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Estar de volta à casa de Taehyung nunca despertou sensações tão boas em Jimin quanto agora.
Depois de sair da escola, o garoto ligou para Seokjin pelo celular do amigo e informou que almoçaria na casa dele, mas que não demoraria. Após o estranho episódio da mensagem de texto, seu pai passou a estar atento ao seu cronograma e a demonstrar maior preocupação à sua ausência.
Jimin adorava passar o dia na casa de Seokjin, mas não podia negar que as suas memórias mais loucas e divertidas pertenciam à casa do amigo. Por serem da mesma faixa etária, ambos possuíam interesses em comum, diálogos congruentes à idade e gostos parecidos. No entanto, nada disso anula a sua intensa paixão pela companhia de Seokjin.
Ele tentou ligar para Jungkook mais cedo, mas todas as chamadas caíram na caixa postal. Jimin não ficou chateado, pois sabia que, depois da chegada da nova supervisora, o seu namorado estava tomando mais cuidado para não descumprir as normas. Mas, também, Jimin cogitou a possibilidade de ele ainda estar conversando com Paige em outro lugar, visto que não os encontrou na lanchonete quando saiu do colégio.
Jimin foi atingido por um cheiro maravilhoso de comida quando entrou na casa em companhia de Taehyung, que não poupou tempo e já foi tirando o uniforme do trabalho. Ele tinha preferência por ficar sem roupa dentro de casa, mas, como não estava mais morando sozinho, tinha que permanecer, no mínimo, de shorts.
Enquanto Taehyung tirava a roupa, Jimin colocava a mochila sobre o braço do sofá, sentindo-se cheio de expectativas para ver Hannah. Contudo, antes que pudesse ir ao encontro dela, a garota fez o seu caminho até a sala de estar. Ela estava usando uma blusa que ficava folgada na largura e curta no comprimento. Seu cabelo tinha sido amarrado em um coque — certamente por estar cozinhando — e sua aparência parecia melhor do que a última vez em que Jimin a viu.
— Oi, meninos! Estão com fome? — Ela os cumprimentou, sorrindo de orelha a orelha.
— Eu estou faminto! — Taehyung respondeu. — Mas vou tomar um banho primeiro, então não comam antes de mim!
— Nós vamos te esperar — garantiu Hannah, em seguida olhou para o outro amigo. — E você, Jimin, não vai se trocar também?
— Na verdade, eu só vou lavar as minhas mãos. — A garota pareceu confusa depois do que ele disse.
— Por quê?
— Acho melhor você contar a ela antes que eu conte — Taehyung comentou. — Não quero ser chamado de fofoqueiro por passar informações.
Jimin revirou os olhos para o comentário do amigo e decidiu contar à Hannah não só o que tinha acontecido nos últimos dias, como também o porquê de não estar morando mais com ela e Taehyung.
— Eu vou morar com o meu pai por um tempo. — Hannah enrugou a testa em confusão.
— O Jungkook acha que alguém está nos ameaçando indiretamente, então ele sugeriu que eu dormisse na casa do meu pai até descobrirem o que está acontecendo.
— Isto significa que aqui não é seguro?
— Não, não é isso. Na verdade, pelo fato do meu pai ser ex diretor do FBI e possuir mais recursos de segurança, isto vai garantir que eu esteja seguro. — Hannah continuou em silêncio, então Jimin prosseguiu: — Mas não se preocupe, eu venho te visitar todos os dias.
Algo no olhar de Hannah disse à Jimin que ela não tinha ficado feliz com a notícia. A garota não pronunciou nada em acréscimo, apenas continuou em silêncio, digerindo tudo o que acabara de ouvir. Pela sua reação, Jimin soube que a amiga ficou chateada, embora ela tenha conseguido disfarçar com um sorriso falso.
— Tudo bem. — Foi tudo o que ela disse em resposta.
— Ok, já que tudo está acertado, vou tomar um banho. — Taehyung comunicou e, em seguida, subiu as escadas e sumiu, deixando-os sozinhos.
Hannah sentou no sofá e cruzou as pernas, sendo acompanhada por Jimin, que sentou ao lado dela com um pouco de dificuldade. Ele ainda estava sentindo as fisgadas dos socos que Josh aplicou em seu abdômen. Para a surpresa de Jimin, Hannah pescou a expressão de dor que ele fez após sentar-se.
— Está tudo bem aí? — ela perguntou, mesmo sabendo que a resposta era não.
— Levei uma surra do seu ex namorado. — disse. — Mas eu também não deixei barato.
— Está se referindo ao tal do Josh? — Jimin confirmou com um aceno, fazendo Hannah franzir a testa. — Por que ele te bateu?
— Ele nunca gostou de mim para ser honesto; mas não me pergunte o motivo, porque eu não faço ideia do que fiz para ele me odiar tanto. — ele explicou, dando de ombros.
— Que garoto idiota...
— Acho que ele tem raiva por sermos amigos. Ele ficou uma fera quando vocês terminaram, então, talvez, isto esteja caindo sobre os meus ombros agora.
— Se fui eu quem terminei com ele, não faz sentido ele sentir raiva de você.
— Nunca vou entender aquele garoto...
— Ele é só mais um idiota que não sabe perder. — Hannah finalizou.
Jimin segurou uma risada, pois sabia que se fizesse movimentos bruscos com a barriga, ela doeria ainda mais. Por mais que tenha achado engraçado a forma como Hannah o chamou, Jimin não podia negar que às vezes sentia medo de Josh, principalmente, do que ele poderia fazer fora da escola, afinal não existiam leis que pudessem pará-lo.
— Posso ver como está? — A menina perguntou, referindo-se ao seu machucado.
Jimin olhou para ela e, depois de refletir sobre o seu pedido, acabou consentindo. Hannah o observou suspender a bainha da blusa e revelar algumas manchas arroxeadas ao longo das costelas. Se fosse qualquer outra pessoa, ele teria hesitado em mostrar. Mas como a pessoa em questão era sua melhor amiga, aquela que cuidou de seus machucados quando ainda estava em cativeiro, não houve relutância de sua parte.
A garota fez uma careta quando encarou as manchas, como se pudesse sentir a dor daqueles ferimentos, e se arriscou a perguntar:
— Está doendo? — Seu amigo fez que sim com a cabeça. — Acho melhor você colocar um pouco de gelo aí. Quando o nosso sangue está quente, não costumamos sentir a dor, só depois de um tempo.
Rapidamente, uma imagem subiu à cabeça de Jimin, fazendo-o lembrar do dia em que Hannah foi agredida por Namjoon no terraço do FBI e em como ela suportou os golpes em sua defesa. Sua amiga parecia uma onça brigando pela presa.
Depois de perceber que ela aguardava uma resposta, Jimin sorriu e balançou a cabeça numa assertiva. Sem demora, Hannah pulou do sofá e seguiu até a cozinha, deixando-o sozinho por alguns segundos. Naquele intervalo de tempo, o garoto voltou em retrospectiva e trouxe à tona todos os momentos em que Hannah cuidou de seus ferimentos.
Mesmo que a garota tenha perdido a memória, algo protetor ainda existia dentro dela, principalmente em relação a Jimin. Ele não sabia como agradecê-la por ter abandonado tudo e ido salvá-lo. Era difícil acreditar que ela tenha arriscado a vida por uma amizade, que, por sinal, não é mais lembrada.
Mas, de qualquer modo, eles estavam reconstruindo a relação que tinham antes de Hannah perder a memória. Mesmo que a garota estivesse diferente agora, o sentimento de Jimin por ela ainda era o mesmo.
Instantes depois, Hannah retornou com alguns cubos de gelo na mão. Ela requisitou que Jimin suspendesse a blusa e quando ele o fez, colocou o gelo na região arroxeada, deixando-o tomar a iniciativa de segurá-lo por conta própria.
— Continue pressionando, logo a dor vai passar. — Hannah pontuou.
Jimin agradeceu com um sorriso gentil e, embora quisesse continuar em silêncio, admirando os cuidados dela, não podia deixar de pensar sobre uma questão que o vinha atormentando há dias.
— Hannah. — Ele a chamou, ouvindo-a resmungar em resposta. — Eu sei que já te fiz essa pergunta muitas vezes, mas você nunca me deu uma resposta exata.
— Que pergunta?
— Sobre o seu bebê. — A garota pareceu estremecer em reflexo. — Você já decidiu se quer ter essa criança?
Silêncio.
Jimin sabia que podia parecer insistente, mas ele só queria dizer a ela que estaria ao seu lado independente de sua decisão. Dias atrás, ele não tinha reagido positivamente após Hannah mencionar que teria o bebê por causa de Derek, então, agora, pretendia consertar seu erro para que a amiga não pensasse que ele estava rejeitando-a.
— Eu quero ter o bebê. — Hannah confessou e Jimin reagiu como se esperasse por aquela resposta. — Mas não quero criá-lo.
Esta parte o deixou, momentaneamente, surpreso o suficiente para fazê-lo perder as palavras. Jimin sabia o que aquilo significava, mas seu cérebro ainda estava processando.
— Quer colocar o seu filho em um lar de adoção? — perguntou.
— Eu sou uma jovem imatura, Jimin. Não tenho emprego, família, amigos, casa e tampouco estabilidade emocional para criar uma criança. Como vou sustentá-la? Como vou protegê-la se ao menos consigo me proteger?
— Hannah...
— Ela terá uma mãe melhor do que eu — a garota disse, sentindo-se conformada. — Não posso trazê-la ao mundo se não tenho condições de criá-la, mas também não quero matá-la dentro de mim.
— O seu bebê ainda está se desenvolvendo, ele não está totalmente formado...
— Eu sei, mas ainda assim não quero tirá-lo. — Jimin se calou. — Sem contar que os riscos de um aborto são enormes, eu posso até morrer durante o processo. Não quero me arriscar.
Jimin não quis parecer que estava tentando convencê-la a abortar, portanto, continuou calado. Ele não estava no corpo dela para julgar o que é certo ou errado, então não lhe restava outra coisa a não ser apoiá-la.
— Está tudo bem, Hannah, eu vou te apoiar em qualquer decisão — ele disse. — Só quero que você esteja bem.
— Eu estou bem — afirmou.
— Tem certeza? — A menina enrugou a testa em confusão, mas seus olhos demonstraram medo. — Você raramente sai desta casa. Eu pensei que, por termos ficado tanto tempo presos naquele lugar, você sairia mais vezes.
A garota paralisou instantaneamente, sem saber que resposta dar. Jimin percebeu que tinha entrado em um território sensível, pois Hannah engoliu em seco e pareceu desorientada. Depois dos últimos acontecimentos, o menino não a julgava por querer se afastar dos outros, mas ainda sentia que devia ajudá-la a se desfazer dessas resistências.
— Eu não me sinto confortável em sair na rua grávida — ela confessou, olhando para as próprias mãos no colo. — Não lembro de tudo o que me aconteceu, mas se eu fui vítima de tráfico humano, muitas pessoas me conhecem. Não quero que me perguntem se estou grávida de um abusador.
— Você não deve satisfação a elas.
— Mesmo sabendo disso, ainda me deixo influenciar. — Hannah, finalmente, o encarou. — Eu gostaria de não dar ouvidos a esses comentários, mas não posso fingir que eles não existem e que não estão, de forma distorcida, formulando imagens sobre mim.
— Olha, as pessoas vão comentar, nós só precisamos estar preparados para o que vamos ouvir. — A garota pareceu refletir enquanto Jimin prosseguia. — Eu me sinto da mesma forma que você, mas estou buscando a terapia. Você já pensou em fazer também?
A garota suspirou, quase risonhamente.
— Essas coisas não funcionam comigo.
— Claro que funcionam — ele disse. — Você não vai conseguir se livrar de seus problemas sozinha. Eles não somem em um passe de mágica.
— Os seus problemas sumiram?
Jimin engoliu.
— Na verdade, eu estou trabalhando nisto. — A garota continuou em silêncio. — Não é tão fácil encarar os nossos medos, mas é necessário, e eu quero tentar. Você deveria tentar também.
— Nós somos diferentes um do outro, Jimin. — Por um momento, o amigo não entendeu o que ela quis dizer. — Eu não consigo me lembrar de praticamente nada. Como vou trabalhar meus problemas relacionados ao passado se nem ao menos consigo me lembrar deles?
— Talvez você consiga descobrir... — Quando Hannah levantou um lado da sobrancelha, ele continuou: — Já ouviu falar nas técnicas de hipnose?
A menina reagiu como se ele tivesse contado uma piada, rolando seus olhos para enfatizar seu desinteresse pelo assunto.
— Não acredito nessas baboseiras — ela confessou.
— E no que você acredita, então?
— Olha, Jimin, eu sei que você se preocupa comigo, mas não é bom criar expectativas. Eu nem mesmo sei se posso recuperar as minhas memórias. E quer saber? Se o que aconteceu comigo for verdade, prefiro não me lembrar de nada.
Se.
Jimin ficou preso nessa palavra por alguns segundos, até concluir que a amiga ainda tinha dúvidas sobre as histórias que ele contava de quando estavam no Canadá. Embora fosse doloroso admitir, Jimin não podia fingir que Hannah se lembrava de tudo; inclusive, de ter sofrido nas mãos de Namjoon e seu comparsa.
Ele estava exausto de contar que Derek o maltratou por semanas e que a usou para feri-lo, mas, ainda assim, Hannah demonstrava resistência, como se não quisesse acreditar nele. Agora, no entanto, Jimin percebeu que era perda de tempo e que ela não mudaria de opinião até recuperar todas as memórias.
Diante desta observação, o garoto decidiu atar as mãos e não tocar mais no assunto. Se Hannah queria acreditar que Derek era uma boa pessoa, então ela acreditaria, mas, em hipótese alguma, Jimin reforçaria quaisquer comentários positivos sobre ele. Sua amiga estava fazendo uma escolha e ele não podia intervir.
— Tudo bem, Hannah, eu só quero que você fique bem. — Por fim, ele disse.
— Obrigada por tudo.
Hannah sorriu, mas Jimin não retribuiu o gesto. Em vez disso, ele tirou o cubo de gelo, quase derretido, de cima do ferimento e, em seguida, gesticulou para a cozinha.
— Eu vou levar isto para a cozinha.
A garota percebeu que ele estava se esquivando para não mostrar o quão afetado ficou após sua resposta, por isso não objetou, apenas fez que sim com a cabeça. Jimin levantou do sofá, em silêncio, e foi até a cozinha, jogando a sobra do gelo na pia. Ele lavou as mãos, enxugou-as e depois suspirou, ganhando tempo para parecer bem na frente da amiga.
— Jimin. — Hannah o chamou, fazendo-o virar a cabeça por cima do ombro.
Ele a encontrou parada na entrada da cozinha, parecendo arrependida de algo. Quando ganhou os olhos dele, Hannah cruzou os braços contra o tórax, como se estivesse se preparando para o tópico seguinte e, então, disse:
— Me desculpe por ter sido grossa com você. Eu não quis dizer aquelas coisas.
Na verdade, ela quis, Jimin pensou, mas sem intenção de machucá-lo. Hannah ainda estava, emocionalmente, ligada a Namjoon e Derek e, para o terror de Jimin, a balança parecia pesar mais para o lado dos bandidos.
— Olha, o meu humor não está muito legal nos últimos dias — Hannah prosseguiu depois de vê-lo quieto. — Acho que é por causa da gravidez.
— Você está fazendo todos os exames e se cuidando direitinho?
— Estou. — Ela sorriu, mas seu gesto estava longe de parecer alegre. — Uma policial sempre vem me buscar para irmos ao médico.
Jimin enrugou a testa em confusão.
— Uma policial? — perguntou.
— Sim, acho que ela se chama Layla.
— Por que você tem que ir ao médico acompanhada da Layla?
Hannah suspirou.
— Enquanto eu não for julgada pela morte da irmã do seu namorado, vou ter de continuar saindo com uma babá policial do meu lado.
Por um momento, o garoto esqueceu do crime que Hannah cometeu enquanto ainda era Lauren e que a audiência estava marcada para acontecer em alguns dias. Ele não sabia como iria reagir caso a amiga fosse considerada culpada.
— Eu sei o que está pensando — Hannah disse, aproximando-se dele com passos suaves. — Você precisa entender que eu cometi um crime e talvez tenha que pagar por isso.
— Não é justo — respondeu. — Não é justo com você, não é justo comigo, nem com a nossa história. Nós fomos vítimas, Hannah, eles não podem te condenar.
— Isso não apaga o que eu fiz. — O menino engoliu, duramente. — Querendo ou não, eu matei uma pessoa e não foi por legítima defesa. Dói muito dizer isto, mas eu não posso sair impune.
— Você foi usada por eles — Jimin argumentou. — Mesmo que você insista em ver o Derek como o pai de seu bebê, foi ele e o Namjoon quem injetaram uma droga em seu corpo para que você esquecesse tudo. E quer saber? Mesmo que não acredite em mim, sua memória está aí para provar que estou certo. Ou melhor dizendo, a sua falta de memória.
Hannah ficou imóvel e em silêncio. Jimin tinha consciência de que tocou no ponto fraco dela, mas não podia se calar depois de ouvi-la dizer que merecia pagar por um crime que, teoricamente, foi instigada a cometer.
Ele, simplesmente, não conseguia entender como Hannah podia defender tanto os seus inimigos, mesmo tendo consciência de que em seu organismo foi detectado uma quantidade massiva de droga. E era óbvio que a garota sabia que aquela droga não surgiu de repente.
— Criaturas, cadê vocês!? — Taehyung perguntou ainda na sala, em seguida, entrou na cozinha e deu de cara com as duas figuras paradas. — Aí estão vocês!
— Vamos comer? — Hannah perguntou, virando-se para Taehyung com um sorriso no rosto, mas Jimin sabia que aquele gesto era forçado.
— Eu pego os pratos. — Taehyung se ofereceu rapidamente, indo em direção ao armário.
O ambiente foi inundado por um forte cheiro de sabonete quando Taehyung se movimentou. Ele estava sem camisa e com os cabelos molhados, fazendo duas listras de água escorrerem ao longo de suas costas. Ali, portanto, Jimin observou que o amigo tinha uma tatuagem nas costas além de outras no braço.
— O Jimin já te contou a novidade? — Taehyung perguntou a Hannah, que olhou para Jimin em confusão e voltou-se para o outro amigo. — Nós vamos a um baile de boas-vindas no colégio.
— Não, ele não me disse.
— Não tive tempo de contar — ele rebateu. — Mas como o Taehyung ama dar notícias de primeira mão, uma hora você saberia.
— Ei, eu não sou fofoqueiro! — Jimin revirou os olhos.
— Tudo bem, meninos, de qualquer forma eu não irei — Hannah disse enquanto sentava à mesa.
— Por quê?
— Eu não tenho roupas para usar em um baile e muito menos disposição para ir.
— Isso não é um problema, ruivinha. Vamos às compras! — Taehyung argumentou.
Hannah e Jimin se entreolharam furtivamente. A garota pareceu não gostar da ideia e não sabia como argumentar contra aquilo. Jimin apenas ficou em silêncio, esperando que a amiga aceitasse ou recusasse a proposta.
— Olha, eu não sei se é uma boa ideia ir ao baile de um colégio onde o meu ex namorado estuda. — Taehyung bufou para aquela desculpa esfarrapada, então Hannah decidiu assegurar: — Jimin me disse que ele não é flor que se cheire. E, além do mais, não quero que ele me veja grávida.
— Você quer parir dentro de casa? — Taehyung perguntou com deboche. — Não adianta esconder a barriguinha, porque uma hora ou outra todo mundo vai te ver, principalmente quando pisar o pé lá fora.
— Taehyung, deixe a Hannah escolher — Jimin a defendeu. — Se ela não quiser ir, está tudo bem. Nós dois podemos ir sozinhos.
— Não vai convidar o seu namorado? — a garota perguntou diretamente para Jimin, que a encarou de volta por um instante.
— Claro que sim, só não sei se ele vai aceitar.
— E por que ele não aceitaria? — Hannah perguntou.
— Jimin está assim porque não quer que o Jungkook e o Vernon se encontrem. Mas, quer saber? Eu estou louco pra ver o circo pegar fogo — Taehyung comentou.
— Se você está esperando que os dois discutam, pode tirar o cavalinho da chuva — Jimin rebateu, fazendo o amigo segurar uma risada enquanto colocava a comida no prato.
— Esse tal de Vernon é o seu ex namorado? — Hannah perguntou a ele, demonstrando um certo interesse pela resposta.
Jimin não gostou nem um pouco de entrar nesse assunto. Ele sabia que Hannah não tinha conhecimento da história entre ele e Vernon, mas, mesmo assim, não se sentia bem em falar disso.
— Acho melhor pularmos essa parte — ele disse, tentando se esquivar do assunto. — Eu vou ligar para o Jungkook e volto para almoçar com vocês. Taehyung, me empresta seu celular?
— Está no meu quarto — ele informou.
Muito rapidamente, Jimin caminhou para fora da cozinha, deixando os amigos sozinhos e desconfiados. Taehyung havia entendido o motivo de sua fuga, já Hannah, nem tanto. O garoto se apressou escada acima, esperando ouvir a voz do namorado do outro lado da linha, pois não teve sucesso horas atrás.
✮✮✮
Jungkook empurrou a porta de sua sala e deu um longo suspiro ao encontrá-la vazia. Regularmente, Jared o esperava em sua sala para novas orientações, mas, neste momento, ele não estava presente. Com isso, o detetive aproveitou que estava sozinho e sentou-se na cadeira expressiva, permitindo-se pensar em retrospectiva.
Depois de sua conversa com Paige, ele não podia negar que tinha ficado feliz com a possibilidade de ter outra irmã; mas, após os maus bocados que passou com a descoberta da verdadeira face de Jennifer, ele aprendeu a ser mais esperto. Em outras circunstâncias, no entanto, Jungkook não estaria cheio de armaduras.
Por uma fração de segundos, Jungkook recapitulou uma coisa em particular que o tinha deixado incomodado durante a conversa com Paige. Ela relatou que Seokmin a ajudou no processo investigativo e que ele, praticamente, a conduziu ao endereço certo. Mas, estranhamente, o agente não sabia que Jungkook era o irmão perdido.
Por um momento, o detetive se perguntou até onde Seokmin havia ajudado Paige nas buscas ao ponto de saber o seu endereço, menos a sua identidade. Independentemente dos supostos motivos, Jungkook parecia empenhado em descobrir as respostas.
De repente, alguém abriu a porta de sua sala, atraindo, mecanicamente, os seus olhos àquela direção.
— Finalmente você chegou, Margarida — Yoongi brincou, entrando na sala com o seu típico humor elevado. — Eu vim aqui três vezes e você não estava. Por onde andou?
— Ocupado — ele respondeu evasivamente.
Digerindo isso, Yoongi sorriu de forma cafajeste, parecendo chegar em uma conclusão apenas por ter aquela resposta vazia.
— Imagino que o nome da sua ocupação seja Park Jimin — ele supôs.
— Eu adoraria que fosse. — Seus olhos brilharam por um momento, em seguida, escureceram. — Eu estava com a Paige. Por coincidência, ela estava na frente do colégio do Jimin.
— Está falando da sua suposta irmã? — Jungkook confirmou com um aceno. — E o que vocês conversaram?
— É uma longa história.
— Foda-se, eu gosto de histórias longas. Desembucha — ele disse, sentando-se de frente para Jungkook como se fossem compartilhar um segredo.
Por um instante, o detetive pensou em dizer a ele que essa conversa poderia ficar para mais tarde, porém, ao recordar-se da relação íntima de seu parceiro com Seokmin, Jungkook decidiu dar abertura para escavar mais fundo. Por serem tão próximos, talvez Seokmin tenha deixado algo escapar, pensou o detetive.
— Ela me disse o porquê de ter demorado tanto para me achar — Jungkook contou. — Disse, também, que o Seokmin a ajudou nas buscas. Eu confesso que fiquei chocado, porque ele esteve conosco durante a investigação da máfia e nunca me disse nada, nem meia palavra.
— Seokmin? — Jungkook afirmou com a cabeça. — Por que ele escondeu isso?
— A Paige disse que ele não sabe que sou irmão dela, mas isto não me convenceu. — Yoongi olhava para um ponto fixo enquanto processava tudo o que Jungkook lhe dizia. — Ele se mostrou uma pessoa esperta durante as nossas investigações, então algo me diz que ele não pararia as buscas na metade do caminho.
— O Seokmin tem acesso a muitos métodos secretos de investigação da CIA, mas ele nunca mencionou quais eram — Yoongi observou. — Talvez ele não tenha contado porque não queria expor esses métodos.
— Você teve um caso com ele durante muito tempo, nunca chegou a perguntar como ele faz essas buscas clandestinas?
— Por Deus, Jungkook, eu não estava interessado no trabalho dele.
— Imagino que não — debochou, fazendo-o abrir a boca em surpresa. — Se você prestasse atenção na conversa ao invés do corpo dele, saberia a resposta.
— Não tenho culpa se ele é gostoso. — Jungkook levantou uma faixa de sobrancelha. — Quero dizer, ele era gostoso naquela época.
— Vamos pular essa parte. — Yoongi concordou rapidamente, parecendo tenso e desajeitado. — Será que você consegue algumas informações por mim?
— Que tipo de informações?
— Quero saber se a Paige está falando a verdade, mas, antes, preciso analisar tudo o que ela disse, começando pelos agiotas.
— Agiotas?
— Ela disse que eu fui levado por alguns agiotas — explicou. — Quero que consiga o máximo de informações possíveis sobre esses caras. Busque nos sites clandestinos da época e verifique quantas denúncias de bebês desaparecidos foram feitas naquele período. Se a minha mãe procurou por mim como a Paige disse, ao menos uma denúncia deve existir.
— Olha, isso vai dar um trabalho danado, porque vou ter que escavar coisas de duas décadas atrás. E, além do mais, é uma investigação privada, não sei se o Jared estará de acordo.
— Faça isso — o detetive assegurou. — Estou te dando carta branca para prosseguir. Eu lido com as consequências depois.
Yoongi levantou as mãos em rendição e disse:
— Você é quem manda, diretor, mas vou avisando que se o Jared comer o meu cu, eu entrego o seu para ele comer também.
Jungkook não segurou a risada e, inevitavelmente, fez o seu parceiro rir também. Por mais que a situação não fosse engraçada, Yoongi tinha o dom de transformar tudo em uma piada tola.
— Não se preocupe com o Jared, ele está ocupado com outras demandas agora — Jungkook disse em seguida.
— Mas a Scarlett não...
— Por favor, não vamos falar dessa mulher — ele o interrompeu. — Caso não queira se meter nisso, posso fazer sozinho.
— Relaxa, eu vou te ajudar — Yoongi falou. — Não estou pulando fora, estou apenas pontuando os riscos que estamos correndo.
Por um momento, uma nuvem escura caiu na conversa, deixando Jungkook em silêncio por alguns segundos. Ele sabia de todos os riscos que estava correndo ao fazer uma investigação privada e pessoal depois de ter sido avisado sobre a desobediência às regras inúmeras vezes.
Antes que pudesse dar uma resposta, o detetive ouviu o toque de um celular ecoar pelo ambiente. Rapidamente, percebeu que o toque pertencia ao seu próprio aparelho.
Ele pediu um tempo à Yoongi para atender a chamada e, em seguida, consultou a tela do celular antes de levá-lo ao ouvido. Com as sobrancelhas franzidas por ter lido o nome de Taehyung, Jungkook disse:
— Alô?
— Oi, gatinho, tá ocupado?
Depois de ouvir a voz de Jimin, um sorriso encantador brotou nos lábios do detetive. Ele desfez todas as armaduras em segundos e deslizou o tronco para trás para que Yoongi não ouvisse a conversa. Não era como se ele quisesse esconder algo do parceiro, mas Jungkook o conhecia, suficientemente, bem para saber que os ouvidos de Yoongi estavam antenados agora mesmo.
— Oi, príncipe. No momento, não.
Após ouvi-lo mencionar aquele apelido carinhoso, Yoongi revirou os olhos, já sabendo quem estava do outro lado da linha. Ele fez uma cara de tédio, prevendo o que viria a seguir ao longo da conversa. Por mais que não apreciasse diálogos melosos, Yoongi se entretia com o relacionamento dos dois.
— Está tudo bem, anjo? Quer que eu vá te buscar no colégio? — Jungkook perguntou, ignorando as caras e bocas de Yoongi.
— Eu estou na casa do Taehyung. Vou almoçar aqui.
Jungkook percebeu que ele parecia relutante, como se quisesse dizer algo e não soubesse por onde começar. Portanto, decidiu encorajá-lo a dizer.
— Aconteceu algo?
Silêncio.
— Eu estou com saudades. — Jungkook sorriu, apesar de não estar totalmente convencido de sua resposta. — Quando vamos nos ver de novo?
— Que horas você prefere?
— Ahn... quando você puder. Eu não quero parecer grudento, só sinto sua falta.
— Eu também estou com saudades — Jungkook disse, conseguindo ouvi-lo suspirar do outro lado da linha. — O que acha de irmos a um cinema mais tarde? Ou, se você quiser, podemos ir a outro lugar.
— Eu gostei da primeira ideia. — Ele fez uma pausa. — Mas acho que prefiro ficar a sós com você.
Jungkook mordeu o lábio inferior sem perceber, mas seu gesto não durou muito.
— Minha casa? — sugeriu.
— Seria perfeito.
— Então está combinado. Eu te pego na casa do Seokjin às oito.
— Na verdade, eu quero estar lá antes de você... — Jungkook franziu as sobrancelhas diante de sua proposta.
— Hum... por quê?
— Quero te fazer uma surpresa.
Aparentemente, Yoongi ouviu o que Jimin disse, pois, de repente, sua postura mudou e ele se inclinou para trás contra o encosto da cadeira, lançando um sorriso secreto para o seu parceiro, que o encarou de volta por um breve momento.
— Bem, isso me parece uma ótima ideia — disse Jungkook, pensativo. — O único problema é que eu estou com o controle da casa, então não tem como você entrar sem mim...
— Isso significa que você não terá a surpresa — ele provocou-o, ciente de que Jungkook estava usando algumas abordagens para descobrir qual era a surpresa pensada.
Jungkook suspirou baixo, rendendo-se.
— Tudo bem, você venceu. — Jimin riu. — O meu segurança particular tem a chave e o controle da casa. Vou ligar para ele e informar que você está indo.
— Desde quando o meu gatinho tem segurança particular?
— Depois de virar diretor-assistente, tive que tomar algumas precauções — explicou. — Você não irá reconhecê-lo pelas vestimentas porque ele está disfarçado, então foque nos gestos, está bem? Assim que eu marcar um ponto de encontro, te aviso.
— Uau! Tudo isso por causa de uma chave e um controle?
— Tenho que me cuidar, anjo. Se descobrirem quem é o meu segurança particular, logo chegarão até a mim. — Jimin ficou mudo do outro lado da linha, odiando pensar nisso. — Mas não se preocupe, são apenas medidas de segurança que todo superior adquire para se proteger. Sem contar que, sempre que ele estiver por perto, vou estar seguro de certa forma.
— É melhor que esteja seguro.
Em segundos, alguém bateu na porta, antes de abri-la por completo. Era o inspetor Jared, segurando o que parecia ser um documento. Ele gesticulou para os dois detetives, indicando para que viessem ao seu encontro. Yoongi olhou para Jungkook, que respondeu positivamente com a cabeça.
— Eu te ligo depois, ok? Preciso desligar agora. — ele falou com Jimin, que murmurou em compreensão e o ouviu sussurrar algo em despedida antes de encerrar a chamada.
Ele adoraria continuar conversando com o seu garoto, mas aquele não era o melhor momento nem o melhor lugar. Jungkook tinha outras tarefas agora e elas não podiam esperar. A supervisora Scarlett estava no seu encalço mesmo estando longe, então seria melhor não dar a ela motivos para tirá-lo do cargo.
— Detetives — Jared os cumprimentou quando a dupla se deslocou em direção a ele. — A polícia local me enviou um chamado e solicitou a presença do FBI em um caso. Aparentemente, um grupo de assaltantes invadiu um prédio e está mantendo todos os funcionários como reféns. Se o FBI não for eficaz, eles vão recorrer a SWAT com ordem para matar.
— Ainda estamos investigando o caso do serial killer — Yoongi pontuou.
— E o que vocês descobriram até agora?
— Temos algumas suspeitas, mas nada confirmado — Jungkook respondeu. — Sabemos que a Adalyn estava com um rapaz no dia em que foi assassinada.
— Já sabem qual é a identidade do suposto rapaz?
— Ainda não — Yoongi disse, relutante. — Eu ainda estou investigando as imagens de segurança. Todas as características que encontrei nesse sujeito não estão no banco de dados.
— Ou seja, não houve progresso — Jared falou, simplista, em seguida entregou o documento nas mãos de Jungkook. — Quero que resolvam o caso do grupo de assaltantes enquanto não houver novas informações do serial killer.
— Ok — o detetive respondeu, pegando o documento das mãos dele. — Como é em um prédio, vou precisar de reforço.
— Vou requisitar um grupo de combatentes. Vinte homens são suficientes? — o inspetor perguntou.
— Depende de quantos participantes têm o grupo.
— Está tudo no documento que te entreguei — ele informou. — Analise tudo e me passe as coordenadas, assim poderemos montar a equipe de reforço com mais eficácia.
Jungkook não disse mais nada, apenas acenou com a cabeça e assistiu o inspetor virar-se para longe sob os calcanhares sem sequer se despedir. O detetive olhou para Yoongi, que deu de ombros para a sua pergunta silenciosa.
— Não me olhe assim. Não faço ideia que bicho o mordeu. — Jungkook continuou em silêncio, observando-o. — Ele está assim desde que chegou, talvez só esteja estressado.
— Tá. — Jungkook respondeu, não dando a mínima para os detalhes. — Vamos atrás do Ric e da Layla. Onde eles estão?
— Na sala de treinamento. — Yoongi encostou em Jungkook e cochichou: — Parece que os dois dormiram juntos. Eu os vi chegando no mesmo carro. O que o Ric estaria fazendo no carro da Layla às sete da manhã se ele tem o próprio veículo? Aposto que dormiu na casa dela.
Jungkook deu uma cotovelada amigável em seu parceiro, que resmungou um xingamento após receber o golpe.
— Pare de ser fofoqueiro.
— Eu só estava compartilhando uma informação, cara.
— Que, por sinal, não te diz respeito. — Yoongi revirou os olhos, observando-o indicar a saída com o queixo. — Vamos!
Ainda contrariado pelo golpe que recebeu, Yoongi o seguiu logo depois, massageando a região de forma dramática para fazer parecer que tinha doído. Jungkook ignorou seu leve teatro e entrou no elevador junto com ele.
— A propósito, você não disse que ia me entregar o aparelho do Jimin para eu investigar as mensagens? — Yoongi perguntou após se instalarem no interior do elevador.
— Deixei na sua sala assim que cheguei. Espero que você não veja nada além das mensagens.
— Ei, eu não sou tão curioso assim! Além do mais, se quer que eu chegue na fonte, precisa me deixar vasculhar tudo. — Jungkook o encarou, mas não comentou nada. — Olha, pelo que você me disse, o Seokjin pode estar certo.
— Sobre o quê?
— Sobre muitos chefes de máfia quererem a sua cabeça — pontuou. — Você ajudou a acabar com uma organização criminosa que estava no ramo há muito tempo. Eles podem querer te eliminar do caminho deles, principalmente por estar em um cargo superior agora.
— Eu estou ciente disso.
— Então comece a ficar esperto, porque as mensagens que você recebeu de alguém fingindo ser o Jimin, muito provavelmente, foram de pessoas querendo a sua cabeça. Eles são capazes de pagar milhões de dólares só para te ver morto.
— Você está tentando me encorajar ou me amedrontar?
— As duas coisas — disse.
Minutos depois, o elevador parou em um extenso corredor e eles se empurraram para fora, indo em direção a área de treinamento. Jungkook ficou pensativo durante todo o caminho, considerando a possibilidade de Yoongi estar certo. Sua segurança podia estar sendo ameaçada, então, talvez, fosse conveniente pensar que deveria mudar-se de casa.
— Olha os pombinhos ali. — Yoongi apontou para a extremidade do salão, onde Ric e Layla treinavam.
— Ric! Layla! — Jungkook os chamou, ganhando a atenção de ambos e, em seguida, fez um sinal com os dedos para que eles se aproximassem.
A dupla se entreolhou, rapidamente, e foi em direção aos dois detetives parados a pouco mais de três metros de distância. Layla os alcançou primeiro, sem se importar em tirar as faixas das mãos, já Ric sentiu a necessidade de vestir a camisa antes de ir ao encontro deles.
— Temos uma missão a cumprir. Estejam prontos em dez minutos na Central de Operação — Jungkook ordenou.
— Do que se trata? — Layla perguntou.
— Um grupo de assaltantes invadiu um edifício e está mantendo todos como reféns — explicou. — A polícia local não sabe o que fazer, então nos chamou para resolvermos isso, já que temos equipamentos mais especializados.
— O senhor tem algo em mente? — Ric quis saber.
— Tenho, por isso estejam na Central de Operação em poucos minutos. Eu e Yoongi vamos analisar a área geográfica do prédio e montar um ponto de entrada enquanto vocês se arrumam. Não se atrasem.
— Ok — Layla e Ric disseram ao mesmo tempo.
Yoongi estava olhando para eles de forma sugestiva, evitando sorrir para não manifestar suas intenções. Ric pareceu pegar o significado por trás da expressão de Yoongi, por isso coçou a sobrancelha, nervoso.
O jovem só conseguiu se distrair quando Layla segurou em seu braço e o puxou para fora da sala de treinamento. Como a Central de Operação não ficava muito longe da área em que estavam agora, Jungkook e Yoongi seguiram por um corredor secundário, passando por um grupo de policiais no caminho.
Depois de perceber que Yoongi estava sorrindo para o nada, Jungkook curvou uma faixa de sobrancelha e perguntou:
— Por que está tão feliz?
— O Ric e a Layla estão mais próximos. — Seu parceiro fez uma cara esquisita, como se dissesse "E daí?" — Isto significa que agora ele vai parar de correr atrás do Taehyung.
— Eu pensei que fosse o contrário. — Yoongi o encarou firmemente, mas antes que explodisse, Jungkook se apressou. — Não me olhe assim. Você sabe que o Taehyung é tão indeciso quanto você.
— Eu não sou indeciso!
— Não até falarmos do Seokmin. Suas pernas ficam bambas só em falar dele.
Seu parceiro quase deu um pulo após a menção daquele nome. Com base na sua reação, Jungkook chegou à conclusão de que a sua observação estava certa, mesmo que Yoongi não conseguisse perceber por conta própria.
Após entrarem no setor de operação, Yoongi recuperou a compostura e conduziu-se até o painel eletrônico enquanto Jungkook abria as folhas do documento, o qual lhe foi entregue por Jared, na mesa. Havia algumas pessoas trabalhando em seus respectivos computadores enquanto os detetives se empenhavam em adiantar o máximo de estratégias possíveis antes de irem a campo.
E, para isso, era necessário conhecer o ponto de ataque escolhido pelo grupo.
— Faça o mapeamento interno do prédio — Jungkook ordenou depois de perceber que o outro aguardava as suas orientações.
Yoongi fez a busca em questão de minutos, revelando a planta detalhada do edifício, com todas as entradas e saídas. Jungkook se aproximou dele para que tivesse uma visão melhor de todos os elementos do diagrama.
— Certamente, as entradas que estamos vendo agora devem estar cercadas pelo grupo — Yoongi observou. — Então, devemos pensar em uma abertura sem que, necessariamente, seja uma porta de entrada e saída. Consegue me compreender?
— Tipo o terraço?
— Tipo o terraço — confirmou. — O único problema é que eles vão ouvir as hélices do helicóptero, a não ser que a polícia local já esteja fazendo este serviço.
— Caso a polícia já esteja fazendo isto, só precisamos entrar em um desses helicópteros. Eles não vão desconfiar que é o FBI.
— Boa ideia, mas a equipe de reforço não poderá entrar conosco. Se todos forem pelo terraço, vamos ser encurralados.
— Talvez haja uma área subterrânea a qual eles possam utilizar como passagem. Verifique.
Yoongi começou a investigar o subsolo e a sua dimensão. Como o edifício era gigante e os invasores não eram muitos, ele cogitou entrar também pela área de serviço; uma vez que, segundo o relatório, a maior parte do grupo estava reunido no saguão principal mantendo todos como reféns enquanto o restante roubava os pertences de valor.
— Temos a saída de emergência — Yoongi pontuou após analisar as passagens expostas no mapa. — O reforço pode entrar por lá, enquanto pegamos outro acesso. Se nos separarmos em duplas, podemos lidar com alguns deles no caminho.
— Ainda estou convicto de que teremos dificuldades para entrar no saguão.
— O que sugere?
— Um disfarce — respondeu. — Se entrarmos como funcionários, eles vão nos colocar no saguão junto com os outros. Desta forma, poderemos atacar o líder do grupo e os seus seguidores.
— Nem todos vão conseguir se disfarçar de funcionário... — Yoongi pausou. — O que está pensando?
Antes que Jungkook pudesse dar uma resposta, Layla e Ric entraram na sala de operação, atraindo os olhares de ambos. Agora, eles estavam, devidamente, vestidos e sem as roupas de treinamento. Yoongi e Jungkook se entreolharam, como se tivessem acabado de pensar a mesma coisa.
— E então, rapazes, o que vamos fazer? — Layla perguntou, pendurando um braço no ombro de Yoongi, que a encarou risonhamente.
— Missão de disfarce. Topa? — Yoongi perguntou a Layla, que formou um beicinho com os lábios, demonstrando interesse pela ideia. — Será que você vai ficar gostosa de terno?
— Vamos fazer o teste — ela brincou.
— Já estabeleceram o esboço da missão, senhor? — Ric perguntou diretamente para Jungkook, que confirmou com um aceno de cabeça.
— Yoongi sugeriu a saída de emergência — disse. — Como alguns de nós vão estar disfarçados, talvez seja melhor entrarmos por lá. As escadas enclausuradas podem nos ajudar ou nos atrapalhar, vai depender da sorte. Uma parte da equipe vai entrar pelo terraço e a outra vai dar cobertura.
— Você não tinha dito que nós íamos entrar pelo terraço e a equipe pela saída de emergência? — Yoongi perguntou com as sobrancelhas erguidas.
— Mudei de ideia.
Yoongi bufou.
— Eu posso dar cobertura, senhor. — Ric se ofereceu. — Sou bom com armas de precisão, se quiser posso vigiar a entrada de vocês.
— Você tem razão — Jungkook observou, voltando a analisar o mapa. — Tem um prédio vizinho a este que pode servir de mira. Se colocar a sniper um pouco mais para a esquerda, você terá uma visão perfeita do hall de entrada.
— O Ric é tão bom assim na pontaria? — Yoongi perguntou, parecendo incerto.
— Desde os meus 16 anos. — Ele sorriu, cheio de orgulho. — Meu pai era um bom atirador e foi ele quem me ensinou tudo.
— Um agente sentimental. Isso é fofo — Yoongi debochou, fazendo o sorriso do jovem sumir aos poucos. — Bem, já que tudo está dentro dos conformes, faltam só pegar as armas e os coletes.
— E os disfarces? — Layla indagou.
— Isso é o de menos — ele replicou, virando-se para sair.
Layla o seguiu primeiro, em seguida, Ric e, por último, Jungkook. O detetive não gostava de ver Yoongi tratando Ric daquele jeito, mas este não era o melhor momento para falar do assunto. Ele só esperava que, durante a missão, seu parceiro não ficasse soltando farpas.
Em minutos, eles alcançaram a sala de armas — que não ficava muito longe da Central de Operação — e começaram a escavar os armários para se equipar. Jungkook recolheu os coletes e distribuiu para a sua equipe. Layla afivelou os coldres nas coxas e guardou um par de revólveres enquanto os outros vestiam as blusas térmicas antes de colocarem os coletes padrão.
O inspetor ainda não tinha informado quantas pessoas iriam compor a equipe de reforço, mas Jungkook acreditava que ele já estava preparando-os agora mesmo. Ciente disso, o detetive só pegou os equipamentos necessários, assim como os outros.
— Estão prontos? — ele perguntou para o seu pessoal, recebendo, simultaneamente, um sim.
Depois de se certificar que a equipe estava, devidamente, composta, Jungkook deixou a credencial à mostra e trilhou para fora da sala de equipamentos. Ele estava pronto para colocar o seu plano em ação, mas tinha de fazer o seu jogo com cuidado. Estava confiante de que Jared enviaria o reforço o mais rápido possível e que, quando chegasse ao local do crime, sua tropa já estaria presente.
Ric seguiu na frente, com sua sniper pendurada nas costas, parando ao lado de Layla para dizer-lhe algo. A mulher sorriu e deu um tapinha suave no braço dele, fazendo-o rir baixinho. Jungkook e Yoongi estavam logo atrás, em completo silêncio.
Depois de caminharem por corredores sinuosos e escadas compridas, finalmente eles se puseram para fora do prédio do FBI, onde alguns policiais fardados caminhavam em direções opostas. Os carros dos estagiários estavam estacionados do lado de fora, próximos à bandeira do departamento.
Jungkook colocou os óculos de sol quando os raios solares agrediram seus olhos. Enquanto isso, Layla e Ric foram em direção ao carro dela parado entre os outros veículos. Yoongi, em contrapartida, decidiu ir com o seu próprio automóvel, assim como Jungkook, que tinha optado por estacionar na parte exterior do prédio ao invés de colocar no estacionamento principal como em todas as outras vezes.
Após destravar o veículo e ocupar o banco do motorista, Jungkook bateu a porta e ligou o motor. Ele esperou que o carro andasse depois de afundar o pé no acelerador; no entanto, isso não ocorreu. Em segundos, um som esquisito começou a ecoar pelo carro, como se um cronômetro tivesse sido ligado após a execução de seu movimento no pedal.
Embaraçado, o detetive avaliou os controles no volante e tentou detectar de onde aquele som vinha. Em questão de segundos, o carro começou a se movimentar sem o seu controle, como se uma terceira pessoa estivesse monitorando as marchas. Depois de uma rápida interpretação, Jungkook abriu a porta às pressas e pulou do carro em movimento, segundos antes de vê-lo explodir.
Ele rolou no asfalto enquanto assistia o carro bater em uma pilastra de pedra e pegar fogo. Aqueles que testemunharam a cena ficaram se entreolhando, assustados. Alguém tinha gritado o nome de Jungkook, mas o detetive só conseguiu ouvir o eco distante e abafado, como se estivesse embaixo d'água.
Quando fez um esforço para se levantar, um policial se aproximou depressa, ajudando-o a se erguer do chão. Jungkook ainda estava olhando fixamente para os destroços do carro, sem acreditar no que tinha acontecido. Se ele tivesse demorado um segundo a mais, provavelmente não estaria vivo.
— Jungkook! — Era a voz de Yoongi, chamando-o.
O seu parceiro mergulhou no meio do pequeno tumulto que se formou e, finalmente, o alcançou.
— O que aconteceu? Você está bem? Se feriu? — Ele segurou o rosto de Jungkook entre as mãos e pesquisou por ferimentos. Seus olhos estavam desesperados.
— Eu... — Ele tentou responder, mas as suas palavras morreram no caminho.
— Você quase morreu!
Voltando à consciência, Jungkook percebeu que a sua bochecha tinha ralado durante o desespero para se salvar. Naquele momento, o detetive chegou à conclusão de que alguém estava tentando matá-lo e que aquela explosão não foi um incidente.
O seu carro estava normal antes de dirigir-se para o departamento, o que significa que quem planejou o atentado estava no meio daquele aglomerado de pessoas agora. Jungkook avaliou-as, atentamente, na tentativa de localizar o culpado, que poderia não estar mais ali.
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Oi meus amores, tudo bem? A atualização demorou um pouco pra sair, mas espero que me perdoem pelo atraso.
Enfim, espero que tenham gostado do capítulo. Eu venho dando algumas pistas, mas, vale ressaltar, que nem todas elas são verdadeiras. Fiquem de olho e juntem os pontinhos...
No próximo capítulo tem a surpresa do nosso menino jimin, o que vcs acham que pode ser? Estou curiosa pra ler as teorias de vcs depois do capítulo de hoje!
Beijinhos e até mais!! <3
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