⍟ sixty two
Jungkook estava relaxado contra o espaldar da cadeira e acima de seu colo estava Jimin, deslizando seu tronco sobre o dele enquanto beijava-o suavemente. Podia sentir sua própria respiração enquanto lhe tocava os lábios, cada beijo se prolongando, agora, persistentes e exploratórios.
As mãos de Jungkook em seus quadris o trouxeram para mais perto, fazendo a calça jeans dele escorregar em um ruído retalhado. O menino levou as próprias mãos para o pescoço dele, podendo sentir o toque quente de sua pele abaixo de suas palmas. Enquanto se beijavam, eles se entrelaçavam um no outro como uma fibra intrincada, a expressão de ambos cheia de amor.
Eles foram diminuindo o ritmo mais lentamente, descobrindo-se sem pressa, depois aceleraram a velocidade, cada beijo sendo mais profundo do que o último. Jimin lutou contra um pequeno arrepio nas costas e quase arqueou-as no momento que Jungkook subiu as mãos para sua cintura e ali depositou um suave apertão. Ele foi mordido sutilmente no lábio inferior, onde os dentes de Jungkook o puxaram devagarinho antes de colar suas bocas novamente.
Seus beijos se aprofundaram lentamente e suavemente, com a intensidade crescendo entre eles como sempre acontecia. Jimin sentia aquele toque como algo para lhe dar conforto, para lhe dizer que nada tinha acabado e que o tempo estava a favor deles. Aparentemente, o detetive sentia o mesmo e desejava que todas as barreiras entre eles sumissem naquele momento.
Inconscientemente ou não, Jungkook subiu um pouco mais as suas mãos e a ponta de seus dedos acabaram roçando o lugar onde as cicatrizes de Jimin ficavam. O menino se separou dele imediatamente e puxou alguns fôlegos estabilizantes, seus ombros se levantando e caindo depressa.
– Pare. – sua voz estava trêmula.
Jungkook recuou as mãos na mesma hora e olhou-o surpreso. Seus olhos procuraram os dele em busca de desaprovação ou julgamento, mas Jimin parecia apenas assustado.
– Eu fiz algo de errado, anjo? – perguntou ele calmamente.
De cabeça baixa, Jimin sentiu seu rosto queimar com aquela pergunta específica. Então ele ergueu a cabeça e beijou sua boca com uma pressão finamente dolorosa, depois deslocou seu peso para fora do colo dele. Jungkook tentou se manter profissional, mas sua curiosidade se meteu no caminho. Antes que ele pudesse perguntar algo mais, Jimin se virou de frente para ele e disse:
– Me desculpe – mesmo com uma concentração considerável, Jungkook não entendeu o pedido de desculpas. – É que... quando você tocou naquele lugar eu tive uma lembrança ruim. Então eu me lembrei...
O detetive deu a volta na escrivaninha da biblioteca e o alcançou. Ele o abraçou carinhosamente pelos ombros, suas mãos estavam quentes e macias como nunca, em seguida distribuiu um beijo no topo de sua cabeça, gesto esse que fez Jimin fechar os olhos brevemente.
– Você não tem que pedir desculpas por isso, eu que fui imprudente e não prestei atenção. – quando o menino olhou para cima, Jungkook estava observando-o. – Vou tomar mais cuidado da próxima vez. Prometo.
Dito aquilo, Jimin enterrou seu rosto no pescoço dele conforme o abraçava pela cintura. O timbre de um suspiro escapou baixinho das narinas do detetive, como se ele tivesse sido pego de surpresa. Jimin conhecia as intenções de Jungkook, por isso tinha consciência de que ele não tinha agido por mal. Talvez suas memórias ficassem empalidecidas à medida que o tempo se passava, mas toda vez que experimentava coisas que de alguma forma montaram o seu trauma, isso o fazia reviver cada sofrimento.
– Anjo – ele murmurou, roçando a palavra pelos seus cabelos. – Se eu fizer algo, por menor que seja, preciso que me repreenda. Não me deixe continuar se você estiver desconfortável.
Afastando-se, Jimin o estudou por baixo silenciosamente, então sorriu por uma fração. Aquilo podia ser entendido como um sim, mas estava mais para um obrigado. Jungkook sorriu em retorno, como se de repente a promessa estivesse selada entre eles. Sua cabeça foi virada para a pilha de documentos acima da escrivaninha e uma careta se formou em seu rosto. Jimin também seguiu seu olhar.
– Preciso terminar de analisar estes documentos. – ele disse, como se o lembrete o esgotasse.
– Estou atrapalhando?
Jungkook o encarou estranho, a discordância transparente em suas feições.
– De modo algum. Venha.
A sensação de frio foi crescendo na boca do estômago de Jimin quando Jungkook o convidou para se juntar a ele. Claro que aquilo não seria nenhum problema para o garoto, mas depois dos avisos de Jared sobre interferência nos arquivos confidenciais do FBI, isso o deixou um tanto inseguro. O inspetor tinha suas fontes e isso incluía câmeras de vigilância, Jimin pensou.
– Eu estava pensando em deixar estes pacotes com o Yoongi, mas ele tem muitas tarefas para hoje. – comentou Jungkook enquanto se acomodava na poltrona. Jimin encontrou um lugar vazio em cima da mesa, no qual ele se empoleirou rapidamente, suas pernas balançando pelo ar. – O que acha de me dar uma mãozinha?
Jimin parou de chacoalhar as pernas e arregalou os olhos.
– Tem certeza disso? Talvez não seja uma boa ideia.
– Uhm – Jungkook disse pensativamente, em seguida recolheu a primeira pasta da coluna. – Na casa do Seokjin nós fizemos um bom trabalho.
– Aquilo foi diferente, bobo. – o detetive riu, seu olhar parecia conter toda sabedoria do mundo. – Nós estávamos tentando desvendar uma senha.
– Isso também é perícia, bebê.
O queixo de Jimin quase caiu. Pela segunda vez Jungkook o chamou assim e isso fez a sua curiosidade se redobrar ainda mais. Sua garganta engoliu a pergunta e ele manteve o foco singular de seus olhos nos movimentos da mão de Jungkook em contato com as páginas, mas não resistiu por muito tempo.
– Jungkook – chamou, seu tom sugeria algo mais. O detetive o encarou de volta com seus confiantes olhos pretos. – Por que você me chamou assim, de bebê? Não que eu não tenha gostado, mas você sempre gostou de me chamar de anjo.
– Estou apenas experimentando novos apelidos. Você gostou? – o sangue do garoto pareceu borbulhar nas veias.
Ele mordeu o lábio e fez que sim, prometendo sorrir se Jungkook não parasse de encará-lo daquela forma. Havia um pálido brilho na parte de trás dos cabelos de Jungkook devido à luz da meia lua que atravessava o vidro da janela e, em seus estupendos lábios, um sorriso matador, quase como um toque real e físico.
– E eu? – Jimin o ouviu perguntar, deixando-o confuso. – Qual apelido devo ganhar?
Enquanto Jungkook o esperava responder, o sorriso na sua boca se intensificou.
– Eu não pensei em nada ainda. – disse Jimin, abrindo um sorriso meio incerto. – Mas com certeza você não combina com bebê.
– Tenho cara de mau, é isso? – ele brincou e tentou uma careta assustadora-sexy, mas falhou no resultado. Jimin riu.
– Não é isso. Você é mais velho do que eu e esse nome já pertence a mim. Sem contar que você tem essa pose sexy-engraçada, o que não combina nada com esse apelido. – Jungkook entendeu a dica após um momento de análise e riu.
– Ok, descartamos o bebê.
– Posso providenciar um para você. – sugeriu, seu tom de voz reduzindo. – Algum que combine com sua cara.
– Uhm, então eu serei analisado?
– Isso é perícia, não?
Aquela resposta deixou Jungkook confinado a ela. Teria dado continuidade àquela brincadeira se não tivesse ficado tão enfeitiçado pela resposta de Jimin. Ele gostava quando o garoto provocava-o com argumentações prontas, principalmente quando estes argumentos eram seus. Eles possuíam uma comunicação única, uma confiabilidade inigualável, algo que dificilmente se construía com tão pouco tempo de convivência.
– Eu estou feliz que tenha decidido ficar. – comentou Jungkook após um minuto de silêncio, tomando suas mãos carinhosamente. – Você quase me matou do coração, sabia?
– Foi uma decisão difícil, mas pelo menos o meu pai não ficou chateado. – ele fez uma careta, como se algo o perturbasse de repente. – Jungkook, você sabe para onde ele foi?
– Ele nos disse que ficaria em um hotel próximo daqui.
– Eu espero que ele fique seguro. – seus olhos caíram um pouco para as próprias mãos, mas ele os ergueu de volta quando Jungkook segurou seu queixo.
– Não precisa ter medo, anjo. Christopher ficará seguro.
Uma suave batida veio da porta. Jimin se desvencilhou da mesa ao mesmo tempo que Layla colocou a cabeça para dentro do lugar. Jungkook se recompôs após um relampejo momentâneo de surpresa em seus olhos e puxou o braço de volta.
– Oi, Jungkook, podemos conversar? – ele fez um sinal de entre e então ela deslizou suas botas para o interior quando escancarou a porta, depois fechou-a.
Layla não costumava usar vestidos, na verdade ela detestava-os, a não ser que fossem necessários para alguma missão. Ali ela usava uma calça jeans preta e uma blusa de botões com a bainha enfiada no cós, deixando o cinto de couro visível. Quando parou de frente para ele, seus olhos foram na direção de Jimin.
– Oi, tudo bem? – o menino não era nada bom em esconder suas emoções, por isso ele não conseguiu controlar o nervosismo em seu sorriso.
– Oi... – ele limpou a garganta posteriormente. – Vou deixá-los a sós. Com licença.
O momento declinou em um silêncio desconfortável. Jungkook quis perguntar para onde ele ia, mas achou melhor não questionar aquilo na frente de Layla. Houve uma dose pesada de indecisão se comprimindo na garganta de Jungkook quando ele viu Jimin se virar para longe, sem se despedir.
Na saída, o menino sussurrou algo silenciosamente na direção dele, aproveitando que Layla não podia observá-lo. Jungkook pescou a mensagem muda, quarto, e disfarçadamente fez um gesto de compreensão. Quando a porta se fechou, os olhos do detetive se voltaram para a agente, dessa vez suas sobrancelhas foram arrastadas para cima.
– Aconteceu algo, Layla? – indagou.
– Se lembra dos nomes poderosos que poderiam estar envolvidos com a Jennie? Bem, eu descobri algo. – ela explicou, cada palavra medida com cuidado. Jungkook pareceu interessado no assunto. – Ainda bem que você já está sentado porque a notícia vai ser um tombo.
O detetive permaneceu quieto por tempo suficiente para escutá-la, apenas cruzou os braços de maneira dura sobre o peito, gesto esse que Layla entendeu como uma abertura para que ela continuasse. De repente, ela deslizou uma pasta para perto de Jungkook, que lançou-a um olhar com uma ínfima partícula de confusão. No momento que ele abriu o documento, sua mandíbula ficou tensa.
– Este é-
– Robert Lewis. – Layla foi mais ligeira. – Pai do inspetor Jared para ser mais exata. Ele estava transferindo dinheiro para a conta da Jennie na Espanha através de uma conta secundária, provavelmente para a esposa não desconfiar de nada.
A notícia o atingiu como um golpe no estômago, a ponto de deixá-lo sem palavras por um momento.
– Quanto tempo? – ele indagou.
– Anos, eu diria. A Jennie estava tendo um caso com o Robert antes de obtermos a primeira denúncia por tráfico, o que significa que os milhões de dólares depositados na conta dela foram o pontapé para o investimento inicial do negócio. – Jungkook sentiu um calafrio estranho quando imaginou sua irmã seduzindo um homem com o dobro de sua idade, mas logo dispensou-o. – Olhe as últimas páginas. São imagens que encontrei de um motel de luxo em Madri.
Jungkook pulou as folhas umas sobre as outras e parou quando se esbarrou com imagens comprometedoras de Jennie. Ele sentiu os próprios olhos estreitarem com aquelas fotos, onde sua irmã estava beijando o antigo treinador. Havia centenas de maneiras diferentes de interpretar o seu silêncio, então Layla optou por esperar a correta. Jungkook sacudiu sua cabeça em descrença e disse:
– Não posso acreditar que o Robert estava envolvido com isso. – seus olhos se desviaram para Layla em inquérito. – Você encontrou mais alguma coisa que nos diga se ele sabia para onde esse dinheiro estava indo?
– Eu tenho a sensação de que o Robert não sabia dos negócios da Jennie, mas não ponho minha mão no fogo. – Layla foi direta ao dizer e recolheu uma cadeira próxima das estantes, sentando-se. – Acredito que ele tenha se deixado levar por uma aparência jovem e não se importou em transferir milhões de dólares para uma amante. Chocante.
– Mas o que temos que nos perguntar é o porquê de ele transferir tanto dinheiro para uma mulher que ele tinha apenas dormido. Você concorda?
– Talvez falsos projetos. Uma mulher como a Jennie pode facilmente enganar caras de idade com argumentos de que pretendem abrir um negócio. Ele, por estar tão enfeitiçado no esporte erótico, ofereceu a grana. – Layla sugeriu.
– Ou talvez ele estivesse envolvido com os planos da máfia. – contrapôs.
– Isso me parece estranho, mas faz um pouco de sentido. – Layla cruzou as pernas e trouxe o documento para o seu colo. – Não há evidências de que o Robert sabia do destino do dinheiro, as intenções dele podem ter sido tanto boas quanto ruins. Não sabemos. Aliás, nem vamos saber agora que ele bateu as botas. Você soube?
– Jared me contou. – sua voz estava distante quando disse. – Me parece que foi assassinato.
– Namjoon. – Layla apontou. – Eu estive lendo o relatório dele e descobri que o passado do Robert se cruza com o do Namjoon, provavelmente você deve saber o motivo. Mas o que me chamou mais atenção foi o documento da autópsia. Robert teve a garganta cortada e foi baleado inúmeras vezes, o que sugere que quem o matou estava com muita raiva. Acho que agora temos um bom suspeito para o homicídio, não?
– Eu já desconfiava que o Namjoon o tinha matado. Ele queria vingança desde o início e a morte do Robert foi o ponto de partida. – Layla sorriu, como se a informação estivesse, de alguma maneira, dentro do que ela estava insinuando.
– Você não acha estranho o Namjoon matar o cara que o abusou, mas deixar a amante dele viva? – Jungkook coçou o queixo com aquela sugestão e a encarou como se pedisse por mais para finalmente concluir seu pensamento. – A Jennie estava dormindo com o cara que arruinou a carreira do Namjoon na academia de treinamento e ele não fez nada, nem a questionou?
– A não ser que ele não soubesse desse envolvimento. – emendou Jungkook.
– Então isso quer dizer que a Jennie guardava segredos do parceiro dela, segredos esses que se fossem descobertos por ele provavelmente a sua irmã nem estaria viva para nos contar.
Aquela nova descoberta fez Jungkook ampliar sua resolução. Jennie tinha conhecido Robert um pouco antes da máfia operar e o usou para os seus próprios benefícios. Talvez ele soubesse a princípio sobre a serventia do dinheiro ofertado, mas isso pouco importava agora, dado que ele tinha sido morto antes mesmo da verdade aparecer. Entretanto, Jennie ainda estava viva e Jungkook estava disposto a arrancar informações dela sobre esse passado recôndito.
– Você acha que o Jared sabia do abuso? – Layla perguntou depois de um minuto. – Ele sempre esteve mais vinculado ao pai, talvez soubesse de alguns podres.
– Se ele soube, certamente escondeu as provas. – Jungkook tentou achar sentido no que tinha acabado de dizer, mas sabia que suas palavras foram uma afirmação deslocada. – Ele é muito correto, então eu ficaria chocado se isso viesse a acontecer.
– Você realmente ficaria chocado se um filho encobrisse os podres de um pai?
– Isso pode tirá-lo do cargo. – Layla balançou a cabeça.
– Por isso venho me questionando isso desde que descobri no que o Robert estava envolvido. – Jungkook sentiu sua concentração reacender. – Precisamos falar com sua irmã. Ela deve saber o que o Namjoon planeja e como devemos pará-lo.
– Primeiro vou enviar uma mensagem para o Yoongi pedindo para que ele bloqueie a conta da Jennie na Espanha.
– Não precisa. Eu já fiz isso. – Layla falou quando ele se pôs de pé de repente. Ela sorriu. – Não há de quê.
Jungkook lhe devolveu o sorriso frouxo, dessa vez com uma centelha de gratidão, e depois recolheu a pasta do colo dela. Não demorou muito e Layla o observou marchar para fora da biblioteca, puxando a porta e aguardando parado ali para que ela fosse primeiro. A mulher riu e passou por ele, que acompanhou-a segundos depois.
Se havia alguém com informações valiosas, essa pessoa era Jennie. Ela tinha arquitetado tudo desde o início, com quem deveria se envolver, quais criminosos experientes poderiam ajudá-la nesse processo, e ninguém melhor do que Robert para ter todos os nomes.
Um instante mais tarde, eles já se encontravam dentro do elevador, selecionando o andar do subsolo, onde a ala dos compartimentos prisionais ficava. O cômodo ficou em silêncio, exceto pela mensagem que apitou no celular de Layla. Ela visualizou o recado, logo depois desviou o aparelho para baixo. Aconteceu tão rápido que ela pensou que Jungkook não tivesse visto o nome na tela, mas era tarde demais.
– Ric? – ele perguntou com um tom sugestivo. Layla revirou os olhos.
– Eu pedi para que ele cuidasse das garotas enquanto trabalhava no caso da Jennie. Digamos que ele está um pouco perdido de como o fazer. – o detetive fez um ruído de concordância e deu de ombros.
– Você não se ofereceu para auxiliá-lo, detetive Layla? – ele mostrou seus dentes em divertimento e Layla evitou olhá-lo para não rir daquilo.
– Não me olhe desse jeito.
Quando o elevador parou, Layla foi a primeira a se propelir para fora. Jungkook acompanhou-a em duas passadas, rindo um pouco de quando ela se atrapalhou com o seu cartão no acesso ao leitor. O portão de ferro abriu-se e uma imensa passarela esticou-se adiante deles. As celas das prisões eram nos níveis mais baixos do prédio e serviam como reservas instantâneas, pois os criminosos logo eram transferidos para o distrito de Washington.
Jennie tinha ficado na solitária desde que fora presa, um pequeno cubículo que continha apenas uma cama de dormir e uma privada para suas necessidades. Jungkook começou a pensar que talvez agora sua irmã estivesse sentindo na pele a sensação de aprisionamento que todas as vítimas sentiram durante anos. Ela mal podia ver o ângulo da lua, nem a sua posição no céu noturno. Na verdade, ela jamais voltaria a ver o céu de novo.
– Jungkook, olhe. – Layla o interrompeu com o braço. Ele parou de andar e olhou na direção apontada por ela.
A longos metros havia um guarda caído próximo da cela de Jennie. A arma estava frouxa em sua mão calejada e o sangue escorria de sua cabeça torta. Perto do corpo, a cela de Jennie estava entreaberta. Jungkook levou cerca de um segundo para sacar o revólver do coldre. Layla também agarrou a sua arma e eles trocaram olhares estarrecidos.
Ninguém além daquele guarda tinha a chave da solitária e Jungkook achava difícil Jennie ter conseguido roubá-la através daquela porta de aço. Eles revezavam a vigia uma vez ou outra e no meio desse processo a chave também era passada de mão em mão.
As paredes estavam sujas com impressões de sangue, assim como a maçaneta de ferro da solitária. Muito devagar, Jungkook e Layla começaram a caminhar em lados opostos da passarela em busca de alguma visão, uma vez ou outra conferindo o interior das celas vizinhas. O detetive forçou a visão para longe, tentando pescar algo do interior da solitária, mas a distância que estava não o permitia fazer com precisão. Naquele momento, uma imagem se formou em sua mente: Jennie tinha fugido.
Conforme aproximava-se do corpo caído, Jungkook gesticulou para que Layla o acobertasse caso Jennie estivesse pronta para atacá-lo. A mulher ficou em posição enquanto Jungkook agachava-se perto do guarda, que estava com a pele cinzenta e parecia não respirar. O homem tinha um olhar arregalado de susto e muito sangue estava espalhado em suas vestimentas.
O detetive levantou-se com total incredulidade e olhou para Layla, que também parecia entorpecida e com um sentimento de choque. Com isso, ele apontou a arma para o interior da cela destrancada e chutou a porta. O que ele viu em seguida o deixou paralisado com puro terror.
Jennie estava morta.
O corpo dela encontrava-se esmorecido no chão de concreto, sangue seco cobria as paredes e os lençóis. Seus braços estavam arranhados e uma faca ensanguentada descansava entre seus dedos enfraquecidos. Jungkook sentiu uma sensação enjoativa e desconfortavelmente familiar no peito, na qual o fez recuar um passo.
Ele fechou as próprias mãos em punhos e encheu seus pulmões com ar, realmente chocado com aquela visão. Ali ele soube, bem então, que não desejava de fato vê-la morrer. Ao invés de sentir alívio, ele descobriu o quanto era susceptível a ela. Layla, então, atravessou para dentro e examinou-a com olhos peritos, depois olhou para Jungkook.
– A barriga dela foi perfurada. – ela não esperou que ele fosse dizer algo. – Está parecendo suicídio.
– Como isso explica a porta destrancada e o guarda morto?
– Talvez ele tenha ouvido alguma coisa e entrou para socorrê-la, mas acabou sendo morto. – Jungkook sacudiu a cabeça para os lados, seu choque rachando-se.
– Ela teria fugido. – seus pensamentos estavam caóticos, mas ele conseguiu organizá-los instantaneamente. – A Jennie seria esperta. Ela forjaria uma automutilação para atrair o guarda, mas não é o que está parecendo.
– Acha que ela foi assassinada? Por quem?
Jungkook se virou para longe da cela, apenas para arrancar aquele fedor de sangue de seu nariz. Layla foi atrás dele segundos depois, sem deixá-lo ir tão longe.
– Jungkook, espere. – ela segurou seu braço e o girou de frente. – Eu sei que você está abalado pelo que viu. Isso realmente foi chocante. Mas nós precisamos saber o que aconteceu aqui. Se você suspeita de assassinato, então devemos investigar quem fez isso.
– Não tem como ninguém de fora entrar aqui, Layla. Quem a matou está neste prédio. – os pulmões dele pareceram bloqueados quando disse.
– O prédio ficará em confinamento até descobrirmos quem é o autor disso. – ela garantiu. – Nós vamos verificar as câmeras de segurança deste setor e ninguém sairá sem ser interrogado. Quem quer que tenha feito isso, deve ter tido um bom motivo.
Sem esperar, ela arrancou o celular da calça e teclou alguns números. – Vou ligar para o Yoongi e pedir para que ele entre em contato com a perícia.
Jungkook acenou. Ele não era exatamente propenso a fortuitos sentimentos de misericórdia para com criminosos, mas Jennie cresceu com ele, o ajudou em alguns períodos de sua vida, apesar de nunca ter sido com boas intenções. A despeito de ela não ter sentimentos por ele, Jungkook aprendeu a amá-la. E quando se aprende a amar, torna-se difícil odiar na mesma intensidade.
Imaginar que ela estava dentro daquele cômodo sem vida fez o seu estômago revirar. Ele tentou dizer a si mesmo que ela não merecia sua compaixão, que as pessoas a sua volta ficariam melhores sem ela por perto, mas a verdade é que no fundo ele não acreditava totalmente na sua própria convicção.
Jungkook ficou plenamente consciente do silêncio ao redor no instante que Layla se afastou para conversar com Yoongi. Tudo o que ele escutava agora eram as instruções dela ao longe, sendo repetidas em algumas partes certamente porque a ligação estava cortando. O sangue de sua irmã ainda estava na sua frente, fazendo-o se perguntar o que tinha acontecido naquela área para ninguém no comando do centro de segurança ver.
Ela tinha sido morta e ninguém, absolutamente ninguém, tinha reparado. As imagens de segurança estavam sendo monitoradas o tempo inteiro do ponto central de segurança, e pela curta análise que Jungkook tinha feito, sua irmã, ao que parece, foi executada horas atrás. Quem quer que tenha feito aquilo, se foi intencional ou através de segundas ordens, possivelmente nem estava mais no prédio.
– Pronto. – Layla retornou. – Yoongi está enviando a equipe da perícia para estudar o crime e um médico-legista para o processo de autópsia. Precisamos ir.
– E se houver um informante? – Jungkook perguntou de repente, empenhado em saber o que aconteceu. – Namjoon pode ter usado alguém aqui dentro para matar a Jennie depois de descobrir que ela teve um caso com o Robert.
– Mas de quem ele saberia disso?
– Ele tem muitas fontes, talvez não tivesse descoberto antes porque todos eram fiéis a Jennie. Mas agora a chefe deles caiu e a lealdade a ela também. – por uma fração de segundo, Layla pareceu considerar aquilo.
– Então temos que descobrir quem é o penetra. – ela disse. – Vamos.
Jungkook foi carregado para o elevador pela disposição de Layla, visto que a sua tinha sido desfeita no momento que encontrou sua irmã morta. Não era somente isso que estava fazendo suas entranhas revirarem. Se Namjoon supostamente foi o operador deste ataque, então havia um traíra na equipe, alguém que muito provavelmente estava lá desde a época de Rose e ninguém se deu conta.
Namjoon não seria tolo de inserir apenas uma pessoa se levasse em consideração a dimensão daquele lugar. Levando em conta os anos de experiência de Namjoon, Jungkook sabia que ele não confiaria somente à Rose a tarefa de espionar tudo, ainda mais por ter em mente que os treinamentos para torná-la uma detetive poderiam falhar. Portanto, Jungkook começou a cogitar a possibilidade de haver outro informante dentro do prédio.
O elevador parou no centro de operação da equipe. Uma rápida olhada pelo lugar revelou Yoongi manuseando o projeto de um mapa na mesa principal, Seokjin andando de um lado para outro, esperando parecer completamente natural quando na verdade sua gravata desapertada apontava sua inquietação. Já Seokmin encontrava-se checando as imagens de segurança na tela digital nos fundos.
Jungkook deixou o elevador e observou todos no espaço, fazendo uma avaliação cuidadosa e detalhada de suas cercanias. Ele tinha ficado muito cismado com o que aconteceu e qualquer um poderia ser o responsável. Havia algumas pessoas espalhadas em suas respectivas mesas com outras ocupações, no entanto, apesar de seus corpos não estarem encarando o de Jungkook diretamente, cada par de olhos se voltaram para o detetive.
– Jungkook! – foi Yoongi quem o chamou, comprimindo o espaço entre eles quando começou a caminhar em sua direção. – Eu soube o que aconteceu, cara. A Layla me contou tudo. Seokjin me pediu para bloquear o acesso de todos para o subsolo, pelo menos até a perícia cuidar de tudo.
– Veja as imagens de segurança. – ele falou em um tom de desabafo. – Quem fez isso está no prédio.
– Claro.
Yoongi, Jungkook e Layla seguiram até a mesa principal, onde papéis e documentos arquivados estavam despejados para as buscas. Seokjin se direcionou até eles quando se deu conta da pequena movimentação que ocorreu. Pôde ouvir os outros falando no fundo, entre si, provavelmente discutindo outras tarefas. Quando chegou perto, Seokjin sentiu um embaraçoso silêncio entre eles.
– Eu sinto muito, detetive. – lamentou-se, e pensou ter visto um músculo mover-se na bochecha dele.
– Não é hora para sentir luto. – rebateu ele. – Eu vou descobrir quem fez isso não pela Jennie, mas por temer que haja outro infiltrado na equipe e esteja ameaçando a segurança dessas crianças.
– Eu pedi para que o Ric as levassem para uma área mais segura só até investigarmos essa situação. – ele o informou e de repente seu coração caiu para os joelhos.
– E o Jimin? Ele não estava-
– Ele está com elas agora. O Ric o encontrou indo para o quarto e o levou.
O detetive deixou um pouquinho de ar vazar de seus lábios ao mesmo tempo que Yoongi deixou ecoar algo como "achei" e então projetou as imagens diretamente no monitor ao lado deles. Jungkook cruzou os braços para assistir a reprodução das fitas assim como Layla também foi sobrepujada pela necessidade de descobrir o que aconteceu.
Na filmagem interna da cela, Jennie estava sentada na cama, as graciosas mãos fazendo desenhos invisíveis na própria perna. Ela tinha amarrado o cabelo no alto da cabeça, deixando somente poucos fios inclinando-se ao longo das têmporas. Não havia som no vídeo, mas Jungkook podia supor que Jennie estava cantarolando alguma melodia, do mesmo modo que sempre fazia quando se sentia entediada.
De repente, foi como se ela tivesse ouvido algum barulho, pois sua cabeça rodou depressa na direção da porta metálica que confinava o quarto. Jennie levantou-se, seus passos hesitantes sugeriam pânico pelo suposto barulho que ouviu. Ela foi se aproximando das estreitas barras de ferro na janela da porta e então olhou para fora, lançando-se apressadamente para trás quando avistou algo.
Jennie olhou para os cantos do pequeno quarto, provavelmente em busca de alguma coisa que pudesse servir de arma. Com isso, seu rosto encontrou a câmera e de seus lábios escaparam um silencioso pedido de socorro. De supetão, a porta da cela foi aberta com um empurrão e na mesma hora as imagens obscureceram. Confuso, Yoongi tentou retomar o exato momento que as cenas somem, mas não teve sucesso.
– Merda – ele murmurou. – A pessoa usou um embaralhador de câmeras, isso deixou o meu sistema desregulado.
– Veja a câmera do corredor. – Layla sugeriu.
Yoongi rapidamente começou sua pesquisa, mas pelo parêntese de desapontamento que se formou nos cantos de sua boca, isso lhes disse que o resultado não tinha sido o melhor.
– Todas as imagens foram deletadas. Quem fez isso usou um tipo de embaralhador que obscurece imagens de vídeo e substituem por outras com cenas parecidas, mas que foram gravadas horas antes. É muito semelhante com o que fizemos na festa de gala em Madri.
– Por isso o pessoal do centro de segurança não se deu conta de que as câmeras tinham sido bloqueadas. – emendou Jungkook.
– Quantas câmeras esse aparelho consegue bloquear? – Layla indagou.
– Nós temos um complexo de câmeras, então o dispositivo dele não teria carga suficiente para travar todas elas, mas quem quer que tenha feito isso conseguiu efetuar em todas as máquinas que davam para o subsolo. Ou seja, por onde quer que essa pessoa tenha passado, não vamos saber por onde foi.
– O cartão de acesso. – disse Jungkook. – Para entrar naquele setor é preciso usar o cartão. Verifique quem usou o cartão nas últimas horas.
Yoongi estalou os dedos como se a ideia tivesse sido genial. Ele já devia saber que por trás daqueles insondáveis olhos pretos havia uma mente que era uma devastadora peça de seleção, capaz de captar elementos informativos melhor do que ninguém. Com isso, Yoongi consultou o histórico de dados dos cartões e esperou a apuração do programa.
Minutos depois, vários nomes surgiram na tela, então Yoongi selecionou aqueles que foram usados no período de tempo próximo do ocorrido. Assim sendo, restou apenas um único nome, cuja interpretação fez Yoongi recuar suspirando em surpresa.
– É o Ric. – disse ele, suas palavras soaram um pouco inflada. – O cartão dele foi usado às 19:43, dois minutos antes da Jennie ser morta.
– Ric? – Jungkook e Layla perguntaram ao mesmo tempo.
– Não – Layla assegurou. – não, impossível ser o Ric.
– Como pode ter certeza disso, agente? – Seokjin perguntou a ela, mantendo sua voz grave.
Todos se viraram para ela, inclusive Seokmin, que parou de olhar o monitor e a encarou dos fundos. Layla deu um passo cauteloso para trás e mordeu o lábio. Depois de um momento em silêncio, ela disse com certeza:
– Ele esteve comigo o dia todo. – Yoongi prendeu uma risadinha. Seokjin espremeu os olhos ainda mais. Jungkook se manteve imóvel. – Não tem como ser o Ric, pois ele estava comigo desde que chegamos. Não é nada do que vocês estão pensando.
– Mas o cartão dele foi usado. – Seokjin justificou, dessa vez para si mesmo, como se tentasse procurar uma explicação para aquilo. – Peter, chame o Ric aqui.
Ele disse diretamente para o agente que passou por eles naquele momento, cujo os olhos se voltaram para Seokjin em confusão a princípio, mas que logo depois foram suavizados. Ele deixou um "sim, senhor" antes de sumir dentro do elevador.
– Ok, digamos que o Ric não tenha usado o próprio cartão, isso quer dizer que alguém roubou dele. – Yoongi sugeriu e todos olharam no sentido de sua voz.
– Se ele esteve com a Layla o dia todo, como alguém roubaria o objeto embaixo do nariz dele? – Seokjin observou, como se a história não fizesse sentido para ele, pelo menos alguma parte dela. – Onde você estava às 19:43?
Layla levantou uma sobrancelha quando se deu conta que a pergunta foi dirigida para si. Ela pegou a pasta nas mãos de Jungkook, agora amassada, e a colocou sobre a mesa.
– Investigando isto no meu escritório. – Seokjin enrugou a testa com aquilo e, pelo canto de olho, observou que tinha o nome de Jennie no documento. – Nós descobrimos que a Jennie foi amante do Robert. Sim, estou falando do treinador mais aclamado do FBI.
– O quê?! – Yoongi disse em choque.
– Robert atuou no FBI um certo período, depois se tornou treinador da academia. Se ela estava atrás de alguém que tinha todos os nomes de criminosos procurados pelo FBI, então não foi tão difícil de encontrar. – Layla explicou, olhando para Jungkook rapidamente, como se ele pudesse ajudá-la no seu esclarecimento, mas ele parecia alheio – ou sem vontade. – Robert estava dando dinheiro para ela, milhares de dólares para ser mais específica, então a Jennie usou o dinheiro para investir no tráfico. Foi através dele que ela conheceu o Namjoon.
– Me explique isso direito. – Seokjin cruzou os braços como se aquela história fosse a coisa mais bizarra que ouviu, por isso dedicou toda sua atenção a ela.
– Em outras palavras, a Jennie se envolveu com um ex agente do FBI, se aproveitou do dinheiro dele para investir no tráfico, conheceu o Namjoon através do Robert e usou a rixa que ele tinha com o FBI para convencê-lo a seguir seus planos. – foi Jungkook quem falou agora, lançando tudo de uma vez.
– Espere um pouco, se ela conheceu o Namjoon através do Robert, então ela soube do abuso? – Yoongi analisou, trazendo foco para os seus pensamentos. – Não deve ter sido através da boca do Robert que ela descobriu. A Jennie certamente encontrou alguma prova, algo que incrimine o Robert pelo abuso.
– Uma gravação, talvez? – Layla supôs.
– Já me deparei com pedófilos que têm fetiches por espetáculo, algo materializado para eles se vangloriarem. – Seokjin disse. – Mas o Namjoon não era uma criança na época.
– Ele era apenas um adolescente e o Robert, sei lá, era quase vinte vezes mais velho que ele. – Yoongi disse, dando de ombros. – Não importa se ele era uma criança ou não, houve uma violação no código e, consequentemente, um crime.
– Ok – Layla levantou as mãos. – Vamos supor que a Jennie tenha descoberto sobre o abuso entre as coisas do Robert e então tenha decidido ir atrás do Namjoon porque acreditava que ele sentia ódio pelo Robert e obviamente pelo FBI no geral. Vocês acham mesmo que ele nunca se questionaria sobre o que a levou até ele? Qual é, ele foi aluno da academia, aprendeu muitas técnicas, com certeza ele devia desconfiar de uma desconhecida oferecendo trabalho clandestino.
– A Layla tem razão. – Jungkook falou, sua voz tinha ficado mais rigorosa agora. – Ele aceitou a proposta porque queria se vingar do FBI e não necessariamente para colaborar com a Jennie. Se eu estiver certo, ele deve estar na última fase de sua vingança, por isso autorizou que o segundo informante matasse a Jennie. Namjoon devia saber sobre o envolvimento da Jennie com o Robert, mas ele não podia matá-la enquanto ela ainda fosse a fonte de renda da máfia. Então ele esperou até que tudo estivesse a favor dele.
– Você disse segundo informante? – Yoongi repetiu, incrédulo.
– Com certeza a Rose não era a única aqui dentro. Existe outro, e nós só estamos ciente da presença dele agora porque a Jennie foi morta, caso contrário, ele continuaria andando por aí como alguém de confiança.
– Mandou me chamar, senhor? – Ric apareceu atrás deles, seu cenho estava franzido pela urgência.
Seokjin aproximou-se dele de repente e disse:
– Seu cartão foi usado no setor das celas algumas horas atrás. Você esteve lá? – Seokjin explicou, percebendo que os vincos na testa dele aumentaram.
– Não, senhor. Eu estava olhando as meninas. – ele trocou um cúmplice olhar com Layla e pigarreou. – A detetive Layla estava comigo, mas se estiver duvidando, as meninas podem confirmar.
– Nós acreditamos em você, Ric. – Jungkook falou simpaticamente. – Quem fez isso copiou o cartão dele.
– Onde está seu cartão? – Seokjin questionou a Ric.
O jovem agente remexeu o bolso traseiro da calça jeans e trouxe um pequeno cartão metálico entre os dedos. Seokjin o pegou com uma linha de dúvida na testa e então o devolveu.
– Eu não tiro esse cartão do meu bolso para nada, senhor. A não ser que seja para tomar banho. – Ric esclareceu, segurando o olhar dele por um longo momento.
– Então está claro que foi outra pessoa que copiou o cartão do Ric para incriminá-lo, não é mesmo? – Layla perguntou, como se quisesse assegurar as pontas da conversa.
– Nós só temos que saber quem. – Yoongi completou.
– Não seria mais fácil enviar um aviso de emergência para que todos se reunissem no pátio? – foi Seokmin quem os interrompeu dessa vez, arrastando suas pesadas botas para perto do grupo. – Qual é, quem fez isso consequentemente enviou um recado para o Namjoon sobre ter matado a Jennie ou optou por encontrá-lo pessoalmente. Mande todos irem para o pátio e, Yoongi, verifique os celulares do prédio que estão em monitoramento, assim como quem saiu deste edifício nas últimas horas. Se a pessoa que a matou está aqui dentro, ela com certeza enviou uma mensagem para o Namjoon.
Jungkook apertou os olhos com aquela súbita interferência. Seokmin estava por perto o tempo inteiro, mas por que só agora decidiu intervir? Jungkook se perguntou. Ele parecia confiante demais, triunfante demais. Talvez fosse uma perspectiva equivocada, mas todos naquela sala pareciam suspeitos de alguma forma.
Evasivo, o detetive disse:
– Podemos começar com o seu, agente Seokmin. – havia um pouco de cinismo em seu tom. – Afinal, todos aqui são suspeitos.
Seokmin olhou para ele com uma sobrancelha erguida, tendo a impressão de que houve alguma insinuação furtiva por trás de suas palavras. Então, ele tirou o celular do bolso e pôs acima da mesa em um baque tão alto que algumas cabeças se viraram na direção deles. Algo que se assemelhava com um sorriso torto de repente apareceu em seu rosto.
– É todo seu, detetive. – falou.
– Controlem-se. – Seokjin os repreendeu. – Seokmin, venha comigo. Yoongi, envie um aviso para a equipe, quero todos no saguão. Jungkook, Layla e Ric aguardem aqui.
Dito isso, Seokmin recolheu seu telefone e seguiu Seokjin posteriormente, não sendo nada cuidadoso ao olhar para Jungkook com uma hostilidade cega. O detetive lhe lançou um olhar sombrio por cima do ombro e então desviou-se. Ele se amaldiçoou por não o ter questionado mais cedo sobre isso.
– Eu não fui com a cara desse merdinha. – Layla resmungou quando o viu entrar no elevador. Ric tossiu na tentativa de controlar uma risada. Yoongi não disse nada, apenas continuou digitando. – Ele se acha o tal, impressionante.
Em silêncio, Jungkook recapitulou toda conversa, pedaço por pedaço, tentando amarrar as pontas soltas de uma vez. Jennie havia dito na festa de gala que Namjoon certamente estava se preparando para invadir aquelas paredes, o que significava que havia um plano e talvez este plano envolvesse o seu segundo informante.
A ameaça havia penetrado sua pele como agulhas. Se existia um traíra na equipe, sem dúvida ele estava aguardando a sua participação para quando Namjoon chegasse na fase final de sua vingança, ou seja, a invasão. Quem quer que fosse essa pessoa, ela poderia abrir as portas para que ele entrasse a qualquer momento. Diante disso, o sinal de emergência devia ser ativado para que os canais do prédio ficassem resistentes a fim de prevenir um possível ataque.
– Não basta apenas fazer uma reunião para descobrir quem foi, temos de trancar os portões do prédio, bloquear as passagens subterrâneas, a tubulação, tudo. – Jungkook sugeriu, ouvindo murmúrios de concordância por parte dos que restaram. Layla assentiu, encorajando-o a prosseguir. – O que o Seokmin propôs fazer é uma perda de tempo. Eu recomendo algo mais rigoroso, principalmente porque temos vítimas aqui dentro.
Após uma pausa pesada, Yoongi disse:
– Seokjin está acima disso, se ele me autorizar a fazer...
– Quer um ossinho? – Layla debochou.
Jungkook olhou para ela de forma repreensiva e pediu, através de uma conversa visual, para que ela não fizesse aquilo de novo, apesar de ter sido engraçado. Layla levantou as mãos em rendição, sentindo-se esmagada por aqueles olhares censuradores.
Antes que Yoongi pudesse dizer algo em sua defesa, uma mensagem de alerta pulsou na tela de seu aparelho. Eles se reuniram atrás do monitor, tentando identificar de onde vinha a mensagem. Era o radar. Yoongi teclou alguma coisa e deu foco ao latejante ponto vermelho.
– O sistema conseguiu localizar alguém. – falou Yoongi enquanto ampliava o diagrama. – Parece que é a Hannah. Ela foi detectada em uma zona afastada da metrópole. Nós colocamos radares de detecção facial em pontos estratégicos da cidade e só agora eles inferiram com precisão.
– Onde ela está exatamente? – Jungkook perguntou um segundo antes de Yoongi dilatar a imagem.
– Santi Stone. – disse. – É um motel barato na beira da estrada, geralmente usado para uma ou duas noites. Segundo os meus cálculos, ela acabou de chegar.
– Um motel para uma noite e um ataque surpresa contra a Jennie... – Layla observou. – Vocês estão pensando o que eu estou pensando?
– Namjoon está por perto. – Jungkook disse, fazendo-a elevar um fraco sorriso como se para confirmar o que ele disse. – Ele vai voltar para buscar a Hannah quando tiver certeza por onde entrar. Precisamos pará-lo agora mesmo.
– Oh, eu adoro surpresas. – sussurrou Layla.
Com uma arqueada habitual de suas sobrancelhas, Jungkook olhou-a de canto, algo que dizia: "vamos engolir o sapo e caçar ele". Essa era a única alternativa ou tudo iria de mal a pior. Ric se endireitou um pouco mais e perguntou:
– Eu posso ir com vocês? Sou bom com tiros de longa distância.
– Espere um pouco, Jungkook, você não está pensando em ir atrás da Hannah sozinho? Tipo, só vocês três? – questionou Yoongi com uma inquietação óbvia. – Isso é loucura, cara.
– Cuide do Jimin e de todas as meninas. Reforce a segurança no lugar onde eles estão agora e não os deixem sair sem tudo estar resolvido. Fui claro, Yoongi?
Seu parceiro franziu o rosto, nada otimista com aquele pedido. Ele não era nada bom com premonições, mas neste momento seu afiado sexto sentido estava temeroso.
– Ok, mas você vai sem uma equipe de reforço?
– Vou providenciar cinco homens. Namjoon deve ter colocado no máximo três atiradores em ângulos opostos para vigiar a garota. – Yoongi esfregou o rosto, mas não quis discutir. – Vou distribuir os meus homens para que eles deem cobertura. Só precisamos pegar a Hannah de volta e agora me parece uma boa chance.
– Isso pode ser uma armadilha, não pode? – Ric interrompeu, meio cismado com a possibilidade.
– Pode. – disse o detetive. – Por isso temos que ser mais espertos que eles. É por isso que não pretendo levar tantos homens, pois se for uma armadilha para nos distrair do verdadeiro ataque, então o prédio estará reforçado. Temos apenas que fingir que estamos levando uma grande quantidade de agentes. Ric, Layla, vocês vão em carros diferentes, apenas para dar a impressão de que temos uma forte tropa.
– Tudo bem, não vou me opor. – disse Yoongi depois de fechar os olhos brevemente, invocando paciência. – Mas você precisa conhecer o terreno onde está pisando. Vou lhe mandar o mapa com a localização pelo celular. Qualquer dúvida me ligue.
Jungkook acenou. Ele precisava averiguar todas as pistas, é para isso que seu trabalho existe. Ele não seria um bom detetive se ficasse parado por pressentir que poderia haver uma armadilha. Não dava para saber, afinal. Sua preocupação atual era com Jimin, mas ele estaria sob a vigilância de Yoongi e de Seokjin durante esse intervalo. Às vezes, Jungkook pensava que ele era o único que se importava com a segurança do menino, mas não era exatamente verdade.
De qualquer forma, ele tomaria cuidado quanto às possíveis armadilhas. No entanto, seu único propósito agora era saber se Hannah estava mesmo naquele motel. Ficar parado estava fora de suas cogitações.
– Ric, Layla, peguem os coletes. – por fim, determinou. – Encontro vocês no estacionamento.
A dupla moveu-se para longe, nenhum deles indeciso sobre a pequena operação. Yoongi aproveitou-se do espaço vazio para se aproximar de Jungkook e falar:
– Tem certeza que não quer que eu vá com você? – perguntou baixinho, seu estômago revirando-se numa palpitação estranha.
– Cuide das coisas por aqui e fale com o Seokjin sobre o bloqueio. Vai ser mais seguro se tudo estiver fechado. – ele o olhou cautelosamente. – Se houver muitos homens de vigia, então eu pedirei outra equipe de reforço. É o meu trabalho investigar isso por dentro e por fora, de cima a baixo. Apenas siga minhas recomendações.
Apesar do pressentimento desconfortável que subiu pelo estômago de Yoongi, ele acabou assentindo.
– Mantenha contato comigo. – disse por fim.
Jungkook sorriu na direção dele e então se virou para longe. Olhares de apreciação caíram discretamente sobre ele e o seguiram até ele desaparecer no interior do elevador. Não precisava de muito raciocínio para saber que todos ali sabiam da fantástica reputação de Jungkook.
Sozinho, Yoongi se flagrou sentando em uma cadeira próxima, suas vistas ainda congeladas no caminho que Jungkook seguiu.
✮✮✮
Jungkook dirigiu por uma avenida deserta, com estradas oleosas e um nevoeiro absurdo. As sombras volúveis das árvores ao redor corriam contra seu rosto através do para-brisa. No painel do carro situava-se o aparelho digital que transmitia sua localização e a de Hannah simultaneamente.
Um pouco mais atrás, o veículo de Layla lançava seus brilhosos faróis na traseira do seu, enquanto Ric dirigia uma Tahoe preta nos fundos. Jungkook rezou, para quem quer que fosse, para ele não piorar as coisas quando encontrasse a menina. Ele sabia lidar com situações de vulnerabilidade, mas não exatamente com memórias perdidas.
Ele não gostava muito quando sua mente voava de volta para o prédio, porque ela o fazia repensar sobre sua decisão de ter saído de lá quando na verdade poderia ter enviado alguém para essa tarefa. Entretanto, Jungkook gostava de desafios, principalmente quando eles vinham até sua porta, apesar de não ter certeza se essa missão tinha algum peso. Mas os seus pensamentos o faziam pensar que sim.
Dentro do carro, ele conseguiu ouvir a própria respiração irregular enquanto guiava a Mercedes para uma via mais escondida na escuridão após trinta minutos de jornada. À distância estava o motel, piscando suas luzes neon no topo da fachada, bem como suas portas alinhadas no final do caminho. Antes da coluna de portas havia uma cabine de recepção, onde uma mulher gorduchinha estava contando moedas.
Layla e Ric estacionaram os veículos paralelamente no trecho ramificado e desligaram os faróis. Eles tinham uma visão perfeita das portas de cada aposento, mas agora precisavam saber em qual destes Hannah estava. Os arredores do motel estavam em silêncio, exceto pelo som distante do trânsito e das farfalhantes folhas secas no chão. Jungkook consultou o sistema de posicionamento, mas o aparelho não fornecia o alojamento exato.
– O que devemos fazer? Esperar? – Layla perguntou na escuta.
– Não estou vendo ninguém. – Ric comentou em seguida.
Jungkook lançou um olhar longo e desconfiado à escuridão, realmente não encontrando nenhuma movimentação suspeita. Ele só conseguia distinguir o contorno escuro das árvores agigantando-se atrás do motel. Se Hannah estava dentro de uma daquelas portas, era esperado que pelo menos um capanga estivesse de espreita do lado de fora. Mas isso não parecia estar acontecendo, no entanto.
– Aguardem um pouco mais. – recomendou Jungkook, esperando ver algo além da neblina.
Não importava se eles haviam sido cuidadosos ao cobrir seus rastros. Eles teriam deixado algo passar. Por isso era tão importante manter discrição, qualquer barulho estranho seria imediatamente percebido.
– O que acha de eu perguntar para aquela mulher? Ela deve ter visto alguma coisa. – Layla ofereceu-se em questão de segundos.
Ela definitivamente não gostava de obedecer às ordens do sexo oposto.
– Layla, melhor não. – Jungkook negou, mas ela deu uma risadinha.
– Qual é, se eles estão aqui precisam de um empurrãozinho para aparecer. Posso lidar com alguns marmanjos.
– Layla-
– Apenas fiquem de olho.
Com isso, ela deixou o carro e bateu a porta devagar, inspecionando em volta para ter certeza de que ninguém estava vendo-a. Jungkook engoliu sua recusa e forçou-se a permanecer em silêncio, não gostando nada disso. A ponta de seus dedos deslizou até o coldre, onde roçou o cabo da arma em total alerta enquanto a vigiava.
Layla fez o seu caminho sem nenhuma dificuldade, apenas manteve os olhos atentos a fim de evitar qualquer ataque surpresa. Ela deslizou as botas por cima de poças rasas e alcançou a próxima travessia, fabricando o melhor sorriso quando ganhou os olhos da moça.
– Posso ajudá-la, querida? – a mulher perguntou enquanto enrolava as moedas em um saquinho.
– Todos os quartos estão ocupados?
– Apenas os quartos de número 53, 22, 34, 84 e 126. Gostaria de escolher o seu?
Layla mordeu o lábio, mentalmente estudando suas opções. Cinco quartos estavam ocupados e cinco estavam disponíveis, uma matemática muito sincrônica, ela diria. Então, optando por uma abordagem diferente, a agente aproximou-se um pouquinho do vidro e murmurou:
– Eu estou atrás de uma garota. Ela é ruiva e baixinha, tem cabelos longos...
– Sua namorada?
Layla se calou brevemente e encarou-a um pouco confusa, mas no final sua cabeça balançou em negação.
– Não. Irmã. – aparentemente, ela tinha feito um trabalho razoavelmente bom, pois a mulher abriu um enorme sorriso. – Nós brigamos e ela veio para cá. Você sabe me dizer em qual quarto ela está?
– Olha, minha flor, eu teria que ligar para ela pedindo autorização. – a mulher lhe deu uma olhadela questionadora. – O que sua irmã veio fazer nesse lugar?
– Ela é rebelde, você sabe, adolescentes. – de repente Layla puxou uma foto de seu casaco e a mostrou. – A menina ruiva se parece com esta?
A mulher colocou os óculos para ver a fotografia, mas não esboçou nenhuma reação que Layla pudesse interpretar. Sua expressão era tranquila o suficiente por fora, mas por dentro ela estava tremendamente impaciente. Antes que a funcionária dissesse algo, os ouvidos de Layla explodiram quando a garganta de Jungkook foi desobstruída em um comando.
– Layla, abaixe-se!
Apesar de não gostar muito de receber ordens, aquela foi simplesmente acatada. Ela dobrou-se para o chão bem a tempo de evitar o tiro que atingiu o vidro da cabine e o espatifou em milhares de cacos. O corpo da funcionária tombou para trás após o tiro acertar sua cabeça. Layla tinha colocado a mão na orelha para abafar o zumbido da bala e então puxou seu revólver às pressas, tentando localizar o atirador entre uma pestanejada e outra.
Antes que pudesse detectar o atirador, outro tiro cortou o ar como uma navalha e de repente um corpo despencou do telhado. Ric o tinha acertado de longe, o fazendo deixar para trás sua sniper. Ela encarou-o com admiração enquanto ofegava, seu pulso batia nervosamente.
– Mandou bem, garoto. – ela falou, sem fôlego. Ric apenas sorriu.
– Ric! – Jungkook gritou como se para sinalizar algo.
O agente olhou para o lado e viu outro atirador emergir das sombras, então ele meio desviou, meio caiu para trás quando fugiu de um golpe. Jungkook disparou dois tiros no capanga e ele ruiu no chão como saco de lixo. Quando Ric olhou por cima do ombro, o enxergou parado atrás da porta do carro, formando uma barreira na frente de seu corpo.
– Venham!
Layla engoliu em seco no momento que viu a mulher morta na cabine, gesto rapidamente interrompido quando seu braço foi puxado por Ric. Eles correram de volta e se esconderam atrás dos veículos. Layla ficou em posição na lateral do capô enquanto Ric abrigava-se na traseira. Jungkook registrou uma nova ameaça, dessa vez ele tinha saído por uma das portas com alguém, imobilizando-a com o seu braço pelo pescoço. A prisioneira usava um capuz na cabeça e a arma do capanga estava apontada na direção da cabeça dela.
– Mate mais um de meus homens e eu degolo a cabeça dessa vadia! – o marmanjo berrou.
Jungkook refletiu sobre aquilo. Parecia um plano viável atirar daquela distância, mas a neblina poderia atrapalhar sua pontaria.
– O que acham disso? – ele questionou para os seus agentes.
– Eles estavam em posição de ataque. A nossa chegada estava sendo aguardada por eles. – Layla observou, tentando montar uma estratégia.
– Senhor, eu também acredito que tudo isso seja uma encenação. – Ric assegurou.
Jungkook não vacilou e nem se mexeu, mas o seu rosto escureceu como uma tempestade. Então ele disse:
– Ric, vá pela direita e tente cercá-lo. Layla, continue em posição e fique alerta ao sinal do Ric. Se isso for um espetáculo nós vamos saber.
Após a ordem, Ric cambaleou para trás e infiltrou-se nas sombras, que o permitiu caminhar lentamente em torno do motel. Jungkook tinha a sensação de que não havia tantos homens de espreita, pois eles já teriam aparecido para proteger o território. O que fazia-o pensar que a aparição daquele sujeito com a suposta vítima podia ser o plano final.
– Você vai pedir o reforço? – Layla quis saber, falando baixinho para ninguém mais ouvir.
– Não. – ele disse. – Tem algo estranho aqui.
– Claro que tem, aquela não é a Hannah.
– Estamos perdendo tempo, então? – ele virou sua cabeça na direção dela. – Se ela não está aqui, então por que o sistema do Yoongi a detectou? Não faz sentido...
– O sistema dele pode ter sido invadido.
– Namjoon?
Layla fez que sim. – Ele é um ex membro da academia. Eu não ficaria surpresa se ele fosse capaz disso. Isso seria muito útil para ele.
A conversa deles foi interrompida um segundo mais tarde por uma tossida e um engasgo. Os olhos de Jungkook encararam à distância, sem piscar, não indicando nada de seus pensamentos, e então ele viu Ric com o braço ao redor do pescoço do marmanjo. A arma dele tinha sido derrubada no chão, assim como a garota não se encontrava mais em seus braços. Ela estava tremendo, os braços amarrados e o rosto coberto, mas era possível ouvir os seus soluços.
Por fim, Jungkook correu para ajudá-lo e Layla o seguiu no instante seguinte. Aproximando-se, um sorriso perverso traçou os lábios do sujeito quando ele viu mais de perto o rosto do detetive, que o ignorou a princípio e focou na garota. Seu queixo apontou para ela e então Layla removeu o seu capuz.
Como previsto, não era Hannah.
– Quem é você? – Jungkook interpelou.
– Meu nome é Lilian. – com a voz embargada, ela disse. – Eles me prenderam e disseram que se eu gritasse seria morta.
– Ela não está na lista de desaparecidas. – Layla apontou.
– O quê? Não. Eu estava viajando com meu namorado e decidimos passar a noite aqui por conta da neblina. Eu nem sei quem são esses caras.
– E onde está seu namorado?
– Lá dentro. Eles o prenderam, depois o amarraram.
Layla desenrolou seu bracelete e o agitou para que a ponta afiada aparecesse, em seguida cortou a corda nos pulsos dela, fazendo-a cair sobre o chão empoeirado. A refém examinou os próprios braços livres e lhe agradeceu.
– Volte para dentro e tranque a porta. – Jungkook sugeriu, sua expressão estava séria desde o primeiro segundo. – Não abra para ninguém além da polícia.
A moça empurrou-se para dentro do alojamento e bateu a porta, aferrolhando-a às pressas. Jungkook inspecionou o rosto do marmanjo em seguida, que inutilmente resistiu a compressão de Ric e então riu. Seus dentes afiados brilharam na penumbra, mas eles nem de longe assustaram Jungkook.
– Você é um idiota, detetive. – ele rosnou, meio raivoso, meio zombeteiro. – Caiu feito um patinho no plano do mestre.
Os olhos gélidos de Jungkook vasculharam a redondeza, e Layla teve a sensação de que ele estava caçando alguma coisa. O sujeito, no entanto, prosseguiu com o insulto.
– Eles não estão aqui, detetive. Nem nunca estiveram. – Jungkook estava possivelmente permanecendo calmo, mas bastou o marmanjo erguer uma espécie de dispositivo para ele apertar os próprios dentes. – Está vendo isso? Foi através disso que eu consegui te manipular fazendo pensar que a garotinha estúpida estava aqui. Namjoon pensou em tudo.
Um pequeno ponto vermelho pulsava no aparelho dele, da mesma forma que ocorreu com o de Jungkook. O satélite tinha fortificado o sinal após ele expor o minúsculo dispositivo, indicando de fato que a posição vinha daquilo. Layla pareceu em choque – ou furiosa –, enquanto Jungkook permaneceu em absoluto silêncio, para só então sentir intuitivamente que havia um problema... da pior espécie.
– O prédio. – ele disse, sua voz sumiu por um segundo enquanto o ar frio tomava conta de suas roupas. – Precisamos voltar. Agora.
Ric desarmou o homem em seus braços, arrancando suas facas e armas para longe do alcance dele. Jungkook se virou para longe e correu na direção do carro, deixando o cara para trás. Ele foi usado por Namjoon como uma mera distração, não era a real ameaça para o detetive naquele momento, por isso não se importou em largá-lo. Layla o alcançou, sem tempo para remover os orvalhos de sua calça, e então se afundou no banco do motorista. Ric pegou a Tahoe e bateu a porta, sendo o último entre os três a fazer o motor funcionar.
Em questão de segundos, os pneus dos carros fizeram um arco na pista e deram meia volta. Jungkook pisou no acelerador, sem tempo para pensar em outra coisa que não fosse retornar para o prédio. Ele tinha prometido que pararia essa guerra, apesar de haver um interesse pessoal no resultado. A tentação de lutar cresceu em seu peito, tal como a vontade esmagadora de encontrar Namjoon. Se ele tocasse em um fio de cabelo de Jimin, Jungkook pensou, pela primeira vez Namjoon conheceria sua agressividade.
Ele tentou ligar para Yoongi, mas a chamada caiu no último toque. Suas três tentativas não tiveram sucesso e isso o fez bater as mãos no volante. O interior de seu carro foi tomado por um silêncio espesso e expectante, nem mesmo a sua respiração tinha algum barulho agora. As árvores ao redor cruzavam a lateral do vidro como borrões em movimento. Ele desviou de três veículos em sequência, ouvindo buzinas e xingamentos no fundo, mas aquilo pouco o importava.
Cerca de quinze minutos mais tarde, o cume do prédio do FBI apontou entre as nuvens à distância. Aquela visão fez Jungkook soltar a respiração instantaneamente e pisar mais fundo no pedal do acelerador. Ele percebeu através do espelho retrovisor que o carro de Layla e Ric estavam tentando alcançá-lo. No começo ele sentiu alívio por finalmente estar de volta no edifício, mas de repente essa sensação foi embora. Ao longe, ele viu as luzes do prédio todas apagadas.
Sua temperatura pareceu sofrer uma queda brusca, principalmente quando seus olhos avistaram um punhado de viaturas paradas na área externa, seus feixes de luzes piscavam na noite enevoada. Policiais, tanto do FBI quanto de fora, estavam amontoados, uns pareciam desesperados, outros conversavam entre si. Um helicóptero sobrevoava por cima do edifício com suas hélices cintilando sobre o céu noturno. Ali, Jungkook teve a certeza horrível de que algo ruim tinha acontecido.
Tentando se concentrar, o detetive parou o carro quando os alcançou e saltou para fora. Ele começou a andar às pressas, sem saber exatamente para onde estava indo, somente se concentrou em guiar os próprios pés para o meio da pequena chusma. Seu olhar observou em volta de forma impotente, tentando encontrar alguém de sua equipe, mas o nevoeiro estava atrapalhando sua visão. Layla o gritou um pouco mais atrás, mas sua voz passou flutuando por ele, que continuou a se orientar para perto do prédio, os pés afundando-se em poças de lama.
No meio da neblina escura, Jungkook enxergou as características de Yoongi e então ele se pôs a correr, cada passo mais largo do que o outro. Yoongi, que estava de costas, ouviu alguém vagando atrás dele, se aproximando, e então rodou para encontrar seu parceiro, que aparentava não ter parado um segundo para recuperar o fôlego.
– O que aconteceu aqui? – ele perguntou num reflexo de adrenalina.
Seu parceiro não o respondeu, no entanto. Jungkook lançou um olhar apressado ao redor mais uma vez, tentando encontrar a resposta para sua própria pergunta. Seokjin estava mais afastado, conversando preocupadamente com o chefe da polícia de Vancouver. Ele também encontrou as meninas que foram resgatadas recebendo garrafas de água e mantos para se protegerem do frio. Algo naquele lugar estava ausente. Jimin não estava entre elas.
– O Jimin – ele disse para Yoongi, que contorceu o rosto, recusando-se a falar. – Onde ele está? Me diz!
– Ele ficou preso lá dentro. – Jungkook vacilou para trás após ouvir aquilo. – E o Namjoon está com ele.
– O que-
– Nós fizemos de tudo para protegê-lo. Tudo indica que o Namjoon já estava dentro do prédio antes mesmo de tudo isso acontecer.
– Está me dizendo que todo mundo conseguiu sair, menos ele? É isso? – Yoongi nunca tinha ouvido aquele tom de voz antes, mas no fundo ele compreendia o seu desespero. – Por que vocês estão aqui parados? Por que não fazem nada? Eu vou tirá-lo de lá agora.
– Pare! – ele o segurou pelo braço quando o viu fazer menção de se mexer. – Se você passar por aquela porta vai morrer asfixiado. Namjoon soltou um gás tóxico por todo prédio. Ele fechou as passagens do corredor com barreiras de aço, então tivemos que evacuar pelo estacionamento inferior ou todo mundo iria morrer.
– Você... Você me prometeu que cuidaria dele-
– Eu juro que tentei, Jungkook. Não pude fazer nada porque o centro de operação foi hackeado, ele parou todos os sistemas e eu perdi o controle de todos os computadores. – o coração de Jungkook estava batendo muito forte, o suficiente para fazê-lo sentir bem claro em torno de seus ouvidos. – O Namjoon criou a armadilha perfeita para nós. O desgraçado inventou uma ameaça falsa e depois lhe usou para atrair para longe, para que você não pudesse proteger o Jimin. Ele não queria a equipe longe, ele queria você longe.
Uma onda de náuseas rolou através de Jungkook. Namjoon supostamente estava dentro do edifício muito antes de eles cogitarem fortalecer a segurança, certamente com a ajuda de alguém através do subsolo. Talvez não tenha sido o segundo informante que matou a Jennie, talvez Namjoon tenha feito isso com as próprias mãos.
– Seokjin ligou para a Central de Emergência, eles estão a caminho. Mas por enquanto não podemos fazer nada a não ser esperar. – prosseguiu Yoongi.
Pressionando suas têmporas, Jungkook deu um passo para trás em completo choque, seus ombros subiam e desciam a cada respiração, ele podia sentir o ar ofegante entre seus dentes, bem como a dor surda em sua cabeça. Rápida. Vertiginosa. Inesperadamente, se pegou flagrando o terraço do prédio, não gostando nem um pouco de imaginar o seu garoto preso entre aquelas paredes.
Uma gota de suor deslizou por baixo de sua roupa com aquele pensamento. Estava doendo muito imaginá-lo trancado naquele lugar com a pessoa que ele mais temia encontrar, e doía ainda mais saber que não podia fazer nada para salvá-lo. Ele se odiou por estar tão reduzido ao choque ao ponto de borrar qualquer pensamento lógico.
Uma sensação agarrou seu coração de repente, puxando e torcendo. Seu corpo ficou duro e então ele soube naquele momento que precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa, menos ficar parado enquanto tudo ao redor desmoronava.
Ele salvaria Jimin nem que fosse a última coisa que fizesse na vida.
✮✮✮
Eu gostaria de começar as notas finais falando sobre a cena inicial. Talvez alguns se perguntem: "Jimin deveria se sentir tão confortável para sentar-se ao colo de outro homem mesmo depois de ter sido brutalmente violentado?"
Não existe um padrão de comportamento frequente para todas as vítimas de abuso, algumas vítimas relatam sensibilidade ao toque físico, outras temem entrar em um relacionamento por medo de serem abusadas de novo, outras conseguem ter uma vida "normal", com relacionamento normal e vida sexual ativa, mas deixando-se afetar emocionalmente pelo trauma em alguns momentos da vida. No que se refere o personagem do Jimin, ele consegue manter um relacionamento com outra pessoa, mas ele é sensível principalmente às cicatrizes. O personagem, no decorrer da trama, já demonstrou insatisfação com o próprio corpo, sensibilidade ao toque nas costas, ansiedade, ideias suicidas e etc. Tudo isso vai ser melhor apresentado na segunda temporada. Espero que tenha ficado claro o porquê de eu colocar essa cena na fanfic. :)
Enfim, como muitos já previam, namjoon conseguiu entrar no prédio, na verdade ele já estava lá há um tempinho e isso com a ajuda de um terceiro; o que vem em seguida é o ápice da fanfic, vocês finalmente vão saber o motivo da vingança, como ele conseguiu entrar e todas as cenas serão melhores explicadas no próximo cap.
Então respirem fundo, não deem spoiler no twitter (muitas pessoas estão na metade da fic) e aguardem a próxima att com o coração na mão.
Beijinhos! Vejo vocês na próxima!
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