identidades dos usuários, por exemplo, você já pode conseguir os mandados de busca e apreensão.

— E se criássemos um perfil falso para participar do leilão? — Jimin sugeriu. — Eles não sabem quem são os usuários, apenas fazem as ofertas. Podemos nos passar por licitantes e descobrir quem são as pessoas que eles estão leiloando.

— Jimin está certo, por mais que eu esteja assistindo aos lances, não tenho acesso às conversas particulares do representante com os usuários. — Caleb ponderou. — Essa etapa é feita fora do site com um mecanismo de proteção mais avançado. Eles saberiam se eu invadisse a conversa.

— Por que eles não usam o mesmo mecanismo de proteção nos lances? — a dúvida de Jungkook era a mesma de Jimin.

— Algo me diz que nessas conversas particulares tudo fica esclarecido, inclusive o tipo de morte. — Caleb considerou, fazendo alguns pêlos do corpo de Jimin eriçarem. — Os licitantes precisam de uma garantia e o promotor do site, do pagamento. As regras, definitivamente, devem ser mais rigorosas do que nos lances em aberto.

— Isso quer dizer que vocês estão considerando a minha ideia? — Jimin perguntou.

— É uma opção.

— Faça o perfil, é a única forma de entrar no jogo deles. — o detetive deliberou, observando Caleb acenar com a cabeça em sinal de compreensão. — Só conhecemos o inimigo quando estamos perto dele.

Jimin sentiu-se contente por ter a sua ideia recebida por Jungkook. Ele pensou, por um momento, que as suas sugestões eram dispensáveis e inúteis, porém o detetive provou que sua opinião era válida em qualquer circunstância.

De repente, Jungkook sentiu o celular vibrar no bolso. Ele pegou o aparelho e ficou surpreso ao ler o nome de Scarlett. A mulher nunca ligou diretamente para ele, nem mesmo para marcar a primeira reunião que culminou em uma série de alfinetadas.

Jungkook fez um pequeno gesto de silêncio para Caleb e Jimin antes de atender.

— Sra. Thompson — ele vestiu a voz mais educada que tinha para não levantar suspeitas.

Olá, detetive Jeon — a voz dela não parecia nada amigável. — Gostaria de marcar uma reunião com você. Onde o senhor está?

— Não estou no departamento se é o que quer saber.

Ótimo! Me encontre em uma hora na rua 49Th. Isso não é um convite, é uma ordem.

Jungkook ficou em silêncio por um momento, tentando entender o motivo de Scarlett escolher a rua em que ela morava para realizar a reunião, que, por sinal, levantou muitas inquietações no detetive.

— Perdão, Sra. Thompson, mas qual é o motivo da reunião?

Estou com o chefe do Gabinete Principal, ele gostaria que o senhor contasse, sob juramento federal, as possíveis ligações que encontrou entre a facção e o departamento do FBI. — ela fez uma pequena pausa para dar a ele tempo de raciocinar. — Seu depoimento será avaliado judicialmente e o Gabinete de Responsabilidade Federal fará uma investigação rigorosa no setor interno.

— Quem tomou essa decisão?

Temos sofrido muitos ataques, detetive, nada mais justo do que sabermos quem são os responsáveis. — rebateu. — Jared está preocupado com a segurança interna, não podemos arriscar perder um caso tão importante. Foi por esse motivo que voltei para Washington.

Intrigado, Jungkook apertou as sobrancelhas e olhou para Caleb, que parecia igualmente confuso com aquela ligação repentina.

— Por que não marcamos a reunião na agência em vez da sua casa? — o detetive perguntou, ciente que o depoimento seria gravado para servir de prova.

A agência está sofrendo ataques internos, o senhor sabe disso. Neste momento, minha casa é o lugar mais seguro para a realização de uma entrevista tão importante como essa. Quero garantir que nada dê errado.

Caleb fisgou uma folha de papel isolada e escreveu alguma coisa antes de mostrar a Jungkook, que leu a mensagem mentalmente.

“Ela já deve saber que você encontrou a escuta”, foi o que ele escreveu para alertá-lo.

— Eu estarei lá, Sra. Thompson. — Jungkook confirmou após o sinal de Caleb.

Houve um minuto de silêncio. O detetive não sabia quais eram as intenções de Scarlett ao convidá-lo para uma reunião particular em sua casa, então, pensou ele, tinha de pensar em uma estratégia em caso de emboscada.

Certamente, Scarlett não estava contando com a desconfiança do detetive.

Até logo, detetive Jeon. — ela disse um pouco antes de encerrar a chamada.

Com as sobrancelhas franzidas, Jimin abriu os braços para enfatizar seu momento de confusão.

— Uma reunião na casa dela!? — o menino perguntou de forma retórica. — É óbvio que ela está armando alguma coisa!

— Se eu fosse você não confiaria nela. — avisou Caleb.

— Você não está pensando em ir, não é, Jungkook? — Jimin pareceu preocupado com essa possibilidade. — Está na cara que essa reunião é, no mínimo, estranha e inapropriada.

— Eu não posso faltar a uma reunião com a chefe do meu inspetor, ainda mais estando com o diretor-chefe do Gabinete Principal. — ele pontuou.

— Se for realmente o que ela diz… — rebateu Jimin. — Quem é esse diretor-chefe, afinal?

— Ele está no cargo mais elevado da agência, as investigações internas só ocorrem após a aprovação dele. — respondeu. — Talvez ele tenha descoberto o que aconteceu e procurado a Scarlett para que ela entrasse em contato comigo. Um depoimento sigiloso com o diretor-chefe do Gabinete Principal não é pra qualquer um.

— Você só está esquecendo de um detalhe: a Scarlett não mencionou que foi ele quem a procurou. — Jimin pontuou, tentando convencê-lo de que ir a essa reunião não era uma boa ideia. — Se ele estivesse atrás do seu depoimento, isso aconteceria dentro da agência, não?

— Não exatamente — suspirou. — Como eu encontrei ligações do FBI com o Zakon, o depoimento deve acontecer em um lugar fora da agência, pois não sabemos quem são os infiltrados.

— Você achou uma escuta na sala da Scarlett e está pensando em ir à casa dela? — desta vez foi Caleb quem disse. — Você é louco, cara!

Jungkook parou para refletir por um momento, tentando alcançar um pensamento lógico. Sabia que Scarlett não era confiável, mas, ao mesmo tempo, não queria dar a ela a confirmação da sua desconfiança.

Se não comparecesse à reunião, Scarlett poderia usar isso a seu favor para depreciar o seu trabalho com o diretor-chefe do Gabinete, o que, obviamente, seria pernicioso para a sua carreira.

— O que vocês sugerem que eu faça? — Por fim, Jungkook perguntou, buscando outras alternativas.

— Inventa uma desculpa. — Jimin aconselhou.

— Usa uma escuta com rastreamento. — o menino encarou Caleb com um olhar acusador. — Se está mesmo decidido a ir, ao menos precisa se proteger.

— Você acabou de dizer que era uma péssima ideia ele ir a essa reunião! — Jimin refutou, desaprovando a sugestão de Caleb.

— Ele não parece inclinado a mudar de ideia.

Jimin olhou para o namorado após a fala do hacker, procurando uma confirmação.

— Vou avisar a minha equipe o que estou prestes a fazer, se a Scarlett tentar alguma coisa, ao menos eles serão minhas testemunhas. — afirmou Jungkook.

— Testemunhas de uma cena que sequer presenciaram? — Jimin parecia incrédulo com a decisão do namorado. — Scarlett tem poder suficiente para calar a boca de qualquer pessoa.

— Anjo…

Jimin levantou as mãos em rendição, abstendo-se, e disse:

— Tudo bem, eu não vou tentar te convencer. Se você acha que deve ir, pode ir.

Jungkook se aproximou dele calmamente e acariciou seu rosto com as costas da mão. Jimin não conseguia esconder a preocupação diante das coisas que já sabia sobre a supervisora. Ele tinha certeza que não era uma boa ideia Jungkook ir à reunião, mas, em contrapartida, não podia impedi-lo.

— Eu vou ficar bem. — o detetive garantiu, buscando tranquilizá-lo. — Caleb vai cuidar de você enquanto eu estiver fora.

— Promete que vai voltar para mim o mais rápido possível?

Jungkook sorriu e beijou os lábios dele brevemente.

— Prometo, meu bem.

Em resposta, Jimin lançou os braços ao redor do pescoço dele e o abraçou, absorvendo seu cheiro antes de deixá-lo partir. Ele sabia que decisões difíceis faziam parte do trabalho de Jungkook, mas não podia negar que isso o atormentava.

Ele estava ferido, refletiu o garoto, e sendo perseguido por uma organização criminosa. O que mais de pior poderia acontecer?

Jimin tentou não pensar nas piores possibilidades, afinal se Jungkook estava decidido a ir, significava que ele sabia o que estava fazendo. Mesmo com medo, Jimin preferiu alimentar seus pensamentos com coisas positivas.

Após Jungkook se despedir do namorado e sair do galpão, Caleb olhou para Jimin como se dissesse: “agora só nos resta esperar por ele”. O garoto suspirou pela boca e caiu sentado na cadeira que Jungkook estava anteriormente, sentindo-se esgotado.

✮✮✮

Apesar de nunca ter ido à casa de Scarlett, o detetive ligou para Yoongi para acessar a localização através do sistema interno do FBI. Seu parceiro fez algumas perguntas sobre o interesse dele por trás do pedido, mas Jungkook não quis prolongar a conversa por receio de estarem ouvindo.

Yoongi, sentindo-se desconfiado a princípio, apenas pediu para que Jungkook deixasse a localização ativada para que pudesse rastreá-lo. E foi exatamente isso que o detetive fez.

Ele tomou todas as medidas necessárias antes de se encontrar com a supervisora: ativou a localização, implantou uma escuta gravadora e adicionou uma arma extra. Se a intenção de Scarlett fosse feri-lo, ao menos ele estaria precavido.

Jungkook estacionou o carro na frente da casa dela para não ter de andar com a perna machucada. Ele tocou o interfone e aguardou a aparição de Scarlett. Em poucos minutos, a mulher abriu a porta com o mesmo olhar de superioridade.

O rosto de Jungkook endureceu quando os olhos de Scarlett caíram sobre as suas calças rasgadas. Ele poderia argumentar que não teve tempo de trocá-la, mas sequer lembrou-se dela.

— Sr. Jeon — disse Scarlett após um momento de avaliação. — Por favor, entre.

O detetive hesitou à princípio, mas acabou aceitando o convite da mulher. Ele avistou, à distância, uma figura masculina sentada no sofá, certamente aguardando a sua aparição. No momento em que o homem deparou-se com a imagem de Jungkook, ele ergueu-se para cumprimentá-lo.

— Detetive, este é Charlie Cambridge, diretor-chefe do Gabinete de Responsabilidade da agência. Sr. Cambridge, este é Jeon Jungkook, diretor-assistente da equipe oficial de investigação. — Scarlett os apresentou.

— Olá, detetive Jeon. — Charlie esticou a mão para cumprimentá-lo, sendo retribuído instantaneamente. — Scarlett me contou que o setor interno do FBI está sofrendo algumas invasões. O senhor, como diretor-assistente, deve saber o que está acontecendo.

— O Sr. Cambridge está aqui para registrar o seu testemunho sobre as evidências encontradas dos mafiosos infiltrados na agência. — pontuou Scarlett. — Todo o seu depoimento será gravado como prova e levado à Justiça para que uma investigação rigorosa seja feita no setor interno.

— Você contará tudo o que descobriu sob juramento oficial. Se tiver as identidades dos infiltrados ou qualquer evidência sólida, preciso que nos revele. — acrescentou Charlie.

Os cabelos grisalhos e o rosto enrugado evidenciaram a idade avançada do Sr. Cambridge. Jungkook já tinha ouvido falar no nome dele pelos corredores da agência. Segundo os boatos, Charlie era um homem honesto e responsável.

— Por que escolheram fazer a reunião aqui em vez da agência? — perguntou o detetive, tomando cuidado para não transparecer sua desconfiança.

— A ideia foi da Scarlett, detetive. Ela acredita que a casa dela é mais segura para esse tipo de conversa.

— Deveria me agradecer por convocar o diretor do Gabinete para falar sobre as infiltrações, detetive Jeon. — Scarlett provocou, soltando seu veneno através das palavras. — Você, certamente, não tomaria essa atitude mesmo vendo as nossas defesas internas vulneráveis.

— Por favor, Scarlett, agora não é o momento. — Charlie repreendeu, dirigindo-se ao detetive em seguida. — Sr. Jeon, gostaria de começar agora?

Jungkook estava certo que Scarlett não chamou o Sr. Cambridge com boas intenções. Talvez, refletiu o detetive, ela tenha sido obrigada a chamá-lo a pedido de pessoas mais poderosas que ela.

Em contrapartida, o testemunho de Jungkook deixaria Scarlett ciente do quanto ele sabia sobre Zakon. O detetive cogitou revelar a escuta encontrada na sua sala e a qual rede o dispositivo está conectado.

Se ele estava diante do diretor-chefe do Gabinete para dar seu testemunho sob juramento, nada melhor do que responsabilizar a supervisora pela implantação da escuta. Mesmo que Scarlett não tenha colocado o dispositivo, ao menos ela seria investigada.

— Sim, podemos começar. — ele respondeu.

Charlie o convidou para sentar-se à mesa de jantar. Ele abriu uma maleta e retirou um gravador de dentro, posicionando-o no centro da mesa. À distância, Scarlett ficou observando-os em silêncio enquanto eles se acomodavam.

— Esta é uma entrevista com o agente especial e diretor-assistente, Jeon Jungkook, e a supervisora de comando, Scarlett Thompson. — Charlie pronunciou após iniciar a gravação. — Quem está conduzindo a entrevista é o diretor-chefe especial do Gabinete do FBI, Charlie Cambridge.

— Ok, detetive Jeon, agora você tem a nossa atenção. — Scarlett disse, juntando-se a eles. — O que gostaria de nos contar?

Por um momento, ele pensou no que dizer. Não queria omitir nenhuma informação, principalmente sobre os infiltrados, ainda mais sabendo que a entrevista estava sendo gravada. Além disso, o Sr. Cambridge parecia determinado a saber a verdade.

— Não existe uma boa maneira de contar isso, mas eu acredito que parte da equipe do FBI foi corrompida pelas crenças de uma organização criminosa chamada Zakon. — Jungkook expôs a verdade. — Uma agente atuante, Samantha, foi encontrada morta com a marca dessa facção, o que me leva a crer que ela foi executada por não concluir o serviço.

— Que tipo de serviço? — perguntou Charlie.

— Zakon é uma facção formada por mercenários, eles matam pelo valor que lhes oferecem. — confessou. — Alguns agentes do FBI estão na lista deles e isso me faz pensar que quem está pagando pelas nossas cabeças está ocupando um cargo elevado no FBI.

— Como chegou a essa conclusão?

— Eu tive acesso à lista através do site ilegal que eles criaram na deep web. O senhor, inclusive, também está na lista. — Charlie expressou surpresa com essa informação. — O senhor precisa abrir uma investigação privada contra os superiores da agência.

— Como pode ter certeza que os superiores estão envolvidos? — perguntou Scarlett, confusa.

Jungkook a encarou.

— Invadiram a minha sala e queimaram todos os relatórios sobre o Zakon. Ninguém além de mim e dos superiores têm acesso às nossas salas. — revelou. — Além disso, Sra. Thompson, implantaram uma escuta na sala em que a senhora me ofereceu. Quem poderia estar tão interessado na investigação a ponto de querer ouvir tudo?

— Há mais pessoas infiltradas. — afirmou Charlie, parecendo imerso em uma linha de pensamento. — O que mais você sabe, detetive?

— Isso é tudo o que sei até agora, Sr. Cambridge.

— Como você teve acesso a essa lista, detetive? — foi Scarlett quem perguntou com uma mistura de curiosidade e apreensão. — Nossa Central de Comando não registrou quaisquer buscas referentes a isso. Além do mais, qualquer pessoa interessada em acabar com o FBI pode pagar pela cabeça de vocês.

— Talvez seja coincidência a lista ser composta apenas por alguns agentes, não por todos. — Scarlett notou um tom de escárnio por trás da voz dele. — A propósito, a senhora não está na lista, o que significa que nenhum mercenário está atrás de você.

A mulher engoliu em seco e tentou disfarçar sua reação com um sorriso.

— Isso não significa nada, detetive Jeon. Muitas autoridades do FBI têm a sua identidade preservada, a minha é uma delas. — ela rebateu. — Eu não costumo me expor para a mídia.

— Detetive, poderia me contar as coisas que descobriu sobre essa organização criminosa? — Charlie perguntou, demonstrando interesse pelo assunto.

— Creio que o detetive Jeon deve algumas explicações — apontou a supervisora, fazendo Jungkook arquear as sobrancelhas. — Ainda não respondeu como conseguiu essas informações. O senhor, em algum momento, investigou de forma extraoficial?

— Não.

— Então mostre ao Sr. Cambridge todas as apurações que fez sobre o caso na Central de Comando. — ela disparou na tentativa de deixá-lo encurralado.

— As bases internas estão fragilizadas, tudo que investigamos é repassado para o Zakon. Como posso saber se na Central de Comando não tem infiltrados? — ele argumentou.

— Está afirmando que buscou meios externos para apurar as evidências? — Scarlett sondou, tentando obter uma resposta.

— Em casos extremos como esse é necessário recorrer a outros meios, Sra. Thompson. — respondeu. — Não posso ficar preso ao protocolo se o meu inimigo ameaça a Segurança Nacional, ainda mais um inimigo interno.

— O senhor tem algum nome, detetive Jeon? — perguntou Charlie após a resposta dele. — Tem alguém que o senhor desconfia que faça parte do Zakon?

Jungkook suspeitava de quase todo mundo, mesmo sabendo que nem todos eram culpados. No entanto, a sua principal suspeita estava diante dele, com os braços cruzados à espera de sua resposta.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Scarlett sacou uma arma da cintura e disparou contra o rosto de Charlie Cambridge. Jungkook agiu rapidamente e saltou da cadeira, apontando a arma para a supervisora após engatilhar.

— Por favor, Jungkook, não atire em mim também! — ela forçou uma voz dramática antes de encerrar a gravação. — Pronto, agora eles têm o seu áudio matando o diretor-chefe do Gabinete.

O detetive ficou paralisado por um momento. Ele pensou em atirar em Scarlett, mas ela recuou a arma e sorriu, parecendo guardar muitos segredos obscuros.

— Se me matar agora, eles mandam essa gravação para o presidente da agência e todos saberão que você é um assassino. — ela disse com a voz amarga. — É melhor ter um assassinato nas mãos do que dois, não acha?

Naquele momento, o detetive cogitou roubar o aparelho de gravação e destruí-lo depois de apagar a entrevista, mas Scarlett, aparentemente, previu seus pensamentos.

— Eu sei que está pensando em pegar a gravação, mas eu te aconselho a não fazer isso. Meu chefe estava recebendo o áudio da entrevista em tempo real. Eles interceptaram o sinal imaginando que isso poderia acontecer.

— Filha da puta!

— Agora que você sabe disso, vamos direto ao ponto: quero que deixe o caso do Zakon e peça ao Jared um afastamento temporário. Se não fizer o que estou mandando, o presidente vai receber essa gravação e, de brinde, a cabeça de Charlie Cambridge.

— Você usou a sua arma, a perícia vai saber que foi você quem o matou.

— Está falando desta arma? — ela balançou o revólver com um sorriso no rosto. — Ela não é minha, detetive, é sua. Nós projetamos uma arma idêntica à sua em todos os aspectos.

Durante um momento de análise, Jungkook observou que Scarlett estava de luvas transparentes. Ela, claramente, arquitetou o plano para incriminá-lo e afastá-lo do caso, uma boa estratégia para resolver dois problemas de uma vez.

— Você entrou onde não devia, detetive — disse a supervisora com um tom de ameaça. — Hoje mesmo você fará o que estou mandando, caso contrário, eu terei o prazer de matar o seu garotinho. E, acredite, eu sei bem onde encontrá-lo.

Naquele momento, uma avalanche de informações caiu sobre Jungkook.

— Foi você! — ele acusou-a. — Você enviou aqueles homens até a casa do Seokjin para matá-lo.

— Não dei a ordem, mas fiz a proposta para o meu chefe. — sorriu. — Eu poderia te matar agora mesmo, mas não foi por isso que eu te trouxe aqui, a sua morte e a do Charlie estariam nas minhas mãos. A única coisa que quero de você é o seu afastamento do FBI.

— Você é a minha supervisora, Thompson, tem o poder de me afastar a qualquer momento.

— Não sem uma prova cabível. — ela balançou o gravador para enfatizar sua fala. — Mas agora eu tenho uma prova, então se não fizer o que estou mandando, sua carreira já era.

Ele deu uma risada, mas seu gesto não tinha qualquer traço de humor.

— Você vai ter o que quer, por enquanto, mas antes quero que saiba de uma coisa — ele deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles. — Mesmo afastado do FBI, eu não vou desistir de caçar o seu grupinho de merda. Eu vou até o inferno atrás de cada um e você será a primeira. Se quer me impedir, vai ter que me matar antes.

— Não se preocupe, detetive, você está no topo da nossa lista. — desdenhou.

— Boa sorte.

— Você tem sorte de eu não ter sido designada para te matar. — Jungkook sorriu para a lamentação dela. — Mas tem algo que você precisa saber: sou eu que estou pagando pela sua cabeça já que não posso sujar minhas mãos.

O detetive não ficou surpreso com a revelação. Ele esperava qualquer coisa de Scarlett, menos que ela fosse tão ingênua a ponto de confessar tantas barbaridades sem suspeitar que ele estava grampeado.

E Jungkook estava.

Todas as revelações da mulher foram transmitidas para Caleb em tempo real. Agora, Jungkook tinha a confissão dela na palma da mão. Ele poderia ameaçá-la se quisesse, mas escolheu agir de forma racional.

Em vez de assumir que estava com uma escuta e reverter o jogo, Jungkook quis esconder essa informação e dar a ela a certeza de que o jogo estava ganho.

A ideia de não entregar a gravação a princípio permitia que ele conseguisse tempo para analisar quem dos superiores não estava envolvido na facção. Como o FBI estava sofrendo infiltrações, nada melhor do que estudar as opções existentes.

Desse modo, o detetive tomou uma decisão estratégica: afastar-se do FBI e investigar o Zakon por conta própria. Sem o distintivo e a credencial, ele não agiria em nome da agência, o que significava que ele poderia usar os meios extra oficiais para obter as respostas.

Fora do FBI, refletiu o detetive, a facção pensaria que ele não é mais uma pedra no caminho. A ideia, portanto, consiste em fazer o Zakon pensar que ele está impossibilitado de usar os meios investigativos.

Diante disso, tudo o que ele disse em resposta foi:

— Você venceu, Scarlett.

✮✮✮

Olá, meu amores, como vocês estão? A atualização tarda, mas não falha! Haha

A partir de agora muitas revelações vão surgir, as coisas vão acelerar um pouco, mas também teremos mimos jikook. preparando um momento muito lindo (e quente) para o próximo capítulo.

Se gostaram da atualização, deixem um votinho, ok? Isso me ajuda muito!! <3

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top