⍟ twenty six
2 HORAS ANTES
– Se eu for demitido, você vai me dar um emprego novo. – Yoongi se queixou, ouvindo uma risada contida em resposta.
Jungkook girou o volante para a esquerda, deslizando os pneus pela faixa preta da estrada enquanto focava de tempo em tempo no percurso indicado pelo GPS. Por fora, sua expressão estava pacífica, mas isso não apagava a sensação de responsabilidade pelo que estava prestes a fazer.
– Espero que o Seokjin nunca descubra para onde estamos indo. – Yoongi disse em seguida, ganhando o olhar de Jungkook de relance. – Fomos proibidos de entrar no leilão e estamos indo justamente para o leilão. Eu devia te dar uns socos.
– Não me diga que está com medo. – provocou.
– Isto não é medo, é prevenção. – ele corrigiu, fazendo Jungkook bufar.
– Não se preocupe, não vamos entrar. – ele refutou de modo imperturbável.
Yoongi conhecia perfeitamente aquela expressão.
Jungkook era esperto e muito calculista, cada pensamento que tinha parecia que era milimetricamente estudado e medido por uma régua mágica. Ele sabia exatamente o que fazer, mesmo que as suas ideias soassem erradas.
– Quanto tempo acha que vai demorar? Já estamos na estrada há cerca de quarenta minutos. – perguntou Yoongi, verificando as horas no seu relógio de pulso.
– Já estamos quase lá. – ele respondeu, despreocupado, olhando a rua às suas costas através do retrovisor.
Adiante, havia pequenas colinas atrás de uma casa grande que brilhava com as flamas das tochas que estavam fincadas nas paredes. Dois homens pareciam vigiar a entrada, patrulhando cada perímetro do bosque com a audição aguçada. Eles andavam de um lado a outro, ouvindo as corujas piando no alto das árvores e as folhas secas sacudindo pelo chão.
Jungkook estacionou numa esquina que ficava há 10 metros de distância da taberna, sob um poste de luz que piscava fracamente acima de suas cabeças, depois desligou os faróis para não levantar suspeita. Duas paredes bem estreitas ficavam uma de frente para a outra, deixando o beco entre elas completamente escuro.
As árvores eram grandes e a mata escura, podendo facilmente bloquear a visão dos vigilantes que sondavam todo o âmbito. Jungkook memorizou aquela área ao ponto de saber exatamente o que havia por trás da taberna. Apesar das colinas, uma sombria floresta a cercava. O sobrado ficava no meio do nada, muito afastado da estrada principal, exceto pelo beco no intermédio de duas construções antigas que ficavam na passagem da pista até a cidade.
Jungkook espreitou em volta, os olhos misteriosamente semicerrados, retendo cada movimento exterior. Dava para ver as nuvens encobrindo a lua e deixando lufadas por cima do vidro do carro, e mais adiante, dentro do arvoredo, alguns veículos parados.
– E agora, o que fazemos? – indagou Yoongi, parcialmente confuso.
– Esperamos. – ele respondeu ainda sem olhá-lo. – Qualquer movimento suspeito você me avisa.
– Então esse é o plano? Ficar espiando o que acontece aqui fora? – ele deu um sorriso radiante como se aquela função fosse a mais interessante de todas.
Diante do silêncio de seu parceiro, Yoongi relaxou os ombros e descansou as costas no banco de couro, como se aquela tarefa fosse demorar horas. Em seguida, disse:
– Isso vai ser divertido, podíamos ter trazido pipoca também.
Jungkook sufocou uma risada e virou o rosto para a taberna. A movimentação continuava a mesma. O frio estava tão cortante que seus suspiros saíam em forma de fumaça e lentamente maculava o vidro do carro. Ele acabou olhando as horas no celular e voltando a se concentrar no lado de fora, desejando encontrar algo de seu interesse.
– Acha que já começou? – a voz de Yoongi cortou sua atenção, mas em momento algum ele desviou o olhar para o seu rosto.
– Com certeza não.
– E como sabe?
– Suposição. – ele lançou-lhe um olhar carregado de convicção, no instante seguinte elevou furtivamente o canto dos lábios.
– Odeio quando você acerta, seu idiota. – ele rebateu, fabricando uma falsa expressão de indignação. Jungkook exalou uma respiração audível e sorriu.
Em partes, Yoongi sabia que ele estava certo, mesmo que não precisasse confirmar isso com seus próprios olhos. Jungkook tinha uma habilidade extraordinária de não só deduzir, como de avaliar cada lado de uma situação. Além do mais, se ele tivesse parado para observar direito, teria percebido que não havia muitos carros estacionados, nem o barulho de música tocando. Sem mencionar que, por ser um típico leilão, deveria ao menos ser possível ouvir os lances.
Diante do silêncio que se seguiu, Yoongi permitiu que uma imagem retornasse à superfície de seus pensamentos, fazendo-o lembrar de ter chegado na sala e ter flagrado Jungkook e Rose conversando. Sua audição não alcançou a conversa, porém, ao observá-lo tão atento ao que ela dizia, Yoongi sentiu-se curioso para saber do que se tratava, afinal Jungkook raramente dava ouvidos para Rose.
– Já que vamos ficar nesse tédio, o que acha de me contar sobre a sua conversa com a Rose? – finalmente decidiu perguntar, parecendo pegá-lo de surpresa, embora Jungkook tenha demonstrado muito pouco.
– O que quer saber?
– Talvez o motivo de vocês cortarem a conversa quando eu cheguei? – o detetive continuou olhando-o por alguns segundos, em silêncio, até decidir virar para a estrada à frente.
– Ela estava me falando sobre o passado dela. – respondeu. – Não sei se a Rose gostaria de continuar aquela conversa perto de uma terceira pessoa, por isso achei melhor encerrá-la.
Yoongi estava com as sobrancelhas levemente erguidas, esperando que ele continuasse.
– Ela me contou sobre o envolvimento que teve com o Seokjin antes de entrar no FBI. – Jungkook deu uma pausa e, antes de continuar, limpou a garganta. – Os dois se conheceram em um bordel.
O detetive ouvinte piscou em surpresa.
– Espera, a Rose frequentava esses lugares?
– Não, ela trabalhava. – Jungkook corrigiu, vendo-o correr as mãos por cima do cabelo. – É por isso que ele ficou nervoso quando citamos que o Elliot pagava por sexo, porque ele também fez com uma de nossas agentes.
O rosto de Yoongi estava estranhamente contraído e linhas de espanto circulavam suas feições. Jungkook quis rir de sua reação porque, para ele, aquela notícia não fora nem de longe uma revelação chocante. Mas, em invés disso, apenas mordiscou a ponta do inferior e apoiou o cotovelo no vidro lateral do carro, deixando o punho sob o queixo.
– O que é mais estranho é o fato de ela ter contado isso para mim, como se eu fosse enfrentar o Seokjin por causa do passado deles. – articulou Jungkook, observando uma névoa baixa raspar o vidro.
– Não entendo o porquê de ela te falar essas coisas do nada. Acha que foi para provocar ciúmes?
– Definitivamente, não. – seus olhos voltaram a encará-lo. – A Rose está se sentindo ameaçada pelo Seokjin, por isso ela se abriu comigo, mas tudo o que posso dizer é que minhas mãos estão atadas.
– Ameaçada pelo quê?
– Quando eles tiveram um caso no início, era por dinheiro, mas acabou se tornando algo mais sério. Foi Seokjin quem ensinou a ela todas as táticas do nosso trabalho, inclusive a treinou para atirar perfeitamente bem. A Rose não passou por treinamentos como eu e você, tudo o que ela sabe é fruto dos ensinamentos que o nosso chefe ofereceu. – Yoongi ficou parcialmente boquiaberto, parcialmente encabulado. – Entende o que isso significa? Mesmo sendo o diretor, Seokjin pode pagar muito caro por aprovar alguém sem experiência e treinamento necessário dentro do departamento.
– Então quer dizer que se ela abrir a boca, Seokjin pode ser demitido? – questionou Yoongi, tentando entender a lógica daquela conversa.
– Talvez. – ele deu um suspiro evasivo e olhou para a escuridão além do para-brisa. – A Rose me disse que depois de entrar no departamento e parar de se relacionar com o Seokjin, as coisas ficaram mais tranquilas, porque ele sempre soube ser profissional. Mas, depois de ouvir uma conversa pessoal entre Seokjin e outra pessoa por telefone, a situação mudou completamente.
– Que tipo de conversa?
– Segundo ela, o nosso querido diretor estava dando ordens para a pessoa do outro lado da linha. Aparentemente se tratava de "pegar mais pessoas". – Jungkook não parecia afetado com aquela história, diferente de Yoongi, que estava com os olhos arregalados enquanto processava tudo.
– Você não parece nem um pouco surpreso, não? – Yoongi disse. – Esse é o momento em que você diz: "eu estava certo".
Jungkook suspirou.
– Prefiro não opinar sobre esse assunto por agora. – sua voz ficou mais arrastada. – Antes de tudo, preciso analisar a conversa que tivemos, há muitas lacunas e isso me deixa intrigado. Não posso sair por aí afirmando que tudo o que ouvi da boca dela é verdade.
– Acha que a Rose mentiu?
– Acho que, de alguma forma, ela aumentou a conversa em algumas partes. – Jungkook curvou a cabeça para o lado e encontrou os olhos atentos de seu parceiro. – Rose disse que no dia em que o pegou conversando ao telefone, ele a trancou na sala e ofereceu dinheiro para que não contasse a ninguém. Ela disse que negou o dinheiro, mas prometeu ficar calada.
Yoongi franziu a testa embaraçado.
– Isso pode ser verdade, não pode? – perguntou.
– Pode. – Jungkook admitiu. – Mas para que isso tenha um pouco de verdade, a Rose teria de apresentar comportamentos negativos quando estivesse perto do Seokjin, até porque ela foi ameaçada. Na minha frente isso não ocorreu. Em momento algum ela pareceu nervosa ou hesitante por estar diante dele ou por iniciar um diálogo sobre o caso.
Por um momento, Yoongi se sentiu impressionado pela observação de Jungkook. Ele sabia usar as palavras certas, embora tivesse entrado no departamento há pouco mais de dois meses. Nessas situações, Jungkook era o cérebro do jogo.
Apesar de Yoongi também estudar sobre a área analítica, durante aquele instante ele se sentiu um homem sem conteúdo, mesmo que fosse um profissional formado há anos em TI e não somente em análises comportamentais. Ele acabou sendo lançado no cargo de detetive por conter bons pontos em perícia, ainda que sua paixão fosse mesmo a tecnologia de informação.
– Yoongi, olhe aquilo. – Jungkook tocou seu ombro para chamar a sua atenção e o fez olhar na direção de uma van preta rolando para os fundos da taberna. – Parece que eles chegaram.
– São eles? – ele esticou o pescoço para enxergar melhor entre a neblina e vislumbrou o automóvel parando sob os enormes galhos de uma árvore.
Jungkook forçou a visão e avistou um homem alto saltar do banco do motorista e andar até a lateral do carro, onde arrastou a porta de correr e abriu a passagem para que alguns homens pularem para fora com alguns adolescentes nos braços, todos usavam um capuz na cabeça. Os olhos de Jungkook endureceram diante da cena e ele se sentiu revoltado por vê-los tratando-os daquela forma, puxando-os à força e fazendo-os tropeçar uma vez ou outra no caminho.
– Para onde eles estão indo?– Yoongi perguntou quando aquelas figuras sumiram atrás das paredes da taberna.
– Levá-los para dentro. Não fariam isto na frente dos convidados.
– O pano na cabeça é para impedir que eles conheçam o caminho e o local em que estão? – Jungkook confirmou com um murmúrio, o olhar ainda concentrado no lado de fora, esperando recolher qualquer outro movimento suspicaz.
– Eu conheço o cara mais alto que saiu primeiro. – Jungkook se lembrou. – Foi ele quem chamou Derek no dia do desfile. Eu sabia que esse rosto era familiar.
– Então são eles? – a pergunta de Yoongi soou mais como uma afirmação.
– Sem sombra de dúvidas. – seu tom de voz mudou subitamente e Yoongi pareceu não se agradar muito com aquela alteração. – Fica no carro, eu já volto.
Jungkook se moveu para tirar o cinto, mas uma mão agarrou seu pulso depressa.
– Onde pensa que está indo? – Yoongi parecia meramente assombrado.
– Preciso ver isso de perto. É uma espionagem circunstancial, não tenho que ter um mandado em mãos para observar, certo? – o seu parceiro puxou o ar e o encarou de forma negativa.
– Eu te conheço e posso dizer que você não vai só espionar. – Jungkook ficou completamente rígido diante de seu comentário. – A regra é clara: se entrar naquele lugar, você será suspenso do caso. E na situação em que estamos, seria burrice perder um ótimo detetive por pura implicância.
– Não vou entrar.
– E o que pretende fazer? Correr o risco de ser pego?
– Confia em mim, vai ser rápido.
Havia um olhar diferente em seu rosto, uma suavidade misturada com expectativa, capaz de deixar Yoongi incerto. Ele estava quase franzindo as sobrancelhas perante seu silêncio duradouro, mas, depois de uma última reflexão, Yoongi acabou revirando os olhos e gesticulando positivamente com a cabeça.
– Você fica me devendo mais uma. – Jungkook revelou um sorriso triunfal.
Ele soltou a mão de seu pulso e Jungkook livrou o cinto de segurança, rolando para fora do carro às pressas. Yoongi se endireitou no banco e o encarou sob os cílios, vendo-o fechar a porta e se debruçar contra a janela, devolvendo o seu olhar.
Ele era bonito o suficiente para ser charmoso.
– Pode colocar o carro no beco? Está escuro e isso vai prevenir que eles te vejam. – seu cabelo bagunçou levemente pelo vento e seus olhos piscaram uma sequência de vezes por causa da brisa.
– Claro. – respondeu Yoongi, já deslizando para o banco do motorista. – Mas me prometa que não vai demorar mais do que quinze minutos.
Jungkook sacudiu a cabeça em um sim e se endireitou, enfiando as palmas dentro dos bolsos do casaco. Seus olhos eram um preto aveludado e eles acabaram caindo, de relance, sobre o colo de Yoongi.
– Quando eu voltar, a gente discute o valor da dívida. – Yoongi simplesmente olhou para ele, vendo um músculo se mover lentamente na sua mandíbula após exibir um sorriso.
– Não vou pegar leve com seu preço.
– Se não for bater punheta pra você, qualquer coisa eu topo. – Jungkook brincou e o outro entreabriu a boca em surpresa.
No entanto, antes que pudesse argumentar em sua defesa, Jungkook girou o corpo e caminhou sobre os cascalhos, evitando ouvir um bombardeio de xingamentos por parte de seu parceiro.
– Eu nunca ia pedir pra você bater uma para mim! – ele quase berrou.
Jungkook virou de lado, ainda andando, e sorriu. Havia uma linha erguida em sua boca, revelando seu sorriso provocador acompanhado por uma leve pestanejada, que não passou despercebido por aquele que estava no carro.
O veludo macio de antes se apagou no instante em que Jungkook virou de frente, sendo irresistivelmente substituído por um olhar sombrio. As linhas de seu rosto ficaram duras e sua concentração passou a ser inteiramente depositada no caminho em que estava fazendo para o lado oposto.
Ele deslizou os pés pela parte esquerda, onde o negrume dos galhos e carros encobriam sua presença. Os guardas na porta principal pararam para conversar. Havia uma arma na cintura de um deles e Jungkook acabou dobrando o corpo para frente na tentativa de se esconder atrás de um carro.
Por cima do capô, ele os observou rindo e fazendo gestos com as mãos, indubitavelmente distraídos demais para capturar os passos do detetive. Pela distância, Jungkook calculou que eles não conseguiriam traçar uma identificação caso o notassem, seria preciso uma patrulha mais de perto para detectar que havia alguém ali.
Jungkook desceu a mão até a arma no cós da calça e a segurou, mas sem sacá-la, apenas por precaução. Ele saltou para um tronco grande que escondia todo seu corpo, um pouco mais próximo de onde os dois capangas conversavam, e então sugou uma respiração profunda, sentindo o ar fresco arranhar seus dentes.
Já não podia mais ver o seu carro quando olhou por cima do ombro, então aproveitou para se concentrar nos vigias armados, que andavam de um lado para o outro como anteriormente. A árvore mais próxima ficava a alguns passos de distância. Ele lançou seu olhar sobre ela e mediu o momento exato para atravessar sem ser visto.
Jungkook trilhou passo a passo até a árvore, só que desta vez não existia nada que pudesse encobri-lo da visão dos guardas. Seu pé esmagou um galho solto no chão e o barulho de algo se partindo acordou os pássaros de um ninho próximo, que bateram as asas pelo ar e piaram continuamente.
O detetive grudou as costas no tronco escarpado segundos antes dos marmanjos olharem na sua direção. Eles pararam de se mexer, e aquele que estava armado ficou posicionado com a mão na pistola enquanto espreitava o escuro entre as árvores.
– Ouviu isso? – o que estava engatilhado perguntou para o seu parceiro, sussurrando.
– Deve ter sido um esquilo. – o outro respondeu com desdém.
Após voltarem ao seu trabalho, agora com um deles relativamente desconfiado, Jungkook olhou para eles pela última vez e decidiu dar a volta por um perímetro mais afastado, dado que, se continuasse o mesmo percurso, provavelmente seria capturado pelos capangas. Estava se arriscando, mas se não o fizesse, sobreviveria no escuro por mais tempo e colocaria em risco a vida dos adolescentes.
Ele subiu as colinas, sentindo o vento assobiar e a névoa rastejar pelo ar. Havia uma pedra declivosa no topo da vertente e Jungkook acabou se agachando perto dela. Abaixo, numerosas árvores estavam pingadas sobre a grama e, mais adiante, situava o sobrado com a van parada.
Seu olhar pesquisou em volta. Não havia porta por trás da casa, apenas paredes lisas, sem qualquer ponto de entrada. Jungkook franziu a testa sem entender como eles conseguiram uma passagem para dentro, mas um risco abaixo da neblina o fez suavizar as linhas do rosto. Um alçapão.
O acesso estava por dentro de um porão e não havia ninguém nos fundos que fiscalizasse aquela área. Um descuido, Jungkook pensou.
Sua boca torceu num sorriso, perceptivo e sexy. O sobretudo que vestia ondulava para trás por causa das correntes de ar e suas mãos estavam quase congelando no frio, mas nada era suficiente para o fazer desfocar daquela localização.
Minutos se passaram. Uma de suas pernas começou a sentir o choque da cãibra, o fazendo colocar todo peso do corpo na outra perna. Ele olhou em seu relógio e já se passavam das vinte e uma horas. Precisava entrar ou não teria respostas.
Quando ameaçou se levantar, um som vibrante tremeu no interior de seu bolso. Era o seu telefone. Ele relutou por um tempo enquanto olhava para o nome de Yoongi na tela, depois deu um suspiro fundo, rendendo-se, e então colocou o aparelho na orelha.
– Conseguiu alguma coisa? – ele perguntou do outro lado da linha, preocupado.
– Uma porta subterrânea. Deve ter sido por lá que eles entraram. A van está parada quase perto da entrada. – seus olhos viajaram imediatamente para cima, reparando nas janelas do segundo andar. – Vejo algumas janelas também, aparentemente é onde ficam os quartos.
– Tem homens vigiando os fundos?
– Não, está tudo parado. Isso é um descuido ou uma emboscada. – ele pausou, escorregando suas vistas pelos dois lados, depois para trás das colinas e novamente na casa. – Veja se há câmeras por aqui, eles podem ter espalhado para observar nossa chegada. Posso ter sido cuidadoso em me livrar dos dois homens da frente, mas não sei se sou tão bom ao ponto de me esconder das câmeras. Cheque para mim, e se houver câmeras, preciso que deixe uma imagem se reproduzindo continuamente. Isso vai distraí-los.
Houve um momento de silêncio do outro lado, em seguida a voz de Yoongi surgiu mais turbulenta:
– Como assim distraí-los? Você vai entrar?
– Não tem ninguém aqui, consigo dar conta de alguns homens. Tenho que ver o que está acontecendo lá dentro. – embora seu tom estivesse plenamente pacato, por dentro a sua paciência começava a se retalhar.
– Ficou maluco?! – seu volume era baixo, seu tom furioso. – E como acha que vai sair sem ser visto?
Jungkook passou a mão pelo rosto. Um músculo em sua mandíbula estava cerrado enquanto seu olhar avaliava uma sombra masculina para além da janela do segundo andar.
– Verifique se há câmeras primeiro. – sua voz era tão medida, de forma constante e muito bem direcionada.
Yoongi bufou, mas não insistiu.
Durante as buscas de Yoongi pelo notebook, Jungkook se certificou de ficar bem encoberto atrás de uma pedra. A silhueta por trás da cortina sumia e aparecia toda vez que atravessava o quarto, certamente procurando por algo.
Os olhos do detetive formaram duas linhas quando se semicerraram, prestando mais atenção nos movimentos do sujeito dentro do cômodo. Não era só uma sombra. Havia também uma segunda figura, e desta vez parecia feminina. O sujeito remexeu as mãos por cima do cinto enquanto ficava de frente para a menina, que, para Jungkook, demonstrava medo e horror.
– Sem câmeras por aqui. Tudo limpo. – Yoongi comunicou, cortando-o de seu devaneio.
– Talvez eles tenham bloqueado o acesso de rastreamento, tente de outro modo. – seu olhar avaliou com mais cautela o que se passava dentro do quarto e uma onda de fúria rasgou cada fibra de seu corpo quando o homem deu um tapa no rosto da garota e ordenou que ficasse de joelhos.
Não havia mais dúvidas: ela era uma vítima da prostituição.
– Jungkook? – Yoongi o chamou. – Você está me ouvindo?
De repente, gritos agudos de desespero rugiram no ar. Houve um barulho constante de assoalhos sendo queimados pelo fogo. Jungkook tentou localizar de onde estava vindo, mas a fumaça dentro da taberna acabou por responder sua dúvida. Ele não conseguia ver as chamas, porque ainda não tinham atingido o segundo andar do sobrado.
– Yoongi, o que está acontecendo? – ele levantou do chão de imediato, não suportando mais ouvir os gritos de terror sem poder fazer nada.
– Puta merda, é um incêndio! As pessoas estão correndo para fora! – respondeu, a vibração na sua voz declarava sua surpresa.
– Ligue para o corpo de bombeiros e fique no carro. Não demoro. – ele desligou o telefone sem ao menos esperar por uma resposta.
Seus sapatos deslizaram sobre a terra da colina e ele encostou na primeira árvore que visualizou na sua frente. Não podia ver muita coisa daquele ângulo, o nevoeiro cobria boa parte de sua vista. No entanto, ao ouvir os passos de pessoas correndo, seus sentidos acordaram e focaram em um único ponto: a van.
Um punhado de homens entrou dentro do furgão e arrastaram os pneus pelos cascalhos, estacionando o veículo na lateral da casa, quase perto da entrada principal, mas ainda com vista dos fundos. Eles abriram a porta e fizeram gestos com as mãos para que as garotas entrassem. Mais marmanjos se manifestaram, segurando os braços das meninas com força e arremessando-as para dentro do vagão.
Um deles arregaçou uma das mangas da blusa e colocou a faixa de pano contra o nariz para abafar o cheiro da fumaça, em seguida pegou um extintor dentro do carro, entregando para o outro grandalhão.
Eles sumiram na neblina e, já fora de vista, Jungkook apenas pôde ouvir as pisadas desesperadas esmagarem o chão repetidamente. O barulho dos motores dos carros o fez ter certeza de que os convidados estavam indo embora, lutando pela vida sem se importarem com quem ainda estivesse preso dentro do lugar.
Jungkook inclinou levemente o corpo para o lado, lançando seus olhos para os destroços causados pelo incêndio. O segundo andar já começava a entrar em chamas, fazendo o fogo se esparramar pelos cômodos, causando a maior destruição.
O tumulto se espalhava. Minutos de pânico se passaram e as vozes vociferavam juntas. Jungkook não soube deduzir quanto tempo se passou até a agitação amortecer do lado de fora, deixando apenas os fachos de fogo reluzirem através dos vidros e suas torrentes inflamarem toda estrutura de madeira.
Ao escutar mais pegadas, Jungkook se protegeu das vistas dos capangas atrás de um tronco e esperou ouvir o motor da van roncar em partida. Ele curvou a cabeça por cima do ombro quando tudo caiu em silêncio e verificou se o veículo já tinha saído. Logo viu as marcas das rodas tatuadas na estrada de terra, o que confirmava sua suposição.
No entanto, aquilo ainda não havia acabado como o detetive imaginava. Um som de passos hesitantes ecoou junto à melodia do vento. Passos, não. Tropeços.
O som continuou a se repetir, só que mais de perto. Alguém estava cambaleando entre as folhas secas, fabricando movimentos embaraçosos com suas pegadas mal realizadas.
Jungkook parou para ouvir de onde aquele som vinha. Não parecia distante. Estava tão perto quanto o assobio constante das lufadas de ar. Tudo estava vazio e silencioso, exceto por aquele ruído macio.
De repente, tudo ficou quieto. As pisadas foram cessadas e deram lugar a um grito surpreso e espantoso. Quem quer que tenha reagido assim, aparentemente estava diante de uma ameaça, pois, rapidamente, outras pegadas surgiram como um passe ilusório de mágica.
– Achou que podia fugir tão fácil, Jimin?
Jimin.
Jungkook reconheceu aquele nome. Bastou ouvi-lo para que seus olhos dessem um solavanco e a sua mente serpenteasse por cada ponta em busca daquela voz que surgiu. Ele acabou andando mais um pouco, cruzando os galhos desfolhados pelo inverno e caçando a sombra deles às cegas.
– Você tá me sufocando.
Ele girou seu corpo. Olhou de um lado a outro. Procurou no meio da neblina que tampava o topo da colina e fixou-se na taberna, agora revestida pelas chamas. Nada.
Não podia falhar desta vez. O garoto estava ali, tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Ele só precisava localizá-lo.
Aquela maldita sensação de responsabilidade voltou a agitar sua mente. Seu objetivo estava unicamente ligado a salvar vidas e fazer justiça. Ele tinha uma vida em suas mãos agora e devia salvá-la.
Jungkook prendeu a ponta da língua entre os lábios e atirou suas vistas para os cantos do bosque. Não existia nada além da fumaça misturada à névoa, e, devido a isto, sua visão ficava embaçada e perdia o foco.
No entanto, um vulto rápido atravessou o vapor da neblina e, então, Jungkook enxergou a imagem de um homem com o braço em volta do pescoço de um garoto passando como um flash por seus olhos.
Ele sacou a arma da cintura e se dirigiu lentamente na direção deles, sem qualquer movimentação suspeita. A árvore na sua frente foi a escolhida para refugiá-lo, mesmo que o maculoso relento também estivesse a seu favor.
Do outro lado, o sujeito virava o corpo de volta à casa queimada, ignorando as súplicas do garoto para que o soltasse. Jungkook continuou com sua exploração lenta e, embora estivesse determinado a ajudá-lo, seu instinto o disse para ter paciência.
Quando soube que era o momento adequado, ele virou de frente e apontou a arma para as costas do homem.
– Solte ele. – decretou num tom perigoso.
Esta era sua chance. A superfície de seus ilegíveis olhos negros endureceram quando ganhou o olhar do marmanjo sobre o seu. Embora uma curta risada incrédula tivesse escapado em deboche, Jungkook permaneceu inabalável.
– Quem é você e por quê eu deveria te obedecer?
Rompendo a terrível imagem do sujeito, Jungkook deslizou os olhos rapidamente pela figura do garoto, vendo um brilho lastimoso contornar as feições dele e uma emoção desesperada gritar por ajuda como facas afiadas.
O detetive deu mais um passo e rapidamente foi repreendido pelo sujeito. Mais de perto, Jungkook conseguiu enxergar um objeto pontiagudo ameaçando cortar a garganta do menino. Todo cuidado era pouco.
Após receber outra ordem, Jungkook teve de arremessar para longe a arma em sua mão, dedicando-se ao máximo para não aborrecê-lo e deixar que ferisse-o como consequência de seus atos. Ele se manteve perfeitamente imóvel, avaliando todas as alternativas que tinha mentalmente.
Jungkook leu um pedido de socorro nos lábios de Jimin no instante em que o sujeito girou seu corpo para partir. Ele o tinha deixado sozinho da última vez em que se viram, mas, agora, esse deslize não seria cometido novamente.
O outro revólver que estava escondido no final de suas costas foi sacado na hora em que o sujeito começou a virar. Um tiro foi disparado e o acerto foi em linha reta à testa do marmanjo, fazendo-o desmoronar no chão e espirrar gotas de sangue no rosto de Jimin.
Jungkook correu até o garoto, segurando seu rosto quando sentiu a falta de clareza em seus olhos perplexos. Jimin seguiu seus traços com o olhar, explorando sua penetrante característica proeminente. A sua imagem era clara, mas a ultrajada desrealização o sugou para um mundo lento e sem som.
– V-Você... – ele sibilou depois de ouvi-lo dizer mais alguma coisa.
– Eu disse que voltaria para te buscar.
Durante esse tempo, Jimin não se moveu, ele suportava seu toque como o primeiro contato calmo e sem maldade que recebeu de alguém desde que foi raptado. As chamas atrás de seu corpo alvejavam as arestas do rosto de Jungkook e produziam um preto ainda mais calejado em seus olhos do que sua cor natural.
Para Jimin, um mundo oculto se abriu entre eles, um que não era assustador, mas era familiar. Ele sabia que era real. E essa certeza causou um arrepio em sua nuca, na qual foi disparado abruptamente para os seus olhos, que sentiram o toque tangível das lágrimas.
Jungkook escorregou uma mão entre seus cabelos e a outra ele pousou no meio de seus ombros, no final da nuca, não pensando duas vezes antes de puxá-lo contra seu corpo para um abraço calmo e atencioso.
Jimin apoiou sua testa no peito dele e chorou. As lágrimas chegavam com soluços, expulsando para fora toda angústia enclausurada e dando lugar ao sentimento de alívio. Talvez fosse cedo demais para se sentir assim, mas um abraço confortante era tudo o que ele precisava no momento.
– Não vou deixar que nada aconteça a você. – Jungkook garantiu, segurando uma expressão suave no rosto. – Mas precisamos sair daqui, os bombeiros não vão demorar a chegar.
No momento em que o detetive ameaçou se afastar, o menino agarrou o tecido grosso de seu sobretudo com as mãos trêmulas e o impediu. Ele inalou o mesmo cheiro que sentiu no dia do desfile e sua mente acabou vacilando ao se recordar.
– A Hannah...– ele tentou falar, mas sua voz morreu no meio da frase.
– O que aconteceu com ela? – Jungkook quis saber.
Seu queixo estava no topo da cabeça do menino e seus dígitos o confortavam com um carinho lento.
– Ela ficou lá dentro. Eu não consegui trazê-la comigo.
– Tem certeza? – Jungkook o sentiu acenar contra seu peito e um instinto maior fez com que seus braços intensificassem o abraço. – Eu estou aqui, vai ficar tudo bem.
– Eu não sei se ela se salvou, eu estou com medo. – ele fungava no meio das palavras e o policial o prendia ao seu corpo como se ele fosse escorrer de suas mãos como areia.
Com os dedos enroscados nos fios do cabelo dele, Jungkook afagou seu couro cabeludo e arrastou as duas mãos pelas suas bochechas, o fazendo suspender a cabeça e encontrar seus olhos cautelosamente.
– Vou te tirar daqui, mas preciso que confie em mim e me deixe te levar a um lugar seguro. – Jimin não disse nada, mas, diferente do momento anterior, ele não estava mais em choque. – Está com frio?
Jungkook perguntou depois de avaliar suas roupas. A blusa transparente que Jimin usava dava para ver sua pele sob o tecido, por isso ele acabou enfiando as mãos por baixo dos braços para se aquecer.
– Sim.
– Tome o meu casaco. – ele retirou seu sobretudo e o envolveu em suas costas, arrumando com cuidado para protegê-lo do frio, já que o menino não descruzou os braços para colocá-los dentro das mangas.
O corpo de Jimin ainda tremulava pelo frio e a fumaça fugia de seus lábios a cada suspiro enfático.
– Como me achou? – ele perguntou, ganhando os olhos do detetive de relance.
– Ouvi o seu nome e procurei por você. Mas, para ser sincero, eu não esperava te achar aqui. – respondeu, e quando o garoto não disse nada em acréscimo, ele prosseguiu: – Está seguro agora, Jimin. Há um policial esperando por nós do outro lado.
O menino arregalou os olhos.
– Outro policial?
– Não precisa ter medo, eu vou estar com você. – o garoto não se sentiu seguro sabendo que havia outro federal por perto.
E se fosse a mulher misteriosa que trabalha para a máfia? Ela fingia ser uma policial e podia estar nos planos de Namjoon colocá-la como sua responsável a fim de levá-lo de volta para o cativeiro. Se ela estivesse por perto, então sua segurança corria perigo.
– Venha comigo. Precisamos sair daqui antes que mais alguém apareça. – Jungkook o chamou e ele relutou por curtos segundos até ceder.
O detetive segurou em seu ombro e se dirigiu ao seu lado pelo mesmo caminho que viera, só que mais distante da casa incendiada. Jimin olhou para a residência quando atravessou ao lado dela e afogou um soluço ao lembrar-se do que aconteceu horas atrás.
Uma dor ardente picou os ossos dos metacarpos de seus dedos, o fazendo massagear para mitigar o lugar. Jungkook percebeu seus movimentos com as mãos e decidiu arriscar na pergunta.
– Como se machucou? – ele sabia que fora na tentativa de fuga, mas os detalhes estavam longe de seu alcance.
– Eu me feri tentando sair pelo porão.
– Você foi corajoso. – seus olhos se cruzaram, e Jimin continuou a olhá-lo mesmo depois de ele se virar e indicar uma passagem de pedras.
O garoto andou na frente, olhando para trás e para os lados, como se todos os seus sentidos estivessem aguçados para apanhar o primeiro sinal perigoso. O seu coração estava martelando atrás da caixa torácica com tanta força que ele acabou sentindo os batimentos audíveis.
– Para onde o senhor vai me levar? – ele perguntou subitamente, tentando controlar as batidas desesperadas de seu coração.
Apesar de achar estranho alguém o chamando de senhor, a atenção de Jungkook focou unicamente na hesitação da pergunta. O menino ainda estava apavorado, e o detetive jamais seria inconveniente ao ponto de julgá-lo por isso.
– Ao prédio do FBI. Você ficará sob proteção máxima e estará seguro.
De repente, Jimin parou. Ele acabou por abaixar a cabeça e sacudi-la para os lados, negando alguma coisa.
– Isso tá errado. Como eu consegui fugir? Isso não pode estar certo, eu sinto que não está. – Jungkook se aproximou dele, olhando em volta para checar se mais alguém estava por perto, depois seus olhos caíram sobre os dele.
– Você ficou preso por mais de um ano, Jimin, é normal se sentir assim, ainda mais depois do que passou em cativeiro. – disse, sua voz suavemente reconfortante como um toque real. – O que precisa fazer é reconhecer que, pela sua coragem, você está aqui agora.
– Eu estou com medo. – assumiu. – Eles me mandaram fugir, mas eu sabia que podia ser uma armadilha. E agora eu consegui, o que significa que não é um bom sinal.
Jungkook franziu as sobrancelhas subitamente.
– O que disse?
– Eles queriam que eu fugisse em troca de não voltar a trabalhar na boate. Só que eu sabia que alguma coisa estava errada, porque eles nunca me soltariam sem um motivo.
– Definitivamente, não.
– Eles querem o senhor. – Jimin revelou, atrapalhado.
Jungkook ficou momentaneamente quieto, a confusão cortando seus olhos. Ele sabia que havia algo de errado, mas não conseguia entender o quê. Sua mente organizou um súbito quebra-cabeça. Por que dariam uma ordem para que a vítima fugisse? Em todos os casos que estudou, o sequestrador nunca soltou a vítima sem um motivo, a não ser que fizesse parte de seu plano conseguir algo em troca.
Mas, o que poderia ser?
– Talvez tenha mais homens escondidos nesta mata, eu não sei... – o garoto disse, se mexendo em indizível agonia e correndo com seus olhos por cada extremidade do bosque.
– Ei, fique tranquilo, certo? – as mãos do detetive seguraram seus ombros e a respiração dele acabou se tranquilizando sob seu toque. – Pode me contar do começo?
Com um imediato puxão, Jimin foi sugado para as suas memórias e arremessado para o dia da conversa com Namjoon. Ele reuniu toda coragem para se lembrar do diálogo, embora sua mente tivesse criado pontes com borrões e retalhado algumas falas. Talvez fosse o choque que vivenciou minutos atrás, capaz de provocar uma sensação oca em sua cabeça.
Jimin focou nos olhos cuidadosamente reservados do detetive e os seus acabaram seguindo o gesto que o indicador dele fez até os próprios lábios, selando-os em um pedido de silêncio. O menino não entendeu aquele pedido, nem mesmo quando o viu murmurar um "confie em mim" mudo.
– Você lembra do que eles te disseram? – Jungkook repetiu, mas, desta vez, a mesma mão que selava seus lábios desceu cuidadosamente até a coleira envolvida no pescoço do menino.
O garoto congelou ao sentir a ponta de seus dedos tocando a pele de sua nuca conforme desajustava o objeto.
– Não me lembro muito bem... – ele pausou, no entanto, quando percebeu que Jungkook balançou a cabeça positivamente, ele teve certeza de que estava indo bem.
Jungkook estava com a faixa de couro em seus dedos. Ele avaliou-a em silêncio, depois arrancou um pequeno metal escondido em uma das tiras. Ele levantou de frente aos seus olhos e estudou a peça, soltando um suspiro aborrecido após obter uma conclusão.
Jimin continuou encarando-o com os ombros contraídos e os olhos amendoados levemente abaixados. Seu queixo tremia com as rajadas rigorosas e implacáveis do vento e o gosto azedo do medo voltou com impulso em sua garganta. Ele focou no metal retorcido, piscando algumas vezes enquanto buscava decifrá-lo.
– O que é isto? – o menino perguntou, vendo Jungkook esmagar o pequeno objeto contra a palma.
– Uma escuta rastreadora. Eles estão nos ouvindo e nos rastreando. É por isso que eles mandaram você fugir, porque assim saberiam quais são os nossos planos para o caso. – Jimin repartiu a boca, parcialmente surpreso, parcialmente encabulado.
– Eu não entendo...
– A possibilidade de que eles já saibam que eu estive no desfile é consideravelmente alta e, sem dúvidas, devem saber que nos encontramos. – Jimin recuou um passo, assombrado, sentindo sua cabeça girar e escurecer lentamente.
Docemente, Jungkook enfocou nas suas embevecidas feições, inocentes e amedrontadas, como um filhote de gato perdido numa noite chuvosa. Não precisava se esforçar tanto para entender que por trás daqueles olhos saltados havia um pesar culminante.
Uma buzina rompeu a conversa deles e Yoongi saiu do carro, enfiando as mãos nos bolsos do casaco para aquecê-las do frio enquanto caminhava na direção deles.
– Por que você não atende a merda do cel- – ele travou e seus olhos esbugalharam – O que diabos...
– Ele fugiu. – Jungkook foi mais rápido, evitando as perguntas. – Precisamos dar o fora daqui antes que eles voltem. Nós estamos sendo rastreados e há uma escuta nos ouvindo.
– Tudo bem, eu trouxe o carro quando percebi sua demora. – embora estivesse respondendo a Jungkook, seus olhos estavam enterrados na imagem do menino. – Isto em seu rosto é sangue?
– Yoongi, deixe para outra hora. – ele o repreendeu, depois encontrou o semblante do garoto. – Pode me acompanhar?
Qualquer relutância que o garoto estivesse prestes a dar se dissipou no momento em que seus olhos esbarraram nos escuros prestativos do detetive. Então ele assentiu, se encolhendo feito um coala quando se aproximou de Jungkook, não evitando esconder seu embaraço diante do peso do olhar do outro policial.
Sirenes zuniram pela estrada, o barulho estava distante, mas ficava cada vez mais perto.
– Os bombeiros chegaram, temos que nos apressar. – Jungkook fez um sinal para Yoongi ficar no banco do carona e abriu a porta traseira para Jimin entrar, observando-o se ajeitar perto da janela. – Coloque o cinto.
Ele aguardou uma resposta do menino, que veio em forma de aceno, depois arremessou o metal e a coleira que estavam em sua mão para longe, fazendo-os cair sobre os cascalhos. Ele sentou no banco do motorista e esperou Yoongi fechar a porta para acender os faróis e engatar a ré, rasgando os pneus por cima da estrada quando virou o volante abruptamente.
Jungkook afundou o pé no acelerador e passou por uma passagem secundária. Ele saiu das zonas florestais e acabou atravessando um túnel, levando o SUV a uma rodovia com pouco tráfego. Conforme dirigia, naquele meio tempo, seu canto de olho pescou os desvios que Yoongi fez da estrada para ele, meramente suspeito.
– Pode me explicar o que aconteceu? – indagou Yoongi, a voz baixa, mas com uma energia questionadora.
– Te explico assim que chegarmos. – foi tudo o que ele respondeu, olhando pelo retrovisor externo.
– E a escuta? O que significa?
– Eles o mandaram fugir porque queriam me pegar, mas eu já tenho uma suposição do porquê. – Yoongi franziu a testa ligeiramente.
– Vai falar só quando chegarmos, não é? – Jungkook não o encarou, mas o músculo de sua bochecha se levantou devagar quando um sorriso lento desenhou seus lábios, confirmando sua pergunta.
Houve um minuto de silêncio, depois Yoongi debruçou no assento e fixou os olhos no garoto.
– Desculpe, nós não fomos formalmente apresentados. Sou o detetive Yoongi. – Jimin estava com a cabeça encostada no vidro do carro quando o viu se inclinar para trás. Ele forçou um sorriso sem ânimo, apenas por educação. – Você sabe o que causou o incêndio?
– Yoongi, este não é o momento. – Jungkook desaprovou.
– Eu quero saber o que aconteceu.
– Está tudo bem. – disse Jimin, ganhando os olhos de Jungkook pelo retrovisor interno. – Foi um dos lustres que despencou no chão. Tinham algumas velas por cima e o fogo se espalhou rapidamente quando atingiu o tapete.
– Alguém se feriu? – Yoongi quis saber, observando a rápida olhada que ele deu para o lado de fora.
– Não sei... muita gente conseguiu fugir a tempo, mas algumas meninas já tinham sido levadas para os quartos. – sua voz saiu trêmula e ele se chutou por isso.
– Yoongi, deixe ele. – o policial no banco do carona bufou e virou de frente, ajeitando-se em seu assento. Já Jungkook fixou na figura do menino pelo espelho e prosseguiu: – Não tem que responder nada agora, Jimin. Fique tranquilo.
O flash do leilão estava tão fresco na mente de Jimin que ele sentiu seus olhos mancharem pelos rastros das lágrimas quando se lembrou de Hannah. Ele não tinha visto a amiga passar com as outras para o lado de fora quando o fogo começou, porém ainda existia um fino toque de esperança que o fazia acreditar em sua sobrevivência.
Ele sentiu seu estômago embrulhar no instante em que um pensamento assustador ameaçou invadi-lo, por isso levou os braços à região, abraçando-se em um efeito defensivo. A sensação de perda esmagava seu peito e a ausência de informação o machucava ainda mais.
Jungkook pousou suas vistas mais uma vez nele, mas, diferente do momento anterior, ele não encontrou seus olhos. Jimin estava com a cabeça inclinada contra o vidro, com a respiração irregular e os castanhos atentos às árvores do lado de fora.
Os próximos minutos se estenderam em silêncio. Jimin não controlava a admiração de poder ver o céu de novo, a recuperação de reparar nos arranha-céus sendo cortados pelas nuvens baixas e nas pessoas passeando pelo parque. Era como se tudo fosse novo, até mesmo a sensação adocicada da liberdade, que se tornou uma experiência inovadora depois de viver muito tempo em cativeiro.
Jungkook deu a volta por uma esquina, onde havia poucos pilares com luz e uma vasta estrada. Os pequenos olhos do menino se atentaram a uma placa no início da entrada, onde dizia que os próximos quilômetros pertenciam ao Departamento Federal e que, devido a isto, não era permitido a circulação de veículos, exceto os dos agentes.
Jungkook ativou um tipo de aparelho que estava embutido no painel do carro para que a Inteligência do Departamento ficasse informada sobre a sua chegada, embora o veículo tivesse rastreador.
Adiante, Jimin conseguiu alcançar um prédio em formato retangular no meio do nada, não havia residências ou trânsito por perto, a construção era a única coisa que clareava a escuridão da floresta que o cercava.
Jimin estava tenso demais e impressionado demais com a dimensão do prédio. Jungkook puxou a marcha e desacelerou o carro, parando de frente para um enorme portão robusto. Ele clicou em um botão e a janela do carro deslizou para baixo, uma espécie de aparelho brotou de dentro da parede, arrastando-se para frente como se as pedras estivessem se movendo, depois ele digitou um código numérico e colocou seu polegar no espaçamento digital ao lado.
O aparelho voltou para dentro e se fechou. No instante seguinte, o portão se abriu e as portas se separaram, rastejando para os lados das paredes. Ele pisou no acelerador e o motor entrou em movimento, fazendo o carro escorregar por uma estradinha ladeada por ciprestes.
Ao lado, uma insígnia de pedra desenhava as enormes letras do FBI e mais adiante estava o estacionamento. Jungkook empacou o carro numa vaga livre e saiu pela porta do motorista, dando a volta pela traseira para abrir a porta para Jimin.
– Chegamos. – o detetive informou, uma mão na porta escancarada e a outra por cima do teto.
O garoto estremeceu. Ele desviou os olhos para o estacionamento com poucos carros e engoliu em seco. Um rápido pensamento ruim penetrou sua mente e rodopiou seu coração, mas ele decidiu lançá-lo para longe.
Jungkook esperou que ele desatasse o cinto em seu colo e se retirasse do veículo. Seus joelhos cambalearam ligeiramente sob o peso de seu corpo quando ele se pôs de pé. Por um segundo, o detetive pensou em segurá-lo para servir de apoio, contudo ele não sabia se a sua atitude poderia assustá-lo.
Jungkook compreendia o receio amargo que Jimin estava sentindo em relação a tudo, apesar de se mostrar integralmente sincero a todo momento. Sabia que o menino estava com a estrutura emocional abalada e, devido a isto, tinha de ser civilizado e atencioso perante o seu comportamento hesitante.
– Detetives! – o sargento Andrew os chamou, aproximando-se deles com passos acelerados. – Eu estive procurando por vocês. O resultado da perícia chegou, gostariam de ver?
Jungkook percebeu que os olhos de Andrew caíram sobre o menino de esguelha, mas, aparentemente, qualquer dúvida que tenha existido foi jogada para escanteio.
– Pode resolver isso? – Jungkook perguntou diretamente a Yoongi, que assentiu sem protestar.
Então, eles foram para longe e entraram em uma sala do outro lado do estacionamento. Jungkook sacudiu o queixo para Jimin, indicando o elevador, em seguida apertou o botão, fazendo a porta deslizar para o lado.
Boa parte do tempo, Jimin ficou quieto, sentindo as batidas de seu coração martelarem depressa. A ausência de palavras certamente estava intensificando seu receio de até mesmo se mover perto do detetive, tornando constrangedor, inclusive, respirar ao seu lado.
O elevador guinchou no décimo andar e a porta abriu, dando a Jimin um pequeno vislumbre do local em que estavam. Era um corredor extenso. O menino ficou paralisado, observando a primeira porta que seus olhos encontraram
Corredores. A palavra causava tremores em seu corpo e também lembranças deploráveis. Uma sensação aguda alfinetou sua nuca e um arrepio congelante farpou seus braços quando se lembrou do corredor para o quarto de Derek.
– É por aqui. – falou Jungkook, já fora do elevador.
Jimin saiu com passos relutantes. Seus olhos estudaram o ambiente enquanto uma força maior guiou seus pés para perto do policial parado diante de uma porta. Havia um aparelho com números ao lado da maçaneta, Jungkook digitou a senha ao invés de inserir o cartão metálico e ela se abriu com um clique.
Tudo estava escuro na parte interna, o único facho de luz que iluminava a sala vinha do lado de fora, ou melhor dizendo, da metade da lua que não estava escondida nas nuvens. Jungkook acendeu a luz e viu o menino pestanejar algumas vezes até se adaptar à claridade. Ele ainda estava imóvel na entrada, sentindo-se atraído pela estrutura formidável que enquadrava cada extremidade.
– Você quer água? – perguntou Jungkook, arrancando-o para fora de sua análise silenciosa.
Ele negou, abraçando-se para afastar um calafrio profundo e repentino, mas ele sabia que sua reação tinha sido mais psicológica do que física. Jungkook colocou a chave do carro em cima da mesinha de centro e então disse:
– Se sente à vontade para entrar? – Jimin piscou repetidas vezes e olhou para os lados, entendendo, finalmente, o que Jungkook quis dizer com aquilo.
Então, o garoto mergulhou para dentro, relutando algumas pegadas. O detetive ainda o olhava enquanto ele fazia o seu caminho com passos claudicantes.
– Não tenha medo, você estará seguro aqui. – disse, mas suas palavras não foram suficientes para confortá-lo.
– Tem certeza de que ninguém está me vendo agora?
– Absoluta. – ele assegurou, calmo. – Esta é a única área onde não tem câmeras e escutas. Está protegido.
Um estranho silêncio durou. Jimin pareceu pensativo, e diante disso, Jungkook permaneceu calado, não intervindo em seu momento de reflexão.
– Não sei se consigo me acostumar com tudo isso... é tão bizarro. – assumiu, arrancando um suspiro risível do agente, sendo completamente longe de humor.
– No início será complicado, mas você conseguirá se habituar com o tempo. – houve alguns segundos de pausa, depois ele continuou. – Fico feliz que finalmente esteja aqui. Eu não me perdoaria se tivesse falhado com você de novo.
Jimin sentiu sua garganta secar e um pensamento estranho romper todo seu raciocínio. Talvez fosse esquisito refletir sobre o que ele disse, no entanto, um risco se reacendeu em seu interior e pela primeira vez ele sentiu que podia ter um impacto notável, mesmo que as circunstâncias fossem as piores.
– Eu entendo se não quiser confiar em mim e, mesmo que tente, ainda vai existir incertezas por tudo o que te fizeram passar. – continuou Jungkook, seu tom incrivelmente inalterável. – Mas, saber que você acreditou em mim no dia do desfile e que aceitou entrar no carro quando na verdade podia ter corrido para qualquer outro lugar, me faz pensar que no fundo você confiou em mim.
Ele está certo, Jimin pensou. Seu psicológico estava afetado, tão afetado que aquela declaração acendeu a chama dos meses em que viveu em cativeiro e se desmanchou silenciosamente nas lágrimas que subiram aos seus olhos, deixando-os levemente vermelhos.
– Eles me feriram. – por fim, Jimin disse. – Cada vez que me tocaram foi por maldade. Eu ainda sinto as mãos dele em mim, ouço sua voz dizendo que eu serei punido se desobedecê-lo e escuto sua risada diabólica em meu ouvido.
Ele. Aquela única palavra disse a Jungkook a quem ele se referia: Derek.
– Mas o senhor não entende o que isso significa, não é? – Jungkook continuou calado. – Claro, como o senhor saberia se nunca esteve na mesma situação que a minha? Eu sou um idiota por perguntar.
– Tem razão, eu não entendo, mas posso te ajudar. Escolhi este caso porque quero dar um fim nessa quadrilha. – Jimin viu os olhos dele descansarem nos seus e uma suavidade inexplicável contornar sua fisionomia. – Imagino que seja difícil lidar com isso todos os dias, ainda mais depois de meses em cativeiro, mas saiba que você pode contar comigo. Seja o que for, estarei aqui para ouvi-lo.
Não bastava somente conversar ou se abrir sobre sua desastrosa vida, pois não mudaria seu passado, nem iria deletar o que sofreu, então, pensou Jimin, por que conversar? Ele sempre conversava com Hannah, uma pessoa que entendia a sua dor, e mesmo assim nunca foi suficiente para destruir aquele sentimento lancinante. Ele nem mesmo sabia se seria capaz de superar.
– Sabe, Jimin, por mais que seja estranho ou complicado, a melhor alternativa é que você se abra com outra pessoa. – a voz do detetive soou novamente e ele se assustou por ouvi-lo dizer o que acabara de pensar. – Precisamos de um ouvinte que escute a nossa dor. Se me deixar, eu posso ser o seu. Não tenha receio de se abrir comigo, eu vou te ouvir sempre que precisar, está bem?
Jimin sentiu seu fôlego se desequilibrar um tanto. Ele não o tratou como um coitadinho, nem havia ficado com nojo quando o abraçou no bosque. Talvez tenha sido uma estratégia de seu trabalho, afinal ele não o conhecia de verdade, no entanto, naquele momento, para Jimin, suas palavras não pareceram uma fantasia enganosa.
Meramente confortável com aquelas palavras, Jimin secou as lágrimas com as costas da mão e curvou os ombros, acenando com a cabeça depois de sentir seu tormento se dissipar um pouco.
– Agora você precisa descansar. Está muito tarde e sua mente precisa se recuperar. – Jimin não escondeu sua confusão e acabou encrespando o semblante.
– Recuperar minha mente?
– Sim. Como detetive, é meu dever saber o que aconteceu com você antes de se tornar uma vítima. E da forma que está agora, esse não é o melhor momento para as perguntas, por isso preciso que descanse e dê força à sua memória para que amanhã possamos fazer a entrevista, caso esteja pronto. – ele explicou pacientemente, depois apontou para o topo da escada. – Tem um quarto vazio lá em cima. Se estiver de acordo, posso te mostrar onde fica. Eu vou preparar uma água quente para você limpar o sangue do seu rosto e tomar um banho.
Brevemente, Jimin tinha esquecido do sangue, agora seco, em seu rosto. Ele passou a pontinha dos dedos por cima e seus olhos esbarraram nas feridas que as pancadas desferidas na porta do alçapão provocaram nos ossos de seus dedos.
– Precisamos fazer um curativo nisso também. – Jungkook falou, ganhando sua atenção.
– Tá doendo. – ele se queixou, fazendo uma careta ao tocar no local machucado.
– Vamos cuidar disso. Os materiais hospitalares estão na enfermaria. Não fica muito longe daqui. – ele explicou enquanto tentava entender a expressão que aflorou o rosto de Jimin após aquela informação.
Com os castanhos cheios de confusão, ele apenas enlaçou os braços em volta do próprio corpo. Não era um medo superficial, havia um pressentimento ruim em seu interior, movendo-se com urgência para os pelos de seus braços.
Ele procurou se controlar e puxou um fôlego trêmulo.
– Não se sente bem para ir até a enfermaria? – perguntou Jungkook.
– Eu não sei quem posso encontrar no caminho, senhor. – o menino deslizou para o sofá e se acomodou na pontinha. – O senhor pode trazer os materiais até aqui?
O detetive apenas concordou com um balançar de cabeça.
– Fique à vontade. Eu não demoro.
Jungkook conferiu se ele estava mais estável antes de dar a volta e subir o primeiro degrau. Houve um minuto de exploração por parte de Jimin, que, impertinentemente, esbarrou na lateral do corpo dele subindo os degraus.
A cena aconteceu de forma misteriosamente silenciosa. Foi estranho, mas o menino não controlou a curiosidade ao examinar a projeção dos ombros do detetive e o desenho de seu perfil proeminente. Ele era diferente dos demais e parecia ser mais jovem do que todos os policiais que Jimin já viu até agora.
Então, Jimin esfregou os dedos sobre a cabeça e a sua boca se abriu para dizer algo, mas ela simplesmente ficou petrificada, sem emitir qualquer som. De repente, sua voz eclodiu:
– Senhor! – chamou, observando-o parar no sétimo degrau. O detetive o esperou dizer algo enquanto inspecionava-o. – Eu ainda não sei o seu nome.
Jungkook não tirou os olhos dele. Portanto, adotando um articulado tom, ele disse:
– Pode me chamar de Jungkook.
Jimin absorveu aquele nome e limpou a garganta, logo formulando as seguintes palavras:
– Obrigado por me ajudar. – ele apenas remexeu o queixo e os cantos da sua boca se curvaram, quase, não completamente, em um sorriso tímido.
– Não me agradeça ainda, Jimin.
Por fim, ele avançou escada acima, rangendo o assoalho com o peso de seu corpo. Jimin se atirou no estofado e colocou as mãos no rosto. Parecia impossível acreditar que estava se sentindo livre, entretanto, pela primeira vez, ele podia declarar seu alívio por essa certeza.
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