⍟ thirty five
O interior da casa fagulhava com a luz da chaminé palpitando entre a lacuna de tijolos. Ao redor, a escuridão velava quaisquer móveis que estivessem a mais de dois metros de distância. O som sombrio da tempestade estava presente desde longas horas e, provavelmente, duraria o resto da madrugada.
Jungkook estava com seu notebook acima das pernas. Ele se concentrava melhor quando escutava as gotas da chuva se agitando sobre a grama e a estrada. Uma xícara de café posicionava-se na pequena mesa de centro — alimentando sua terrível insônia — e um cobertor espesso estava embrulhando da sua cintura para baixo, juntamente com o ninho de travesseiros em suas costas.
Jimin tinha ido dormir depois de muita insistência de Jungkook para que descansasse, mesmo que no fundo estivesse tremendamente receoso. Seokjin tinha feito o mesmo, na verdade, fora o primeiro a ir se deitar no seu luxuoso aposento. E lá estava Jungkook, de mãos atadas com o silêncio e sozinho naquele enorme espaço friamente pacato.
Na tela do seu aparelho refletia a imagem de Seokjin e todas as informações que diziam respeito ao mesmo. Sob o murmúrio das lascas se derretendo pelo fogo, o detetive as estudou com muita cautela, recolhendo cada dado atenciosamente. Já havia um tempo que desconfiava de Seokjin e ele reconhecia que tinha falhado em não colocar as mãos na massa e investigar por conta própria sobre a verdadeira face de seu chefe.
Rose o havia intrigado, deixando-o atiçado por uma curiosidade absurda quando afirmou que o líder sabia muito sobre Seokjin. Jungkook guardava seu nome, mas não tinha sequer parado para averiguar a relação entre os dois. Entretanto, o momento não o favorecia, ele precisava de privacidade para investigar a respeito e essa, com certeza, não estava dentro da residência de seu chefe.
No entanto, aparentemente, estava decidido a trabalhar nisto, visto que se encontrava suficientemente desperto para encarar as notas com moderação. A garganta de Jungkook se fechou de repente. Havia milhares de informações sobre seu chefe, mas nada fora do comum. Não passava apenas de conjecturas sem fundamento.
Ele olhou as horas em seu celular. Já passava das duas da manhã e nenhum resultado positivo deu-se em sua busca. Havia algumas ligações perdidas de Yoongi, as quais fizeram Jungkook, rapidamente, suspirar e desligar a tela do aparelho. Ele arremessou-o para o canto e procurou seus fones por baixo dos lençóis, logo localizando-os nos ouvidos.
Muito lentamente, Jungkook massageou sua nuca e esticou os músculos do pescoço para cada lado, sentindo a exaustão pouco a pouco se espalhar por seu corpo. Um áudio estava pausado na tela do computador e ele acabou olhando para todas as direções antes de apertar o play.
– Como dormiu, detetive? – A voz tenebrosa rangeu em seus fones.
Ele já tinha repetido o áudio pela terceira vez, sua audição se apressando em absorver cada palavra sob o ruído metálico.
– Melhor do que esperava. E você?
– De um jeito relaxado. – A voz robótica chiou, rosnando de desprezo. – Embora os gritos horripilantes da menina estivessem aos pés dos meus ouvidos o tempo todo. Mas nada que uma música lenta e um vinho branco não resolvesse.
Vinho branco. Essas duas palavras deixaram Jungkook imensamente intrigado, roendo seus neurônios, a fim de uma definição. Isso tinha um esclarecimento, cuja resposta ainda permanecia mascarada.
Ele esfregou os olhos e rebobinou o áudio mais uma vez, iniciando-o novamente. O sono pesava suas pálpebras e o fazia bocejar por vezes, mas nada barrava sua determinação em encontrar respostas.
Como esperado, nada chamava mais sua atenção do que o vinho branco. Eles eram espertos, o suficiente para provocar cogitações e levantar uma parede de insinuações. Jungkook precisava ser mais consulente se quisesse achar o que procurava.
Seus olhos deram um solavanco de supetão e ele acabou reproduzindo as palavras ditas pelo criminoso pausadamente, observando a entonação dele ao dizer cada palavra.
O que prendeu a concentração do detetive foi a forma meticulosamente descuidada que Derek emitiu ao dizer aos pés dos meus ouvidos, liberando notas de satisfação e, propositadamente, ensaiadas, o que, por certo, causou uma desconfiança por parte do detetive. Se ele o fez de propósito, então aquela frase tinha algum significado disfarçado.
Analisando todo o contexto da conversa, o criminoso iniciou citando Hannah como sua fonte de incômodo, dizendo que os gritos dela estavam abaixo dos seus ouvidos. O que vem de baixo, necessariamente, está abaixo da terra, sob seus pés. E se Hannah estivesse trancafiada em uma área subterrânea? As áreas de mais fácil acesso a fugas ficavam em extremidades profundas, como escavações subterrâneas, por exemplo, Jungkook pensou.
Este pensamento agitou suas lembranças ligeiramente, o fazendo recordar do diálogo que teve com Jimin no dia da entrevista. Ele relatou ouvir vozes abafadas e passos de pessoas distantes, não muito constantemente, assim como também descreveu sons de carros cruzando por cima de sua cabeça.
Então Jungkook refletiu de maneira eficiente, calculando suas estratégias com base na conclusão imediata: a boate presumivelmente era subterrânea.
Isso justificaria todas as falhas obtidas na operação de vistoria nas boates da cidade. Ela não estava localizada no centro de todas as outras, sua posição se estabelecia abaixo da terra, muito longe dos olhos vigilantes do FBI.
Um rangido soou no alto da escada. Jungkook arrancou os fones e olhou rapidamente para trás. Nada. Seu olhar precavido sondou as arestas da sala, aprofundando-se nas regiões cobertas pela escuridão. As chamas não clareavam todo o ambiente, elas apenas formavam ondas oscilantes nas paredes e aquecia a invernia do lugar.
Tudo estava quieto. O detetive registrou os sinalizadores acesos, indicando que os alarmes estavam, positivamente, acionados. O barulho veio novamente, desta vez em forma de pegadas. Muito lentamente, Jungkook retirou sua arma debaixo da perna e a ativou, fechando o notebook antes de deixar o sofá.
Ele olhou para a porta da frente, ouvindo o longínquo gotejar da chuva como o único ruído audível e voltou-se para a escadaria, movendo sem pressa seus pés descalços naquela direção. Antes de alcançar os degraus, ele agarrou uma lanterna e posicionou sob a mão que segurava a arma, prontamente direcionada para o negrume no fim da extensa escada.
Um arfar inesperado raspou sua boca. Jungkook não tinha encontrado nenhuma outra pessoa dentro da casa, embora não tivesse vasculhado todos os cantos, no entanto, todas as suas suspeitas estavam voltadas para uma possível emboscada de Seokjin, na qual tinha como finalidade matá-lo enquanto dormia, pensou.
Uma sombra surgiu hesitante no topo da escada, sendo recebida com lances de luz no momento que o detetive ligou a lanterna em seu rosto. Jimin pestanejou uma sequência de vezes e colocou a mão em frente aos olhos para conter a claridade que o cegava.
– Jimin... – Ele sussurrou para si mesmo, surpreso, e desligou a lanterna.
O menino, muito calmamente, olhou para ele e desceu até o meio dos degraus, seus frágeis ombros imóveis. Ele tinha as mãos asseguradas nos braços, protegendo-se do frio congelante. Uma camisa listrada com longas mangas seguia até a metade de suas mãos, deixando somente seus dedos de fora.
– Por que está acordado a essa hora? – O detetive perguntou, suavemente.
Jimin sentiu como se estivesse engolindo algo grande, então ele abaixou seus olhos, de modo que estivesse escondendo sua desagradável sensação.
– Não consigo dormir. – Ele não conseguia que sua voz fosse mais que um sussurro.
– São os pesadelos? – Os olhos do menino piscaram acima, seus pelos se arrepiando automaticamente.
Ele não respondeu em palavras, mas agitou a cabeça num fraco sim. Eventualmente, seus tormentos se tornaram mais constantes, pior que isso, pareciam eminentemente reais. Jimin não tinha o desejo de voltar para a cama de novo, porque sabia que se fechasse os olhos, aquelas imagens voltariam novamente à sua cabeça.
Ele olhou ao redor, enxergando um cobertor quase caindo do sofá, um notebook em cima e travesseiros alinhados ao encosto. O fogo na lareira bruxuleava e provocava estalos a cada segundo.
– O senhor está dormindo aqui?
Jungkook guardou a arma no cós da calça e sacudiu a cabeça gentilmente, confiscando sua cama improvisada.
– É mais confortável que o chão – assumiu ele, movendo-se para o centro da sala, segundos depois seu olhar alcançou a imagem do menino. – Venha.
Jimin se espantou momentaneamente com suas palavras, canalizando o sentido por trás delas. Ele encarou Jungkook, que movia os travesseiros para um único canto a fim de obter mais espaço no sofá.
– Bom, não vou te oferecer café porque isso iria te manter acordado. Então, sente-se aqui e pode ficar até sentir que está com sono – falou o detetive, apalpando o estofado como um convite.
O silêncio encheu a sala, então Jimin acabou mexendo os pés na direção dele, passando de incerteza a alívio.
– É isso que está te deixando acordado? O café? – O menino perguntou logo que se acomodou no sofá. Jungkook o encarou suavemente, notando que sua ação causou uma declinação no equilíbrio emocional de Jimin, embora não tivesse parado para avaliar o significado disso.
– Preciso dele para me manter desperto. Coisas do trabalho.
– Não quero atrapalhá-lo em seu serviço.
– O trabalho pode esperar – disse; um fascinante brilho da clareira reluzindo contra seus olhos.
O efeito de suas palavras enervou sobre Jimin, o deixando movido, estranhamente, por uma sensação de drenagem. Ele abaixou os olhos e procurou por um travesseiro, situando-o em seu colo quando o apanhou.
A tela do celular de Jungkook brilhou sobre a mesa de centro e ele o segurou, enxergando outra mensagem de Yoongi. Jimin tinha visto o nome do agente antes de ele desligá-lo.
– O senhor já conversou com ele?
– Não – falou, colocando o celular de volta na mesa –, ele também pode esperar. Embora eu saiba que ele não vai dormir até falar comigo.
Jimin sentiu-se, parcialmente, culpado pela desavença entre eles. Mas, no fundo, presumia que Jungkook estava apenas fazendo isso para dar uma lição e não porque estava fielmente decidido a deixar seu companheiro. Ele era adulto o bastante para saber lidar com problemas maiores.
– O sonho – A voz de Jungkook rompeu sobre o estrondo da tempestade e o acordou de seu devaneio. –, como foi dessa vez?
Jimin se recordou dos detalhes e seu estômago se apertou. Sempre que tivera um pesadelo, Jungkook era o refúgio de suas dores e quem sempre o ouvia.
– Foi com ele... de novo. – Ele apertou o travesseiro contra seu corpo. – Eu tinha escapado, mas ele conseguiu me capturar e me levou para a cela. Ele usava luvas e uma máscara, estava parado na porta me encarando e em suas mãos havia um chicote. Ele o usou em mim. – Seus olhos arderam, mas nenhuma lágrima desceu por suas bochechas. – Eu senti sangue nas minhas mãos, sangue se derramando pelo chão e só depois presumi que vinha de mim, das minhas costas.
– Ele te feriu?
– Mais que isso, ele me humilhou. – Seus membros tremeram miseravelmente e ele não soube dizer se era pelo frio ou pelo medo da lembrança. – Eu estava na poça do meu sangue quando ele tirou a roupa e subiu em mim.
– Jimin-
– Não, deixe-me falar, por favor. Quando eu me abro, me sinto melhor. – Jungkook não disse mais nada, apenas acenou docemente. – Eu lembro de gritar muito, minha garganta ardia e cheguei ao ponto de não suportar meus gritos e me calar. – ele soluçou inesperadamente, suas defesas se dissolvendo. – Eu me calei e deixei que ele me usasse como um objeto. Eu não devia ter deixado ele me tocar, eu devia ter resistido mais.
– Foi um sonho, Jimin.
– Sonhos refletem o nosso medo real.
– Não exatamente.
– Mas, para mim, aquilo foi real. Eu consigo sentir as mãos nojentas dele no meu corpo e não sei como parar de senti-las. Eu quero parar, senhor.
– Isso não é sua culpa, jamais será. Não se condene por algo que não foi capaz de controlar. – Jimin arfou um choro silencioso, quase desesperador.
– Eu sinto que é e não posso controlar isso.
Ternura se derramava das feições de Jungkook. Ele acabou arrastando-se para perto do menino, não pensando muito quando o agarrou contra seu peito e o abraçou. Jimin soluçou em sua camisa, torcendo os dedos dentro dela.
– Por favor, me ajuda a parar de sentir isso. Eu não suporto enxergar ele nos meus sonhos, eu temo que isso um dia volte a ser realidade. – Sua voz estremeceu e um guincho de choro se intensificou em sua garganta.
– Me escute – Jungkook pediu gentilmente, emaranhando seus dedos no macio dos cabelos dele. –, eu prometo que isso vai passar. Eu te juro que deixarei ele bem longe de você, só preciso que confie em mim.
– Como o senhor pode me proteger deles? Parece que me jogaram pra cima e o primeiro que me pegar quando eu cair vai me levar como troféu. – Ele esmagou os dedos na camisa do outro, sentindo-se atormentado. – Eu tenho medo que o vencedor seja um deles.
– Tem que confiar em mim.
Ele balançou a cabeça para os lados, sabia que estava preso dentro do recesso escuro de sua mente e não podia fugir disso facilmente.
– Eu confio, mas isso não vai passar, senhor, não vai!
Jungkook o afastou cuidadosamente e segurou seu rosto com as duas mãos; ele tinha os olhos e a pontinha do nariz vermelhos. De modo delicado, os polegares do detetive varreram as lágrimas dele para longe de suas bochechas e seu olhar cauteloso o estudou atentamente.
– Sempre que isso acontecer e os pesadelos te atormentarem, repita para si mesmo que aquilo não é real até que esteja convencido disso. – murmurou ele, como se estivesse contando um segredo.
– E-E se eu não conseguir? – Ele podia sentir as lágrimas queimando sua garganta enquanto falava.
– Eu sei que consegue. Precisa acreditar em si também.
Jimin quase desmoronou sob o obsequioso olhar dele, seus pensamentos salpicando em profundezas escuras no momento que não previu suas ações e acabou guiando suas mãos as dele. Elas eram tão pequenas sobre as dele, que se estivessem por baixo certamente seriam engolidas.
– O senhor é tão bom. – revelou ele, deixando o detetive completamente paralisado sob seu olhar. – É difícil acreditar que toda essa bondade é fruto do seu trabalho para lidar com pessoas como eu.
O controle de Jungkook se despedaçou. Seus olhos, grandes e negros, sorriram para ele.
– Isso vai além do meu trabalho, Jimin.
O guincho de surpresa de Jimin transformou-se em um feixe de satisfação. Ele retirou cuidadosamente as mãos de Jungkook com as suas de seu rosto e olhou para elas, observando o quão macias eram.
– Eu me pergunto se sou merecedor de sua proteção – falou ele,por alto; cabeça levemente abaixada enquanto seus dedos brincavam com a palma da mão dele. – E da sua bondade.
O detetive encrespou a testa discretamente e curvou as sobrancelhas.
– Por que está dizendo isso?
– Porque me sinto um peso para o senhor, um peso que está sendo obrigado a carregar nas costas.
– Jimin – sua voz ecoou tão suave quanto pluma. O menino rolou os olhos a ele e o encarou sob os cílios –, eu quebrei inúmeros protocolos por sua causa e não me arrependo. Eu gosto disso.
– De quebrar protocolos? – questionou ele, quase brincalhão, rompendo a tensão que habitava no ar. Jungkook acabou rindo brevemente.
– Não, de estar aqui com você, porque isso me mostra que está seguro. Eu fico imaginando o que teria acontecido se eu tivesse ouvido o juiz e aceitado não ir ao leilão. Eu ia te perder pra eles. Nós íamos. – ele falou um pouco sorrindo. – Mas agora você está aqui comigo, sob um teto com segurança máxima. Então eu prefiro acreditar que o destino quis fazer justiça por você te trazendo até a mim, para o FBI.
Jimin mostrou-se impressionado, tanto que seus pequenos dedos apertaram as palmas de Jungkook inconscientemente.
– Desde o momento em que nos encontramos no desfile, eu não parei de pensar no senhor. – abaixando a cabeça, ele acariciou as mãos do outro com as suas e sentiu as bochechas incendiarem. – Eu acredito que o destino cochichou no meu ouvido que o senhor era a luz no fim do túnel. Não é isso que os filmes falam? Eu não acreditava em luz no fim do túnel até te ver na floresta.
– É isso que pensa? – o menino mordeu o lábio e acenou para ele, tímido, então, afagando as mãos de Jimin e as afrouxando das suas, o detetive se mexeu até a xícara de café mais adiante. O menino se prendeu em seus movimentos. – Ninguém nunca me disse essas coisas.
– Talvez porque o senhor nunca lidou com alguém como eu. – falou de imediato, ganhando os olhos dele. – Nunca teve que se arriscar para salvar uma vida como a minha, teve?
– Não tem que se preocupar, Jimin, você não está abusando da minha cordialidade. – argumentou por fim, compreendendo a mensagem dele por trás de suas palavras.
– Desculpe – Jungkook o olhou apreensivo por cima do ombro. –, por achar que estou abusando da sua cordialidade.
Ele repetiu as mesmas palavras do detetive, usando um tom casual e bem aprimorado ao dizê-las em sinal de divertimento. Jungkook sorriu, seus dentes brancos brilhando sob a fraca escuridão da noite.
– Por este motivo eu vou te perdoar. – ele entrou na brincadeira, bebericando seu café sem tirar sua visão do garoto.
– Para onde vai quando amanhecer? – sua pergunta ia além de curiosidade.
– Há assuntos pendentes a se tratar, então devo voltar para o prédio.
– Isso significa que não vamos mais nos ver? – Jungkook se calou por um momento, depositando sua xícara novamente na mesinha.
– Voltarei todos os dias para vê-lo. Mesmo que isso me custe roubar a chave da casa que o Seokjin guarda no bolso. – embora sua entonação soasse bravamente zombeteira, suas palavras eram igualmente sinceras.
Um ronco assustador retumbou no céu e as faíscas dos relâmpagos rabiscaram as nuvens através da janela. O menino se aninhou ainda mais ao sofá, afundando-se em sua proteção inflada de algodão que ele apoiava sobre o colo.
– Isso inclui continuar com as lutas? – Jimin quis saber, temendo pela resposta negativa.
– Vamos parar de lutar apenas quando estiver preparado para se defender sozinho. Fora isso, eu vou continuar te ensinando todos os exercícios de combate.
Jimin não conseguiu evitar o enorme sorriso que se acentuou em seu rosto. Jungkook era admiravelmente fantástico e possuía um caráter gigantesco, apesar de ser desautorizado a ensiná-lo tais estratégias de defesa, ele permanecia decidido a retomar o que havia começado, e tudo isso apenas para manter sua palavra a Jimin.
– Provavelmente o senhor era um dos melhores em Virgínia. – Jimin disse, o lembrando da sua vida como aluno.
– Eu apanhei feito saco de pancada, havia rivalidades pelo posto de melhor da turma. – argumentou ele, sorrindo amplamente quando uma lembrança cortou seus pensamentos. – Éramos trinta, e sempre que alguém ia competir comigo, a pessoa não poupava a força.
– Por que eles faziam isso?
– Porque eles sabiam que eu era um dos poucos com o propósito de se render ao lema do Departamento: fidelidade, bravura e integridade. Os outros só queriam um distintivo para servir aos seus próprios benefícios. Um policial pode conseguir muita coisa, basta ter um emblema e todos se curvarão aos seus pés. Existem muitos policiais corruptos, Jimin, que jogam a sujeira para debaixo do tapete com um estalar de dedos, isso porque o emblema os protege.
– Isso é crime. Por que eles fazem as mesmas coisas que combatem todo dia? – o menino parecia meramente surpreso.
– Você só precisa ter uma farda e um distintivo e tudo cairá aos seus pés. – ele soltou um longo fôlego e sussurrou as seguintes palavras: – Eu poderia jogar sujo para conseguir todas as respostas, mas pretendo manter minha palavra ao lema do Departamento e cumprir corretamente o que me fez parar aqui.
Com um toque no peito, Jimin sorriu para ele, mostrando-se orgulhoso de seu posicionamento. Era difícil encontrar pessoas com uma dignidade tão peculiar ao ponto de escolher o caminho mais complicado somente para sustentar sua honradez.
– Gosta de chocolate quente? – perguntou o detetive a ele, o vendo piscar um par de vezes.
– Sim.
– Vou preparar um para nós.
Dito isto, ele segurou sua xícara da mesinha e caminhou até a cozinha. Ele não acendeu a luz quando adentrou o espaço, era possível enxergar os contornos escuros dos móveis e eletrodomésticos em cada parte. Outro clarão lampejou do lado de fora, a tempestade parecia se exacerbar a cada minuto, com gotas furiosas sobre o teto em sua cabeça.
Ele pesquisou todos os ingredientes, sentindo falta apenas do chocolate em pó, onde não foi possível localizar em nenhuma parte daqueles armários. Minutos se passaram enquanto Jungkook pensava o que poderia substituir o chocolate. Ele precisava de alguma coisa quente que pudesse aquecer seus corpos neste tremendo frio.
Certamente Jimin devia estar com o estômago vazio, dado que não havia se alimentado desde que pisou os pés na casa, e Jungkook sabia que oferecer café só iria contribuir para que ele rompesse o sono que tampouco se manifestava.
Então, sem muitas escolhas aparentes, ele decidiu voltar para a sala, disposto a informar para Jimin que seu plano para o chocolate quente havia sido estilhaçado. No entanto, ao andarilhar seus olhos muito lentamente, Jungkook se deparou com a imagem do garoto adormecido no seu improvisado ninho, agarrado ao travesseiro que segurava.
Aquela cena o acorrentou e seu olhar não conseguia se desviar dos suspiros calmos que escapavam graciosamente dos lábios abertos. Ele estava encolhido, com ambas as pernas encurtadas contra o corpo, a cabeça levemente amparada no braço do sofá enquanto o travesseiro era esmagado no peito.
Definitivamente, ele tinha sono, mas temia pelo que podia sonhar enquanto dormia. Por isso a sonolência o pegou em definitivo, porque finalmente ele se sentia seguro para dormir sabendo que Jungkook estava ao seu lado, e simplesmente deixou o sono o puxar sem resistir a ele.
Cuidadosamente, Jungkook caminhou na direção dele sem emitir qualquer ruído capaz de acordá-lo, então ele agarrou um dos travesseiros e o colocou abaixo da cabeça de Jimin, o vendo arfar pequenos sons em seu sono. Em seguida, ele arrancou o edredom do sofá e o jogou de maneira zelosa sobre o corpo pequeno, o envolvendo até os ombros.
Jungkook não ousaria acordá-lo para seguir para o quarto, uma vez que Jimin havia saído de lá pelos mesmos motivos que o fez encontrar Jungkook sozinho na sala: ele precisava de sua presença para sentir que estava seguro dos seus tormentos.
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HORAS DEPOIS
Jungkook estava fechando os últimos botões do blazer quando uma figura esguia desceu as escadas. Seu olhar o encontrou na metade do caminho, o rosto dele alternava entre o detetive e o menino dormindo no sofá. O dia havia amanhecido, uma garoa era tudo o que restou da impetuosa tempestade da noite passada.
– Ele dormiu aqui? – O homem perguntou da escada, descendo os últimos degraus, hesitante.
– Sim.
O detetive não o encarou por muito tempo, logo seu corpo movimentou-se em direção a bolsa, onde guardou o notebook e todos os seus pertences que ficaram espalhados.
– E você, onde dormiu? – Uma luz súbita feriu os olhos de Jungkook no momento em que ele sentiu partículas de insulto se derramarem nas palavras dele.
– Eu não dormi, se isso responde o que está insinuando.
– É uma pena, temos muito o que fazer nesta manhã. Deveria pelo menos ter cochilado. – disse ele, varrendo seus pés para a cozinha, onde recolheu uma maçã de um pote, voltando para a sala logo em seguida. – Apronte-se, iremos falar com a imprensa ainda hoje.
– Eles estão cientes do nosso comunicado?
– Estão ansiosos para nos ouvir. A população precisa de um chamado urgente, então faremos isso com presteza. – E, pela primeira vez naquela manhã, Jungkook concordou com ele.
A visão do homem se perdeu no pequeno corpo emaranhado sob o edredom e rapidamente voltou-se para o detetive em sua frente. Ele tinha uma expressão eficiente e meticulosamente suspeita.
– Ele parece gostar de você. – disse, apontando com o queixo enquanto mordiscava sua maçã. – O que o fez dormir aqui?
– Pesadelos.
Seokjin piscou, impressionado, vagamente consciente de que Jungkook estava evitando dar mais detalhes.
– Devemos marcar uma consulta? – Jungkook fez um som exasperado, quase como um riso incrédulo.
– A consulta teria que ser privada, sem registro de que ele é um paciente. Isso não levantaria riscos e não poderia alcançar o ouvido dos nossos inimigos. – Seus olhos eram um borrão tácito. – Jimin precisa de cuidados confidenciais e, no momento, eu dispenso suas sugestões de terapeutas.
– Se assim deseja... – Ele abriu as mãos, mostrando-se rendido ao decreto dele. – Eu o esperarei no carro, não se atrase.
Seokjin agarrou sua maleta e saiu pela porta tão calmamente como havia aparecido. Jungkook o enxergou entrar no carro através do vidro manchado pelas gotas da chuva, dava para ver os arbustos desfolhados e a neblina cobrir boa parte das calçadas.
Seu peito deu um salto no instante que ouviu Jimin se mexer no sofá, arfando fracamente em meio ao sono. Jungkook estava agarrado à sua bolsa quando ele abriu os olhos e pestanejou até se adaptar com a claridade. Enquanto ele o observava, o menino tomava as formas dele para reconhecê-lo, e quando o fez, um sorriso preguiçoso dançou em sua boca.
– Senhor – Ele escutou a letargia da própria voz. –, ainda está acordado?
– Já amanheceu, Jimin. – respondeu ele, docemente, agachando-se para ficar da altura do outro. – Tente descansar, eu voltarei mais tarde para vê-lo.
Jimin se ergueu e se apoiou nos cotovelos para olhá-lo, sendo, brevemente, injetado por uma sensação de desconforto.
– O senhor vai mesmo voltar?
– Eu já quebrei alguma promessa nossa? – O menino mordeu o lábio inferior em preocupação e negou. Sustentando o tom cauteloso, o detetive prosseguiu. – Vá para o quarto e descanse na cama, lá é mais confortável e aquecido. Quando acordar, coma alguma coisa e se distraia com a televisão, você tem liberdade para isso.
O menino sacudiu sua cabeça uma única vez para cima e para baixo, e rolou seus pés para fora do sofá. Uma buzina guinchou do lado de fora, chamando a atenção de Jungkook.
– Eu preciso ir. Fique com isto. – Ele entregou um pequeno aparelho ao menino e viu sua surpresa ao pegar o curto objeto.
– O que é isso?
– Um pequeno aparelho que pode te ajudar a se comunicar comigo. Você não vai poder me ouvir, mas eu vou conseguir te escutar. – Jimin levantou o olhar para ele e abriu a boca chocado. – Está conectado diretamente ao meu celular, use-o para falar comigo. Quando apertar este botão, eu vou te ouvir e saber que precisa de mim, então eu virei. Seokjin não sabe, por isso eu gostaria que o escondesse bem.
– Sim, senhor, eu vou procurar um lugar para ele – falou depressa, tomando o maior cuidado com aquela peça de aparência tão frágil.
Mais uma vez o sopro da buzina penetrou sua audição, o fazendo se erguer do chão e sorrir para Jimin antes de avançar na direção da porta. Seu rosto se transformou abruptamente quando deixou a casa, duras linhas cercavam seus olhos negros e ele parecia evitar olhar de maneira furiosa para seu chefe.
Ele entrou em seu carro ligeiramente em silêncio e girou a chave na ignição, fazendo os pneus rasgarem para fora do luxuoso condomínio. O carro de Seokjin estava logo atrás do seu, ele o enxergou pelo espelho retrovisor e bufou, lembrando-se de Jimin. Sua mente ardia ao imaginar como ele se sentiria estando sozinho naquele lugar.
Por alguma razão, esse pensamento o fez apertar as mãos em volta do volante e pisar fundo no acelerador. Estava marchando em linha reta para o estúdio de imprensa para expor seu rosto e esclarecer sobre o caso. A população precisava ouvi-lo, suas palavras seriam altamente importantes para cada família.
Depois de longos e duradouros minutos na estrada, ele enxergou a colossal construção de rádio e televisão exposta acima de seus olhos. Seu carro penetrou numa vaga distante a céu aberto, vendo o carro de Seokjin surgir logo depois.
Ambos deixaram seu respectivo automóvel. Jungkook sondou em torno do território, avaliando as pessoas perambulando como formigas perdidas. A bandeira do Canadá estava pendurada na entrada do edifício.
– Ei, você, avise ao seu supervisor que o FBI está aqui. – Seokjin disse diretamente ao funcionário do prédio que passava por ali.
– Não podemos simplesmente ir lá? – indagou Jungkook, movendo seus olhos vigilantes por cada perímetro, observando um amontoado grupo de repórteres aguardando do lado de fora.
– Os repórteres ficariam eufóricos como cães famintos, eles precisam se organizar antes de nos receber. – Sua resposta teve um leve som triunfal. Jungkook ergueu o olhar para ele, como se pudesse ouvi-lo, sussurrante, em seus pensamentos. – Eu direi as primeiras palavras, você prossegue logo em seguida. É o responsável do caso, sua voz será preeminente, detetive.
A honestidade de sua afirmação o deixou um tanto convicto do que estava prestes a fazer. Então ele acabou deixando seu corpo responder com uma superficial postura de quem está intensamente preparado.
– Senhores! – Uma voz áspera cortou na direção deles. Os dois federais viraram de frente para um senhor. Ele possuía estatura baixa e seus olhos azuis simpáticos sorriram para eles. – Eu estava aguardando-os. Estão prontos para falar?
– Sim, ou a mídia vai continuar devorando nosso juízo. – Seokjin retrucou, deixando o homem parcialmente embaraçado e sem resposta. – Vamos acabar logo com isso e dar o alimento que vocês nos pedem.
Jungkook suspirou, constrangido pelo pronunciamento tão descabido e sem educação de seu chefe.
– Poderia informá-los, senhor? – Jungkook perguntou gentilmente ao homem, recebendo um sorriso enorme em retorno.
– Sim, senhor, me acompanhe.
Ele fez um meneio com o braço, indicando um lance de escadas na frente da construção. Os detetives marcharam na diretriz apontada e situaram-se um tanto longe dos jornalistas. Havia um zumbido contínuo de murmúrios entre a geada forte que batia em seus corpos, câmeras espalhadas por todas as partes e repórteres com microfones em mãos.
Jungkook encontrou dezenas de olhares clandestinos direcionados a si no momento em que sua imagem se realçou, e todos eles se mostraram ansiosos.
– Quando você planeja começar? – perguntou Jungkook ao seu chefe, assim que o sentiu parar ao seu lado.
– Mande a imprensa se preparar e diga que temos informações sobre o caso – ele respondeu, mas direcionado ao supervisor.
O homem percorreu para a frente da comprida escada de concreto e arrancou olhadelas de todos os ângulos. No meio dele, havia uma banca com um microfone apoiado.
– Desculpe o atraso, senhor. O trânsito estava horrível. – A voz de Yoongi cortou atrás deles. Suas mãos varriam as gotículas da chuva que ficaram no terno. Jungkook olhou para ele de cima a baixo. – A coletiva de imprensa já começou?
– Em alguns segundos. Fez o que eu pedi? – Uma leve linha de inquérito se acentuou no seu rosto. Jungkook levantou discretamente as sobrancelhas quando se virou para os jornalistas novamente, tratando aquela conversa como zumbidos de insetos.
– Sim, senhor, e o resultado não foi agradável. – Seokjin pareceu brevemente aborrecido, a despeito de sua aparência equilibrada. – Devo ligar para a delegacia de Washington?
Seokjin viu o homem o chamando e ajeitou seu terno antes de pronunciar as seguintes palavras:
– Resolvemos isso quando terminar a coletiva. Me encontre no meu carro em quinze minutos, isso não deve demorar mais do que meia hora. – ele argumentou e acenou para Yoongi, logo marchando os pés no sentido dos repórteres.
Todos permaneceram em silêncio para escutá-lo e câmeras de todos os sentidos apontavam na direção dele. Lampejos de flashes brilharam no ar, registrando o ensejo daquela cena, consideravelmente, importante e valiosa para a imprensa.
Yoongi observou Jungkook com olhos pensativos e certamente arrependidos. Ele desejava se redimir pelo ocorrido, assim como desejava ter sua atenção naquele momento. Entretanto, não houve sequer uma palavra pronunciada por Jungkook, talvez ele estivesse ignorando-o, Yoongi pensou tristemente.
– Jungkook? – o chamou, mas ele não se atreveu a encará-lo. – Podemos conversar?
– Diga.
Ele acabou sentindo uma onda de tristeza pela permissão tão seca, no entanto se concentrou nas palavras que se formaram em sua cabeça antes de emiti-las.
– Eu reconheço que pisei na bola e me arrependo amargamente disso. Foi um erro achar que poderia conseguir alguma coisa agindo da forma que agi. Então eu peço desculpas por esse erro. Se tiver algo que eu possa fazer pra você me perdoar, eu farei. – Ele manifestou suas mais sinceras palavras; embora difíceis, eram puras de honestidade.
– Não é a mim que você deve pedir desculpas, Yoongi. – O seu parceiro engoliu em seco, tropeçando na própria respiração. Jungkook piscou e virou-se para o rosto dele. – É para o Jimin.
– Então eu gostaria de falar com ele.
– Tente depois, quando o encontrá-lo por coincidência – Jungkook articulou, vagamente.
– O que quer dizer com isso?
– Ele já está na casa do Seokjin. – Yoongi arregalou os olhos, reconsiderando novamente seu erro.
– Puta merda! E-Eu não queria, Jungkook, me desculpe-
– O que ele te pediu para fazer? – indagou, movendo seu rosto a Seokjin no centro da conferência e evitando prosseguir com o assunto.
– Conversar com a Rose. – Uma sobrancelha de Jungkook subiu em inquérito e ele sentiu Yoongi mergulhando para mais perto de si, murmurando em seguida. – Ele me pediu para questionar a ela se iria contar o que sabe, mas ao invés de dizer que foi ele o responsável por isso, ele mandou dizer a ela que era você quem estava perguntando.
– Por quê?
– Seokjin quer acelerar a investigação, ele quer acabar com tudo isso antes de ser afastado do cargo. – Jungkook permaneceu calado, momentaneamente pensativo. – Quando ele for retirado do cargo, outra pessoa assumirá o poder. E ele deseja que essa pessoa seja você. Muitos lá dentro querem o posto dele, mas somente quem ele indicar terá esse privilégio.
– Eu não quero o lugar dele. E se quisesse, não me aceitariam.
– É lógico que te aceitariam. Se não for você, quem será? – Jungkook se desviou do rosto dele e focalizou além da massa de pessoas. – Ele não te odeia, ele odeia sua teimosia e insistência, fora isso ele sabe que você é o único que se encaixa nessa posição. Aceite a indicação dele, Jungkook, e todos os casos ficarão bem administrados se estiver no comando.
– Ele tem voz para indicar, não para decretar – retrucou.
– Seu nome vai estar no topo da lista mesmo que ele não te indique. – O olhar de Jungkook encontrou o seu. – O Departamento reconhece o seu serviço e estão de olho em você faz tempo. Eles vão te oferecer funções melhores e só o cargo do Seokjin vai facilitar suas estratégias. Você ficará responsável pela autorização das missões e vai descartar todo policial corrupto que foi jogado no meio da gente. Aceite isso e terá a voz que sempre gritou para ter.
Um ligeiro pensamento atravessou a sua cabeça. Ter o posto de Seokjin seria um privilégio a ser desempenhado, ele não precisaria ser ouvido porque sua voz seria a permissão e o poder em massa. Ele iria acaudilhar suas tropas e cada policial seria designado a missões capazes de solucionar. Ele teria cada recurso na palma da mão.
– Deixe que me indique, até lá eu saberei o que responder – replicou ele,decidido, retornando para o assunto anterior. – Mas ainda não me disse o que a Rose respondeu.
Yoongi balançou a cabeça levemente e lembrou-se do perigoso tom dela negando sua pergunta.
– Ela não aceitou a proposta e decidiu não contar. Segundo ela, morrer eletrocutada não muda seus sentimentos. Semana que vem ela será levada para uma prisão feminina em Washington, ou seja, não vai nos dizer o que sabe.
– Você repetiu exatamente todas as palavras que o Seokjin te pediu para dizer? – Yoongi abriu a boca, mas a fechou sem saber o que falar. – Porque se você o fez, provavelmente ele mandou um recado para ela através de você. Me diga que foi mais esperto que isso.
Engolindo, Yoongi deu um relutante passo para trás, ele pareceu levemente perdido e meditativo. A mandíbula de Jungkook empertigou sob sua ausência de palavras, seus olhos de avelã transformando-se em pedras rígidas.
– Yoongi-
– Eu disse, mas – falou ele, dando de ombros – não havia nada de suspeito nas palavras dele. Ele só disse para eu perguntar se ela já estava preparada para falar e dizer que foi você quem mandou perguntar. Exatamente desse jeito.
O olhar de Jungkook estava nele, mas sua mente trabalhava no que tinha acabado de escutar, parcialmente anexado em suas próprias análises. O rosto de Yoongi retorceu-se, mostrando-se inculpado diante da situação. Jungkook não podia acreditar que seu chefe tinha tanto poder sobre as ações de um agente, simplesmente por ser o chefe. Uma posição pode dizer muito sobre a pessoa.
– Fale com o gabinete e exija que abram uma investigação privada contra o Seokjin. – Yoongi abriu a boca para falar, mas Jungkook ergueu a mão o impedindo. – Se você não fizer isso, eu farei.
– Eu darei a palavra para o detetive responsável pelo caso, Jeon Jungkook. – A voz de Seokjin foi emitida através da conversa deles.
– Jungkook, eu não posso fazer isso, ele é o nosso chefe.
– Sim, seu chefe, não seu dono. – Yoongi não refutou dessa vez. Ele parecia, parcialmente, pego de surpresa.
Folheando mentalmente suas opções, Jungkook olhou ao redor, piscando, depois passou por Yoongi em direção ao homem. O silêncio foi substituído por uma enxurrada de cochichos e os flashes pareceram pressurizar com mais precisão contra seu rosto quando ele mirou o mar de câmeras espalhadas.
Seokjin atravessou ao seu lado, situando-se às suas costas, observando-o como uma águia atenta. Jungkook centralizou-se no meio da escada, mirando o microfone embutido na banca. Houve um longo e estranho silêncio.
Um vento forte arrepiou seus cabelos, jogando-os contra seus olhos e embranquecendo seu rosto. Ele acabou apertando mais o blazer no corpo e piscando para se livrar dos pingos fracos da chuva.
Percebendo que estava perdendo tempo, ele precipitou-se ao público e o encarou. Todos estavam mais próximos agora, havia expectativa no rosto de cada um.
– Bom dia a todos! – começou ele, educadamente. – Recentemente, estivemos enfrentando problemas com um grupo de criminosos que trabalha diariamente atrás de vítimas com interesse em fama internacional. Poucos sabiam sobre ela, mas muitos passaram a provar do seu veneno. – Uma onda de amargura o apanhou. – O Departamento está buscando combater seus crimes já tem cinco anos, e finalmente agora estamos obtendo resultados. Nossa equipe está ciente sobre todas as vítimas desaparecidas nos últimos anos e estamos tentando encontrá-las o mais rápido possível.
Ele encontrou o olhar de Yoongi do outro lado da área, o cabelo tremulando pela brisa e a expressão profundamente metódica. Em seguida, seus dentes se apertaram e um sentimento violento se passou em seu rosto, o fazendo desviar para frente.
– Por muito tempo estivemos enganados, submissos às escolhas deles, mas de agora em diante é o nosso jogo que prevalece. – disse ele, a voz mais alavancada e cheia de indignação. – A partir de hoje, todos os aeroportos serão vigiados e cada boate será reavaliada. O país estará fechado para qualquer jovem que viaje sem ter a identidade confiscada pelos federais ou que estejam em grupo.
Olhares espantados e curiosos o encaravam por baixo. Ele arrancou uma folha impressa de dentro do casaco e a levantou para todos.
– Este é Derek Meyer , encarregado de sequestrar as vítimas e as convencerem de um futuro planejado como modelo. – Seu tom de voz aumentou de repente. – Este rosto é uma ameaça e está sendo procurado nesse momento. Quem o ver, peço que informe ao FBI ou a polícia local, eles entrarão em contato conosco. Mas enquanto isso, preciso que todas as famílias fiquem alertas ao comportamento de seus filhos e busquem saber sobre as suas viagens para o exterior, se conscientizem do perigo que seus filhos estão correndo ficando expostos.
– Senhor detetive – Uma repórter o chamou, trazendo sua atenção a ela –, disse que vocês estão trabalhando nesse caso por cerca de cinco anos, esse foi exatamente o período que o FBI se conscientizou dos sumiços repentinos de adolescentes. Acha que a máfia está trabalhando nisso muito antes de vocês descobrirem?
Dezenas de microfones apontaram em sua direção. Uma sensação bizarra chamuscou por ele, deixando-o sem fala por um breve momento.
– Provavelmente eles estavam esboçando todo plano na cabeça deles antes de colocá-lo em prática. Então minha teoria diz que antes desse período nenhuma pessoa foi vítima deles. – Esta não era, exatamente, a verdade, mas também não podia colocar seu serviço como um trabalho mal feito aos olhos deles. Não pagaria por erros cometidos por um grupo de detetives que falharam ao pegar o caso naquela época.
– O senhor disse que está trabalhando nisso a cinco anos-
– O FBI está, eu assumi o caso há pouco tempo. – Jungkook o corrigiu, vendo-o acenar a cabeça como um pedido de desculpa.
– O FBI está trabalhando nesse caso há bastante tempo, o senhor não acha que as primeiras vítimas já estão mortas? – Ela reformulou sua pergunta, sentindo o peso dela sobre Jungkook.
– Por que estariam?
– Com todo respeito, detetive, nós sabemos como funciona esse meio. Ou você faz o que eles mandam, ou é morta por se negar. Acredita mesmo que as primeiras vítimas suportaram por tanto tempo uma vida em cativeiro sendo forçadas a se prostituir por cinco anos?
Jungkook perdeu a fala momentaneamente. As palavras ficaram trancadas em sua garganta, ardente como agulhas e pontilhada como uma espada. Ele não queria se culpar pelo erro passado do FBI, mas naquele momento a sensação que prevaleceu foi a de culpa.
– Pode nos responder, senhor? Acha que as vítimas estão mortas? – A mulher sustentou a pergunta, ouvindo burburinho às suas costas.
– Eu... Eu não sei. – respondeu ele, alheio; uma seca nuvem de ar saindo de sua boca.
– Disse que não sabe? O que o FBI faz ultimamente que não nos dá as respostas que precisamos? Estão omitindo este caso há tempos, precisamos saber a situação que as vítimas se encontram.
Um músculo ao lado da boca de Jungkook se moveu ligeiramente. Ele abriu a boca para jogar as palavras, mas uma mão apertou em volta do seu braço.
– Ignore as perguntas – Seokjin sussurrou em seu ouvido. – Eles querem nos encurralar com questionamentos, basta ignorar todos eles.
– Não consigo. – Jungkook o encarou, ferindo-o com seu ódio.
– Então aprenda.
Sua mão o puxou para longe dos repórteres e, percebendo seus movimentos de escapatória, os mesmos se apressaram na direção deles como mariposas agoniadas.
– Detetives, ainda não terminamos. – Um jornalista falou, esticando o microfone na cara deles. – Vocês têm informações sobre as vítimas? Estão perto de encontrar a máfia? Já tem suspeitos?
Jungkook virou o rosto para longe do microfone, todas aquelas perguntas estavam aborrecendo-o. Havia um gosto amargo em sua boca e um pensamento conflituoso rodopiando em sua cabeça.
– Detetives, o que vocês vão dizer para essas famílias que não veem seus filhos há bastante tempo e ainda mantém a esperança no trabalho da sua equipe? – Uma repórter ruiva indagou, mostrando-se afiada.
Um segurança do prédio a barrou na metade do caminho, assim que os federais cruzaram em direção ao carro do outro lado.
– Não pode segui-los, senhora. – ele alertou-a.
– Estou fazendo o meu trabalho.
– E eu estou fazendo o meu. Por favor, se afaste. – Ela rangeu os dentes e abaixou o microfone, sentindo uma corrente de fúria inundá-la quando recuou alguns passos contra sua vontade.
No sentido avante, Jungkook retornou a olhar para o agrupamento de jornalistas, agora, movendo-se para longe com seus aparelhos, e lamentou-se por não ter ficado para esclarecer todas as dúvidas.
– Vai me agradecer por tirá-lo de lá, essas pessoas querem enfiar o dedo onde não são chamadas – disse Seokjin, a expressão em seu rosto muito equilibrada. – Falamos tudo o que tínhamos para falar. O resto deve-se manter privado.
Jungkook sabia que podia se sentir triunfante por expor Derek, mas ele não se sentiu. Nenhuma partícula de reação se passou em seu semblante porque ele reconhecia que estava faltando algo.
No momento em que Seokjin abriu a porta do carro, Jungkook se pronunciou mais alto que o barulho do vento.
– Podemos conversar, senhor? – perguntou ao seu chefe, surpreendendo tanto ele pela maneira formal de chamá-lo, quanto a si mesmo pela entonação medida.
Seokjin acenou com a cabeça e fechou a porta do motorista, aproximando-se dele para ouvi-lo. Os olhos negros dele eram sérios e com uma pitada de preocupação. Dando um suspiro seco, Jungkook tomou o controle das palavras antes de dizê-las.
– Quero que autorize a viagem de Kim Taehyung para o Canadá. – articulou decidido, projetando as palavras sob sua respiração. Seokjin passou a mão no cabelo e respirou fundo, parecendo discordar de sua solicitação. – Eu juro que essa será a única coisa que vou te pedir a partir de hoje. Preciso que deixe ele viajar sob a orientação do Departamento, a presença dele vai ajudar o Jimin na recuperação.
– E você acha mesmo que os pais desse garoto vão permitir que ele viaje para fora do país sabendo de tudo o que aconteceu com o amigo dele?
– Eu sei que é arriscado, mas confie em mim, ele vai aceitar se dissermos o motivo da viagem. – Olhando para baixo, Seokjin sacudiu a cabeça para os lados.
– Não posso fazer isso, Jungkook. Taehyung não confiaria em qualquer policial estando ciente do risco que corre ficando no Canadá.
– Yoongi pode ir buscá-lo, eles se conhecem – Jungkook insistiu, enxergando uma distraída e terrível linha se apertar na boca dele. – Deixe-o vir pelo Jimin. Ele só precisa estar com alguém de confiança, alguém que ele já conheça.
A expressão de Seokjin oscilou entre preocupação e aceitação. Por mais tolo que fosse trazer um garoto com características que a máfia preza para o centro da guerra, havia um lado benéfico e humano por trás da proposta. Jungkook estava pedindo por Jimin e encontrava-se disposto a enfrentar qualquer responsabilidade que colocasse Taehyung em risco apenas para vê-lo ao lado do amigo.
– Você sempre o colocando em primeiro lugar – falou o homem, sua voz suave como a neve. – Eu admiro sua preocupação pelo garoto, detetive, e a sua determinação em protegê-lo.
– Não respondeu minha pergunta.
– Está assim porque gosta dele – Ele deu um passo à frente, aproximando muito lentamente – ou porque tem medo de perder a única vítima fugitiva que corre risco de ser encontrada novamente? – Jungkook franziu as sobrancelhas enquanto o encarava. – Eu não o julgaria se sua resposta fosse a segunda opção, afinal, ele é o único que pode ter respostas e merece ser protegido por isso.
O detetive manteve-se quieto, uma comunicação silenciosa passando entre eles. Por um momento, Jungkook olhou para ele confuso, compreendendo aos poucos o seu insulto, e deu um passo para a frente, ficando cara a cara com o homem.
– Ter empatia te assusta, senhor? – Ele soou terrivelmente debochado. – Porque eu posso te garantir que o Jimin não é apenas um vestígio que foi encontrado para ser usado como uma prova desse caso.
– As emoções atrapalham nosso julgamento. – disse ele, usando as palavras como um preceito.
– É bom ouvi-lo dizer isso, senhor. – Um sorriso pequeno salientou seu rosto entorpecido de zombaria, mesmo que não houvesse um pingo de humor em sua ação. – Devia ter seguido seu conselho quando decidiu quebrar as regras ao colocar a Rose no Departamento.
Sentindo o gritante furor nos olhos alheios, Jungkook deslizou os pés para longe dele, deixando-o agudamente surpreso. No instante em que abriu a porta do SUV, virou-se para ele, falando diretamente para suas costas.
– Pense sobre a autorização, espero que desta vez tome uma decisão generosa ao invés de política. – esta foi sua deixa, antes de mergulhar no banco do motorista e fazer o motor roncar em partida.
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