thirteen᠉

O lugar para onde Jungkook foi levado parecia uma base secreta. Havia muitas portas, corredores e códigos. Ele observou o ambiente, consciente de que toda aquela segurança fazia parte de uma compilação metódica para manter em sigilo a identidade de hacker de Caleb Garner.

Seokjin discou uma sequência de números em uma máquina digital e a porta deslizou, aberta. Aparentemente, Seokjin havia ido naquele lugar diversas vezes, visto que ele se comportava como se já soubesse o que fazer para chegar até Caleb. Jungkook, por outro lado, não fazia ideia de onde estava.

Quando a porta se abriu, o detetive esperou ver papéis espalhados pela mesa, pendrives, discos rígidos, computadores dispersos pelo cômodo ou qualquer outra coisa que indicasse a desorganização de um hacker que faz serviços clandestinos para órgãos do governo. No entanto, à distância, o que Jungkook viu era bem diferente do que ele imaginou.

O lugar estava decorado com pôsteres de rock; havia apenas um computador de alta tecnologia, pastas empilhadas organizadamente em uma pequena estante, e um rapaz sentado de frente para um monitor ligado. Ao perceber a presença dos recém-chegados, Caleb levantou os olhos em direção a eles e sorriu.

— Eu estava aguardando vocês — disse Caleb, risonhamente. — Pensei que teria de ir recebê-los na porta.

— Não se preocupe, eu soube seguir as suas orientações para que ninguém nos visse — respondeu Seokjin.

— Sim, eu sei. Estive acompanhando tudo pelo meu computador. — Os olhos do rapaz caíram sobre Jungkook. — Você deve ser o detetive Jeon, não é? Seokjin me falou que você se interessou pelos meus serviços.

— Podemos conversar? — Ele, simplesmente, perguntou, curto e grosso.

— Tenho certeza de que está aqui para isso. — Apontou para um assento disponível no canto da sala. — Sente-se.

Jungkook dispensou o convite com um balanço de cabeça para os lados e agradeceu. Ele tinha saído no meio do trabalho para se encontrar com Caleb, correndo o risco de Jared descobrir sobre sua partida e questioná-lo por ter abandonado uma investigação na metade só para resolver alguns problemas pessoais.

— Bem, já que o Jungkook não quer sentar, eu faço questão de tomar o seu lugar — disse Seokjin, apossando-se da cadeira. — Vocês sabem, a minha idade não permite que eu fique tanto tempo em pé.

— Você fala como um velho — comentou Caleb, sorrindo.

— Não falta muito tempo — Jungkook cochichou para si mesmo, mas, para a sua surpresa, Seokjin pareceu ouvir. No entanto, o detetive decidiu voltar ao tópico anterior da conversa antes que as coisas tomassem outras rédeas. — Seokjin me disse que você já trabalhou para a CIA.

— Eles me procuraram algumas vezes para alguns serviços — respondeu Caleb. — Mas eu não posso te dizer quais eram esses serviços porque eles me pagaram para ficar de bico fechado. Sinto muito, mas se veio até aqui para descobrir o que a CIA me pediu para fazer, perdeu seu tempo. Infelizmente, não posso contar quais foram as tarefas, eles pagaram pelo meu silêncio.

— E se eu pagar para você quebrar o seu silêncio?

Caleb ficou, subitamente, calado. Ele olhou para Seokjin, como se esperasse que ele dissesse alguma coisa, mas o homem apenas se manteve quieto, igualmente esperando por uma resposta. Jungkook sabia que o rapaz não cederia facilmente, visto que seus serviços exigiam discrição por ambas partes, mas ele estava disposto a fazer qualquer coisa para Caleb quebrar o pacto.

— Eu pago o valor que você quiser, contanto que me diga o que o Seokmin te pediu para investigar sobre mim — insistiu o detetive, consciente de que poderia estar entrando em um beco sem saída.

— Você veio aqui só por isso?

— Não, quero que descubra algumas coisas sobre o meu passado. Como você já fez serviços para a CIA, deve conhecer a Paige também. Por isso preciso saber o que o Seokmin pediu para você fazer.

— Quebre esse galho, Caleb — Seokjin pediu. — Você confiou em mim para trazê-lo até aqui, e nós dois sabemos que seus pontos de negociação não acontecem neste lugar. Faça isso por mim. Dou minha palavra de que o Jungkook se manterá na linha.

Caleb ficou pensativo, mas sério. Embora não pudesse compartilhar as informações de seus contratantes, o rapaz não podia negar aquele pedido. Seokjin o ajudou em diversas situações, então, talvez, esta fosse a hora de retribuir sua gratidão.

— Tudo bem. Eu conto a você porque o Seokmin me contratou, mas saiba que só estou fazendo isso porque o Seokjin me pediu. Eu não faria isso para qualquer pessoa. — Seokjin agradeceu-lhe com um sorriso e olhou para Jungkook, sentindo-se triunfante por ter conseguido a rendição de Caleb. — Eu fui contratado algumas vezes para investigar sobre você. Seokmin queria que eu descobrisse se o irmão perdido da Paige estava vivo, mas disso você já sabe.

— Como você chegou até mim?

— Eu tentei da forma mais fácil, mas lembro que demorei muito para descobrir algo sobre você porque não havia registro de nascimento nem nada. No início, pensei que você não existia, mas os resultados da deep web me confirmaram que, na verdade, quiseram que você não existisse.

— Espere um pouco, você está dizendo que alguém tentou sumir comigo? Quem poderia ter feito isso? — Caleb deu de ombros. — A Paige disse que alguns agiotas me levaram semanas depois de eu ter nascido-

— Sua irmã disse isso? — Pela expressão de Caleb, Jungkook soube que aquela informação era falsa. — Olha, não sei se ela quis apaziguar a situação, mas você foi tirado de sua mãe após o parto. Alguém dentro do hospital separou você de sua mãe propositalmente.

— Você tem certeza disso, Caleb? — perguntou Seokjin, assustado.

— Sim, absoluta. — Jungkook esfregou o rosto, não gostando nada do rumo daquela conversa. — Eu não lembro de todos os detalhes porque faz muito tempo que trabalhei nisso, mas tenho um pendrive guardado com todas as informações que consegui. Não posso te dar porque isso pode cair em mãos erradas, mas você pode ver aqui se quiser.

— Pode pegá-lo agora? — perguntou.

— Sim. Me esperem aqui.

Após Caleb dar as costas e desaparecer para além de uma porta secundária, Jungkook virou de frente para Seokjin e encontrou um olhar igualmente confuso em sua direção.

— Não posso acreditar que a Paige mentiu — ele disse.

— Calma, Jungkook, não tire conclusões precipitadas. Espere o Caleb trazer o pendrive para que possamos ter certeza se ela mentiu ou não.

Jungkook suspirou ruidosamente.

— Eu deveria ter desconfiado de uma estranha se dizendo ser a minha irmã biológica.

— Tenha calma, Jeon, talvez ela também tenha sido enganada.

— Por que você está defendendo-a tanto? — ele perguntou, encarando-o nos olhos.

Silêncio.

— Aqui está o pendrive — disse Caleb após retornar, sentando em sua cadeira giratória. Ele fez um gesto com os dedos para que Jungkook se aproximasse. — Já adianto que você irá ler coisas neste pendrive que não vão te agradar.

— Eu não ligo, me mostre tudo — ele respondeu com segurança.

— Antes que você pergunte — Começou o rapaz enquanto conectava o objeto à entrada USB. — Nem todas as coisas que estão nesse pendrive foram mostradas para o Seokmin. Eu apenas disse a ele onde você estava e ele certamente passou essa informação para a Paige.

— Então o Seokmin não sabia que eu era o irmão perdido da Paige?

— Não, ele apenas disse que era para eu te localizar, porque ele estava ocupado com outras tarefas na agência. — Jungkook e Seokjin trocaram um rápido olhar. — Mas eu acabei encontrando muitas coisas por trás disso. Veja, aqui estão todas as informações que consegui naquela época.

Seokjin se aproximou por trás deles, curioso para saber o que Caleb guardava sobre Jungkook. O detetive analisou os registros encontrados, mas eles estavam desorganizados cronologicamente, então Caleb decidiu explicar.

— Eu consegui invadir os servidores do hospital em que você nasceu e recuperar todos os registros de nascimento. A tecnologia não era tão avançada naquela época, então não foi tão difícil restaurar esses arquivos.

— O que você descobriu? — Seokjin perguntou.

— Existe uma inconsistência no sistema. — Ele revelou duas imagens de documentos rabiscados à mão. — Aqui diz que a sua mãe deu à luz a gêmeos, mas no atestado de liberação, ela saiu com apenas um bebê, porque o outro morreu.

— Eu tive um irmão? — Suas palavras morreram na garganta.

— Sim.

— O que diz o atestado de óbito? — perguntou Seokjin.

— Diz que o outro bebê morreu após uma parada respiratória. — O detetive ainda estava estranhamente chocado com aquela história. — Os bebês nasceram precocemente e tiveram que ficar na incubadora por algumas semanas. Mas não é só isso.

Jungkook levantou os olhos para ele após ouvir a última frase.

— Você foi deixado no lar de adoção na mesma semana em que, supostamente, voltou para casa. — Jungkook enrugou a testa diante daquela informação nada reconfortante. — Se você é o bebê que sobreviveu, quem estava com a sua família?

— Isso quer dizer que o bebê que os agiotas levaram era o meu irmão? — Caleb comprimiu a boca, dando a entender que sim. — O que significa o atestado de óbito, então?

— Existem muitos traficantes de bebês e eles estão espalhados na parte mais oculta da internet. O seu irmão foi dado como morto, porque quem o tirou das mãos dos seus pais o vendeu para os traficantes. — Seokjin suspirou, como se soubesse que aquela história estava longe de acabar. — Não achei nenhuma evidência disso, mas se você está aqui agora, possivelmente o bebê que foi dado aos agiotas era o seu irmão.

— Jungkook, você me disse que a sua família estava passando por uma crise financeira naquela época, não é? — Seokjin perguntou após analisar toda situação. Jungkook confirmou. — Segundo a Paige, seu pai deu você para os agiotas, talvez tenha sido ele o responsável por te colocar na adoção também. Veja bem, ele estava devendo muito dinheiro e saber que a esposa deu à luz a dois bebês deve ter sido a gota d'água.

— Você acha que ele pode ter se livrado de mim e depois do meu irmão? — Seokjin murmurou um sim.

A pergunta que ficou na cabeça de Jungkook durante os próximos minutos foi: por que a sua mãe não notou a ausência de um dos gêmeos quando voltou para casa? Ele pensou na possibilidade do hospital ter se enganado e só ter descoberto que eram gêmeos na hora do parto, o que levaria seu pai a desaparecer com ele para o lar de adoção e, posteriormente, dar o seu irmão para os agiotas para se livrar das dívidas.

Jungkook estava começando a ficar perturbado com aquela história. Inicialmente pensou que a sua família adotiva era problemática, mas a biológica parecia ser triplamente pior. Ele, definitivamente, não teve sorte nesse aspecto. Em ambos os lados, ele não teve um pai que o amasse de verdade.

— Você pode abrir um inquérito para descobrir se o hospital foi negligente — Seokjin informou de repente. — Caso alguém tenha compactuado para o desaparecimento de um dos bebês, você saberá quem foi o responsável e o porquê.

— Essa história está me deixando louco.

— Você está sendo bombardeado por informações novas, é compreensível que se sinta assim. — Jungkook apenas o encarou.

— Eu posso conseguir mais informações sobre os traficantes de bebês, talvez eu consiga chegar ao seu irmão — sugeriu Caleb. — Quando falei para o Seokmin sobre existir a possibilidade de terem dois irmãos gêmeos, ele apenas disse que eu devia localizar o mais próximo.

— Que estranho... — comentou Jungkook, baixinho. — A Paige demonstra saber de muitas coisas sobre mim, menos que eu tive um irmão gêmeo.

— Caleb, você acha que consegue descobrir quem eram os agiotas e por onde eles se comunicavam? — perguntou Seokjin, fazendo o detetive olhá-lo estranhamente.

— Claro.

— Ótimo. Se descobrirmos quem são, chegaremos até eles com mais facilidade.

— Está pensando em interrogá-los? — Jungkook perguntou, subitamente interessado pela ideia.

— Eles podem ter informações valiosas, principalmente sobre o seu irmão — pontuou o homem. — Como sei que você não vai querer envolver o FBI nisso, eu e Caleb podemos cuidar deste assunto. Nós vamos analisar todos os documentos encontrados e tentar chegar aos responsáveis.

— Posso interceptar algumas mensagens ocultas na deep web mencionando a venda ilegal de bebês e, também, descobrir quem escreveu o atestado de óbito através da amostra da caligrafia — acrescentou Caleb à fala de Seokjin. — Até porque, sabemos que o atestado é uma farsa. Nenhum bebê morreu, de fato. Posso descobrir quem foi o médico que falsificou o documento e tentar localizá-lo.

— Obrigado. — O detetive agradeceu genuinamente.

Jungkook sabia que podia investigar sozinho, afinal, ele trabalhava em uma agência com os melhores meios tecnológicos de investigação, mas, diante das circunstâncias, não podia se arriscar a usar os servidores do FBI para tal caso.

Por ser um hacker, Caleb possuía recursos igualmente poderosos aos do FBI. Ele conseguia ter acesso a locais ocultos na internet e podia localizar uma informação com mais precisão, embora não fosse algo prático como muitos chegam a pensar.

— Eu gostaria que você me desse uma cópia de tudo o que guarda nesse pendrive — pediu Jungkook, consciente do que Caleb disse inicialmente sobre não poder compartilhar o dispositivo. — Quero saber tudo o que você encontrou sobre mim.

— Tudo bem. Mas tome cuidado para não deixar cair em mãos erradas, o que eu te falei é só a ponta do iceberg. Tem bastante coisa aqui que você precisa saber — informou o rapaz.

Jungkook parou para refletir. Ele se perguntou brevemente se estava fazendo certo em investigar o seu passado. Era esperado que muitas informações desagradáveis fossem escavadas, por isso, Jungkook pensou se devia prosseguir com as buscas. Afinal, saber ou não saber o que aconteceu naquela época não mudaria em nada a sua vida.

Ele sobreviveu a diversas circunstâncias, se tornou o diretor-assistente do FBI, tinha uma casa, um namorado, uma vida bem sucedida, então, pensou: por que se preocupar tanto com o passado? Talvez a ideia de ter um irmão gêmeo perdido em alguma parte do mundo tenha o deixado instigado a descobrir o que aconteceu com ele, mas a verdade era que Jungkook nem mesmo sabia se ele estava vivo.

— Aqui está a cópia do pendrive — anunciou Caleb, entregando ao detetive um pequeno dispositivo.

Jungkook segurou-o reflexivamente antes de dizer:

— Você guarda tudo o que encontra das pessoas investigadas?

— É uma garantia — Jungkook o encarou bem a tempo de vê-lo sorrir. — Caso alguém tente passar a perna em mim.

— Eu deveria me preocupar?

— Se você não tem intenção de me passar a perna, não.

— Controlem-se. Não dá para trabalharem juntos e desconfiados um do outro ao mesmo tempo — comunicou Seokjin, aproximando-se deles. — Vamos deixar a desconfiança de lado.

De repente, o detetive ergueu um lado da boca em um pequeno sorriso, fazendo o rapaz fitar seu gesto.

— Gostei de você, Caleb — ele disse. — Acho que temos algo em comum.

Seokjin suspirou, como se tivesse tirado uma tonelada das costas. Caleb retribuiu o sorriso, o suficiente para Jungkook entender que a impressão era recíproca. O detetive, então, guardou o pendrive no bolso da calça e se virou para Seokjin.

— Eu preciso ir agora. Yoongi deve estar me esperando. — O homem balançou a cabeça em entendimento. — Você vai ficar?

— Acho que sim. Quero trocar uma palavrinha com o Caleb. — O rapaz olhou para Seokjin de forma esquisita, como se não soubesse do que ele estava falando.

Jungkook não fez questionamentos, apenas fisgou a sua carteira do bolso da calça e tirou um rolo de notas de dentro. Antes que pudesse entregá-las para Caleb, o rapaz fez um gesto de recusa com a cabeça e disse:

— Não precisa me pagar agora. Vamos ver se conseguimos encontrar o que você procura, depois pensamos no pagamento.

— Esta parte é por você ter quebrado o pacto de silêncio que fez com o Seokmin, embora eu presuma que existam muitas coisas das quais você ainda não me disse.

— Tudo o que descobri sobre você está neste pendrive. Seokmin não ficou sabendo de tudo porque ele só queria a sua localização, nada mais. A sua irmã, Paige, também estava tentando te localizar — Caleb explicou novamente, depois suspirou. — A única coisa que não te contei foi que o Seokmin me fez visitar uma das bases secretas da CIA. Alguns dos criminosos mais perigosos do mundo estão alojados lá.

— Por que ele fez isso? — Seokjin perguntou.

— Ele não deu detalhes, só disse que talvez eu fosse precisar de alguns "meios diferentes". — Jungkook e Seokjin se entreolharam rapidamente. — É isso mesmo que vocês estão pensando. Seokmin me deu carta branca para recorrer aos criminosos, se fosse necessário. Mas eu não precisei de ninguém além de mim mesmo.

— Não me surpreende vê-lo fazer acordos com criminosos — comentou Jungkook.

— Muitos agentes da CIA fazem isso — acrescentou Seokjin, embora estivesse chocado. — Alguns fazem acordo com criminosos, já outros, traem amigos em nome do trabalho. Se Seokmin estava disposto a fazer um acordo com criminosos poderosos só para encontrar respostas para a Paige, algo me diz que eles nutrem uma relação muito íntima.

— Namorados? — Caleb supôs.

— Não me refiro a uma relação desse tipo, mas eles devem se conhecer há muito tempo. — Após ouvir a opinião de Seokjin, o detetive revirou os olhos. — Talvez sejam amigos de longa data ou tenham se envolvido de outra forma em algum momento da vida.

— Ok, esse papo já está me deixando nauseado — interrompeu Jungkook. — Eu vou para o trabalho. Me liguem se descobrirem mais alguma coisa.

— Não deve ser tão ruim assim ter o Seokmin como cunhado — Caleb desdenhou, divertindo-se com a cara que Jungkook fez.

— Você não está falando sério, né?

— E que tal um ex-diretor do FBI? — Caleb provocou, fazendo Seokjin engasgar subitamente.

— Caleb! — O homem protestou.

— Foi sem querer...

Jungkook olhou para Seokjin com olhos desconfiados, suspeitando de seu súbito nervosismo. Caleb, em contrapartida, segurou uma risadinha, parecendo esconder coisas que Jungkook desconhecia. O detetive, no entanto, preferiu levar o comentário do rapaz na esportiva, embora tenha ficado desconfiado.

— Jungkook, eu te ligo assim que souber de mais alguma coisa. — Seokjin disse, tentando mudar o foco da conversa. — Quer que eu te acompanhe até a saída?

— Não, eu sei o caminho. Obrigado — respondeu. — Aliás, Caleb, eu vou descobrir o que você está escondendo. Abra os olhos.

Caleb sorriu.

— Eu te contei tudo, detetive. Relaxa.

— Não, você não contou. Eu sei que o Seokmin não te convidaria para conhecer uma das bases secretas da CIA só para que conseguisse me localizar. Ele tinha um interesse maior por trás disso e eu vou descobrir o que era.

O sorriso de Caleb aumentou quando Jungkook piscou para ele e guardou a carteira no mesmo lugar de antes. As palavras do detetive foram sinceras, mas o hacker não se abalou com elas.

— Foi bom te conhecer, cara — Caleb disse. — Sinto que vamos nos dar muito bem.

— Ainda é cedo para dizer isso. — Jungkook esperou que Caleb murchasse, mas sua postura continuou inabalável. — Mas eu curti o seu trabalho e acho que você pode me ajudar.

— Pode confessar que você se apaixonou pelo meu trabalho. Aposto que está pensando em me convidar para fazer parte da sua equipe. — Jungkook quase gargalhou. — Olha, eu posso ser um pouco durão, mas também sei ser divertido.

— Ok, senhor-divertido, me mantenha informado. Seokjin vai te passar o meu número caso você queira me ligar.

— Puxa, eu achei que você fosse considerar a minha proposta de fazer parte da sua equipe. — Seu rosto adquiriu uma falsa expressão de mágoa. — Mas tudo bem. Fica para a próxima.

Jungkook simplesmente revirou os olhos e deu as costas, ouvindo a risada de Caleb à medida que se afastava. Ele sabia que talvez não fosse ficar feliz com as coisas guardadas no pendrive, mas uma parte sua queria conhecer o seu passado, saber das suas origens e como tudo aconteceu, mesmo que a outra parte o dissesse para esquecer.

Enquanto andava em direção à saída, Jungkook recapitulou todas as informações que lhe foram passadas por Caleb e concluiu que Paige, possivelmente, estava sendo sincera sobre o seu passado. A única coisa que ela não sabia era que o bebê que todos pensavam ser Jungkook, na verdade, viria a ser o seu irmão gêmeo.

Houveram muitas negligências por parte do hospital, começando pelo fato de não saber que sua mãe estava grávida de gêmeos e, também, por ter deixado um bebê que nasceu precocemente ser retirado da incubadora para ser levado à adoção.

Jungkook não sabia o que aconteceu, mas algo o dizia que os responsáveis pelo parto estavam envolvidos, e o que lhe assegurava essa teoria era o atestado de óbito, que, por sinal, não possuía nenhum nome, o que significava que o documento foi adulterado só para justificar a ausência de um dos bebês.

Diante desses pensamentos, Jungkook decidiu investigar o histórico do hospital em que nasceu para descobrir se já houveram casos parecidos com o seu. Se a resposta encontrada confirmar suas teorias, ele teria o prazer de jogar toda sujeira no ventilador e fazer os responsáveis pagarem pelo que fizeram.

✮✮✮

Jimin tirou a mochila das costas e a colocou no chão, próxima de seus pés; em seguida, sentou-se numa poltrona de frente para a sua psicóloga. A Sra. Griffin estava sentada elegantemente em sua poltrona, apoiando uma prancheta no colo enquanto esperava o menino se acomodar em seu assento.

Depois de resistir aos primeiros atendimentos, Jimin finalmente decidiu cumprir com a sua agenda e ir à psicóloga nos dias marcados. Ele disse a si mesmo que estava na hora de enfrentar seus temores, mas para que desse certo, ele teria de falar. Mesmo sabendo que não seria fácil dizer em voz alta as suas dores para outra pessoa, Jimin decidiu dar ouvidos aos seus sentimentos antes que fosse tarde demais.

— Olá, Jimin. Fico feliz em te ver — disse a Sra. Griffin, sorrindo educadamente.

— Me desculpe pelo atraso. Eu tive que entregar alguns livros na biblioteca antes de vir.

— Está tudo bem. Fique à vontade. — Devido aos movimentos contínuos das mãos, ela percebeu que o menino parecia nervoso. — Como tem sido a sua semana desde a nossa última sessão?

— Eu acho que estou começando a melhorar.

— No que você está melhorando?

— Bem, antes eu não conseguia entrar em um clube sem ficar desesperado, hoje em dia eu consigo ir numa festa, mesmo que o ambiente ainda me faça lembrar de alguns momentos que passei em cativeiro. — Ele fez uma pausa, relutando em prosseguir. — Eu estou melhorando, não estou, Sra. Griffin?

— Ainda há muitas questões mal-resolvidas em você, Jimin. — O menino engoliu algo duro. — Por isso sugiro que participe de todas as sessões comigo para que possamos trabalhá-las.

— Por que eu sinto que é passageiro? — Sua pergunta despertou um interesse a mais por parte da psicóloga. — Por que eu sinto que quando estou bem, no dia seguinte, as coisas vão piorar?

— Está sentindo isso agora?

— Estou. Na minha cabeça, se hoje eu estiver bem, amanhã estarei mal.

— O que te assegura de que as coisas não serão boas amanhã? — ela perguntou, fazendo-o parar um pouco para refletir.

— Acho que eu aprendi a esperar pelo pior — respondeu. — Sabe, eu tenho melhorado desde que voltei para casa, mas eu ainda sinto uma dor insuportável. Não vou mentir, estou tentando recuperar a vida que eu tinha antes de ser levado, mas a verdade é que essa dor me paralisa.

— Me fale sobre a sua dor.

— Eu tento seguir a minha vida normalmente, tento ir a boates, tento me enturmar, tento esquecer o que me aconteceu, mas sempre que estou em meu quarto, sozinho, muitas imagens ruins vêm à minha cabeça. As pessoas me olham e acham que superei, o que elas não sabem é que, por dentro, eu ainda estou destruído.

— Tentar agir conforme as pessoas ao seu redor está te ajudando? — Jimin não respondeu a princípio, em seguida balançou a cabeça para os lados. — Por que você continua tentando?

— Porque eu não quero que as pessoas me vejam como um ser humano frágil. — A Sra. Griffin continuou a olhá-lo atentamente. — Já estou acostumado a receber olhares penosos por todos os cantos, por isso não quero mais alimentar esses olhares.

— Você se vê como uma pessoa frágil?

— Às vezes.

— O que há de errado em ser frágil? — Jimin se calou, realmente desprovido de respostas. — Para você, Jimin, o que é ser frágil?

— Acho que uma pessoa frágil é aquela que desiste facilmente.

— Você se considera uma pessoa desistente?

— Não.

— Então porque você seria uma pessoa frágil? — A mulher perguntou.

Jimin parou para refletir e concluiu que o significado de frágil, para ele, não se enquadra na sua história. Ele lutou por mais de um ano em cativeiro, enfrentou todos os obstáculos para fugir desse tormento e não desistiu de encontrar sua liberdade, mesmo quando todas as portas estavam trancadas.

A Sra. Griffin, em sua pergunta, deu a ele a oportunidade de enxergar a si mesmo, de olhar para dentro e refletir sobre seus próprios significados. E, parando para pensar, Jimin chegou à conclusão de que ele não era frágil, mas, sim, mutável.

— Eu tenho muitos medos, Sra. Griffin — ele disse de repente. — Tenho medo de me tornar uma pessoa desistente. Não tem sido fácil fingir que está tudo bem. Desde que voltei para casa, estou tentando ao máximo esconder o que sinto para que as pessoas não tenham pena de mim, então tento aliviar minha própria dor sozinho.

— Tem dado certo para você?

— Não, porque ela sempre volta. — Ele abaixou a cabeça, sentindo-se envergonhado. — Mas eu estou começando a perceber que recusar qualquer ajuda está me fazendo piorar. Às vezes, me sinto em um beco sem saída, por isso decidi vir em todas as sessões.

— Isso é muito bom, Jimin. Você reconhece que precisa de ajuda e que não pode lidar com o sofrimento sozinho. Muitos adolescentes da sua idade se recusam a encarar que precisam de ajuda, o que acaba levando muitos deles a entrarem em adoecimento psíquico até a fase adulta.

— Meus pais me incentivaram a vir, mas eu estava muito resistente. Na verdade, ainda tenho dificuldade em dizer muitas coisas, só que agora eu percebo que me esconder não vai me livrar desse sofrimento.

A Sra. Griffin sorriu docemente.

— Existem muitas barreiras em você, Jimin, mas aos poucos vamos ultrapassá-las. — O menino balançou a cabeça em concordância. — Não se culpe por isso. A sua desconfiança certamente se dá pelo fato de você ter passado muitos meses trancado em um lugar desconhecido, com pessoas que quebraram sua confiança em inúmeros aspectos. É normal se sentir inseguro.

— Eu fui traído de muitas formas. — Ele fez uma pausa. Enquanto isso, a mulher esperava em silêncio, sabendo que ele guardava mais coisas. — Acho que a pior decepção foi descobrir que a minha mãe sabia de tudo. É horrível, sabe? Muitas pessoas me enganaram nesse período, mas saber que a minha mãe também estava envolvida me destruiu. Desde então, eu venho pisando em ovos para não ser enganado de novo.

— Gostaria de falar sobre a sua mãe? — Os olhos do menino deram um breve solavanco. — Vejo que você guarda muitas coisas em relação a ela.

— Não há nada para ser dito, Sra. Griffin.

— Tem certeza, Jimin? — Ele sabia que a resposta era não, mas não se arriscou a dizê-la. — Nas nossas sessões anteriores, você também trouxe a sua mãe, o que me leva a pensar que há muitas coisas sobre ela que você reprime.

Jimin ficou em silêncio, mas seus pensamentos dispararam em retrospectiva. Ele gostaria de imaginar a fisionomia de Hyeri e não sentir nada além de ódio, mas, infelizmente, não era ele quem controlava os sentimentos.

Durante os últimos meses, Jimin passou a se perguntar se deveria dar uma chance de sua mãe se explicar, visto que no último encontro ela não pôde dar a sua versão da história. No entanto, o garoto temia que a resposta dela pudesse arruiná-lo ainda mais.

— Eu tenho vontade de vê-la — Finalmente confessou. — Mas não sei se ela merece a minha atenção depois de tudo o que me fez. Sei lá, eu só queria entender o porquê dela ter feito isso. Talvez, no fundo, eu esteja tentando me convencer de que a minha mãe não é esse monstro.

— Quais seriam as vantagens de encontrá-la?

— Eu finalmente entenderia as intenções dela e saberia quais foram os motivos que a levaram a esconder a verdade da polícia.

— E as desvantagens?

Silêncio.

— Não sei o que esperar dela — respondeu. — Tenho medo de sofrer ainda mais com essa história. Eu só queria esquecê-la, mas sinto que algo está faltando.

— O que você acha que está faltando?

Antes que as palavras fossem rebocadas para fora de sua garganta, Jimin sentiu os olhos encherem de lágrimas. Ele, provavelmente, se arrependeria de dar aquela resposta, mas não podia guardar o que sentia por muito tempo.

— Encontrar a minha mãe — ele disse com um gosto amargo na boca. — É isso que falta: encontrar a minha mãe. Estou sendo um idiota, não estou?

— Por quê?

— Porque eu quero me encontrar com uma pessoa que não se importa comigo — respondeu. — Eu sei que estou sendo um idiota por querer vê-la, mas não posso fugir disso. É a minha mãe!

— Você a ama?

— Sim, ela é minha mãe.

— Não, Jimin, estou perguntando se você ama Park Hyeri como pessoa, não como mãe. — O menino congelou brevemente na cadeira. — Olhe para essa mulher na sua cabeça, sem o título de mãe, e diga-me se você a ama.

— Por que a senhora está me perguntando isso?

— Muitos filhos se sentem obrigados a amar os seus pais simplesmente por serem pais e ignoram os comportamentos nocivos por parte dos genitores. É muito comum que os filhos venham a ficar doentes por se sentirem divididos entre fazer aquilo que gosta e fazer aquilo que os pais gostam.

— Eu deveria odiar a minha mãe, então?

— Você a odeia? — A Sra. Griffin devolveu-lhe a pergunta, sabendo que ele era o único que tinha a resposta.

Jimin sentia-se confuso quando parava para refletir sobre suas emoções, porque elas colocavam-no dentro de um conflito interno, onde a resposta variava a cada minuto. Às vezes chegava a pensar que seus sentimentos em relação às coisas eram claros, mas, na verdade, tudo era tão escuro que nem ele mesmo conseguia discernir.

— Não sei o que sinto por ela, Sra. Griffin, mas gostaria de saber. — Depois de alguns segundos preso em sua constelação reflexiva, Jimin respondeu.

— Você está confuso porque há um conflito entre os seus sentimentos e os fatos ocorridos — ela pontuou. — Veja bem, você sabe o que sua mãe fez, sabe que ela te machucou, porém, quer vê-la mesmo assim porque ainda existe uma ligação entre vocês, e não há nada de errado nisso. Enquanto você não tiver uma resposta sobre o que aconteceu, esse conflito continuará existindo.

— A senhora acha que eu devo visitá-la na prisão?

— É isso que você quer? — ela refutou com uma pergunta.

— Acho que sim.

— Então faça o que você tem vontade de fazer. — Um sorriso gentil cresceu em seus lábios rosados. — Na próxima sessão eu gostaria de saber como foi esse encontro.

Jimin balançou a cabeça em concordância, embora não tivesse certeza de que aquela decisão era a correta. Reencontrar a sua mãe depois de meses não parecia uma boa ideia, mas ele estava disposto a procurar por respostas. Se o encontro planejado não o fizesse bem, pensou, ele continuaria seguindo o seu caminho.

— Você mencionou que quando está sozinho muitos pensamentos ruins aparecem — recapitulou a psicóloga, checando o papel em sua prancheta antes de voltar a olhá-lo. — Como são esses pensamentos?

— Eu continuo sentindo medo dele, mesmo sabendo que ele está morto. — Apesar de não citar o nome do responsável, a mulher sabia a quem ele se referia. — Ainda consigo sentir os toques, e toda vez que isso acontece, eu começo a chorar.

Jimin fez uma pausa e respirou fundo enquanto a mulher esperava-o em silêncio.

— É difícil olhar para trás porque eu consigo me lembrar de todos os momentos que passei com ele — continuou. — Derek me humilhou diversas vezes, mas não foi só ele que me machucou. Eu fui forçado a me deitar com vários homens, não sei dizer qual deles foi o pior. Então toda vez que estou sozinho, olho para trás e me vejo como um objeto.

— Você ainda se enxerga dessa forma?

— Às vezes, sim — respondeu. — Confesso que esse sentimento diminuiu um pouco depois de eu ter conhecido meu namorado. Ele demonstra gostar de mim do jeito que sou, mas o grande problema é que eu não consigo gostar de mim do jeito que sou. Tenho dificuldades em me olhar no espelho porque as únicas lembranças que vêm à minha cabeça são essas. — Ele fez uma pausa para não sucumbir ao choro. — Tenho vergonha, sabe? Tenho vergonha de olhar para as pessoas e imaginar o que elas estão pensando de mim.

— Por que te incomoda o que as pessoas pensam de você?

— Porque não quero ser visto apenas como uma vítima de tráfico humano — desabafou.

— Será mesmo que são as pessoas que te veem como uma vítima ou é você quem está se colocando nesse lugar sem perceber? — De repente, tudo caiu em um completo silêncio.

Aquela pergunta fez todos os nervos do garoto chisparem. Tudo o que Jimin acreditava estar vendo foi arremessado para o espaço. Ele chegou à conclusão de que, possivelmente, algumas de suas percepções não estavam totalmente corretas e o problema maior era descobrir quais eram elas.

Olhando para o contexto, ele acreditava que essas percepções partiam de suas crenças internas, o que, claramente, davam a ele a oportunidade de enxergar o mundo e as pessoas de sua forma, o que não significava que elas nunca estariam equivocadas. Na verdade, como explicado pela Sra. Griffin na primeira sessão, alguns pensamentos podem vir a se tornar disfuncionais por causa dessas crenças.

Jimin sabia quais eram as causas que o faziam se sentir descartável, inseguro, desconfiado e desgostoso com o próprio corpo, porém não sabia como reverter essas ideias. Ele gostaria de pular para a parte em que ficava livre desses problemas, mas, na verdade, tinha de ser paciente com o seu tempo.

— Nossa sessão está chegando ao fim, Jimin — informou a Sra. Griffin, atraindo os olhos dele de encontro aos seus. — Antes de finalizar, gostaria de pedir a você para que seja um pouco mais paciente com o seu tempo. Eu percebo que você ainda tem dificuldades em ser verdadeiro com os seus sentimentos para com as pessoas ao seu redor, talvez por medo de machucá-las, e por isso tenta apressar as coisas mesmo não estando psicologicamente preparado para lidar.

— Eu... Eu faço isso com frequência. — Sua expressão entristeceu.

— Seja sincero com você mesmo, respeite os seus limites e não perca de vista os seus sentimentos. — Ela sorriu amigavelmente. — Como você gosta de escrever e desenhar, transferir suas emoções e pensamentos para a caneta podem te ajudar.

Jimin ficou brevemente pensativo, considerando a sugestão dela. Lembrou-se de quando estava em sua cela e passava horas desenhando no caderno todas as suas fantasias sentimentais. A sensação que tinha era de que o mundo real não existia e, mesmo que instantaneamente, toda tensão em seu corpo diminuía.

— Eu farei isso, Sra. Griffin — ele informou, sorrindo. — Quero que veja o meu caderno também. Tem muitas coisas lá das quais eu não consigo falar.

— Seria muito bom, Jimin. Estarei te esperando na próxima semana para que possamos falar de seus desenhos.

Ao ver o ponteiro marcar o fim do atendimento, Jimin recolheu sua mochila do chão e colocou-a nas costas. A mulher o acompanhou até a recepção e o esperou agendar a próxima sessão com a secretária para, então, se despedir com um gesto amigável de cabeça. Como em todas as outras vezes em que compareceu às sessões, o menino estava se sentindo mais leve.

Após retirar-se do local, Jimin respirou fundo e procurou o celular na bolsa. Ele tinha passado em uma loja antes de ir para o colégio só para comprar um celular novo depois de decidir deixar o antigo aparelho nas mãos do FBI.

Jimin pensou em ligar para Hannah para avisar que estava indo visitá-la, mas desistiu no último minuto. A verdade era que ele não estava indo apenas para visitá-la, mas, também, para informá-la sobre a audiência que aconteceria em menos de 24 horas. O assunto ainda gerava incômodos, portanto Jimin preferia falar pessoalmente.

Segundos depois, Jimin atravessou a rua em direção ao seu motorista, que segurava um saco de batatas fritas enquanto esperava-o encostado no capô do carro. Ao avistar o garoto se aproximando, o homem aprumou as costas e abriu a porta para que ele passasse. Jimin agradeceu com um sorriso e se pôs para dentro do veículo rapidamente.

Embora Christopher não estivesse presente, ele ordenou para que o seu motorista de confiança ficasse responsável por transportar Jimin para qualquer lugar sempre que ele o chamasse. O homem de cabelos grisalhos e rugas nas laterais dos olhos sentiu-se contente com a proposta, pois ele amava estar perto do garoto e até o tratava como um neto.

✮✮✮

Como a rua em que Taehyung morava era muito sinuosa e movimentada, Jimin pediu para o seu motorista estacionar numa vaga distante para não atrapalhar a passagem dos pedestres e dos ciclistas que por lá passavam.

Ele deixou a mochila no carro e andou em direção à casa do amigo. Os raios solares estavam muito quentes naquela manhã, o suficiente para arder o rosto do garoto. Por sorte, ele sempre usava protetor solar antes de sair de casa, e quando esquecia, Seokjin o lembrava.

Antes de chegar ao seu destino, Jimin se deparou com uma cena estranhamente suspeita. À distância, Hannah estava conversando com um homem muito mais velho do que ela e ambos pareciam se conhecer, o que, obviamente, incomodou Jimin.

Sua amiga olhava para os lados a cada dois segundos, como se estivesse em alerta. O que quer que ela estivesse conversando com aquele sujeito, pensou Jimin, o assunto a perturbava. Quando o garoto fez menção de ir até lá para afrontar o desconhecido, seus olhos captaram um objeto minúsculo sendo entregue nas mãos de Hannah.

Desconfiado, Jimin se escondeu atrás de uma casa para continuar observando a cena. Como ele estava a quase três metros de distância, não era possível ouvir a conversa, mas a forma como Hannah estava se comportando diante do homem o deixou intrigado. Portanto, ele pegou o seu celular no bolso traseiro da calça e tirou fotos do rosto do marmanjo.

O garoto não sabia se essa estratégia funcionaria, mas não podia deixar aquele episódio passar em branco. Nas últimas semanas, Hannah tem se mostrado diferente em relação a ele, o que culminou em pensamentos adversos por parte de Jimin. Ele até chegou a cogitar a possibilidade de Hannah ainda estar dentro das memórias de Lauren, o que explicaria seu grande interesse em defender Derek.

Ele observou Hannah guardar a peça na meia de seu sapato enquanto o homem continuava a falar, parecendo instruí-la de algo. O coração de Jimin apertou, mas ele não se deixaria enganar por suas emoções de novo. Se as memórias de Hannah estiverem adormecidas, então a pessoa com quem ele estava lidando era Lauren, cuja índole não se podia confiar.

Depois de registrar o momento, Jimin guardou o celular e voltou a observar a dupla. Ele não sabia o que fazer com aquelas imagens, mas conhecia uma pessoa capaz de o ajudar: Jungkook. Seu namorado podia usar as fotos que ele tirou para descobrir quem era o homem misterioso ao lado de Hannah.

Minutos depois, o marmanjo colocou o capuz na cabeça e deu as costas para Hannah, deixando-a parada no mesmo lugar. Jimin se escondeu às pressas quando a garota fez uma breve inspeção no lugar em que ele estava. Em seguida, ela caminhou em direção à porta e entrou na casa.

Ainda confuso, o garoto folheou suas opções mentalmente: ele podia voltar para o carro e levar as fotos para Jungkook ou ir até a casa de Taehyung para conversar com a amiga fingindo não ter visto nada. No fim, Jimin decidiu fazer as duas coisas, mas, primeiro, jogaria verde para obter mais informações sobre aquele encontro inesperado.

Jimin optou por tocar a campainha ao invés de usar a cópia da chave que Taehyung havia lhe entregado. Em instantes, Hannah abriu a porta, mas ao se deparar com a imagem de Jimin, a expressão em seu rosto não foi de felicidade e, sim, de surpresa.

— Jimin?

— Oi. — Mentalmente, ele instruiu a si mesmo a não agir de forma estranha. — Eu pensei em te avisar que estava vindo, mas decidi fazer uma surpresa.

Hannah sorriu, mas diferente das outras vezes, seu gesto foi de nervosismo. Jimin não conseguia evitar especular que o motivo por trás da reação dela tinha a ver com o homem misterioso.

— Bem, acho que você conseguiu — disse Hannah. — Por favor, entre. Se eu soubesse que você estava vindo, teria cozinhado um pouco mais.

— Não se preocupe com isso, vai ser rápido. — ele informou, passando por ela instantes depois. Jimin queria, obviamente, arrancar respostas de sua amiga sem parecer que estava desconfiando dela. — Eu te vi conversando com um homem assim que cheguei. Ele é um dos seguranças que o FBI contratou para te proteger?

Jimin não conhecia todos os rostos dos agentes do FBI, mas tinha quase certeza de que o sujeito estranho não fazia parte da equipe, e o que assegurou essa teoria foi a reação que Hannah esboçou ao ouvir a pergunta. O corpo da garota paralisou subitamente, dando à Jimin mais combustível para a sua desconfiança.

— Não, era só uma pessoa qualquer pedindo uma informação. — A resposta de Hannah fez o corpo de Jimin congelar, pois ele sabia que era mentira. — Bem, o que você veio fazer aqui? O Taehyung ainda não chegou, acho que ele vai demorar um pouco.

Por um momento, Jimin quase mencionou o objeto que o sujeito deu a Hannah, mas ele controlou-se para não transparecer que sabia que ela estava mentindo. Em vez disso, optou por usar uma abordagem diferente.

— Eu não estou aqui pelo Taehyung, estou aqui por você — respondeu. — Talvez você tenha esquecido, mas sua audiência com o juiz é amanhã. Então pensei em vir te buscar para irmos para minha casa.

— Por quê?

— Para que possamos ir juntos amanhã. — Ele fez uma pausa rápida. — A não ser que você não queira...

— Claro que quero — ela sorriu, tensa, mas educada. — Mas eu acho melhor você vir me buscar aqui amanhã. Não tem problema, tem?

— Não.

— Olha, não tenho nada contra o seu pai, mas eu prefiro ficar aqui, sabe? Eu já estou me adaptando a esta casa. — Jimin continuou a olhá-la enquanto se perguntava o porquê de ela estar se justificando. — Aliás, você só veio aqui por isso?

— Uhum — Sua voz ficou presa na palavra. — Está tudo bem? Você parece um pouco nervosa.

— Eu? — Jimin balançou a cabeça em um sim. — Não, eu estou bem. Não é nada demais.

Hannah olhou rapidamente para os próprios pés e voltou a sorrir. Jimin percebeu, instantaneamente, que ela parecia com pressa, o que serviu para deixá-lo ainda mais intrigado. Aparentemente, sua amiga tinha algo para fazer e ele estava atrapalhando-a.

Ciente disso, o garoto tirou a mochila das costas e sentou no sofá, esperando que Hannah fizesse o mesmo, entretanto, ela continuou imóvel no mesmo lugar. Segundos depois, a garota virou-se de frente para ele e cruzou os braços, sem saber o que dizer.

— Você não está nem um pouquinho ansiosa para amanhã? — perguntou Jimin, apenas para incitar uma conversa.

— Na verdade, nem tanto — respondeu. — Independente do que acontecer, eu vou ficar bem.

— Você acha que vai conseguir ficar bem dentro de uma prisão? E ainda por cima grávida?

Hannah deu de ombros.

— Não é grande coisa. — O garoto, realmente, ficou surpreso com aquelas palavras. — Você não tem que se preocupar com isso, Jimin. Não precisa gastar o seu tempo tentando ser a minha babá, eu posso me cuidar sozinha.

— Não quero ser a sua babá, quero estar ao seu lado como um amigo.

— Não me leve a mal, por favor, só não quero que você gaste seu tempo comigo. — Jimin endureceu a mandíbula quando Hannah se aproximou e se agachou em sua frente. — Eu amo você, Jimin, por isso odeio te ver tão preocupado com uma menina perturbada como eu. Sei que você gosta mais da antiga Hannah, mas eu estou tentando crescer sozinha.

— O que há com você? — Hannah enrugou a testa em confusão. — Por que está me afastando? Caramba, Hannah, eu estou tentando ser o seu amigo de novo porque acredito que posso reconquistar a sua confiança, mas você está resistindo.

— Não estou resistindo. — As coisas ficaram estranhamente silenciosas por um tempo. — A verdade é que eu tenho medo de me tornar um fardo. Não quero que você pare a sua vida por minha causa. Se eu for presa, você vai continuar vivendo aqui fora.

— Eu tenho certeza de que você não vai ser presa.

— Espero que você esteja certo. — Ela sorriu e segurou as mãos dele. — Mas se eu for, não quero que você fique tão focado em mim. Aproveite a sua vida, Jimin. Você tem família, amigos e pessoas que se importam com você. Eu, por outro lado, não tenho ninguém além de você.

— E mesmo assim você quer que eu fique longe? — Hannah engoliu em seco. — Se eu sou a única pessoa que você tem, por que quer me afastar?

No fundo, Jimin sabia que esse pedido nunca seria feito pela Hannah que ele conhece, o que dava a ele a certeza de que a personalidade de Lauren ainda estava impregnada nela. Segundos depois, Hannah sentou ao lado dele e respirou fundo antes de dizer:

— Eu sou uma má influência para você. — As sobrancelhas do garoto se ergueram. — Se as pessoas souberem o que fiz, não sei se vou ser chamada de heroína ou de assassina. Se eu for presa, então, aí será muito pior.

— Não estou nem aí para essas pessoas. — Ele pareceu convicto ao dizer. — Não importa qual seja o veredito, eu não vou te abandonar. Você arriscou sua vida por mim, posso arriscar a minha por você também.

— E-Eu arrisquei minha vida por você?

Por algum motivo, essa parte a interessou. Ela ficou levemente assombrada ao saber que tinha se arriscado para salvar a vida de Jimin, embora não conseguisse pensar a que tipo de risco ele se referia.

— Você se deixou ser sequestrada só para me encontrar. — O garoto contou. — Tentamos fugir várias vezes, mas não conseguimos sair daquele inferno. Era você quem cuidava dos meus ferimentos.

— Nós éramos carne e unha?

— Sim, quase isso. — Ele sorriu ao se lembrar das atitudes ardilosas de sua amiga para enganar os capangas. — Você sempre usava sua criatividade para tentar fugir. Às vezes dava certo, mas você nunca ia muito longe.

— Me sinto mal por não lembrar de nada...

— Está tudo bem. — Quando Hannah desviou o olhar para baixo, Jimin prosseguiu: — Por isso tenho certeza que se as pessoas souberem pelo que passamos, você será vista como uma heroína, não uma assassina.

— Nem mesmo eu sei o que passei.

— Existem muitas provas, Hannah, e todas elas devem ser apresentadas amanhã. — A cabeça dela recuou um pouquinho, assustada. — As meninas que estiveram conosco durante esse tempo vão depor a seu favor amanhã. Meu pai, inclusive, vai depor também. Então, como você não se lembra de nada, é provável que os relatos te assustem um pouco.

— E quem vai depor contra mim? — Jimin arqueou os ombros, indicando desconhecimento. — Ok, isso é um pouco estranho.

— Vai dar tudo certo. Todo mundo sabe que você passou por coisas terríveis, ninguém vai te julgar por ter feito o que fez. — A expressão de Hannah estava menos inquieta, porém alerta. — Quando o seu advogado provar que você sofreu um lapso de memória, tenho certeza que o juiz vai te declarar inocente.

O silêncio de Hannah fez Jimin perceber que ela não estava tão confiante quanto ele. Apesar de estar demonstrando preocupação pelo futuro da amiga, Jimin ainda estava muito desconfiado. A cena de Hannah conversando com um estranho e recebendo um objeto dele não saía de sua cabeça.

O que quer que ela tenha recebido do homem, o garoto suspeitava que fazia parte de um plano. Mesmo que estivesse errado, Jimin tinha de se prevenir, pois as intenções de Lauren eram inacessíveis, podendo ser, até mesmo, fatais.

— Eu vou tomar um banho antes de comer — Hannah disse, levantando-se. — Você quer se juntar a mim na mesa?

— Infelizmente não vai dar, eu já marquei de almoçar com o Jungkook — mentiu. — Podemos almoçar juntos outro dia.

— Tudo bem. — Jimin pensou em dar um tapa na sua própria testa quando seus olhos, automaticamente, procuraram uma maneira de escapar dos observadores olhos de Hannah. Aparentemente, ela não acreditou em sua desculpa. — Como ele está?

— Quem?

— Seu namorado. Como ele está?

Hannah raramente perguntava sobre Jungkook, o que, querendo ou não, o deixou com uma pulga atrás da orelha. Ele limpou a garganta quando percebeu que sua boca estava aberta e tentou não demonstrar sua confusão.

— Ele está bem. — respondeu.

— Ele vai ao baile com você?

— Sim.

Hannah sorriu, mas seu gesto não durou mais que três segundos.

— Eu estive pensando — ela continuou. — Se tudo der certo no tribunal amanhã, acho que vou ao baile com vocês para comemorar. O que acha disso?

Jimin não gostou de pensar no que um possível encontro entre Hannah e Josh poderia trazer. Depois do que Vernon disse, o garoto passou a olhar aquela situação com outros olhos. Por um momento, Jimin considerou melhor contar a verdade.

— Talvez não seja uma boa ideia. — A garota enrugou a testa para o seu comentário. — Seu ex-namorado vai estar lá e ele não gosta muito de você. Fiquei sabendo que ele sente muita raiva de você, então é melhor evitá-lo.

Hannah riu.

— Sabe que agora eu fiquei mais curiosa para ver a cara desse babaca? — ela disse.

— Hannah...

— Eu não tenho medo dele. — Ainda não, Jimin pensou. — Além do mais, vou estar perto do seu namorado que é detetive. Ele não deve ser homem suficiente para encarar um agente do FBI.

— Acho melhor você não ir. — ele reforçou.

A garota bufou, como se ele estivesse exagerando.

— Eu vou tomar um banho. Te vejo amanhã? — Sua pergunta fez Jimin entender que ela estava expulsando-o.

O menino não ficou chateado por ela ter fugido do assunto propositalmente, mas por ter expulsado-o sem mais nem menos. Por mais discreta que a atitude de Hannah tenha sido, Jimin não deixou de notá-la.

— Sim, claro — respondeu, por fim. — Eu já vou indo.

Ele não esperou por mais palavras de despedidas vindas de Hannah, apenas pegou a mochila no sofá e seguiu em direção à porta. Jimin pensou em dizer que esperaria por Taehyung só para descobrir o que Hannah guardava na meia do sapato, mas não sabia que horas o amigo chegaria em casa. Portanto, sua única alternativa foi ligar para Jungkook assim que dobrou a esquina.

A ligação caiu na caixa postal, mas o menino não desistiu e continuou insistindo. Todas as suas tentativas caíram na caixa postal, o que o deixou estranhamente confuso. Jungkook nunca demorava para atender suas chamadas, então, Jimin pensou, isso significava que ele estava ocupado no trabalho.

Depois de pesquisar suas opções mentalmente, Jimin decidiu ir à sede do FBI em busca de Jungkook. Ele pensou em esperar até o anoitecer para ligar novamente, mas a foto do sujeito que estava em seu celular podia ser de alguém pertencente à máfia, portanto, o FBI tinha de saber.

Rapidamente, o menino correu em direção ao seu motorista e informou o lugar para onde iria, fazendo o homem atender a seu pedido sem questionamentos. Eles entraram no veículo e foram à caminho do prédio do FBI. À medida que o carro se afastava, Jimin pôde ver a silhueta de Hannah na janela do andar superior, olhando-o à distância.

Ele sabia que a garota não estava enxergando-o devido a obscuridade das janelas do carro, mas ele, em contrapartida, conseguia observá-la muito bem. Jimin só parou de olhá-la quando ela fechou as cortinas e desapareceu, deixando-o bizarramente com medo.

Jimin sentiu o celular escorregar das mãos, o suficiente para ele perceber que estava suando. O motorista pareceu notar o nervosismo do garoto, principalmente quando as pernas dele começaram a balançar continuamente.

— Está tudo bem, Jimin? — perguntou o velho.

— Eu espero que sim.

Vinte minutos depois, o carro entrou em uma área arborizada e cheia de veículos estacionados. Lá estava o prédio do FBI, com sua bandeira e símbolos estampados. Homens uniformizados protegiam a entrada do edifício enquanto os estagiários tinham de mostrar suas credenciais para entrar.

Jimin sabia que não o deixariam passar só por ser namorado do diretor-assistente, mas se usasse o argumento de que tinha algo para mostrar ao FBI, talvez sua entrada fosse liberada. Antes de sair do carro, o menino pediu para o seu motorista estacionar um pouco mais afastado da área de inteligência e esperá-lo, pois não demoraria.

Mentalmente, ele rezou para os seguranças liberarem a sua entrada ou teria de esperar Jungkook voltar para casa para mostrar a foto do homem misterioso. Jimin esperava que a primeira opção desse certo, pois estava nervoso demais para aguardar até mais tarde.

— Oi. — ele cumprimentou o guarda assim que se aproximou da entrada do edifício. O homem o encarou dos pés à cabeça, mas não o respondeu. — Eu estou aqui para falar com o detetive Jeon. Sou o namo-

— Eu sei o que você é do diretor Jeon. — o sujeito o interrompeu. — Mas para entrar na agência, você precisa ter uma credencial ou estar acompanhado por alguém que trabalha aqui; e eu suponho que você não está com nenhuma das duas, não é mesmo?

— Não, senhor.

— Então eu lamento. Ligue para o diretor e peça para ele vir falar comigo, assim posso liberar a sua entrada.

— Eu não estou conseguindo falar com ele. Me deixe passar só dessa vez. Eu prometo que será rápido, ninguém vai me notar.

— Este prédio está lotado de câmeras de vigilância, todos iriam te notar. Além do mais, eu só estou fazendo o meu trabalho, então, rapazinho, dê meia volta e retire-se, por favor.

Os ombros do menino murcharam, pois ele sabia que não havia outra saída a não ser ligar para Jungkook novamente e torcer para que ele atendesse. No entanto, antes que pudesse discar o número dele, alguém apareceu.

— O que está rolando aqui? — quando Jimin levantou a cabeça, encontrou Layla ao lado do segurança, olhando-o com surpresa. — Está tudo bem, baixinho?

— Eu preciso falar com o Jungkook, mas não posso entrar porque não tenho a credencial — respondeu. — Tentei ligar diversas vezes, mas ele não atendeu. Você sabe me dizer se ele está aí?

— Sim, ele está em reunião. — ela esticou a mão, fazendo o menino olhar, de repente, para o seu gesto. — Venha, vou te levar até ele. Nick, deixe-o passar, eu me responsabilizo pela entrada do Jimin.

— Ok — respondeu o homem.

O garoto não reagiu a princípio. Ele agradeceu Layla com um sorriso tímido, em seguida segurou sua mão e deixou-se guiar para o interior do edifício. Jimin estranhou a presença de Layla na agência, uma vez que Jared havia dispensado-a.

Layla usou seu cartão-chave para passar por uma porta de aço que ficava no final do corredor. Seguindo-a, Jimin observou algumas salas diferentes com senhas na porta. Ele já tinha ouvido falar que o prédio era cheio de corredores e salas secretas, mas seu sexto sentido o dizia para ficar longe desses segredos inteligentes da agência.

Enquanto caminhavam em silêncio, Jimin perguntou de repente:

— Por que você está aqui? — Layla lançou um olhar confuso em sua direção. — Digo, o Jared te dispensou, não?

— Como você soube disso?

O garoto engoliu em seco antes de dar a sua resposta.

— Jungkook.

Layla riu.

— Seu namoradinho é muito fofoqueiro, hein. — Jimin escondeu uma risada, sentindo-se enrubescer. — Mas, sim, eu ia ficar com o Ric no hospital, mas ele já está bem melhor. Em breve ele vai ser liberado, por isso eu quis voltar às atividades.

— Espero que ele fique bem o mais rápido possível.

— Eu também, baixinho.

Jimin foi levado para uma área repleta de salas conjuntas, o que o fez pensar que cada uma delas pertencia a um determinado agente-líder. À distância, o garoto encontrou a silhueta de Jungkook para além das persianas de uma das salas. Ele estava parado de braços cruzados enquanto ouvia as instruções de Jared.

— Eu vou chamá-lo. — Layla informou.

— Acho melhor esperá-lo, não?

— Jungkook deve estar rezando para alguém atrapalhar a reunião. Você sabe, Jared só fala abobrinhas. — Ela piscou o olho em sua direção e apontou para a sala em que eles estavam. — Vou chamá-lo, me espere aqui.

Apesar de não estar de acordo com a decisão de Layla, o garoto não a impediu de ir atrás de Jungkook. Então, só restou a Jimin esperar sentado. Ele rezou para não ter sido uma má ideia atrapalhar a reunião de Jungkook com o inspetor só para falar sobre Hannah.

Quando Layla bateu na porta e entrou segundos depois, o coração de Jimin começou a acelerar. Enquanto isso, alguns olhares clandestinos e cheios de confusão caíram sobre ele, fazendo-o pescá-los rapidamente. Jimin suspeitou que a maioria deles estava se perguntando o porquê dele estar em um lugar, teoricamente, para agentes do governo.

— Jimin? — A voz de Yoongi chamou a sua atenção. Ele estava parado a um metro de distância, segurando alguns documentos em mãos. — O que está fazendo aqui?

— Eu-

— Como te deixaram entrar? — Novamente, quando Jimin ameaçou falar, Yoongi o cortou. — Olha, não sei se você sabe, mas pessoas que não fazem parte do FBI não podem entrar. Sinto muito, mas você tem que ir embora.

— Layla me deixou entrar — ele respondeu antes de Yoongi o pegar pelo braço para levá-lo à saída. — Ela disse que eu podia entrar para falar com o Jungkook.

— Falar com o Jungkook?

— É, eu tenho que mostrar uma coisa para ele. É urgente.

Yoongi riu, fazendo Jimin desconhecer o motivo da graça.

— Você não veio até aqui só para marcar outra surpresa para ele, né? — O menino espremeu os olhos diante de sua pergunta estúpida. — Qual é, Jimin, aqui é o ambiente de trabalho do Jungkook, ele não pode parar uma investigação para resolver questões pessoais. Se o inspetor souber que ele está-

— Já chega de falar besteiras, Yoongi. — Ele realmente se irritou. — Não vou cair nas suas ladainhas, tá? Se a minha presença for prejudicar o Jungkook, eu vou embora, mas só depois de ouvir da boca dele que eu não posso estar aqui. Fim de papo.

— Calma, eu só estou pensando na reputação do meu parceiro. Não quero que ele sofra punições.

— Você não acha que sua preocupação já passou dos limites, não? — Silêncio. — Cuidado para não confundir obsessão com preocupação.

— Do que está falando?

— Não é de hoje que você se diz muito preocupado com a carreira do Jungkook, sendo que ele é adulto e sabe das consequências. Acho que seria melhor se você parasse de se preocupar e começasse a pensar em si mesmo. Neste lugar não tem psicóloga?

— O que deu em você?

O garoto bufou, irritado, mas tentou controlar o veneno em suas palavras.

— Olha, eu só preciso falar com o meu namorado, tá bom? Esquece o que eu falei. — Yoongi continuou encarando-o, mas sem dizer nada. — Não acordei de bom humor.

— Eu percebi.

Ao notar a sua brusca mudança de humor, Jimin pensou em se desculpar pelas palavras tão duras, mas acabou não o fazendo. Yoongi tinha que parar de se meter no seu relacionamento com Jungkook, pensou, e talvez a única forma de fazê-lo perceber que estava passando dos limites seria tratá-lo assim.

— Anjo.

Os olhos do menino correram desesperados para o dono daquela voz, onde observou Jungkook vindo em sua direção às pressas. Jimin pensou em abraçá-lo, mas uma parte sua o alertou que eles não estavam sozinhos. Portanto, seu cumprimento foi sorrir. Layla estava acompanhando Jungkook, mas em um certo momento ela parou, mantendo uma distância respeitável do casal.

— Layla disse que você estava aqui, isso me deixou preocupado. Aconteceu alguma coisa? — O detetive perguntou ao se aproximar.

— Eu preciso conversar com você.

Ao analisar os olhos ansiosos do garoto, Jungkook concluiu que o assunto a se tratar era apenas entre os dois. Yoongi, desconfiado, olhou para ambos como se perguntasse o que estava rolando, mas, ainda assim, ele não se meteu.

— Vamos para a minha sala. — Jungkook o chamou com um gesto.

Ele podia parecer sério sob os olhares de outros, mas Jimin sabia que aquela era a expressão que seu namorado fazia quando estava preocupado. Embora Jungkook tentasse não demonstrar na frente dos demais, o garoto o conhecia como um livro aberto.

Jimin o seguiu até uma sala próxima às outras, mas essa, em questão, possuía o nome de Jungkook fixado na porta. O detetive abriu-a com seu cartão-chave e a segurou aberta para que o garoto entrasse. Segundos depois, ele a trancou com um clique e fechou as persianas discretamente.

Sozinhos, Jungkook virou-se de frente para Jimin e segurou seu rosto com as mãos. Ali, portanto, ele não se importou em revelar os traços de preocupação em seu rosto.

— O que aconteceu, meu bem? — perguntou.

— Eu tentei te ligar, mas você não atendeu. Se eu estiver atrapalhando alguma coisa, posso ir embora e...

— Não, você não está. — Ele beijou sua testa e voltou a perguntar: — O que aconteceu?

Jimin tentou ignorar o fato de Jungkook não ter explicado o motivo de não ter atendido suas ligações, afinal, ele estava em reunião com o inspetor, e contou o que estava acontecendo.

— Eu fui na casa do Taehyung para falar com a Hannah e a vi conversando com um homem estranho. Ela disse que era uma pessoa qualquer pedindo informações, mas eu sei que é mentira porque ele deu um objeto para ela.

— Você viu que objeto era?

— Não, mas eu tirei fotos do cara — ele disse, pegando o celular para mostrar as imagens à Jungkook. — Na hora eu só pensei em tirar as fotos para te mostrar, talvez você consiga identificá-lo nesses programas de reconhecimento facial.

O menino pôs o celular nas mãos de Jungkook, que estudou os traços fisionômicos do homem com atenção, porém, em sua memória, ele não se recordava de o ter visto antes. O detetive observou que próximo do colarinho da camisa aberta do sujeito haviam duas pequenas cicatrizes brancas.

— Se não fosse importante eu teria esperado você sair do trabalho — disse Jimin após vê-lo tão concentrado nas fotos. — Eu acho que esse cara pode ser da máfia, por isso decidi vir atrás de você o mais rápido possível. Sabe-se lá o que eles estão aprontando. O FBI não acabou com a máfia inteira, então, querendo ou não, alguns deles ainda estão por aí.

Finalmente Jungkook o encarou.

— Acha que a Hannah está trabalhando para eles? — Jimin deu de ombros, mas sua expressão ficou preocupada.

— Ela nunca sai de casa e está sempre dizendo que é por causa da gravidez. Depois do que vi hoje, tenho plena certeza que aquela pessoa ainda é a Lauren — ele respondeu. — Eu odeio dizer isso, mas não acredito mais nas palavras dela. Não sei se estou diante da Hannah, ou da Lauren ou de outro personagem.

— O que você tem visto ultimamente?

— A Hannah está muito estranha, gatinho. Ela não quer fazer terapia, não quer sair de casa, não quer falar com outras pessoas, mas, de repente, eu a encontro conversando com um cara mais velho como se fossem íntimos. E pior: ela aceitou algo dele, o que me faz pensar que eles estão mantendo contato.

— Eles devem se comunicar por um celular — Jungkook observou. — A única coisa que não está encaixando é o fato dela ter se encontrado com esse cara à luz do dia.

— Esse é o horário que eu e Taehyung não estamos em casa. Talvez ele tenha levado um recado para ela e não quis falar por telefone por achar que a Hannah está sendo monitorada pela polícia.

— Ou talvez ela tenha uma missão a cumprir. — Os pelos do corpo de Jimin ficaram, subitamente, arrepiados. — O objeto que a Hannah recebeu deve fazer parte de um plano. Nós só temos que descobrir que plano é esse e quem eles querem atingir.

— Como vamos fazer isso?

Jungkook começou a andar em círculos lentamente enquanto estudava suas possíveis alternativas. Ele esfregou os cantos dos lábios quando uma ideia surgiu. Dava para observar o tremular de medo nos olhos de Jimin à medida que ele olhava para Jungkook, se perguntando o que se passava em sua cabeça.

— Vou falar com o Yoongi para ele ficar na casa do Taehyung por um tempo — sugeriu Jungkook. — Ele costuma dormir lá com frequência, então a Hannah não vai perceber. Se o sujeito das fotos estiver envolvido com a máfia, vamos ter de interrogar a sua amiga. Quanto a você, quero que fique o mais longe possível da Hannah.

Jimin não pôde conter sua incredulidade.

— Por quê?

— Porque não sabemos quais são as intenções dela — Jungkook pontuou. — A Hannah tentou te ferir quando estava trabalhando para o Namjoon, ela pode estar tentando fazer de novo.

— Se eu ficar longe, a Hannah vai perceber que tem algo de errado, não?

— Não, anjo, porque você está morando com o seu pai. A Hannah sabe que você está lá para o Seokjin cuidar de sua segurança. — Jimin fez uma expressão confusa, porém concordou com um aceno de cabeça. — Enquanto não descobrirmos quem é o sujeito da foto, você tem que ficar longe da Hannah.

— E o Taehyung?

— Vou falar com o Yoongi ainda hoje.

O menino suspirou, parecendo triste, e disse:

— Tomara que eu esteja errado, tomara que a Hannah não esteja metida em nada.

Vendo-o daquele jeito, o detetive se aproximou lentamente e o segurou pelas bochechas. Jimin olhou em seus olhos, buscando por conforto, em seguida sentiu sua testa ser beijada.

— Você fez certo em vir até aqui — disse Jungkook ao se afastar. — Vou enviar a foto para o Yoongi analisar, mas sugiro que você esteja preparado para tudo.

— Eu já estou — garantiu. — Só tem um pequeno probleminha. — As sobrancelhas de Jungkook enrugaram-se em uma pergunta silenciosa. — Já combinei de ir para a audiência dela amanhã. O que devo dizer?

— Bem... — Ele deu um passo para trás antes de continuar. — Nesse caso, você deve ir, mas acompanhado do Seokjin. Não fique sozinho com ela em nenhuma circunstância. Também sugiro que leve o Taehyung para te fazer companhia.

— Sim, é uma boa ideia — Jimin disse, escorregando os olhos para o seu celular ainda nas mãos de Jungkook. — Você vai precisar dele?

Não entendendo a quem Jimin se referia, Jungkook olhou na mesma direção que ele, rapidamente se dando conta de que se tratava do celular.

— Não, anjo, ele é todo seu. — Ele esticou o aparelho, devolvendo-lhe. — Encaminhe as fotos para mim depois. Vou mandá-las para o Yoongi analisar.

Jimin acenou devagarinho. Ele pegou o celular da mão de Jungkook e em vez de puxar apenas o aparelho, o garoto segurou também o braço do outro, o bastante para trazê-lo para perto. O detetive olhou para os lados antes de focar no menino, apenas para se certificar de que ninguém estava olhando.

— Será que é perigoso te beijar aqui? — sussurrou Jimin, lambendo os lábios discretamente.

— Podemos testar.

Os olhos de Jungkook, antes escuros e sérios, ganharam um brilho intenso e satisfeito. Jimin tomou os lábios dele com desejo. As mãos do detetive deslizaram até a sua cintura, trazendo-o para perto conforme se aproximavam da parede traseira.

O detetive olhou furtivamente para além das persianas, mas, para a sua sorte, não havia ninguém próximo da sala. A barra estava limpa. Um momento depois, Jimin fechou suas mãos na nuca de Jungkook, tocando-a suavemente com as pontas de seus dedos, em seguida deslizou para os bíceps.

— Anjo — O calor e a instabilidade na voz de Jungkook disseram ao menino que já era hora de parar. — É melhor não fazermos isso aqui. Eu quero muito, mas nós-

Jimin cortou as palavras de Jungkook com um beijo — não exatamente um beijo. Desta vez, não passou de um roçar de lábios. Ele se afastou e balançou a cabeça em entendimento, o suficiente para Jungkook entender que ele não ficou chateado.

— Está tudo bem, gatinho — ele disse, tocando as linhas de seu rosto com carinho. — Acho melhor eu ir embora.

O detetive apertou as mãos na cintura dele quando o sentiu recuar, fazendo-o entender seu gesto imediatamente: Jungkook não queria que ele se afastasse. Seus olhares se prenderam por um longo momento.

— Eu tenho um lugar melhor. — Jungkook falou, sorrindo de forma melancólica. Jimin estremeceu por dentro. — A Layla tem uma lancha, posso pedir emprestado para que possamos passar o dia juntos amanhã...

— E o seu trabalho?

— Anjo, sou o diretor, não terá problema se eu tirar um dia de folga. — Jimin sorriu como se tivesse dito algo estúpido. — Além do mais, podemos dizer que essa é uma forma que encontrei de compensar a surpresa que você me fez e que foi interrompida.

As bochechas de Jimin ficaram vermelhas quando muitas lembranças referentes a surpresa foram rebocadas para a sua cabeça. O menino tinha certeza que Jungkook podia ver essas lembranças só de olhar para os seus olhos.

— Você quer começar de onde paramos... é isso? — Jimin se arriscou a perguntar.

— Eu só quero estar com você, anjo. Não importa o que vamos fazer, tudo o que eu quero é estar perto de você.

Nervoso, o menino começou a enrolar a gravata dele no dedo, como se para aliviar a tensão, em seguida perguntou:

— Você lembra onde paramos?

Jungkook sorriu.

— Perfeitamente.

Jimin sentiu seu rosto quase explodir de vergonha. Ele riu histericamente diante das lembranças que surgiram, em seguida cobriu os olhos com a gravata de Jungkook. Em resposta, o detetive riu e o abraçou.

— Ai, que vergonha — Jimin disse, com o rosto colado no peito do namorado.

— Está tudo bem, príncipe, não sinta vergonha. — Jungkook beijou o topo de sua cabeça antes de se afastar. — Olha, só vamos ficar juntos, ok? O que tiver que acontecer, vai acontecer.

Jimin concordou com as palavras dele e sorriu. Sentindo sua vergonha reduzir, o menino inclinou-se para frente e beijou os lábios de Jungkook, desta vez, em um rápido selinho.

— Acho melhor você voltar, eles podem perceber a sua demora. — sugeriu o garoto.

Jungkook suspirou.

— Você está certo — disse. — Podemos combinar tudo direitinho hoje à noite?

— Claro.

Após a confirmação do menino, eles se soltaram e regularam a postura. Jungkook começou a arrumar a gravata enquanto Jimin ajeitava alguns fios que estavam bagunçados. O detetive abriu a porta e gesticulou para o garoto ir na frente. Yoongi e Layla estavam conversando à distância e mal perceberam quando a dupla se aproximou deles, tentando agir o mais natural possível.

— Layla, acompanhe o Jimin até a saída, por favor. — Jungkook requisitou, falando de forma profissional, em seguida virou-se para o outro detetive. — E, Yoongi, preciso de você na minha sala agora.

— Aconteceu alguma coisa? — Seu parceiro perguntou.

— Na minha sala — reforçou. — Agora.

Dito isso, Jungkook deu as costas e retornou para a sua sala, mas manteve a porta aberta para Yoongi passar. Depois de pensar tanto, Yoongi o seguiu, temendo ser repreendido por ter feito aquela observação para Jimin momentos antes. O menino, em contrapartida, sabia exatamente o que Jungkook estava prestes a propor para o parceiro.

Se Yoongi se infiltrar na casa de Taehyung para descobrir o que Hannah está aprontando e, consequentemente, o que ela esconde, ficará mais fácil desvendar se a garota está envolvida com a máfia ou com quaisquer outras atividades ilegais. Por mais que Jimin tenha se sentido mal por tomar essa atitude, ele não podia vendar os olhos e atar as mãos para o que estava acontecendo.

Sua amiga estava estranha e ele sabia que não era só por causa das falsas memórias. Em outras circunstâncias, Jimin não a entregaria para a polícia caso descobrisse que Hannah estava envolvida com atividades criminosas. Hoje, no entanto, ele não pensaria duas vezes.

— Vamos, baixinho? — Layla o chamou pela terceira vez. Finalmente, Jimin a encarou, recompondo-se.

— Sim, vamos.

✮✮✮

Olá bebês, tudo bem? Gostaria de começar pedindo desculpas pelo atraso, eu demorei muito pra atualizar por questões pessoais mesmo, mas, finalmente, o capítulo saiu. Há muitas informações nesse capítulo, então prestem bastante atenção nos detalhes.

Aliás, gostaria de dizer que a próxima atualização promete muitos mimos Jikook e digo mais: *** ****! rsrs

Se cuidem direitinho e até mais. Beijos!! <3


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