⍟ sixty one

– Cancele a visita. – a voz de Jungkook irrompeu a sala de Seokjin como o golpear de uma pata de leão.

Seokjin, que tinha estado oculto entre a tela do notebook, ergueu seus olhos confusos como fendas na direção do detetive.

– O que disse?

– Cancele a visita. – ele repetiu com um ligeiro desprezo em seu tom conforme aproximava-se. – Não vou deixar que o Jimin se encontre com esse cara.

– Jungkook, nós já conversamos sobre isso...

– Não – ele colocou ambas as mãos acima da mesa, próximas do documento que Seokjin analisava. – Eu me comuniquei com a imprensa e eles negaram qualquer tipo de vazamento, até porque nem eles mesmos sabiam sobre o resgate. O que sugere que Christopher Dallas conseguiu essa informação com outras fontes.

Ele tinha demorado para assimilar a informação que Seokjin lhe dera mais cedo, mas depois de muita pesquisa, descobriu que a imprensa estava alheia quanto aos resgates. Christopher não tinha como saber sobre Jimin porque ninguém além do FBI tinha conhecimento sobre informações do caso, isto é, o que ele alegava saber na verdade tinha sido passado a ele de forma ilegal.

Depois de um minuto de silêncio, Seokjin lhe atirou um olhar repreensor.

– Nós não conversamos com o Christopher para saber de onde ele conseguiu essa informação. Não foi ele quem citou a mídia, fui eu que dei esse palpite. – Jungkook, curvado contra a mesa, afastou-se inquietamente e fechou a cara.

– Seokjin, ouça. – ele começou, pausando para uma dolorosa exalação de ar. – Esse cara não sabia nada sobre o filho e de repente ele descobre que o Jimin está em Vancouver porque foi vítima do tráfico? Isso é loucura.

– Você realmente está cogitando isso ou é mais uma de suas táticas para não afastar o Jimin?

Jungkook pareceu como se tivesse ficado subitamente ofendido. O frio de uma lembrança formigou sua pele, ele se lembrava de estar comendo com Jimin no quarto, de assisti-lo cochilar uma vez ou outra e de seus suspiros tristes sempre que tocava no assunto. Talvez realmente estivesse tomando uma decisão a partir desses momentos, mas no fundo ele sentia que havia algo para além de seus interesses.

– Nós podemos proteger ele e as meninas. Aqui é mais seguro do que qualquer outro lugar. – Jungkook sentiu-se compelido a mencionar isto, mas houve um longo silêncio após a sua fala.

Seokjin se deslocou de sua cadeira e deu a volta na mesa, como se considerando sair da sala, mas ele somente parou de frente para Jungkook e então inclinou sua cabeça.

– Eu disse isso uma vez, mas volto a repetir: o Jimin deve ficar com a família em primeira instância sob a nossa segurança. Não é porque ele vai embora que significa que não vamos protegê-lo.

– Seokjin-

– A grande questão é que você está mais preocupado porque não vai ser você a pessoa encarregada disso. – ele explicou candidamente, vendo-o abrir a boca e então fechá-la novamente, quase com um vermelho infeliz no rosto. – Eu sei que talvez você queira fazer isso com as próprias mãos para garantir que ele esteja seguro, mas nós temos uma equipe gigante que tem competência para isso.

Jungkook olhou ao redor da sala de modo impaciente e começou a se virar para longe com desgosto. Ele estava de costas agora, se por raiva, impaciência ou simples aflição, Seokjin não podia dizer. De seus lábios, Seokjin ouviu uma respiração tempestuosa, então ele se virou de frente de modo enraivecido e disse:

– Se você sabe que esse lugar é mais seguro e tem uma equipe gigante, então por que quer tirá-lo daqui?

– Não sou eu quem determino isso, detetive. É o regulamento. – Jungkook bufou.

– Você nunca foi de cumprir o regulamento e agora fala sobre isso como se fosse um costume seu?

Seokjin se calou, sua história jorrando para fora dele, tudo. Ele sorriu com aquilo, mas não havia humor em seu gesto. Apesar de ele ouvir aquelas palavras, parecia que tinha uma parede invisível ao redor dele quase como lacrada em gelo, blindando-o contra qualquer ataque. Jungkook, por outro lado, pensou no modo como disse aquilo e arrependeu-se.

– Mesmo que eu quisesse cancelar a visita, não posso mais fazer isso. – Seokjin disse, mais seriamente. – Ele já chegou no prédio.

Jungkook tinha ficado tão desconcertado que quase recuou. O raio sutil do sol escondido entre as densas nuvens estava se firmando bem atrás dele, fazendo com que a parede de vidro brilhasse como ouro. Jungkook pareceu que ia dizer algo sobre isso, então mudou de ideia.

Alguém bateu na porta, em seguida uma silhueta magra preencheu a sala. Era Yoongi com sua típica expressão indecisa.

– Senhor, o pai do Jimin está aguardando na sala de interrogatório. Devo dizer alguma coisa?

– Diga que estamos indo em um minuto.

Jungkook piscou com aquilo ao mesmo tempo que Yoongi lhe acenou à distância. Quando a porta moveu-se fechada agora, Seokjin olhou para o detetive e podia dizer que ele estava se forçando a ficar em silêncio

– Jungkook – ele tinha sussurrado. Jungkook ergueu a cabeça e eles se encararam, seus olhos trancados. – Eu juro para você que não deixarei o Jimin ir caso você esteja desconfiado do Christopher. Mas, primeiro, vamos deixar que ele veja o filho, assim poderemos estudar o comportamento dele diante de tudo isso.

– Se eu perceber algo de diferente nesse sujeito, eu mesmo tiro o Jimin daquela sala. – Seokjin não se opôs, apenas acenou em concordância.

– Eu te dou carta branca para fazer isso. – disse ele. – Mas agora vá buscar o Jimin, ele deve estar no quarto.

Por baixo da armadura de humor amargo havia uma centelha de preocupação se acendendo. A bile subiu para a garganta de Jungkook quando ele cogitou buscá-lo. Ele podia ir agora mesmo até aquela sala de interrogatório para encurralar Christopher com perguntas, mas definitivamente Seokjin não o deixaria prosseguir. Então, só restou acenar secamente e andar para fora do escritório, quase que com pegadas febris.

Através da escuridão granulada do corredor, Jungkook alcançou uma porta alinhada a inúmeras outras e abriu-a com seu cartão de acesso, atravessando-a com uma insatisfação que já se encontrava lá. Ele podia estar agindo sob as ordens de Seokjin, mas no fundo ainda havia uma pitada de desafio ao poder dele.

Jungkook não quis argumentar quando pôde, no entanto, sabia que essa situação precisava ser analisada. Ainda haviam muitas dúvidas em sua cabeça, e enquanto elas não fossem devidamente tiradas a limpo, ele não deixaria Jimin ir.

A ponta de seu sapato cutucou o assoalho da sala de estar no momento que caminhou na direção das escadas. No entanto, um ruído de pegadas o fez parar ali mesmo no primeiro degrau.

Jimin surgiu no cume de surpresa, seu olhar demorou-se em Jungkook com uma certa tristeza. Ele usava um suéter de lã branco e calças jeans clara, uma paleta de cores que combinava com sua cor de cabelo. Jungkook sentiu sua cabeça sacudir como uma corrente de eletricidade quando o observou em silêncio. Ele estava pronto para partir.

– Eu vim te buscar. – disse o detetive.

– Ele já chegou?

Jimin sentiu o próprio estômago descer até os joelhos quando o viu abrir a boca e então fechá-la novamente, como se o canal entre sua mente e a sua garganta tivesse sido destruído. Então, Jungkook somente acenou com um pesar doloroso em suas feições.

Vagamente familiar, e ainda distante, o menino resgatou uma memória no fundo de sua mente, o que de repente o fez descer a escada às pressas. Jungkook subiu mais um pouco e o encontrou na metade dos degraus, onde o puxou para um abraço forte. Apesar de estar um pouquinho abaixo, o detetive continuava tendo uma vantagem pelo seu tamanho.

Aquilo podia parecer precipitado, mas o toque de Jimin parecia lhe dizer algo, como se fosse uma deixa, porém Jungkook estava tão imerso no seu carinho que não conseguiu interpretar tão bem. Um sussurro veio silenciosamente na direção de seu ouvido e percorreu todo seu interior, o consumindo em todas as partes.

"Eu quero você".

Jungkook afastou-se devagar e o olhou nos olhos por um tempo absurdamente longo, realmente se perguntando se aquelas palavras saíram dos lábios de Jimin ou de sua própria mente. Isso pareceu deixá-lo entre uma nuvem densa de confusão e ele tentou, de alguma forma, dar sentido a essa frase.

– Jungkook – a voz de Jimin estava consideravelmente mais baixa agora. – Eu não sei se estou pronto. Meu pai passou tanto tempo longe de mim, acha mesmo que ele vai gostar de me ver dessa forma?

– Você está lindo, como sempre. – seus dedos o acariciaram na bochecha e Jimin pôde sentir seu coração trovejando atrás da caixa torácica. – Tenho certeza que ele ficará feliz em te ver.

– Você vai comigo?

Jungkook não se moveu. Ele levou cerca de dois segundos para pensar sobre isso. Não porque ele não queria acompanhá-lo, mas porque o assunto o perturbava por dentro. Um suspiro vindo de Jungkook encheu o silêncio entre eles.

– Vou estar com você o tempo todo. Não vou deixar que vá embora sem antes ter certeza que ficará seguro. Dou minha palavra. – o menino apertou os cantos dos lábios com aquilo e imediatamente balançou a cabeça em compreensão. – Posso te levar agora?

Engolindo ar, Jimin fez uma pausa apenas por um segundo e aprumou as costas, tentando transferir sua coragem para as pernas. Então, não ansiosamente, Jungkook deu espaço para que ele pudesse passar e em seguida deslizou atrás dele, seus olhos nitidamente suavizando em um preto aveludado quando Jimin segurou sua mão.

Eles chegaram perto da porta, mas foi Jungkook quem abriu-a pela maçaneta. A luz de dentro clareou parcialmente uma fatia esbranquiçada da parede à frente e então a porta fechou-se às costas de Jungkook. O menino soltou sua mão imprevistamente, como se a ideia de alguém emergir de repente o deixasse a mercê de seu próprio receio.

Quase como se já esperasse por isso, Jungkook apenas acionou o elevador e aguardou a porta se abrir para o lado. Jimin foi o primeiro a entrar, ficando encostado na parede traseira, no qual permitia-o um vislumbre anguloso das costas do detetive quando ele também se empurrou para dentro.

– O que vai ser de agora em diante? – Jimin perguntou quando o elevador começou a se movimentar. Jungkook desviou o olhar a ele. – Com a gente.

Por um momento, Jungkook sentiu a garganta frear diante de uma convicção que ele teve por trás de uma ideia, mas de repente ela se foi. Ao vê-lo muito quieto, Jimin presumiu que as respostas poderiam ser desagradáveis.

– Talvez seja um pouco difícil definir isso agora. – o garoto simplesmente entreabriu a boca, não esperando por uma resposta tão vazia. – Mas eu desejo que a gente possa se encontrar o quanto antes.

– É tão estranho. Ontem eu chorei de saudade de você e agora que você está aqui estou prestes a ir embora quando tenho a chance de ficar.

– Jimin, eu não entendo. – ele se virou de frente para o menino, um músculo flexionando sua mandíbula. – Uma hora você diz que não devemos ficar juntos e agora está falando sobre ter uma chance de ficar comigo. Eu realmente não consigo entender o seu desejo, anjo.

Jimin soltou um suspiro perturbado.

– Nem eu mesmo sei o que sinto. – ele cedeu, encontrando seus olhos instantaneamente. – É tanta coisa se mexendo dentro de mim, sabe? Eu não consigo dizer o que quero, nem o que é bom para mim. Parece que todas as escolhas que faço são péssimas, entende?

– Ainda temos tempo para-

O elevador guinchou quando parou e então a porta escorregou aberta, revelando uma sala sinuosa com portas cinzas em algumas direções. Jungkook se virou, os olhos negros faiscando, depois pisou para fora do elevador. Jimin o seguiu após um instante de silêncio. Ele queria poder tomar uma decisão certa, mas estava mais confuso do que nunca.

A partir do momento que Jimin tinha pisado fora e visto aqueles guardas perambulando em seus uniformes, seu coração não tinha sido capaz de encontrar um ritmo constante. Jungkook o guiou por um corredor de portas alinhadas e penetrou a última delas, dando de cara com Seokjin e Yoongi, somente eles.

Yoongi certamente estava lá há bastante tempo enquanto Seokjin devia ter chegado em poucos minutos. Ambos estavam virados de frente para o painel de vidro que dava para outra sala, esta que possuía paredes à prova de som, então tudo o que se conversava dentro era ouvido através de um rádio.

No interior daquela sala estava Christopher Dallas, em pé, andando lentamente de um lado para outro. Com seu rosto proeminente, ele fitava o chão sob seus pés em completa ansiedade. O cabelo castanho dourado estava meio desbotado pela forte luz do lugar e ele parecia alto, os músculos acentuados embaixo da jaqueta cinza que usava.

Jimin começou a ficar nervoso antes mesmo de conseguir visualizar seu pai. Ele olhou para além do vidro e sentiu sua visão um tanto turva por alguns segundos. Eles estavam cara a cara agora, mas seu pai não podia enxergá-lo de dentro, por isso o olhar dele parecia tão inquieto entre aquelas paredes.

Sua memória tinha sido espremida na tentativa de achar uma última imagem de seu pai antes de ele ir embora. O que veio na sua mente se encaixava perfeitamente com aquele homem, menos a roupa de luxo que ele usava.

– Jimin – alguém o chamou. Era Jungkook. – Eu vou estar aqui fora. Me chame se precisar.

O menino levantou seus tímidos olhos a ele e lhe deu um fraco aceno. Jimin não quis demonstrar, mas sentiu uma pequena agitação nauseante na barriga quando pensou no que Christopher acharia dele quando o visse. Tinha medo de ser desprezado ou rejeitado pelo próprio pai por ter sofrido com abusos.

Uma mão gentil tocou seu ombro de repente, quando Jimin ergueu os olhos, encontrou Seokjin ao seu lado, sua boca curvada para cima num sorriso pequeno.

– Vamos? Ele está te esperando.

Então o garoto foi guiado para a porta secundária. Todos os seus músculos ficaram tensos, como se estivesse se preparando para o desconhecido. Ele também estava tremendo, mas definitivamente não era de frio. No minuto seguinte, a porta deslizou aberta e ao longe estava a figura de seu pai, mais real do que poderia estar.

Quando o viu, Christopher parou de andar subitamente e seus olhos, azuis como o oceano, ficaram esbugalhados. Jimin se mostrou igualmente surpreso, como se fosse sucumbir a qualquer momento, e respirou fundo na tentativa de controlar o choro.

– Filho...

Antes que ele dissesse mais alguma coisa, em última análise, Jimin correu na sua direção e se lançou em seus braços. Christopher o abraçou carinhosamente, da mesma forma que um pai faz quando segura um bebê no colo. Por cima do ombro de Jimin, ele gesticulou para Seokjin, que posteriormente fechou a porta, deixando-os a sós.

Afastando-se, Christopher o segurou no rosto com as duas mãos e o estudou como se estivesse à procura de algum ferimento. Seus olhos estavam brilhando pelas lágrimas, assim como os de Jimin também adquiriram uma cortina translúcida no meio de sua própria visão.

– Como é bom te ver de novo, filho. – o menino sorriu devagar e uma lágrima deslizou ao longo de sua bochecha e alcançou seus lábios. – Você está bem? Eles te machucaram? Como isso chegou a acontecer, meu amor?

– Eu estou bem agora, pai. – ele ouviu seu pai dar um suspiro profundo, um som semelhante a alívio. – Foi a mamãe quem te contou?

Christopher o beijou na testa, um gesto que normalmente ele usava quando colocava Jimin para dormir quando pequeno. Em seguida afastou-se, limpando as lágrimas derramadas dele com os polegares.

– Eu não soube pela sua mãe, meu amor. – contou, vendo-o confuso, mas não surpreso. – Ela mentiu tantas vezes sobre você, me fez acreditar que você estava bem quando na verdade não estava.

– Então como o senhor soube sobre mim?

Antes de respondê-lo, Christopher o convidou para sentar. Jimin fisgou uma cadeira próxima e se acomodou, sentindo seu pai fazer o mesmo em seguida. Ele esticou suas mãos sobre a mesa, oferecendo-as para seu filho, que as tomou com muito amor.

– Eu soube que você estava aqui através de um tal de Jared. Acho que ele faz parte da esfera mais alta do FBI. – a surpresa retornou para o olhar de Jimin, que instintivamente olhou na direção do painel de vidro, como se pudesse ver o rosto de Jungkook com aquela informação. – Ele me localizou e me disse que você tinha sido vítima dessa barbaridade e que estava precisando de um membro da família para te levar para casa. Quando eu soube disso, deixei a Grécia na mesma hora.

Por trás do vidro, Jungkook havia arregalado os olhos em completa fúria. Uma onda de surpresa e indignação caiu forte sobre ele, o fazendo apertar os dentes.

– Desgraçado. – rangeu.

– Espere um pouco, ele disse Jared? O Jared que conhecemos? – Yoongi falou, igualmente chocado.

– Você conhece outro com esse nome que faça parte do FBI? – Seokjin refutou.

– Ele fez isso porque sabia que eu não me afastaria do Jimin, então usou o pai dele para forçá-lo a se afastar de mim. – Jungkook pensou em voz alta, seu estômago revirado de tanta raiva. – Filho de uma puta.

– Não posso acreditar que ele fez isso. – Seokjin adicionou, realmente tendo ideias nebulosas sobre o inspetor agora.

– Ele falou com o senhor pessoalmente? – do lado de dentro, Jimin perguntou.

– Sim, filho, ele esteve na Grécia. Ele me mostrou a credencial do FBI porque eu não estava acreditando no início. – antes que Jimin tivesse a chance de dizer algo, seu pai continuou. – Fiquei desesperado quando soube o que aconteceu. Falei com a sua mãe, mas ela continuou negando, então tentei entrar em contato com o FBI para autorizar a minha visita.

– A mamãe sabia de tudo desde o início. – Jimin apontou, limpando mais lágrimas que caíram. – Eu contei a ela sobre a proposta que recebi, mas ela não fez nada. Continuou fingindo para as autoridades que era uma mãe preocupada.

Jimin não tinha a intenção de assustá-lo ou deixá-lo preocupado com as suas confissões, mas seu pai precisava saber quem era a mulher que ele amou durante uma vida toda. Pela reação de horror de Christopher, aparentemente ele não sabia de tais coisas.

– Está me dizendo que a sua mãe deixou você ser levado por esses caras? – o menino confirmou com um aceno, depois abaixou a cabeça, como se evitando mostrar sua fraqueza para o seu pai. – Eu não posso acreditar que ela foi esse monstro com o próprio filho. Por que ela faria isso?

– Porque ela estava apaixonada pelo cara que me trouxe para cá.

Os olhos de Jimin estavam suaves, mas havia algo quase como de um lobo dentro deles. Ele se sentia derrotado quando dizia para si mesmo que sua mãe o trocou por um namorado, mas ficava furioso quando tinha certeza disso.

– Eu sinto muito por tudo que você passou, filho. Se eu pudesse apagar essa parte ruim de sua vida, eu faria. – Christopher falou, sem calar as palavras que ele tinha dito. – Me perdoe por estar ausente quando isso aconteceu, me sinto culpado por saber que isso não teria acontecido se eu estivesse por perto.

– E por que o senhor não estava? Eu sei que tem a empresa na Grécia, mas em cinco anos não teve sequer um único dia que o senhor pensou em tirar uma folga para me ver?

Jimin observou os vincos aparecerem na testa dele e rugas de preocupação formarem parênteses em torno de sua boca, como se o assunto o incomodasse de alguma forma.

– Sua mãe me proibiu. – ele contou, tão baixinho que Jimin mal pôde escutá-lo. – Quando nos divorciamos, ela disse que eu deveria ficar longe de você. Hyeri fez um inferno para que eu nunca mais voltasse a te ver.

– Não entendo – disse Jimin, realmente esperando que seu pai lançasse uma luz sobre aquela história. – Você é o meu pai, ela não tem direito de fazer isso.

Christopher se calou de repente, como se tivesse ficado ciente do segredo que guardava. Jungkook não tinha contado a verdade para Jimin porque essa informação devia partir da pessoa envolvida e não de um detetive. E naquele momento, Jungkook se viu esperando que Christopher fizesse isso.

– Filho, tem uma coisa que você precisa saber. – Jimin engoliu uma espessa camada de saliva quando sentiu a tristeza óbvia na voz dele. – Há muito tempo venho buscando formas de lhe contar isso, mas nunca achei a oportunidade certa.

– Pai-

– Eu não sou seu pai de sangue. – naquele momento, o garoto sentiu o próprio coração bater em tempo dobrado. Ele teria caído para trás se não fosse o espaldar da cadeira. – Sua mãe me pediu para registrar você como meu filho. Você tinha apenas duas semanas de vida quando conheci a Hyeri, nos casamos alguns meses depois. Não posso ter filhos porque sou estéril, então quando te registrei foi como se você fosse meu.

Jungkook tinha segurado a respiração do lado de fora, mas na mesma hora um pouquinho de ar escapou de seus lábios. Ele tinha lido o relatório de Christopher e descoberto que ele não podia ter filhos antes mesmo de ouvir a ligação entre ele e Hyeri, onde este deixou escapar que o garoto não era seu filho. Era doloroso para Jimin, o detetive sabia, mas ele não podia conviver com aquela mentira pelo resto da vida.

– Quer dizer que eu tenho outro pai? – Jimin perguntou com a voz endurecida numa tentativa falha de controlar o tremor.

– Sim, meu amor, você tem um outro pai. – o menino largou as mãos dele e levou as suas para o próprio rosto em espanto. Ele tinha ficado destruído e muito desordenado com aquela revelação. – Eu juro que tentei encontrar formas de te contar a verdade, mas sua mãe me impediu em todas elas. A Hyeri ficava me dizendo que você não podia saber quem era seu pai biológico e ela me fez prometer que nunca te contaria a verdade.

– Por quê? Por que eu não posso saber quem ele é?

– Jimin, sua mãe guarda segredos desde que nos casamos, entre eles a identidade de seu pai. Ela nunca quis me contar quem ele era, pois sentia muita raiva dele. – o menino levantou suas sobrancelhas em completo choque. – Eu nunca fiz questão de entrar nessa parte da vida dela, mas, pelo pouco que sei, sua mãe nunca contou para o seu pai biológico que ele tem um filho.

Christopher esperou uma enxurrada de perguntas sobre aquela parte da conversa, mas Jimin pareceu tão confuso quanto a sua história de vida que não conseguiu sequer raciocinar direito. A narração de seu pai sobre aquela história levantou todos os pelos do couro cabeludo de Jimin. Ele apenas recuou suas costas e enrijeceu a espinha, completamente ferido por dentro.

Antes de mais nada, Jimin tinha de pensar no porquê sua mãe omitiu sobre a identidade de seu verdadeiro pai. Talvez ele fosse um criminoso, talvez não gostasse dela, talvez fosse um estranho qualquer, talvez Jimin fosse fruto de um ato não consensual. Talvez. Todas essas ideias estavam embaralhadas dentro de sua cabeça, o deixando com enxaqueca.

– Jimin, escute. – Christopher disse gentilmente, o vendo perder sua expressão tensa. – Você vai poder conversar com a sua mãe quando voltarmos, está bem? Ela deve te contar tudo, do início ao fim.

– Não! – muito subitamente, ele saltou da cadeira. – Não me leve até ela, por favor. Eu quero ficar longe daquela mulher.

– Filho...

Se dando conta de seu desespero, Christopher foi até ele e o abraçou. Jimin chorou em sua roupa. O pensamento de ter outro pai perambulando por aí sem saber quem ele é fez seu estômago se revirar. Ele se ressentia por sua mãe ter escondido isso dele, como também se ressentia por seu pai mentir todo esse tempo.

– Se você não quer encontrá-la, então eu não vou deixar que isso aconteça. – Jimin sugou uma respiração irregular quando seu pai o afastou um pouquinho para olhá-lo. – Eu sei que está assustado, isso me dói muito. Me deixe cuidar de você. Conversei com os detetives e eles concordam que você deve vir comigo para sua segurança. Nós vamos estar longe disso tudo e você vai poder se recuperar gradativamente com terapia.

– Você disse que a minha mãe odeia meu outro pai, por quê? – ele ignorou completamente o pedido do homem, desejando, portanto, uma compreensão melhor de toda aquela história. Christopher suspirou.

– Filho, eu já disse que não sei nada sobre esse cara. Ela nunca me falou sobre ele.

– Não é possível que você nunca tenha descoberto nada. O senhor foi casado com ela por tanto tempo e não sabe de nada? Nada mesmo?

– A Hyeri nunca me contou essas coisas. – seus olhos se fixaram nos dele com uma crescente compaixão. – Quando a conheci, você já tinha nascido. Começamos a namorar e ela me implorou para te assumir. Toda vez que a questionei sobre o pai do bebê, ela se esquivava e mudava de assunto. Chegou um tempo em que eu comecei a me sentir seu pai de sangue, então coloquei na minha cabeça que não me interessava quem o tinha feito, você era meu filho.

– Por que você e a mamãe se divorciaram? Eu não sei o motivo até hoje. – Jimin tentou matar a mágoa que brotou na sua voz quando mencionou aquele assunto.

Christopher suspirou e soltou as mãos devagarinho do rosto dele. Um arrepio de premonição arrepiou a pele de Jimin quando viu a reação de seu pai. Ele sabia que aquele assunto era igualmente indesejado por ele.

– Sua mãe estava saindo com outro homem. – revelou. – Eu descobri os telefonemas, os encontros secretos, as mensagens de texto, tudo. Ela mentiu quando questionei, então decidi providenciar o divórcio. Foi quando ela me ameaçou dizendo que eu devia ficar longe de você e que se eu te contasse a verdade ela faria um inferno na minha vida.

– Q-Quem era o homem?

– Para ser honesto, não me lembro. Na época não me importei com o cara, mas com o meu relacionamento com ela, como as coisas seriam em diante.

Jimin não conseguia se lembrar totalmente para pintar completamente a sua memória, mas alguns flashes foram suficientes para que ele se recordasse das brigas no quarto, dos jarros se quebrando no chão, das discussões na madrugada, de todas as vezes que ele acordava pela manhã e seu pai estava chorando no canto da sala.

– Pai, eu sinto muito. – Christopher sorriu.

– Não se preocupe, eu estou muito melhor agora. – suas palavras foram gentis, mas elas fizeram Jimin franzir a testa. – Eu tenho uma nova esposa e ela é uma ótima mulher. Comentei sobre você e ela me fez jurar que um dia eu lhe apresentaria a ela.

– Você tem uma esposa?

– E um filho. – Jimin quase vacilou com aquilo. – Nós adotamos uma criança, Nick, hoje ele tem três anos. Tenho certeza que vocês vão se dar muito bem.

– E onde eles estão agora?

– Eu os deixei na Grécia, mas vou buscá-los quando voltarmos para os Estados Unidos. – um sentimento estranho surgiu dentro do garoto quando ele parou para refletir sobre aquilo. – Jimin, eu demorei tanto para te encontrar de novo e agora não quero passar um segundo longe de você. Me arrependo amargamente de ter ido embora.

– Pai-

– Vou passar a firma para o meu sucessor e então vou embora para os Estados Unidos, assim vamos ficar juntos. Eu e você. – aquela sugestão fez as entranhas de Jimin se retorcerem. – Eu estou aqui para te levar para casa, filho. Prometo que ninguém vai te machucar sob o meu teto.

Jimin considerou aquelas palavras, sabendo o que aquilo significava. Ele iria embora. Seu rosto se virou instintivamente por cima do ombro, determinado a ver Jungkook através do vidro, mas tudo o que enxergou foi um painel preto o refletindo de longe.

– Filho, você se sente bem para vir comigo? – Christopher o perguntou, mas suas palavras pareceram distorcidas sob os ouvidos do menino, como se tivessem viajado uma longa distância. – Jimin?

Ele finalmente se virou de frente para o seu pai, como se tivesse sido puxado atrás da espinha, e esforçou-se para não se desconcentrar daquela conversa.

– Então, meu amor, você quer voltar para os Estados Unidos comigo? – ali, Jimin sentiu uma onda de desamparo, mas não tinha nada a ver com seu pai.

– É... – ele pausou imediatamente, buscando localizar as palavras certas. – Não me leve a mal, pai, mas eu não quero ir sem antes encontrar a Hannah.

Christopher enrugou a testa.

– Hannah?

– Ela também foi sequestrada quando tentou me salvar. – o homem na sua frente tinha adotado uma surpresa descuidada no rosto agora. – Ela fez isso por mim, não acho justo deixá-la para trás.

Bem, seu argumento não deixava de ser verdade. Apesar de considerar o desaparecimento de Hannah, ele também estava levando em conta suas memórias com Jungkook. Ele mal podia olhar para o seu pai da mesma forma agora, aparentemente a notícia sobre não ser seu pai biológico o atingiu de um jeito incerto.

Jimin ainda o amava, claro, mas sua perspectiva tinha sofrido algumas alterações naquele meio tempo. Não que ele desconfiasse de Christopher, mas seu pai tinha empurrado coisas sobre a sua vida para debaixo do tapete, mesmo que as intenções dele tivessem sido as melhores.

– Eu sinto muito pela sua amiga, filho. – ele disse com pesar. – Mas acredito que essa tarefa seja unicamente do FBI. Você ficando aqui ou não, não vai interferir no andamento do caso, entende? Na verdade, isso pode te afetar muito mais.

– Mas-

– O que quero dizer é que nós vamos poder recompensar todo esse tempo perdido. – ele o segurou pelos ombros gentilmente. – Eu sei que você se sente em dívida com sua amiga, mas tenho certeza que ela ficaria mais feliz sabendo que você está comigo em um lugar seguro.

Jimin não conseguia se lembrar da última vez que tinha se sentido desconfortável perto de seu pai, na verdade ele nunca se sentiu de tal forma. Além disso, Christopher o conhecia de dentro para fora como ninguém, ele apareceu ali sem qualquer esforço de Jimin. Seu pai não era mais do que Jimin poderia ter pedido.

Imaginar que Christopher saiu da Grécia apenas para buscá-lo o deixava completamente contente. Não era justo recusar o seu pedido sabendo que ele veio de tão longe para levá-lo, apesar da súbita revelação que recebeu. Jimin podia enxergar as boas intenções nos olhos azuis de seu pai, assim como a saudade amargurada que sentia. Então, o menino baixou a guarda, cansado de sustentar suas defesas, deixando-as deslizarem para longe como água.

– Tudo bem. – ele disse, contorcendo sua boca para o lado. Ele não estava realmente feliz com sua própria decisão, mas não queria preocupar seu pai. – Eu aceito ir embora com o senhor.

Christopher sorriu amplamente. Jimin significava tanto para ele, muito mais do que poderia colocar em palavras. Então, ele o segurou pelas laterais do rosto, tão feliz como nunca, e o beijou na testa. O menino o abraçou em retorno, sorrindo um pouquinho quando o sentiu sorrir contra sua testa. De repente, lembrou-se de Jungkook, mais claramente do que podia, e no mesmo segundo girou sua cabeça na direção da janela escura.

Do lado de fora, o detetive não quis confiar nos próprios ouvidos, mas a decisão era clara. Ele se virou para longe da janela e esfregou o rosto, claramente tentando engolir a escolha de Jimin. Yoongi olhou desesperadamente para Seokjin, mas este continuava a olhar para dentro da outra sala. Quando Yoongi fez menção de ir até Jungkook, a voz de seu chefe interrompeu sua tentativa.

– Yoongi, abra a porta para eles.

Jungkook se voltou para eles, deixando seus olhos caírem na figura de Christopher acenando à distância com a intenção de chamar a atenção de alguém. Yoongi foi para a porta e abriu-a, as dobradiças rangeram quando a mesma foi empurrada. Jimin segurou a mão de seu pai e eles caminharam para fora. Chegando no outro compartimento, o menino se deparou com Jungkook e na mesma hora a vergonha varreu-o.

Jimin sentiu a pele na parte de trás de seu pescoço formigar no momento que o observou distanciar as vistas para o outro lado. Naquele momento, o garoto sentiu o próprio arrependimento o bater muito tarde.

– Nós estamos prontos, diretor. O Jimin aceitou vir comigo. – quando seus olhos se viraram para o menino, este fugiu de olhar para Jungkook e o encarou com um sorriso pequeno. – Finalmente vamos voltar para casa, meu amor.

– Vou providenciar o jatinho particular. – ele garantiu para o homem, mas seu olhar se fincou instantaneamente na imagem do garoto.

Jungkook não tinha dito uma palavra. Jimin se flagrou observando-o, ele não tinha ideia do que se passava na mente dele, mas podia presumir que havia um lembrete constante de como as coisas seriam de agora em diante para os dois. Dado tudo o que havia acontecido, o mais preocupante de tudo era que Jimin não sabia se estava tomando a decisão certa. Ele tinha acusado Jungkook de querê-lo longe, quando na verdade esse não era bem o caso.

Jimin podia ver o sofrimento velado no semblante de Jungkook e mesmo assim ele sabia a hora certa de avançar e recuar. Sabia ser paciente, apesar de estar sufocando a própria dor em benefício das circunstâncias. Em retrospecto, Jimin se arrependeu interiormente de ter cobrado uma decisão dele quando na realidade devia ter sido sua desde o início.

– Tem alguma coisa que você gostaria de levar, filho? – seu pai perguntou, o expulsando para fora de seu devaneio. Ainda parado, Jimin acenou.

– Meu caderno de desenhos.

– Então vamos buscá-lo.

– Eu acompanho vocês. – Yoongi se ofereceu quando ninguém disse nada.

Houve um momento de desorientação por parte de Jimin, que olhou parcialmente para Jungkook, não enxergando nada em sua expressão que insinuasse oposição. O detetive apenas o encarou de volta, o suficiente para fazer o coração do menino errar uma batida. Jimin sentiu a mão de seu pai contra suas costas, gesto esse que o encorajou a andar.

Yoongi tinha aberto a porta de saída da sala de interrogatório e agora esperava-os próximo do batente. Jimin passou por Jungkook, odiando vê-lo tanto tempo em silêncio com aqueles olhos cuidadosamente distantes. Ele permaneceu reservado mesmo quando o garoto atravessou para fora da sala com seu pai. Yoongi seguiu logo depois e bateu a porta atrás de si, mas antes sussurrou um: "encontrem-nos no saguão".

– Fico aliviado que não tenha feito nenhuma estupidez para impedi-lo. – Seokjin comentou, o vendo segurar firme o seu olhar enquanto balançava a cabeça para os lados.

– O que eu poderia fazer, afinal? Amarrá-lo com as minhas algemas? Foi a decisão que ele tomou. – ele se manteve perfeitamente inabalável por fora, mas destruído por dentro.

– Sei que parece não se importar, mas no fundo você se importa com ele. – isto era uma verdade, mas a outra parte Jungkook guardou para si mesmo. – Não importa o que aconteça, você não quer deixar de se sentir bem quando está com ele.

– Seokjin, não é hora para isso.

Pela primeira vez, Jungkook esquivou-se de olhar para ele. Ele não se sentia confortável quando Seokjin fazia essas análises visuais sobre seus sentimentos, porque isso o fazia ter a impressão de que a coisa toda estava estampada em sua cara quando não devia estar lá.

Sim, ele queria gravar o toque dos dedos de Jimin, o gosto de seu beijo, gravar o seu perfume tão solidamente dentro dele que ninguém seria capaz de levá-los para longe. Esses detalhes foram todos enviados para a memória de Jungkook e somente lá que eles deveriam ficar.

– Devemos ir. – Seokjin o chamou de repente, decidido a não tocar no assunto.

– Por que você está assim? – Seokjin tinha feito menção de se virar quando Jungkook disparou a pergunta.

– O quê?

– Você ficou estranho após a conversa dos dois. O que você percebeu que eu não percebi?

Seokjin suspirou.

– Não é nada. – Jungkook ergueu as sobrancelhas, sem acreditar. – Ok, é sobre a Hyeri. O nome me pareceu familiar a princípio, mas me enganei.

– Você a conhece?

– Não. – disse. – Quero dizer, não sei. Desde que começamos esse caso, eu não a entrevistei. Yoongi e outros detetives eram encarregados disso, eu nunca procurei saber quem são os pais das vítimas, deixei essa função para os detetives responsáveis da época. Mas não, ok? Não a conheço.

Jungkook olhou estranho para ele, mas não cogitou fazer questionamentos. Agora que ele tinha se safado da questão, ir atrás de Jimin soava mais certo. Esse assunto com Seokjin podia esperar, mas a viagem de Jimin não.

– Tudo bem, podemos ir agora? – ele perguntou sem reservas, apontando para a saída.

Seokjin concordou com um aceno.

– Claro, vamos.

Eles irromperam pela porta de saída em seguida. Alguns guardas andavam por ali silenciosamente, outros estavam carregando uma pilha de equipamentos para o andar de cima. O elevador estava ocupado, então eles introduziram-se em outro elevador que ficava de frente para aquele.

O percurso para o andar superior demorou cerca de um minuto. O elevador parou no saguão, a movimentação por lá estava bem menor quanto a área de interrogatório. Jungkook foi o primeiro a sair, seu rosto abatido por um sentimento irresistível, principalmente quando percebeu, quase como uma reflexão tardia, que Jimin já se encontrava parado ali.

Ele abraçava seu caderno de desenho enquanto seu pai o segurava pelo ombro, uma vez ou outra acariciando-o em um gesto paternal. O detetive andou até eles sob o chamado de Seokjin e parou quando finalmente os alcançou. Jimin o encarou tímido, incerto de suas próprias intenções, depois abaixou a cabeça.

– Eu quero agradecê-los por cuidar do meu menino. – Christopher disse, mostrando toda sua gratidão. – Principalmente você, detetive Jungkook, por salvar a vida do Jimin. Ele me contou que você o resgatou. Muito obrigado.

Algo ilegível cruzou os olhos de Jungkook, então ele apenas sorriu com simpatia, sem dizer nada, nem meia palavra. Jimin limpou a garganta durante o silêncio que se seguiu e deliberou:

– Pai, eu posso conversar com o detetive Jungkook por um minuto? Não vou demorar, prometo.

Todos se entreolharam brevemente, menos Christopher, que encarou seu filho e mostrou-lhe o sorriso mais amável que alguém poderia ver. Então, Jimin o viu acenar numa silenciosa permissão, como se ele não precisasse pedir autorização para isso.

– Vou levá-lo até a área de aviação. – Seokjin disse, obtendo uma boa desculpa para ir junto.

Christopher aceitou o convite e virou o próprio corpo na direção da porta principal. Seokjin o acompanhou logo depois, parando somente quando se deu conta de que faltava algo.

– Yoongi? – esperando, ele o chamou. Yoongi ergueu a cabeça em sintonia com a sua voz. – Você não vem?

De repente, o corpo dele ficou tenso, subitamente entendendo o recado por trás daquela pergunta. Ele pigarreou, um sorriso torto se antecipou em seus lábios no instante que se virou de fininho a caminho da saída. Sem perder tempo, Seokjin empurrou a porta e eles encontraram-se fora em questão de segundos.

A frequência cardíaca do menino acelerou quando se deu conta que eles estavam finalmente sozinhos. Ele não tinha muita certeza do que dizer, mas as suas mãos começaram a suar, sugerindo uma prévia de seu nervosismo. Então, disposto a pisar em um território mais arrojado, Jimin deu um passo à frente, sabendo que não era seguro fazer aquilo na frente das pessoas que passavam, mas ele não se importou. Era seu último momento com Jungkook, então a sua parte sensível quis dissecar um pouco mais as suas próprias emoções naquele minuto.

– Jungkook – ele começou a falar e travou. O detetive desviou o olhar brevemente, usando sua sobriedade para cobrir seu desconsolo. – Meu coração está doendo por te dizer adeus.

– Você não tem que fazer isso. – Jimin sentiu-se em transe quando o ouviu dizer, sem realmente entender o que ele quis dizer com "fazer isso".

– Eu não quero magoar meu pai. Ele veio de tão longe só para me buscar. Você me entende, não entende?

– Você realmente acredita que o seu pai pode cuidar mais de você do que nós? – havia uma dose de ressentimento fervendo seus olhos. – Eu tenho medo de deixar você partir e de algum jeito não conseguir te proteger. Essa viagem é precipitada, pense primeiro.

– Eu pensei, Jungkook. – suas palavras pareceram esmagá-lo. – Acho que talvez seja melhor eu ir, embora não tenha tanta certeza disso.

Se Jimin iria sentir saudade de Jungkook ou não, não importava tanto. A dura verdade é que ele tinha que fazer aquilo, não havia tantas alternativas para se pensar. Se ele ficasse, estaria dando a Namjoon um ponto fraco para atacar Jungkook, mas se decidisse ir embora, também estaria dando a Namjoon uma brecha para ter um novo alvo: Jungkook.

Qualquer decisão, portanto, o faria sofrer grandes consequências.

O detetive ficou calado por um tempo, mas no final lhe deu um aceno como uma forma sutil de encerrar a conversa. No momento seguinte, ele deslizou seu dedo pelo traço da mandíbula de Jimin, surpreendendo-o, depois recolheu sua mão. Durante esse tempo, o menino não se moveu, ele tinha fechado os olhos com aquele ligeiro carinho.

– Vou sentir sua falta. – Jungkook confessou em uma voz tensa. – Jared pensou que usando seu pai isso poderia me afastar de você. E, bem, ele conseguiu de certa forma, mas isso não vai me fazer desistir de você.

A garganta de Jimin ficou embargada de emoção. Ele não conseguiu encontrar as palavras, pois ouvi-lo dizer aquelas coisas o fez derrubar qualquer chance que ele tinha de controlar seu choro. Se dando conta disso, Jungkook o puxou gentilmente para perto e o abraçou com carinho. Jimin apertou seu casaco com a mão direita conforme desmanchava-se em lágrimas.

Seus braços eram fortes e ao mesmo tempo sutilmente controlados, suas mãos estavam nas costas do menino, o segurando contra ele. Jungkook roçou sua boca nos cabelos dele, onde deixou um beijo de despedida. Jimin se afogou naquela sensação angustiante, realmente se dando conta de como o adeus era doloroso.

– Ele é horrível. – comentou Jimin no momento seguinte, o apertando contra seu corpo ainda mais. – Isso não teria acontecido se não fosse o inspetor Jared. Por quê? Por que ele fez isso, Jungkook?

– Anjo – ele acariciou seus cabelos, se dando conta de como o corpo de Jimin estava mole, exceto pelas mãos firmes em seu casaco. – Eu seria capaz de mover montanhas apenas para mantê-lo comigo, mas se o Jared foi capaz de encontrar seu pai na Grécia para isso, então ele é capaz de coisas piores para me afastar de você. Acho que ele não entende a dimensão dessa situação sem levar para o lado negativo.

– Em outras palavras, ele quer me separar de você a todo custo. – adicionou Jimin, fungando.

Jungkook suspirou.

– Enquanto o caso durar, provavelmente sim.

Afastando um pouquinho, Jimin o olhou no fundo dos olhos, como se quisesse gravar os mínimos detalhes dele antes de partir. Ele tinha criado centenas de variações dentro de sua cabeça de como dizer adeus, mas sua imaginação não tinha chegado perto de fazê-lo se sentir da forma que se sentia agora.

– Obrigado por tudo. – disse Jimin, finalmente. – Obrigado por me salvar, por me fazer enxergar nem que seja uma pontinha de felicidade no meio de toda essa tragédia. Você me ensinou tantas coisas. Gostar de você no meio dessa coisa toda foi um alívio, então obrigado. Nunca vou me esquecer de você. Nunca.

Jungkook pegou uma de suas mãos com cuidado e a beijou demoradamente, seu interior ardia com o adeus, depois falou com sinceridade:

– Por muito tempo eu tentei me convencer de que eu não era esse tipo de cara que gostava de ficar com outros caras, mas você veio para quebrar meu próprio julgamento. – Jimin piscou e uma lágrima desceu como um risco translúcido ao longo de seu rosto. – Pela primeira vez não tive incerteza do que queria. Eu lutei contra o protocolo para te manter perto de mim e não me arrependo de nada. Mas eu lhe devo um pedido de desculpas por falhar em te proteger.

– Não diga isso de novo. – o menino sentiu uma atração irresistível que o atraiu para mais perto de Jungkook. – Você fez de tudo por mim e eu sou muito grato por isso. Não importa o que aconteça, Jungkook, nunca vou me esquecer de você.

A linha da postura confiante de Jungkook cedeu e seus traços, simples e simétricos, ficaram subitamente abalados. Seu coração começou a bater mais forte e naquele momento ele se deu conta de que Jimin estava mesmo indo embora.

– Você ainda está com o aparelho que lhe dei na casa do Seokjin? – o detetive quis saber, recebendo sua resposta através de um aceno positivo. – Fale comigo durante a viagem. Você não poderá me ouvir, mas pelo menos eu vou conseguir ouvir a sua voz, nem que seja um único oi.

O coração do menino se espremeu.

– Você acha que o Namjoon pode vir atrás de mim?

– Eu vou atrás dele antes que ele tenha a chance de descobrir onde você está. – seu tom de voz possuía uma garantia premeditada.

– Jungkook, se algo lhe acontecer...

– Ei – ele o segurou em cada lado de suas bochechas, gesto esse que fez os nervos do menino chisparem. – Eu aguento a barra, contanto que você fique seguro.

– Isso foi uma tentativa para me confortar?

Um sorriso condescendente pairou nos lábios do detetive de repente.

– Quero que saiba que eu vou ficar bem. Com muita saudade, mas bem.

Apesar de ser uma abordagem para acalmá-lo, Jimin não estava totalmente convencido dela. Seu pulso estava muito acelerado agora, muito nervoso com a ideia de ficar longe dele. Ele tentou mascarar seu desespero colocando cada grama de convicção em um sorriso, mas o resultado tinha sido triste.

Um grupo de guardas veio das escadas e muito de repente Jimin recuou dois passos, mantendo uma distância segura de Jungkook. Um deles olhou para os dois suspeitosamente, o efeito daquele olhar tinha sido mais ameaçador que observador. Jungkook lhe devolveu o olhar de forma incisiva, então o policial desviou as vistas para longe, mas ainda havia uma perspectiva enojada na expressão dele.

Jungkook continuou observando-o em inquérito conforme o assistia se locomover por todo o caminho para perto do refeitório, sem entrar totalmente no lugar. Ele parou entre a parede que dividia o refeitório do saguão e começou a conversar com seu parceiro, uma vez ou outra olhando-os. Em seguida, o parceiro também olhou para eles, mas seu gesto não demorou tanto, porém o detetive sacou que ocorreu algum comentário repulsivo que os fizeram rir.

– Acho melhor eu ir. – Jimin disse por fim, a melodia de sua voz destacava seu desconforto, afinal, ele também notou os burburinhos.

Voltando-se para ele, Jungkook não disse nada, sua mente involuntariamente viajou em retrocesso para o problema atual e isso o deixou mais perturbado do que nunca. Ele queria pedir mais uma vez para Jimin ficar, mas ao invés disso ele tentou uma cara simpática e falou:

– Claro, vou lhe acompanhar.

Eles se dirigiram para fora do saguão, mesmo Jimin hesitando em sair totalmente pela porta. Jungkook o guiou até a área de aviação, os raios do sol tinham sumido e agora restava apenas o vento gelado do inverno. O menino tinha estado muito quieto durante o seu percurso, seus ombros estavam encolhidos e sua cabeça baixa.

Jungkook o escutou fungar ao seu lado. Ele tinha começado a chorar em silêncio.

O detetive se lamentou por vê-lo daquela forma, mas se o abraçasse ali mesmo, provavelmente não o soltaria mais. Por isso, ele abaixou sua cabeça e suspirou de forma inaudível, tentando frear aquela vontade enquanto fazia seu caminho.

Chegando na área de aviação, eles se depararam com Yoongi e Seokjin parados próximos da entrada enquanto Christopher estava na pequena escada de embarque à espera de Jimin. Com a imagem de seu filho, o homem não pôde deixar de sorrir. Ele fez um gesto positivo para o piloto, informando-o para se preparar.

O menino ergueu a cabeça para o seu pai e mordeu o lábio para conter sua ansiedade. Ele considerou tudo naquele lugar por alguns instantes, começando pelos olhares de despedida dos detetives, depois a figura do piloto, e por fim a imagem de Christopher o aguardando.

Naquele momento, Jimin não se sentiu pronto para dar adeus a cada um deles.

No entanto, ele criou coragem para caminhar até os outros dois e parar de frente para eles, limpando o rosto antes de dizer alguma coisa.

– Senhor Seokjin, obrigado pelo apoio e por ter me dado ótimos conselhos. Eu não vou me esquecer do senhor. – ele abraçou o caderno de desenhos instintivamente, mas isso não diminuiu sua dor. Seokjin sorriu gentilmente.

– Foi bom te conhecer, Jimin. Ainda vamos nos encontrar em situações melhores. – ele disse com educação, tocando-lhe no ombro.

Era a vez de Yoongi. Jimin ainda guardava as palavras dele em sua memória, mas agora ele sabia que aquele não era o momento para se guardar mágoas. Então, apenas deu-lhe um sorriso triste e recompôs a compostura.

– Detetive Yoongi – ele começou. – Agradeço o seu esforço para me salvar. Se não fosse a sua inteligência eu não estaria aqui. Obrigado.

– Oh, Jimin – Yoongi murmurou, olhando-o atordoado. – Me perdoe por ter sido tão cruel com você. Eu tentei agir por uma causa boa, mas fui um idiota por ter feito isso da maneira errada.

– Não importa mais. – o menino sorriu, apesar de não haver qualquer indício de humor em seu gesto. – Eu também não fui uma pessoa obediente com o protocolo desse lugar.

– Então eu estou perdoado? – Jimin apertou o canto dos lábios e fez que sim.

As suas lágrimas se redobraram quando chegou a vez de Jungkook. Um choro silencioso e angustiante derramou-se por toda sua face. Sob as circunstâncias, Jimin não poderia agir com ele como gostaria, por isso seus olhos ficaram plissados com desespero.

– Jungkook... – ele gemeu, quase como uma súplica, e logo cobriu os lábios quando suas lágrimas foram rebocadas para fora com mais intensidade.

Vendo-o assim, Jungkook tirou um objeto do dedo e entregou na mão dele. Atrás da cortina translúcida de lágrimas, Jimin enxergou um anel.

– Fique com isto. – havia um brilho recente nos seus olhos pretos. – Eu nunca tirei esse anel do dedo, mas quero que ele seja seu a partir de agora. É uma forma de você me ter por perto.

O rosto de Jimin caiu e ele espremeu a peça dentro do seu punho trêmulo. Aquilo era muito mais do que ele esperava sentir, a dor estava insuportável. Diante disso, o garoto se lançou nos braços dele e o abraçou mais uma vez naquela manhã. A sensação continuava sendo a mesma, levando em consideração que agora eles tinham uma plateia.

– Filho, vamos. – Christopher o chamou à distância.

Jimin separou-se dele, encarando-o nos olhos com uma tristeza profunda.

– Fale com as meninas, por favor. Eu não tive como me despedir delas. – Jungkook correu o dedo carinhosamente por cima de sua lágrima e a varreu para longe, depois acenou.

Ele tentava parecer forte sob as vistas de Jimin, mas a verdade é que seu coração estava dilacerado por dentro. Tentou se manter afastado do corpo dele, pois sabia como ficar perto demais o machucava.

– Tenha uma boa viagem. – ele teria completado com anjo, mas achou apropriado não dizer.

– T-Tchau.

Com isso, Jimin esticou o espaço entre eles no momento que começou a recuar. Assim que ele se virou de costas, Jungkook engoliu algo duro e piscou para afastar as lágrimas. Yoongi parecia triste com tudo aquilo e Seokjin era o único que tinha uma feição tranquila no rosto.

O modo como Jimin caminhava lentamente na direção de seu pai, com a cabeça baixa e os ombros encolhidos, fez Jungkook perceber a hesitação em seus passos. Pelo tremor de suas mãos e o martelar de seu coração, o menino ansiava voltar pelo caminho que fizera e puxá-lo contra si, mas no final ele não o fez.

Jimin o queria mais perto cada vez que ele se tornava mais distante, era como se uma dor calorosa que se espalhava pelo seu estômago e espinha tivesse quebrado todas as resistências dentro dele. Jungkook continuou olhando-o até o último momento, mas uma hora ele não conseguiu sustentar aquela visão, pois a dor de ver o seu menino subindo a escada de embarque o destruiu.

Jimin sabia que seus pés estavam conduzindo-o por conta própria, o levando para o topo sem o seu comando racional. Christopher esticou uma mão para ajudá-lo a subir quando ele parou na metade dos degraus e olhou para trás. Jungkook estava de cabeça baixa.

Agora Jimin sabia como era perdê-lo, sabia como os dias seriam vazios a seguir. O fato de ser tão apegado a ele tem sido uma coisa que o assustou nos últimos dias, mas ao mesmo tempo o confortou como nunca.

– Filho – seu pai o chamou e ele o encarou trêmulo. – Está pronto?

O menino sentiu seu estômago embrulhar com a pergunta e logo seus olhos caíram para os próprios pés. Naquele momento, sentiu um desejo melancólico de contar sobre os sentimentos que ele guardava em seu coração, talvez assim seu pai compreendesse seu desespero.

Jimin estava impulsionado por um transe estranho, sua cabeça zumbindo numa intensidade absurda e pertinente. Ele sentiu uma vontade urgente de voltar atrás.

– Vamos, filho, entre. – ele carregou Jimin com gentileza para dentro da aeronave, mas os pés do menino travaram na entrada.

– Pai, espere. – Christopher o olhou em confusão. – Eu acho que não quero ir.

O homem enrugou a testa ainda mais, deslizando sua mão para longe dele. O menino continuou imóvel, então tomou uma respiração trêmula antes de dizer:

– Eu não consigo ir embora agora, pois existe algo que não me deixa ir.

– Qual?

Jimin não o respondeu com palavras, apenas olhou para Jungkook à distância. Seu pai seguiu seu olhar com um movimento curioso e deu um suspiro profundo quando entendeu o recado.

– Oh – disse ele. – O detetive Jungkook. Está gostando dele?

– Muito mais do que eu deveria. O senhor sabe que a gente não escolhe sentir essas coisas.

Christopher lhe deu um aceno fraco, tão compreensivo quanto podia.

– Entendo. – falou. – Mas eu achei que você ainda tivesse namorando o-

– Aquilo é passado, pai. Eu acabei me apaixonando pelo Jungkook.

Talvez fosse estranho conversar com o seu pai sobre aquelas coisas depois de um período sem vê-lo, mas era evidente que Christopher lhe passava tanta confiança que Jimin não se sentia desconfortável em lhe contar. Na realidade, quando isso acontecia, era como se Jimin pudesse se sentir amparado de todas as formas.

– Então você quer ficar? – seu pai perguntou, seu tom não tinha nenhum traço de exigência. O garoto mordeu o lábio e demorou a responder, em seguida fez que sim. – Meu amor, você não precisava dizer que queria vir comigo quando na verdade pretendia ficar desde o início. Ouça, eu vim te buscar porque achei que tivesse se sentindo desamparado nesse lugar depois do que passou, mas se você se sente protegido aqui, então fique. Nunca existiu exigências na nossa relação, filho, por que justo agora eu exigiria para que viesse comigo?

– Me desculpe, pai, eu pensei que você fosse ficar chateado comigo.

Christopher o acariciou no rosto e sorriu, a forma como seus olhos azuis estudaram Jimin era de partir o coração.

– Eu jamais ficaria chateado com você por conta disso. Muito pelo contrário, se você se sente seguro aqui, quem sou eu para contestar? – Jimin finalmente sorriu. – Vá. Siga seu coração, meu filho, mas faça isso com juízo.

O garoto o abraçou forte, deixando um pensamento preso em seu cérebro conforme sentia o carinho dele em suas costas. Jimin sabia que era um absurdo pensar que minutos atrás estava derramando lágrimas de tristeza e agora elas eram de felicidade.

De repente, o garoto se afastou e desceu a escada de embarque ligeiramente, uma voz distante zumbiu no fundo de sua mente e então ele a colocou para fora na mesma hora.

– Jungkook!

O detetive já tinha se virado para longe quando ele o chamou, sua cabeça girou às pressas ao som daquela voz, meio atordoado, e ali ele o encontrou parado à distância com sua postura rígida. Assim, Jimin largou o caderno de desenhos no chão e correu. Qualquer intenção que ele tinha de ir embora mergulhou para fora de suas cogitações.

Jungkook ficou dividido entre continuar parado em choque e o impulso de correr de encontro a Jimin. No final de tudo, ele escolheu acelerar os passos para encontrá-lo na metade do caminho. Naquele momento, o detetive teve a impressão de que estava pisando em algo secreto que poderia causar um grande dano a ele mesmo se o fizesse, mas ele não se importou. Não ali.

Com isso, Jimin se lançou em seus braços, percebendo que suas mãos tremeram quando o segurou pelo pescoço. Suas pernas voaram em torno da cintura de Jungkook no momento que ele o ergueu para fora do chão. Eles se encararam com partes iguais de fascínio e então Jimin o beijou.

Seu domínio sobre ele era firme quando Jimin explorou sua boca contra a dele. O menino provou do suave gosto de café enquanto entrelaçava os dedos nas ondas escuras e macias de seu cabelo, sentindo a pulsação dele contra a palma das mãos. Saber que Jungkook não hesitou em retribuir o seu gesto o deixou tonto de alegria.

O beijo era suave, deliberado e sem pressa. Jungkook traçou sua língua entre os lábios dele e isso enviou arrepios deliciosos através de todo corpo de Jimin, fazendo seus ossos se derreterem. Jungkook tinha lábios suaves, tão incrivelmente suaves quanto o roçar de uma pluma, e seus beijos eram insubstituíveis.

O menino riu contra a boca dele quando o sentiu beliscar seu lábio com os dentes, provocando-o, tirando seu fôlego. As mãos do detetive apoiadas na base de suas costas pressionaram-no contra si, fazendo o autocontrole do garoto escorregar. Jimin estava vagamente consciente de que havia uma pequena plateia os assistindo agora, mas sua mente não deu importância para aquilo.

Então, abriu seus dedos entre os cabelos de Jungkook, sentindo vibrações através deles, seu controle tinha sido fortemente freado e isso o deixou extremamente nervoso. Suas pernas ficaram bambas e pesadas e isso o assustou. Ele tinha se esquecido de como o beijo de Jungkook lhe causava reações frenéticas.

Havia um mundo oculto que se abria entre eles toda vez que se beijavam, um que era tão assustador quanto familiar. O conforto de estar com ele, em seus braços especificamente, voltou com força total, ameaçando o engolir inteiro.

Alguém tossiu para chamar a atenção deles e isso fez Jimin soltá-lo finalmente. Ele ofegou, quase suspeito de que sua garganta tinha feito um som estranho. A boca de Jungkook estava vermelha e um pouquinho inchada pelo momento anterior. Ele se separou de Jimin, colocando-o no chão, depois olhou para os cantos como se tivesse acordado de um devaneio.

– O que eu fiz? – Jimin perguntou através de um sussurro, tocando seus próprios lábios em descrença.

– Eu acho que você sabe. – Jungkook respondeu com uma risada estremecida.

– Oh, céus, isso pareceu cena de filme. – Yoongi comentou quando se aproximou por trás deles, seus olhos estavam arregalados. – Bem, isso fazia parte de uma despedida ou...

– Eu decidi ficar. – Jimin falou, respirando fundo. Jungkook piscou em surpresa. – Meu pai disse que eu poderia ficar.

O detetive olhou para Christopher por cima do ombro de Jimin e o viu andando em direção a eles. O homem estava sorrindo como quem vê seu filho recebendo troféus em alguma competição. Ao contrário de Seokjin, cuja expressão continuava surpresa com o que viu.

– Que boa notícia, Jimin. – foi Seokjin quem falou, tocando no seu ombro, mas seus olhos, ainda em choque, foram na direção de Jungkook. – Ainda bem que ninguém mais testemunhou essa cena, não é mesmo? Isso me deixa mais aliviado.

– Se vocês não se importam, eu gostaria de ficar um pouco mais com o meu filho. – Christopher sugeriu. – Como ele decidiu ficar nos últimos acréscimos do segundo tempo, quero ter a chance de aproveitar esse tempo perdido.

– Claro, não vejo problema. – Seokjin aceitou, recompondo-se.

De alguma forma Seokjin tinha encontrado uma maneira de controlar o semblante surpreso, mas sua voz ainda estava distante. Parecia que sua cabeça estava defasada com aquela cena, certamente imaginando o que aconteceria se Jared estivesse presente.

– Eu vou ficar aqui no Canadá, então se você decidir de última hora que quer ir embora, estarei por perto. – Christopher acrescentou. Jimin acenou, sorrindo, e de repente sentiu-se esquentar quando se lembrou de beijar Jungkook na frente deles. Christopher, então, se voltou para o detetive. – E você, detetive, tem sorte de ter o meu filho. Cuide bem dele.

Jungkook absorveu suas palavras, dando uma olhadela cúmplice para o menino, que escondeu uma risadinha. Era estranho pensar que Christopher seria seu sogro algum dia, ele parecia tão jovem para tal categoria, e pior que isso era imaginar que ele não achava nada daquilo estranho – ou errado. No entanto, sua cabeça fez que sim, apesar de não parecer tão certo em respondê-lo.

– Christopher, podemos conversar em particular? – Seokjin perguntou de repente e o escutou murmurar um sim.

Eles se viraram juntos e foram para fora da área de aviação, ainda em silêncio. Quando tudo ficou muito quieto, Jungkook pegou a mão de Jimin e roçou um beijo em seus dedos. O menino sentiu um enxame de borboletas no estômago e um formigamento embaixo de sua pele quando sentiu a pressão da boca dele.

– Bem-vindo de volta, anjo.

– Eu nem cheguei a ir. – ele riu um pouquinho, mas foi de nervoso.

– De qualquer forma, agora você está comigo de novo. – disse. – E esse beijo foi a prova que eu precisava.

– Credo! – Yoongi interrompeu. – Vocês são sempre assim... melosos?

Jungkook o encarou de esguelha com uma superficial irritação, lembrando-se que ele ainda estava presente.

– Olha, acho melhor irmos antes que meu estômago embrulhe com tanto grude. – completou, virando-se para longe. – Estou começando a ficar carente com isso. Vamos.

Jungkook e Jimin riram juntos um segundo antes de se abraçarem e seguirem atrás dele.

✮✮✮

Olá meus amores, como vcs estão? Decidi atualizar mais rápido dessa vez pq muitos de vocês ficaram apreensivos no capítulo anterior, então decidi acelerar essa atualização para acalmar os nervos de todo mundo haha. E não, o nosso bebê não viajou.

Acho que passou um pouquinho da hora de vocês conhecerem os pais do jimin, então segue abaixo a foto da mãe e do pai adotivo. ↓

(Christopher Dallas)

(Park Hyeri)


É isto, espero que tenham gostado da atualização, perdão pelos erros ortográficos, eu chorei mais do que revisei, e aguardo vocês nos últimos capítulos. Agora faltam 4 capítulos para o fim da primeira temporada. :( Beijinhos e até mais!!

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