⍟ ten

Com os olhos atentos em um ponto fixo no chão, Jimin abraçou os próprios joelhos e apoiou as costas na lateral da cama. O frio da noite anterior se fez presente em suas memórias, o fazendo tremer de aversão ao se lembrar dos gritos agudos das meninas ao serem coagidas.

Neste momento, a luz solar estava atravessando a cortina de seda da janela do quarto, o que indicava que o dia já havia amanhecido minutos atrás. Jimin despertou quando ouviu a porta do banheiro ser aberta.

Derek apareceu usando apenas uma calça jeans escura. Ao receber o peso de seu olhar selvagem, o garoto encolheu-se ainda mais e colocou a cabeça entre os joelhos. Ele queria evitar encarar Derek naquela manhã, ainda mais depois do que ele fez na noite passada.

Seus olhos vermelhos diziam o quanto havia chorado no dia anterior, deixando suas olheiras ainda mais evidentes à luz do dia. Os seus fios rosados estavam desorganizados e ele também usava um moletom comprido para se proteger do frio.

Jimin ouviu algumas pegadas lentas se aproximar aos poucos, mas ele evitou olhar na direção delas. Ele sentiu o cheiro de sabonete e pele molhada quando Derek se pôs de pé na sua frente.

— Vai continuar chorando pelo que viu? — Derek perguntou com desdém. — Você é tão frágil quanto parece.

Jimin percebeu o deboche por trás de suas palavras. Diante de seu silêncio, Derek arrastou os pés para perto do espelho, onde parou diante de seu reflexo e começou a pentear os cabelos.

— Precisamos ser perversos para conseguir alguma coisa nesse meio. — o homem continuou, havia um sorriso astuto pairando no canto de sua boca. — Não quero que tenha pena de ninguém. Você é meu e isso é um privilégio.

Ele virou de frente para o menino, que ergueu um olhar inquietante para o seu. Suas pupilas fulminantes indicavam o quão raivoso Jimin estava por ouvir aquilo.

— Você pode ter o que quiser, Park, até porque eu posso te levar para qualquer lugar. Não é isso que você queria?

Depois de longos segundos o encarando, Jimin abaixou a cabeça, apoiando-a sobre os seus joelhos novamente. Ele não pretendia retrucar nem sequer gastar sua saliva. Estava exausto para variar.

Assistir ao episódio anterior foi basicamente como um empurrão para Jimin afundar em pensamentos aflitivos. Cada cena, toque e palavra estavam armazenadas em sua memória como uma tentativa falha de preservar a noite aterrorizante que havia passado. Não queria se lembrar do que aconteceu, mas toda vez que suspirava no silêncio, isso o fazia reviver tudo novamente.

— Levante-se. — ordenou Derek.

Jimin levantou a cabeça ligeiramente e inspirou fundo antes de soltar o ar pela boca. Apesar de desejar negar aquele convite, ele se empurrou para cima e se pôs de pé. Derek esticou sua mão e o conduziu até o espelho, o fazendo encarar seu próprio reflexo.

A sua aparência devastada e a expressão destruída por causa das olheiras profundas faziam qualquer um suspeitar que ele não dormia e nem comia há dias, apesar de cogitar que havia um pouco de verdade nesse pensamento. Não era o bastante para fazê-lo acreditar que havia perdido todas as curvas peculiares de seu corpo, mas o suficiente para perceber que tinha perdido alguns quilos.

— Olhe para você, Jimin. — a voz de Derek estava muito perto de seu ouvido. Ele estava atrás do menino, com a cabeça próxima ao lóbulo enquanto o seu olhar estava fixo no reflexo do outro. — Tão lindo... Pena que se desgasta de tanto chorar por pessoas que não conhece.

O menino o encarou pelo espelho, notando que a curva de sua boca se distendeu quando roçou o nariz na pele de seu pescoço. Ele não sentiu nada, nem repulsa nem arrepio. Estava petrificado como uma rocha.

Imprevistamente, sentiu as mãos de Derek atravessar a entrada de seus braços, o suficiente para tocar sua barriga. Ele tentou erguer a bainha do moletom para revelar suas pernas alvas, mas Jimin endureceu o corpo e bloqueou o gesto dele com a sua mão.

Determinado a terminar o que começou, Derek deslizou as palmas dele para as coxas do menino, fazendo-o estremecer sob o contato. Jimin observou a bainha de sua cueca surgir aos poucos, já que não usava nenhuma outra peça por baixo do moletom. Derek tentou subir as mãos para o seu tórax lentamente, mas foi repreendido novamente.

— Pare com isso. — Jimin finalmente disse alguma coisa. Sua voz estava estremecida.

— Não gosta disso? — ele roçou os dedos na região de sua barriga, fazendo o menino apertar os olhos em aflição. — Veja o seu corpo, querido. É uma delícia. Já parou para pensar no quão gostoso você é? Pode usar isso a seu favor para conseguir muita coisa comigo.

— Pare de me tocar assim. — pediu novamente, desta vez com a voz mais resistente.

— Algo me diz que o meu toque está te agradando. — Jimin saltou para longe dele, o fazendo sorrir ardilosamente de sua reação. — Você sabe que não adianta se fazer de difícil comigo, Park.

Ele começou a caminhar lentamente na direção de Jimin na mesma proporção que o menino recuava, até que de repente estava com as costas coladas na parede.

— Por favor, eu estou muito mal. Não consegui dormir a noite, minha cabeça ainda dói. — seus olhos começaram a lacrimejar, mas tudo tornou-se em vão quando Derek não demonstrou nenhum remorso pela sua justificativa. — Me deixe em paz. Por favor, Derek.

— Bem, eu estou praticamente de folga hoje já que o Namjoon vai cuidar de tudo para o desfile no sábado. Eu seria tolo de não aproveitar esse tempo com você.

Em um movimento imprevisto, ou até mesmo impensado, Jimin tentou correr para a outra parte do cômodo com a intenção de se trancar no banheiro, mas Derek agiu mais depressa e agarrou seu pulso, o jogando com força sobre a cama.

Ainda deitado, Jimin tentou rolar para fora do colchão, porém Derek sentou sobre as suas pernas e prensou seus braços acima da cabeça, impossibilitando qualquer tentativa de fuga. Agora, Jimin estava preso embaixo de Derek, sem qualquer brecha para escapar.

— Odeio quando tenta fazer isso. — o homem o alertou, conduzindo a mão para a cabeceira, onde trouxe um par de algemas. Jimin arregalou os olhos quando se deparou com o objeto metálico. — Acho que serei obrigado a usar isto.

Entre choramingos, Jimin começou a balançar a cabeça para os lados. Não podia acreditar que Derek iria amarrá-lo na cama como um animal selvagem.

O homem conduziu as algemas até os braços erguidos do menino e o amarrou. Jimin sentiu as lágrimas se acumulando atrás de seus olhos, os deixando vermelhos e borrados. Derek saiu de cima dele e começou a vasculhar o quarto à procura de alguma coisa de seu interesse.

— Derek, por favor, não faça isso! — ele clamou mais uma vez, mas o outro parecia concentrado em sua busca. — Não precisa me amarrar, eu não vou fugir de novo!

— Fique quieto! — Jimin sentiu seu corpo estremecer quando o observou pegar algo da gaveta. Um lenço. — Vire-se de costas.

Os músculos do garoto travaram, ele não conseguia sequer se mexer. Impaciente, Derek foi até ele, o forçando a girar o corpo de barriga para baixo.

Derek sentou ao lado do garoto e conduziu o lenço até a boca dele, dando um nó atrás de sua cabeça. Jimin sentiu mais lágrimas descer sem permissão e atingir o tecido fino do lenço.

Sem esperar, ele ergueu os braços de Jimin até a cabeceira e prendeu as algemas em um ferro que havia na cama. O menino foi forçado a deixar ambos os braços esticados enquanto seus soluços eram sufocados por um pano.

Em ímpeto, Derek começou a rasgar o moletom que o menino usava, revelando suas costas desnudas e também a faixa escura da cueca. Suas atitudes indicavam que ele havia pensado em tudo.

Jimin, por outro lado, sentiu seu corpo responder com espasmos de medo, formando uma nuvem em volta de sua consciência. Estava apavorado justamente porque sabia o que viria a seguir. As lágrimas desciam impiedosamente pelo seu rosto e escorriam para o pano, o deixando cada vez mais úmido.

Derek se afastou, o deixando momentaneamente livre de sua presença, mas, segundos depois, o menino escutou um estalo soar na retaguarda. Seu cérebro reconheceu o ruído e rapidamente supôs que era de um chicote atingindo o chão, como se estivesse se preparando para encontrar sua pele.

Outro estalo ecoou, desta vez nas costas do garoto. Ele gritou contra o pano, mas seu desespero serviu para arrancar gargalhadas de Derek. Ele fez uma sequência de golpes nas costas do garoto, deixando rastros sangrentos com o chicote.

A sensação quente em suas costas o fazia se contorcer de dor e as faixas do chicote em sua pele estavam retorcidas em sangue. O garoto sentiu um líquido deslizar lentamente para o colchão, e mesmo que já estivesse sangrando, Derek não parou com as chicotadas.

Jimin nunca havia se sentido tão constrangido, humilhado e castigado em toda sua vida. Ele quis morrer naquele momento, principalmente por ver Derek se divertindo com o seu sofrimento.

✮✮✮

— Ele não tinha o direito de fazer isso! — Jungkook disse enquanto caminhava de um lado para o outro.

— Na verdade ele pode. Seokjin é o diretor desta equipe, ele pode tudo. — Yoongi respondeu.

— Não estou nem aí se ele é o diretor. Quem deveria investigar o notebook sou eu! Ele não devia fazer isso sem mim.

— Nós não podemos cuidar de tudo ao mesmo tempo, Jungkook. Estamos prestes a viajar e eu concordo em deixar o notebook com o Seokjin. Ele sabe o que está fazendo.

Jungkook finalmente parou.

— Não vou viajar sem o notebook.
Yoongi suspirou.

— Qualquer informação que ele conseguir, nós vamos saber também. — Jungkook não disse nada dessa vez. — Se continuar agindo contra tudo o que ele fala, uma hora você vai ser demitido. E eu aposto que o Seokjin odiaria fazer isso.

Jungkook não se moveu. Ele permaneceu parado, com o olhar fixo na cidade lá fora enquanto absorvia todas as palavras de Yoongi.

Apesar de considerar tola a atitude de Seokjin em investigar o aparelho por conta própria, ele não podia refutar a decisão do diretor. O detetive sentia que havia algo naquele dispositivo que poderia ajudar no caso, mas se Seokjin acreditava que ele era o melhor para cuidar dessa parte, então Jungkook não se intrometeria.

— Onde estão as nossas coisas? — ele perguntou de repente, apenas para mudar de assunto.

— Já devem estar a caminho. — Yoongi disse, em seguida seus olhos caíram para a calça de Jungkook. — O que é isso no seu bolso?

Jungkook não entendeu a princípio, mas quando o seu olhar também caiu para o mesmo lugar que Yoongi estava olhando, ele viu a ponta de uma fotografia saindo para fora de seu bolso. Ele a puxou entre os dedos rapidamente e disse:

— É a imagem de Park Jimin.

— Por que você guarda isso?

— Tem algumas frases no verso, pensei em verificá-las depois. — Yoongi espremeu os olhos, mas seu gesto não durou muito.

— Acha que tem alguma relação com o caso?

— Talvez. Ele era muito romântico. — ele disse, fugindo um pouco do tópico da conversa. — Parece que ele gostava de escrever poesias.

— Isso está próximo de invasão de privacidade, Jungkook. — ele soltou uma risadinha.

Eles ouviram um par de saltos ecoando pelo chão, em seguida Rose atravessou pela porta da frente. Yoongi e Jungkook viraram o rosto na direção dela.

— Tudo o que vão precisar. — ela disse, colocando duas bolsas enormes sobre a mesa.

Jungkook marchou em direção a ela e pegou a sua identidade falsa entre as pastas de documentos.

— Jev Hughes?

— Será o seu nome e o do Yoongi será Franklin Baker. — ela olhou para ambos. — O sobrenome de vocês é bem famoso no Canadá, então eles não vão desconfiar de nada.

— E essa bolsa? — Jungkook perguntou, apontando para a mala pequena que ela segurava.

— Não acharam mesmo que iriam viajar sem mim, acharam? — um sorriso atrevido brotou em seus lábios.

— Seokjin te deixou ir? — Yoongi perguntou, sorrindo de orelha a orelha.

— Com certeza!

— Está gozando com a minha cara. — Jungkook resmungou, seu tom era grave e parcial.

— Acredite, eu gostaria que você gozasse na minha. — Rose retrucou.

Enquanto Yoongi engoliu em seco e arregalou os olhos, Jungkook não esboçou nenhuma reação. Ele conhecia as atitudes de Rose, mas Yoongi trabalhava com ela há muitos anos, e mesmo assim nunca esperou vê-la se insinuando tão abertamente para um colega de trabalho.

— Você já falou com o Seokjin? — Yoongi quebrou o silêncio.

— Ele disse que já conversou com vocês e que estava tudo certo para a viagem. O jatinho já está nos esperando. — ela informou.

Jungkook segurou sua mala sobre o ombro e pegou um boné de dentro. Ele gostava de usar bonés em viagens, embora soubesse que a identidade de um agente do FBI nunca seria revelada.

Em seguida, Jungkook deslocou-se a caminho da porta, mas antes de alcançá-la, um corpo feminino brotou em sua frente.

— Não precisa ficar com raiva de mim, bonitão. Sabe que eu não vou te atacar se não quiser. — ela viu um brilho inquietante nos olhos de Jungkook.

Ele deixou escapar uma risada que não expressava nenhum tipo de humor.

— É tão difícil fazer o seu trabalho sem dar em cima de mim? — a mulher tentou disfarçar o incômodo que embrulhou o seu estômago de repente, mas falhou.

Jungkook conseguia ser tão controlado que Rose duvidava que suas atitudes pudessem afetá-lo. Sem ao menos esperar por uma resposta, no entanto, ele se arrastou para fora da sala, deixando os dois parceiros para trás.

Yoongi notou que ela se mexeu de forma buliçosa e então decidiu se aproximar, mantendo uma distância segura.

— Deixe ele em paz, Rose. Jungkook não está aqui para fazer seu par romântico.

— Por que não? Ele é gay? — ela virou-se para ele com o corpo rígido.

— Ele só está focado no trabalho, apenas isso. — Rose bufou com desdém. — É bom você se controlar quando estivermos no Canadá. Ele não é bobo e pode muito bem reclamar com o Seokjin sobre a sua insistência. Digamos que o seu histórico com o chefinho não é tão agradável assim.

— O que eu tive com o Seokjin é passado, que fique bem claro. — sua voz vacilou e uma nota de raiva transpareceu.

— Eu não a julgo se estiver afim de transar com o Jungkook, mas saiba manter distância se ele não quiser.

Rose demorou a responder, então disse:

— Acho melhor nós irmos. O Canadá nos espera.

Foi tudo o que ela disse antes de pisar fundo para fora da sala. Yoongi presumia que ela não iria facilitar as coisas para Jungkook, e sabia que teria que estar por perto para contê-la.

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