⍟ twenty one
Jungkook andou de um lado para o outro, com as mãos entrelaçadas na nuca como se, com aquele gesto, pudesse extrair da mente o próximo passo brilhante. O seu cérebro juntava as peças, produzindo um quebra-cabeça no ar com as ideias que acumulou até o momento.
Encontrar o bilhete não queria dizer nada, apenas consolidava a sua teoria de que haveria um leilão ilegal. Embora não tivesse muitas respostas declaradas naquele minúsculo papel, Jungkook acreditava que o evento fora montado pela máfia.
Não havia nada além de uma localização, horário e uma ínfima foto de uma mulher desnuda borrando o convite. Aquela imagem fora o estopim para Jungkook acreditar que a quadrilha estava por trás daquilo, mesmo que o evento fosse uma zona autorizada para prostituição, na qual as mulheres estariam se comprometendo por vontade própria.
Elliot podia ser a chave para alcançar a resposta, ele só tinha que pegá-lo para os alcançar. Estava a pouquíssimos passos de desmascará-los, só precisava tirar o tradicional ás da manga.
— Mandou me chamar, senhor? — um policial na porta perguntou. Os olhos de Jungkook o encontraram e ele gesticulou a cabeça para que o homem se aproximasse.
— Mande policiais para a casa de amigos e parentes de Elliot Campbell, investigue as residências por dentro e veja se há algum porão. Qualquer movimento suspeito me avise.
— Se acharmos o suspeito, devo trazê-lo? — o homem fardado perguntou.
— De preferência traga-o e deixe-o sob custódia.
O policial confirmou com um aceno e então se afastou. Assim que se retirou de seu campo de visão, Jungkook voltou a se concentrar no vasto painel de vidro com a foto de Elliot no canto superior e um mapa aberto no centro. Havia círculos vermelhos grifados com piloto em algumas áreas espalhadas, onde ele marcou para se auto instruir.
Linhas de cansaço e estresse pressionavam seus traços, e ainda assim, o modo como ele consultava o diagrama derretia qualquer outra preocupação.
Ouviu um eco de pegadas soando às suas costas, mas ele não quis virar o rosto para ver quem era. Sua atenção estava inteiramente compenetrada nos próximos passos. Yoongi se instalou ao seu lado, os olhos atentos na mesma direção que os dele.
— Já mandei um alerta para a Central de Busca. Eles vão averiguar os aeroportos e todas as rodovias. Vamos pegar esse cara. — informou Yoongi.
— Ótimo. Ele vai desejar nunca ter fugido.
— Encontrou alguma coisa? — Yoongi quis saber, olhando para Jungkook e depois para o mapa.
— Eles mudaram a área dessa vez. — ele apontou para uma região rabiscada. — Aqui é uma zona isolada que fica perto de colinas e bosques. A estrada mais perto demora quatro quilômetros. De acordo com a localização marcada no convite, o lugar é esse.
Ele pegou o piloto solitário no canto da mesa e circulou o espaço central, que ficava no meio de outras linhas curvilíneas, para ilustrar sua explicação. Yoongi uniu as sobrancelhas e cruzou os braços sobre o peito, permanecendo em um silêncio aturdido enquanto seus olhos estudavam o mapa.
— Por que eles mudaram de lugar tão depressa? — Yoongi questionou no instante que uma dúvida surgiu. — O desfile aconteceu em uma rua movimentada e cheia de casas, mas porque agora eles decidiram mudar todo o esquema para um lugar com pouco tráfego?
— Porque agora eles sabem sobre nós. — naquele instante, o olhar de Yoongi se encontrou com o seu. — Já devem saber que havia policiais no desfile, mas ainda não sabem que esses policiais somos nós. Por isso mudaram a localização. Eles estão buscando autocontrole e segurança, aprimorando ainda mais a proteção deles para não correr esse risco de novo.
— Então você está me dizendo que a partir de hoje vai ser mais difícil de encontrá-los? — Jungkook fez um breve aceno com a cabeça.
— Eles estão melhorando, buscando métodos profissionais para confundir o FBI. — ele voltou a olhar para o mapa novamente, sondando as estratégias que podiam facilitar a investigação. — Se chegarmos duas horas antes do evento começar, vamos ter uma vista boa espiando daqui. — ele circulou um território dentro do bosque, quase perto da estrada. — Vai ser a noite, haverá árvores impedindo que eles nos vejam de dentro. Se ficarmos nessa região, as outras viaturas vão se instalar em volta do bosque, bloqueando qualquer saída, então poderemos cercar tudo se houver um movimento suspeito.
— Fica próximo da estrada, o que facilita a retirada das vítimas sem qualquer resistência. Não vão ter como fugir se houver uma patrulha sigilosa. — Yoongi acrescentou, admirado com a mais nova tática.
— Por isso precisamos de um mandado. Se tivermos um motivo para acabar com a festa, não vão ter para onde correr. — disse Jungkook, se afastando do painel enquanto retirava o celular do bolso.
— Está disposto a invadir o leilão mesmo que não seja a máfia? — Yoongi traçou o mesmo percurso que ele, o seguindo até a mesa onde ele se colocou sentado.
— Podemos dizer que recebemos uma denúncia anônima acusando o local de fazer um show de exibições ilegais. Somos autoridades, não irão nos barrar com um mandado em mãos. — após discar o número, Jungkook abandonou o celular em cima da mesa, esperando o toque completar a chamada.
— Para quem está ligando? — Yoongi perguntou em confusão.
— Seokjin. Ele conhece muitos juízes e pode conseguir o mandado mais rápido que nós.
— Alô? — a voz do outro lado atendeu.
Jungkook inclinou vagamente a coluna e sustentou os dois braços acima da mesa, deixando o celular dentro do espaço entre eles.
— Senhor, tem um minuto? — ele quis saber, ouvindo um arfar soando contra o aparelho, indicando que Seokjin estava caminhando.
— Estou indo para o meu escritório, mas sim, eu tenho um tempo. Alguma novidade? — Jungkook lançou um olhar cúmplice na direção de seu parceiro, que descansou os ombros e fez um sinal com o queixo, insinuando para que ele continuasse.
— Precisamos que consiga um mandado para um leilão ilegal. — disse ele, mantendo as notas cuidadosas. — Obtemos o nome de um suspeito, mas ainda não foi suficiente. Ele fugiu porque sabia que estava sendo caçado por nós.
— Ele tem ficha criminal?
— Não, senhor. Mas ele tem histórico de pagar por sexo. — dessa vez a voz de Yoongi disse primeiro.
Um silêncio infindável se manifestou por bastante tempo do outro lado da linha. Jungkook chegou a pensar que a chamada tinha sido finalizada, se não fosse o suspiro estafante que Seokjin expulsou pela boca.
— Preciso de provas efetivas para arranjar o mandado. — ele pronunciou, o som de suas palavras estavam mais duras.
— Vamos enviar o convite. — Jungkook respondeu, parecendo reparar na súbita mudança em sua voz.
— Um convite não é prova suficiente para garantir que tem o dedo da máfia no meio. — Seokjin falou, o barulho de sua voz estava mais distante, como se ele estivesse fazendo outra coisa.
— Mesmo que eles não estejam por trás, é importante verificar cada prova. — Jungkook falou. — Eles estão ficando mais espertos, criando habilidades capazes de manipular a nossa investigação. Não vou perder outra oportunidade. Preciso do mandado e de reforços.
— A equipe que está aí não é suficiente?
— Para o plano que estamos montando, não.
— Ok, vou fazer o possível para conseguir o mais rápido, mas não garanto entregar antes de uma semana. Essas coisas requerem tempo. — sua voz soou firme, mas para Jungkook uma nota vacilante escorreu por suas palavras.
O detetive ficou em silêncio, passando os dedos pela boca de maneira pensativa enquanto trocava olhares cúmplices com Yoongi.
— Vou aguardar respostas, senhor. — foi tudo o que ele disse antes de interromper a chamada.
Yoongi sustentou a linha invisível que encontrava seus olhares, e quando ele finalizou a ligação, os traços de sua feição se metamorfosearam à uma expressão intrigada.
— Você notou a mudança de tonalidade dele quando citamos que o Elliot pagava por sexo? — perguntou Jungkook, o vendo balançar a cabeça em confirmação.
— Eu prefiro não comentar sobre isso, até porque eu valorizo o meu trabalho. Discutir com o meu chefe está fora de cogitação. — os olhos de Jungkook se acionaram para um ponto específico.
— O que quer que seja, ele pareceu nervoso. — seu olhar ficou mais preto e estalante do que antes.
— Eu sei exatamente o que se passou na sua cabeça, mas é melhor não o questionar sobre isso por agora. — Yoongi recolheu uma pasta e abriu-a sobre a mesa. — Vamos continuar focados no caso.
Com um olhar seguido por um instante de suspeita, Jungkook analisou freneticamente as circunstâncias em sua mente. Um pressentimento irrefletido o atingiu como uma lâmina de ferro, dissolvendo as conclusões que havia construído na pirâmide de seu cérebro.
Se existia alguma intuição sobre Seokjin estar envolvido com a máfia, Jungkook arremessou para longe. Ele precisava medir as condições de todos os ângulos, mas não naquele momento, uma vez que se questionasse sobre a lealdade de seu chefe, a suspensão do caso seria sua próxima parada.
Sentia que estava beirando a ferida deles, só precisava saber em que local o machucado estava e como atingi-lo de forma desprevenida. Se fosse impedido de continuar no caso, não poderia efetuar a cartada final.
Caso estivesse certo sobre seu diretor, uma hora ou outra a resposta viria à tona, e então ele a agarraria e a transformaria numa revanche.
— Yoongi, veja qual foi o evento mais recente que aconteceu nesse lugar. — o detetive se moveu para pegar o notebook e o colocou em sua frente.
— Você não vai se surpreender. — disse ele, parando de teclar para encarar o investigador por cima do dispositivo com um olhar solene que transbordava desvelo. — Prostituição.
Jungkook parou por um momento, as mãos desceram até os bolsos e ele se aproximou de Yoongi, lançando um olhar calculado na direção da tela. Os tons escuros de seu cabelo refletiram sob a luz da sala, revelando sua simetria cuidadosamente.
— Quem é o fundador?
— É anônimo. De acordo com os sites, essa é uma propriedade que foi construída para ser alugada para eventos extrajurídicos.
— Como é por dentro?
— Não há fotos da parte interior. Por fora parece uma taberna. — A cabeça dele se inclinou de um jeito moderado para o lado, e sua boca formou um pequeno bico, parecendo analisar a foto. — Só que uma taberna moderna.
— Ok, saber com o que ela se parece não é importante. — Jungkook proferiu, arrastando os pés para o outro lado da mesa, as palmas parcialmente sustentadas no topo de sua cabeça. — Precisamos da planta desse lugar. Se houver alguma saída secreta ou qualquer rastro que nos ajude a pegá-los de surpresa, isso pode servir bastante.
— Para que uma construção seja feita ela precisa de um engenheiro, certo?
— Veja quem foi o responsável pela criação da obra.
Yoongi teclou por alguns instantes e então aguardou.
— Acabei de fazer isso e o resultado não é bom. — disse, afrouxando a gravata enquanto encarava o monitor. — O engenheiro morreu dois anos atrás e não há registros da construção, o que nos leva de volta à estaca zero.
Jungkook lançou um olhar fastidioso a ele, mas ao contrário de qualquer reação surpreendente, aquela não manifestou indiferença. Haviam brechas que facilitavam a caçada, mas parecia que todas elas estavam trancadas com chaves.
No final, Jungkook acabou endurecendo os olhos, perseguindo soluções em sua mente que se tornavam mais alheias quando fuçadas. Se houvesse algum caminho estruturado ao redor da floresta que pudesse ajudá-lo a se infiltrar com reforços, ele precisaria estudá-los com cuidado para não falhar novamente.
Ele se agitou de frente para a janela, espreitando as árvores revestindo o caminho de cascalho sacudirem seus galhos cobertos por neve. Se investigasse a parte interna do lugar, as chances de pegá-los de surpresa seriam altas, pensou. Não podia errar como da primeira vez, ele tinha que estabelecer um plano sólido para tirá-los de lá de uma vez por todas.
Um ruído repentino de um alarme sendo acionado ecoou contra os seus ouvidos, e uma voz conhecida rugiu sobre os seus pensamentos. Ele se virou de lado para olhar para Yoongi, que estava mexendo as mãos no teclado eufóricamente.
— Merda! Merda! — ele repetiu aquela palavra por mais alguns segundos.
As sobrancelhas levemente erguidas e a testa franzida salientaram os traços do rosto de Jungkook, que se mostrou tremendamente confuso.
— O que aconteceu?
— Parece que eu fui "expulso" do sistema deles. — ele revelou. — Não consigo mais acessar o software, nem vigiar o que eles estão utilizando. Eles mudaram tudo no sistema de segurança e a senha foi alterada para uma retina.
— Retina?
Yoongi ainda estava com uma expressão embaraçosa no rosto quando Jungkook se moveu em sua direção.
— Eles usaram qual olho?
— Isso não podemos saber. Pode ter sido o deles, ou de um segurança, ou até mesmo de uma das vítimas. — Yoongi levantou o olhar para ele, verificando a sua mandíbula endurecendo devagar. — É um processo de segurança bem moderno, eles estão ficando cada vez melhores.
Jungkook passou a mão pelo rosto, seu gesto sugeria preocupação.
— Por que mudaram o padrão de segurança de repente? — foi Jungkook quem perguntou. — Pelo menos temos a lista, não temos?
— Eu tirei uma cópia da lista com os nomes falsos, mas não sei se eles foram alterados junto com a mudança no processo de segurança. — Yoongi informou depressa, e então remexeu o teclado em busca dessa informação. Então, ele parou, boquiaberto, quando uma mensagem surgiu na tela. —– Temos um problema. Eu procurei por Lauren Cole, que na verdade é a Hannah Miller, mas ela não está no sistema como uma garota de dezoito anos que faz turismo. São muitas Lauren's Cole, mas nenhuma delas com esse perfil.
— Eles apagaram-na do sistema?
— Não apenas ela, mas todos os outros. Eles removeram todos os nomes com essa descrição, talvez porque estejam tentando criar novos perfis.
Aquelas palavras fizeram a mente de Jungkook disparar. Ele pousou as mãos na cintura e a cabeça se inclinou um pouco para baixo. Se a suposição de Yoongi estiver certa, ele presumia que um peso maior iria se acumular em suas costas.
As conclusões estavam se espalhando em seu cérebro. A caçada pela resposta parecia se distanciar a cada segundo que se passava. Jungkook sabia que essas quadrilhas mantinham padrões, escolhiam o lugar e a hora certa para vigiar suas vítimas, sondando todo terreno antes de escolhê-las. Mas aquela parecia se aperfeiçoar cuidadosamente, limpando todos os rastros que deixaram para trás.
— Não entendo porque justo agora decidiram mudar os perfis. — Yoongi disse, trazendo-o de volta para a realidade. — Já conseguiram tirar as vítimas do país, então qual é a vantagem nisso?
De repente, uma reflexão passageira interrompeu as cogitações de Jungkook.
— Porque eles estão criando um novo método para levar o trabalho deles para os clientes. — declarou Jungkook, observando a testa de Yoongi se franzindo. — Eles não querem limitar os programas à boate, por isso estão criando uma ferramenta para expandir o serviço deles.
— A internet seria o meio mais fácil. — Yoongi adicionou ainda incerto.
— Exatamente. A ferramenta seria um site para vender as vítimas online. — Jungkook sentiu uma picada de veracidade queimando sua pele. — O desfile, e agora esse leilão, provam que eles estão famintos por dinheiro. Vendas online é um esquema desenvolvido, os clientes não vão precisar ir na boate quando se pode comprar qualquer uma delas pela internet, mesmo estando em qualquer parte do mundo.
— Isso alimentaria o fetiche de muitos pedófilos.
Jungkook fez que sim.
— Por isso vão mudar os perfis das vítimas, alterar os seus nomes, pintar os seus cabelos e fotografar a nudez deles como uma forma de chamar atenção. — Yoongi estava boquiaberto. — Temos de agir mais rápido a partir de hoje. Se demorarmos mais um pouco, esses jovens vão ser exportados para qualquer lugar do mundo.
Yoongi descansou a mão sobre a testa, impedindo que seus olhos fossem vistos por aquele que estava em pé. Jungkook reparou que houve uma mudança súbita no rosto do outro, então, com um tom cauteloso, ele perguntou:
— Algo está te incomodando nesse caso?
— Taehyung se encaixa no perfil que eles procuram. — de repente ele disse. — O FBI nunca divulgou o que a máfia faz nem o que procuram, apenas os familiares sabem o que aconteceu.
— Mas essa é a nossa obrigação. Temos que manter a população ciente dos acontecimentos.
— Seokjin não quis espalhar até termos certeza do que estávamos enfrentando. E, bom, eu concordei com ele.
— O diretor Seokjin?
— Sim, ele é o diretor, não é? A resposta final está na palavra dele. — ele disse e então fez um gesto indiferente com as mãos. — Mas esqueça isso, ok? Se fosse para mudar de ideia, ele teria feito isso anos atrás.
Não bastou mais do que aquilo para Jungkook se mover silenciosamente em direção a porta. Yoongi olhou para ele, uma sombra de incerteza surgiu em seu semblante.
— Aonde está indo?!
— Resolver essa questão. — foi tudo o que ele disse antes de fechar a porta.
✮✮✮
Jimin encolheu quando observou a movimentação dentro da boate. O vento frio sibilou, roçando sua pele sob o moletom, o obrigando a se curvar enquanto caminhava. Suas mãos abraçaram os próprios braços na tentativa de conter o frio.
Enquanto andava, ele estranhou a presença de todos naquele curto espaço. Os grandalhões estavam puxando violentamente as meninas para que formassem uma fila. Seu olhar caiu na silhueta de Hannah entre a coluna de pessoas.
Uma sensação demasiada ameaçou arrastar seus pés na direção dela, mas uma presença masculina e robusta ao seu lado o fez desistir no primeiro segundo.
Jimin levantou seus olhos para Eric, o vendo sondar o ambiente à procura de algo. Seu corpo travou e sua garganta secou automaticamente, atrapalhando a sua coragem de unir as palavras que pretendia dizer.
No momento seguinte, ele se encorajou.
— Eu posso falar com a Hannah? — perguntou baixinho, esperando ouvir uma resposta negativa, mas, ao invés disso, Eric apenas girou a cabeça por cima do ombro e o encarou pela lateral. — Não tem como eu fugir para algum lugar. Aqui é tudo fechado.
— Derek me deu ordens para ficar de olho em você.
— Eu não vou demorar, prometo. — ele implorou novamente, ouvindo um suspiro impaciente saltar da boca dele, o que significava dizer que ele havia cedido a sua petição.
— Se tentar alguma coisa, vai se arrepender.
Com isso, ele gesticulou o queixo para que Jimin andasse. O menino, então, se deslocou. Havia seguranças em cada canto daquele lugar, como também cadeados em todas as portas. Jimin não entendia como eles ainda se preocupavam com a possibilidade de eles fugirem ou não.
Ignorando esse pensamento prolongado, ele apressou os passos a caminho de Hannah, um pouco buliçoso para abraçá-la. Quando os olhos dela caíram sobre os dele, uma expressão confusa se instalou em seus traços, mas depois a sensação de alívio barrou aquela confusão para longe.
Ela correu para abraçá-lo, sentindo os braços dele envolvendo suas costas em seguida. A saudade estava sendo duramente compartilhada naquele contato físico, com as emoções se repartindo no calor de suas peles. Jimin a amava e se preocupava tanto com ela que chegava a se questionar se aquele sentimento podia ser mesmo real.
Hannah se afastou dele, remexendo os olhos por cada pedaço de seu rosto para ter certeza de que estava bem.
— Por que saiu do quarto? Você já melhorou? — as costas de sua mão pousaram na testa dele, sentindo a temperatura, agora, normalizada.
— Já melhorei, não precisa se preocupar. — ele fez um curto gesto com a boca, achando engraçado a aflição dela. Hannah sempre tivera essa postura cuidadosa quando se tratava de sua saúde, e mesmo passando por condições parecidas, ela ainda demonstrava responsabilidade quanto a ele.
— Não é porque sua febre passou que isso significa que você deve sair do quarto nesse frio. — Jimin segurou a mão dela, tirando-a lentamente de sua testa.
— Eu estou melhor, Hannah. Só senti sua falta e então vim te ver. — argumentou ele, apertando a palma dela contra a sua. Ele olhou em volta, franzindo levemente a testa com aquela agitação. — O que está acontecendo aqui? Por que todas as meninas estão aqui?
Hannah expulsou o ar pela boca, depois esfregou a mão na própria testa.
— Eles estão tirando nossas fotos. Não me pergunte para o quê, só sei que estão cortando o nosso cabelo e pintando.
— E onde eles estão tirando a foto?
— Tem uma cabine naquele quartinho. Eles nos levam para lá e tiram a nossa foto. Com certeza não é apenas do nosso rosto.
Jimin sentiu o estômago embrulhar.
— Você já foi? — ele perguntou.
— Ainda não, eles estão pegando de cinco em cinco.
De repente, Jimin fixou seus olhos em um ponto distante, parecendo confuso e alarmado.
— Hannah — sua voz perdeu a força. — O Namjoon voltou de viagem?
A menina olhou para trás, capturando a imagem daquele que possuía uma postura esguia e inexorável dentro de um terno inglês sofisticado. Ele estava ao lado de um capanga, conversando sobre negócios. Pela expressão em seu rosto, ele estava desaprovando o assunto em questão.
— O diabo nunca fica tanto tempo longe do inferno. — Hannah respondeu, voltando sua atenção para Jimin, agora, completamente apreensivo. — Ele deve ter voltado por causa da reunião. Não tenha medo, meu anjo, o infeliz deu passe livre para você ser do Derek, o que eu acho totalmente errado, mas se você pertence a um dos homens dele, então seria contra as regras ele te fazer algum mal.
— Eu não acredito muito nisso. — assumiu ele. — O Namjoon me causa calafrios. Ele é o responsável por tudo isso, o que o impede de me trazer de volta para trabalhar aqui?
— Pare de pensar nessas coisas. Ele não deve demorar muito, até porque hoje ele vai receber alguém.
Jimin curvou as sobrancelhas.
— Quem?
— Não sei, meu anjo, mas ouvi um dos capangas cochichando no canto. — ela olhou de soslaio para Eric, como se quisesse conferir se ele estava olhando em sua direção para então prosseguir. — Faz um tempo que ele deixou a sala dele. Lá tem todos os documentos e coisas do tipo. Eu acho que ele não a trancou. Então, se conseguirmos ter acesso ao notebook, talvez possamos mandar um pedido de socorro.
— Você acha mesmo que ele não coloca senha nessas coisas?
— Claro que há senhas. Mas eu sei que lá é o único lugar que tem telefone disponível. Se ligarmos para a polícia, talvez eles consigam rastrear a nossa localização. — ela sorriu de lado, parcialmente convencida da sua estratégia.
— Eu não sei. — Jimin grunhiu. — E se não conseguirem rastrear e nós fomos descobertos? Essas coisas precisam de alguns minutos para funcionar.
— É um risco enorme, mas eu estou disposta a fazer para nos tirar desse lugar.
Ele tentou manter a preocupação fora de sua voz, e disse:
— Eu posso ir. — sua expressão era decidida, apesar de um tremor ameaçar explodir suas pernas.
— Meu anjo, eu nunca deixaria você ir nessa sala. — ele abaixou a cabeça, farfalhando a poeira do chão com seu pé. — Até porque você precisa de uma Mestra em Tentativas de Fuga ao seu lado.
Ele olhou por cima de seus cílios tão rapidamente que mal conseguiu ver o sorriso furtivo que ela transmitiu.
— Eu ainda prefiro ir sozinho. Você distrai o Eric. — ele sugeriu, sentindo seu corpo oscilar com a ideia.
No silêncio que se seguiu, Hannah segurou com força na mão dele e seus olhares se trancaram.
— Vou concordar com isso porque eu vejo o quanto você está desesperado para sair daqui tanto quanto eu. — a cabeça dele fez que sim. — Deixe a porta encostada, se ouvir a voz dele, saia imediatamente. Apenas ligue para a polícia. Caso não tenha tempo de se comunicar, deixe o telefone na chamada e corra para longe, mas antes tente falar qualquer coisa para que eles façam o reconhecimento de sua voz.
Jimin acenou freneticamente para cima e para baixo, concordando com os termos dela. Estava atormentado para sair daquele lugar e, desde a saída de Hannah do quarto, sua mente passou horas e horas processando resultados para um possível plano de fuga, antes mesmo do leilão.
Hannah lançou um olhar de preocupação a ele, depois desviou sua atenção para o corpo másculo de Eric mais adiante.
— Eric! — ela gritou e acenou para ele.
Com as sobrancelhas contraídas e os braços atravessados contra o peito, Eric se virou para ela. Hannah arrastou os calcanhares em sua direção, no qual se retificou e estufou o peito no momento em que ela o alcançou.
Jimin assistiu sua amiga perguntar algo para ele. Pela reação do homem, o assunto despertou seu interesse. O canto da boca dele se oscilou para cima em um sorriso cafajeste.
O garoto não sabia o que ela inventou para convencê-lo a ficar tão entretido, mas Jimin estava ciente da capacidade de Hannah em fantasiar situações que a favorecessem. Por isso, ele não perdeu tempo, e, com um pouco de discrição em suas ações, Jimin disfarçou seus passos e orientou o próprio corpo a caminho do corredor vizinho.
O comprimento fazia ligação com a área central da boate, aquela onde as meninas recebiam os clientes e efetuavam seus espetáculos programados. Havia uma cortina que ligava a entrada de ambos lugares, flutuando vagamente quando o pouco vento a tocava.
O corpo de Jimin grudou na parede e se escondeu atrás de uma pilastra quando uma figura alta saiu daquela sala. Ele buscou se desviar das vistas ameaçadoras que o cercavam. Quando o sujeito dobrou à direita nos confins do corredor, Jimin procurou se ater em algum pensamento e, com a respiração irregular, caminhou até a porta por onde o viu sair.
Estava aberta.
Ele a fechou com um pouco de dificuldade, deixando um pouco encostada como lhe foi sugerido, e então olhou através do vidro, onde encontrou as meninas andando detidamente para dentro da cabine. Ele regulou o bastão de giro da persiana e fechou as lâminas que davam para ver o lado de fora.
No instante que o fez, o cômodo ficou pouco iluminado, mas seus olhos trabalhavam em avaliar os arredores em busca do telefone. Quando o encontrou sobre a mesa, sua garganta se fechou e então ele se apressou até o dispositivo.
Atrapalhado, suas mãos tremiam por segurar o aparelho, o deixando cair brevemente sobre a mesa. Ele o segurou de volta, procurando os números com seus olhos inquietos. Precisava realizar aquilo o mais depressa possível ou tudo iria por água abaixo. Se Namjoon surgisse, sua cabeça seria cortada e colocada em uma lança no meio da boate como uma ameaça contra quem tentasse fazer o mesmo.
DIGITE A SENHA...
Foi o que apareceu no visor do telefone. Jimin o colocou de volta, com força, depois agitou seus olhos por cada canto daquela sala. Havia um armário enorme que se estendia por cada extremidade da parede e uma escrivaninha no canto esquerdo, logo abaixo do ar condicionado.
Foi naquele momento, entretanto, que a tela do computador se acendeu, denotando um aviso circunstancial. Jimin se agachou para ler o que estava escrito, mas as palavras estavam em formato de código, o que de fato dificultava o seu esforço. Ele não tinha conhecimento de decodificação, ou melhor dizendo, seu entendimento era igual a zero.
— Deixe os papéis comigo e acelere aquele processo. — a voz de Namjoon surgiu atrás da porta, fazendo cada pelo do corpo de Jimin se eriçar. — Eu preciso organizar isso até o fim da semana.
Olhos assustadores, era o que o nome de Namjoon trazia à mente do menino, que sentiu suas costas pruírem após a falta de movimento de seus pés. Ele olhou para cada ângulo em busca de uma saída, mas o ruído da voz se aproximava, sugerindo que ele estava perto, muito perto. Seu coração martelou com mais violência contra o peito, e naquele instante, ele se arrependeu de ter ido se meter no lugar errado.
Seu olhar deslizou para o armário, e sem pensar duas vezes, ele correu. Jimin abriu a porta e se afundou entre os caixotes de papéis que se instalavam no interior. Ele pôde observar pelas fendas aquela figura familiar penetrando a sala.
Uma garrafa de vinho estava sendo segurada por uma de suas mãos. Ele a colocou sobre a mesa e juntou um par de taças ao lado da bebida. Encheu cada cálice com o líquido marsala como se estivesse se preparando para uma festa. Jimin temeu que ele percebesse a pouca iluminação no cômodo e até mesmo a mensagem no computador.
Jimin notou, de imediato, que sua respiração estava fugindo descontroladamente por suas narinas. Ele colocou a mão contra o rosto, impedindo que o barulho soasse alto demais no meio daquele silêncio.
Um filete de suor escorreu por suas costas, o alertando da ameaça bem diante de seus olhos. Duas batidas na porta o fez desfocar de Namjoon para aguçar seu olhar na direção da porta.
— Senhor, ela já está aqui. — a voz disse, educadamente.
O homem que estava em pé gesticulou meticulosamente a cabeça, permitindo a entrada de quem quer que fosse. O garoto mexeu os olhos entre as frestas, procurando enxergar alguma coisa além das curtas aberturas do armário.
Um par de saltos ecoou dentro da sala, suas botas retiniram contra a madeira do chão paulatinamente. Jimin apertou os olhos para enxergar com mais cuidado quando aquele corpo feminino saiu das sombras.
Um vestido preto encobria seu corpo até as coxas e o seu cabelo estava abundantemente declinando até a metade de suas costas. Olhando-a de perfil, não parecia uma das meninas, suas curvas se sublinharam pelo ajuste do vestido e seus pés se mexiam de forma elegante sobre os saltos.
Com um pouco de cautela, as mãos dela foram para os ombros de Namjoon, derrapando devagar por cima do peito dele, como se estivesse buscando senti-lo com mais vontade. Ela o segurou pelo pescoço, suas longas unhas arranharam aquela pele exposta. O homem pareceu se arrepiar com o toque, seus rostos estavam a centímetros de distância.
— Senti sua falta. — Namjoon comentou, escorregando os dedos para o queixo dela, onde o suspendeu para tomar seus lábios em um beijo demorado.
— Você não imagina o quanto senti sua falta. — ela disse em resposta, sussurrando quando ele abandonou sua boca com uma leve mordida. Ela falava com tanta sensualidade que chegava a ser esquisito.
O garoto sentiu seu estômago embrulhar, o gosto da bile subiu por sua garganta e ameaçou sair. Mas ele não queria deixar de ver, alguma coisa em seu interior gritava para que ele continuasse. Por isso, seus olhos focaram novamente no rosto dela, tentando vê-la por trás do cabelo que abafava sua feição.
— Você está mais linda do que a última vez que nos vimos. — ele agarrou as duas taças, entregando uma para ela. — Vinho branco.
— É bom saber que você nunca erra os meus gostos.
Namjoon apenas sorriu, seus olhos brilhando sombriamente.
— Mas, me diga — ele começou a falar quando deu a volta na mesa e se acomodou na cadeira. — Trouxe alguma novidade, Rose?
O corpo dela beirou a mesa de repente, sua unha rastejou pela borda de um jeito provocante quando seus olhos encontraram os dele.
— Muitas. Acho que você vai adorar.
— Comece pela melhor parte.
— Eles acham que estão indo pelo caminho certo. Estão eufóricos atrás de respostas. — Namjoon mostrou seus dentes afiados, rindo de um jeito malevolente.
— Encontraram alguma coisa sobre mim?
— Nada. Eles encontraram algumas coisas, mas o lugar esfriou. Estão desesperados atrás de novidade, e agora, pensam que eu fui na joalheria atrás de respostas. — ela transmitiu um sorriso dissimulado, recheado de travessura.
— Deixe-me adivinhar: existe um investigador novo no caso?
— Aliás, foi esse mesmo investigador que conseguiu entrar no desfile.
Namjoon enrijeceu a expressão, mas sem perder a postura implacável.
— Pelo que parece, ele está determinado. — o homem comentou. — Mostre-me a foto dele.
Rose tirou uma fotografia de sua bolsa, e então a posicionou de frente para os olhos do outro. O homem segurou a foto entre os dedos, estudando-a como um prenúncio assustador. Havia uma mistura rebelde de ódio e satisfação se fundindo em seus olhos escuros.
— É um rapaz simpático, pena que escolheu o lado inimigo. — Jimin não conseguia ver direito a expressão dele, mas com certeza o furor flutuava como faíscas por seus olhos. — O que ele conseguiu entrando no desfile?
— Falou com um dos meninos, mas não obteve resposta. — Jimin arregalou os olhos sob a penumbra do armário. — Você tinha que ver a cara de derrotado que ele fez. Estava quase se desmanchando em lágrimas.
— Diga-me que você ofereceu um lenço para ele? — Rose inclinou a cabeça para trás, gargalhando. — Ah, Rose, você não foi uma garota generosa.
— Eu ofereci a minha boca, mas ele a rejeitou. — Namjoon a encarou nos olhos. — Bem, digamos que ele acredita que sou apenas mais uma vadia que está louca para transar com ele.
— E você está?
As mãos dela se escoraram sobre a mesa, onde abandonou a taça de vinho para se debruçar um pouco para frente.
— O único homem com quem eu quero transar está bem diante de mim.
— Admiro a sua fidelidade, mas estou surpreso por você não se sentir atraída por ele. Nosso inimigo.
Um medo congelante se agitou dentro do peito de Jimin. Uma corda invisível foi sentida em volta de seu pescoço, ressaltando o grito de choro que se acorrentou no fundo de sua garganta. Namjoon era tão desprezível, a perversidade que pulsava em suas palavras provocava medo em qualquer pessoa.
— Qual é o próximo passo deles? — Jimin o ouviu perguntar.
— O leilão. Já estão investigando todo território para uma possível invasão. — Namjoon esboçou um sorriso aguçado. — Devo despistá-los?
— Não, deixe que eles venham. — a ameaça escorreu por suas palavras. Jimin se encolheu dentro do armário. — Vamos recebê-los com uma surpresa.
— Uma armadilha?
Ele não a respondeu. Ao invés disso, o canto de sua boca se levantou para o lado, revelando o branco de seus dentes felinos. Então, ele se deslocou para fora de seu assento, caminhando devagar até ela, onde passou o braço livre ao redor de sua cintura.
— O que acha de comemorarmos em outro lugar? Não quero que meus homens te vejam, eles ainda não sabem sobre o seu disfarce no FBI.
— Eu adoraria, meu senhor.
Jimin se sentiu enjoado quando o viu beijá-la mais uma vez. Por baixo do seu mal-estar havia uma pontada incômoda, a sensação de que estava faltando alguma coisa. Ele os assistiu deixar a sala, e naquele instante, encoberto pelo medo e pelos pensamentos repentinos que se atropelavam na passagem, ele constatou que o pânico estava sendo causado pelo que poderia acontecer com o policial que o ajudou.
A chance de observá-lo em seu pensamento era muito tentadora. A fantasia por seus traços cresceu de uma forma desmedida e sem proporção, e naquela obstinação do tempo, Jimin desejou conhecê-lo, porque, pela primeira vez, ele sabia que não havia sido enganado por alguém.
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