⍟ thirty
Jimin arrumou o cinto de segurança e verificou se estava preso, depois olhou para além do para-brisa, vendo a imagem do detetive mais adiante com o telefone na orelha. Ele possuía uma expressão séria, como se tentasse convencer a pessoa do outro lado da linha do que falara.
Curioso, o menino se atentou na forma como a mão dele se movia sobre o próprio queixo, às vezes deslizando para o cabelo escuro e escorregando pelos fios da nuca. Ele estava de lado, com o aparelho cobrindo parcialmente seu rosto, impedindo que Jimin pudesse ao menos tentar ler seus lábios.
Ele estava a ponto de sorrir no momento que o viu apoiar os cotovelos por cima do teto do carro, deixando o corpo numa linha esbelta, mas sua parte racional o alertou quando os olhos de Jungkook encontraram os seus.
Subitamente, ele abaixou a cabeça, olhando para os seus pés balançando por cima do tapete de couro. Era tão estranho sentir aquele par de olhos escuros, tão cautelosos e, ao mesmo tempo, tão misteriosos o fitando. Suas bochechas esquentaram e ele se repreendeu mentalmente. O que Jungkook pensaria se o visse daquele jeito? Precisava dar um jeito em sua vergonha.
De repente ele ouviu a porta do carro abrir. O couro do banco do motorista estalou quando recebeu o corpo de Jungkook. Ele não teve coragem de encará-lo, mas podia sentir o peso do olhar dele em sua direção.
O detetive prendeu o cinto e segurou no volante, mas sem girar a chave na ignição. Jimin notou seu silêncio e olhou para ele. No mesmo instante, ele só quis abrir um buraco fundo e esconder sua cabeça dentro depois de descobrir que o silêncio dele se dava ao fato de estar com os olhos inteiramente conectados aos seus.
E mesmo depois de afrontá-lo, Jungkook não desviou de seus olhos.
– O detetive Yoongi não vai achar ruim? – Jimin cortou aquela minuciosa tensão.
– Ele não contestou, mas me pediu para tomar cuidado. – respondeu, sua voz tão suave como das outras vezes.
– Não quero causar problemas, senhor.
Jungkook já havia ligado o motor para dar partida e, após seu comentário, ele reorientou seus olhos ao garoto, meio oposto.
– Você não é um problema, Jimin. E não se preocupe, estará protegido comigo.
Os faróis acenderam e ele dirigiu para fora do estacionamento, percorreu por baixo do túnel até sair pela estradinha de cascalhos e estacionar diante do portão. Ele esperou Denny, o guarda noturno, se aproximar com uma espingarda nas mãos e debruçar contra a janela do carro.
– Estou saindo, mas vou deixar o detetive Yoongi responsável pelas minhas tarefas. Só abra o portão para quem ele permitir. – falou Jungkook, mostrando sua pose implacável.
O guarda acenou meio conformado, meio suspeitador.
– O prédio inteiro se apagou não faz muito tempo. O detetive sabe me dizer o motivo? – Denny perguntou.
– Problema no sistema. – respondeu. – Já cuidamos disso, mas amanhã vamos solicitar um eletricista para tratar desse incidente.
Jimin se encolheu no banco quando o olhar do guarda se dirigiu à ele de relance e muito bem analista.
– Algum problema, policial? – Jungkook quis saber, com seu fascinante tom arrastado. Após vê-lo negar, ele fez um gesto com a cabeça para o portão adiante, uma sobrancelha movendo-se decorosamente para cima, depois o guarda se afastou do carro para abri-lo.
O pesado portão rangeu para o lado e Jungkook acelerou o carro para fora do prédio. Ele girou o volante, fazendo as rodas patinarem na extensa faixa preta. Jimin derrubou as mãos em seu colo e começou a brincar com os dedos, ele estava um tanto tenso.
– Quando sairmos, é melhor colocar o capuz. – disse Jungkook, com os olhos na estrada.
Jimin sentiu uma presciência gelada espetar sua espinha e uma força maior o fez rodopiar os olhos à ele.
– Vamos sair do carro? O senhor acha seguro?
– Ninguém vai se aproximar de você enquanto estiver comigo. – Foi tudo o que disse, dando uma rápida conferida nele.
Aquela resposta foi, particularmente, perturbadora. Jimin não tinha dúvidas que estava protegido perto dele, contudo, ainda tinha a sensação de que estava sendo observado a todo momento e essa impressão fazia as batidas de seu coração ficarem erráticas.
E ao pensar sobre isso, ele acabou recapitulando o acontecimento recente de minutos atrás. Tinha passado por uma situação tão humilhante, foi antagonizado e ameaçado de morte por Rose, e agora ele estava dentro do carro com o detetive Jungkook, partindo para a cidade. Quanto mais refletia sobre isso, mais ele ficava convencido de que algo nele era... diferente.
Ele apenas não quis o deixar sozinho, sua decisão envolveu: levá-lo até a cidade para que pudesse fugir de todo episódio que acabou de acontecer e ponderar a respeito disso. Não queria fazê-lo abafar as palavras dela, mas sim superá-las.
– Senhor? – Jimin o chamou, ganhando um murmúrio como resposta. – Como conseguiu me encontrar?
Essa dúvida ainda estava permeando na cabeça dele, porque não fazia parte do plano a encurralar no estacionamento.
– Por sua causa. – assumiu, olhando de esguelha para o retrovisor externo. – Quando você descreveu que a Rose estava descalça e que não iria andar a pé pela estrada, eu supus que ela fugiria pelo estacionamento. Existe uma saída subterrânea, mas esta eu deixei trancada caso ela tentasse sair por lá.
Jimin ficou brevemente surpreso. Jungkook teve tão pouco tempo e conseguiu calcular todas as possíveis alternativas.
– E o detetive Yoongi, como ele soube?
– Precisei da ajuda dele. Quando ele me ligou, eu desci para uma sala particular com aparelhos de rastreamento. – Seus olhos caíram sobre o menino. – E, bom, eu tive que usar uma desculpa esfarrapada de que ele tinha encontrado algum vestígio de nosso caso no incêndio, apenas para fazê-la acreditar que eu fui resolver esse problema. E lá, nessa sala particular, eu consegui gravar a conversa de vocês dois.
– O senhor é muito inteligente. – declarou, sentindo suas bochechas esquentarem quando o canto da boca do detetive se elevou furtivamente.
– São técnicas. – Ele revelou, parando o carro diante do sinal vermelho. – A Rose teve acesso a todos os procedimentos do sistema de segurança. Ela sabe muita coisa, por isso é melhor deixá-la presa e depois transferi-la.
– Não acha que seja melhor transferi-la logo? – Ele tinha que assumir, estava apavorado. – Ela deve ter passado toda informação de segurança pra eles.
– Disso não há dúvidas, por isso vamos resolver esse problema amanhã quando o Seokjin estiver aqui.
– Seokjin?
– O diretor do FBI. – Jimin fechou mais o seu blusão e se espremeu contra o banco instintivamente. – Ele vai cuidar desse caso com a gente. Mas não precisa se preocupar, certamente, ele vai direcionar toda fúria à mim por ter desobedecido uma de suas normas.
– Isso devia me deixar mais tranquilo? – perguntou ele, arrancando um sorrisinho de Jungkook.
– Sou o tipo de cara que aprendeu a lidar com as quedas. Mesmo que ele me tire do caso hoje, eu vou encarar isso de outra forma.
– T-Tirar o senhor do caso? – Qualquer conclusão que ele estava prestes a tomar, nadou para longe quando o detetive se concentrou nele, sorrindo.
– São só ameaças. – Jimin sufocou uma respiração surpresa, ele não conseguia ver outro investigador trabalhando no caso.
Para ele, Jungkook tinha o perfil ideal.
Com as mãos apertadas em volta do volante, Jungkook guiou o SUV pelo cruzamento, mantendo seus olhos diretamente à frente. Ele entrou numa rua com árvores desfolhadas revestindo a calçada e então cruzou para dentro de um parque logo no final da via.
Jimin examinou as casas com as luzes da varanda acesas e, automaticamente, um sentimento de saudade cutucou seu peito. Ele sentia tanta falta do seu cantinho, de correr pelo jardim com Taehyung no outono para chacoalhar as folhas secas que sua mãe pedia para ele varrer no quintal. Ou no verão, quando eles tiravam um tempo para molhar o jardim e Taehyung o encharcava inteiro com a mangueira.
Eram momentos simples, mas que significavam o mundo para ele. No fundo, todas as pequenas coisas têm um grande impacto na vida de alguém.
Jungkook estacionou o carro na estrada lateral ao parque e desligou o motor. Ele olhou para Jimin, o vendo assistir as poucas pessoas andando por aquela área.
– Vamos sair? – Jungkook se ofereceu, recebendo os olhos dele.
– Não é perigoso?
O detetive negou.
– Escolhi este parque porque não tem câmeras por aqui. Eles não vão te ver se tiverem acesso ao monitoramento das câmeras da cidade. Confia em mim, está seguro.
Jimin forçou um sorriso, não queria parecer tão pessimista. Jungkook soltou o cinto e abriu a porta do carro; ele deu a volta pela parte traseira e Jimin conseguiu vê-lo se aproximando pelo espelho retrovisor. Sua mão agarrou a porta do carona e abriu o suficiente para o menino sair.
Ele colocou o capuz e abandonou o automóvel. Uma geada furiosa atingiu seu rosto e ele acabou se contraindo espontaneamente. Jungkook indicou um banco de madeira abaixo de uma árvore e eles caminharam naquela direção.
Era estranhamente bom andar ao ar livre sem o pano preto na cabeça ou uma presença ameaçadora. Parecia que ele estava sendo observado, como passou tanto tempo refém desse trauma, qualquer movimento sua cabeça dava um giro apavorado na direção do barulho.
Eles roubaram alguns olhares clandestinos logo que se acomodaram. Jimin observou as crianças brincando no balanço e outras correndo pelo meio do campo rindo com seus pais. Eram pessoas felizes, que tinham a diversão como sua única preocupação. Jimin só queria voltar a ser criança e ter a felicidade agarrada em sua mão de novo, mas, ultimamente, ela o tinha abandonado.
– Já esteve em um parque antes? – A voz suave de Jungkook o despertou. Jimin o encarou.
– Com o Taehyung. – Ele voltou a assistir as crianças comendo algodão doce em cima do balanço. – A gente passava horas conversando e rindo, ficávamos até tarde nos divertindo. Ele me contava tudo, nunca escondemos nada do outro. É engraçado porque antes de sermos amigos, nós éramos como rivais.
– Rivais?
– Sim. – Jimin olhou para ele de novo. – O Tae não gostava muito do meu jeito quando nos conhecemos, mas depois que ficamos íntimos ele passou a gostar de quem sou.
– Por que ele não gostava?
– Eu acho que sempre fui diferente de todas as pessoas que ele conhecera. O Taehyung é extrovertido, ele fala tudo na cara. Eu sou mais tímido e não sou muito de revidar as provocações.
– Então a vontade dele era que você revidasse todas as provocações? – perguntou o detetive, se recostando na madeira do banco.
– Ele não gostava do meu jeito calmo, tanto é que até hoje ele me defende de tudo. – Jungkook o fitava, minucioso, prestando atenção em cada palavra. – Eu lembro que no baile de primavera, o Taehyung e eu não tínhamos um par, então decidimos ir juntos. No meio da festa, a maioria dos alunos já estavam bêbados, então eles decidiram ir para o fundo da escola para se pegarem. O Taehyung meteu um soco na cara de um rapaz que tentou me levar junto e, até hoje, eu sou grato por ele ter feito isso.
Os olhos de Jungkook sorriram. Jimin era tão adorável, chegava a ser uma judiação toda maldade que fizeram à ele.
– Seu amigo ganhou meu respeito. – O menino não entendeu muito bem aquela afirmação, mas sorriu para ele.
– O senhor já conversou com ele?
– Uma única vez, digamos que ele ficou bastante afiado. – Os olhinhos de Jimin queimaram numa intensidade que Jungkook nunca avistara antes. Ele sentia-se vivo quando falava de seu amigo.
– Ele deu em cima do senhor? – O detetive riu, mas sua testa acabou se franzindo. – Desculpe, é que o Taehyung gosta de caras que usam ternos.
– De mim não, mas do Yoongi, sim. – O menino cobriu a boca com as duas mãozinhas e soltou uma risadinha fina. – Eu queria ter visto a cara do Yoongi quando eles ficaram na sala sozinhos.
– Eles ficaram sozinhos?
– Sim. – Jungkook quase riu da reação que ele teve. – Só que eu prefiro não me meter nisso.
– Tudo bem, tudo bem, eu prometo que não conto. – Ele acabou cruzando as pernas e apoiando o cotovelo em cima, deixando seu queixo sustentado na palma da mão. – Mas ainda me surpreende ele não ter flertado com o senhor. Sabe, o senhor é bonito e jovem.
Jungkook exalou, lentamente, sua mente ainda avaliando a confissão dele. Um sorriso pirata brilhou em seus olhos.
– Seu amigo parece ter um gosto mais peculiar do que você pensa.
Jimin deixou alguns minutos traiçoeiros se passarem em silêncio, pensativo. Jungkook tinha razão, talvez Taehyung tivesse mudado seu gosto e agora ele não o conhecesse mais. Mesmo não sendo dito com estas palavras, ele o interpretou desse jeito.
– Eu sinto falta dele. – disse de repente. Jungkook acenou, como se compreendesse seu sentimento. – Tudo o que eu mais queria era ouvir a voz dele de novo. – Sua voz ficou presa e foi morrendo aos poucos. Seus pensamentos correram ao desenho do rosto de Taehyung e uma sensação angustiante arranhou seu peito. – Senhor, eu posso te pedir uma coisa?
– Peça.
– Me deixa falar com ele?
Jungkook não mostrou objeção no primeiro momento, contudo a forma dura como seu queixo se moveu externou que aquela não era uma boa ideia, por isso Jimin continuou.
– Eu prometo que não vou ocupar seu tempo, só quero dizer a ele que estou bem, por favor.
Os dedos do detetive deslizaram pelo canto de sua boca e um suspiro lamentável escapou baixinho. Ele o encarou de canto, uma brisa refrescante trazendo um cheiro de grama molhada para suas narinas e bagunçando seus cabelos.
– Se eu pudesse fazer isso, eu faria. Mas, infelizmente, essa ordem não vem de mim. – respondeu suave, vendo o menino abaixar a cabeça momentaneamente. – Existem regras e uma delas é manter vocês em total segurança.
– Mas ele não vai contar pra ninguém. – insistiu.
– Não temos como saber. Essas ligações podem ser arriscadas, ele pode espalhar que você está vivo e com os federais. Se essa notícia se espalhar, os familiares de outras vítimas vão exigir que encontremos os filhos deles também, entende? – Jungkook era tão sereno. Ele conseguia explicar toda situação sem se alterar com a insistência do menino, e este admirou essa postura.
– Nem para dizer um oi? – continuou persistindo. Os olhos de Jungkook o escanearam e sua mão coçou o queixo. Jimin lamentou-se, conformado com o esclarecimento dele, mesmo que no fundo só desejasse ouvir aquela voz novamente. – Pensei que não fosse um problema.
– Para mim não é. – assumiu. – Mas eu devo seguir as normas e garantir sua segurança.
Jimin gesticulou as mãos para o parque e fez uma carinha sapeca.
– Estamos no meio de um parque, à vista de muitas pessoas. Isso não parece muito seguro.
Jungkook subiu um pouco a camisa e a ponta da arma se revelou. – Isso parece?
Sua pele parecia tão macia que Jimin estava tendo dificuldade em desviar o olhar. A arma naquele momento não tinha importância, até ele cobri-la com a blusa novamente e fazê-lo suspender os olhos tão ligeiro que uma nuvem de tontura se manifestou.
– E-Eu me sinto mais seguro agora. – A boca de Jungkook tinha uma sugestão de sorriso.
– Está afim de comer pipoca? – O detetive perguntou, arrancando a carteira do bolso.
– Não precisa gastar dinheiro comigo, senhor.
As sobrancelhas do maior se dobraram e um olhar divertido cortou seus olhos.
– Eu estou com fome, você não? – Ele o viu balançar a cabeça suavemente.
Por algum motivo confuso, Jimin sentiu aqueles olhos negros como a meia noite aquecerem sua pele.
De repente Jungkook deixou o banco e fez um gesto com o queixo, chamando-o para seguir até a barraca de pipoca. Jimin sentiu as lufadas gélidas cair através de seu corpo e as folhas chiarem quando pisoteadas por seu tênis.
Eles caminharam até o trailer, no qual tinha um moço atendendo três crianças. Os garotos correram pela grama depois de cada um receber seu algodão doce. Jimin ajeitou o capuz na cabeça após reparar que estava se aproximando do trailer.
– Boa noite, o que desejam? – Ele perguntou gentilmente, com um sorriso enorme no rosto, trocando o olhar entre os dois.
– Você quer pipoca ou prefere outra coisa? – Jungkook sussurrou a pergunta e seus olhares se toparam.
– Aceito qualquer coisa.
– Duas pipocas, por favor. – falou Jungkook diretamente para o moço, enquanto colhia uma nota da carteira. – Você toma refrigerante?
– Só suco. – O rosto do maior se contorceu, querendo saber se ele aceitava o suco também. – Mas posso ficar só com a pipoca.
– O que mais você vende? – O detetive perguntou ao rapaz. Este tinha um sorriso maior nos lábios.
– Tortas de maçã, algodão doce, sanduíches, salgados, batatas fritas... – Jungkook voltou-se ao menino, perguntando-o se alguma daquelas opções o agradava.
– Só a pipoca mesmo.
Após sua confirmação, o rapaz se mexeu para pegar os pedidos logo depois de receber um aceno de cabeça de Jungkook. Ele voltou no mesmo momento com dois sacos pequenos em cada mão, entregando-os na mão dos dois.
Talvez fosse impressão, mas o menino sentiu o olhar dele demorar mais do que o bastante em sua expressão, sua cara era um misto de confusão e atração, como se tentasse se esforçar para reconhecê-lo.
– Desculpem a minha pergunta, mas vocês são namorados? – O moço quis saber, fazendo Jimin se engasgar com a pipoca.
Jungkook estava prestes a entregar-lhe o dinheiro quando ouviu sua dúvida, fazendo-o parar na metade do caminho, a expressão intrincada medidamente recatada se acentuando em suas feições.
– Não, não somos. – Ele replicou, a voz tão medida e direta, enquanto lançava-lhe um olhar quase desaprovador.
– Me perdoem, é que geralmente muitos casais gays vêm aqui neste parque. Eu já recebi vários no meu trailer, então pensei que vocês... também... pudessem...
A fala dele foi morrendo aos poucos diante do olhar duro que Jungkook disparava em sua direção.
– Fique com o troco. – disse ele, largando o dinheiro por cima da bancada.
Sua voz tinha assumido um tom mais sério, um tom que Jimin jamais tinha ouvido, porém seu semblante permanecia, irreversívelmente, calmo.
Eles voltaram para o banco num completo silêncio.
Os postes de luz queimavam uma cor lívida contra as calçadas vazias. Jimin esfregou as pernas, depois se apertou dentro do moletom, sentindo seu estômago rejeitar a pipoca. Aquela sensação gelada subiu novamente por sua espinha e ele quis se afundar ainda mais dentro do capuz.
Jungkook estava calado, extremamente calado. Ele comia sua pipoca quieto enquanto arremessava olhares clandestinos ao redor. Jimin começou a cutucar a sua coxa com os dedinhos, visivelmente nervoso. Por que a tensão tinha mudado de repente? Ele não queria acreditar que era por conta da pergunta.
– O senhor se ofendeu? – O menino perguntou, recebendo um olhar embaraçado.
– Com o quê?
– Com a pergunta. – ele tremeu. – Se ofendeu por ele achar que somos... você sabe.
– Namorados? – Suspendeu uma única sobrancelha e o viu acenar relutantemente. – Não gostei de vê-lo se meter nas nossas vidas.
– É o que as pessoas fazem.
– É o que elas não deveriam fazer. – corrigiu, com a voz leve, embora julgasse o assunto indelicado.
Aliviado, Jimin suspirou e enfiou mais uma pipoca na boca, sorrindo para baixo.
– O senhor investiga a vida das pessoas quando pega um caso. – Ele provocou, levantando a cabeça e se deparando com os olhos dele estreitados. – Eu sei que são coisas diferentes, mas...
– Acha que o que eu faço é me meter na vida das pessoas? – Sua pergunta estava longe de ser um aborrecimento.
– Eu não quis dizer isso... – respondeu não tentando acusá-lo, muito menos desqualificar seu trabalho. – É que existem muitos federais que invadem aparelhos celulares. Isso tem um lado curioso.
Jungkook coçou o queixo e acenou a cabeça, considerando aquela resposta.
– Quais são as minhas intenções? – ele perguntou subitamente.
– Ajudar. – O garoto respondeu baixinho.
– E quais foram as intenções daquele moço?
Jimin quase travou.
– Curiosidade? – Jungkook inclinou o canto da boca e um lento sorriso se arrastou.
– Está aí a diferença, o que pesa mais é a sua intenção. Eu posso fazer uma ação ruim com uma intenção boa, ou uma ação boa com uma intenção ruim.
Por razões que Jimin não conseguia explicar, ele sentiu-se melhor por refletir sobre seu pensamento sem parecer errado diante do posicionamento do detetive. Ele tinha sido ouvido sem ser acusado por ter um ponto de vista incorreto.
– Obrigado. – O menino agradeceu imprevistamente e Jungkook se mostrou confuso diante de sua gratidão. – Eu sinto que não fiz direito quando te agradeci por ter me salvado, então estou falando de novo. – Ele explorou o horizonte, depois abaixou a cabeça. – Não só por aquele dia, mas por hoje também. – Seus olhos o encontraram. – Obrigado por me trazer aqui.
– Estou aqui sempre que precisar. – Jimin sorriu fracamente e tirou alguns fios do rosto quando o vento os jogou em seus olhos.
– O senhor disse uma vez que eu podia me abrir quando quisesse, – Sua voz tinha amortecido um pouco e Jungkook percebeu que algo estava incomodando-o. – Eu quero falar agora.
Ele fez um pequeno gesto com a cabeça, incentivando-o, e dobrou seu corpo de frente à ele, mostrando-lhe que estava pronto para escutá-lo. Jimin mexeu na pipoca, sentindo o sal grudar na ponta dos dedos, e raspou as solas do tênis por cima da grama, catando toda sua coragem para suprir o receio.
– Eu acredito que o senhor deve ter ouvido tudo o que aquela mulher disse sobre mim. Por partes, o que ela falou é verdade, eu sou alguém descartável na vida de qualquer pessoa, até da minha própria mãe, tanto que ela nem fez questão de denunciar o responsável. – ele tentava ser duro nas palavras, mas o sentimento amargava sua boca. – Mas eu queria saber do senhor se eu tenho alguma porcentagem de ser o causador de tudo isso. Eu não quero pensar que tudo o que passei com a Hannah foi minha culpa.
– Não há probabilidade nenhuma de você ser o culpado. – sua resposta devia aliviá-lo, mas ao invés disso, seu coração se espremeu com força.
– E se eu for?
– Jimin, isso é praticamente impossível.
– Mas se eu for? Como o senhor pode descobrir isso? – ele questionou, um tanto mais nervoso.
Jungkook acariciou o lábio superior com o dedo e fez uma breve reflexão, montando uma resposta coerente à sua pergunta.
– Para que tenha ligação com isso, você teria que ser parente de um inimigo deles. Isso causaria uma disputa de poderes e você seria o escolhido justamente por ser importante.
– Em que parte eu sou importante? – Jimin franziu a testa.
– Quando não se pode atingir o verdadeiro inimigo, eles pegam a pessoa que é importante para ele, no caso você.
– Meu pai pode ter ligação com isso?
– Eu não conheço o seu relacionamento com seu pai, algumas informações estão por alto. Não me aprofundei nessa parte da sua história ainda. – Jimin engoliu em seco e soltou um suspiro inaudível.
– Meu pai nunca teve problemas com ninguém.
– Quantos anos você tinha quando o viu pela última vez?
– Doze.
– Cinco anos se passaram desde seu último contato físico com ele. Nesse período, as coisas podem ter mudado ou não, não se pode saber. Todas as alternativas são válidas até que se prove o contrário. Seu pai pode ser chamado para dar uma entrevista conosco, se for preciso.
Jimin passou a mão pelo rosto. Ele não queria pensar nessa hipótese, seu pai sempre fora um homem bom, mesmo depois da separação de sua mãe. Visitava-o quatro vezes na semana, ligava sempre que podia e, mesmo após sua viagem para a Grécia, ele continuou enviando-lhe presentes.
De todas as coisas, se reencontrar com seu pai depois de ser sequestrado era o que ele não desejava no momento. Provavelmente sua mãe não o contou sobre seu desaparecimento e usou qualquer justificativa esfarrapada sobre Jimin não atender suas ligações. Ele não queria que seu pai lhe olhasse com pena ou desprezo.
– Não se importa se falarmos do seu pai, se importa? – o corpo todo de Jimin se retiniu e ele acabou levando um momento para pensar na resposta.
Não se importava de se abrir sobre sua relação paterna, entretanto, as coisas estavam o surpreendendo ultimamente, e naquele momento ele sentiu medo de Jungkook tomar conclusões que não o agradasse tanto, conclusões estas que poderiam conjurar uma outra imagem do pai que conheceu.
– Jimin, eu não quero meter a mão no seu relatório, então se tiver algo que eu deva saber, prefiro ouvir de você. – O menino acenou ligeiramente.
Algo vibrou no bolso de Jungkook, no terceiro toque ele arrancou o celular do casaco. Era uma mensagem. Ele leu e vincos se desenharam em sua testa, fazendo-o colocar o aparelho de volta no sobretudo. Sua expressão não era mais a mesma, havia sinais de preocupação que o deixaram com os músculos das bochechas inquietos.
Seus olhos focaram em Jimin singularmente, fazendo-o com que ele se sentisse transparente. A direção de seu olhar era à ele, mas seu pensamento parecia distante, até mesmo para entender qualquer palavra.
– Está tudo bem, senhor?
Jungkook sorriu, mas os cantos estavam mais apertados.
– Sim, está tudo ótimo. Podemos continuar? – Seus olhos encontravam-se em cada centímetro de Jimin e eles o diziam que estava mentindo.
Ele queria desesperadamente que o detetive o desse alguma pista de seus pensamentos, mas seus olhos eram escuros e densos, as emoções estavam trancadas longe da superfície.
– O senhor não parece bem. – assumiu, vendo-o soltar um sopro sobrecarregado.
Ele não conseguia mentir. Não para ele.
– Infelizmente temos que voltar. – Seu tom era tão baixo que Jimin estremeceu. – Yoongi me enviou uma mensagem. Seokjin está no prédio e quer me ver.
O menino sentiu seu coração dar uma batida nervosa. Ele não o conhecia, mas seu nome içava todos os pelos da sua nuca. Então ele acabou respirando um pouco, acenando a cabeça numa confirmação relutante.
Uma pequena garoa começou a pingar sobre a grama do parque. Jimin pestanejou algumas vezes quando as gotas atingiram seu rosto. Ele olhou para o céu, estava alaranjado e os riscos da chuva cortavam as nuvens. As crianças correram com seus pais para se protegerem dentro de uma lanchonete que ficava do outro lado, próxima a um beco.
Jungkook indicou o carro com o queixo e eles andaram naquela direção, tentando se proteger do chuvisco. Atento, o detetive olhava para os lados com a intenção de se certificar que não havia ninguém os espionando.
Jimin sentia-o se movendo ao seu lado, perturbadoramente próximo, mas sem tocá-lo. Jungkook apertou o controle em suas mãos e os faróis piscaram, ele abriu a porta do motorista e esperou Jimin se acomodar no carona.
Ele retirou os respingos que ficaram em seu casaco e ligou o aquecedor. Por uma fração de segundos, ele se olhou pelo espelho retrovisor, amassou os lábios e ligou o carro. O motor roncou dando partida.
Um momento de silêncio rígido caiu entre eles. Jimin tirou o capuz da cabeça e olhou para além da janela. Ele sentia que havia algo estranhamente incômodo em sua mente ao ponto de deixá-lo quase irritado.
Ele pensou que podia ser sobre seu pai, a preocupação sobre o destino de Rose após sua prisão; saudade constante de Taehyung; incerteza do que aconteceu com Hannah, mas tudo isso parecia estar numa distância gritante do verdadeiro motivo.
Ele ficou irritado com a mensagem.
Jungkook procurou os olhos dele quando olhou para o lado, mas tudo o que encontrou foi a sombra de seu perfil virado para o lado de fora. Ele pensou em chamá-lo, entretanto, a julgar sua expressão tão reflexiva, o detetive voltou-se à estrada.
Na metade do caminho a chuva incitou as gotas a agirem mais violentas. Jungkook apertou o botão dos limpadores e acelerou o carro. O barulho do temporal martelava o capô do carro e as poças de água se formavam no meio da estrada.
O carro atravessou o enorme portão quando parou diante do prédio e avançou direto para o estacionamento, ele estagnou numa vaga vazia e arrancou o cinto, mas sem deixar o veículo.
– Eu posso ficar no carro? – Jimin quis saber, encarando a expressão embaraçada que formou nas feições do outro.
– Por que quer ficar no carro?
– Não sei se é uma boa ideia dar de cara com seu chefe. – ele balançou os dedos no colo, nervoso. – Acho que é melhor vocês conversarem primeiro.
– Eu estou com você, não precisa ter medo. Além do mais, Seokjin não tem uma cara tão feia assim. – O menino quase riu, mas ele conteve a vontade mordendo o lábio inferior. – Vamos?
Eles abandonaram o carro e avançaram pelo elevador. No décimo andar, a porta metálica retiniu, parando, e eles saíram no corredor. Jimin tinha segurado a respiração, mas a soltou quando sentiu o ambiente totalmente vazio.
Jungkook adiantou na frente e abriu a porta, aguardando-o que entrasse primeiro. Parcialmente vacilante, o garoto adentrou em passos fracos, não indo muito longe quando já estava anexo à sala de estar.
Ele espreitou em volta. O fogo dentro da lareira estalava num som frequente, e virado para as chamas, um corpo comprido encontrava-se em pé, as mãos enterradas s nos bolsos da calça enquanto olhava o crepitar da brasa.
Suas costas eram largas, seu cabelo preto e sua coluna muito bem alongada. Os olhos do homem viraram para eles quando a porta atrás de si foi fechada. Ele cortou entre Jungkook e Jimin, analisando-os numa breve troca de olhar. O menino estremeceu.
– Vai ficar aqui? – Jungkook perguntou baixinho para ele.
No momento em que Jimin abriu a boca para responder, o calor de outro corpo se aproximou dos dois, disciplinadamente e calmo.
– Boa noite, Jimin. – O homem cumprimentou, esticando a mão. – Sou Kim Seokjin, diretor executivo do FBI. – O menino fitou sua mão e segurou-na. – Estou muito feliz por tê-lo sob nossa proteção agora. Garanto que ficará totalmente seguro conosco.
– Agradeça ao detetive Jungkook. Foi ele quem me salvou. – Seokjin encarou o detetive, havia uma característica enevoada em seu olhar, então sorriu duramente.
– Farei isso com muito prazer. – ele recolheu sua mão e a pousou no ombro do federal. – Mas eu tenho algumas pequenas coisas para debater com o detetive agora. Se importa de eu roubá-lo por um momento?
Jimin deslocou seu olhar à Jungkook e percebeu pela sua expressão que ele reprovava aquela mão tocando seu ombro. Ele acabou experimentando um instante de dúvida, perguntando-lhe silenciosamente se devia livrá-lo dessa reunião com o chefe ou deixá-lo à frente do que ele pretendia falar.
Entretanto, o canto esquerdo da boca de Jungkook se contorceu para o lado discretamente e sua cabeça fez um curto aceno, dizendo-lhe por aquele gesto que ele tinha tudo sob controle.
– Não. – Finalmente respondeu, fazendo Seokjin sorrir em aprovação.
Seu coração bateu numa cadência mais rápida quando, novamente, seu olhar esbarrou em Jungkook. Os olhos pretos dele encontraram os seus e foram se afunilando a uma emoção mais protetora e prudente. Jimin sentiu seu corpo derreter subitamente.
– Pode me acompanhar, detetive? – Seokjin perguntou, apontando para a saída.
Ele fez que sim com a cabeça e andou logo atrás de Seokjin, fechando a porta quando já estava fora. Jimin suspirou pesadamente e quase se assustou quando avistou Yoongi parado na entrada da cozinha com uma xícara entre os lábios.
– Quer chocolate? – Ofereceu, mostrando a xícara em mãos. O menino sorriu sem exibir os dentes e acenou.
Do lado externo, Seokjin entrou numa sala com a parede da frente formada por vidros e uma mesa de escritório acomodada na dianteira. Jungkook fechou a porta após introduzir-se e fuzilou as costas dele.
O diretor estava de costas, com as mãos firmadas em seu quadril, parecendo pensativo. Ele havia desatado os botões do terno e deixado-o inteiramente aberto. Seu rosto se curvou a Jungkook, culto, e observou-o estático perto da porta, com os braços centralizados à frente do corpo, plenamente pautado e com o semblante inalterável.
– O que achou que estava fazendo quando desobedeceu às minhas ordens? – ele perguntou, virando-se de frente para o detetive e cruzando os braços contra o tórax.
– Em que parte eu o desobedeci?
– Você foi para o leilão!
– Você disse para eu não entrar, não disse nada sobre ir até o local. – Seokjin deixou um sopro fugir de seus lábios e riu, sem ânimo.
– Isso interfere na investigação de qualquer forma.
– Se eu tivesse obedecido suas ordens, não teria encontrado o garoto. – rebateu, mas sem alterar seu tom de voz. – Eles o teriam matado se eu não estivesse por perto.
– É, Yoongi me contou tudo. – Sentou-se na beirada da mesa e olhou para o outro. Não era difícil notar que seus olhos soltavam faíscas de fúria, contudo ele as controlava bem. – Mas você foi sem reforço, se eles tivessem te visto seria um caos para o nosso caso. Você arriscou tanto sua vida quanto a do Yoongi, julgando por seus instintos.
– E veja só, meus instintos estavam certos. – Um sorriso debochado ameaçou brincar em seus lábios, só que ele se fabricou apenas em sua mente.
– Eu devia te suspender do caso nesse momento. – Sua fala ficou mais inflexível. – Colocou o caso em risco e ainda levou o garoto para a rua, expondo a imagem dele.
– Jimin estava comigo. Ele passou por muita coisa, no mínimo devia sentir o que é liberdade de novo.
– E acreditava que o levando a um parque seria seguro? – Houve um suspiro de decepção por parte de Seokjin, ele definitivamente o irritou. – Você conseguiu resgatar uma das vítimas e prendeu uma infiltrada. Então devo agradecê-lo por isso, apesar de estar muito irritado com sua falta de profissionalismo.
– Falta de profissionalismo? – Jungkook perguntou, umedecendo os lábios e dando um passo à frente. – Quem colocou uma mulher qualquer para entrar no departamento e atuar em um caso importante e extremamente cauteloso? Você deixou Rose entrar sem preparo nenhum, sem treinamento adequado para realizar essas tarefas. A minha intuição sobre o leilão estava certa, enquanto a sua sobre a Rose...
– Está querendo jogar as cartas na mesa, detetive Jeon? – perguntou, não se afetando pela acusação. – O que você sabe sobre nossa antiga relação?
– Você a conheceu numa boate. Pagou para transar com ela.
– Foi isso que ela te contou? – Seokjin riu e sentou na cadeira giratória, cruzando os dedos abaixo do queixo. – Já paguei por sexo, mas não foi com a Rose. Nos conhecemos em um bar, paguei um drink para ela e fui convidado para ir até seu apartamento. Nós comemos sushi e fizemos sexo.
– Poupe-me dos detalhes.
– Escute, você precisa saber como foi nossa relação naquela época e o que me fez deixá-la entrar no FBI. – Gesticulou o dedo para que o detetive se aproximasse mais, entretanto ele não se atreveu a se mover. – A Rose se mostrou uma mulher inteligente, ela sabia até usar uma arma. Quando eu fui até seu apartamento, encontrei pilhas de livros sobre investigação criminal, coisas que nós como investigadores utilizamos. Perguntei a ela se gostava da profissão e ela me respondeu com um sim. Minha identidade era secreta, eu não podia revelar que era um federal, mas naquele momento eu me abri e contei onde trabalhava. Um certo dia a Rose me pediu para ensiná-la todas as táticas, e eu a ensinei.
– E nunca passou pela sua cabeça que ela podia estar te usando?
– Talvez sim, mas naquele tempo não havia relatos de desaparecimento ainda. A máfia trabalhava em silêncio, eram só eles e eles, o FBI estava surdo quanto às denúncias. – Ele pausou, esfregando a testa, como se a próxima coisa a ser dita fosse dolorosamente perturbadora. – Eu a deixei entrar no departamento quando as denúncias começaram a explodir. Não tínhamos detetives disponíveis para cuidar do caso, e ela era uma jovem inteligente, conhecia muitas estratégias. Fiz algumas assinaturas, mostrando que ela tinha passado por todos os treinamentos.
– Falsificou?
– Falsifiquei. – confirmou. – Mas por causa dela conseguimos muitas informações sobre eles.
– Vocês descobriram coisas que eles queriam que descobrissem. – Jungkook assumiu. – Os desgraçados queriam atenção e conseguiram isso de mão beijada.
– Estou percebendo isso agora, detetive. Yoongi me contou tudo, desde o momento que você resgatou o Jimin até seu plano genial para pegar a Rose. Estou ciente que vou sofrer as consequências por violar as regras. É só questão de tempo até descobrirem tudo e me afastarem do cargo. – Jungkook sentiu a influência oculta e sombria no tom dele. – Mas enquanto isso não acontece, quero agir o mais rápido possível e colocar todos esses desgraçados na cadeia. Começando pela Rose.
– Amanhã eu farei uma hora de interrogação com ela.
– Se não se importa, – Seokjin se ergueu da cadeira e arrumou os botões do terno. – eu gostaria de interrogá-la primeiro. Tem muitas coisas que precisam ser ditas cara a cara.
Ele olhou para Jungkook com propósito e esperou sua resposta. A expressão que estava em seu rosto não aparentava que ele estava aberta a opiniões contrárias; Então, mesmo que o detetive fosse contra, a posição do seu chefe teria um vigor maior.
– Tudo bem, contanto que eu ainda faça algumas perguntas.
– Primeiro cuide do menino, ele parece confortável em sua presença. – Jungkook o encarou significativamente, injetando um pouco de sobriedade no rosto.
– Então essa é sua deixa? Eu cuido do Jimin e você da Rose? – Sua boca se comprimiu, escusa. – Isso me soa um pouco suspeito.
– O que você quer?
– Vou estar na sala quando você entrevistá-la. Nada de segredos entre nós. – falou, sendo avaliado em silêncio.
Duas batidas na porta interromperam a conversa deles, depois a cabeça de Yoongi se enfiou entre ela.
– Desculpa atrapalhar a conversa de vocês, mas acabamos de receber uma mensagem anônima. É um vídeo.
Houve uma confusão fraca na expressão de Jungkook. Um franzir de testa de descrença misturado com surpresa. Uma respiração aborrecida soou atrás do detetive, logo depois o diretor deslizou à saída.
Jungkook inspirou rápido e distintamente, seguindo os passos dele no mesmo instante. A porta de uma sala encontrava-se entreaberta, foi por lá que Seokjin atravessou. Yoongi disparou um olhar de esguelha para o detetive e fechou a porta quando foi o último a cruzá-la.
A sala era escura, um telão enorme ficava mais adiante, revelando a imagem de uma menina de cabeça baixa com os cabelos ruivos caindo sobre os olhos. Havia uma vasta mesa no centro com cadeiras alinhadas umas de frente às outras. Jungkook parou ao lado de uma cadeira e levantou seus olhos ao telão.
Yoongi apertou reproduzir, e o vídeo começou a rolar. Alguns riscos brotaram no início, como se fosse feito décadas atrás, e naquele instante, no tempo em que o rosto dela se alçou à câmera, a fisionomia de Jungkook endureceu e seus olhos se tornaram frios. Era Hannah.
Seus olhos verdes abriram de supetão, sua boca tremia para dizer as palavras, mas nenhum som era audível além dos seus suspiros.
– Oi, meu nome é Hannah. – ela falou, balbuciando em meio às palavras. – Quem quer que esteja me vendo agora, saiba que recentemente eu fui sequestrada e estou presa. Este vídeo está sendo feito para uma única pessoa. – Apertou a boca em defesa do choro. – Você, Jimin.
Houve um momento de silêncio. A cada segundo ela olhava para cima da câmera, como se estivesse focando diretamente no rosto de quem a obrigou dizer aquilo.
– Dois dias. – A garota continuou, hesitando em dizer as palavras seguintes. – Eles me deram dois dias para que o Jimin esteja aqui de novo. Caso contrário, eu serei morta. Decapitada. – a sombra cobria seus olhos, mas Jungkook conseguiu ver as lágrimas brilhando sob a fraca luz e escorrendo por suas bochechas. Uma pontada pesada tocou seu coração. – Por favor, Jimin, se estiver me vendo agora, volte para mim. – A voz dela ficou mais angustiada. – Eu sei que deve estar com os policiais agora, mas pense em mim, pense no que passamos juntos. Sempre lidamos com as coisas do nosso jeito, por favor, não me abandone. Não quero que sofra me vendo morrer.
Ela abaixou a cabeça, chorando compulsivamente. Seus soluços eram furiosos e dava para ver os ferimentos recentes marcando algumas partes dos ombros. Jungkook esfregou os dedos na boca, comovente, depois subiu pelo cabelo, os segurando quando alcançou a nuca.
Um corpo usando roupas pretas apareceu no vídeo, o detetive se concentrou em cada movimento do sujeito. O homem ficou atrás dela, na imagem mostrava apenas seu tronco com um sobretudo de couro, ele acabou envolvendo uma mão enluvada no pescoço dela e levantou-o com força, fazendo-a torcer a cabeça para trás.
Com a outra mão, o sujeito fez um sinal com o polegar e desenhou uma invisível linha reta em seu pescoço, simulando uma faca. Então o vídeo terminou.
Jungkook levou um tempo para se reorientar, ele estava tão surpreso quanto os outros dois na sala. Uma pausa perplexa rondava o ambiente, as mentes embaralhadas, não sabendo por qual parte começar um diálogo a respeito do que viram.
Houve uns minutos de silêncio até o telefone, sobre a mesa, tocar.
Eles se entreolharam de relance, buscando respostas para o aparelho tocar justamente após o encerramento do vídeo, mas a emoção que estava em seus rostos era forasteira e perdida.
Jungkook foi o único a se mover na direção do telefone, deixando-o no viva-voz quando empurrou o botão para baixo, finalmente atendendo-o na quarta chamada.
– Gostou da surpresa, detetive? – Uma voz robótica perguntou, havia escárnio derramando em suas palavras.
Jungkook colocou as mãos sobre a mesa, próximas do telefone, e olhou para os outros dois, percebendo seus olhares transmitirem uma surpresa ácida.
– Pensei que fosse homem suficiente para mostrar a cara. – rebateu, fazendo um sinal para Yoongi.
Entendendo seu gesto, o policial derrapou os pés até o notebook e mexeu nas teclas, buscando rastrear de onde vinha a ligação.
– Ainda não é o momento. – soltou uma curta risada, soando como cubos de gelo tilintando dentro de um copo. – A menina tem dois dias de vida. Traga o Jimin a mim e ela vive..
– Não é confiável negociar com um bandido. – provocou, correndo seu olhar urgentemente a Yoongi. "Está procurando" foi o que saiu dos lábios dele.
– Você não tem muitas opções, detetive. – A voz suspirou do outro lado, quase como um riso. – Suponho que o país ficaria chocado recebendo um vídeo de uma das vítimas do seu caso sendo cortada em pedacinhos. As pessoas vão ficar revoltadas com a incompetência dos federais. Esse é seu trabalho e nem isso você sabe fazer direito. Inúteis que se diz, não é?
Jungkook rasgou as unhas pelo vidro e as deixou em punhos, seus dedos possuíram uma cor pálida de tanto que ele os apertou. Yoongi torceu o dedo, pedindo num movimento silencioso para que sustentasse a conversa.
– O que ganho em troca? – A pessoa do outro lado deu um sorriso.
– Você não está em condição de ganhar nada. A intenção é que eu vença, usando a vida inútil da garota como moeda de troca.
– Me dê o nome do lugar. – pediu, ele soava como se não contasse com isso.
– Vou ligar novamente e passar as instruções. Enquanto isso, se divirta com o vídeo, detetive.
Dito isso, a ligação foi encerrada.
Jungkook esfregou o canto dos olhos e deslocou o olhar à Yoongi, procurando um bom retorno em seu rosto, mas as linhas encurtadas de sua boca indicavam um resultado infausto.
– Estávamos quase lá. Não foi possível rastrear nesse tempo. – Yoongi falou, aborrecido. – O que vamos fazer agora?
Roçando as mãos pelo cabelo, Jungkook inspirou um longo fôlego. Seus olhos pretos agora eram um borrão aguçado.
– Eu não sei.
E pela primeira vez ele não sabia. A ameaça estava martelando dentro de sua cabeça, alertando-o que nesse momento o tempo era seu único inimigo.
✮✮✮
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top