⍟ sixty three
[ATENÇÃO: este capítulo pode despertar algum gatilho para pessoas sensíveis ao conteúdo em questão, sugiro que pule as cenas caso sinta-se desconfortável com a leitura]
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30 MINUTOS ANTES
Os olhos de Jimin correram de um lado a outro daquele cômodo. Ele estava dentro do que parecia ser uma espécie de sala blindada. As paredes eram incrustadas com aço e haviam luzes emergenciais em cada ponto específico, mas todas elas estavam desligadas. Foi então que as meninas surgiram atrás dele, cada uma sendo conduzida para o interior daquela área.
A pesada porta de metal foi fechada do lado de fora, mas uma dupla de policiais permaneceu dentro. A postura de cada um irradiava poder e autoconfiança, o que significava dizer que alguma coisa muito perigosa estava acontecendo através daquelas paredes e eles estavam ali para vigiá-los. Jimin sentiu uma sensação de dedos frios subindo por sua espinha quando cogitou tal possibilidade, então ele se abraçou instintivamente.
As meninas foram se dispersando, algumas ficaram sentadas, outras optaram por ficar unidas e de mãos entrelaçadas. Jimin, em contrapartida, encostou-se ao longo da parede enquanto tentava decifrar o que estava acontecendo. Ric, o agente que o trouxe, estava em companhia de outro. Sua aparência era um tiquinho semelhante com a de Jungkook, talvez fosse efeito da pouca idade que ambos tinham.
Jimin sentiu-se tentado em perguntar para ele o que estava acontecendo, mas o agente não estava com cara de quem lhe contaria os fatos. Por um momento, então, o garoto se perguntou se Jungkook sabia o motivo por trás de toda aquela movimentação. Se ele soubesse, Jimin pensou, certamente viria buscá-lo, pelo menos para mantê-lo mais calmo.
Ele finalmente tomou a decisão de conduzir-se até Ric após matutar se seria uma boa ideia ou não. Suas costas endureceram conforme reduzia a distância entre eles. Quando Ric se deu conta de sua proximidade e, portanto, o encarou, foi então que Jimin sentiu os pelos de sua nuca latejarem.
– Ei, detetive Ric. – ele o cumprimentou com um sorriso nervoso, tratando de assegurar sua compostura. – O senhor tem um minuto?
Ele assentiu.
– Por que nós estamos aqui? Digo, está acontecendo alguma coisa que nós não sabemos?
– Seokjin me pediu para trazer todos vocês para cá. Não posso dar mais detalhes, me desculpe. – Jimin estava tentando descobrir o quanto ele sabia, mas sua resposta foi decepcionantemente distraída.
– Ah – o rosto de Ric pareceu desmoronar quando ele abaixou os olhos brevemente. – Então não podemos sair daqui? Até quando?
– Ouça, tudo o que precisa saber é que as coisas vão se resolver. Todos vocês vão ficar bem.
A coluna do menino enrijeceu. Realmente, as coisas não estavam nada bem e qualquer que fosse o problema em questão, também era uma ameaça para ele e as meninas. Naquele momento, Jimin desejou estar com Jungkook mais do que nunca e pensar que ele poderia estar longe fez um grande peso revirar-se no seu estômago.
De repente a porta metálica abriu-se e então o menino deu um passo involuntário para trás. Um outro agente entrou, não totalmente, mas seu tronco inclinou-se para dentro numa fração de segundo, o suficiente para que Jimin ouvisse sua voz sussurrada no ouvido de Ric.
– O senhor Seokjin está lhe chamando no Centro de Operação.
Ric olhou-o confuso, em seguida explorou em volta. Jimin fingiu estar arrumando sua blusa, como se ela estivesse de algum modo mal ajustada, somente para ganhar tempo e fingir que não estava prestando atenção. De cabeça baixa, ele escutou o agente Ric responder:
– Cuide das coisas por aqui, não devo demorar.
Dito aquilo, ele desapareceu pela porta e deixou o agente recém-chegado em seu lugar. Jimin não se lembrava muito bem de seu nome, mas sabia que ele foi um dos participantes na operação em Madri. Ele parecia muito calado, nem sequer fez contato visual com o garoto quando chegou. Jimin sentiu-se invisível às vistas dele, por isso recuou lentamente e se virou para longe.
Ele sentou-se próximo das meninas, mas elas também estavam entretidas em conversas que envolviam a situação atual e nem se deram conta da presença dele. Jimin abaixou a cabeça e escondeu seu rosto entre os joelhos. Em circunstâncias normais, não se importaria de ficar preso naquele lugar contanto que estivesse seguro, mas achava uma covardia não saber o porquê de serem mantidos presos.
Aonde quer que Jungkook esteja agora, sem dúvidas ele sabe o que está acontecendo e Jimin esperava que, de algum modo, ele viesse para buscá-lo. Tinha desistido de viajar com seu pai porque acreditou estar mais seguro no prédio, mas estava claro que sua decisão não tinha sido tomada apenas por isso. Na realidade, ele acreditava que Jungkook poderia protegê-lo, não exatamente o FBI.
A porta de aço rangeu novamente e dessa vez uma outra figura emergiu na entrada. Jimin ergueu a cabeça, encontrando alguém estranhamente familiar andando para dentro. Os olhos do sujeito pesquisaram ao redor, parando somente quando caíram sobre o menino. Ali, os pensamentos de Jimin mergulharam mais fundo e então ele se recordou de sua fisionomia.
Aquele era o guarda que sempre patrulhava a noite. Foi ele, aliás, quem ficou observando Jimin dentro do carro de Jungkook quando o detetive o tirou do prédio no mesmo dia que Rose foi desmascarada no estacionamento. Quase nunca o encontrava nos corredores porque ele sempre esteve responsável pela segurança externa.
Jimin segurou sua respiração no momento que o viu se aproximar lentamente, debatendo se era sábio ou não ignorar o acercamento dele. A figura chegou mais perto, agigantando-se quando parou na sua frente. O garoto olhou-o por baixo, uma sensação hiperativa dominando-o. Ele parecia ter dois metros de altura daquele ângulo e tinha o físico de um soldado.
– Você é o Jimin? – ele perguntou, sua voz era grossa.
O menino sufocou as palavras em sua garganta e as engoliu de volta, deixando apenas um aceno como resposta. O guarda mexeu o queixo para o lado, gesto esse que Jimin entendeu como um convite para segui-lo. A princípio, ele não o fez, mas supôs que o grandalhão não tentaria nada contra ele dentro daquele lugar cheio de pessoas. Então, ouvindo seus instintos, ele levantou-se e caminhou relutantemente atrás dele para um canto mais afastado.
Eles não tinham nenhum assunto para tratar, ainda mais em um canto distante, por isso Jimin presumiu que talvez alguém o tivesse enviado aqui para lhe passar uma mensagem. O guarda remexeu o bolso interno de seu uniforme e então lhe esticou uma folha de papel amassada. Jimin encarou aquilo com a testa franzida, alternando entre o papel e o cara.
– O detetive Jungkook me pediu para lhe entregar esta carta.
O garoto quase ficou chocado, mas sua expressão indicava mais uma leve surpresa. Ele sentiu sua aflição se dissolver instantaneamente quando ouviu o nome dele. O guarda, cujo nome Jimin ainda não sabia, apontou para a carta com um pouco mais de força, o oferecendo a pegar. O garoto apalpou o envelope e pôs as mãos dentro, onde acabou puxando um papel rabiscado com caneta preta.
Em seguida, ele leu:
Querido Jimin, não pude lhe encontrar pessoalmente pois o prédio está em confinamento. Ainda não sabemos o que houve, mas não quero preocupá-lo. Por isso lhe escrevi esta carta e a enviei pelo Dennis, já que ele é o meu agente de confiança.
Por favor, encontre-me na sala de treinamento, estou com saudade de sua companhia.
J. Jungkook
Jimin releu aquela carta umas quatro vezes, seu coração palpitando com força dentro da caixa torácica. Tinha algo estranho na forma como Jungkook lhe escreveu aquela carta, não que ele estivesse desconfiando do convite, mas o uso das palavras não se assemelhava com a maneira que Jungkook o tratava. Havia muita formalidade nos vocábulos, ele nunca o chamou de querido, tampouco o havia dito que tinha um agente de confiança, ainda por cima esse tal de Dennis.
Contudo, toda essa formalidade podia ser uma forma de não deixar tão na cara o quão envolvidos eles estavam, afinal, Jungkook não entregaria para qualquer policial uma carta o chamando de anjo. Ele pensou, também, que talvez Jungkook não pudesse aparecer pessoalmente para buscá-lo, por isso criou um esquema para atraí-lo para fora e, então, encontrá-lo.
No final, no entanto, ele dobrou a folha e a guardou dentro do envelope, secretamente aliviado por imaginar a cena em sua cabeça. Sua expressão suavizou e pareceu que, se não estivesse com uma centelha de desconfiança, ele poderia ter considerado sorrir. Dennis estava imóvel à sua frente, como se esperando uma resposta.
– Tem certeza que foi o detetive Jungkook quem escreveu? – finalmente perguntou, sentindo-se intrinsecamente estúpido, pois aquelas letras eram de Jungkook e foram escritas a mão por ele. Jimin conhecia sua caligrafia a quilômetros de distância.
– Foi ele mesmo que me entregou. Não sei o que está escrito aí, mas ele me disse que você entenderia do que se trata.
Jimin soltou um suspiro de conflito, ainda não parecendo tão convencido se deveria ir.
– Me disseram que não podemos sair daqui. Por que o detetive Jungkook me pediria isso? – Dennis inalou fundo depois de um momento de surpresa.
– O detetive Jungkook nunca foi tão claro quanto ao que quer, se ele diz que você deve saber, então é porque você sabe. – uma sensação estranha apertou o estômago de Jimin quando ele disse aquilo, roubando um pouco sua respiração. – Preciso ir agora, você vem?
Aquela pergunta fez a garganta do menino azedar, pois ele realmente não sabia se queria ir. Se Jungkook tivesse mesmo mandado aquela carta, ele certamente ficaria chateado se o esperasse em vão. No entanto, Jimin não tinha certeza se Dennis era confiável, afinal de contas, ele passou a lhe olhar estranho depois de sua saída com Jungkook.
Dennis, no entanto, se virou e começou a caminhar para longe. Jimin ficou parado no mesmo lugar por mais dez segundos após a sua saída, se perguntando se ele deveria tentar compreender melhor a carta ao invés de seguir cegamente sua carência por Jungkook. Ele tinha estado, no mínimo, ansioso para encontrá-lo, mas não imaginou que fosse dessa forma.
Após um minuto pensando, Jimin decidiu segui-lo por trás, hesitando uma vez ou outra. Ele não estava seguro sobre o que queria de fato, mas tinha certeza que não se sentiria bem em ser acompanhado por esse grandalhão.
– Estou levando o garoto para o detetive Jungkook. Saia da frente, Peter. – Dennis disse para ele, que o olhou em confusão. Jimin viu naquela frase razão suficiente para não gostar dele.
– O senhor Seokjin não autorizou a saída de ninguém. – Peter rebateu.
– Foi uma ordem do detetive Jungkook, se quer discutir, então discuta diretamente com ele.
O agente Peter se calou imediatamente, depois deu uma olhadela para o menino, que encolheu os ombros com aquele contato visual. Peter era muito mais baixo que Dennis, não era um grande concorrente no quesito de força e tamanho. Jimin estava prestes a desistir de acompanhá-lo quando Peter abriu espaço para eles.
Dennis sorriu traiçoeiramente e passou por ele com força. O garoto tomou aquele gesto como um incentivo e transportou seus pés para fora daquele lugar, ouvindo a porta bater às suas costas. Um enorme corredor esticava-se adiante, meramente silencioso e camuflado com paredes de espuma acústica. Jimin forçou seus ouvidos a escutar algo, mas não houve resultado. Nada.
– Eu posso ir sozinho. – disse Jimin, forçando um sorriso tranquilo, sua voz ainda estava trêmula de medo.
– Tudo bem. Você sabe o caminho?
O garoto assentiu, apesar de não haver convicção em seu gesto, e manteve-se travado e com dificuldade de sorrir. Jimin não se sentiu nada confortável quando ele lhe deu um tapinha de felicitações no ombro, seu gesto tinha soado um pouco zombeteiro demais. Então, posteriormente, o grandalhão se virou na direção contrária e se moveu para os confins do corredor, virando apenas quando alcançou o elevador. Logo Jimin o perdeu de vista completamente.
Uma mistura de alívio e preocupação brilhou em seus olhos, em seguida ele avistou uma porta escura no canto direito, levando alguns minutos para decidir-se. Então, de repente, ele arrastou seus pés naquela direção. Engolindo discretamente, Jimin encontrou um lance de escadas sombreadas, seus olhos chiaram com a ansiedade, então ele resolveu descer por elas.
Conforme descia a escada, Jimin sentiu um pressentimento desconfortável crescer em seu estômago. Por que Jungkook mandaria uma carta quando na verdade podia fazer isso pessoalmente? Talvez ele não quisesse chamar atenção, o menino cogitou, uma vez que sua proximidade com Jimin tinha se tornado o assunto principal entre os guardas nos corredores. Mas ainda era estranho pensar que ele havia usado essa estratégia.
E para piorar, o menino ainda continuava incerto em relação a Dennis. Jungkook nunca o mencionou antes, nem mesmo o cumprimentava nos corredores. Como alguém assim seria um agente de confiança? Não faz sentido, ele pensou.
Contudo, ao invés de recuar para a sala de onde saiu, ele decidiu, em primeiro lugar, verificar se Jungkook estava mesmo na sala de treinamento. Eles não tinham se encontrado tantas vezes por lá, mas Jimin conhecia o caminho, e seus instintos o diziam que ele não estava muito longe. Então, ele deixou-se arrastar em completo silêncio para além da área descoberta e vazia de mobília, parando somente para olhar para os lados.
Acelerando o passo em linha reta, Jimin alcançou o elevador de baixo e o acionou. Cerca de um minuto depois a porta se abriu e ele mergulhou para dentro, um tanto ansioso com a ideia de encontrar Jungkook. Ele não se sentia muito confortável por fazer tal coisa sozinho, pois isso o fazia ter a impressão de que estava desprotegido.
Aproximadamente alguns segundos depois, as engrenagens do elevador rangeram em interrupção e a porta correu para o lado. Jimin se atirou para fora, tentando recolher sua compostura para andar até a outra direção. Mais um corredor sem fim se estendeu às suas vistas e ele lembrou-se que a biblioteca ficava logo em cima de sua cabeça, então a sala de treinamento devia ficar a sua esquerda. Ele ouviu seu cálculo mental e caminhou, portanto.
Ao longe, um enorme espaço com portas estava quieto e escuro, exceto pela enfraquecida luz que vinha de dentro de uma porta entreaberta. Era o espaço de treinamento de lutas. Jimin fez uma pesquisa frenética pelo local quando um pensamento aterrorizante tomou conta dele por um instante. Decidido, por fim, ele sugou uma respiração forte e andou lentamente até a porta destrancada, beirando o canto das paredes em prevenção.
Um minuto depois, Jimin alcançou a maçaneta gelada e a porta deslizou aberta em um rangido, sem que ele precisasse fazer qualquer esforço para abri-la.
– Jungkook? – silêncio.
Ele inspecionou o interior da sala, se dando conta que sua voz tinha crepitado com a pronúncia. O menino lambeu os lábios ressecados como forma de incentivo próprio e então deu um passo para dentro, realmente esperando ver Jungkook nos fundos da sala. Seus pés o levaram para o meio do lugar com um pouco de receio.
Ele observou mentalmente o ambiente e viu os equipamentos de treinagem pendurados nas paredes como forma de decoração, como também uma mesa pequena e esquisita no meio da sala nunca vista por ele, sustentando o que parecia ser um projetor. Havia cadeiras caídas pelo chão e um cheiro estranho pelo ar.
Quando sua percepção o alertou de que ele estava sozinho, um pensamento horrível o preencheu de dentro para fora, o virando do avesso. Suor escorria por baixo de sua camisa e ele não conseguia forçar uma única respiração profunda. Cada inalação veio rasa quando o pânico começou a apertar o seu peito.
– Calma, Jimin... Respira. – ele disse a si mesmo, tentando, de alguma forma, se convencer de que Jungkook podia ter se atrasado, mas nem ele mesmo acreditou nisso.
No entanto, ele estava positivamente certo de que algo estava muito errado e que seu pensamento não serviu de conforto. Corra! Ele ordenou a si mesmo em seguida.
Girando, o garoto correu para fora da sala, mas a porta foi fechada bruscamente antes que ele pudesse alcançá-la. Jimin puxou a maçaneta depressa, tentando abri-la sem sucesso. Como? Ele se perguntou enquanto batia na porta e a empurrava, mas a fechadura não cedeu. De repente, as luzes de dentro se apagaram e tudo mergulhou na escuridão.
O garoto sufocou um grito e cambaleou para trás. Suas costas encontraram a parede traseira, ofegante, onde ele a tateou em busca de apoio, suas pernas ameaçando fraquejarem. Ele quis gritar o nome de Jungkook, mas sua voz parecia engasgada de medo. Seus olhos começaram a lacrimejar, então ele limpou as lágrimas não derramadas e tentou ver para além da escuridão.
Nenhuma resposta veio, mas ele conseguiu ouvir o próprio coração martelando entre as costelas. De repente, um clarão chamou sua atenção, o fazendo perceber que o relâmpago de luz vinha do projetor. O aparelho havia sido ligado sozinho e agora refletia uma tela branca com uma mensagem em vermelho. A mente de Jimin pulou em muitas direções para entender com precisão o que aquilo significava.
Ele não tinha uma pista sequer do que era aquilo. Uma brincadeira de mau gosto, supôs.
Olhando em todos os ângulos da sala, descobriu que ainda estava sozinho, e por algum motivo isso o fez suspirar. O sangue pareceu subir até suas orelhas, fazendo com que ele não ouvisse direito. Obviamente, também não estava pensando direito, pois para ler a mensagem reproduzida, Jimin decidiu cruzar lentamente a distância até a tela refletida para poder ler o aviso em letras graúdas.
►APERTE O PLAY PARA JOGAR.
O garoto recuou uma pegada, realmente incrédulo com aquela brincadeira. Ele não queria jogar, definitivamente, mas não sabia o que aconteceria caso se recusasse a fazer isso. Ignorando o aperto no estômago, ele localizou um teclado na parte inferior da mesa e o pegou com as mãos trêmulas. Em seguida apertou o play, disposto a encerrar de vez o que quer que aquele jogo significasse.
►VOCÊ TEM 4 OPÇÕES, ESCOLHA A CORRETA E A PORTA ABRIRÁ. MAS, LEMBRE-SE, CADA ERRO TRAZ CONSIGO UM CASTIGO.
As emoções estavam tão conflitantes dentro do peito de Jimin que ele achou que elas iriam sufocá-lo. Ele não sabia se queria continuar com aquilo e até onde essa brincadeira o levaria, mas também não pretendia ficar preso naquela sala escura, ainda por cima sozinho. Seu coração deu uma batida nervosa quando se lembrou de Dennis. Com certeza ele estava por trás desse esquema, provavelmente gargalhando de seu desespero.
Então, ali, ele se amaldiçoou por ter confiado naquela carta. Alguém adulterou as letras de Jungkook e o atraiu para dentro daquela sala, pois desejava se divertir com ele e com o seu psicológico. Ele tinha sido escolhido para ser a peça chave daquela brincadeira, pensou.
Segurando as lágrimas, ele apertou uma das teclas. Então, uma nova mensagem emergiu.
►RESPOSTA ERRADA
PUNIÇÃO: LAPSO NO COMANDO CENTRAL
Subitamente, um vídeo foi sobreposto àquele recado, no qual apresentava imagens ao vivo do Centro de Operação. Yoongi estava em seu computador quando todos os aparelhos foram repentinamente desligados. Ele ficou temporariamente imobilizado, a expressão retorcida em confusão. Jimin o viu acionar todas as teclas na tentativa de fazer o sistema funcionar de novo.
– O que houve? – Seokmin apareceu na filmagem, ele parecia igualmente confuso com a desorientação de Yoongi.
– Eu perdi o controle do sistema. Está tudo parado. Estamos fora de todos os sistemas.
A respiração foi tirada de Jimin à força. Ele não tinha certeza se deveria largar o teclado no chão e correr ou continuar parado. Sua falha tinha aberto uma lacuna no sistema do FBI e causado um tumulto entre eles. Yoongi continuava atormentado no vídeo, ele esfregava a testa a cada dois segundos para limpar o suor. Jimin pôde ouvi-lo repetir o nome de Seokjin cinco vezes seguidas.
Tentando remendar seu desastre, o menino apertou outra tecla desajeitadamente, quase soluçando em desespero. Se antes ele não queria jogar, agora tinha certeza disso. Outra mensagem elevou-se.
►RESPOSTA ERRADA
PUNIÇÃO: BARREIRAS DE AÇO
Jimin engasgou um grito quando milhares de imagens de segurança mostraram os corredores do prédio sendo bloqueados por barreiras de aço. Seus dedos apertaram o teclado com força ao mesmo tempo que ele cambaleou para trás, completamente assombrado. Seus olhos tinham ficado perplexos e focados totalmente nas gravações. À distância, ele podia ouvir o barulho do metal deslizando e passos apressados acima de sua cabeça.
– Yoongi, faça isso parar! – Seokmin berrou na gravação.
– Eu não estou mais no controle. Quem está invadindo tem acesso às bases. É o Namjoon. Ele deve estar controlando os servidores principais de todo o prédio. Temos que evacuar agora. Vamos trazer todas as meninas para fora.
Na menção daquele nome, puro gelo fluiu sobre ele. Jimin sentiu-se congelar da cabeça aos pés, seu medo aprofundando-se. Seu corpo inteiro retinia, causando calafrios na sua espinha. Namjoon estava no prédio, e pior, fazendo seus truques psicológicos contra todos.
O teclado despencou de suas mãos suadas, ele podia escutar as portas aferrolhando-se ao longe. Tudo tinha sido meticulosamente preparado por Namjoon. Por um momento, Jimin se perguntou onde Jungkook estava.
– Por favor, pare! Pare!
Ele gritou para o silêncio, enfiando suas unhas nos cabelos em total aflição. Seus olhos perderam o foco pelas lágrimas, tudo tinha sido borrado nos cantos, sem detalhes, e então ele se agachou como uma concha, tentando não ver a desordem das pessoas para sair do prédio no vídeo. Jimin cobriu o rosto com as mãos e chorou, um temor absurdo apoderando-se dele.
Entre as frestas de seus dedos, o garoto viu uma recente mensagem sendo transmitida. Ela dizia:
►DESISTÊNCIA
PUNIÇÃO: GÁS DIÓXIDO DE ENXOFRE
– O quê? – ele gemeu baixinho.
A tubulação do prédio começou a esvaziar o gás incolor, deixando todos os setores com um odor irritante. Um tremor perceptível ondulou do coração de Jimin para o resto do seu corpo quando ele viu todo mundo correndo para a saída de emergência, tossindo e se queixando de ardência nos olhos. Yoongi tinha colocado a parte interna do cotovelo contra o nariz, mas seus olhos foram atingidos pelo gás.
– Eu vou buscar o Jimin. – ele disse para Seokmin, que tentava se proteger do gás com a roupa. – Peter disse que ele saiu, não posso deixá-lo.
– Você ficou maluco? Os elevadores foram bloqueados, o prédio está praticamente em confinamento. Isso é gás tóxico, Yoongi, você não vai conseguir chegar até ele sem uma máscara sendo que todas as passagens para a área de proteção emergencial foram trancadas.
– Eu não posso deixá-lo morrer!
– Ou morre ele ou morre vocês dois. Venha! – Seokmin o puxou para a saída contra a sua vontade e então eles correram pelo estacionamento inferior.
Uma voz aguda perfurou o crânio de Jimin como se fosse uma martelada, então ele apertou os olhos com força para interrompê-la, mas não adiantou. Ele se culpou por ter aceitado entrar nos truques de Namjoon, se não tivesse apertado nenhuma das teclas nada disso estaria acontecendo. Tudo aquilo era fruto de sua desobediência. Ele mesmo era o culpado, pensou.
Ele usou uma de suas mãos para pressionar sua testa a fim de aliviar a dor de cabeça a caminho. Estava se sentindo sufocado, principalmente porque sabia que não havia saída com todas aquelas barreiras de aço bloqueando as passagens. Jimin tinha sido encurralado, então qualquer decisão que tomasse agora não faria diferença.
– Faça. Parar. Por favor. – ele falou pausadamente, referente a sua respiração que começou a acelerar.
Alguma coisa foi plantada em sua cabeça como forma de restabelecer seu fôlego. A imagem de Jungkook surgiu em cores vívidas para deter sua crise, o fazendo aliviar um pouco a respiração. Pensar nele foi suficiente para o menino rebocar as lágrimas para fora dos olhos.
Eu preciso de você. Venha me buscar.
Ele não soube dizer quantos minutos se passaram até a porta da sala estalar de repente, destrancada. Jimin levantou a cabeça aos trancos, a ansiedade começando a queimar sua pele. Ele teve uma estranha sensação de sentir seu corpo murchando, tão intensa que o fez contrair. Seus olhos correram na direção da porta e então ele ergueu-se do chão, temendo avançar.
Engolindo, Jimin sentiu como se tivesse comido pregos e eles estivessem rasgando as paredes de seu estômago. O suor se estendeu por suas costas. Havia um fragmento de luz para além da porta, então ele pensou e repensou se deveria segui-la.
Ele não podia ficar ali parado, precisava encontrar alguma saída para o jardim, talvez uma passagem subterrânea ou quem sabe uma janela. Essa última opção foi descartada, uma vez que ele estava muitos andares acima e não conseguiria pular no solo.
Jimin procurou por alguma arma improvisada. Não havia tantas coisas naquela sala que pudessem ser úteis em sua defesa, mas qualquer ferramenta poderia servir, no mínimo, para dificultar quem quer que estivesse por trás daquela porta. No final, acabou pegando uma barra de ferro mediana.
Jungkook nunca o treinou com barras de ferro antes, mas as oportunidades que teve de ensaiar os exercícios de combate lhe dava uma vantagem com as mãos. Segurando a barra com força, ele se empurrou adiante, andando lentamente até a porta enquanto tentava não ranger a madeira no chão. As lágrimas estavam atrapalhando um pouco a sua visão, então ele as varreu para longe e continuou.
Abrindo a porta devagar, Jimin olhou para além do ambiente, não enxergando ninguém na penumbra. Outro passo. Agora ele estava um centímetro fora da sala, aparentemente sozinho. Pôde sentir sua respiração ofegante entre seus dentes, indicando seu nervosismo. A barra de ferro deslizou um pouco de suas mãos devido ao suor, o fazendo segurar com mais firmeza.
Quando Jimin fez menção de dar mais um passo não brusco, ele viu uma figura imóvel nas sombras do ambiente e então seu corpo travou instintivamente. Algo na postura daquela pessoa estava diferente, parecia baixa e rígida. Antes que ele pudesse se agarrar em uma lógica mental, a pessoa passeou alguns passos à frente e saiu das sombras.
– Hannah? – ele disse para si mesmo com a testa enrugada.
Ele continuou a observá-la com uma crescente ansiedade, afrouxando um pouco a barra em suas palmas. Hannah estava diferente agora. Ela usava uma vestimenta robusta, calças de couro com acessórios de armas, o cabelo estava na altura dos ombros. Por um instante, ele se perguntou brevemente como ela havia entrado, mas a resposta parecia óbvia: Namjoon.
Jimin lembrou-se do que Jungkook havia mencionado sobre Hannah ter sido manipulada. Se essa hipótese fosse verdade, então ele tinha de fazê-la se lembrar de quem era, apesar de ela não ter dito uma palavra até o momento.
– Hannah... – dessa vez sua voz foi elevada. Pela reação dela, deduziu que ela não havia gostado do modo familiar como ele a chamou.
– Meu nome não é Hannah.
Ele ficou chocado com aquelas palavras. Havia uma parte nele que Jungkook o alertou a não usar. A parte emocional. A parte que era inútil usar naquelas horas. Mas se reagisse com frieza, as falsas memórias que ela tinha criado se fortaleceriam.
Hannah deu mais um passo para perto, o suficiente para fazê-lo sentir um frio na barriga. Seu primeiro instinto foi correr para dentro da sala e fechar a porta, no entanto ele se abaixou e colocou a barra de ferro no chão, mostrando-se inofensivo. Hannah sorriu, seu gesto pareceu mais maligno do que benevolente.
– Ouça – começou ele, engolindo com dificuldade. – Eu não quero te machucar. Eu não sou o seu inimigo, Hannah. Somos amigos, lembra?
– Você não quer, mas eu sim. – ela falou com frieza. – Meu pai disse que eu poderia me divertir um pouquinho com você.
– Pai?
Conforme ela continuava a andar lentamente na sua direção, ele respondia recuando na mesma proporção, mas não ao ponto de deixá-la saber que estava assustado. Hannah segurava uma corrente na mão direita, que foi rapidamente suspensa na frente de seu rosto. Ela chacoalhou os elos, provocando um tipo de tinido agudo.
– Pegue a barra do chão. – Jimin não gostou de sua ordem, pois sabia o que isso significava. – Ou prefere lutar de mãos vazias?
– Eu não quero lutar com você.
Hannah revirou os olhos e então deu de ombros. Jimin sentiu uma onda de náuseas atravessar seu estômago quando viu sua reação. Ele estava completamente arrependido de seguir aquela carta. Tudo o que estava acontecendo era um erro enorme, consequência de sua curiosidade.
Ele ouviu um barulho rápido de pés. Tarde demais, seus sentidos identificaram a proximidade de Hannah. Ela surgiu com a corrente esticada e a lançou contra sua barriga, o fazendo escorregar para trás na parede e contrair seu tronco. Jimin interrompeu um grito de dor e rolou para o lado, desviando-se de outro ataque súbito. Dessa vez Hannah havia acertado a parede.
Com um dos braços pressionando a região da barriga, o garoto usou seu braço livre para segurar a corrente que veio em sua direção. Ele retorceu os elos e de repente ouviu a corrente ranger quando caiu no chão. Hannah não perdeu um minuto para usar os punhos contra as costelas dele.
O punho dela atacou a mesma região que havia sido atingida pela corrente e isso o fez gritar de dor. Ele ficou impressionado com tamanha força e durabilidade. Atordoado, Jimin se agachou em posição defensiva e resistiu aos golpes dela.
– Pare, Hannah! Eu não quero lhe ferir!
– Você acha que pode? Não me faça rir. – ela acertou um violento chute nos calcanhares dele. Seu amigo gritou.
Lembrando-se dos conselhos de Jungkook, ele a empurrou para longe, tentando não machucá-la, apenas se defender. Aproveitando-se do espaço vazio, Jimin cambaleou para longe e correu aos tropeços, apoiando-se na parede para não cair.
Jungkook estava enganado quando pensou que podia treiná-lo. Ele não sabia lutar, pensou, e tampouco deixar o emocional de lado, não quando se tratava de sua melhor amiga. Hannah podia estar diferente, mas aquela pessoa, em algum lugar de seu íntimo, ainda era ela.
Engolindo ar, Jimin levou cerca de um minuto para alcançar a porta da sala de tiro ao alvo. Era o seu interesse ir mais longe o quanto pudesse. Ele empurrou-se para dentro e bateu a porta, usando o meio tempo que tinha para recuperar a compostura e o fôlego. O ambiente estava escuro, não havia lugares para se esconder, mas ele podia descobrir uma outra forma de se livrar de Hannah.
O aparelho, ele considerou.
O garoto caçou nos bolsos de trás o aparelho que Jungkook havia lhe entregado na casa de Seokjin. Se pudesse se comunicar com ele, nem que fosse um aviso prévio de onde estava e com quem, isso poderia facilitar as buscas e assim Jungkook não pensaria que ele estava morto.
Bem no fundo da sua mente, ele chacoalhou a sua memória, tentando se lembrar freneticamente de como ligava aquilo. Havia uma sequência de botões na lateral e certamente um deles iria encaminhar o seu recado para Jungkook, mas Jimin não sabia qual. Antes que pudesse apertar aleatoriamente suas opções, a porta foi chutada e ele tropeçou à frente, fazendo o dispositivo quicar para longe de suas mãos.
Jimin o perdeu de vista instantaneamente, depois visou o aparelho caído próximo do armário de armas, alguns centímetros de distância de onde ele estava. Ele começou a engatinhar pelo chão, espalmando suas mãos suadas pelo piso, mas suas pernas pareciam pesadas como chumbo. Hannah agiu depressa e esmagou o dispositivo com sua bota, despedaçando-o em vários pedaços.
Jimin arregalou os olhos em surpresa e ergueu o olhar a ela, os olhos acima riram dele.
– Ops, eu acho que quebrei. – ela debochou, um sorriso perverso se espalhou por suas feições.
Ele quis desesperadamente chorar, mas deteve essa vontade com vigor. Jimin sabia que não sairia daquele lugar se continuasse a agir com a emoção, se continuasse a vê-la como a Hannah que conheceu. Aquela não era ela, não naquele momento, e por isso deveria agir conforme as suas próprias regras, não com as dela.
Ele usou o armário para se levantar e a observou ficando em posição de ataque. Quando ela fez menção de atacá-lo com um soco, Jimin segurou seu punho e o empurrou para baixo. Sem perder tempo, Hannah tentou outro golpe, mas falhou novamente quando foi barrada pelo antebraço dele. A garota ficou irritada com suas defesas, tremendo de raiva, por isso avançou para cima dele.
– Pare com isso, Hannah! – ele tentou a mesma abordagem, mas ela não lhe deu ouvidos.
– Já disse que não me chamo Hannah!
Descontrolada, a menina o agarrou pelo pescoço e o empurrou contra o armário. O impacto tirou todo o ar dos seus pulmões e ele quase se dobrou ao meio, tentando, mas falhando, em recuperar o ar. Jimin sentiu as unhas dela espremerem sua traqueia, como se de algum modo pudesse enterrá-las na sua pele. Sob o feixe de luz do ambiente externo, ele pôde ver uma linha de sangue na têmpora dela.
– Você está sendo enganada. – seu amigo disse, tossindo um pouco quando sentiu a passagem de ar reduzir. – Esse cara está manipulando você.
– Você me enganou fingindo ser o meu amigo, mas agora eu não sou a mesma pessoa.
– Tem razão. Ele está dopando você e apagando suas memórias, tudo o que você se lembra é fruto do que ele plantou na sua cabeça. – ao mencionar aquilo, Jimin percebeu que suas palavras ativaram algo dentro dela, talvez uma memória. Portanto, ele prosseguiu. – O Namjoon lhe maltratou, criou mentiras sobre mim, por isso ele está usando alguma droga para apagar suas antigas memórias. Ele não quer que você se lembre da nossa amizade.
– Cale a boca! – Hannah ignorou seu argumento. – Você não sabe nada sobre o meu pai. Não diga nada.
Consciente de que sua abordagem não teria sucesso, Jimin impulsionou os braços dela para baixo com os seus, uma tentativa de fuga muito repetida nos treinos com Jungkook e que, sem sombra de dúvidas, trouxe bons resultados. Os braços de Hannah ficaram frouxos, então a pressão na garganta de Jimin também foi minguada. Ele se beneficiou do momento para correr até a saída, sem qualquer intenção de ficar e ser obrigado a machucá-la.
No entanto, ela sacou uma pistola de choque e disparou na direção de Jimin. Ele berrou quando uma onda de eletricidade correu através de seu corpo, o imobilizando por um instante, depois se viu perdendo o equilíbrio e caindo contra o assoalho. Jimin sentiu o coração parar por um meio instante e então começar a bater arduamente demais. Seu corpo sofreu alguns espasmos, fazendo seu estômago escorregar por debaixo dele.
Hannah aproximou-se dele com pegadas vagarosas, realmente achando tudo aquilo engraçado. Ela se agachou na sua frente e ergueu seu queixo com o cabo da pistola, olhando-o com algo quase ganancioso. Jimin devia ter previsto que ela não estava desarmada.
– Me agradeça por poupar a sua vida. – suas palavras tinham uma promessa ardida.
De repente, um assobio ricocheteou o ar, um som informativo e gutural. Hannah olhou por cima do próprio ombro e sorriu um pouquinho. Jimin, por outro lado, sentiu a tensão e o horror preencher seu rosto no momento que a menina se ergueu do chão, afastando-se para o lado para revelar a imagem severa de Namjoon na entrada. Um sorriso perverso rastejou a boca do homem de modo lento, deixando o clima ainda mais pesado.
O efeito daquele sorriso enervou o menino por dentro, pois fazia muito tempo que Jimin não presenciava sua face e, principalmente, o impacto que aquele semblante tinha sobre ele. Definitivamente, ele não tinha preparado seu coração para esse reencontro.
Um silêncio encheu a enorme sala. O crepitar de tensão no ar declinava absurdamente. Jimin sentiu as próprias mãos tremerem, seus joelhos tremiam também, tal como suas pernas. Ele tentou se erguer do chão, mas a sensação da corrente elétrica ainda protestava como uma vertigem em suas veias.
Sem aviso, Namjoon começou a caminhar sem pressa para dentro da escuridão fria da sala ao mesmo tempo que o menino tentou se levantar com urgência. Jimin estava prestes a ficar de pé quando observou um par de botas robustas parando na sua frente. Ele suspendeu o olhar com uma onda de horror, recusando-se a acreditar no que estava vendo.
– Não se importe em gritar. – disse Namjoon quando o observou puxar o fôlego em incredulidade. – Estamos sozinhos neste prédio, Jimin. Ninguém pode lhe salvar, não mais.
– O que você quer comigo? – ele ficou surpreso quando se flagrou perguntando. Namjoon sorriu ainda mais.
– Ah, não tenha pressa. Nossa noite está apenas começando.
Aquelas palavras ecoaram como veneno nos ouvidos do menino. Jimin sentiu a ameaça irradiar dele como um presságio cruel. O que quer que Namjoon estivesse tramando, os efeitos disso seriam catastróficos.
Jimin, então, encarou Hannah pelo canto do olho, ela parecia reduzida à Namjoon como se fosse algum tipo de serviçal. Jamais pensou que sua amiga fosse estar submissa a alguém, ainda mais ao Namjoon. Realmente, ela tinha sido transformada e a ficha dele estava começando a cair agora.
– Lauren, você fez um ótimo trabalho. Estou orgulhoso de você. – disse Namjoon, acariciando-a nos cabelos. Jimin quis vomitar com aquela cena, mas sua reação não passou de um embrulho no estômago. – Eu sempre soube que você saberia lidar com amadores.
A seu favor, Jimin se limitou a olhar para o armário de armas com um pequeno movimento de olho. Ele tentou sentir mentalmente a distância entre aquele intervalo vazio, concluindo, portanto, que se corresse com toda força que tinha, Namjoon não teria tempo de agarrá-lo. Desse modo, ele contou até três na cabeça e correu em disparada para o armário, percebendo a expressão de surpresa no rosto de Hannah.
Ele alcançou o armário de modo vertiginoso, então apalpou o primeiro revólver que sua mão tocou. Agradeceu mentalmente por estar aberto, pois sua oportunidade não tinha sido desperdiçada. Jimin girou de frente para Namjoon e apontou a arma na direção dele enquanto tentava manter a respiração sob controle.
– Afaste-se de mim! – ele exigiu, engolindo sua saliva. A arma quase se desequilibrou de sua mão devido ao nervosismo. Ele nem mesmo sabia se a arma estava carregada. – Eu posso atirar.
Namjoon fez um sinal de pare para Hannah no momento que ela ameaçou puxar sua pistola. A menina não prosseguiu, mas olhou para Jimin com uma expressão selvagem e terrivelmente cruel.
– Abaixe a arma, Jimin. – pediu Namjoon, suas palavras saíram lentas e roucas.
– Não.
Namjoon coçou o canto dos olhos como se a coisa toda fosse uma piada para ele.
– Você pretende me matar, mas e depois? – Namjoon perguntou, sua voz estava baixa e acidamente divertida. – Vai fugir? Para onde? Você fechou todas as passagens que dão para esse andar com barreiras de aço, se lembra?
– Eu não fiz isso. Foi você.
– Não me recordo de lhe forçar a apertar aqueles botões. – a boca de Jimin tinha ficado seca. Ele sentiu lágrimas nos próprios olhos. – Você quis brincar e para isso fez o seu próprio caminho. Tudo isso aqui é resultado de suas decisões, Jimin.
O garoto pôde sentir seu rosto se contorcendo em confusão. Ele sabia que tinha errado em seguir a carta, mas ouvir aquela acusação de outra pessoa era mil vezes pior.
– Não dê mais um passo! – ordenou Jimin a ele assim que o observou se mover. Suas mãos apertaram ainda mais o cabo da arma para mostrar que estava falando sério.
– Atire. – falou Namjoon.
Jimin quis atirar, mas cada músculo de seu corpo pareceu paralisado por uma grande agonia. Ele já tinha feito aquilo antes com Derek, não seria diferente com Namjoon. Talvez a bala não o matasse, mas poderia atrasar seus passos. No entanto, Namjoon estava certo em um ponto: para onde ele fugiria? Como se comunicaria com Jungkook? Ele já tinha visitado o ambiente de treino algumas vezes, mas não o suficiente para localizar alguma passagem secreta.
Seus pensamentos se partiram em dois quando a voz de Namjoon acutilou o ar.
– O que está esperando? Sei que deve ter recebido alguns treinamentos extras sobre como atirar com armas de fogo, mas me parece que o seu treinador não estimulou muito bem a sua coragem. Ou devo dizer namorado?
Jimin arregalou os olhos, mas não disse nada. Pela reação de Namjoon, assim como a dele, ambos sabiam que aquele comentário tinha atingido seu ponto fraco. Ele imediatamente estremeceu quando se perguntou de que jeito Namjoon ficou sabendo. Em seguida, Jimin pareceu ter uma resposta na ponta da língua, uma sugestão, mas foi Namjoon quem a citou.
– Sim, o Dennis foi os meus ouvidos e os meus olhos durante esse tempo. Ele espionou você quando a Rose foi transferida. Aposto que está se perguntando como nunca percebeu isso antes. Bem, nem tudo se passa pela nossa percepção.
Assim que ele disse aquilo, uma corrente de ódio subiu pelas veias de Jimin, então seu dedo se afundou no gatilho, mas nada saiu, exceto pelo estalo vazio. A arma estava descarregada. Pego de surpresa, o menino encarou suas próprias mãos segurando o revólver, dessa vez com um terrível desânimo. Namjoon riu de sua decisão impulsiva.
– Pedi para que o Dennis esvaziasse os cartuchos de todas as armas, pois supus que você tentaria isso. – ele contou, seu tom sugerindo diversão. Jimin lhe deu um olhar ferido e deixou as lágrimas caírem. – Eu tenho uma surpresa para você, Jimin. Uma das boas.
O menino deixou a arma escorregar de suas mãos como água e quicar próxima de seus pés. Ele tinha ficado desapontado por não ter considerado aquela possibilidade, agora certamente se tornaria alvo de chacota, em especial de Hannah, que havia escondido uma risadinha.
Namjoon aproximou-se dele, enfiando sua cara bem na frente da dele. Toda a leveza desapareceu de seu rosto e então ele olhou para Jimin com claro desprezo. Uma força invisível fez Jimin recuar e colar as costas no armário na tentativa de se esquivar dele, mas sua investida foi inútil. Depois de ter certeza de que havia saído do campo de audição de Hannah, Namjoon disse:
– Olhe para mim. – ele ordenou, o vendo apertar os olhos para tentar ocultar a visão dele. Namjoon o segurou pelo queixo em forma de advertimento e o forçou a abrir as pálpebras. – Se lembra das regras do jogo? Se você perde, você é castigado. Eu tenho um castigo para você caso tente alguma coisa contra mim.
Ele colocou a mão por trás das costas e trouxe um aparelho preto com três canais diferentes. O botão do meio era vermelho e acima dele havia um cronômetro com a cor parecida. Jimin sentiu o próprio pulso bater nervosamente e suas entranhas ficarem dormentes quando identificou mentalmente o que era.
– Isso aqui é um detonador de bomba. – Namjoon explicou. – Embaixo deste prédio há dinamites com velocidade de 7,2km por segundo, o que significa dizer que se eu apertar este botão tudo vai explodir, inclusive o seu amado.
Jimin ficou subitamente endurecido quando ele mencionou Jungkook.
– Eu sei que você não quer matar essas pessoas, Jimin. Seu coração palpita bondade. Mas, assim como o jogo anterior, a consequência de sua indisciplina será esse detonador. – o menino deixou escapar mais lágrimas. Uma energia fria e nítida enrolava o seu corpo, mantendo-o paralisado de medo. – Sabe, eu poderia ser como o Derek e facilitar as coisas para mim lhe forçando a cumprir os meus termos, mas quero lhe dar o benefício da escolha. Então, se você se comportar, eu desativo o relógio, mas se você me desobedecer, antecipo a explosão e todos morrem. O que prefere?
Sua chantagem emocional cortava Jimin como uma faca quente. Namjoon sempre estaria a dois perigosos passos à frente dele, rompendo todos os seus mecanismos de defesa. Sem aviso, um pensamento explodiu em sua cabeça e então ele imaginou o prédio explodindo, corpos carbonizados por todos os cantos, inclusive o de Jungkook, e uma grande fornalha crepitando pelas paredes num tormento infinito.
O menino conseguia sentir o calor disso derretendo suas roupas e chamuscando sua pele. A sensação era tão forte que por um minuto ele quase acreditou que fosse real. Em uma agonia inimaginável, Jimin rangeu os dentes para não gritar e fez que sim com a cabeça.
– Eu faço o que você quiser. – ele disse de modo angustiante, liberando um soluço pelo caminho.
Namjoon sorriu.
– Resposta inteligente. Venha.
Ele ofereceu seu braço para o garoto segurar, mas isso não ocorreu a princípio. Jimin estava muito assustado, doía até respirar, ele quase não conseguiu enviar o comando para a própria mão, que tomou o braço cedido mesmo contra a sua vontade. Ele se sentiu impotente demais para evitar aquilo, não havia outra opção. Tudo o que ele percebeu foi que tinha aceitado a oferta de Namjoon obedientemente, sem questionar.
Hannah o observou predatoriamente em silêncio, o ritmo de sua respiração sugeria raiva. Jimin não pôde ignorar o sangue em sua calça, cuja aparência parecia seca e imensa. Ele quis perguntar o que houve, mas seu emocional estava exausto demais para ouvir a resposta, na qual certamente não seria boa.
Namjoon o guiou para fora da sala de tiro ao alvo. Ele sentiu as próprias pernas inquietas e pesadas de medo. Jimin não conseguia ver a forma clara do ambiente devido a cortina de lágrimas em seus olhos, mas visualizou o lugar mentalmente, descobrindo que estava sendo levado de volta para a sala de boxe à direita. Dennis estava à esquerda, imóvel como um serviçal. Ele sorriu para o garoto, um flash de afiados dentes brancos.
– Lauren, me espere aqui. – Namjoon exigiu, percebendo que sua ordem não tinha sido muito bem aceita.
– Por quê?
– Quero trocar uma palavrinha com o nosso colega. Coisa particular. – ela empinou o queixo.
– E eu não posso ouvir? Faço parte do plano também.
– Querida, você não pode recusar as minhas ordens. O que quer que eu mande, você deve obedecer.
Hannah exalou após um minuto de silêncio, então assentiu. Jimin ficou assombrado quando observou-a abaixando a cabeça em submissão. Apesar de tudo aquilo, ele sabia que sua amiga estava resistindo à sua outra versão, aquela que odiava acatar ordens. Se Jimin pudesse estimular um pouco mais esse lado de Hannah, talvez ela se lembrasse de quem era.
Jimin escutou Namjoon empurrando a porta da sala e o convidando a entrar um segundo depois. Ele não tirou os olhos de sua amiga, mas seu corpo gelou com a promessa de ficar sozinho com Namjoon naquela sala. Ele, definitivamente, era a última pessoa com quem Jimin desejaria ficar a sós. Sem escolha, no entanto, não lhe restou outra opção senão adentrar.
O ambiente continuava da mesma maneira que ele deixou para trás quando correu, com o projetor ainda transmitindo o maldito jogo na parede. Namjoon o largou e trancou a porta às suas costas, deixando o espaço semiescuro. Jimin olhou para os lados, enjoado, sem acreditar que a intenção dele em mantê-lo preso ali fosse boa.
Sua mente estava trabalhando duro para que os fragmentos de informação fizessem sentido em sua cabeça e assim ele pudesse entender o intuito de Namjoon em carregá-lo para aquela sala. Seus pensamentos perturbadores foram interrompidos quando o homem raspou uma cadeira de metal para perto dele, mas o garoto não ousou sentar.
– O que você quer comigo? Por que me trouxe aqui? – ele tentou, falhando, em controlar a histeria na sua voz.
– Sente-se. – foi tudo o que ele disse em resposta.
Jimin não gostou nem um pouco daquele convite, mas não se arriscou a recusar como pretendia. Então, ele fez o que lhe foi ordenado, sem qualquer interesse em dirigi-lo o olhar. Namjoon deslizou uma cadeira de frente para ele e se acomodou lentamente, sem abalar a sua postura calma. Havia dinamites sob os pés deles, Jimin pensou, e Namjoon estava agindo como se fosse uma noite de primavera.
– Antes de começarmos, diga-me, você gostou da nova versão de sua amiga? – a sua pergunta irritou Jimin.
– O que você fez com ela?
– O que tinha que ser feito. – ele sorriu para si mesmo. O menino apertou os ossos da mandíbula, realmente tentando não parecer afetado com suas palavras. – A Hannah é uma garotinha muito irrefreável, tem muitas potencialidades escondidas, devo dizer. Ela virou um animal selvagem e começou a atacar todo mundo quando descobriu que você tinha ficado preso no incêndio. Derek cogitou matá-la, mas eu, por outro lado, enxerguei um dom nela.
O menino não disse nada, mas duas piscadelas sugeriram que ele tinha ficado preocupado com o estado de sua amiga. O pensamento de imaginá-la assustada, movida pelo desespero da perda, colocou uma sensação queimante em suas veias. Namjoon, observando aquilo, prosseguiu.
– Então pensei: por que matá-la quando posso usá-la para o meu benefício? Bingo. A convencemos de que você estava vivo, mas tinha abandonado ela. A Hannah lutou para não acreditar, mas eu percebi que no fundo ela estava se autoenganando. – Jimin deixou o maxilar ainda mais rígido para evitar a própria dor, mas, tarde demais, as lágrimas quentes desceram pela curva de seu nariz. – Sua amiga perdeu a memória, então mesmo que você tente acordá-la dessa fantasia, ela não vai responder positivamente senão através de uma drenagem.
– Você é um monstro.
– Monstro? – ele riu. – Você não sabe ainda, Jimin, mas nós somos muito parecidos, muito mais do que você pensa.
O garoto abriu a boca para dizer algo, mas a fechou na mesma hora. Ele tinha que ter compostura, pois com raiva ou não, ele poderia ser racional nessas situações. Namjoon queria prosseguir com seus truques psicológicos, mas Jimin não deixaria que ele entrasse em sua mente como fez com Hannah.
– Suponho que esteja curioso para saber o motivo pelo qual está sentado nessa cadeira ao invés de estar morto. – Namjoon sugeriu, avançando com seus truques. Jimin não o respondeu. – Não se preocupe. Eu vou lhe contar tudo o que precisa saber, parte por parte, detalhe por detalhe, e então veremos de qual lado você deseja estar.
A boca de Jimin ficou apertada como um fio. Ele não sabia o que aquilo significava e quais lados Namjoon se referia, mas tinha certeza que o resultado não seria bom independente de sua preferência.
– Devo lhe dizer que por um momento pensei que meus planos fossem cair por terra quando soube que você estava prestes a ir embora. – Namjoon assumiu de antemão. – Mas tenho sorte de você ser uma criança apaixonada. Você não imagina como sua decisão me ajudou. Como eu disse, tudo é uma questão de escolha.
– O que quer dizer?
– Eu já estava aqui quando soube que você estava indo embora. A saída de emergência que fica na parte subterrânea do prédio segue para o túnel da cidade, foi por lá que eu vim. Dennis me ajudou nesse processo, ele só precisou me passar o código inicial de acesso e o cartão de um dos agentes. Eu clonei e tive acesso ao sistema de segurança, logo o configurei de acordo com as minhas regras. Quando tive certeza que eles não podiam me ver, marchei pelo túnel com a Hannah e usei o meu cérebro para fazer as combinações dos outros códigos, afinal, cada travessia possuía combinações diferentes, mas com o mesmo código. Isso me custou tempo.
O menino conseguia ouvir a própria respiração irregular agora. Ele não podia acreditar que Namjoon tinha feito tudo aquilo sem ninguém perceber. Provavelmente ele usou algum tipo de neutralizador para não espalhar sua localização. Jimin só não sabia dizer como ele conhecia todas aquelas coisas que só profissionais da área tinham acesso.
– A propósito – continuou Namjoon. – Você ainda consegue sentir a presença do Derek? Consegue sentir como se ele ainda estivesse por cima de você? Diga-me. Estou curioso.
O menino sentiu um ataque de calafrio o esfaqueando após a menção daquele nome. Ele não gostava de relatar o que passou com Derek, tampouco lembrar-se de tais momentos. Onde quer que Namjoon estivesse planejando chegar, aquela era a abordagem mais suja de o fazer.
– Me responda. – exigiu.
Ele foi impulsionado pela vontade de chorar quando suas lembranças se elevaram, mas uma parede invisível deteve esse impulso, o fazendo apertar os dentes em controle.
– Sim.
Namjoon sorriu.
– Bem, eu também consigo sentir a presença do meu abusador. – foi nessa hora que Jimin olhou confuso para ele, se perguntando se havia escutado direito. – O cheiro, o toque, as palavras sujas, me lembro de tudo. Ele fez comigo o mesmo que o Derek fez com você.
– O que... Por que está me contando isso?
– Porque você precisa saber que nós sentimos a mesma dor. – Jimin recuou o tronco, apavorado com a insinuação dele. – Você pensa que é diferente de mim, mas não, nós temos algo em comum.
Jimin não sabia se ele estava mentindo para atraí-lo para um novo jogo ou se aquela história era real. Ele não conseguia imaginar Namjoon na mesma condição que a sua, sendo torturado por outra pessoa, e mesmo assim fomentar ações semelhantes ao que passou. Isso era totalmente estranho.
– Conhece o Jared? – Namjoon perguntou, atraindo os olhos amedrontados de Jimin. – O pai dele foi o responsável por isso. Robert. Maior nome que já existiu no FBI. Os diretores da academia me ameaçaram dizendo que se eu espalhasse essa "mentira" eles iriam me punir. Por um tempo me calei, achei que os abusos não teriam continuidade, afinal, eu difamei o nome daquele desgraçado, mas na verdade o Robert me advertiu com mais torturas.
– V-Você era do FBI?
– Eu estava perto de sair da academia quando isso aconteceu. – o menino abriu a boca em choque. – Eles fizeram da minha dor uma zombaria completa. Acharam que eu estava assim porque fui reprovado no exame. O FBI não se importa com ninguém além de eles mesmos, toda essa investigação só está acontecendo porque as pessoas exigiram que alguma coisa fosse feita e não porque eles se importam com vocês.
Jimin engoliu discretamente. A vingança de Namjoon envolvia o FBI, por isso havia tantas dinamites embaixo do prédio, pois ele pretendia matar todas as pessoas que riram dele no pior momento. Ele planejou infiltrar-se na fortaleza do FBI da forma mais detalhada possível, sem levantar qualquer suspeita. No entanto, ainda havia dúvidas em Jimin. Ele ainda não tinha compreendido o porquê de ser a isca dessa vingança.
– Por que está fazendo isso? – o menino se arriscou a perguntar. – Você diz que passou pelo mesmo que eu, sabe como é se sentir assim, então por que contribuiu com tudo isso? Por que você quis que mais pessoas sofressem igual?
Namjoon se inclinou para ele, as linhas duras em volta dos olhos aprofundadas, e então ele estreitou o olhar em divertimento.
– Eu não criei tudo isso, Jimin. Eu entrei nisso porque enxerguei uma ótima oportunidade de mostrar que sou melhor do que todos eles. – contou-lhe. – Sabe, quando a Jennie me ofereceu a proposta, pensei que fosse perda de tempo, mas ela me convenceu de que não seria. Eu teria o FBI investigando um caso que me envolvia e, indiretamente, envolvia o meu passado. Era a minha chance de chamar a atenção deles e provar que ninguém podia me parar.
– Isso não justifica. – Jimin atreveu-se a debater. – Você pode fazer justiça de outra forma. Podia, na verdade.
– Como? – o brilho superior em seu sorriso deixou o garoto quieto. – Quando o governo favorece os dele, a justiça não importa. Você pode ser honesto até morrer, mas uma hora a honestidade acaba e você precisa decidir fazer justiça com as próprias mãos. Foi assim com o pai do Jared, a Jennie, e agora você...
Um silêncio intenso estalou entre eles. Jimin tentou dar sentido àquela última frase, mas ele teve medo de chegar a uma conclusão e seu terror interno se intensificar. Namjoon, pescando tal reação, levantou uma sobrancelha em desafio.
– Sim, garoto, ambos estão mortos. – havia uma sugestão aterrorizante em suas palavras. – Eu mesmo matei o Robert e deixei a Jennie para a Hannah. Ela fez o trabalho direitinho, como lhe foi ensinado.
– Não... Não...
– Sim. – o peso de suas palavras lentamente o atingiu e isso o enojou por dentro. – A Jennie descobriu que a Hannah estava sendo treinada por mim, ela provavelmente pensou que fosse para matá-la, pois suspeitava que eu havia descoberto o seu segredo com o Robert. Bem, ela não estava tão errada assim. Eu constatei que foi através dele que ela chegou até mim.
– A Hannah nunca faria isso.
– Agora que você sabe que a garota atrás daquela porta não é mais a Hannah, acredito que sua percepção esteja equivocada. – ele disparou. – A sua amiga se tornou uma assassina muito bem treinada, devo acrescentar, e ela tem mostrado isso muito bem na prática.
Jimin estava irritado com sua confissão descarada, tremendo de raiva. Ele não demonstrava qualquer traço de remorso, observou Jimin, e isso chegava a ser assustador. Tinha aceitado que Hannah tinha perdido as memórias, mas o fato de ela se tornar uma assassina ia contra a personalidade que ela construiu e internalizou durante sua vida. Isso era mesmo possível?
– Você ainda não ouviu a história completa, Jimin. Tem muita sujeira embaixo do tapete do FBI, coisas que vão lhe assustar. – Jimin abriu a boca, mas não houve som em seu ato. Ele estava tão chateado que não conseguiu desembaraçar seus pensamentos. – Eu não sou o vilão dessa história. Tudo o que fiz contra essas pessoas foi por um motivo. E caso pense na Hannah, ela foi a minha ponte para chegar até você, apenas isso.
– Eu não fiz nada contra você. – o garoto disse, visivelmente tentando se recompor. – Não sou culpado pelo que lhe aconteceu no passado. Por que você me quer, então? Foi por causa da época que você namorava minha mãe?
Namjoon o cortou com uma risada desdenhosa e deslocou-se para fora da cadeira. Jimin observou a sombra de sua mão esfregando o rosto devagar, sem um pingo de pressa.
– A vadia da sua mãe não tem nada a ver com isso. – suas palavras soaram indistintas nos ouvidos do menino. – Melhor dizendo, ela não sujou as mãos diretamente. A Hyeri soube onde você estava através de mim, mas ela nunca me pediu para levá-lo de volta. Tudo o que ela fez foi me pedir dinheiro em troca do seu silêncio. Sua mamãe deve te amar muito mesmo.
Mesmo que já soubesse daquilo, Jimin se flagrou derramando algumas lágrimas pelo que ouviu. Hyeri sempre demonstrou compaixão para com ele na sua infância, mas de repente ela quis mantê-lo longe. Era horrível não saber em qual lado estava a verdade, principalmente quando a história era contada por um mentiroso nato.
– Mas não é por isso que você está aqui. – Namjoon prosseguiu, começando a andar de um lado para outro. Jimin sentiu o próprio sangue subir o seu pescoço, terror e desespero começando a consumi-lo. – Você está aqui porque o seu pai me deve uma coisa e nada melhor do que cobrar usando o filho dele.
Naquele momento, Jimin sentiu-se inclinado a questionar a relação dele com Christopher, mas a única coisa que ficou martelando na sua cabeça foi uma pergunta vaga: de onde Namjoon conhecia seu pai? Christopher nunca o mencionou antes e certamente o FBI havia lhe mostrado a foto de Namjoon. Cogitando a sorte, porém, o menino arriscou perguntar:
– De onde você conhece meu pai? Ele sempre esteve na Grécia...
A risada de Namjoon estremeceu as paredes daquela sala, interrompendo-o. Jimin teve dificuldade para engolir a própria saliva, sentindo a sua temperatura despencar alguns níveis.
– Não estou falando do panaca do Christopher. Estou falando do seu pai de sangue. – os olhos do menino deram um solavanco e muito rapidamente ele ordenou a si mesmo a não reagir com espanto.
Ele não quis correr o risco de dar vantagem a Namjoon, afinal, se este soubesse que o assunto o havia afetado de alguma forma, ele provavelmente continuaria com o ataque. Jimin não estava enganado, aliás, havia mesmo uma sugestão de brincadeira em seu tom maligno.
– Você o conhece? – Jimin perguntou com sua curiosidade firmemente controlada. – Quem é ele? De onde vocês se conhecem?
– Não tenha pressa, garoto. – Namjoon deu alguns passos mais para perto dele. – Seu pai vai adorar lhe conhecer. Na verdade, vocês se conhecem, mas tanto ele quanto você ainda não sabem disso.
Jimin estremeceu.
– Do que está falando?
– Sua mamãe não te contou, não foi? Claro que não. Ela o odeia. – Jimin abriu sua boca para dizer algo, mas tudo o que saiu foi um ar trêmulo. – Quando conheci a Hyeri, você era apenas um moleque de cinco anos. Inicialmente pensei que você fosse filho do Christopher, mas então descobri que ele não podia reproduzir. Foi então que juntei as peças do quebra-cabeça e descobri que seu pai era o mesmo cara que ajudou a arruinar a minha vida.
– Como você soube sobre minha mãe?
– Seu pai e eu éramos próximos, ele me contou uma história que aconteceu com ele. – a pulsação de Jimin estava descontrolada, suas pernas mal se segurando. – Seu pai transou com a sua mãe em uma festa da escola, caso de uma noite, e ela engravidou. Eram dois adolescentes idiotas a procura de sarna para se coçar. Quando a Hyeri soube que estava esperando um bebê, ela foi atrás do seu pai e então o pediu em casamento, mas ele riu dela e disse não.
– Ele não quis me assumir?
– Ele não sabia. – contou-lhe. – Sua mãe não contou que estava grávida, ela apenas o pediu em casamento. Você sabe, a Hyeri é uma mulher conservadora, por isso ela se casou com o idiota do Christopher sem amá-lo de verdade. Sua mãe só estava caçando um homem para assumir o filho dela, pois não queria ser vista como uma mãe solteira. Mais tarde, o seu papai levou um par de chifres na cabeça. Trágico.
Uma onda de tontura se passou por Jimin, tão fortemente que ele não soube dizer se assimilou tão bem aquela revelação. Namjoon estava há treze anos o perseguindo? Ele tinha estado esse tempo todo vigiando-o, procurando brechas para intervir em sua vida, analisando a rotina de sua família a fim de alimentar uma vingança doentia? Aquele pensamento o assustou intimamente.
O desejo de Namjoon por vingança superava tudo. Ele praticamente perdeu treze anos de sua vida apenas para arquitetar um plano vingativo contra um homem que, provavelmente, o feriu no passado. Jimin se perguntou o que seu pai fez de tão grave ao ponto de o deixar soltando fumaça pelas narinas. Quaisquer que fossem as repostas, nada justificava essa obsessão.
Guardar rancor era uma coisa, vingança era outra totalmente diferente. O que Namjoon estava fazendo era assustador, doentio e muito cruel. O que aconteceu no passado dele não era sua culpa, pensou Jimin, o que quer que seu pai tenha feito não o diz respeito, muito menos o envolve.
O menino nem sequer sabia da existência desse pai biológico, e pelas confissões de Namjoon, o tal homem também não tinha conhecimento disso. Então, o que faz Namjoon pensar que pode usá-lo para o atingir? Não havia nenhuma relação paternal entre eles, absolutamente nada.
Jimin veio de uma gravidez indesejada de ambos os lados, então era viável pensar que esse homem poderia permitir sua morte para salvar a própria pele, afinal de contas, Jimin seria apenas mais um estranho no catálogo.
– A história não acaba por aqui, Jimin. – a voz de Namjoon chegou até os ouvidos dele, fazendo seu devaneio escorregar para longe. – Quando eu fui expulso da academia, alguns anos depois o idiota do seu pai foi aprovado pelo mesmo treinador que me abusou. Robert o abençoou no último exame e o levou para a equipe oficial. Enquanto eu fui desprezado, humilhado e excluído dos registros do FBI, seu papai foi convocado para o Departamento no meu lugar.
– Você está dizendo que o meu pai-
– Ele é do FBI. – revelou. – A aprovação que foi dada a ele deveria ter sido minha. Quando descobri que seu pai tinha entrado para a equipe oficial, pensei: ele roubou a minha posição, ignorou o meu sinal de socorro e mesmo assim se deu bem? Não. Alguma coisa está errada. Foi então que me lembrei da garota, Hyeri, e tentei montar uma causa para o inesperado pedido de casamento dela, logo concluí que sua mãe podia estar grávida. Fui atrás dela e a espiei por semanas. Ela estava casada com o Christopher, mas consegui encontrar registros que apontavam para a esterilização dele.
– Isso não é o bastante. – Jimin observou. – Como você descobriu que eu tinha outro pai e que ele era esse mesmo cara que você conheceu na academia?
– Antes de entrarmos para a base de treinamento nós temos que passar por muitos testes sanguíneos. Eu roubei uma amostra do seu pai um dia antes de ser expulso, sendo assim, não foi tão difícil fazer o exame. No final, foi comprovado que você tem um vínculo genético com esse cara.
Jimin enrugou o rosto, sua cabeça estava confusa demais para pensar. Namjoon era muito mais assustador do que ele havia imaginado. Aquele homem era capaz de qualquer coisa bárbara para se sobressair. O menino chegou a se questionar se o que batia no peito de Namjoon era um coração ou uma pedra.
– Eu não tenho nada a ver com o seu passado. – de repente Jimin disse, mas sua oposição caiu em orelhas surdas. – Você tem uma rixa com o meu pai de sangue. Ótimo. Resolva isso diretamente com ele. Eu era só uma criança quando tudo isso aconteceu, será que você não entende? Quem quer que seja esse homem, ele não me vê como um filho. Me deixe sair.
A mão de Namjoon o atacou antes que o garoto a visse chegar. Ele bateu no seu rosto, duro. Jimin recuou, chocado demais para chorar.
– Seja como for, você carrega o sangue do meu inimigo e ele vai pagar pelo que fez. – agora as lágrimas brotaram nos olhos do menino. Namjoon segurou o espaldar da cadeira e curvou-se à frente. – Deixe-me esclarecer uma coisa: se eu estou lhe usando para a minha vingança é porque de algum modo isso vai afetar o seu papai. Você não o conhece, mas eu sim.
– Você é louco. Está fazendo isso tudo para o quê? – Jimin não teve medo de afrontá-lo, apesar das lágrimas em seu rosto. – O que esse homem lhe fez? Por que você me quer?
O riso de Namjoon soou um pouco mais cansado. Ele deslizou a cadeira um pouquinho para trás e se pôs sentado. Jimin olhou para ele, colocando todo seu ódio naquele gesto.
– Diga-me uma coisa – ele começou lentamente. – O Taehyung é muito importante para você, não é? Assim como a Hannah.
Jimin não soube o que aquela pergunta significava, portanto ele não se atreveu a respondê-la.
– Suponho que seu silêncio seja um sim. – opinou Namjoon. – Eles são como seus irmãos mais velhos. Isso é impactante. Então, deixe-me perguntar: o que você faria se alguém os matassem sem aviso prévio?
Naquele momento, uma explosão de lembranças corroeu Jimin de dentro para fora e fez cada tecido de seu corpo tremer. Em silêncio, ele deixou mais lágrimas escorrerem, completamente assustado.
– Foi exatamente isso que me aconteceu. – Namjoon prosseguiu. – Meu irmão foi assassinado em uma operação do FBI. Seu pai comandou a missão e deu a ordem para que a SWAT invadisse a casa noturna onde ele estava. Um dos tiros o atingiu. Sim, o meu irmão se chamava Kim Namjoon e eu me chamo Steve.
– O quê?
– Eu apaguei todos os registros do meu irmão e criei uma nova identidade para ele. Passei a me chamar Namjoon, proprietário e agente de modelos. – Jimin tinha ficado muito incrédulo para dizer alguma coisa. – Demorei muito para aperfeiçoar minha nova identidade, mas não foi tão difícil entrar em acordo com minha personalidade nova. Eu atrasei a minha vingança porque o meu nome cresceu. Recebi muitos convites e propostas estrangeiras, meu telefone não parava de tocar. Mas no fundo eu estava só esperando o momento certo para me vingar, sem precipitação ou falhas.
Jimin podia presumir o decorrer daquela história, mas por um momento teve medo de escutá-lo terminar.
– É isso mesmo. A Jennie me ofereceu a proposta em particular e eu aceitei porque considerei a melhor estratégia para me vingar do FBI e, consequentemente, do seu pai. – ele tinha tanto ódio nas palavras, como se tivesse materializado sua ira. – Você me entende agora, Jimin? Entende o que estou falando? Minha vida tem sido decidida através de escolhas difíceis, por isso não pense que estou fazendo isso sem um motivo.
– A vingança não é uma forma de justiça. – ele refutou, ouvindo-o bufar.
– Oras, não seja estúpido. Quando você pegou aquela arma e apontou para mim, você fez isso com raiva. Você apertou o gatilho, o que me convém dizer que se ela estivesse carregada aquele tiro teria me acertado. – o garoto o encarou com ódio e descrença. – Presumo que você tenha matado o Derek, e se não o matou, pelo menos contribuiu para a morte dele. Isso também não é um tipo de vingança? Admita, Jimin. Você também sentiu vontade de tirar a vida do seu abusador.
Se não fosse pela irritação em seu rosto, Jimin podia ter se desmanchado em lágrimas por ouvir aquela acusação. Não, ele pensou, ele não era como Namjoon. As situações podiam ser parecidas, mas não significava dizer que havia algum desejo de vingança em Jimin. Odiava-o, óbvio, mas não ao ponto de querer matá-lo. Ele atirou em Derek por legítima defesa, apenas.
– Não sou como você. – Jimin falou com um pouco de oscilação na voz. – Não preciso matar ninguém para provar que estou certo.
Namjoon apertou os dentes com aquilo e Jimin rezou para não ter piorado as coisas. Mas foi tarde demais. O homem o agarrou pelo braço e o arrancou a força da cadeira. Jimin sufocou um grito de susto ao mesmo tempo que o rosto dele aproximou-se do seu.
– Chega de papo furado. – ele rosnou contra a cara do menino, seu hálito fez alguns fios de cabelo sacudirem na testa dele. – Eu lhe dei a oportunidade de acreditar em mim, mas assim como todos eles, você não me escutou. Quer saber porque você diz isso? Porque está fodidamente apaixonado por um deles. Se a sua cabeça oca pensasse por um segundo, saberia que tudo o que lhe contei foi uma forma de lhe trazer para o meu lado.
– O que vai fazer comigo?
– O que eu deveria ter feito desde o início! – o coração do garoto começou a martelar muito forte, tão forte que ele podia sentir a pulsação na própria garganta. – Eu pensei que você fosse o único a entender os meus motivos, mas não, está na cara de qual lado você está. Péssima escolha, Park.
Namjoon não deu a ele tempo de pensar, simplesmente o arrastou aos trancos para fora da sala. Jimin não podia calar as palavras que ele tinha dito de sua mente, especialmente a sua afirmação premeditada. Uma sensação indesejada o preencheu por dentro, o apertando implacavelmente. Ele teve um vislumbre terrível um segundo antes de ser empurrado para o lado de fora, onde enxergou Hannah amolando uma faca na parede.
– Finalmente. – ela disse com um sorriso diabólico. – Pensei que tivesse que esperar mais.
Namjoon ignorou seu insulto e olhou para Dennis.
– Está com a injeção? – sua pergunta eriçou todos os pelos de Jimin, que olhou para o homem apavoradamente.
– Sim, senhor.
Dennis caminhou com toda naturalidade e nivelou uma seringa para ele. O estômago do menino se retorceu, fazendo seu fôlego escapulir de modo irregular.
– O que vai fazer? – Jimin perguntou quando visou a agulha, nervoso.
– Isto é uma neurotoxina. Seu sistema nervoso vai ficar lento depois de alguns minutos, depois sua consciência vai apagar. – Namjoon explicou calmamente.
– Em outras palavras, você vai morrer. – Hannah adicionou em divertimento.
Jimin quase chegou embaraçosamente perto de gritar pelos pulmões quando a escutou dizer aquilo, mas sua voz simplesmente foi freada por um impulso maior.
– É uma forma que encontrei de garantir o desfecho da minha vingança. – Namjoon prosseguiu, espirrando um pouco de líquido para fora da agulha. – O FBI vai tentar me matar de um jeito ou de outro, então posso me assegurar de que você também estará morto. Por mim ou pela neurotoxina. – Namjoon encarou Dennis em seguida. – Segure-o.
O marmanjo segurou os braços de Jimin atrás das costas enquanto ele se debatia em resistência. O garoto começou a tremer, seu choro se intensificou de repente, então ele mordeu o lábio inferior para conter os soluços. O sabor amargo de sangue ocupou sua boca e então ele percebeu que mordeu forte demais.
– Por favor, pare!
Namjoon entortou a cabeça dele para o lado e enfiou a agulha na pele de seu pescoço. Jimin gritou em meio às lágrimas, todo o seu corpo entrou em um congelamento lento e alarmante. Ele protestou com esperneios, mas, percebendo que não teria sucesso, sua resistência começou a diminuir aos poucos e então seu corpo cedeu à compressão.
Um pensamento ardeu em sua cabeça, o fazendo travar instantaneamente. Jimin se viu arruinado, a picada no seu pescoço ardia como brasa. Ele finalmente assumiu para si mesmo que tinha sido derrotado. Não adiantava lutar por algo irreversível. Isso o deixou mais desconfortável, porém rendido, a cada minuto.
Com a injeção vazia, Namjoon expôs a coisa com triunfo, realmente contente com o resultado daquilo. Hannah bateu palmas, como se tudo aquilo fosse de fato um espetáculo. Dennis o largou sob uma ordem silenciosa de Namjoon, mas Jimin não teve forças para lutar ou sequer fugir.
– O FBI não vai me matar quando souber que injetei uma neurotoxina em você, especialmente quando souberem que tenho o antídoto comigo. – Namjoon comentou. – Se eles lhe querem vivo, terão que me deixar vivo. Interessante, não?
Os olhos de Jimin estavam queimando de raiva quando enfrentou os olhos dele por baixo. Ele estava zombando de sua pessoa porque o tinha bem onde queria. Através da cortina de lágrimas, ele viu Namjoon se virar para Hannah e a chamar com um gesto sutil, posteriormente a observou se aproximando deles.
– Sabe o que fazer, Lauren? – ao ouvir a sua pergunta, um sorriso divertido tocou-lhe a boca.
– Com certeza.
No mesmo minuto, Namjoon pegou Jimin pelo braço e o carregou para um lance de escadas à direita. Apesar de sentir um golpe de pânico, pela primeira vez o menino não resistiu. Ele podia soar superficial, mas os nervos estavam fazendo o seu estômago em pedaços. Hannah os seguiu logo atrás. Dennis também os acompanhou.
Jimin não sabia que a sala de treinamento tinha uma saída de emergência através de uma escada até encontrar uma. Ele foi orientado para cima, onde descobriu uma segunda porta, robusta e metálica. Havia uma placa de emergência fixada no aço, que logo foi empurrada por Namjoon.
Um complexo de escadas esféricas emergiu acima de sua cabeça e então ele teve uma ideia para onde estava sendo arrastado. O terraço. Namjoon não podia descer para os andares de baixo, pois as passagens tinham sido bloqueadas, portanto, para alcançar o FBI ele tinha que chegar à superfície mais alta.
Com um forte impulso, o menino foi empurrado acima por um conjunto de mãos. O ambiente estava escuro, exceto pela luz que vinha da lanterna que Dennis trouxe nos bolsos. O edifício tinha mergulhado em uma escuridão monstruosa, mas o feixe da lanterna os permitia visualizar o caminho.
Jimin não sabia onde Jungkook estava agora. Imaginou que ele talvez pudesse estar em um cativeiro subterrâneo, acorrentado por Namjoon, ou então ficado preso em alguma sala quando as barreiras de aço fecharam as passagens. De qualquer forma, nenhuma de suas cogitações o confortou.
Ele parou para pensar e se lembrou de Yoongi no vídeo, o momento exato onde ele decide ir salvá-lo, mas Seokmin o impede. O que teria acontecido se ele não o tivesse interrompido, Jimin refletiu, e tivesse vindo atrás dele? Yoongi poderia ter sido sua salvação naquela hora, mas um conselho mal dado o tinha feito desistir.
Realmente, a sua vida não era tão importante quanto a de um agente. Nessa hora ele pensou nas palavras de Namjoon e por um segundo elas fizeram algum sentido na sua cabeça.
– Se vai me matar de qualquer jeito, por que não faz logo isso? – Jimin perguntou para Namjoon, que riu dele por um segundo. – Me mate de uma vez. Acabe com esse espetáculo ridículo.
Qual é, havia veneno circulando seu sangue agora mesmo, prestes a paralisar seu sistema nervoso a qualquer momento, ele pouco se importou em insultá-lo. Se não o fizesse agora, quando o faria?
– Não me culpe por querer um pouco de escândalo. Esse momento é tão importante para mim quanto para o seu pai, Jimin.
– Você é um louco psicopata.
– Eu gosto mais de engenhoso.
Usando as mãos, Namjoon o empurrou mais para cima de propósito, tão duro que o desequilibrou por um segundo. Jimin quase tropeçou para o chão, mas a palma do homem deteve sua queda. Havia uma porta de aço no cume da escadaria, onde foi aberta com um puxão tão forte que a fez ranger. Uma violenta rajada atingiu o rosto do garoto, que muito ligeiramente fechou os olhos para conter a poeira que rodopiava entre a corrente de ar.
Ele sentiu Namjoon agarrar seu pulso para lhe firmar e então o arrastar para o meio do pavimento descoberto. Por um segundo, Jimin pensou que fosse sucumbir de joelhos, o fazendo achar, nesse caso, que aquilo podia ser o primeiro sinal da neurotoxina. Ele respirou fundo, no entanto, e tentou acalmar a sua cabeça, não querendo demonstrar qualquer fraqueza.
Podia ouvir o barulho constante das hélices de um helicóptero acima de sua cabeça, tal como o vislumbre de uma luz vermelha refletida na noite, o que significava dizer que provavelmente haviam viaturas abaixo. A plataforma do terraço tinha um slogan imenso do FBI, quem olhasse de cima poderia enxergar perfeitamente o desenho visual.
– Lauren. A faca. – Namjoon pediu e ela o entregou.
No momento seguinte, Jimin sentiu seu pescoço ser sufocado pelo antebraço de Namjoon e a ponta da faca ser instalada abaixo de seu queixo. O menino sentiu uma onda de vertigem o esmagar de repente, principalmente quando ele foi forçado a caminhar em direção ao lancil da sacada. Não havia proteção nas extremidades além de uma minúscula barreira de pedra.
Namjoon o carregou para a ponta do terraço para facilitar melhor sua vista. A pulsação das luzes aumentou e então ele pôde ver mais claramente a equipe do FBI abaixo. Jimin se flagrou procurando por Jungkook com urgência. Quando o localizou, seu coração deu um salto brusco no peito, sendo difícil controlar as lágrimas. Ele estava com os braços apoiados no teto de um carro, as mãos cobrindo o próprio rosto. A agente Layla parecia o consolar.
– Seokjin! – Namjoon gritou de cima, atraindo todos os olhos em sua direção.
Muito ligeiramente, a equipe do FBI ergueu suas armas para o alto, todos ficaram em posição de ataque e estavam armados até os dentes. Jungkook sacou a arma tão depressa que seu movimento se passou como um borrão pelas vistas de Jimin. Seokjin, por outro lado, apenas o procurou com olhos de águia, não obtendo nenhuma reação violenta igual os outros.
Aqueles que estavam mais afastados aproximaram-se dos demais e apontaram seus rifles para cima, formando uma espécie de cerca humana. Jungkook procurou um alcance perfeito para a sua pontaria, mas a neblina estava atrapalhando sua visão e isso poderia custar a vida de Jimin caso errasse. O menino, então, pôde enxergar melhor os olhos do detetive quando a bruma diminuiu e perceber, desse modo, que ele tinha estado muito preocupado.
Uma respiração expectante vinha da sua esquerda. Hannah apareceu para eles também, mas Dennis continuava afastado para não ser visto. Jimin olhou para baixo um pouquinho, se dando conta de que a ponta de seu tênis estava um pouco para fora da borda. Aquilo o fez estremecer por dentro. Qualquer mero desequilíbrio custaria uma queda de aproximadamente 30 metros.
– Mande o helicóptero descer e os seus homens abaixarem as armas ou eu empurro o garoto! – Namjoon exigiu, divertindo-se com toda aquela atenção.
Seokjin fez um gesto sutil para os seus homens e então cada um começou a recuar suas armas lentamente. Em seguida, ele falou alguma coisa no ponto de escuta em seu ouvido e um minuto mais tarde o helicóptero aterrissou no jardim, desligando os seus rotores como solicitado. Jungkook enrijeceu a mandíbula, sem dar o braço a torcer a princípio. Layla o tocou no braço gentilmente e o convenceu, em silêncio, a ouvir a ordem. Nada funcionaria sob pressão, muito menos sob impulsos.
– Solte-o, Namjoon. – Seokjin deu um passo à frente, mãos suspendidas ao nível dos ombros. – O seu problema é comigo, deixe o garoto em paz. Ele não tem nada a ver com isso.
Namjoon gargalhou, como se a coisa toda fosse uma piada. Jungkook aproveitou-se para estudar os arredores à procura de alguma coisa que pudesse ajudá-lo a subir ou, quem sabe, algum acervo que servisse de reforço para a sua pontaria. Se ele conseguisse localizar uma posição segura e alta, talvez isso facilitasse sua mira em Namjoon e o impedisse de fazer qualquer besteira.
Ele não podia dar a si mesmo a incerteza do que poderia acontecer a Jimin daquela altura.
– Por que eu faria isso, Seokjin? – prosseguiu Namjoon, arranhando a faca na bochecha dele. O garoto espremeu as pálpebras em desespero. – Diga-me, por que eu deveria deixar o filho do meu inimigo vivo, ou melhor dizendo, o seu filho?
Ele fez uma pausa como se esperasse que Seokjin chegasse a alguma grande conclusão, mas o homem se manteve em silêncio e completamente neutro, desconfiado demais para crer em sua própria audição. Jimin, portanto, abriu os olhos em absoluto choque, um véu de gelo sufocando o seu coração após aquela informação. Seokjin era seu pai? Como? Por quê? Uma dor sombria e agoniada ricocheteou por ele.
Jungkook e Yoongi encararam Seokjin de um modo estranho, como se ele pudesse dar uma explicação para aquela acusação estúpida, mas o chefe deles não demonstrou qualquer reação perturbada. Para ele, parecia a pior mentira do mundo.
– Você espera mesmo que eu acredite nesse papo furado? – Seokjin refutou de repente. – Quais provas você tem do que fala?
Antes que o momento todo fizesse sentido para Jimin, ele sentiu uma nova onda de tontura atravessar sua cabeça. Ele gemeu de desconforto, começando a sentir sua coordenação motora um pouco mais enfraquecida. Jungkook detectou um vislumbre de sua reação e logo se deu conta de que havia alguma coisa errada com Jimin. Chegar a essa conclusão atiçou o seu desespero interno.
– Se lembra da Hyeri? – Namjoon perguntou, havia uma mistura de ódio e prazer simultâneo em sua voz. – Você a usou na época da escola, depois a largou como um objeto usado. Quer que eu lhe diga o porquê de ela ter ido atrás de você naquela noite?
Seokjin não disse nada, nem meia palavra.
– Ela engravidou de você. – confessou. – Ela me contou a mesma história que você me contou. Todos os detalhes, mas sem citar o seu nome, claro. Ela lhe odeia amargamente porque foi usada e então rejeitada. É uma pena a Hyeri não ter lhe contado, não é mesmo? Aposto que você ficaria feliz em saber que seria pai, afinal de contas, ter um filho sempre foi o seu maior sonho. E aqui estou eu com o seu primogênito e único filho, a um passo de cortar a garganta dele bem na sua frente.
– Eu não lhe disse o nome da garota. – Seokjin observou.
– Não foi tão difícil encontrar o seu melhor amigo da época da escola. Adam. Você me falou dele, lembra? Disse-me que ele acobertou o seu lance com a garota até porque ele namorava a amiga dela. Eu consegui descobrir o nome e o endereço da Hyeri. Bingo.
Seokjin entreabriu a boca, como se pela primeira vez ele tivesse sido atingido por aquela súbita confissão. Ninguém foi tão próximo dele ao ponto de descobrir que seu maior sonho era se tornar pai. Namjoon, em contrapartida, desvendou isso muito bem, aparentemente de sua própria boca. Seokjin costumava lhe contar as coisas quando ainda eram alunos, não ficaria surpreso se tivesse soltado esse desejo em algum momento.
Percebendo que o clima estava esquentando entre eles, Jungkook deslizou um passo cauteloso para frente com a intenção de obter uma vista melhor de seu alvo, mas sua distância ainda era insuficiente para uma boa pontaria.
– Não se atreva a dar mais um passo, detetive. – Namjoon o censurou, afundando um pouco mais a ponta da lâmina na pele do garoto. Jimin choramingou. – Eu posso matar o seu namorado com a faca ou então jogá-lo daqui de cima. O que você prefere?
– Jungkook, não seja teimoso. – foi Yoongi quem o repreendeu baixinho. – Se você fizer qualquer besteira, o Jimin é quem vai sofrer as consequências. Se controle.
O detetive pestanejou com força. Não conseguia pensar direito, apenas em arrumar uma forma de salvá-lo.
– Se não fizermos nada, o Jimin pode ser derrubado de cima a qualquer momento. Nós temos que fazer alguma coisa. – seu tom tinha um desespero contido.
– Seokmin conseguiu se comunicar com a SWAT um pouco antes do Namjoon cortar as redes telefônicas e o gerador. Então temos que manter a calma e agir como se o Namjoon estivesse no poder.
Jungkook levou um minuto para concordar com aquilo. A verdade é que ele estava desesperado por dentro, várias vozes gritando dentro de sua cabeça como uma colmeia de abelhas, algumas o diziam para salvar Jimin, outras o obrigavam a se render às ordens e ficar quieto.
Muito de repente, um som remoto penetrou os ouvidos de Jungkook, logo ele percebeu que Seokjin tinha sacado a arma do coldre e agora apontava-a na direção de Namjoon. Pela primeira vez, o detetive o presenciou com sangue nos olhos. Ele parecia furioso, como se tivesse se sentido de algum modo violado. Namjoon riu.
– Eu tenho uma ótima mira desse ângulo. Largue o Jimin e eu poupo uma bala na sua testa. – Seokjin ameaçou, realmente falando sério.
– Não seja burro. – Namjoon divertiu-se. – Abaixe a arma.
Seokjin fez um pouco mais de pressão no cabo da arma e desfez o percussor na parte traseira, lhe mostrando que não estava para brincadeiras.
– Eu injetei neurotoxina no seu filho. – Namjoon declarou muito ligeiramente. Sua percepção apurada detectou uma breve hesitação por parte de Seokjin. – Veja só como ele está. Os efeitos colaterais já estão começando a se manifestar. Mas eu tenho o antídoto comigo. Caso você tente alguma coisa contra mim, seu filho morrerá lentamente.
Seokjin ficou afetado com aquilo, mas ainda desconfiado se podia ser verdade ou não. De qualquer forma, ele achou melhor não recuar a arma.
– Isso é verdade, Jimin? – Seokjin indagou, consciente de que Namjoon podia ter o ameaçado a dizer sim.
A respiração do garoto estava condensando um branco prateado pelo ar. Ele estremeceu violentamente e acenou de forma indistinta. Seokjin não sabia o quão horrível aquela situação estava até se dar conta de que Jimin estava lutando para ficar de olhos bem abertos. E, infelizmente, ele não podia fazer nada além de ficar paralisado.
– Senhor, faça logo o que ele pediu. Abaixe a arma. – Yoongi o encorajou.
Lentamente, Seokjin começou a dobrar o braço para baixo, quase que congelado. Sua respiração estava dura e áspera demais à medida que continuava a encarar Namjoon à distância. Jungkook não disse uma palavra, com a intenção de encontrar uma solução para tudo aquilo, mas logo ficou claro que ele estava de mãos vazias e mente confusa. Cada minuto que se passava, Jimin sofria um pouco mais nas garras de Namjoon.
– É bom que ninguém tente me dar uma rasteira. – Namjoon gritou para o grupo abaixo, colocando todo o desafio que ele possuía em suas palavras. – Há dinamites neste prédio. Se alguém se atrever a me atacar, eu detono todos vocês. Bem, eu poderia ter feito isso mais cedo quando todos estavam dentro, mas não seria tão emocionante.
Jimin esmagou um som trêmulo quando Namjoon o empurrou mais para frente. Ele estava com metade dos pés para fora da margem, embora lutasse para arrastá-los para trás, o corpo de Namjoon estava servindo como barreira. Sabia que não fazia bem para o seu estômago olhar para baixo daquela altura, como também não podia deixar de olhar. Jimin ficou cheio de terror e desespero, então seus olhos se encheram de lágrimas.
Jungkook tinha dado um passo protetivo à frente, mas não se arriscou a ir além para não chamar atenção. Bastou o olhar de Jimin encontrar o seu para um peso esmagador prensar o seu coração. Jungkook soube naquele momento que falhou miseravelmente com ele e que se algo o acontecesse a culpa seria sua.
– Eu tenho um par de olhos à minha esquerda. – Namjoon informou, olhando para Hannah com triunfo. – E um par de olhos à minha direita.
De repente, Dennis emergiu das sombras e uma cacofonia de vozes entre o grupo de policiais abaixo elevou-se. Muitos deles ficaram surpresos, especialmente Seokjin. Ele tinha dado a Dennis a função de cuidar da segurança externa do prédio, nunca passou pela sua cabeça que ele podia estar jogando do lado de Namjoon.
– Então, deixem-me ressaltar: – prosseguiu. – Se eu morrer, o garoto morrerá sem o remédio. Se alguém tentar me atacar, eu explodo esse prédio. Não levo mais do que dois segundos para apertar o botão, portanto vocês saem perdendo de qualquer forma.
– Chega, Namjoon! – Seokjin deu um passo à frente, empurrando o braço de Yoongi no instante que este tentou impedi-lo. – Você está aqui por minha causa, não está? Então me diga o que você quer. Diga. Fale de uma vez por todas qual é a sua proposta para deixar o Jimin.
– Agora estou vendo que você tem colhões. – Namjoon entreteu-se. – Mas, bem, o que eu quero você não pode me dar, Seokjin.
– Diga.
– Você, porventura, pode trazer o meu irmão à vida? – vincos se formaram na testa de Seokjin. Namjoon, então, lhe deu um sorriso malicioso. – Se lembra da operação na casa noturna em Miami? Você autorizou o ataque e um dos tiros atingiu o meu irmão. Ele foi assassinado por sua causa.
Seokjin apenas o respondeu com um olhar fresco e medido. Ele tinha consciência da operação, mas não foi ele quem aprovou o ataque surpresa. A autorização proveio de um superior, Seokjin apenas acatou a ordem que lhe foi dada. Na época, aliás, Seokjin havia ficado indignado com a morte de dois reféns, os quais nunca tiveram a identidade revelada pela perícia.
– Eu participei da operação, mas não ordenei o ataque. – ele refutou, arrancando uma risada zombeteira de Namjoon, embora o som tivesse soado como uma indignação. – Me escute, tudo o que está fazendo é por causa de uma coisa que aconteceu a quase vinte anos atrás. Podemos resolver isso de outro jeito. Por favor, pare. O Jimin não tem nada a ver com o nosso passado.
– Tem razão, ele não tem culpa de ter um pai idiota. – ele atacou, sentindo o menino encolher em seus braços sem dizer nada. – Mas eu também não fui o culpado pelo que aconteceu no vestiário e mesmo assim fui condenado a ser. O FBI me fez ser o vilão dessa história e agora estou em posição de escolher o meu vilão. Nesse caso, seu filho.
Agora, o corpo de Jimin começou a tremer e um choro silencioso explodiu de sua garganta quando a ponta da faca arranhou sua pele, provocando um corte superficial. O sangue começou a escorrer de seu pescoço. Jungkook ficou desesperado, assim como Yoongi e Seokjin.
– Quer saber, Seokjin? – Namjoon cessou o movimento da faca e o encarou de cima. Seus olhos estavam brilhando com lágrimas de raiva. – Eu tentei com o seu filho o mesmo que o Robert fez comigo, mas no fim das contas não tive estômago para continuar. Então dei ele para o Derek. Permiti que o Derek o violasse, o machucasse, o destruísse assim como você permitiu que eu fosse. Não quero que você sinta na pele o que passei, quero que veja o seu filho sofrendo igual, pois a dor dele um dia foi a minha.
– Namjoon – dessa vez foi Jungkook quem se atreveu a falar. Ele levantou as mãos para se mostrar indefeso. – Eu sei que está magoado pelo que aconteceu no passado e você tem todo direito de se sentir assim. O Jimin também passou pelas mesmas coisas, ele sabe exatamente o que você sente, acha que matá-lo vai ser um tipo de justiça pelo que fizeram a você? Não. Você vai estar matando a única pessoa que compreende a sua dor, que compartilha o mesmo pesadelo.
Um músculo na mandíbula de Namjoon saltou. Jungkook percebeu que suas palavras surtiram efeito, mas não soube dizer se aquilo era bom. O homem o estudou de longe, seu olhar o dizia que aquilo tudo era uma grande baboseira.
– Ouça – Jungkook continuou. – Você viveu outra época. A academia era composta por outros profissionais, a maioria está aposentado hoje em dia. Você está querendo se vingar de uma equipe que está lutando para acabar com aquilo que um dia lhe fez mal. Não somos os culpados. O Jimin não é o culpado. Você não é o culpado pelo que lhe aconteceu.
Namjoon absorveu suas palavras, mas elas pareceram bater em uma parede invisível e voltar. Ele riu, mas faltava humor no som, depois lhe enviou um olhar de desacato frio. Desafio e orgulho brilharam em seus olhos.
– Você está certo, detetive. Seu namorado não é o culpado e nem você. – seus olhos pousaram em Seokjin. – Mas você é.
Quanto mais aquela rivalidade durasse, mais difícil seria fazer um acordo. Namjoon estava fissurado pela vingança pessoal, enquanto Seokjin por fazer as pazes. A verdade nua e crua, porém, era que nada do que ele dissesse ou fizesse poderia mudar o passado. Namjoon internalizou tudo e agora estava disposto a vomitar para o mundo.
– Pai, do que eles estão falando? – Hannah o perguntou com a voz baixa, se odiando por permitir que seu queixo tremesse.
– Não se meta, Hannah. – ele a repreendeu firmemente, logo arrependeu-se. – Digo, Lauren.
Ela recuou uma pegada, sentindo uma parte sua estremecer com a menção daquele nome. Pela primeira vez, a menina se sentiu estranha, como se alguma peça não estivesse devidamente encaixada em seu mundo. Após uma batida pesada de silêncio, Namjoon pigarreou e voltou-se para Seokjin.
– Você pode fazer uma coisa para salvar o seu filho. – Namjoon disse. – E para provar que estou falando sério, tenho aqui o antídoto para o veneno.
Ele puxou um minúsculo frasco do bolso e o ergueu, sacudindo para dar ênfase.
– Se você fizer exatamente o que eu mandar, dou o antídoto para o Jimin. – garantiu.
– Diga. – Seokjin parecia totalmente disposto a aceitar. – Diga o que você quer.
Ao ouvir aquilo, Namjoon exibiu o sorriso mais cafajeste que ele tinha dentro dele e deixou que Seokjin soubesse o quanto ele ficou satisfeito com sua resposta. Portanto, sua voz ordenou:
– Quero que você se mate.
Ninguém fez esforço para esconder a surpresa em ouvir aquele pedido. Jungkook sabia que Seokjin não iria engolir aquela oferta, mas por um segundo ele temeu que a resposta fosse outra. Não podia deixar que ele aceitasse ou negasse a proposta, teria de arrumar algum pretexto enquanto a SWAT estava a caminho. No entanto, antes que uma forma de escapatória fosse tomada, a voz de Seokjin se sobrepôs.
– Eu aceito.
O detetive o encarou, descrente, realmente impressionado com sua decisão. Seokjin sequer cogitou ganhar tempo, ele simplesmente aceitou como se a proposta não fosse nada além de um convite. Namjoon estava manipulando todo mundo, Jungkook pensou, e seu chefe estava sendo só mais um participante.
– Senhor, não fale bobagens. – Yoongi falou desesperadamente.
– Se eu não fizer isso o Jimin morre. – seu olhar desviou-se de Namjoon e se concentrou em Yoongi. Havia lágrimas nos cantos dos olhos. – Eu sempre tive o sonho de ser pai. E agora descubro que tenho um filho que está naquele terraço com uma faca no pescoço. Está na hora de dar um basta ao sofrimento dele.
– Seokjin, me escute – Jungkook os interrompeu. – Ele está manipulando você. O Namjoon está tentando fazer com que você se sinta culpado. É um jogo psicológico. Se você aceitar, vai estar dando a ele o gosto da vitória.
– E quanto ao Jimin?
– Precisa ganhar tempo. – sugeriu. – Ele quer ferir o Jimin, mas antes ele quer ferir você. Se fizer isso, aquele desgraçado vai empurrar o Jimin e na mesma hora vai explodir as dinamites. Com isso, o Namjoon vai derrotar todos nós de uma só vez. Pense.
– O tempo está passando, Seokjin. Vamos. Cumpra a sua promessa. – Namjoon interviu meio entediado, chamando a atenção deles. Em seguida, sussurrou no ouvido de Jimin. – Vamos, Jimin, agora é a sua vez. Peça por favor para o seu pai.
A voz dele deslizou para dentro de sua cabeça como um rugido. O menino, no entanto, balançou a cabeça para os lados, incapaz de aceitar aquela ordem.
– Não.
– Tem certeza? – ele começou a provocá-lo com a lâmina, raspando-a contra a pele de sua garganta. Jimin apertou os olhos, estremecendo. – Grite!
O garoto pressionou os dentes para obstruir a passagem de sua voz, mas quando a lâmina começou a rasgar sua pele lentamente, um clamor explodiu para fora de sua garganta.
– Pai, por favor! – seu grito misturou-se às lágrimas.
Seokjin paralisou completamente. Mesmo que uma parte de Jimin não quisesse fazer aquilo, ele se encontrou cumprindo o que lhe foi determinado. Arrependido do que disse, o garoto entrou em pânico internamente quando pescou um vislumbre de choque no rosto de Jungkook. Mesmo tentando não sucumbir ao choro, mais lágrimas caíram ao longo de suas bochechas.
Pela primeira vez, Seokjin foi chamado de pai, algo que ele certamente nunca pensou que lhe ocorreria. Mesmo não sendo tão sensitivo a temperamentos, ele pareceu hesitar um pouco, visivelmente afetado. Até mesmo Jungkook ficou chocado com aquilo, pois percebeu que as palavras de Jimin, mesmo que contra a vontade dele, tinham acertado onde mais machucava.
A face de Seokjin parecia calma, mas seus olhos tinham ido para o chão instantaneamente, fazendo Jungkook ver neles uma mistura de emoções jamais demonstradas antes. Depois de meses trabalhando ao seu lado, o detetive nunca o viu derramar uma gota de lágrima. Mas, depois de tudo, essa "tradição" foi quebrada.
Jungkook olhou para Seokjin com uma sensação doentia no estômago, principalmente quando ele encarou a própria arma, como se estivesse cogitando usá-la contra ele mesmo. Apesar de nunca ter pensado em Jimin como seu filho, Seokjin parecia disposto a dar um pouco de liberdade para ele arrancando a sua, afinal, tudo isso estava acontecendo por sua culpa.
Jimin perdeu a liberdade muito jovem por sua culpa. Namjoon está se vingando agora por sua culpa. Hyeri odeia o próprio filho por sua culpa. Então, ele se perguntou, não seria mais vantajoso se ele perdesse a própria vida ao invés de Jimin? Não podia permitir que Jimin, ou melhor dizendo, seu filho se machucasse mais do que já se machucou.
No entanto, antes que ele pudesse agir como pretendia, um som distante de pneus veio da estrada. A boca de Namjoon escancarou no momento que se deu conta da chegada dos veículos blindados da SWAT. Um flash de irritação o acertou em cheio, então ele puxou os cabelos de Jimin para trás, o fazendo grunhir de dor, depois posicionou a faca no seu pomo-de-adão. Os olhos de Jungkook se arregalaram imediatamente.
Um baixo rosnar veio da garganta de Namjoon, mostrando-se nem um pouco contente com a presença da SWAT. Antes que ele pudesse rasgar o pescoço do menino, Hannah avançou para cima dele e lhe deu um chute nos testículos, o fazendo dobrar as pernas em agonia. Ele rangeu de dor e, em consequência, deu um passo para trás, afrouxando ligeiramente o braço em volta de Jimin. Diante da surpresa do ataque, o menino se libertou.
Jimin cambaleou para longe, mas seu corpo estava completamente vulnerável para suportar o próprio peso, então ele caiu de quatro no pavimento. Antes de ter tempo de perceber o que havia acontecido, ele se flagrou olhando para trás, onde se deparou com Hannah atacando Namjoon. Ela lhe deu um murro no queixo, mas o homem impediu sua segunda investida e a empurrou. Isso assustou muito Jimin e, sem aviso, ele se levantou do chão aos trancos para se esconder em um dos pilares.
Dennis, percebendo que houve uma debanda caótica de pés e vozes e que a SWAT ocupou o terreno, tropeçou para trás e correu de volta para dentro do prédio, tentando se safar daquela emboscada. A equipe recém-chegada estava usando máscaras de proteção ao gás e carregavam submetralhadoras pesadas nas mãos. Todos saíram dos carros como uma manada em fuga e correram coordenadamente para dentro do edifício.
Ainda no terraço, Hannah chutou a lâmina que Namjoon segurava, fazendo-a quicar para longe. Ele deu um riso perigoso, no qual um fino fio de sangue escorreu do canto. A menina, no entanto, não ficou nem um pouco tensa com seu gesto sombrio, dificilmente parecia que ela não o conhecia de fato.
Ela podia ter perdido a memória, mas parecia louca o suficiente para matar, e Jimin não tinha dúvidas das novas habilidades de sua amiga. Namjoon pegou o aparelho detonador do bolso, mas antes de apertar o botão, Hannah pulou para cima dele. Ela amorteceu a força de seus dedos até conseguir derrubar o dispositivo no chão. Namjoon, doente de fúria, se safou dela em uma única manobra e agrediu seu estômago com um soco.
Hannah tossiu e cambaleou alguns centímetros. Ela olhou para ele bem a tempo de senti-lo agarrar seus cabelos, puxando-os para trás. A garota fugiu para fora de seu alcance e agrediu seu joelho com um chute, mas Namjoon não sentiu os efeitos de seu ataque. Tudo o que ele fez foi arrancar uma faca curta do casaco e afundar nela com um único impulso. Jimin cobriu a boca quando um grito ameaçou flutuar para fora de sua garganta.
Ele quis parar de olhar, mas não podia. Seu rosto tinha ficado subitamente pálido, o suficiente para expor uma prévia de seu desespero. Namjoon removeu a faca com um forte puxão, vendo-a cair de joelhos em sua frente. Sulcos de sangue gotejavam da barriga dela, salpicando o chão. Com aquilo, Hannah olhou para a própria ferida, agonizante, depois o encarou com surpresa.
– Eu avisei para você não se meter. – ressaltou ele.
Quando Jimin se deu conta do que estava acontecendo, uma precipitação de pavor fluiu por ele. Os olhos de Namjoon o encontraram à distância, essa foi a primeira coisa que ele fez antes de catar a lâmina e o detonador do chão e caminhar em direção a ele. O menino alternou o olhar entre o homem e sua amiga se contorcendo no chão, depois tentou engolir o choro, mas já era tarde demais.
Naquele momento, Jimin teve a sensação de que sua alma foi sugada para fora do corpo ao ponto de enfraquecer suas pernas e o impedir de se mover. Ele sentiu as próprias lágrimas arderem o interior de seus olhos, o avisando que estava a caminho. A sensação era como um pesadelo, tonto, escorregadio e borrado nas bordas. Tudo o que ele fez foi se erguer do chão e recuar o tanto que pôde.
– Você tem muita sorte, Jimin. Agradeça enquanto pode. – ele disse entre risos.
O menino foi surpreendido por uma grande mão em sua cara, na qual o atacou com um tapa. Ele tocou a região atingida bem na hora que seu olhar encontrou os contornos do helicóptero aterrissando no terraço. Namjoon o puxou pela gola da camisa, enfurecido, parecendo tão fixado na ideia de matá-lo que não percebeu o abeiramento da aeronave.
– Por favor...
– Pare de suplicar. – exigiu.
Jimin não disse nada para isso, apenas continuou encarando-o através de seus cílios pretos. Namjoon parecia muito perturbado, e conhecendo-o, Jimin não tinha dúvida de que ele poderia explodir as dinamites agora mesmo, incluindo ele próprio, só para ter certeza de que matou várias pessoas, como um ato terrorista.
O coração do garoto parou quando a mão dele, aquela que segurava o detonador, ergueu-se na frente de seus olhos. Namjoon sorriu diabolicamente com sua reação, seus olhos possuíam um brilho severo e doentio. Assim que seu polegar roçou o botão, uma explosão de tiros aniquilou os ouvidos de Jimin. Ele arregalou os olhos assim como engoliu um grito de susto.
Os olhos de Namjoon ficaram arregalados de supetão, seu rosto tinha adquirido um tom quase que exatamente vermelho. O menino deslizou as vistas para baixo, enxergando pingos de sangue chuviscando o chão. O homem na sua frente sofreu um breve espasmo, deixou a lâmina e o dispositivo detonador escorregar das mãos, e então caiu de joelhos.
Se vendo livre, Jimin encontrou Seokjin parado à distância com a arma esticada em sua direção. Ele tinha disparado contra Namjoon. O garoto engoliu contra a grossa espessura em sua garganta e deixou escapar um suspiro trêmulo quando o viu. Ainda podia ouvir o eco dos tiros em seus ouvidos.
No que parecia em câmera lenta, ele deixou os próprios olhos viajarem em um arco lento em torno do terraço, encontrando Jungkook e a agente Layla socorrendo Hannah e a colocando dentro do helicóptero. O corpo dela parecia mole, ele nem soube dizer se ela ainda estava respirando. Por um segundo, Jimin se culpou por não ter feito nada, nem mesmo pôde conversar com ela como desejava.
Houve um momento de silêncio arrepiante antes de Seokjin dizer:
– Você está bem?
Jimin confirmou com um aceno, mas não era exatamente verdade.
Seokjin se aproximou calmamente e ofereceu sua mão para o garoto. Ele fitou seu gesto com um pouco de tontura e, com um encolher de ombros, o segurou. Descobrir que Seokjin era seu pai foi como estar dentro de um sonho distorcido, errado e mais ou menos estranho. Para ele, de repente, o mundo pareceu cheio de possibilidades e pegadinhas.
Seokjin o trouxe para perto dele, tentando mantê-lo o mais longe possível de Namjoon, este que havia se arrastado impulsivamente para perto de uma pequena coluna de pedra. Ele arfou por ar e pestanejou com dificuldade enquanto pressionava o abdômen, tentando parar o fluxo de sangue. Os sulcos de sangue estavam saltando para fora das dobras de seus dedos.
O garoto sentiu-se meio grogue um segundo antes de perder brevemente a consciência. Como se toda a sua energia tivesse sido drenada, seu corpo fraquejou e então ele caiu no chão antes mesmo que Seokjin tivesse a chance de segurá-lo. Seokjin piscou, nervoso, depois se agachou próximo dele.
– Jimin, acorde. Olhe para mim. – o menino abriu os olhos vagamente, mas a verdade é que seu rosto estava começando a perder a cor. Ele mal podia respirar.
Uma risada azeda o interrompeu. Seokjin o encarou de volta, completamente desesperado.
– O veneno está matando ele. – elucidou com palavras entrecortadas. Ele parecia sentir muita dor, mas evitava demonstrar.
– Onde está o antídoto?
– Eu o perdi quando aquela cadela me atacou. – Seokjin não conseguiu dizer nada, as palavras certas não estavam ali. – Eu avisei que se eu morrer, seu filho morre comigo.
– Jimin! – era Jungkook vindo em sua direção.
Ele se ajoelhou ao lado do menino até estar com a cabeça dele apoiada em seu colo. Seokjin recuou, não sabendo exatamente o que fazer. Os olhos enfraquecidos de Jimin enfrentaram os dele. Seus músculos estavam paralisados, ele mal conseguia balbuciar.
– Ele está piorando. – Seokjin disse, sentindo a presença de um bolo na garganta.
– Eu encontrei o antídoto. – Jungkook avisou na mesma hora que abriu o frasco. Ele estava igualmente desesperado, suas mãos chegavam a suar.
– Espere. – Seokjin o interrompeu com um toque no braço. – E se isso for uma substância tóxica? Se não for o antídoto vamos matar o Jimin. Precisamos...
– Temos que tentar.
Apesar de estar com uma incerteza afiada e cortante, Seokjin acabou permitindo-o fazer. Jungkook voltou-se para Jimin, ele já estava com as veias do pescoço inchadas, e então puxou o líquido com uma seringa antes de aplicá-la nele com todo cuidado, rezando para que fizesse efeito.
Uma corda invisível sufocou a garganta do detetive quando Jimin não reagiu. Ele segurou em cada lado de seu rosto com uma necessidade urgente de se manter por perto. Seokjin sentiu tudo a sua volta desmoronar enquanto os assistia.
– Anjo – ele sussurrou, escorregadio, mas o corpo dele não o respondeu, tampouco se mexeu. – Por favor, fique comigo.
O interior dos olhos de Jungkook arderam pela chegada das lágrimas e então algumas gotas quentes caíram pelo seu rosto.
– Eu não posso te perder. – suas últimas palavras saíram aos tropeços.
Jimin abriu a boca em busca de ar, seus pulmões expandiram, ameaçando estourar, e bem quando Jungkook achou que ele pararia de respirar, seu peito suavizou e ele voltou a respirar normalmente.
– Jungkook? – ele se flagrou chamando-o, sua cabeça ainda estava girando.
O detetive sorriu.
– Shh, não fale muito. Eu vou te levar para o hospital, está bem? Segure em mim.
Jungkook conduziu o braço dele para o seu pescoço, fazendo-o enganchar os dedos na sua nuca, em seguida o pegou no colo. Jimin deitou a cabeça em seu peito. Foi apenas por um tempo bem curto, mas que serviu para o fazer ter a certeza de que Jungkook estava mesmo lá.
– Viu só? Eu não sou tão desgraçado assim. – Namjoon comentou, dessa vez sua testa estava inundada de suor. Ele devia estar sentindo muita dor, afinal. – Eu poderia nem ter trazido o antídoto se eu fosse esse cara malvado que vocês dizem que sou.
Jungkook olhou para ele com desprezo, mas ignorou seu escárnio. O minúsculo sorriso de Namjoon se quebrou, a única coisa que restou em sua expressão foi uma careta de dor. O detetive encarou Seokjin, que também estava aliviado por Jimin ter acordado.
– Yoongi e Seokmin foram ajudar a SWAT a desarmar as dinamites e a encontrar o Dennis. Ao que tudo indica, eram dinamites falsas. – disse Jungkook, olhando furiosamente para Namjoon, que sorriu para a sua observação. – Prenda logo esse desgraçado e vamos descer.
Layla estava na porta do helicóptero, seus cabelos voavam pelo rosto por causa da forte batida das hélices. Ela o ajudou a colocar Jimin em um dos bancos, bem ao lado de Hannah. Seokjin deu um suspiro instável quando ouviu um gemido se quebrando na garganta de Namjoon. Ele estava cheio de raiva antes, mas agora ele não sabia como se sentia.
Seu olhar o encontrou e por um momento o que ele tinha para falar dissolveu-se. Havia decepção, rancor, fúria, mágoa e muitas outras coisas confusas na expressão de Namjoon. Ficar cara a cara com Seokjin sempre foi o seu desejo, mas ele nunca pensou que seria ele a pessoa a estar baleada.
– Me perdoe. – Seokjin disse de repente, surpreendendo-o. – Me perdoe por falhar com você. Eu teria feito tudo diferente se eu pudesse voltar no tempo.
– Mas você não fez. – ele refutou em um único fôlego.
– Isso não quer dizer que não acreditei em você. – a boca de Namjoon puxou-se para o lado, mas seu gesto foi cansado. – O que você fez hoje me provou que eu lhe subestimei por tempo demais, mas também serviu para mostrar que a vingança não é um tipo de justiça.
– Você não passou pelo que eu passei. Não diga o que não sabe.
– Tem razão, eu não sofri as mesmas coisas que você, mas diante de tudo o que passamos, você conseguiu achar meu ponto fraco. Então, considere-se vingado. – Namjoon não o respondeu dessa vez. – Sabe, Steve, você teria sido um ótimo parceiro. O que aconteceu hoje é uma coisa que o FBI não vai esquecer. Você sempre esteve na minha cabeça, desde o dia de sua expulsão, era só ter me procurado para lhe ajudar e teríamos feito isso juntos, sem precisar machucar a vida de ninguém.
De repente, Namjoon o agarrou pelo colarinho, forte e sólido, e olhou no fundo dos seus olhos com total severidade. Seokjin pensou que ele fosse o apunhalar com algum objeto pontiagudo, por isso tentou se esquivar para trás, mas Namjoon não deixou.
– As suas balas não doeram mais do que aquele dia no vestiário. – ele confessou, rangendo os dentes pela dor. – Meu corpo está morrendo, mas a minha alma está morta faz tempo. O Robert a matou naquele dia. Já você, nunca se esqueça que hoje eu me tornei esse monstro por sua causa. Eu aprendi a me odiar e a odiar a todos.
Após um instante de silêncio, Namjoon o segurou mais apertado e continuou:
– Eu não te perdoo, Seokjin.
Ele engasgou um pouco, então Seokjin sentiu o aperto em sua roupa diminuir gradativamente até que de repente a mão de Namjoon escorregou para baixo e seu corpo tombou para trás, encontrando a coluna de pedra. Seus olhos perderam o brilho e cada músculo de seu corpo paralisou. Seokjin engoliu duramente. Ele estava morto.
Ele visou a cicatriz na testa de seu antigo colega, lembrando-se do significado por trás da marca. Seu próprio pensamento o assustou. No silêncio assombrado, Seokjin fechou os olhos dele com seus dedos e sentiu os primeiros respingos de chuva caírem pelo terraço.
Ele sempre soube que o caso de Steve traria pesadelos para ele, mas nunca pensou que seu passado pudesse gerar uma guerra revoltantemente íntima. Vinte anos, ou muito perto disso, trouxeram momentos assustadores para Namjoon. Ele não conseguia se livrar dos próprios demônios, nem mesmo afastá-los por um segundo de sua cabeça, pois só existia um único dueto: ele e suas sombras.
Ninguém podia sentir sua dor, ninguém podia saber o que ele passou, por isso ninguém o ouviu. Agora Seokjin sabia o quanto errou em não o ouvir, ou melhor, em não o ajudar. As pessoas conseguem escutar o outro, mas elas estão mesmo se atentando no que é dito?
Seokjin, assim sendo, falhou em pensar que o tempo curaria uma dor incurável. Namjoon só precisava de alguém, pelo menos uma pessoa, para se apoiar. Ele, porém, nunca teve ninguém.
Muito ligeiramente, Seokjin se pôs de pé. As palavras de Namjoon ainda martelavam em sua cabeça, mesmo quando ele se virou para longe. A imagem de Namjoon morto continuou se repetindo em seus pensamentos à medida que ele caminhava de volta para o helicóptero. Não seria tão simples apagar aqueles flashes em retrospectiva, recontando toda sua história.
E então, este era o fim de uma trajetória sombria e o começo de uma expectável liberdade.
✮✮✮
Oi meus amores, esse capítulo me consumiu por completa e ainda assim não fiquei satisfeita com ele :/ mas espero que vocês tenham gostado.
Muitas criaram essa teoria, mas ainda havia dúvidas sobre quem era o pai biológico do jimin, bem, agora não há mais. Vocês viram a versão do Namjoon, mas no próximo capítulo vocês vão saber a versão do Seokjin. Conto com vcs pra não soltarem nenhum spoiler no twitter pq esse é pesadíssimo e estragaria as expectativas de quem ainda tá no começo/meio da fic.
Caso não se lembrem do Dennis, ele apareceu no capítulo 30, logo no comecinho, e ninguém desconfiou dele (rs). Deem uma lida caso queiram se lembrar.
Enfim, obrigada por chegarem até aqui. Dangerous está na reta final da primeira temporada, o próximo capítulo será o penúltimo. Beijinhos e até mais!
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