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Jungkook estava parado há exatos dez minutos encarando o sujeito, sozinho e em silêncio, dentro da sala de interrogatório. O prisioneiro não podia vê-lo através do vidro, mas o detetive conseguia enxergá-lo perfeitamente bem.

Depois de tê-lo capturado, Jungkook quis se certificar quem era aquele sujeito e o porquê de ele estar fotografando-o. Devido a isso, solicitou que Yoongi trouxesse, com urgência, o histórico daquele homem para que pudesse chegar a uma conclusão. Enquanto isso, seus olhos não pararam de estudá-lo um segundo.

O prisioneiro olhava para os lados, não como se estivesse assustado ou imaginando o que aconteceria, mas parecendo a tudo explorar. Naquele momento, Jungkook teve a impressão de que estar na sede do FBI fazia parte do plano dele.

Enquanto Jungkook estudava-o em silêncio, Jimin cutucava os botões da roupa na tentativa de aliviar o nervosismo. Desde o momento em que viu aquele homem, suas pernas têm estado trêmulas e seu coração acelerado. Seu namorado, percebendo sua inquietação, indicou-lhe um dos assentos ao lado para que ele pudesse descansar, e então o garoto o fez.

Um momento depois, Jimin ouviu um par de passos ecoando em sua direção. Ele ergueu o olhar para a pessoa que chegara e encontrou Yoongi com um tablet apoiado em uma das mãos. O agente recém-chegado cumprimentou o garoto com um aceno e se aproximou de Jungkook.

— Conseguimos identificá-lo — ele informou, fazendo os olhos do parceiro irem de encontro aos seus. — Ele se chama Vladislav e tem experiência em operações militares na Rússia. Trabalhou em uma empresa de armamento com inteligência artificial e outras ferramentas, além de matar por encomenda. Segundo as informações encontradas, ele não tem qualquer vínculo com os membros da máfia que derrotamos.

— Ele não deve estar agindo de forma autônoma, existe outra pessoa no comando — Jungkook comentou.

— Vamos imaginar que exista outra pessoa por trás disso: o que ela quer com você? Por que esse cara estava tirando fotos suas? — Jungkook voltou a encará-lo através do vidro. — Ele não tem ligação com a máfia, então podemos descartar a ideia de vingança.

— Ele pode fazer parte de outras organizações. É isso que temos que descobrir.

— A Layla já está vindo para interrogá-lo. Ela trabalhou infiltrada na Rússia durante um tempo, com certeza tem mais experiência com russos do que nós.

Jungkook suspirou.

— Quero entender porque esse cara está atrás de mim e quem o mandou aqui.

— Bom, sabemos que, depois do último caso, a nossa reputação cresceu fora do país, então podemos esperar que líderes de outras organizações criminosas comecem a tomar mais cuidado.

— Que tipo de líder enviaria uma pessoa da Rússia só para tirar fotos minhas? — Yoongi pareceu pensativo por um momento. — Se esse cara pertence a algum grupo mafioso na Rússia, o problema não é nosso. Por que ele está aqui? Ou melhor dizendo: por que a Hannah estava se encontrando com ele em segredo?

— Agora ele passou a ser problema nosso, principalmente por causa da relação entre ele e a Hannah — Yoongi observou. — Bom, temos que descobrir o paradeiro desse cara e o porquê de ele estar te perseguindo. A Central está analisando todas as coisas encontradas na mochila e as fotos na câmera.

— Yerik. — A voz de Jimin cortou a conversa da dupla, fazendo-os olharem na direção dele. — Quando o Jungkook conversou com a Amy e a Catherine, elas disseram que existia um russo chamado Yerik que estava por trás da compra de algumas meninas. Talvez esse cara esteja aqui sob as ordens dele.

Jungkook e Yoongi trocaram um olhar demorado. O menino ergueu-se da cadeira e se aproximou deles por trás, enquanto os dois agentes se encaravam. Muito rapidamente, Yoongi começou a pesquisar algo em seu tablet. Jungkook estava surpreso por não ter se lembrado de Yerik de primeira.

— Yerik ainda está foragido — anunciou Yoongi enquanto lia as informações no seu aparelho portátil. — A boate que ele tinha foi invadida pela polícia, as vítimas foram resgatadas, mas ele conseguiu fugir antes da chegada da polícia.

— Yixing também está foragido, não? — Jimin perguntou, ganhando o olhar de Yoongi. — Eles podem estar trabalhando juntos e recebendo ajuda de uma terceira pessoa.

— Um hacker, talvez? — Yoongi sugeriu.

— Para onde vão as fotos de federais perseguidos? — Yoongi apertou as sobrancelhas em reflexão. Jungkook olhou para eles, surpreso pela troca de ideias entre os dois. — Esse cara não estava só tirando fotos do Jungkook por diversão, ele estava mandando para alguém por um objetivo.

— Deep Web! — Yoongi estalou os dedos ao concluir seu pensamento. — O que significa que...

— Que alguém está pagando pela minha cabeça. — Jungkook completou rapidamente, não parecendo abalado pela possibilidade. — Que ótimo! Alguém me quer morto. Onde está a novidade?!

— Se a sua cabeça estiver valendo bilhões pode começar a trancar o cu — Yoongi brincou, observando Jungkook revirar os olhos para o seu comentário. — Será que a minha está valendo mais que a sua?

— Não é hora de brincar com esse assunto — Jimin argumentou, deixando escapar um fiapo de aflição. — É só uma suposição, não quer dizer que seja verdade.

Naquele momento, Jungkook percebeu o quão nervoso o namorado estava com toda aquela situação. Yoongi olhou para o parceiro como se dissesse a ele que Jimin deveria ir para outro lugar e não ter contato com as investigações.

Porém, Yoongi não precisou verbalizar seus pensamentos para que Jimin os entendesse. A leitura que o menino fez do olhar do agente deixou claro quais eram as intenções dele. Jimin apenas engoliu a saliva antes de pronunciar algo.

— Onde fica a máquina de café?

— No segundo corredor — informou Jungkook.

O garoto deu as costas e caminhou na direção indicada. Sem olhar para trás, Jimin dobrou o corredor e desapareceu das vistas dos detetives, deixando-os a sós. Jungkook esfregou as pálpebras e suspirou, consciente que Yoongi tinha razão em manter Jimin longe dos casos.

Além do mais, o detetive havia prometido a Seokjin que manteria o menino protegido. E, bem, não era isso que ele estava fazendo depois de inseri-lo em uma emboscada para ajudá-lo a capturar um suspeito.

— Você deveria ter deixado o Jimin no baile — mencionou Yoongi, quebrando o silêncio que tinha sido instalado. — Ele não pode ter contato com os nossos casos, cara.

— Ele não aceitaria ficar enquanto eu perseguia um suspeito.

— Mas esse é o seu trabalho, Jungkook — respondeu. — Situações como esta vão se repetir e ele não vai poder estar com você. É melhor começar a fazê-lo se acostumar com isso.

— Eu disse ao Seokjin que manteria o filho dele o mais longe possível do meu trabalho e não estou cumprindo com isso. — O som da sua voz soou mais pesado, quase próximo de frustração.

— Vai levá-lo de volta para o baile?

Antes de pensar em uma resposta, Jungkook foi interrompido por Layla, que apareceu dentro de seu uniforme de trabalho, atraindo a atenção dos colegas. Ela se aproximou da dupla a passos acelerados e disse:

— Então, rapazes, quem é o cara? — Seu olhar deslizou para os detetives antes de pousar sobre o sujeito no interior da sala.

— Essas são as únicas informações que temos até o momento. — Yoongi entregou o tablet a ela, que leu as principais mensagens sublinhadas. — Você acha que consegue arrancar mais informações dele?

— Claro.

— Ele não me disse uma palavra — Jungkook comunicou, parecendo alertá-la.

Layla o encarou.

— Veja e aprenda, senhor. — Ela deu uma piscadela para Jungkook, arrancando um sorrisinho dele, em seguida devolveu o aparelho para Yoongi.

Segundos depois, Layla se dirigiu até a porta da sala de interrogatório e abriu-a. O sujeito levantou o olhar para ela, ameaçando sorrir quando percebeu que seria interrogado por uma mulher. A detetive fechou a porta com um clique e se aproximou da mesa em que o prisioneiro estava, arrastando uma cadeira para sentar-se de frente para ele.

Jungkook ativou um aparelho que estava embutido em um suporte para ouvir a conversa a seguir. E então, de repente, a sua postura ficou mais rígida e todos os seus sentidos passaram a ficar em alerta máximo. Yoongi, ao seu lado, sabia que algo estava preocupando-o, mesmo que ele estivesse muito concentrado no que o sujeito tinha a dizer.

— Você não respondeu a minha pergunta — Yoongi declarou, mas os olhos de Jungkook continuaram fixos no interior da sala, sem piscar. — Vai levar o Jimin de volta para o baile?

Depois de longos segundos sem piscar, os olhos de Jungkook, finalmente, cederam. Ele abaixou a cabeça em sinal de decepção e soltou o ar pela boca. Naquele momento, Yoongi teve certeza de que a preocupação de Jungkook envolvia Jimin.

— Eu prometi dar a ele uma noite maravilhosa. — Yoongi conseguiu sentir a culpa nas palavras do amigo. — Quase nunca temos um momento tranquilo. Sempre que estamos curtindo, algo acontece. Essa não é a vida que eu quero dar para ele.

— Olha, volte com o Jimin para o baile e se divirtam. Eu e Layla podemos cuidar desse cara sozinhos. — A expressão de Jungkook disse a Yoongi que ele não esperava por aquilo. — Vamos te passar tudo o que descobrirmos, não se preocupe.

— Tem certeza disso?

— Você disse que prometeu dar ao Jimin uma noite maravilhosa, então cumpra com a sua palavra. — Jungkook ainda estava surpreso com a decisão de Yoongi, pois imaginava que, dentre todas as opções, ele o teria pedido para não perder o foco da investigação. — Eu vou tentar descobrir o que esse cara quer com você e quem o mandou aqui. Temos uma equipe infiltrada na Deep Web, então vamos checar se suas fotos estão lá.

— Algo me diz que Yerik e Yixing estão metidos nisso — O detetive opinou. — Os atentados não estão acontecendo por um acaso.

— Se a nossa teoria estiver certa, não estamos seguros em nenhum lugar. — Ele ouviu um pequeno suspiro escapar dos lábios de Jungkook em sinal de preocupação. — Só temos que descobrir como chegar neles, o que não vai ser uma tarefa fácil.

— Primeiro vamos interrogar o Vladislav, depois reuniremos a equipe para discutir o planejamento estratégico. — Yoongi concordou com um balanço de cabeça. — Quem quer que esteja por trás disso, não vai escapar de mim.

— Acho melhor você contar para o Jimin com quem estamos lidando — aconselhou. — Ele vai perguntar de qualquer forma.

De repente, Jimin surgiu na porta segurando um copo de isopor com café, fazendo os olhos de Jungkook caírem sobre ele. Percebendo a movimentação do garoto, Yoongi enrijeceu os ombros e fingiu estar prestando atenção na conversa de Layla com o prisioneiro.

O menino olhou para ambos — principalmente para Yoongi, que tentou disfarçar algo — e então percebeu que tinha atrapalhado a conversa deles. Jungkook caminhou em direção a ele, encontrando-o na metade do caminho. Jimin olhou nos olhos do namorado, tentando interpretá-los, e o viu apontá-los para o lado de fora.

Entendendo o recado, o garoto deu meia-volta e se colocou para fora da sala, sendo acompanhado pelo detetive, que fechou a porta após atravessá-la. Naquele momento, Jimin se perguntou o motivo de Jungkook ter fechado a porta e rapidamente concluiu que era por causa do sigilo do interrogatório.

— Eu posso esperar no carro — Jimin sugeriu depois de supor o motivo de eles estarem no corredor e não na mesma sala que Yoongi.

— Nós vamos voltar para o baile, meu bem.

Jimin arregalou os olhos.

— E o cara que você prendeu?

— Yoongi e Layla cuidarão dele — respondeu. — Não posso estragar a sua noite por causa de um imbecil.

— Mas...

— Esta equipe é grande, eles não precisam de mim agora. — O menino ainda estava confuso com aquela decisão, mas desta vez se absteve de objetar. — Eu prometi dar a você uma noite maravilhosa e quero cumprir com a minha palavra.

— Você tem certeza que essa é a melhor decisão? — Jungkook confirmou com um balanço de cabeça. — E se tiver mais homens escondidos? Esse cara pode ter vários comparsas por aí.

— Eu confio na minha equipe para descobrir.

— Jungkook, — Jimin segurou suas mãos sutilmente, fazendo-o sentir a temperatura esquentar na região tocada — eu não vou ficar triste se você disser que precisa cuidar dessa situação. Podemos sair outro dia para qualquer lugar.

— Eu ainda escolho ir para o baile com você. — Um pequeno sorriso cresceu em seus lábios, mas Jimin sabia que aquele gesto era de simpatia, não de felicidade. — O sujeito já foi detido, agora Yoongi e Layla cuidarão dele. Se eles precisarem de mim, eu estarei aqui.

No fundo, o garoto sabia que o namorado só estava tentando agradá-lo, porém, na verdade, ele estava mesmo preocupado com toda aquela situação. Se fosse em outra circunstância, Jimin refletiu, Jungkook teria escolhido ficar na sede do FBI para descobrir a verdade.

No entanto, conhecendo-o bem, o garoto tinha consciência de que não o faria mudar de ideia, mesmo que implorasse. Então a única opção que lhe restava era aceitar a decisão de Jungkook de voltarem para o baile.

— Tudo bem, gatinho... — O detetive sorriu para a sua resposta e lhe roubou um rápido beijo.

— Me espere aqui, eu já volto.

Jimin balançou a cabeça em entendimento, e sentiu-o se afastar de seu corpo em direção à sala em que Yoongi estava. Ao abrir a porta, Jungkook encontrou o parceiro assistindo ao interrogatório muito atentamente. Ele se aproximou de Yoongi sem fazer movimentos bruscos, vendo-o virar a cabeça para encará-lo.

— Eu estou voltando para o baile com o Jimin — informou através de um murmúrio e olhou, de esguelha, para Layla interrogando o prisioneiro. — Tem certeza de que vocês não precisam de mim?

— Podemos cuidar disso sem você, não se preocupe — Yoongi assegurou. — Não sei o que eles estão conversando, já que a Layla está falando em russo com ele, mas algo me diz que esse interrogatório vai demorar horas. Esse cara não parece disposto a confessar nada.

— O interrogatório está sendo gravado?

— Sim — respondeu. — Vamos estudá-lo e traduzi-lo depois que terminar. Eu te ligo assim que tivermos uma evidência sólida.

— Eu vou estar aguardando. — Jungkook fez uma breve pausa antes de entrar no próximo tópico. — O resultado do exame toxicológico do Taehyung ainda não saiu. Você tem alguma informação sobre isso?

— Layla não me disse nada sobre isso, então acredito que o resultado vai demorar para sair. — Algo em sua voz mudou, deixando-a mais pesada, e Jungkook parecia entender o porquê. — Você sabe me dizer como ele está?

— Ele parece bem melhor, até decidiu ir ao baile conosco.

— Ir ao baile?! — Yoongi expressou confusão. — Ele passou por um teste toxicológico e mesmo assim foi a um baile? Ele não parecia nada bem quando eu o vi.

— Acredite em mim, ele está bem melhor do que antes. — Yoongi soltou um suspiro, não de irritação, mas de preocupação. — Tudo o que temos que descobrir é quem deu a substância para ele e eu tenho um bom palpite de quem seja.

— Por que a Hannah faria isso?

— Esse cara estava se encontrando com ela. O que a Hannah poderia querer com esse homem? — Yoongi mostrou-se brevemente pensativo e irritado. — A droga que ela deu para o Taehyung era só uma distração. Se eles estavam planejando fazer algo, Taehyung não poderia ser um empecilho.

— Eu não entendo uma coisa: se ela não queria que o Taehyung atrapalhasse os planos dela, porque dar a ele uma droga que estimula a atenção e a adrenalina em vez de usar algo que diminua o nível de noradrenalina?

— É isso que vamos ter que investigar a partir do resultado do exame. — Yoongi concordou com um balanço de cabeça. — Mostre uma foto da Hannah para o Vladislav e veja como ele reage. É óbvio que ele não vai nos dizer nada, mas podemos manipular o interrogatório a nosso favor.

— Pode deixar comigo.

— Eu preciso ir agora. Me ligue se tiver qualquer informação.

Com um leve tapinha no ombro, Jungkook se despediu de Yoongi, que retribuiu com um aceno de cabeça. O detetive se deslocou para fora da sala instantes depois, decidido a deixar esse caso nas mãos da sua equipe enquanto aproveitava o resto da noite com Jimin.

Naquele momento, Jungkook rezou para que Scarlett não descobrisse sobre a sua decisão; caso contrário, ela iria xingá-lo de todos os palavrões possíveis.

Do lado de fora, Jimin esperava-o encostado em uma parede enquanto observava meia dúzia de estagiários conversando entre si. Ao ouvir o barulho das pegadas de Jungkook, seu rosto automaticamente se virou na direção do som.

Jungkook tocou-lhe os ombros e sorriu, arrancando um gesto semelhante dos lábios do menino. Jimin se afastou da parede bem a tempo de sentir a mão do namorado lhe puxando para perto. Em seguida, Jungkook o conduziu para fora do setor das salas de interrogatório, tentando não chamar a atenção dos demais.

Em silêncio, eles saíram do prédio do FBI e foram em direção ao carro de Jungkook. Por um momento, Jimin cogitou perguntar ao namorado quais eram as suspeitas dele, mas, depois de perceber que Jungkook queria mantê-lo o mais distante possível dos casos, desistiu.

O detetive abriu a porta do carro para Jimin se acomodar antes de dirigir-se até o banco do motorista. O garoto o observou dar a volta na dianteira do veículo, parecendo refletir sobre algo. Quando Jungkook fechou a porta, Jimin ficou inclinado a perguntar o que ele estava pensando.

— O que o Yoongi disse? — perguntou o garoto, tentando não parecer invasivo.

— Ele disse que vai me ligar se tiver alguma informação.

Jimin continuou encarando-o enquanto ele mantinha os olhos fixos para além do parabrisa. Em segundos, o detetive ligou o carro e deu partida, ainda sem olhar para os lados. Naquele momento, o garoto soube que Jungkook estava evitando dar muitos detalhes sobre a conversa com Yoongi para não preocupá-lo, o que só serviu para deixá-lo ainda mais preocupado.

— Você acha que a Hannah tá metida nesse rolo todo? — Jungkook não expressou nada após ouvir a pergunta do garoto.

— Tudo indica que sim.

— E vocês vão prendê-la?

— Eu vou fazer o que for necessário.

Jungkook olhou para Jimin quando não o ouviu dizer mais nada, consciente de que a sua fala o afetou. O menino desviou o olhar para um ponto distante, tentando disfarçar a sua reação. Ele sabia que Jungkook estava apenas seguindo as instruções do seu trabalho, mas não podia negar que se sentia triste pela pessoa que Hannah se tornou.

— Anjo — Ao ouvir a voz de Jungkook, Jimin o encarou. — Eu sei que você gosta dela, mas desde aquele dia a Hannah não é mais a mesma. Você precisa ficar longe até resolvermos isso.

— Todo mundo abandonou ela, inclusive a mãe — Jimin observou, fazendo uma pequena pausa antes de continuar. — Se eu me afastar também, vou estar fazendo o mesmo.

— Eu entendo como você se sente, mas tudo indica que a Hannah fingiu ser quem era esse tempo todo por outros motivos — respondeu. — Ela estava se comunicando com um russo que, coincidentemente, estava nos perseguindo. Por mais que você queira ficar perto dela, esse não é o melhor momento.

— Então eu e Taehyung vamos ter que nos afastar dela?

— Sim.

Jimin suspirou pela boca e esfregou os olhos.

— Eu não sei se consigo, Jungkook. — O detetive enrugou a testa em confusão. — A Hannah arriscou tudo só pra me salvar. Eu não sei se tenho coragem de fazer isso.

— Jimin, você precisa entender que está correndo riscos ficando perto da Hannah porque ela não é a mesma pessoa de antes. — O menino se calou imediatamente. — Essa garota ajudou os homens que te sequestraram e ela pode querer fazer o mesmo para se vingar da morte do Derek. Eu não posso permitir que isso aconteça, então você terá que aceitar o que eu disser.

Pela primeira vez, o tom de Jungkook foi direcionado a Jimin de forma séria, muito diferente de todas as outras vezes em que ele lhe dirigiu a palavra. Aquele tom, inclusive, costumava ser usado apenas com os colegas de trabalho.

— Tudo bem, eu vou fazer o que você me pedir... — Jimin disse baixinho depois de refletir por um minuto.

Jungkook balançou a cabeça, mostrando-se satisfeito com a decisão dele. Jimin encolheu os ombros e encostou a cabeça na janela do carro apenas para esquecer tudo o que tinha acabado de acontecer naquele intervalo de tempo. Ele não queria continuar pensando e criando mais dúvidas, por isso decidiu esperar pelo baile.

Ainda em silêncio, o menino começou a observar o céu estrelado e o movimento do tráfego, sentindo o peso do olhar de Jungkook sobre si. O detetive tinha encarado-o só para se certificar se ele estava bem, voltando a prestar atenção no percurso do carro instantes depois.

Em poucos minutos, eles chegaram na escola. O lado de fora continuava da mesma forma que eles tinham deixado antes de saírem: pacato e lotado de veículos. Jungkook estacionou o carro no mesmo lugar e procurou observar se a área estava limpa para, então, desligar o carro.

No momento em que Jimin ameaçou abrir a porta, a mão do detetive sobrepôs a sua, fazendo-o olhar na sua direção. A princípio, aquele gesto despertou no garoto um sentimento de incerteza, mas quando ele olhou nos olhos de seu amado a sensação de conforto prevaleceu.

— Vai ficar tudo bem, anjo — Jungkook disse, levando a mão do menino até os lábios e beijando-a.

— Assim eu espero. — Sua voz estava baixa e tensa.

Percebendo a oscilação na voz dele devido a insegurança, Jungkook acariciou seus cabelos e deu-lhe um beijo suave na boca na tentativa de deixá-lo mais calmo. Jimin suspirou diante da surpresa do ato, sentindo-se contemplado pelos lábios de Jungkook.

— Vamos? — O detetive o chamou após se afastar, observando o menino balançar a cabeça em afirmação.

Jungkook reforçou o convite com um movimento de cabeça, fazendo-o abrir a porta do carro. O detetive lançou-se para fora instantes depois, olhando em torno do lugar para se certificar se havia mais pessoas em seu encalço. Até o momento, a barra estava limpa.

Jimin se aproximou dele depois de vê-lo acionar o alarme do carro, sentindo o braço do detetive envolver os seus ombros e trazê-lo para perto. Enquanto caminhavam, o menino olhava para os lados com receio de localizar outro possível suspeito. Depois do que aconteceu, ele não sabia dizer se eles continuavam sendo observados ou não.

Antes de alcançarem o portão principal, Jimin e Jungkook identificaram duas figuras familiares vindo em sua direção. Em meio à penumbra da noite, estavam Ric e Taehyung conversando entre si. Ao se depararem com o casal, ambos pararam de andar e sorriram.

— Onde vocês dois estavam? — Foi Taehyung quem perguntou, sugerindo algo a mais. — Procuramos vocês pelo baile inteiro.

— Eu estava com muito calor, então viemos para cá — respondeu Jimin às pressas, sendo esta a primeira coisa que surgiu em sua cabeça.

— Eu diria que isso tem outro nome. — Sua provocação nada sutil fez Jimin repreendê-lo com o olhar.

— Taehyung...

— Tudo bem, eu paro — ele levantou as mãos em rendição. — Escuta, eu preciso te mostrar uma coisa. Tem uma cabine fotográfica lá dentro, o que acha de tirarmos umas fotos?

Jimin olhou para Jungkook disfarçadamente, mas os olhos do detetive estavam em Ric, que, coincidentemente, também estavam nele. Ele sorriu para o amigo, tentando não demonstrar sua aflição, e pensou em uma desculpa.

— Eu não sei se quero tirar fotos.

— Qual é, ursinho, vai ser divertido. — Ele se aproximou do amigo e abraçou-o pelos ombros depois de avaliar a expressão desanimada de Jimin. — Olha, já que você não quer, que tal me acompanhar até lá? Somos carne e unha, lembra?

O menino acabou sorrindo para a expressão dramática de Taehyung, e então balançou a cabeça em confirmação. Ric, ainda em silêncio, trocava olhares com Jungkook, consciente de que algo estava errado e que o detetive pretendia contá-lo.

— Vocês dois vêm? — Jimin perguntou aos agentes, ainda confuso com a troca de olhares.

— Eu estou indo daqui a pouco — Jungkook respondeu.

— Eu também — Ric acrescentou.

Naquele momento, Jimin sentiu que os dois queriam ficar à sós, então decidiu dar a eles o espaço desejado. Antes de voltar para dentro da escola, o garoto deu um rápido beijo nos lábios de Jungkook e se afastou em companhia de Taehyung, que o agarrou pelo braço para se manter próximo.

Depois de se certificar que a dupla estava longe o bastante para ouvir a conversa, Ric não poupou a curiosidade, se virou de frente para Jungkook e perguntou:

— Onde vocês estavam?

— Tinha um cara tirando fotos minhas. Eu tentei atraí-lo para uma armadilha e agora ele está na Central do FBI. — Ric abriu a boca em sinal de surpresa. — A Layla está interrogando-o, ela vai me ligar assim que tiver alguma informação.

— Por que você não quis interrogá-lo?

Jungkook suspirou.

— Eu não quis estragar a noite do Jimin, então pedi para Yoongi e Layla cuidarem disso. — Ric apertou os lábios como se agora as coisas fizessem sentido. — Você acha que teria sido melhor eu mesmo interrogá-lo?

— Ele estava atrás de você, então ninguém melhor do que você para formular as perguntas. — A sua resposta não pareceu desagradar o detetive. — Mas já que está aqui, vamos esperar um retorno da equipe.

— Eu tenho a sensação de que ele está envolvido nos últimos acontecimentos — Jungkook mencionou, sem intenção de dar muitos detalhes, visto que eles estavam em um ambiente aberto.

Na menção daquilo, Ric soube a que acontecimentos Jungkook se referia: os atentados. Ele expressou preocupação diante daquela observação, julgando-a como uma grande possibilidade.

— Se ele estiver por trás disso, temos que descobrir quem são os comparsas — acrescentou Ric, compartilhando o mesmo pensamento que Jungkook.

— Bom, eu não quero ficar pensando nisso agora. Podemos entrar?

Ric abriu os braços para enfatizar que estava de acordo e se afastou do portão para que Jungkook pudesse passar. Eles caminharam em direção ao salão principal, sentindo o chão estremecer com o barulho eletrizante da música que tocava nos alto-falantes.

Um grupo de garotas ficou admirando a dupla no momento em que eles passaram pela porta principal, esperando que seus olhares se cruzassem, mas os detetives não deram a mínima e continuaram à procura de Jimin e Taehyung.

À distância, Jungkook reconheceu a cor do cabelo e o biotipo de Jimin. Ele estava parado em uma fila, esperando a sua vez de entrar na cabine de fotos. Taehyung, ao seu lado, tagarelava sobre algo que estava rolando na pista de dança.

— Vamos pegar um coquetel? — Ric perguntou em seu ouvido devido ao barulho da música. — Ali parece estar dando outras bebidas para os convidados.

— Não quero beber muito, estou dirigindo.

— Então vamos pedir um coquetel sem álcool — reformulou, fazendo Jungkook sorrir. — Venha.

O detetive o acompanhou até o outro lado do salão, onde havia uma pequena coquetelaria servindo diversas bebidas de diferentes sabores. Ao se aproximarem do balcão, o atendente solicitou as identidades deles para se certificar se tinham idade para beber. Esse processo estava sendo feito com todos os convidados que não eram alunos da escola.

Após verificar as identidades, o atendente se afastou brevemente do balcão para pegar o menu de bebidas, entregando-o para a dupla em seguida. Jungkook passou o olho nas opções enquanto Ric esperava-o escolher primeiro.

— Eu vou querer um Bloody Mary sem álcool — o detetive requereu.

— Já eu quero um Moscow Mule com uma dose de vodka — Ric acrescentou, deslizando o menu sobre o balcão em direção ao rapaz.

O atendente se afastou para repassar os pedidos para quem estava preparando-os e voltou a atender os demais convidados. Jungkook e Ric decidiram esperar sentados nas banquetas próximas ao balcão. Eles ficaram virados de frente para o salão, observando o ambiente a sua volta.

Os olhos do detetive foram em direção à cabine de fotos, mas desta vez eles não avistaram a imagem de Jimin nem de Taehyung. Naquele momento, Jungkook imaginou que eles já estavam dentro da cabine.

— Eu estou com saudades da Layla — Ric comentou entre um suspiro baixo.

Jungkook o encarou de esguelha.

— Ligue para ela.

— Não agora, ela está ocupada. — Ele fez uma pequena pausa e sorriu. — Posso te pedir uma coisa?

O detetive revirou os olhos e sorriu, já sabendo qual seria o pedido dele.

— Diga lá, Stewart.

— Eu posso levar a Layla na sua casa? Não vamos fazer nada, eu só quero passar mais tempo com ela.

— Se você transformar a minha casa em um motel eu quebro a sua cara. — Ric gargalhou. — Estou falando sério!

— Eu fiquei sabendo que você usou a lancha dela, nada mais justo do que ela usar a sua casa também. — Jungkook olhou para ele como se aquela informação não fosse verídica.

— Foi ela quem te contou?

— Um passarinho verde.

— Que se chama Layla Mitchell — ele acrescentou. — Eu vou matá-la.

— Relaxa, cara, ela só me disse que você pediu a lancha dela emprestada. — Enquanto Ric tentava conter a risada, Jungkook lutava para não perguntar a ele o que mais Layla contou. — Estamos acertados então?

— Eu vou abrir essa exceção pra você.

Contente com a resposta recebida, Ric aumentou o sorriso e deu um tapinha nas costas de Jungkook, abraçando-o em seguida. Depois de se aproximar de Jungkook na operação em Madri, Ric tem se mostrado mais à vontade para falar sobre outras coisas, levando a relação dos dois para além do trabalho.

À distância, Jungkook enxergou Vernon sentado em uma mesa vazia, olhando para o salão como se não pudesse ver as pessoas ao redor. Sua expressão parecia abatida e sua postura, inapetente. Ao vê-lo, o detetive supôs que ele estava desanimado por algum motivo.

— Me espere aqui, eu já volto — disse Jungkook para Ric, que o encarou em confusão.

— Aonde você vai?

— Preciso resolver uma coisa. — Ele levantou-se da cadeira, fazendo o parceiro espremer as sobrancelhas, demonstrando desentendimento. — Espere pelas bebidas, eu não vou demorar.

— Certo.

Após a confirmação de Ric, o detetive fez o seu caminho em direção ao garoto, esperando que ele olhasse de volta, mas Vernon continuou distraído em seu próprio mundo. Jungkook se deu conta de que Vernon estava sentado na sua mesa quando avistou os copos de suco que ele e Jimin tinham pedido anteriormente.

O movimento de uma sombra se aproximando obrigou Vernon a olhar na direção dela, fazendo-o endireitar a coluna após reconhecer quem estava em sua frente. Sua expressão, antes abatida e desanimada, começou a se encher de curiosidade.

— Posso me sentar aqui? — perguntou Jungkook educadamente, apontando para a cadeira na ponta da mesa.

— Claro.

Sem pressa, o detetive se acomodou no assento, que antes o pertencia, e apoiou os cotovelos nas pernas, parecendo estar confortável naquela posição. Vernon, ainda confuso, o encarou, mas ele não pareceu incomodado pela presença de Jungkook, apenas intrigado.

— Eu gostaria de me desculpar pelo que disse a você mais cedo — Jungkook começou a se explicar, fazendo-o entender a que situação ele estava se referindo. — Eu não quis parecer grosseiro ao te expulsar da biblioteca.

— Tudo bem. — Ele desviou o olhar para o chão antes de dizer as próximas palavras. — Eu também queria me desculpar por ter atrapalhado vocês dois.

— Relaxa, isso já passou. — Vernon suspirou pela boca como se, para ele, aquilo ainda o incomodasse. — Olha, eu não quero que exista uma rivalidade entre nós, até porque o Jimin gosta muito de você, então eu não pretendo magoá-lo.

— Eu fui idiota com ele — Vernon disse. — Em vez de focar no nosso relacionamento, eu foquei em um sonho que poderia ter sido adiado. Se isso não tivesse acontecido, nós ainda estaríamos juntos. Mas, de qualquer forma, ele parece estar bem melhor com você.

— Obrigado.

— Pelo quê? — Sua testa enrugou em sinal de embaraço.

— Por ter seguido o seu sonho. — Jungkook ameaçou sorrir, mas considerou melhor não o fazer. — Você sabe, isso me deu a oportunidade de conhecê-lo.

Para a surpresa do detetive, Vernon sorriu.

— Eu nunca pensei que diria isso, mas espero que vocês deem certo — disse o rapaz, decidido a confessar seus sentimentos. — Mesmo que eu ainda goste dele, torço para que vocês continuem juntos. Então, não se atreva a machucar o Jimin.

— E quem é você pra me dar lição de moral? — ele brincou, arrancando uma risada baixa da garganta de Vernon.

— Cuidado, detetive, um dia eu posso roubar o seu posto.

— Para isso acontecer você vai ter que comer muito arroz com feijão, garoto. — Vernon riu e balançou a cabeça em afirmação, concordando com as palavras dele, em seguida observou a mão de Jungkook se esticar na sua direção. — Estamos acertados, então?

— Claro. — Ele apertou a mão do detetive em um acordo e demorou a soltá-la. — Posso te perguntar uma coisa?

— Diga.

— Josh já está recebendo visitas? — O detetive se manteve em silêncio. — Eu estou pensando em visitá-lo. Acha que é uma má ideia?

— Ele parece estar muito irritado com o que aconteceu, então é melhor dar um tempo. — Vernon balançou a cabeça em compreensão. — Além do mais, ele ainda não pode receber visitas, apenas do advogado.

— Eu não consigo acreditar no que ele fez. É tão bizarro — confessou. — A Sra. Torres estava me interrogando mais cedo e querendo saber o porquê de eu ter escondido a relação do Josh com a professora.

— Ela te procurou? — Suas sobrancelhas arquearam.

— Ela me encurralou no corredor. — A expressão do detetive ficou séria. — Chegou a dizer que eu poderia ser considerado cúmplice por ter omitido essa informação.

— Ela só está desesperada com a reputação do colégio.

— Eu não tenho nada a ver com isso.

— Exatamente — concordou. — Apenas ignore.

Vernon pareceu considerar a sugestão do detetive naquele momento, mas, em seu olhar, ainda era visível a preocupação para com o ex-amigo. Por mais que tenham se afastado, Vernon ainda nutria um sentimento de apego por Josh. O detetive, sabendo disso, não se atreveria a condená-lo.

— Com licença... — Uma voz familiar preencheu a audição de ambos. Jungkook olhou na direção do som e enxergou Ric com duas taças na mão. — Eu só vim entregar a sua bebida.

Ele esticou a taça para Jungkook, que agarrou-a instantaneamente e o agradeceu com um sorriso. Ric cumprimentou Vernon com um aceno de cabeça, sendo correspondido da mesma forma. O detetive experimentou um gole de seu Bloody Mary enquanto Ric não tirava os olhos dele.

Ao sentir o gosto de vodka, Jungkook olhou para o parceiro de forma suspeitosa, flagrando-o com um sorriso no rosto.

— Você trocou as bebidas? — o detetive questionou, vendo-o alargar o sorriso. — Filho de uma pu-

— Eu sei que você faria o mesmo — ele argumentou, dando de ombros, e então sentou ao lado de Jungkook, envolvendo o braço ao redor do ombro dele. — A sua é essa, irmão.

Jungkook devolveu a bebida de Ric e pegou a sua. Vernon olhou para aquela cena com uma expressão estranha, mas não disse nada sobre aquilo. A julgar pela sua cara, ele achou a brincadeira de Ric engraçada.

— Você também trabalha no FBI? — Vernon perguntou diretamente para o recém-chegado, que, de repente, o encarou, parecendo surpreso com a dúvida.

— Trabalho — respondeu. — Me chamo Ric Stewart, mas pode me chamar só de Ric.

— Prazer, Ric, me chamo Vernon. — Eles sorriram um para o outro de forma amigável. — Vocês dois se parecem um pouco.

— Já nos disseram isso — Jungkook comentou.

— Eu sou mais bonito — Ric brincou, arrancando um olhar sacana do detetive, que tentou conter uma risadinha. — Não dê risada disso, eu só estou falando a verdade!

— Claro, é por isso que você se parece comigo.

Enquanto eles brincavam de trocar farpas, Jimin e Taehyung saíam da cabine com diversas fotos polaroids nas mãos. O menino procurou por Jungkook entre as cabeças que dançavam, encontrando-o, à distância, sentado em uma mesa com Ric e Vernon.

Ao reconhecer o ex-namorado, os olhos de Jimin deram um fraco solavanco em sinal de surpresa, não esperando vê-lo em companhia de Jungkook, que, até poucas horas atrás, tinha dado uma bronca no rapaz. No entanto, o que mais o deixou surpreso foi o fato de eles estarem rindo enquanto conversavam, como se fossem velhos amigos.

— É isso mesmo que estou vendo? — Taehyung perguntou com um elevado grau de animação na voz. — Jungkook e Vernon sentados juntos?! Não posso acreditar!

Jimin não conseguiu verbalizar nada, apenas segurou o braço do amigo e o puxou na direção dos outros, quase convencido de que os seus olhos estavam fabricando aquelas imagens.

Jimin recebeu três pares de olhos quando se aproximou deles, não escondendo a sua surpresa. Taehyung, em contrapartida, revezava o olhar entre Jungkook e Vernon como se a qualquer momento eles fossem sair na mão.

— Oi, meu bem — o detetive o cumprimentou apenas para arrancá-lo de seu devaneio. Jimin piscou um par de vezes. — Já tirou as fotos?

— Sim. — Ele tentou não olhar para Vernon. — Onde vocês estavam?

— Nós fomos buscar algumas bebidas e paramos aqui para esperar por vocês. — Jungkook explicou, segurando a mão dele gentilmente. — Por que não senta conosco?

— Tá tudo bem por aqui? — Foi Taehyung quem perguntou, não disfarçando o olhar sugestivo entre Vernon e Jungkook.

O detetive o encarou por três segundos, em seguida voltou a olhar para o namorado. Aquele olhar, por mais curto que tenha sido, disse a Taehyung que ele não deveria continuar com as provocações. Diante disso, o garoto encolheu os ombros e recuou o corpo.

— Bom, eu vou buscar algo para beber — Vernon disse depois que o silêncio se estendeu, olhando para Jimin e Taehyung posteriormente. — Vocês querem alguma coisa?

— Não, obrigado. — Jimin sorriu em agradecimento.

— Eu acho que vou querer um coquetel — Taehyung solicitou, sorrindo. — Você pode trazer, docinho?

Vernon balançou a cabeça em afirmação.

— Claro.

Jimin apertou as sobrancelhas diante daquele apelido inusitado, mas conseguiu disfarçar sua confusão. Vernon levantou-se e seguiu em direção ao local onde estava distribuindo as bebidas. Jimin roubou o assento em que o rapaz estava para sentar ao lado de Jungkook e recebeu aquele par de olhos negros sobre os seus.

— Bom, eu esperava uma pancadaria, cadeiras no ar, vidros quebrados, roupas rasgadas ou qualquer coisa do tipo, menos uma amizade — comentou Taehyung quando ninguém disse nada, cruzando os braços sobre o peito. — Você se superou, Jungkook.

— Do que você está falando? — As sobrancelhas do detetive arquearam, fingindo não entender a provocação dele.

Taehyung suspirou pela boca.

— Eu desisto.

— Ótimo — Jimin disse, virando-se para Jungkook em seguida. — Yoongi já te ligou?

— Não, anjo.

— Aconteceu alguma coisa? — Taehyung perguntou, preocupado, depois de ouvir o nome de Yoongi.

— Nada que você tenha que saber — Jungkook respondeu sarcasticamente, fazendo-o espremer as pálpebras. — É sobre o exame que fizemos mais cedo. Relaxa.

Jungkook considerou melhor não contar sobre o caso para Taehyung naquele momento, visto que eles estavam em um ambiente inseguro. Além disso, ele também não podia compartilhar determinadas informações com pessoas de fora do FBI.

— Acho melhor não falarmos disso aqui. Muita gente conhece a Hannah, se ouvirem sobre isso podem começar a espalhar — Jimin avisou antes que alguém mencionasse o nome da garota.

— Bom, eu estou disposto a voltar para a pista de dança — Ric sugeriu animadamente, tentando mudar o tópico da conversa para que Taehyung não insistisse em saber mais daquele assunto.

— Seus pés não estão doendo? — perguntou Taehyung, cruzando os braços.

— Não mais. — Ele sorriu graciosamente. — E aí, alguém topa dividir aquela pista comigo?

— Eu não estou afim de dançar agora — Jungkook reclamou. — Tenho outros planos em mente.

— Eu acho que vou ficar por aqui também — Jimin acrescentou depois de entender a quais planos o namorado se referia.

Ric e Taehyung se entreolharam rapidamente, como se já esperassem por aquela resposta. Jungkook percebeu a troca de olhares entre eles, mas não deu a mínima. Em contrapartida, Jimin tentou controlar o rosado nas maçãs do rosto.

— Então só restou eu e você, Taehyung — comentou Ric, fazendo um estreito sorriso surgir nos lábios do garoto. — Podemos chamar o Vernon também.

— Não é uma má ideia — ele concordou, esticando a mão na direção de Ric. — Vamos deixar os pombinhos sozinhos porque eles não veem a hora de se livrarem de nós.

— Acertou na lata — Jungkook provocou, a expressão neutra, o suficiente para que os olhos de Ric ficassem estreitados.

— Bom saber disso, Jeon.

O detetive saboreou a sua bebida sob um sorriso cheio de travessura e deu de ombros para o drama de Ric. Dada a situação, Taehyung decidiu puxar a mão de Ric para ele se levantar, e ergueu o dedo como se tivesse acabado de se lembrar de algo.

— Por que você não apresenta o colégio para o Jungkook, ursinho? Algo me diz que ele vai gostar da área da piscina. — Sua sugestão fizeram os olhos de Jimin acenderem como uma brilhante luz, denunciando a sua admiração pela ideia.

O garoto não lhe respondeu nada, apenas balançou a cabeça, discretamente, em afirmação. Jungkook levou meio segundo para entender a insinuada ideia de Taehyung, não escondendo a curiosidade pelo lugar recomendado.

Após deixar o recado, Taehyung carregou Ric em direção ao local em que Vernon estava antes de irem para a pista de dança. Encontrando-se a sós, novamente, Jungkook olhou para o garoto como se esperasse que ele dissesse algo sobre a proposta do amigo.

— É... — Jimin se interrompeu para limpar a garganta. — Você quer conhecer o colégio?

Um pequeno sorriso desenhou os lábios do detetive, que estava ciente de que Jimin não tinha intenção de lhe apresentar o colégio, mas sim de lhe mostrar os melhores lugares para eles ficarem a sós. Até porque Jungkook não estava nem um pouco interessado na estrutura.

— Claro, meu bem — respondeu.

Jimin sentiu as paredes do estômago apertarem no momento em que Jungkook se ergueu da cadeira com a sua bebida rubra em mãos, olhando-lhe de modo convidativo. Jimin curvou os ombros antes de se levantar para acompanhá-lo. O detetive ofereceu-lhe o braço para que o menino pudesse enroscar a mão e permitiu que ele lhe mostrasse o caminho.

Ansioso para sair daquele ambiente barulhento, Jimin puxou o braço de Jungkook na direção contrária à pista de dança. Eles passaram por um corredor de mármore frio, onde havia inúmeras portas alinhadas, e seguiram para a área de esporte.

Durante um tempo, Jimin fez aulas de natação na escola, mas desistiu após reconhecer que não se identificava com o esporte. A piscina era liberada apenas para as aulas de educação física e de natação no turno oposto às aulas.

À medida que caminhavam, eles ficavam mais longe da área iluminada e do barulho estrondoso. Jimin forçou a visão para enxergar o caminho à sua frente e não correr o risco de tropeçar em algum degrau.

Conhecendo todos os trechos dos corredores, Jimin sabia que estava perto de alcançar a porta que o levava para dentro da área da piscina. Ele deu alguns passos para dentro da semi escuridão e tateou a maçaneta de uma porta metálica. Sua pele arrepiou sob o contato gelado do metal.

Assim que a porta estalou, abrindo-se, Jimin suspirou em sinal de alívio. Por um momento pensou que o lugar estaria trancado devido ao horário, mas, por sorte, ele estava enganado. Após entrar no ambiente, o garoto encostou a pesada porta, mas sem trancá-la, e virou-se para o namorado.

Jungkook estava olhando ao redor, parecendo avaliar o ambiente mentalmente. As luzes do lado de fora penetravam as janelas e iluminavam as características de seu rosto, permitindo que o garoto enxergasse melhor a expressão de seu amado.

Ele considerou ligar os interruptores, mas essa atitude chamaria a atenção de outras pessoas e denunciaria a sua ida àquele espaço privado, o que, obviamente, não fazia parte de seus planos. Apesar do lugar estar semi escuro, eles conseguiam enxergar a piscina, as escadas de ferro no interior da água, as espreguiçadeiras e a cascata.

— Por que o Taehyung sugeriu esse lugar? — Jungkook perguntou enquanto caminhava lentamente pela beirada da piscina.

— Há duas portas, então se alguém suspeitar que estamos aqui, teremos duas opções de saída.

O detetive parou a um metro e meio de distância dele e se virou para encará-lo, sorrindo para aquela argumentação. No entanto, a expressão no rosto de Jimin fez seu sorriso morrer lentamente. Ao ver a reação dele, Jimin se deu conta de que Jungkook percebeu a sua mudança de humor.

— Por que você está assim, meu bem?

— Eu não consigo fingir que tá tudo bem depois do que aconteceu — respondeu. — Eu estou com medo, Jungkook.

Com cuidado, o detetive se aproximou dele e segurou seu rosto entre as mãos.

— Do que exatamente você está com medo?

— De tudo... — Ele fez uma breve pausa. — Não sabemos quem é aquele homem, o que ele quer com você, há quanto tempo ele estava te seguindo, como ele chegou até nós e quem o mandou aqui. Não sabemos nada! Teria sido melhor se você tivesse ficado lá para interrogá-lo.

— Yoongi e Layla já estão fazendo isso por mim.

— Só que eles não são você. — Jimin sentiu um gosto estranho subir à garganta ao dizer aquilo. — Eu confio no trabalho deles, mas essa demora me deixa ansioso. Não faço a menor ideia do que está acontecendo lá.

— Eles vão me ligar quando tiverem algo em mãos. — O garoto lambeu os lábios em ansiedade. — Eu decidi voltar para o baile porque prometi a você que teríamos uma noite maravilhosa.

— Até sabermos que um maluco estava na nossa cola! — De repente, Jimin se interrompeu. Ele percebeu que a sua voz tinha se elevado um pouco e que devido a isso Jungkook se manteve em silêncio. — Me desculpe, gatinho, eu só estou apavorado com tudo isso. Você tá tentando me agradar e eu estou agindo feito um idiota.

Ainda em silêncio, Jungkook beijou o topo da cabeça de Jimin e deslizou a mão de encontro a dele, puxando-o gentilmente para uma das espreguiçadeiras. O menino se acomodou na beirada enquanto Jungkook sentava na espreguiçadeira ao lado, ficando de frente para ele.

— Eu sei que você está preocupado e com medo, mas eu estou aqui para te proteger. — Jimin piscou um par de vezes, sentindo-se nauseado e tenso. — Em vez de pensar no motivo que o trouxe aqui, saiba que ele não é mais uma ameaça para nós neste momento, pois já está preso.

— Ele pode ter vindo sob encomenda da mesma forma que pode ter mais homens espalhados por aí.

— Ele não é o único, disso eu tenho certeza, mas não podemos antecipar as coisas sem que elas aconteçam — respondeu. — Vamos aproveitar esse momento, em breve o Yoongi vai me ligar e eu não vou ter te aproveitado o bastante.

Jimin enxergou um vislumbre triste no olhar de Jungkook ao vê-lo mencionar a última parte. Naquele momento, ele decidiu arremessar para longe qualquer sentimento negativo em relação ao que aconteceu e focar em seu amado.

Jungkook tinha deixado uma investigação de lado só para estar ao seu lado, Jimin pensou, então nada mais justo do que retribuir aproveitando a sua companhia.

Em resposta àquelas palavras, Jimin curvou-se para frente e selou os lábios do namorado com os seus, sentindo-o corresponder imediatamente. O detetive arrastou-se para frente na tentativa de ficar mais próximo do menino.

— Obrigado por ser tão atencioso comigo — Jimin sussurrou contra a boca dele enquanto olhava-o atentamente. Jungkook sorriu.

— O que eu faço por você não chega nem perto do que eu desejo fazer pra te ver sorrir.

Para Jungkook, a sua declaração era óbvia, mas para Jimin aquelas palavras aceleravam os batimentos de seu coração. Por mais que estivesse acostumado com as confissões amorosas de Jungkook, o menino ainda não tinha aprendido a lidar com elas.

— É por isso que você foi falar com o Vernon? — Jimin perguntou de repente, observando-o recuar a cabeça. — Você quis se desculpar com ele por minha causa?

— Eu só reconheci que agi de forma errada. Na verdade, você me ajudou a perceber isso, então, de certa forma, foi por sua causa. — Ele acariciou as bochechas de Jimin devagar. — Eu devo admitir que senti um pouco de ciúmes quando o vi na biblioteca.

— Pensei que nunca fosse assumir.

Jungkook riu.

— Isso é tão idiota que eu tenho vergonha de assumir. — Jimin balançou a cabeça para os lados, negando o comentário dele. — Bom, o importante é que isso ficou para trás.

— Eu gosto disso, sabia?

— De como eu fico quando estou com ciúmes?

— Não, da forma como você resolve as coisas. — Jungkook apertou as sobrancelhas em reflexão. — Você consegue resolver no diálogo e é difícil encontrar pessoas assim.

— Eu costumo dispensar essa característica no meu trabalho — ele respondeu divertidamente. — Eu gosto mais de bater em bandidos a conversar com eles. É mais divertido.

Jimin gargalhou e cobriu a boca com a palma da mão depois de ouvir a própria risada ecoando pelo espaço. Ele olhou em volta de modo instintivo, mesmo sabendo que não havia mais ninguém naquele lugar. Seu olhar acabou caindo sobre uma janela que refletia parte da Lua que saía por entre as nuvens e, ali, ele teve uma lembrança.

— Você lembra quando olhamos a neve pela janela? — Jungkook olhou na mesma direção que ele, sendo levado para a mesma lembrança daquele dia. Seus lábios, automaticamente, sorriram. — Foi nesse dia que eu tive certeza do que sentia por você.

Naquele momento, uma ideia subiu à cabeça de Jungkook, fazendo-o se levantar da espreguiçadeira. Jimin o encarou de forma estranha, não entendendo o porquê de ele ter levantado. Com um movimento suave, Jungkook esticou a mão para que o garoto a segurasse.

Jimin entrelaçou os dedos nos dele e, em seguida, ergueu-se. Ele não sabia para onde Jungkook estava levando-o, mas tinha certeza que, independentemente do lugar, seria especial.

Ao atravessar ao lado da piscina, Jimin pôde observar a sua imagem refletida na água que ondulava pacificamente. Naquele momento, ele se lembrou de quando entrou no mar com Jungkook e o beijou embaixo d'água. Essa lembrança arrepiou, instantaneamente, todos os pelos de sua nuca.

Depois de alcançar uma das janelas, Jungkook colocou Jimin na frente de seu corpo e o abraçou por trás, fazendo os cantos da boca dele se elevarem. O menino admirou a paisagem à sua frente e, mesmo que a estação fosse outra, ele não poderia deixar de se recordar do dia em que eles observaram a neve.

— Eu também estava apaixonado por você — Jungkook murmurou às suas costas, roçando o hálito no lóbulo da sua orelha. — Foi difícil acreditar que aquilo estava acontecendo, mas quando eu soube que você sentia o mesmo, tudo fez sentido.

— Eu fiquei com muito medo — Jimin comentou baixinho, atraindo os olhos de Jungkook para si. — Tive medo de te assustar e você se afastar.

— Isso passou pela sua cabeça? — O menino confirmou com um aceno de cabeça.

— Você também não sentiu medo?

Por um momento, Jungkook ficou em silêncio. Em resposta, ele repousou o queixo no ombro do garoto e enterrou o rosto em seu pescoço. Quando os braços ao redor da cintura de Jimin apertaram-no, ele soube que a resposta, mesmo não dita em palavras, era sim.

Jimin colocou os braços sobre os dele apenas para confortá-lo e suspirou. Ele não levou muito tempo para descobrir que Jungkook ainda tinha medo de perdê-lo. Mesmo sabendo dos riscos, imaginou o garoto, Jungkook se esforçava para estar ao seu lado o tempo todo.

— Eu não vejo a hora de ir para Amsterdã — Jimin comentou por alto, esperando que Jungkook dissesse alguma coisa sobre aquilo, mas o detetive permaneceu em silêncio.

Confuso, o menino se virou de frente para ele e pôs as mãos em seu rosto, fazendo-o olhar em seus olhos.

— Está tudo bem, gatinho? — perguntou, hesitante.

Gentilmente, Jungkook pressionou o garoto contra a janela, beijando-o com os lábios macios. A princípio, Jimin pensou que ele estava evitando responder a sua pergunta, mas logo em seguida descartou esse pensamento, dando prioridade aos beijos do namorado.

Jungkook sentia falta de beijá-lo como gostaria, de abraçá-lo como desejava e de abrir seu coração como o fazia antigamente, pois a sensação que tinha era de que os minutos com Jimin estavam ficando mais curtos a cada dia.

No momento em que Jungkook se afastou, Jimin olhou para ele com uma mistura de fascínio e confusão. O detetive, em contrapartida, expressava puro encanto. Ele estava sorrindo de orelha a orelha como se tivesse ganhado um prêmio.

— Por que você tá sorrindo desse jeito, gatinho? — A sua pergunta estava longe de ser uma reclamação.

Jungkook deu um longo suspiro, ainda sorrindo.

— Porque a cada dia que passa eu me apaixono mais por você. — Como essa não era a resposta que Jimin esperava ouvir, seu coração acelerou. — Eu sou completamente apaixonado por você, anjo, em todos os sentidos.

— Então eu posso dizer que sou o cara mais sortudo desse mundo — ele respondeu cheio de emoção. — Eu faria qualquer loucura por você.

— É mesmo? — Seus olhos estreitaram como se tivessem acabado de ter uma ideia. — Você pularia na piscina, com roupa e tudo, comigo?

— Agora?

— Sim.

Jimin não pôde deixar de olhar para a água às costas de Jungkook, parecendo surpreso com a proposta.

— Isso é sério, gatinho? — perguntou ele com um sorriso.

— Em outra situação, talvez, mas como você está todo engomadinho, não pretendo estragar sua roupa.

Jimin corou, parecendo satisfeito.

— Antes eu não tinha certeza, mas agora sei que você foi tirado de um livro — comentou o garoto, envolvendo os braços ao redor do pescoço dele.

— Um livro?

— Romance policial — especificou. — A nossa história é um romance policial cheio de aventuras.

— Esse tipo de gênero não costuma terminar bem.

— O nosso não precisa ser igual a todos os outros. — Jungkook concordou com um sorriso.

— Eu adoro isso em você, anjo.

O menino inclinou o rosto para frente, o suficiente para que os seus narizes encostassem um no outro. Jungkook, obedientemente, se manteve parado enquanto Jimin assumia o controle dos próximos passos.

— Sabe o que eu adoro em você? — murmurou o menino, roçando os lábios nos de Jungkook em sinal de provocação. O detetive não conseguiu verbalizar nem gesticular uma resposta. — O seu beijo.

Sem dizer mais nada, Jimin puxou o namorado pelo pescoço e colou suas bocas, sem medo de demonstrar que desejava beijá-lo como gostaria. Ele se reprimiu durante meses, temeu que esse sentimento pudesse arruinar as suas vidas, mas agora que tinha Jungkook em seus braços, nada mais o importava.

Às vezes, pensava que, para amar Jungkook, tinha de sacrificar seus medos e enterrá-los na escuridão, às vezes esses medos faziam-no se sentir seguro. Apesar de tudo, Jimin tinha certeza de que nada era suficiente para destruir o que eles sentiam um pelo outro.

Jimin voltou a se recostar na janela enquanto Jungkook deslizava os braços à cintura dele, mantendo-o próximo de seu corpo. As mãos de Jimin pousaram na linha de seus ombros, sentindo um pequeno músculo naquela região se contrair diante do seu toque.

Jungkook poderia beijá-lo um milhão de vezes e ainda assim a sensação seria como na primeira vez que sentiu os lábios macios do garoto. Era como se ele voltasse em retrospectiva, para o quarto de motel, e revivesse o primeiro beijo em vívidas imagens.

Ele conseguia sentir a temperatura dos lábios de Jimin misturando-se à agonia do inverno, bem como às lufadas de vento gélido que penetravam a janela do pequeno cômodo. Naquela noite, ele ignorou os dedos gelados e as roupas encharcadas, se atentando apenas nos beijos que trocavam.

Muitas lembranças vieram à tona enquanto eles se beijavam, tão quentes e palpáveis quanto as roupas que lhe roçavam a pele. Jimin não soube dizer se o arrepio que subiu pela sua espinha foi causado pela mordida que Jungkook deu em seu lábio inferior ou pelo aperto em sua cintura. De qualquer modo, ambos movimentos agradaram-no.

Jimin tinha a sensação de que todas as coisas ao seu redor desapareciam quando ele beijava Jungkook, inclusive o coro da música que antes ecoava em seus ouvidos. No entanto, o toque de um celular penetrou a sua audição, fazendo-o, aos poucos, perceber que o som pertencia ao celular de Jungkook.

O detetive, ainda beijando-o, procurou o aparelho nos bolsos da calça e levou-o até o ouvido sem ler o nome da pessoa que estava ligando.

— Alô? — ele disse após interromper o beijo.

Será que você pode vir aqui? — A voz de Yoongi ecoou do outro lado da linha, fazendo Jungkook apertar as sobrancelhas.

— Onde você tá?

Na sua frente.

O detetive sondou os arredores para além da janela, encontrando-o parado a muitos metros de distância, quase escondido nas sombras das árvores como um verdadeiro espectro. Yoongi estava em pé ao lado do próprio carro, olhando fixamente na direção de seu parceiro e revelando seus traços sob o brilho do luar.

Naquele momento, Jungkook imaginou que a notícia que ele tinha para lhe dar não era boa, visto que Yoongi preferiu falar pessoalmente em vez de comunicá-lo por telefone.

— Eu já estou a caminho. — Ao ouvir as palavras de Jungkook, o menino ergueu os olhos para ele e sentiu um arrepio assoprar a nuca, tendo consciência de que o dever o chamava.

Você precisa ser rápido. — Embora ouvisse um pequeno chiado, Jimin não conseguia interpretar as palavras ditas do outro lado da linha. — Tenho informações e eu não sei se elas são boas ou ruins. Se demorarmos, a coisa toda pode piorar.

— Você descobriu quem está por trás disso?

Ainda é cedo pra saber quem foi o mandante, mas já sabemos quem é um dos envolvidos. — Ele fez uma pequena pausa. — Não traga o Jimin com você, ele não vai gostar do que eu tenho a dizer sobre a amiga dele.

Naquele momento, uma imagem invadiu os pensamentos de Jungkook e ele se lembrou da possível relação que Hannah possuía com o prisioneiro russo e da suspeita relacionada à droga no organismo de Taehyung. Por mais que Jimin soubesse que Hannah poderia estar envolvida, o detetive sabia que ele não estava preparado para novas descobertas envolvendo-a.

— Eu já estou indo. — Dito aquilo, ele encerrou a chamada e guardou o aparelho no bolso, voltando a olhar para o garoto. — O trabalho me chama, anjo. Infelizmente eu tenho que ir.

— Tudo bem, eu posso ficar aqui com o Taehyung e o Ric.

— Tome — Ele entregou a chave do carro nas mãos do garoto, deixando-o brevemente confuso. — Quando quiser ir, fale com o Ric para ele te levar. Eu vou deixar o meu carro nas mãos dele.

— E você?

— Vou pegar uma carona com o Yoongi — respondeu, suspirando. — Eu vou tentar te ligar assim que finalizar a investigação por hoje.

Jimin balançou a cabeça em entendimento e voltou a olhar para a chave que descansava em sua mão. Ele não queria se despedir do namorado, mas precisava deixá-lo cumprir com suas obrigações enquanto agente federal.

Jungkook segurou a mão dele e puxou-o, gentilmente, para fora da área da piscina. Eles fizeram o mesmo percurso até o salão principal, onde uma música romântica entoava dos alto-falantes. Jimin começou a se sentir saturado após se deparar com uma dúzia de casais dançando abraçados.

Sabendo que a partir de agora ele estaria sem Jungkook, aquela festa começou a deixá-lo entediado. O detetive sondou em torno do salão à procura de alguém. Jimin olhou na mesma direção que ele, vendo-o fazer um sinal para Ric, cujo significado era desconhecido. Ali, o garoto desconfiou que o gesto trocado por eles fazia parte de um código federal.

Em seguida, o detetive deu um rápido beijo em Jimin e o abraçou pelos ombros fortemente. Ele também beijou as mãos do garoto em despedida, levou-o para um assento confortável e acariciou os seus cabelos antes de se deslocar para fora do salão. O menino continuou imóvel enquanto olhava-o à distância, não desviando o olhar até vê-lo sumir.

Jungkook acelerou os passos no momento em que se pôs para fora, inquieto para ouvir o que Yoongi tinha para dizer. Ele alcançou o portão principal em questão de segundos e andou em direção ao parceiro do outro lado da estrada, que continuava na mesma posição que Jungkook o viu.

— E então, o que você descobriu? — Foi a primeira coisa que Jungkook perguntou ao se aproximar dele.

Yoongi olhou para os lados e apontou para o carro com o queixo.

— Entra aí, eu te conto no caminho — ele respondeu.

Jungkook se dirigiu até o banco do carona enquanto Yoongi se acomodava no assento do volante. Após ajustarem os cintos de segurança, Yoongi apoiou o celular no painel de controle para quando a Central lhe enviasse informações sobre o caso e ligou o motor do carro, retirando-o das sombras e movimentando-o para a estrada que dava acesso à outras ruas.

— Diga. — Jungkook insistiu mais uma vez.

— Layla tentou arrancar informações de todo jeito, mas o cara não nos disse nada. Ele tentou manipulá-la, mas Layla foi mais esperta. Ela descobriu uma tatuagem no pulso dele. — Yoongi lhe entregou um aparelho digital portátil com uma imagem na tela. — Esse símbolo é parte de uma espécie de facção da Deep Web e geralmente quem tem são assassinos de aluguel.

— Assassinos de aluguel não trabalham apenas para uma pessoa.

— Os membros dessa facção sim. Eles são um grupo formado por assassinos de aluguel que buscam aniquilar forças do governo, inclusive serviços de inteligência como o FBI e a CIA — explicou. — Eles estão espalhados pelo mundo e podem estar mais perto do que imaginamos.

— Você acha que dentro do FBI existe algum membro dessa facção? — Yoongi relutou a princípio, mas, em seguida, confirmou com a cabeça. — Por que você desconfia disso?

— A Samantha tem uma tatuagem igual a essa. — Jungkook ficou imóvel por um segundo. — Pode parecer uma estrela comum, mas observe as pontas e as letras em torno delas. Cada letra do pentagrama representa um elemento interno que compõe o perfil do grupo. A equipe da Central de Controle está tentando descobrir o que são essas letras no símbolo.

— E a Samantha?

— Layla conseguiu um mandado de busca. Eles vão interrogá-la — respondeu. — A minha maior preocupação nesse momento é o envolvimento da Hannah com essa facção. Ainda não tenho certeza, mas acho que ela tem a mesma tatuagem.

— Existe alguma prova palpável de que ela é uma suspeita além da suposição de que ela tem a mesma tatuagem?

— Sim, o resultado do exame toxicológico do Taehyung. — ele disse. — Ele estava com altas doses de anfetamina no organismo, o que torna a Hannah a principal suspeita.

— Por que ela escolheu anfetaminas em vez de uma droga que diminui a atividade do sistema nervoso? Se a Hannah estava aprontando alguma coisa e não queria que ele a atrapalhasse, usar uma substância que aumenta a atenção é burrice.

— Acho que a intenção dela era outra.

— Matá-lo?

— Provavelmente sim — respondeu. — De qualquer forma, estamos indo atrás dela. O resultado do exame a coloca em posição suspeita. Ela terá que explicar como conseguiu as drogas e qual é a relação dela com o Vladislav. Não vai haver impunidade só porque ela foi uma vítima.

— Onde ela está agora?

— Desaparecida. — Jungkook expressou confusão. — Quando recebemos o resultado do exame, uma equipe foi enviada para buscá-la, mas eles não conseguiram localizá-la. A Hannah sumiu. Tenho certeza que ela descobriu que o comparsa foi preso e agora está tentando se safar.

— E você sabe como encontrá-la?

— Bom, ainda não, mas pensei em ir na casa do Taehyung para olhar o quarto dela, talvez tenha algo lá que nos ajude a saber onde ela está.

— Ótima ideia.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos enquanto o carro deslizava em alta velocidade pela estrada. Yoongi agradeceu mentalmente pelo tráfego estar vazio e ele poder dirigir mais rapidamente ao seu destino.

Enquanto isso, Jungkook ampliou a imagem do pentagrama na pele do sujeito, observando que o desenho não parecia ter sido feito com tinta e sim carimbado com ferro quente para demarcar uma assinatura brutal.

— Olhe isso, o símbolo não foi feito com tinta e sim com ferro quente — Jungkook elucidou. — A tatuagem está com sinais de queimaduras, o que torna mais fácil saber se a tatuagem que a Samantha tem no pescoço possui os mesmos sinais.

— Ferro quente?! Que coisa horrenda!

— Se a Hannah tiver a mesma marca, temos que descobrir como ela foi aceita no grupo — Jungkook observou. — Ela não é uma assassina de aluguel nem a Samantha. Talvez exista outra forma de ingressar nessa facção.

— Vou falar com a equipe para se atentar a isso.

Jungkook parou para pensar nas informações recebidas. Samantha, uma agente que, até então, ajudou a equipe a resgatar as vítimas do tráfico sexual e deu suporte emocional a todas elas, se tornou uma suspeita.

Antes de se tornar diretor-assistente, Jungkook não conversava tanto com a mulher, mas para manter as boas relações dentro da equipe, ele teve de se aproximar de todos os agentes da Central em que trabalhava. Além disso, pensou, Jared queria colocá-la no lugar de Layla para trabalhar no caso dos atentados, o que seria um grande tiro no pé.

Se Samantha estivesse envolvida com a facção, cuja descrição ainda era desconhecida, Jungkook estava disposto a entender o motivo que a levou a lutar contra o FBI mesmo fazendo parte da equipe. Uma traição de tamanha amplitude poderia destruir sua carreira e torná-la alvo de outros federais.

De repente, o celular de Yoongi, que estava conectado no painel de controle, começou a tocar. Ele visualizou um número estranho na tela, sem saber a quem pertencia, e apertou as sobrancelhas. Em instantes, ele atendeu e voltou a segurar o volante com as duas mãos.

— Alô?

Oi, querido. — Uma voz masculina ecoou nos alto-falantes e suas bochechas, instantaneamente, ficaram enrubescidas. — Onde você está?

— Seokmin?

O próprio. — Yoongi engoliu uma enorme camada de saliva e pensou em desconectar o aparelho do som, mas isso faria Jungkook desconfiar de algo. — Tenho uma novidade para você.

— Eu estou trabalhando agora.

É sobre isso mesmo que eu gostaria de falar. — Jungkook e Yoongi se olharam por mais de um segundo. — Hannah Miller foi encontrada desacordada por moradores locais em um matagal. A minha equipe foi acionada para fazer a perícia do local, mas, como a garota esteve envolvida no caso que vocês atuaram, achei melhor informá-los. Esse trabalho não pertence à CIA.

— Onde vocês estão agora?

No local em que ela foi achada. Vou te enviar a localização. — as palavras de Seokmin atingiram Jungkook como um raio. — Acredito que o seu chefe está ouvindo isso agora, então não se atrasem. A Srta. Miller está muito agitada e assustada.

— O que aconteceu com ela? — foi Jungkook quem interrogou.

É melhor você ver pessoalmente, Jeon. A garota foi achada desacordada e nua — explicou, suspirando. — Ela já está sendo atendida pelos paramédicos, mas ainda não se sabe o que aconteceu.

— Há quanto tempo?

O sangue na pele dela está seco, então suponho que já se passaram muitas horas desde o ocorrido que a trouxe aqui.

Os olhos de Yoongi se arregalaram diante da resposta de Seokmin. Ele não soube dizer o que o assustou mais: o tempo que Hannah ficou desacordada no matagal ou o fato de ela estar sangrando.

— Nós já estamos a caminho. Obrigado por avisar. — Jungkook agradeceu.

Yoongi encerrou a chamada com um clique e em questão de segundos uma localização emergiu na tela de seu celular. Ele avaliou o endereço e agradeceu mentalmente por estar perto da região. Girando o volante, Yoongi seguiu para o local indicado e afundou o pé no acelerador, esperando chegar ao seu destino o quanto antes.

Minutos depois, eles avistaram, à distância, duas viaturas e uma ambulância paradas na estrada. As luzes das sirenes pulsavam na penumbra da noite, empurrando as cores em vermelho e azul para o céu. Havia poucas pessoas em volta, a maioria parecia pertencer às autoridades policiais, pois usavam as vestimentas oficiais.

Uma faixa amarela separava os policiais das poucas pessoas que pararam seus veículos para verificar o que estava acontecendo. Além disso, o lugar em que Hannah foi encontrada tinha sido isolado pela equipe da perícia para a investigação.

Um pouco afastado do pequeno grupo de policiais estava Seokmin com a sua glamourosa postura. Ele observava a movimentação ao redor de braços cruzados enquanto um policial ao seu lado anotava algo em um papel.

Jungkook avaliou a silhueta feminina que estava de costas, próxima da ambulância, e rapidamente a reconheceu: Paige. Ela usava um sobretudo caramelo e seu cabelo estava solto, flutuando pelo ar como pequenas ondas.

Os faróis do carro de Yoongi chamaram a atenção de Seokmin, que olhou na direção deles no momento em que o veículo se aproximou lentamente. Ao reconhecer as fisionomias por trás do parabrisa, o agente da CIA descruzou os braços.

Jungkook foi o primeiro a saltar para fora do carro quando o motor desligou. Yoongi o acompanhou instantes depois, tentando não olhar para os olhos inestimáveis de Seokmin, que não disfarçou a satisfação em revê-lo.

— Onde está a garota? — Foi a primeira coisa que Jungkook perguntou quando se aproximou do homem, poupando cortesia.

— É bom vê-lo de novo, Jeon. — Ele não parecia com pressa. — A Srta. Miller está sendo atendida pelos paramédicos. A agente Riley está com ela.

Por um momento, o detetive quase olhou para a sua irmã novamente, mas ele calculou a expressão sugestiva que Seokmin fez ao mencioná-la. Naquele instante, Jungkook lembrou-se do que Caleb disse a respeito de Seokmin.

Embora esse não fosse o melhor momento para pensar nisso, Jungkook não esqueceu que Seokmin guardava muitas informações sobre a sua caçada às bruxas na época em que ajudou Paige a encontrá-lo. O detetive sabia que ele tinha muitos contatos extralegais que poderiam servi-lo.

Seokmin percebeu que Jungkook não desviou o olhar do seu desde o momento em que chegou ao local. Quando estava prestes a perguntar-lhe se estava tudo bem, o detetive deu as costas e caminhou em direção à ambulância, deixando dois rostos confusos para trás.

Jungkook se aproximou do veículo lentamente, observando dois policiais se afastarem para ele passar. Ele parou ao lado de Paige, mas sem encará-la nem cumprimentá-la, vendo a mulher virar-se um pouco ao senti-lo se aproximar.

A expressão dela deslizou para algo que beirava a felicidade. Paige não deixou de admirar o pequeno traço que desenhava a bochecha esquerda do irmão. Ela tentou conter o sorriso e manter a compostura, embora desejasse abraçá-lo.

— Como ela está? — Jungkook perguntou para a mulher, mantendo os ombros arqueados para trás.

— Perturbada — respondeu.

Ainda sem olhá-la, o detetive deu alguns passos para perto da ambulância na tentativa de conversar com Hannah, que parecia não saber em que lugar estava. O olhar da garota encontrou o de Jungkook e, ali, ele pôde notar o terror estampado em sua face.

O corpo dela tinha sido coberto por um manto branco, as bochechas estavam encharcadas de lágrimas e os cabelos, desgrenhados. Havia impressões de sangue ao longo de sua testa e pescoço. Jungkook não conseguia imaginar o que tinha acontecido, mas estava disposto a descobrir.

— O que aconteceu, Hannah?

Os lábios da menina tremeram como se ela estivesse prestes a chorar. Jungkook avaliou a expressão de Hannah, pescando algo para além do pavor que ela manifestava. A garota também estava confusa, como se não reconhecesse nada nem ninguém ao redor dela, nem mesmo Jungkook.

— O-onde eu e-estou? — ela balbuciou, a respiração pesada e ofegante. — Q-quem é você?

Jungkook apertou as sobrancelhas, achando tudo aquilo muito estranho.

— Você não sabe quem eu sou? — Hannah olhou para ele por um segundo, em seguida balançou a cabeça para os lados, negando. Diante da resposta dela, o detetive apresentou-lhe o distintivo. — Sou um agente do FBI.

De repente, os olhos de Hannah se arregalaram como se tivessem acabado de ver um fantasma. Tão rápida quanto uma revoada de pássaros, a garota pulou nos braços de Jungkook, fazendo-o se desequilibrar para trás.

— Meu Deus! — A voz dela estremeceu. — Eu não posso acreditar!

Paige olhou para Seokmin bem a tempo de vê-lo se aproximar em companhia de Yoongi. Ela observou o parceiro avaliar aquela cena com olhos estreitos e, certamente, desconfiados. Yoongi franziu a testa, confuso.

— Eu te achei! — Hannah sorriu para si mesma, lágrimas escorriam de seus olhos verde-esmeraldas. — Você é o detetive que o Jimin me falou. É você mesmo!

— Você está agitada, Hannah. Tente se acalmar. — Paige buscou acalmá-la, mas o seu pedido caiu em orelhas surdas.

— Você tem que tirá-lo de lá. Ele está preso nas mãos do Derek. — Após a menção daquele nome, Jungkook teve certeza de que algo na memória dela tinha sido alterado. — Nós tentamos fugir daquele lugar várias vezes, eu nem sei como consegui escapar. Eu preciso da sua ajuda, por favor.

Paige gesticulou para a mulher que estava atendendo Hannah, mas Jungkook levantou a mão em impedimento no momento em que ela se atreveu a encostar na garota. Seokmin pareceu advertir a parceira com o olhar.

— Quem é Derek, Hannah? — Jungkook perguntou.

— Ele é o comparsa do Namjoon. Derek destruiu a vida do meu amigo e o colocou para servir a ele todos os dias. Eu prometi ao Jimin que fugiria para te encontrar. — Ela fez uma pequena pausa, fixando o olhar para além dos ombros do detetive. — Ele deve estar me esperando na boate. Eu o deixei sozinho nas mãos do Derek. Você precisa ir até lá comigo. Por favor!

— Ela não está bem, temos que levá-la para o hospital. — Yoongi cochichou no ouvido de Jungkook para ninguém mais ouvir.

— Existe uma mulher chamada Rose, ela é amante do Namjoon e está infiltrada no FBI. — Hannah prosseguiu, desesperada, sem poupar o fôlego. — Me ajude a salvar o Jimin, por favor. Eu não quero perder o meu amigo.

— Jungkook... — Yoongi o chamou novamente.

Naquele momento, o detetive teve certeza de que Hannah tinha recuperado as memórias da boate e perdido as memórias de Lauren, o que poderia ser considerado algo bom... ou ruim.

Perder as memórias atuais significava que a garota não iria se lembrar do que fez enquanto Lauren, ou seja, se ela estava metida com a facção, Jungkook não poderia saber. Da mesma forma que ele não poderia saber como ela conseguiu as drogas e o porquê de ter dopado Taehyung.

Por um segundo, Jungkook suspeitou de uma armação, mas o estado de Hannah não indicava outra coisa a não ser tentativa de assassinato. Ele não tinha muitas provas em mãos, mas estava determinado a ouvir o depoimento dela e a estudar a cena do crime para entender o que aconteceu.

— É melhor levá-la para o hospital. — Jungkook falou diretamente para a médica que estava atendendo-a. — Nós vamos acompanhá-la.

— Não! Você precisa resgatar o Jimin! Eu posso te levar até lá! — A garota continuou clamando aos berros.

— Primeiro vamos te levar para o hospital, depois você me conta o que aconteceu, está bem? — murmurou Jungkook apenas para acalmá-la, mas Hannah parecia inconformada.

— Você não escutou o que eu disse? Existe uma organização criminosa que está traficando pessoas para explorar sexualmente. Eu sou uma delas!

Yoongi não pôde esconder a surpresa em ouvi-la dizer aquilo, porque, até então, ela não se recordava disso. Ele avaliou os dedos da garota apertando os pulsos de Jungkook, fazendo as dobras ficarem esbranquiçadas, em um pedido de socorro.

Dava para sentir o desespero de Hannah emanando através do suor que escorria ao longo de sua testa. Ela parecia extremamente aflita. Jungkook sabia que ela não estava em condições de falar sobre o que aconteceu, seja por não se lembrar ou por estar emocionalmente abalada. Portanto, o detetive considerou levá-la, primeiramente, para um psicólogo.

— Srta. Miller, você foi encontrada desacordada e está com machucados no corpo. Vamos te acompanhar até o hospital para que consiga se lembrar do que aconteceu — Paige explicou gentilmente. — Depois que você se recuperar, o detetive Jeon vai te fazer algumas perguntas.

— Eu já disse tudo o que sei! Vocês precisam acreditar em mim!

— Nós acreditamos em você, Hannah, mas para nos ajudar você precisa estar bem. — Jungkook usou uma nova abordagem, tentando convencê-la a seguir para o hospital. — Tudo o que você precisa saber é que as garotas já foram salvas e o Jimin está em segurança.

— O quê? Como assim?

— É uma longa história — Yoongi respondeu. — Vamos para o hospital, assim podemos conversar sobre isso.

Depois de verbalizar inúmeras vezes que Jimin precisava ser resgatado e que muitas garotas estavam correndo perigo, o desespero de Hannah, finalmente, foi levado a sério por alguém. Ela parou para pensar por alguns segundos, em seguida permitiu-se ser colocada em uma maca pelo enfermeiro.

Como Jungkook não podia provar que as memórias dela eram verídicas ou forjadas, ele ia manter um pé atrás e um olho aberto. Há uma grande possibilidade de Hannah ter recuperado as memórias antigas e perdido as novas, como também de ter sido instruída a falar aquelas coisas para convencer os detetives.

— Bom, já que esse caso está nas mãos do FBI agora, acho que o nosso tempo aqui acabou, agente Riley — Seokmin disse, chamando a atenção de todos para si, principalmente a da parceira. — Vamos embora.

— Eu gostaria de acompanhá-los até o hospital — Paige disse.

— Essa não é a sua função — respondeu Seokmin em um tom afiado. — Vamos embora.

Houve um minuto de silêncio, em seguida o homem se virou para longe e andou até o seu carro estacionado do outro lado da rua. Paige corou diante do tom ríspido do colega e do olhar embaraçado do irmão. Jungkook não gostou da forma que ele falou com ela, mas também não se atreveu a dizer nada.

— Bem, eu tenho que seguir as ordens do diretor — disse Paige com os cantos da boca apertados, dando a Jungkook uma nova informação a respeito do cargo de Seokmin. — Depois que ele se tornou o diretor da CIA, as coisas têm sido desse jeito. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

— O que você acha disso, agente Riley? — Foi Yoongi quem a perguntou, referindo-se à situação de Hannah.

— Tenho a impressão de que ela foi trazida até aqui por outra pessoa. A perícia irá começar as investigações amanhã cedo, mas, pela maneira que ela foi achada, tudo indica que alguém tentou matá-la.

— E por que não a matou? — Jungkook questionou.

— Nem mesmo sabemos se foi uma tentativa de assassinato. — Yoongi acrescentou, considerando importante mencionar esse detalhe. — Ela pode ter vindo sozinha e não se lembra. Nós dois sabemos no que ela pode estar metida, Jungkook, e esse lugar é um bom local para você-sabe-o-quê.

Embora Yoongi estivesse falando em códigos, Paige tinha consciência de que se tratava de um caso específico voltado para a garota e a máfia. Ela não se atreveu a perguntar, mas também não deixou passar despercebido.

— Agente Riley — Seokmin a chamou novamente, a voz rígida, fazendo-a olhar na sua direção. Ele estava parado a quase dois metros de distância, esperando-a. — O nosso trabalho aqui acabou, deixe o FBI cuidar disso. Não quero ter que repetir de novo.

Jungkook encarou o homem como se quisesse decifrar os pensamentos dele. Ele ainda estava engasgado com as coisas que Caleb lhe contou sobre Seokmin e desejava colocá-lo contra a parede para descobrir mais coisas. No entanto, neste momento, ele o deixaria ir porque tinha outra prioridade.

— Eu gostaria que vocês me mantivessem informada sobre o estado da Hannah. — A voz de Paige atraiu o olhar de Jungkook para ela. — E caso precisem de alguma coisa, podem falar comigo. Eu tenho ótimos contatos que podem ajudar vocês nessa investigação.

— Por que eu deveria aceitar contatos que não são da minha confiança? — Jungkook disparou. — Eu agradeço, Paige, mas vou ter que dispensar.

A mulher apertou os lábios em sinal de lamentação.

— Se mudar de ideia, você tem o meu número — respondeu. — Com licença e boa sorte.

Como um furacão, Paige atravessou ao lado dele e caminhou na direção de Seokmin, que estava começando a ficar impaciente com a demora da parceira. Apesar de não ter sido intencional, Jungkook sabia que havia insultado-a ao dizer que as fontes dela não eram confiáveis.

De qualquer modo, ele não dava a mínima. Após descobrir que a facção integrava membros, inclusive, de agências policiais, seu sexto sentido passou a desconfiar de todos ao seu redor. Neste momento, Hannah era a pessoa que poderia ter todas as respostas — ou uma parte delas —, mas devido a ausência de memória, os planos de Jungkook foram retrocedidos.

No momento em que ele mais precisava das memórias de Lauren, elas foram deletadas, como se estivessem programadas para desaparecerem naquela situação. Ao pensar nisso, uma torrente infinita e imunda de xingamentos começou a percorrer a mente de Jungkook.

Ele estava decidido a se juntar à equipe de perícia no dia seguinte para analisar a cena do crime e desvendar os mistérios por trás do desaparecimento de Hannah. Se a facção estivesse envolvida nisso, Jungkook não iria descansar até encontrá-los.

Após acalmar a mente acelerada por tempo suficiente, o detetive disse para Yoongi:

— Chegou a hora de colocar a mão na massa. Vamos lá.

E, então, eles dirigiram para o hospital.

✮✮✮

Oi, meus amores, antes de tudo eu gostaria de me desculpar pela demora, muitas coisas aconteceram na minha vida durante esse período que me impediram de terminar o capítulo antes. Porém, vou fazer o possível pra atualizar o próximo mais rápido.

De qualquer forma, espero que tenham gostado da atualização e que novas teorias tenham surgido. Aliás, quais são as teorias de vcs até aqui?

Muitos capítulos de investigação/mistério vêm aí. Novos personagens surgirão, novos vilões, novos mistérios, novas descobertas... aguardem!!

Enfim, se cuidem direitinho. Eu amo vocês! <3


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