⍟ thirty three
O guarda passou o cartão numa máquina enfiada na parede e a porta destravou. Ele a puxou, num chiado metálico, e o detetive atravessou, cautelosamente, através do corredor das celas. A passagem cheirava a terra molhada, as paredes de dentro estavam, vagamente, descascadas e poças de água se formavam no chão de cimento.
Um corpo estava deitado na pequena cama ao lado, enjaulado, seu macacão laranja era o ponto chamativo no meio de todo aquele cenário cinzento. Jungkook andou em direção a ela, ficando entre as barras largas. Um sorriso que era, igualmente, debochado e verdadeiramente sinistro tomou conta de sua expressão no momento em que a mulher piscou os olhos, confusa.
– Está se divertindo em sua nova cama? – o detetive perguntou a Rose, ouvindo uma fina risadinha como resposta.
Ela se ergueu da cama, sua roupa estava amassada e o cabelo despenteado. Seu rosto parecia vazio e pálido sem os contornos escuros da maquiagem.
– Não até receber esta visita. O que trouxe para mim? – ela indagou, uma fascinação terrível formigando seu corpo.
Jungkook fixou os olhos nela, estudando-a silenciosamente, depois suspendeu um par de algemas no dedo. – Isso serve?
– Ora, então vamos brincar com algemas? Esta ideia me parece interessante.
– Levante seu traseiro daí e coloque as mãos na cabeça – determinou, mudando abruptamente seu tom de voz.
Suas feições eram tão impiedosas; ela não podia fazer nada além de obedecer sua ordem. A mulher localizou as mãos atrás da cabeça e seguiu até ele quando entendeu seu gesto com o queixo. Jungkook virou-a de costas contra as barras de ferro e girou seus braços às costas, envolvendo as algemas nos pulsos.
– Isso seria mais divertido se estivéssemos transando – ela argumentou, suspirando de forma teatral.
– Isso vai ser divertido se você fechar a merda da boca – revidou, duramente, a soltando para abrir o pesado cadeado.
Ele arrastou-a pelo braço para fora da cela e girou seu corpo pelo caminho que viera. Guiando-a pelo ombro, Jungkook a carregou para a sala de interrogatório, passando, inicialmente, pelo elevador. Uma expressão estranha se moveu no rosto de Rose no instante em que olhares clandestinos de vários ângulos se direcionaram a ela em pura surpresa.
O braço do detetive estava segurando o ombro dela e ele a sentiu endurecer sob seu toque, parcialmente incomodada com tanto espanto.
– Parece que eles curtiram seu novo estilo – Jungkook falou com uma voz acidamente divertida; sua respiração brincando com o cabelo dela.
A mulher rangeu os dentes e antes que pudesse protestar, seu corpo foi empurrado para dentro de uma sala no final do corredor. Pela abertura de vidro, ela alcançou a figura de Seokjin no centro da outra divisão, conferindo por vezes a hora em seu relógio.
Forçando a porta a dentro, Jungkook entrou com a mulher em sua frente, atraindo o olhar de seu chefe. O detetive observou a troca de olhares entre eles. Seokjin parecia calmo, mas enfeitiçado, enquanto ela estava atrapalhada e com receio de encará-lo.
– É toda sua – falou Jungkook, deixando-a sentada na cadeira.
Em seguida, ele se afastou até o canto da sala e se reclinou contra a parede, cruzando os braços em posição de reparo. Seu rosto estava imóvel.
– Deve imaginar porque te trouxemos aqui, Rose – começou Seokjin, os seus olhos prenderam os dela.
– Não me diga – respondeu, sarcasticamente.
– Por conta de sua traição, você sofrerá consequências trágicas se não nos contar o que sabe. – Dava para ver que ele mantinha todo cuidado nas palavras, uma paciência que Jungkook não teria.
Ela sacudiu a cabeça para os lados e dobrou os braços rente aos peitos, sobre a mesa.
– Não vou falar nada sem um acordo.
– Talvez você consiga uma redução considerável. – Ela riu pelo nariz, incrédula.
– Isso não é um acordo!
– Sua pena, certamente, seria a de morte, Rose. Acha isso injusto para alguém que traiu o departamento de justiça? – Foi a vez de Jungkook atacar, embora tivesse combinado que ficaria calado durante o interrogatório.
O olhar dela se curvou a ele e sua mandíbula, subitamente, endureceu.
– Preste atenção – Seokjin continuou, trazendo a atenção dela ao seu rosto –, você não está em condição de escolher o acordo. Ou reduz para vinte e cinco anos, ou vai morrer eletrocutada em uma cadeira. Qual dos dois te interessa mais?
– Fala como se realmente se importasse comigo – disparou, deixando-o em silêncio. – Durante toda a sua vida de merda eu só servi para me curvar em suas pernas e chupar o seu pau. Você só era carinhoso comigo quando eu me tornava uma vadia submissa. Mas me jogou para escanteio quando me rebelei.
– Eu gostava de você, não só te desejava como também me encantava a sua inteligência. Só que diferente de você, Rose, eu não te usei para conseguir algo em troca. – Jungkook cortou o olhar entre eles, uma sobrancelha, levemente, suspensa. – Deveria aprender que tudo nessa vida tem um preço. E o seu é com a vida.
– Veja só, há um lado bom nessa história. Pelo menos agora o FBI sabe o panaca que eles colocaram no cargo de diretor – Ela lançou as palavras como se fossem facas afiadas. – Você é tão idiota que nem faz ideia que minha inteligência foi treinada, que o meu comportamento perante a você foi treinado. Como acha que eu sei os seus gostos? – ela pausou antes de sussurrar a última frase. – Quem está por trás disso sabe muito mais de você do que você mesmo.
Seokjin não respondeu. Ele continuou parado, completamente envolvido ao semblante tóxico dela. Jungkook podia jurar que dos olhos dele saíam faíscas de fúria.
– Por Deus, Seokjin, você fica bem melhor calado, de preferência com a cara entre as minhas pernas. Você sabia fazer isso direito – Ela arremessou as palavras de um jeito traiçoeiro.
– Ela quer te provocar – alertou Jungkook do outro lado, arrancando um olhar contorcido sobre a cadeira.
– A Rose sabe que é desperdício de tempo me provocar. Não me entrego facilmente. – Ele se aproximou da mesa e colocou as duas mãos por cima dela. – Você disse que a pessoa por trás disso sabe muito sobre mim, isso quer dizer que talvez eu a conheça.
– Se você acha isso, senhor. – Deboche escorreu de sua boca.
– Você conhece bastante o nosso esquema e isto, de certa forma, me prova que você já explorava isto muito antes de nos encontrarmos.
– Próxima suposição – ela caçoou, examinando as unhas com desdém.
– Estou chegando à conclusão que foram eles quem escolheram uma fracassada para servir de penetra. – Foi sua vez de atacar, Jungkook acabou sorrindo ironicamente.
Jimin já havia contado a ele quem era o chefe da máfia, mas Jungkook estava disposto a colher mais informações dos motivos que o levaram a fazer isso. Não bastava apenas ter o nome, ele tinha que saber pará-lo. E, diante de todas as circunstâncias, precisava de um sinal positivo sobre a honradez de Seokjin antes de decidir se devia informá-lo ou não.
– Vamos para um jogo melhor – disse Seokjin, acomodando-se na cadeira avante dela –, eu dou as sugestões e você me confirma se estou certo.
– Não vou dizer nada!
– Quem disse que precisa dizer? Suas expressões vão me responder com clareza. – A mulher riu pelo nariz e o coral das algemas retiniu em seus pulsos.
– Você nunca percebeu que eu estava mentindo quando disse que te amava, acha mesmo que vai conseguir o que quer através de uma análise corporal de merda?
– Eu tenho um par de olhos à minha direita e uma câmera filmando você. Minhas emoções podem falar alto, mas nesta sala não tem somente eu e você. – Rose espreitou em volta e encontrou o detetive imóvel mais adiante, sua fisionomia era regrada de atenção e prudência, seu corpo esguio se perdia na sombra da parede, como um gavião em vigília. – Então vamos parar de enrolação e partir direto para o que de fato importa aqui. Eu quero nomes.
Ela travou, furtivamente. Jungkook enxergou, cuidadosamente, as pupilas dela se dilatando e uma reação, instantânea, mover seus dedos na mesa, nervosa. Sua postura estava reta, o nariz empinado e as linhas da mandíbula, gravemente, duras, o que significava que, por dentro, estava inquieta.
– Temos tempo para ouvi-la, não tenha pressa em responder – explicou Seokjin, mostrando seu lado trocista.
– Eu não vou dizer.
– Imaginei que diria isso. – Ele entrelaçou as mãos sobre a mesa e olhou diretamente para ela. – Por isso eu estou ansioso para lhe dizer que seu chefe pouco se importou com sua prisão. Conte a ela, detetive.
Jungkook não deixou o canto da sala, tampouco mudou sua expressão minuciosa. Um sorriso divertido brincou em seus lábios quando recebeu a atenção dela, os movendo para cima de uma forma lenta.
– Ele desligou o telefone quando falamos de você. Acho que seu amante não se importa tanto se está presa, contanto que o acoberte. – Jungkook deixou escapar um suspiro dramático e agitou a cabeça para os lados. – Para ser sincero, Rose, eu odiaria ser segunda opção. Ainda mais sabendo que ele deve estar, provavelmente, com outra amante embaixo dos lençóis, enquanto você está aqui algemada.
Por partes, a história não era tão verdadeira, afinal, o dono por trás da voz robótica era Derek; no entanto, não seria tão fatal acrescentar alguns pedaços para se obter pontos positivos na operação.
– Não estou convencida. – Ela disse num estridente protesto.
– Imaginamos que diria isso – falou o detetive, se aproximando da mesa com uma mão vasculhando o bolso do casaco. Ele tirou de lá um aparelho pequeno, semelhante a um rádio, e o colocou entre ela e seu chefe. – Talvez uma gravação mude a sua opinião. O que me diz, Rose?
Ela manobrou o olhar entre um e outro, uma tensão mais sobrecarregada pairando em seu corpo. Se concentrou no aparelho e uma linha inesperada de suor escorreu pela lateral de seu rosto. Jungkook finalizou com um sorriso enigmático e, então, afundou o dedo no botão vermelho.
– Já deve saber da novidade? Achamos sua infiltrada. – A voz de Jungkook chiou na máquina.
– O que fizeram a ela? – A voz metálica refutou, não parecendo preocupado.
– Neste momento, se divertindo com as grades e a cama confortável da cela. Mas, amanhã, estará sentada em uma mesa de interrogatório revelando a sua face imunda. Temos ótimos acordos a oferecer, quem sabe ela se interesse por um.
– Vadia burra! – Ele resmungou, baixo. Rose congelou na cadeira.
A gravação era falsificada, mas Jungkook só precisava convencê-la do contrário e conduzi-la a uma revolta interna pelo seu líder.
– Por que não vem visitá-la antes que sua amante morra eletrocutada? Eu teria compaixão. – Jungkook rebateu, cínico e, tentadoramente, diabólico.
– Deixe-a morrer, eu não ligo para ela. Da próxima vez, detetive, saiba me atingir de forma correta. – A gravação foi encerrada com um toque finalizador.
Sob o olhar detalhista, Jungkook analisou a postura dela. Demonstrava-se aflitiva, uma expressão maculada pela incredulidade. Ele a deixou que pensasse; ela só precisava acreditar que aquelas palavras foram ditas por seu mestre.
– Acredita em nós agora? – questionou Seokjin, atraindo sua atenção.
Ela se endireitou, esquadrinhando seus ombros, mal o ouvindo. O olhar dela relampejou duramente na direção dele, depois arfou; uma precipitação de ar passando entre seus dentes.
– Acharam que poderiam me enganar? Eu conheço uma gravação falsa – declarou, surpreendendo os dois pares de olhos que a observavam.
Um tanto aturdido, o detetive se desvencilhou do rosto dela e se afastou. Ela não podia ser tão esperta assim, não fazia sentido alguém cair, facilmente, em uma armadilha e agora deduzir com convicção que a voz robótica foi adulterada. Uma voz improvável de ser identificada sem um programa.
Uma cadeira se arrastou no chão imediatamente. Jungkook girou o olhar na direção de Seokjin e o viu marchar, furiosamente, a caminho dela. De um jeito impensado, ele a ergueu da cadeira, com a mão asfixiando seu pescoço e a jogou contra a parede com força.
– Eu estou ficando cansado desse joguinho! É melhor você começar a abrir a porra do bico antes que eu faça uma merda! – guinchou-se, afundando os dedos ainda mais contra a pele dela. A mulher segurou a mão dele, tentando, falhamente, se soltar.
– Seokjin, solte ela. Sem agressões – pediu Jungkook, olhando uma vez ou outra para a porta, a fim de verificar que ninguém testemunharia aquela cena.
Ele a suspendeu do chão, deixando seus pés se debaterem no ar. Seu rosto já começava a ficar vermelho pela falta de oxigênio, tampouco havia força para qualquer som fugir de sua garganta.
– Você quer jogar, não é? Faça sua partida difícil e eu revido pior ainda – ele alertou, sendo extremamente indelicado nas palavras.
Jungkook se aproximou em passos acelerados, sua paciência, ligeiramente, se esgotando.
– Largue ela no chão ou eu vou deixar que todos vejam a sua imagem enforcando uma mulher – ameaçou, focando, de forma rigorosa, no seu rosto inflexível.
Seokjin relutou, mas acabou cedendo a mão e deixando que o corpo dela desmoronasse no chão. Rose tossiu incessantemente, tateando ao redor do pescoço para aliviar a pressão.
– Ficou maluco? – Foi a primeira pergunta que Jungkook fez, ficando em sua frente. – Eu também estou com raiva, mas isso não te dá o direito de agredi-la.
– Poupe-me.
Rosnando, ele deslocou-se para fora da sala. Jungkook o seguiu com seu par de olhos negros e atentos, firmes e ardentes. Fechando a porta, ele apenas inclinou uma sobrancelha para cima e cruzou os braços numa inquirição sussurrante.
– Que merda foi aquela?
– Essa mulher não vai falar – afirmou Seokjin, parcialmente aborrecido.
– E acha que enforcando ela vai conseguir alguma coisa?
O homem parou por um momento, puxando o ar com força para alimentar seus pulmões, acalmando seu temperamento diante do outro, cujo aquele ele prometeu ser paciente.
– Precisamos ser duros com ela. Ficar fazendo perguntinhas não vai resolver, eu a conheço bem – argumentou Seokjin em meio às palavras murmuradas. – Ela é muito inteligente, e isso me faz questionar se realmente ela não sabia da sua emboscada para pegá-la.
– O que quer dizer?
– Ela reconhece gravações falsas, sabe usar nossos métodos de segurança, acha mesmo que iria cair em um papo furado de encontro? Sem falar que você sempre a recusou.
Uma raiva momentânea ecoou em Jungkook, mas o que prevaleceu foi sua avaliação sobre aquela concepção. Por um lado, Seokjin tinha razão, foi prático convencê-la que estava afim de dormir com ela, apesar de agora considerar aquela situação uma viável pegadinha.
Ela conseguia ser esperta o bastante para identificar uma falsa gravação, por que confiaria em uma súbita mudança de comportamento por parte de Jungkook? Talvez, só talvez, tenha sido ele quem caiu numa arapuca.
A imagem da expressão dela se rebobinou novamente na sua cabeça, os olhos convictos, o sorriso traiçoeiro e triunfal se reproduzindo lenta e acidamente no seu batom berrante. Ele acabou rastejando a visão pelo painel de vidro, vendo-a sentada na cadeira massageando em volta do pescoço.
De repente ele voltou a entrar na sala, um tanto mais furioso do que antes. Rose encarou seu rosto retorcido pela raiva e arregalou os olhos assim que o assistiu parar em sua frente.
– Qual é a merda do seu plano? – Ele indagou, movido pela ira.
– Do que está falando?
– Tudo isso aqui faz parte do plano deles? Você queria ser presa por qual motivo?
– Está blefando, bonitão. – Ele riu pelo nariz e ela acabou se apavorando por dentro.
– Entendi tudo. Você quis ser presa, Rose, mas não porque fazia parte do plano deles, mas, sim, do seu. Está aqui por algum motivo que te livra da máfia. O que foi? Cansou de ser o trampolim deles? – provocou, recebendo uma pestanejada nervosa como resposta.
– Você fica ainda mais delicioso tentando adivinhar as causas – admitiu, forçando um sorriso convincente.
– Você gosta?
– Tudo o que vem de você me agrada.
– Pare de show. – Ele endureceu a voz, subitamente, a fazendo paralisar na cadeira. – Eu posso ver nos seus olhos que está aqui porque quer. Você não faz esforço para se livrar da cadeia, prefere ficar atrás das grades do que ao lado do seu mestre. Por quê?
Dando uma rápida olhada ao redor, a mulher passou a mão nos cabelos e fungou o nariz. Jungkook podia sentir o pavor gritando nos olhos dela e se desmanchando em suores pegajosos por toda sua pele.
– Você está doido se acha que prefiro me deitar naquela cama dura do que nos lençóis finos e aconchegantes do meu quarto. – Ela revidou rudemente, mas não havia segurança em suas palavras.
– Talvez o juiz reduza ainda mais a sua pena. Quinze anos, talvez. Veja bem, é melhor do que morrer numa cadeira. – Ela abriu a boca para dizer algo, mas parecia que alguém tinha enfiado unhas pela sua garganta abaixo. – Só tem que me dizer todos os nomes dos participantes desta quadrilha e onde fica. Eles não vão saber que você me disse nada, terá a nossa proteção.
– Quinze anos é muito – reclamou, evitando olhar para os olhos dele.
– Rose – Um sorriso, pesadamente, divertido brincou em seus lábios –, não está em posição de decidir nada. Ou você entra de acordo, ou eu saio desta sala agora e te deixo plantada nessa cadeira, esperando o juiz decidir o dia da sua sentença. Quer me ajudar a te ajudar? Então faça isso. Mas se prefere esconder as cartas, eu faço isso melhor ainda. Com ou sem a sua ajuda, eu vou achá-los e, quando esse dia chegar, você vai ter perdido a chance de ficar livre.
O queixo dela caiu. Seus olhos não piscavam, parecia que estava em completo transe. Um instante mais tarde, Rose deslocou os olhos em direção às próprias mãos algemadas, desta vez, movida por um pesar inquestionável.
Seokjin cortou o momento deles, conduzindo um papel com caneta para perto dela.
– Aqui está o termo, só tem que assinar. Será levada para uma prisão feminima depois de confessar todos os crimes e nos dar os nomes.
Jungkook deslizou a folha de volta para ele, confiscando a expressão estranha que seu chefe emitiu em resposta.
– Eu ofereci a nossa proteção.
Os olhos do homem eram uma mística confusão, que acabaram se estreitando rapidamente em surpresa.
– Quer proteger uma bandida?
– Eu sei o que estou fazendo. – Ele se virou para ela, buscando seu rosto por baixo dos cabelos soltos. – Quero a localização. Agora.
– Preciso de tempo para pensar. Me deixe pensar sobre isso primeiro. – sugeriu a mulher, a esclera de seu olho estava corrompida por um vermelho vivo, indicando a resistência do choro.
Jungkook espiou a expressão de seu chefe, na qual não parecia de acordo com a proposta, e voltou-se a ela, usando um tom mais amargo.
– Tem até amanhã para me dar uma resposta. – Ela suspirou aliviada. – Se tentar passar a perna na gente, vou fazer questão de acelerar seu processo com o juiz. Então veja bem onde está pisando.
Como resposta, ela estreitou os lábios e sorriu, acenando sua cabeça em concordância. Seokjin fuzilou Jungkook, parecendo odiar aquela ideia.
De imediato, ele deslizou os pés para fora da sala, ouvindo um som frenético de pegadas soando atrás de si. Seokjin empurrou a segunda porta logo que o viu abri-la.
Ainda com a mão sobre a madeira, ele lançou um olhar curto e grosso para o detetive, cuja expressão estava banhada, singularmente, em desconfiança.
– Vai resolver as coisas sem me consultar? – o diretor perguntou baixo, parecendo controlar a voz.
Jungkook suspirou e largou a maçaneta, olhando diretamente para o rosto descrente dele.
– Não vejo problema em deixar que ela pense a respeito. É melhor do que enforcá-la para que diga.
– Aquela mulher, provavelmente, deve estar pensando em como nos enganar, você só está dando tempo para que ela execute isso com perfeição.
– Então só precisamos ficar de olho e garantir que não sejamos enganados – refutou secamente, tornando a segurar a maçaneta. – Se me permite, eu preciso trabalhar. Pode tirar seu braço do meu caminho?
Cada palavra que saía de sua boca parecia assustadora e cuidadosamente afiada. Seokjin puxou o ar, retificando a coluna e se distanciando da passagem. O detetive puxou a porta e atravessou sem encará-lo.
– É bom lembrar que ainda sou o seu diretor. – O homem o avisou, fitando suas costas enquanto ele andava para o elevador.
– É bom lembrar que tem uma condenada na sua sala de interrogatório, então é melhor levá-la para a cela. – replicou, debochado, disparando uma olhadela zombeteira em sua direção.
Em seguida, ele entrou no elevador, sem se interessar com as expressões raivosas que seu chefe fez.
✭✭✭
– Detetive Yoongi? – Jimin chamou no alto da escada, segurando o corrimão com as duas mãos enquanto vasculhava os cantos da sala.
O silêncio o respondeu. Um choque de adrenalina e nervosismo agitou seu peito, era estranho não ouvir movimento de pessoas na sala. Ele desceu os degraus, espreitando em volta.
Havia papéis espalhados sobre a mesa, uma recente xícara com café quente ao lado do notebook, mas não havia a presença de mais ninguém. Jimin puxou uma respiração funda, formando um bico nos lábios enquanto espiava as pastas empilhadas na escrivaninha e as inúmeras folhas, na qual ele supôs ser dos relatórios.
Um barulho de um metal caindo veio da cozinha, o menino girou os olhos naquela direção e travou. Uma sombra apareceu na parede ao lado do batente, revelando a lateral da silhueta se mexendo, parecia que estava cozinhando.
– Detetive Yoongi? – Jimin chamou mais uma vez, notando o embrulho em seu estômago intensificar à medida que a sombra se movia, aproximando-se.
A imagem de Yoongi brotou na entrada da cozinha, ele segurava uma tigela na mão e mexia o que estava dentro com uma colher. Ele sorriu quando avistou o menino, parecendo, meramente, surpreso.
– Tudo bem, Jimin? Eu estava ocupado preparando algo para comer. Está com fome?
Jimin levou um momento para responder, deixando seu olhar cair por cima da mesa e em seguida no rosto de Yoongi.
– Eu ia perguntar se está tudo bem eu ir na biblioteca pegar um livro.
– Pode ir, não há problema algum. – Seu sorriso gengival aumentou e ele beliscou seu cereal. – Tá faltando mais leite.
Ele correu para dentro da cozinha novamente. Jimin o escutou abrir a geladeira à procura de seu leite e riu baixinho quando percebeu uma vasilha caindo no chão e um resmungo revoltado como resposta.
Decidido a seguir para a biblioteca o mais rápido possível e evitar uma surpresa dos guardas nos corredores do prédio, o menino rolou os pés no sentido da saída, quase disposto a seguir esta trilha. Quase. Uma pasta evidente chamou seus olhos e ele acabou deixando sua atenção ser atraída para a montanha de papéis acima da mesa.
Seu nome estava traçado no documento e seu rosto grampeado no canto superior. Seu corpo inteiro trincou quando um pensamento estimulante o desafiou. Parecia errado caminhar até lá e ler o relatório, soava ainda mais errado pensar que em sua frente estava todo trabalho duro de Jungkook.
Sua curiosidade se aprofundou. Ele olhou para o interior da cozinha, não vendo nada além das paredes e uma sombra se movendo por elas. A saliva desceu rasgando por sua garganta quando ele a forçou, ansioso, movendo seus pés, silenciosamente, de encontro ao documento. Ele mergulhou a mão entre os papéis e agarrou o seu, sentindo um desconforto irritante no estômago.
Com o coração na garganta, Jimin tateou as páginas, observando algumas linhas vermelhas em volta do nome de alguns parentes e amigos seus, havia uma numeração estranha em cada elemento, na qual ele presumiu ser um código que só dizia respeito à linguagem policial.
Folheando as páginas, o menino encrespou as sobrancelhas com a seguinte informação. Seu pai estava exposto a incontáveis notícias que se conectavam umas às outras de um jeito que nem Jimin conseguia entender. No lugar de um sentimento de quietude, ele apenas sentiu um desespero contido.
Não existiam provas que seu pai tinha envolvimento, mas diante dos seus olhos estavam os diversos dados sobre ele e sua poderosa vida na Grécia. Linhas se interligavam aos informes, que para Jimin eram desconhecidos.
Seu olhar se atentou na foto abaixo e uma sensação de ruínas se sobrepôs em seu peito. Seu pai tinha ganhado uma medalha de reconhecimento por lucrar, desmedidamente, com sua sucursal nos últimos anos.
– Esse cereal está delicioso, tem certeza que nã-
Yoongi paralisou a metros de distância, assombrado com a cena que encontrou. Jimin levantou a cabeça subitamente, deixando o documento cair de suas mãos e esparramar todas as folhas pelo chão. Ele sentiu suas pernas tremerem diante da expressão quase irritada do detetive.
– O que está fazendo? – perguntou ele, não parecia com raiva, tampouco cauteloso.
O menino deu alguns passos para trás, engasgando um grito ao perceber que Yoongi finalmente se moveu em sua direção, descansando a tigela na pia antes de correr à pasta jogada por cima do tapete.
O nariz de Jimin escorreu e ele acabou percebendo que estava chorando silenciosamente.
– Me desculpe, eu não queria-
– Não devia mexer nisso! – Cortou a fala dele enquanto unia todos os papéis com urgência. – Nunca mais toque nesses relatórios!
Seus olhos rolaram na direção do menino e seu braço se ergueu para ele, como se dissesse para ficar um pouco mais longe. Jimin cambaleou para trás, ainda perdido nos próprios pensamentos. Ele não sabia o que pensar a respeito, mas estava profundamente afetado pela informação que leu.
– Está ouvindo, Jimin? – perguntou Yoongi, pela segunda vez, com o rosto à frente do dele. O menino recuperou toda razão que havia escapado e olhou para ele. – Não quero que mexa novamente nesses documentos. São confidenciais.
– Me desculpe, eu não consegui me segurar. – Sua voz crepitou, ele podia sentir o cheiro de medo na sua respiração.
Yoongi suspirou, atirando a pasta em cima das demais e voltou-se para ele, contando até três mentalmente para manter a calma.
– O que você leu?
– Era sobre meu pai. – Yoongi fez um som com a boca, relativamente aborrecido consigo mesmo. – O que vocês sabem sobre ele? Por que não me contam?
– Porque são informações que só dizem respeito à polícia. Eu ainda estou investigando sobre ele, você não tinha o direito de colocar o dedo nisso.
– N-Não tenho direito? – questionou surpreso, o encarando de maneira assombrada. – Ele é meu pai e toda essa situação me envolve! Eu mereço saber!
O detetive deslizou a mão pelos cabelos e puxou o ar com força. Havia falhado em deixar exposto o relatório de Jimin e, agora, praticamente, estava sendo cobrado para revelar toda parte investigativa que até o momento encontrou. Jungkook o mataria.
– Eu não posso contar, certo? Entenda isso. – Ele acabou deslocando-se para o outro lado da mesa, fingindo estar à procura de alguma coisa.
Jimin endureceu o rosto e manteve a boca fechada. Em silêncio, ele se direcionou até a lareira, atraindo rapidamente a atenção do detetive. Ele ficou de frente para o fogo, ouvindo por alguns segundos os estalos contínuos da madeira derretida.
– Todo mundo mente para mim. Se não mentem, escondem algo. Não é diferente por aqui – falou ele, deixando a luz destacar a delicadeza de seus traços enquanto olhava fixamente para ela. – Eu aposto que sabem se a Hannah está morta, devem saber sobre o incêndio também. – Sua visão derrapou à Yoongi na outra divisão da sala. – Assim como sabem sobre o meu pai.
– Jungkook me mataria se eu contasse. – Jimin apertou os cantos da boca e seus olhos perderam o foco pelas lágrimas.
– Então ela está morta?
– Eu não disse isso.
– Você se nega a falar porque a notícia é ruim, é isto? – Yoongi soprou pela boca e fez um movimento duro com a cabeça.
– Não podemos espalhar essas coisas, faz parte do protocolo.
– O detetive Jungkook nunca se negaria a me contar! – Ele atacou, expondo uma verdade que ele conhece.
Por um momento, Yoongi se calou. Ele não podia contar sobre as ameaças, sobre as torturas que Hannah estava sofrendo como punição. Seria covardia revelar isto para ele, cuja mente estava rachada de terror e fragilidade. Não sabia se Jungkook aprovaria essa decisão tão impensada.
Por outro lado, Yoongi acreditava que Jimin precisava ser forte. Tinha que aprender a superar suas dores, bloquear a passagem do sangue na ferida quando esta se abrisse. Contar, certamente, causaria um pânico nele; entretanto, o faria mais forte ao encarar esse tipo de notícia.
– Jungkook vai me matar por isso, mas – falou ele, causando uma sensação expectante no menino quando agitou seus pés para perto –, eu não quero te ver com essa cara.
O brilho em seus olhos era de sinceridade e, de certa forma, isso causou um conforto no menino. Ele não queria ficar nas sombras sem saber o que de fato estava acontecendo.
Yoongi sacudiu as mãos, o chamando para perto, e indicou o sofá. Jimin sentou-se no canto, aguardando as palavras dele serem formadas logo depois de uma rápida pigarreada.
– Quer saber sobre sua amiga, certo? – Jimin confirmou com um suave aceno. – Ela está viva.
Todos os nós do seu corpo foram desfeitos à medida que processava aquelas palavras. Então Hannah estava viva? Mas por qual motivo era tão difícil assumir? Não parecia uma má informação, muito pelo contrário.
– Por que então me deixou pensar que ela estava morta? – indagou, seus músculos estavam tensos.
– Não queria que pensasse isso. Existe uma razão para não termos dito antes.
– E qual é?
Um momento de silêncio rígido caiu entre eles. Yoongi estava, evidentemente, escondendo uma longa história, era, facilmente, inegável constatar isso em seus olhos. Algo beliscava sua pele para contar sobre a ligação, independente de pressentir a bronca de Jungkook.
– Recebemos uma ligação – falou de vez, poupando sua análise da reação dele. – Eles ameaçaram matar a Hannah se você não fosse levado de volta. Mas fique tranquilo, Jungkook conseguiu resolver isso.
– E como ele resolveu? – Parecia apavorado. Yoongi engoliu com dificuldade a saliva.
– Ele se ofereceu para ir no seu lugar. – Jimin arregalou os olhos, uma gota de suor escorreu por suas costas. – Só que não aceitaram. Eles recusaram imediatamente e a única alternativa que restou foi atacá-los em um ponto fraco. Jungkook foi o único que conseguiu perceber esse ponto fraco e ele o fez.
– Então ela vai morrer? Isso não está acontecendo! – Ele apertou os fios do cabelo, apreensivo e transtornado.
– Jimin, eu te garanti que nada vai acontecer a ela.
– Como pode ter certeza disso? – Sua voz aumentou, embora estivesse, fracamente, hesitante. – Você não os conhece como eu os conheço. Não sabe do que são capazes.
– Estamos enfrentando eles há cinco anos. É claro que sabemos do que são capazes.
Jimin apertou os dentes e sacudiu a cabeça para os lados, inconformado com aquela declaração. Eles não sabiam um terço do que esses homens faziam dentro daquela boate, não tinham noção da crueldade estampada no olhar deles quando matavam uma menina vítima de uma gravidez indesejada. Muitas chegaram a se suicidar antes mesmo de serem torturadas quando descobriam que estavam grávidas, outras, por outro lado, procuravam remédios para abortar.
Era um sofrimento temível e preocupante.
– Você passou por tudo isso, Jimin, deve saber quem está por trás. – Yoongi assumiu de repente, atraindo sua atenção entorpecida. – Deve, ao menos, ter visto o rosto da pessoa. Você pode falar enquanto fazemos um retrato falado.
Seu medo engrossou absurdamente. Ele já havia contado a Jungkook quem era o cabeça da máfia, no entanto, não podia espalhar isso para Yoongi. As pessoas com quem se importava estavam sendo ameaçadas naquele momento, qualquer deslize e uma bala podia entrar diretamente na cabeça de um deles.
– Não vi nada. – Abraçou seu corpo e abaixou os olhos, defendendo-se da sensação desagradável que foi mentir.
– Tem certeza? – Yoongi caçou seu rosto sob os cabelos rosados. – Jimin, precisamos que se lembre de algum rosto, uma conversa, uma palavra, qualquer coisa que nos direcione ao verdadeiro responsável. Eu tenho algumas teorias, mas ainda são inválidas.
Jimin sentiu um tremor estranho ondular do seu coração para o resto do corpo. Se ele tivesse alguma suspeita de Namjoon, provavelmente já estava trabalhando em encontrar pistas. E para o seu terror, Yoongi parecia ser muito bom nisso.
– Eu já disse tudo o que sei. – Sustentou-se na mentira.
– Tudo bem, vamos começar de novo. – Yoongi se acomodou ao lado dele no sofá e sugou o ar tranquilamente. – Você nos disse que sua mãe certamente sabia sobre o seu sumiço, mas que não fez nada a respeito.
– Talvez por medo de ser morta. – Ele rebateu, equilibrando-se em outra mentira. Nem ele mesmo acreditava nessa percepção.
– Nós prometemos segurança máxima a ela para que nos contasse exatamente tudo o que tinha acontecido naquela noite. O que não esperávamos era vê-la chorando muito. Ela estava arrependida de algo, desnorteada sem saber o que fazer. Não parecia com medo e isso nos fez perceber que, supostamente, ela estava escondendo uma informação valiosa.
Jimin fungou o nariz, controlando a vontade de chorar. Doía imaginar essa cena, doía mais ainda saber que o motivo dela estava no centro de um conflito interno que tinha de escolher: seu filho ou o amante.
De todas as coisas que podia pensar, sentir que estava no mesmo patamar de um desconhecido, na qual manteve uma relação de meses baseada em beijos, jantar e sexo praticamente o dizia que seu valor era igualmente semelhante a esse vínculo, ou muito abaixo dele.
– Eu suspeito que seu pai seja a causa disso. – Jimin suspendeu a cabeça, surpreso, quando o detetive revelou de repente. – Eles podiam estar se encontrando, sua mãe sabia o que ele fez, mas não disse nada porque ainda o ama.
– Essa não é a verdade! – guinchou-se, perplexo pela ideia tão maluca dele. Por Deus!
– Jimin, talvez você não queira aceitar porque ele é seu pai, mas existe uma grande possibilidade de ele ser o mandante.
O menino abriu a boca para respondê-lo, mas sua voz se sufocou na garganta. Ele não podia acreditar no que estava ouvindo, ainda mais de um policial que não tinha nenhuma evidência sobre isso nas mãos. Seu coração se feriu abruptamente.
– Você não sabe o que está falando, não devia acusar as pessoas sem provas.
– Não estou acusando, apenas esclarecendo minhas teorias. Por isso gostaria que me contasse sobre seu relacionamento com seu pai antes de tudo acabar em divórcio.
– Sua teoria é uma merda. – Yoongi não disse nada.
Jimin sentiu o peso das palavras e, automaticamente, se repreendeu na mente. Pedaços da sua memória o lembrava que sua coragem não era tão afiada para dizer tais palavras e se amparar nelas.
– Me conte sobre sua relação com seu pai. – Yoongi pediu, mas Jimin negou com a cabeça.
– Podemos parar de falar sobre ele, por favor?
– O tempo está passando, sua amiga está trancafiada em um lugar que ninguém sabe onde fica passando fome, sede, frio e outras coisas. Dificultar as coisas agora só vai atrasar nosso trabalho.
Jimin arregalou os olhos. No lugar de uma expressão surpresa, veio um sentimento de culpa. Ele então deslizou fundo nas lembranças de Hannah e se responsabilizou por ter fugido quando na verdade devia ter ficado para cuidar dela.
– Me desculpe... – Jimin falou, estupefato pela sensação forte de culpa. Sua voz estava rachada de perturbação. – Eu vou para o quarto.
Ele acabou se levantando, mas Yoongi foi mais rápido, bloqueando seu caminho.
– Me perdoe, eu não quis dizer essas coisas.
– Dizer o quê? Que a culpa disso tudo é minha? Não se desculpe por falar o que eu já sei. – Lágrimas pesadas rolaram pelas suas bochechas de um jeito abafado.
– Jimin-
– E-Eu não quero mais falar disso, por favor. Me deixe passar, eu preciso dormir. – Ele acabou soluçando, se surpreendendo por uma simples frase servir igualmente como um soco na cara.
A porta da sala se fechou lentamente, Jimin olhou para trás e encontrou a imagem de um Jungkook, parcialmente, coberto nas sombras. Ele deu alguns passos para perto, o rosto surgindo sob a fraca luz, movido por uma desconfiança controlada.
Jimin sentiu uma combinação, equivocada, sacolejar o seu peito, uma surpresa familiar, unicamente unida a timidez por ter Jungkook presenciando todo episódio. Por um lado, a suavização o abraçou, por outro, o toque da vergonha ferveu sua pele.
– O que está acontecendo? – perguntou o detetive, olhando a distância para os dois, especialmente para as feições molhadas de Jimin.
O garoto virou a cara e passou as costas da mão por cima dos olhos, varrendo as lágrimas para longe. Yoongi, por outro lado, gaguejou antes de respondê-lo.
– Estávamos conversando, só isso. – Jungkook deu uma olhadela para Jimin, calculando todo cenário.
Afetado, o menino percorreu para perto da lareira e se apoiou na parede ao lado, os braços se abraçando e a cabeça curvada para baixo em defesa dos olhares clandestinos de Jungkook.
As circunstâncias indicavam que tudo parecia errado. O silêncio vociferava com o cheiro da tensão e Jungkook podia sentir os rastros de aflição e embaraço voando entre eles.
Com a boca pressionada firmemente e a expressão metódica, o detetive se dirigiu pelo outro lado da sala, arrancando a jaqueta das costas e atirando sobre o sofá antes de alcançar Jimin do outro lado. Yoongi passou os dedos por cima dos lábios, entendendo o olhar duro que Jungkook arremessou em sua direção.
– Jimin – Ele o chamou, despertando sua atenção. Seus olhos negros estavam mais profundos do que Jimin jamais tinha visto –, foi somente uma conversa?
Ele o observou em silêncio por um tempo, seu estômago ficando ainda mais agitado por ter aqueles olhos tão fixos aos seus. De repente, ele olhou por cima do ombro de Jungkook, percebendo o nervoso estampado no semblante pálido de Yoongi.
Aqueles olhos o pediam para manter a verdade debaixo do tapete. Ele odiava sentir que estava sendo comunicado.
Atenciosamente, os longos dedos de Jungkook tocaram sua bochecha, virando seu rosto em direção ao seu.
– Não olhe para ele, não quero que você se sinta intimidado.
Jimin enxergou seus olhos afiados por um limite protetor e aquilo, muito devagar, foi fazendo seu pânico sumir.
– Eu quero ir embora daqui – assumiu, medonhamente impressionado pela força de suas palavras. Jungkook endureceu a mandíbula e afastou sua mão do menino. – O senhor pode falar com seu chefe?
Ele estava muito afetado para respondê-lo rapidamente, uma onda estranha torceu seus pensamentos e uma nuvem negra bloqueou qualquer reação além dessa.
– É isso mesmo que quer? – Jungkook perguntou, esperando ouvir uma resposta negativa.
Ele fez um aceno com a cabeça.
– Sim.
Jungkook não tinha percebido que estava segurando a respiração até tê-la soltado. Sem querer insistir para reconsiderar essa decisão, ele apenas sorriu sem mostrar os dentes e chacoalhou a cabeça, escondendo a ausência de humor em sua ação.
– Se é o que deseja, eu falarei com ele amanhã.
– O senhor vai comigo? – Jungkook foi pego de surpresa.
– Eu não te deixaria ir sozinho.
– Obrigado – agradeceu, envergonhado, olhando para o topo da escada. – Vou para o quarto. Pode me chamar depois de conversar com ele?
– Claro. – Ele forçou um sorriso. – Descanse um pouco.
O menino sorriu quando Jungkook não disse mais nada e conduziu seu corpo para o andar de cima, sem olhar para o lado onde Yoongi estava. Logo após desaparecer de suas vistas, Jungkook permaneceu de costas, sem mover qualquer parte de seus músculos.
Yoongi se aproximou dele em passos relutantes, formulando as palavras que diria.
– Jungkook? – As costas à sua frente se moveram num suspiro impaciente. – Me desculpa, cara, foi tudo culpa minha.
– Se você não sabe o que fala, devia ficar calado. – Ele se virou de frente, suor salpicava sua testa. – Que merda você achou que estava fazendo?
– Eu só queria algumas respostas. – Jungkook bufou, rindo.
– Parabéns, eu acabei de receber uma.
Tempestuoso, ele arrastou os pés de encontro a porta, agarrando com força a sua jaqueta largada antes de alcançá-la. Yoongi foi deixado para trás, abalado por uma confusão indiferente.
– Aonde você vai? – Ele gritou para Jungkook e, como já esperava, não houve retorno.
Ele apenas fechou a porta e partiu.
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