⍟ sixty five [PARTE 2]
Uma hora e meia depois, o carro de Jungkook entrou numa vaga e desligou a ignição. Jimin estava no banco do carona, tão quieto quanto um espectro. Eles estavam agora diante de uma enorme mansão, a qual pertencia a Christopher. No final de tudo, no entanto, o detetive foi o escolhido para levar o garoto, porém Seokjin e Yoongi estavam logo atrás em um Pajero.
O menino olhou para além da janela e observou a casa, sentindo-se encolher interiormente. Uma centena de pensamentos rolaram dentro de sua cabeça e uma sensação forte de nostalgia o pegou de forma desprevenida. Ele se recordava de todos os momentos felizes que viveu naquela casa enquanto criança, pelo menos até sua mãe arrancar isso dele. Hyeri nunca aprovou as suas visitas àquela casa e agora ele entendia o porquê.
– Anjo? – Jungkook o chamou, obtendo o olhar dele na terceira tentativa. Ele estava bem ali, a centímetros de distância, olhando-o de um jeito exclusivo. – Essa é a casa do seu pai?
Jimin lhe ofereceu um pequeno balançar de cabeça e então disse:
– Meu pai se mudou para cá quando se divorciou da minha mãe. Ele não ficou tanto tempo aqui porque se mudou para a Grécia, mas, segundo ele, essa casa vai ser minha um dia. – contou. – Eu tenho tantas memórias boas desse lugar.
– Então essa é a oportunidade perfeita para você matar a saudade.
Jimin deu a ele um pequeno sorriso, e mesmo sabendo que por dentro estava imensamente contente com aquilo, algo havia roubado uma parte de sua felicidade. Ele tinha uma tristeza em seus olhos que não poderia passar despercebida por Jungkook. Pensando por um instante, então, o detetive disse:
– Vamos entrar, seu pai deve estar esperando.
Com aquilo, ele removeu o cinto e deslizou para fora do carro, sendo imediatamente acompanhado por Jimin, que se lançou para fora ao mesmo tempo que ele. Olhando os arredores, o menino percebeu que nada havia mudado. A rua continuava a mesma, exceto por algumas casas em construção. De resto, no mais, as coisas estavam como eram antes.
De esguelha, Jimin visou um par de sombras se aproximando. Ele virou a cabeça na direção delas e encontrou Seokjin e Yoongi a pouco menos de um metro de distância. Estranhamente, Jimin se sentiu bem por ver que Seokjin estava presente, como se de alguma forma ele o estivesse desejando por perto.
– Uau, seu pai tem um bom gosto para casas. – comentou Yoongi, fazendo aquele típico assobio de elogio. – Digo, seu pai adotivo, claro, porque o seu progenitor aqui não entende nada sobre bom gosto.
Após aquela alfinetada nada séria, Seokjin deu um olhar assassino para Yoongi, que coçou a nuca para disfarçar. Jimin deu uma risadinha com o comentário, internamente grato por eles estarem ali.
– Eu posso falar mal de você agora, não posso? – Yoongi perguntou a Seokjin, seu tom sugeria brincadeira. – Agora que você não é mais o meu chefe, tenho passe livre.
– Eu poderia até lhe responder, mas vou evitar poluir os ouvidos do meu filho. – ele rebateu, não raivoso de fato.
– Se contenham. – Jungkook interviu, sorrindo. Ele chegou por trás de Jimin e o abraçou. – Não estrague a sua imagem antes do seu filho te conhecer.
Seokjin não respondeu, mas ele captou um tom que deslizava próximo de uma ousadia sarcástica na voz de Jungkook. Ele os avaliou dos pés a cabeça, exercendo uma quantidade exorbitante de controle para não fixar tanto nos braços de Jungkook em torno da cintura de Jimin. Porém, o detetive colheu brevemente sua observação antes mesmo que ele pudesse disfarçá-la.
– Acho melhor entrarmos antes que fique tarde. – Seokjin falou enquanto olhava para os lados.
Jimin e Jungkook se entreolharam por alguns segundos e então ambos começaram a rir baixinho. Eles, principalmente Jungkook, estavam cientes de que Seokjin estava procurando brechas para impedi-los de ficarem tão grudados, pelo menos em público.
Com isso, o detetive desfez o abraço, mas o segurou pelo ombro como forma de manter a proximidade. Olhando-os apenas mais uma vez, Seokjin elaborou seu caminhou até o portão, no qual estava aberto para a chegada deles. Cada um deles atravessou para dentro, passando primeiro pelo jardim para então alcançar a porta principal, igualmente entreaberta.
Era uma casa com dois andares, havia uma piscina sinuosa revestida com madeira polida nas beiradas e um par de coqueiros. Algumas partes da casa eram feitas de vidro potencializado, tal como as portas, então uma pequena parcela do ambiente interno ficava exposto ao quarteirão. No jardim, também, haviam pequenos refletores embutidos que iluminavam a varanda e a piscina a noite.
Ao entrar, Jimin notou que tudo estava quieto e vazio, exceto pelos magníficos móveis vitorianos. Por um momento, ele suspeitou que Christopher estava no andar de cima, mas considerou melhor obter uma certeza.
– Pai? – ele o chamou, ouvindo o eco de sua própria voz. Nada de resposta.
Jimin se virou para Jungkook, no entanto, e lhe atirou uma encarada.
– Onde ele está? – perguntou.
Jungkook deu de ombros razoavelmente.
– Vamos esperar, anjo. – ele falou, indo em direção a uma prateleira com livros. Seokjin e Yoongi também se dispersaram pela casa, admirando-a.
Jimin abafou um suspiro e fez uma ligeira inspeção pelo lugar. Tudo parecia estranho sob os seus olhos. Se Christopher havia dito que estaria os esperando em sua casa, pensou, então por que ele não estava lá? Algo lhe dizia que seu pai estava tramando alguma coisa.
Ele não quis parecer obcecado por coisas estranhas, por isso considerou melhor não se alarmar com pensamentos sem sentidos. Tudo o que fez foi admirar cada mobília como se fosse uma pintura antiga, não por serem velhas, mas por ele nunca mais ter tido contato com aquela casa. Portanto, a melancolia predominava.
– Onde fica a cozinha? Eu estou com sede. – Yoongi perguntou a Jimin de repente.
– Bem ali. – ele apontou para a sua direita, transportando o olhar dele àquela direção. – Eu te acompanho. Venha.
Após se certificar que Yoongi estava de acordo com a oferta, o menino arrastou os pés naquela direção, passando primeiro pela sala de estar antes de finalmente alcançar a cozinha. Ele pegou um vislumbre de Jungkook e Seokjin trocando olhares cúmplices, mas não houve tempo de chegar a uma conclusão estável do que aquilo significava.
Ele estava a um passo de entrar totalmente na cozinha quando um coro de vozes gritou:
– Surpresa!
O garoto paralisou imediatamente, sentindo sua respiração se aprofundar e diminuir a velocidade na mesma hora. Seus olhos pousaram em Christopher parado próximo da pia e então foram para Taehyung. Ele usava uma camisa escura de lã abotoada até o pescoço, e seus braços estavam desnudos, onde Jimin pôde ver as tatuagens em torno de sua pele. Ele também usava um boné com a aba virada para trás.
O sangue em suas pernas circulou de volta para o coração de modo vertiginoso e sua visão começou a ficar embaçada pelas lágrimas. O seu Taehyung estava bem ali, em carne e osso, com uma surpresa evidente no rosto.
– Jimin... – Taehyung disse, seus olhos igualmente vermelhos, o que sugeria que ele havia chorado antes mesmo de seu amigo aparecer.
Jimin esperou ter coragem para correr até ele, mas suas pernas pesaram como chumbo e seus pés ficaram travados no lugar. Taehyung, no entanto, se forçou a agir e avançou na direção dele, onde o puxou para os seus braços. Jimin o abraçou de volta. Um toque suave de Taehyung era tudo o que ele precisava naquele momento.
– Você está mesmo vivo. – Taehyung murmurou contra a curvatura de seu pescoço, deixando escapar um soluço pelo caminho.
Atordoado, Jimin espremeu ainda mais os dedos contra a espessura de sua camisa, dizendo-lhe que tudo aquilo era real. Sua respiração tinha ficado rápida e áspera em instantes. Ele o respirou como se fosse o ar. Seus braços receberam o toque de um arrepio, mas ele sabia que não era pelo frio.
– Taehyung – ele choramingou. – Eu senti tanto sua falta.
De repente, seu amigo o afastou lentamente e uma de suas mãos foi para a bochecha esquerda dele, enquanto a outra caminhou próxima de seu coração. Jimin o olhou nos olhos, um tanto inseguro sobre sua reação.
– Eu tenho tanta coisa pra te falar. – disse Taehyung. – Mas primeiro eu quero começar te pedindo perdão por ter falhado com você. Não te esqueci por um minuto.
Jimin chacoalhou a cabeça para os lados rapidamente.
– Não é sua culpa.
– Mas eu sinto como se fosse. – refutou. – Aquele dia não sai da minha cabeça. Você foi embora e a gente nem sequer conversou. Eu pensei que de alguma forma tivesse te influenciado a tomar essa decisão.
– Ei, pare com isso. – Jimin prendeu seu rosto com ambas as mãos e o fez encarar diretamente os seus olhos. – Eu estou aqui agora, não estou? Não importa mais o que aconteceu naquele dia, tudo o que quero agora é ficar perto de você.
Emocionado, Taehyung o trouxe de volta para os seus braços. Seus corpos ficaram tão colados que nem uma nesga de ar poderia passar entre eles. Aquilo era muito típico na amizade deles. Taehyung costumava abraçá-lo muito forte quando estava emocionado com algo. Na verdade, ele abraçava qualquer coisa em seu caminho.
– Eles te machucaram, não foi? – Taehyung perguntou com a voz embargada, ainda sem soltá-lo.
Jimin lutou contra a vontade de chorar após ouvir aquela pergunta e então balançou a cabeça, sem detalhes ou palavras sobre o assunto.
– Eles ameaçaram te pegar também. – contou Jimin.
Taehyung se afastou dele com o coração pulando e se mostrou embaraçoso. Por um momento, pareceu como se ele já esperasse por isso.
– A polícia me falou sobre isso. – seu amigo disse, fazendo uma breve pausa em seguida. – Onde está a Hannah? Não me diga que ela...
– A Hannah está viva, mas não muito bem. – Taehyung enrugou a testa em confusão. – Ela foi drogada por eles, perdeu as memórias, está grávida e sem ninguém. Cada dia que passa ela se nega a receber ajuda.
– O quê? Grávida?
Jimin assegurou com um aceno.
– É uma longa história. Ela não se lembra de ninguém e ainda acredita que o desgraçado que a engravidou é uma boa pessoa.
– Caramba... – Taehyung murmurou. – E onde ela está agora?
– Ela quis ficar no prédio do FBI, mas depois nós vamos buscá-la. – os olhos de Taehyung ficaram distantes, como se ele estivesse pensando sobre aquilo. – Tae, se você puder não tocar no assunto da gravidez com ela, eu ficaria grato. A Hannah não quer falar disso com ninguém.
Seu amigo garantiu através de um aceno, em seguida um silêncio constrangedor caiu sobre eles. Eles tinham começado pela emoção do reencontro e declinado para um momento de grande confusão e tristeza. Seokjin, imóvel na entrada da cozinha, notou essa mudança no ambiente e disse:
– Eu mostrei a sua carta em vídeo para o Jimin. Ele ficou muito emocionado com suas palavras.
Um relampejo momentâneo de surpresa se passou nos olhos de Taehyung. Com o humor entre choque e felicidade, Taehyung olhou para o seu amigo, esperando que seu gesto lhe mandasse a pergunta da qual ele não conseguiu verbalizar.
– Foi muito lindo. – Jimin fez um comentário, sorrindo em acréscimo. Seu gesto permitiu que algumas lágrimas derramassem. – Eu não esqueci o nosso aniversário. Não me esqueci de você, nem das nossas conversas. Toda vez que eu estive triste naquele lugar, eu pegava o meu lápis e te desenhava. Você foi o meu alicerce durante esses meses.
Devastado com a sua declaração, Taehyung sentiu o próprio pulso acelerar abruptamente, realmente se dando conta do quanto ele significava para Jimin. Ele o observou em silêncio, havia uma mistura de surpresa e felicidade em seu olhar
– Isso é sério mesmo? – Taehyung perguntou, não como se duvidasse dele, mas para se certificar de que ouviu direito.
– Sim. Muito.
A respiração de seu amigo vacilou ligeiramente, suas mãos começaram a formigar e ele não conteve o desejo de abraçá-lo mais uma vez. Dessa vez havia um sentimento maior, mais intenso, mais físico do que nunca. Jimin absorveu o cheiro dele, sentindo a nostalgia de suas lembranças o atingir como um golpe no estômago.
Taehyung dificilmente se apega a alguém, exceto se esse alguém for Jimin. Ele costumava dizer que seu melhor amigo, além de irmão, também era sua alma gêmea. Normalmente, eles apresentavam interesses em comum, apesar de cada um ter uma personalidade diferente.
– Muito bem, vocês terão muito tempo ainda para matar a saudade. – interrompeu Christopher, aproximando-se deles com um sorriso enorme no rosto. A dupla se separou, mas Jimin continuou com o braço ao redor da cintura dele, incapaz de se afastar totalmente. – Você não vai experimentar o bolo que fizemos para você, filho?
De repente, Jimin visou um bolo redondo no centro da ilha de mármore com a cobertura achocolatada. Nas extremidades da cozinha havia uma faixa enorme escrita em letras graúdas: "BEM-VINDO". Sem contar que alguns balões também foram instalados ao redor da cozinha para oferecer ao ambiente um aspecto mais receptivo.
Jimin havia dito para Christopher que não queria ninguém presenciando sua chegada, exceto Taehyung. Portanto, essa seria uma comemoração restrita, sem outras pessoas por perto. Ele não queria receber olhares estranhos dentro de sua própria casa, como também não se sentia preparado para encarar novos rostos.
– Bem, eu tentei fazer o bolo, mas saiu uma porcaria. Então tive que encomendar um. – explicou Taehyung, e por um passageiro instante, sua voz ficou reduzida. – Pelo menos consegui encontrar o seu sabor favorito.
Houve um breve constrangimento na expressão de Taehyung, como se o fato de ele não ter conseguido fazer o bolo fosse motivo suficiente para o envergonhar. Percebendo isso, Jimin virou o rosto dele para o lado e plantou um beijo rápido e bruto em sua bochecha.
– Você é a melhor pessoa que existe. – disse, elogiando-o. O constrangimento furtivo no rosto de seu amigo se foi em questão de segundos.
– Eu vou pegar uma espátula. – disse Christopher, erguendo as mangas de seu suéter. – Seokjin, pode me ajudar pegando os pratos?
– Claro.
Afastando-se, eles seguiram em direção ao armário. Jimin não tinha reparado que Jungkook estava encostado no batente da porta da cozinha, olhando para ele de modo confidencial. Quando o menino encontrou seus olhos, um sorriso pequeno brincou nos lábios dele rapidamente. Algo naquele gesto lhe disse que ele estava igualmente contente com aquele reencontro.
– Quando seu pai me contou que você estava voltando para casa, meu coração quase sai pela boca. – disse Taehyung, atraindo a atenção de seu amigo para si. Ele estava brincando com uma mecha rosinha no dedo. – Nós combinamos de fazer a surpresa, mas não sabíamos se você iria gostar.
– Como não? Eu amei demais. – disse. – Só em te ver já é o bastante.
– Foi o que o seu pai me disse. – ele sorriu.
Na menção da palavra pai, Jimin lembrou-se dos últimos acontecimentos envolvendo Seokjin, Christopher e Hyeri e isso o fez tiritar por dentro. A verdade nua e crua é que ele devia começar a se convencer de que tudo o que aconteceu foi real, ou seja, isso significa dizer que a partir de agora ele deveria falar de Seokjin como sendo seu segundo pai.
– Taehyung, eu preciso te contar uma coisa. – começou, sua voz baixa. – Recentemente, descobri que o meu pai na verdade não é o meu pai de sangue.
Taehyung enrugou a testa em confusão. Ele realmente demonstrou desentendimento. Sendo assim, Jimin reformulou.
– O que quero dizer é que o Christopher não é o meu pai de sangue. – seu amigo, após compreender melhor, arregalou os olhos em incredulidade, moldando um "o quê?" mudo. – Sabe aquele homem que está com ele? Pois bem, ele é o meu pai biológico.
– Tá de brincadeira comigo? – Jimin apertou os cantos da boca, negando. – Então quer dizer que o seu pai biológico é do FBI?
Por um momento, Jimin pensou em acrescentar com um: "e o meu namorado também", mas conteve-se. Taehyung, em contrapartida, não estava conseguindo disfarçar o olhar para Seokjin. Estudando-o bem, percebeu algumas semelhanças entre os dois. Ele realmente tinha os lábios parecidos com os de Jimin, pensou.
– Por falar nisso – começou Taehyung, trazendo o seu olhar de volta para Jimin. – Foi a tia Hyeri quem te contou?
– Ela não me disse nada, descobri através do meu pai. Christopher. Aquela mulher fez muita coisa errada. Ela vai pagar por tudo agora. – havia uma promessa obscura em sua voz, algo que Taehyung interpretou como raiva. – É uma longa história. Depois te dou mais detalhes.
– Filho? – era Christopher. Ele estava segurando um prato com uma fatia de bolo. – Venha comer, meu amor. Taehyung, você também.
Taehyung adiantou-se na frente. Christopher estava colocando outra fatia em um prato quando Taehyung chegou até ele. Jimin tomou o seu pedaço das mãos do homem e lhe agradeceu com um beijo na bochecha. Seokjin havia tirado o seu pedaço também, mas antes ofereceu uma porção para Yoongi e Jungkook.
Quando Jimin estava prestes a morder uma parte de seu bolo, alguém o interrompeu.
– Yoongi está louco para falar com o seu amigo. – a pessoa cochichou atrás de seu ouvido. Era Jungkook. Ele tentou ser o mais discreto possível, mas a verdade era que seus batimentos cardíacos haviam ficado acelerados.
O garoto o encarou por cima do ombro, sentindo-se quente com a proximidade dele. Sabendo disso, Jungkook testou o sorriso mais encantador que tinha, e os efeitos disso foram escandalosos. O menino fixou em seus lábios, em seguida voltou-se para os seus olhos, um pouco desorientado.
– Ahn – Jimin piscou um pouquinho, recobrando a atenção. – E por que ele não fala?
– Digamos que ele está sendo ignorado. – Jungkook disse. – Como eu disse, ele está louco para ficar sozinho com o Taehyung, mas as circunstâncias não o permitem.
– Então vamos dar um jeito.
Um sorriso cúmplice tocou os lábios de Jimin. No primeiro momento, Jungkook deu a ele um levantar expressivo de sobrancelhas, depois lhe retribuiu o sorriso. Eles tinham algo em mente, só restava colocar em prática. Yoongi, desse modo, estava flagrando a cena à distância, sem saber o que eles diziam. Porém, isso o havia deixado encucado.
– Posso te perguntar uma coisa? – Jimin questionou de repente, recebendo um sim. – Você sabia da surpresa do Taehyung?
– Sim, seu pai me pediu segredo. Desculpe ter que mentir para você, eu detesto isso.
– Não, não peça desculpas. Eu não teria acreditado se fosse outra pessoa.
– Jungkook – Seokjin o chamou do outro lado da mesa. Ele olhou feio para o detetive, mas disfarçou um segundo depois. – Venha cá. Quero que conte uma coisa para o Christopher.
Jungkook poderia ter ficado desconfortável com aquela súbita interferência, mas ele estava começando a se acostumar com as perturbações de Seokjin em relação a Jimin. Enquanto ele estivesse no mesmo espaço que os dois, o detetive sabia que não teria permissão para fazer tudo o que gostaria.
– Bom apetite, anjo. – ele disse baixinho e então partiu para longe.
O menino riu daquela situação por dentro e começou a comer seu pedaço de bolo enquanto olhava para eles. Às vezes ele chegava a pensar que Seokjin fazia tudo aquilo para provocar Jungkook, afinal eles ainda não tinham estabelecido uma relação entre pai e filho ao ponto de haver o típico ciúme paterno.
– Impressão minha ou estava rolando algo aqui? – Taehyung se juntou a ele pela lateral, olhando na mesma direção que Jimin.
De canto de olho, Jimin pôde notar o olhar sugestivo de seu amigo relampejando de relance entre ele e Jungkook.
– O que está insinuando? – Jimin brincou, fingindo não saber. Taehyung espremeu os olhos com aquilo.
– Você e o detetive gostosão. – enfatizou. – Digamos que eu notei que você não parava de olhar para ele. Me diz, o que está rolando?
Ou Taehyung tinha um magnífico dom de analisar suas expressões, ou Jimin simplesmente não conseguia esconder o que sentia. Não mais. Digamos que ele estava convencido de que a segunda opção se encaixava melhor nas circunstâncias. Seus sentimentos agora eram mais do que público, pensou.
Com isso, Jimin lhe deu um sorrisinho insinuante, confirmando o que Taehyung vinha suspeitando.
– Nós estamos ficando já tem um tempo. – finalmente Jimin desembuchou. – No início foi um problema, mas agora está tudo certo.
– Por essa eu não esperava. – disse, surpreso. – Ele beija bem? Tem uma boa pegada? Olha, se não tiver uma boa pegada eu descarto na hora. No mínimo, cheirar bem e ter um bom hálito.
Jimin riu.
– Ele tem tudo isso e muito mais. – ele disse de modo confidencial, como se fosse um segredo compartilhado. – Me arrisco a dizer que de todos os caras que já beijei, ele é o melhor em prática.
– Eu também estava pegando um detetive nos últimos meses e ele era muito bom no que fazia. Acho que ser bom de cama faz parte da cultura federal deles. – Jimin arregalou os olhos com aquele comentário, especialmente para a primeira parte.
– Você o quê?
– Não fique surpreso, você sabe que meu ponto fraco tem endereço e vestimenta. – a incredulidade de Jimin deslizou próximo de diversão agora. – Acho que ele se chamava Ric. Não sei. Mas era bom de cama. E ele me ensinou uma posição nova. Depois te dou os detalhes.
– Eu dispenso. – por mais que ele estivesse achando tudo engraçado, aquilo soou real. – Ah, e sobre o Ric, ele foi parceiro do Jungkook em algumas missões. Realmente, ele é muito bonito.
– Ele beija bem, transa gostoso e ainda faz cafuné pós-sexo. É uma gracinha.
Jimin sorriu para ele, apesar de se sentir um pouco estranho internamente. Taehyung tinha muita experiência nessa área, sua vida sexual andava sempre ativa, enquanto Jimin, quanto a essa questão, se sentia como alguém fora de contexto. Ele não teve boas experiências com isso, nunca dormiu com ninguém por vontade própria, então ele não saberia dizer o que era bom no sexo.
Até o momento, sua perspectiva estava voltada somente para o lado ruim da coisa, enquanto Taehyung enxergava esse mundo bem diferente dele. Jimin sonhava em um dia fazer as coisas que seu amigo fazia sem sentir náuseas ou receio de ser tocado. E, claro, ele esperava que sua primeira experiência fosse com Jungkook.
– Aliás, tenho que te perguntar uma coisa. Você esqueceu mesmo aquele lá? – Taehyung perguntou de repente, sem dar muitos detalhes, porém sendo direto. Jimin quase vacilou com a pergunta.
– A gente não tinha nada a ver um com o outro. Ele é passado.
– Você está enganado, Ji. Ele veio atrás de mim várias vezes te procurar. – quase em pânico pelo assunto, Jimin enfiou outro pedaço de bolo na boca para disfarçar a secura na garganta. – Formalmente falando, vocês não terminaram antes de ele viajar. Mas não ligue para isso. É só uma porcaria de rótulo.
– Eu não quero que ele saiba o que aconteceu comigo. – Taehyung ficou quieto por um momento, então balançou a cabeça. – Por favor, mantenha apenas entre nós.
– Você nem precisa me pedir isso, ursinho. – falou. – Mas, olha, uma hora você vai ter que contar a verdade. Digo, sobre você e o detetive. Ele não pode continuar achando que vocês ainda namoram.
– Sim, na hora certa.
– O detetive já sabe? – Jimin foi pego desprevenido. Sua cabeça balançou de forma hesitante para os lados. – Oh, entendi. Se ele não te quiser por causa disso, eu dou um soco naquela cara linda.
– O Jungkook não faria isso.
– Então por que está com medo de contar, coração?
– Não é medo, Tae. As coisas ainda não estão bem formalizadas entre nós, então não é preciso entrar nesse assunto agora. Mas eu vou contar tudo para ele depois. – seus ombros foram instintivamente curvados para baixo e Taehyung sabia muito bem o que aquilo queria dizer. – Para ser honesto, nunca considerei a minha relação com o... você sabe quem, como sendo um namoro. Nós só ficávamos uma vez ou outra.
– Ursinho, vocês ficaram nisso por cinco meses antes de tudo isso acontecer. Para ele é namoro. – Jimin enfiou outra garfada de bolo na boca, com medo de que fosse dizer mais besteiras.
Assim que ouviu isso, Jimin se flagrou olhando para Jungkook à distância. Não queria magoá-lo com esse assunto, mas Taehyung estava certo quando disse que ele deveria contar a verdade para Jungkook antes que ela o alcançasse através de outras fontes. Jimin queria acabar com essa situação o mais rápido possível, mas primeiro precisava descobrir a melhor forma de o fazer.
– Jimin? – era a voz de Christopher à distância. No primeiro segundo, o menino endureceu em reflexo de seus próprios pensamentos, em seguida o encarou. Seu pai sorriu. – Comprei uma coisa para você. Está no seu quarto. Gostaria de ver?
O garoto engoliu a massa do bolo com um pouco de dificuldade, ciente do olhar calculista de Jungkook em sua direção. Claro que ele notou sua súbita mudança, Jimin imaginou, e muito provavelmente seria questionado sobre isso mais tarde. Sendo assim, o menino esboçou o seu melhor sorriso e colocou o prato sobre a pia.
– Quero, pai.
– Só para esclarecer – disse Taehyung, ganhando os olhos de seu amigo. – A ideia foi toda minha.
– Eu te paguei para ficar de bico fechado. – Christopher rebateu, sem falar sério. Taehyung deu de ombros.
Jimin riu deles. Por um momento, ele desejou continuar preso na febre dessa sensação. Rir é o remédio para qualquer ferida.
– Bem, eu vou considerar isso como um presente dos dois. Assim está melhor? – Jimin comunicou.
Primeiro ele selou a bochecha de Taehyung em forma de agradecimento, em seguida beijou a do seu pai. Os cantos da boca de Christopher viraram para cima, tal como os de Taehyung.
– Venha comigo, filho.
Christopher o segurou pelos ombros, mas antes de o levar, Jimin travou os pés e se virou para Seokjin, o encontrando quieto próximo da ilha. Quando o menino ganhou os olhos dele, de repente ele sorriu um tantinho.
– Você não vem, pai?
Seokjin ficou completamente imóvel. Ele não imaginou que fosse gostar tanto de ouvi-lo dirigir aquela palavra a si. No primeiro instante houve surpresa, no segundo instante sua expressão deslizou para uma crescente felicidade.
Apesar de ainda estar com dificuldade para chamá-lo de pai, Jimin quis testar suas próprias resistências. Ele tentou dizer isso em outras ocasiões, mas as palavras sempre se estilhaçavam em sua garganta. Agora, entretanto, ele conseguiu.
– Claro, eu adoraria. – Seokjin lhe respondeu com um sorriso enorme no rosto.
Jungkook notou, furtivamente, o quanto o seu garoto estava se esforçando para tratar Seokjin como um pai, ainda que estivesse tendo muita dificuldade. Por isso, o detetive deu a ele uma piscadela rápida, parabenizando-o.
Com isso, eles foram para a sala principal e subiram por uma enorme escada de mármore. Jungkook estava saboreando seu pedaço de bolo quando alguém limpou a garganta para chamar sua atenção. Yoongi estava parado em sua frente com um olhar nada comum.
– E você? – Jungkook levantou uma sobrancelha em inquérito. – Por que não vai com eles?
Entendendo a sua pergunta e disposto a provocar, o detetive olhou na direção de Taehyung por cima do ombro dele e então fez uma cara de indiferença.
– É só fingir que eu sou uma parede. – Jungkook debochou. – Tenho certeza que ele nem se importa.
As sobrancelhas de Yoongi pularam.
– Ah, é? E o nosso combinado? Você prometeu que me ajudaria. Agora, nesse caso, você não está cumprindo. – ele encarou Jungkook de modo dramático, o fazendo revirar os olhos rapidamente.
Jungkook parou de comer, depois colocou seu prato acima da bancada de serviço. Sem dizer nada, ele fez uma supervisão intensa sobre o seu parceiro antes de dar um passo para fora da cozinha. Yoongi deu um suspiro genuíno, quase aliviado, em seguida se virou de frente para Taehyung.
O garoto estava encostado contra o armário com um palito de dente entre os lábios, seu humor estava fechado e ele parecia estar evitando olhar diretamente para Yoongi. De braços cruzados, o policial pôde observar o quão desenhado eram os seus músculos.
Uma vez sozinhos, portanto, Yoongi pigarreou e disse:
– É muito bom te ver de novo.
Taehyung o avaliou de cima a baixo, mas não disse uma palavra. Muito pelo contrário. Ele apenas removeu o palito da boca e jogou dentro de uma pequena lixeira no canto. Em seguida fisgou uma banqueta próxima e sentou-se, como se Yoongi não fosse nada além de uma parede branca.
Yoongi engoliu com dificuldade. A reação dele foi muito pior que um soco na cara. Seu estômago azedou de repente, contudo ele não desistiu.
– Ok, você tem todo direito de estar chateado comigo, mas primeiro me deixe explicar. – ele continuou sem uma resposta, por isso sua próxima alternativa foi puxar uma banqueta de frente para o garoto e sentar-se. – Taehyung, olhe para mim.
Então ele olhou. Yoongi sentiu um frio estranho na nuca quando notou uma indiferença amarga no olhar dele. O cômodo ficou subitamente silencioso, mas não durou muito, pois Yoongi falou:
– Olha, antes de você me apedrejar como gostaria, me deixe explicar o que aconteceu naquela época para eu me afastar...
– Ah, então você está planejando se desculpar? – Taehyung debochou, algo que se assemelhava a um sorriso torto apareceu em seu rosto, mas não havia humor naquele gesto. – Você realmente expulsou o seu parceiro daqui para termos essa conversa?
– Taehyung, estou falando sério. Você precisa entender que não me afastei de você de propósito. – o garoto permaneceu calado, então Yoongi prosseguiu. – Eu fui proibido de te ver. Depois de meu chefe nos ver juntos naquele restaurante, ele me afastou do caso por uma semana, e provavelmente teria me afastado por mais dias se eu continuasse me encontrando com você secretamente.
– Por acaso ele também te proibiu de usar o telefone? – a coluna de Yoongi enrijeceu.
– Não.
Taehyung apertou os dentes no primeiro momento, mas depois se mostrou desinteressado. Ele gostava de sinceridade, mas às vezes ela o incomodava um pouco.
– Tudo bem. De qualquer forma isso não me interessa. – disse Taehyung, esquivando os olhos para baixo brevemente, o que sugeria que ele estava mentindo. – Você é um homem livre assim como eu. Não precisa perder seu tempo tentando me explicar uma coisa que não me diz respeito. Nós não temos nada sério, não é mesmo?
– Não, nós não temos. – Yoongi assegurou com um tom de voz distante, como se aquela frase o machucasse. – Mas eu morro de vontade de te beijar. Eu gostaria de ter feito isso antes, mas existe um motivo para eu não ter feito.
– Motivo?
– Sim. – o garoto apertou as sobrancelhas em confusão. – Eu não pude me envolver com você antes porque isso daria a eles o meu ponto fraco. Você. Eu jamais me perdoaria se eles te usassem para me atingir. Foi o preço que o Jungkook teve que pagar por se envolver com o Jimin. No fundo, fiquei com raiva do Seokjin, mas por outro lado ele estava certo. Se nós tivéssemos ficado, você seria caçado.
– Fez isso para me proteger?
– Sim.
Taehyung respirou fundo, em seguida arrancou o boné da cabeça, deixando seu rosto mais visível para ele. Yoongi pôde ressurgir a memória de quando o observou de perto pela primeira vez. Ele era tão lindo que lhe tirava o fôlego.
– Vamos direto ao ponto – disse Taehyung, cruzando os braços sobre a mesa. – Você ainda sente algum desejo por mim?
Yoongi perdeu as palavras abruptamente, apesar de saber a resposta. Ele tinha se esquecido do poderoso dom que Taehyung possuía de lhe arrancar as palavras sem mais nem menos. Yoongi achou que ele fosse acrescentar algo em cima de sua justificativa, mas ele caminhou para outro assunto do qual Yoongi não estava pronto para falar.
– Você sabe que sim.
Taehyung sorriu, não de forma radiante, mas cafajeste.
– Isso quer dizer que você transou com outro pensando em mim. – supôs.
Yoongi engasgou com sua suposição certeira. As maçãs de seu rosto ficaram ruborizadas na superfície, o que sugeria que aquela teoria havia lhe atingido em algum ponto. Pela sua reação de surpresa, pensou ele, Taehyung certamente tinha obtido uma resposta.
– Oh, interessante. – adicionou o garoto, sorrindo.
– Não diga isso muito alto. – Yoongi cochichou, inclinando-se sobre a ilha para lhe dizer. – Seokjin me mataria se soubesse disso.
– Você fez sexo com seu chefe?
– Claro que não! – ele disse rapidamente, abaixando o tom de voz em seguida. Taehyung conteve uma risada. – Foi durante o caso. Se ele souber que eu estava trepando ao invés de estar trabalhando, ele vai arrancar o meu pescoço.
– Que péssimo comportamento, detetive. – Taehyung brincou.
Em silêncio, Yoongi coçou a nuca, o que significava dizer que ele estava um pouco constrangido. Taehyung o observou enquanto ele fazia isso, nem um pouco discreto. Ele gostava de o provocar, pois sabia que o outro gostava de ser provocado.
– Você realmente mexe comigo. – disse Yoongi, tomando fôlego. – E, sim, em todas as vezes eu pensei em você, o que é extremamente constrangedor.
– Não é constrangedor, é vulgar. E eu gosto de coisas vulgares. – Yoongi o encarou, sentindo-o se debruçar um pouco mais na bancada. – Você não precisa mais me imaginar, eu estou bem aqui na sua frente, em carne e osso.
– Taehyung-
Antes que ele pudesse concluir seu pensamento, uma súbita mão agarrou sua gravata e o puxou para frente, cortando suas palavras ao meio. Taehyung selou os lábios dele bruscamente em um beijo rápido, em seguida o empurrou de bunda na cadeira. Yoongi estava com os olhos arregalados, como se não pudesse acreditar no que aconteceu.
– Você sabe meu endereço. – Taehyung disse, o fazendo pescar o recado. – Nos vemos por aí.
Dito isso, ele se pôs de pé e cruzou ao lado de Yoongi, deixando para trás um rastro de seu perfume ardente. O policial ameaçou chamá-lo, mas acabou fechando a boca no último momento, pois Taehyung já havia desaparecido. Portanto, só lhe restou cuidar de seus pensamentos e do pequeno probleminha que estava crescendo entre suas pernas.
✮✮✮
UMA SEMANA DEPOIS
Depois de tanto vasculhar seu armário, Jungkook finalmente selecionou seu look para aquela noite. Uma calça de couro bem ajustada, blusa de botões, estando os primeiros abertos, e um peculiar topete, deixando sua testa à vista. Ele começou a exibir um pouco mais a testa depois de Jimin lhe elogiar dias atrás.
Por falar nisso, Jimin estava a quinze minutos atrasado. Desde a sua chegada em Washington, eles não tinham ido a nenhum lugar. A única coisa que eles geralmente fizeram nesses últimos dias foi visitar a casa um do outro para encontros privados. Agora, no entanto, eles tinham combinado de marcar um programa agrupado com os demais na casa de Yoongi.
Levando em conta que o menino ainda estava desconfiado de olhares estranhos, a casa de Yoongi poderia lhe deixar mais confortável do que um restaurante ou uma casa noturna.
Ele estava desembalando uma garrafa de espumante quando a campainha tocou, atraindo seus olhos à porta. Jungkook largou o objeto pontiagudo que estava usando sobre a mesa e apressou-se em direção a porta. Com apenas um clique, ela deslizou aberta, revelando a imagem de Jimin.
O detetive lhe avaliou da cabeça aos pés, impressionado com a sua roupa. Jimin estava vestindo jeans sobre jeans. Uma blusa gola alta, acessórios bordados, botas casuais, e o melhor de tudo: ele estava loiro. Jungkook sorriu para ele, aprovando seu visual.
– Está deslumbrante, anjo.
O menino devolveu seu gesto com um meio-sorriso envergonhado. Quando Jungkook se inclinou à frente para lhe dar um beijo, seu gesto foi abruptamente interrompido por um ruidoso pigarro. Seokjin surgiu atrás de Jimin. Jungkook sentiu seus próprios lábios se apertando em maldição.
– Meu filho está entregue. – Seokjin disse, em sua voz mais moderada. – Espero que cuide muito bem dele.
O detetive recuou o tronco e se endireitou, seu rosto havia suavizado. Jungkook se sentiu incomodado a princípio, mas depois ficou despreocupado, afinal ele teria a noite toda para aproveitar com o seu garoto.
Jimin moveu-se para dentro do apartamento quando um estranho silêncio caiu sobre eles. Ele parou ao lado de Jungkook e pôs seu braço delicadamente em torno de sua cintura, se aconchegando nele. O detetive envolveu o seu pelos ombros dele. Seokjin assistiu aquilo com uma felicidade contida.
– Eu te ligo depois. – disse Jimin para Seokjin, sua expressão guardava uma promessa. – O Jungkook me leva para casa.
– Eu prefiro lhe buscar, me diga o horário.
Por um momento, Jungkook ficou tentado a revirar os olhos, mas ele apenas disse:
– Não se preocupe, Seokjin, eu vou cuidar bem dele. Se chegarmos muito tarde, ele pode dormir aqui.
– Dormir aqui... Com você... Na mesma cama?
– Na mesma casa. – corrigiu. – Há quartos de hóspedes aqui. Ele pode dormir em algum ou então comigo. A escolha é dele.
– Pai, está tudo bem. – Jimin assegurou, fazendo um esforço enorme para o chamar assim sem precisar repensar no que sentia toda vez que usava aquela palavra. – Eu vou estar com o Taehyung, lembra? E hoje vou ficar na casa dele. Não se preocupe.
Seokjin suspirou.
– Me desculpe por parecer chato, eu ainda estou aprendendo a ser pai. – ele disse de forma divertida, não parecendo desanimado com aquilo, apenas reflexivo. – Tudo bem, então o Jungkook lhe acompanha. Se precisar de alguma coisa me ligue.
Seokjin acariciou os cabelos do menino em despedida e então se afastou. Ele esperou ouvir o clique da porta se fechando às suas costas, mas ao contrário disso escutou a voz de Jungkook dizendo:
– Por que não vem conosco? Layla, Ric, Yoongi, Peter, todos que fizeram parte da operação vão estar lá. Você deveria ir também.
– Eu adoraria. – ele fez gestos com as mãos, indicando decepção. – Mas preciso entregar alguns documentos para o Jared. Ele vai terminar a papelada para o meu afastamento. Amanhã, muito provavelmente, eu esteja bem longe do distrito.
Jungkook olhou para ele e apertou os cantos da boca em compaixão. Apesar do curto período trabalhando juntos, o detetive pôde reconhecer o quanto Seokjin era apaixonado pelo seu emprego. Entretanto, ele não parecia tão abalado como imaginou que ficaria, talvez porque agora ele tinha um motivo para se alegrar na ausência de seu trabalho.
– Bem, não vou mais ocupar o tempo de vocês. – disse Seokjin. – Divirtam-se e cuidem-se.
Após a sua partida, Jungkook se desvencilhou do menino para fechar a porta com um suave clique. O olhar do detetive fixou em Jimin, mas ele o encontrou andando pela sala, fazendo uma breve inspeção pela mobília e notando que havia sido feita algumas mudanças pelo ambiente. Jungkook, desse modo, voltou-se para a garrafa de espumante recém desembalada.
– Você e o Seokjin estão mais próximos, não é? Isso me parece bom. – ele perguntou, colocando a garrafa dentro de um balde com cubos de gelo.
Jimin parou de esquadrinhar os móveis e olhou para ele de repente. Com um suave arranhar, ele sentiu os próprios lábios se abrindo em um sorriso.
– Eu dormi na casa dele essa noite. É a primeira vez que durmo lá e não foi tão ruim assim. O Seokjin... Digo, meu pai, é uma boa pessoa, ele me escuta bastante.
– Você vai se acostumar com isso um dia. – ele disse. – Eu, por outro lado, vou ter que aturar esse homem como meu sogro.
Jimin espremeu os olhos ao captar aquele ato falho e sorriu. – Sogro, é?
O detetive parou o que estava fazendo imediatamente e mostrou os dentes, do mesmo modo quando alguém comete uma gafe em uma situação inesperada. Jimin, em contrapartida, sorriu ainda mais com aquilo e se aproximou dele pela lateral.
– Eu quero ouvir de novo.
– Estou apressando as coisas, não estou? Me desculpe. – sua voz estava calma, mas ele parecia mais agitado do que Jimin tinha visto antes.
– Não está, não. – Jungkook o encarou ao mesmo tempo que ele enlaçou os braços ao redor de seu pescoço, o fazendo se virar de frente para encontrá-lo. – Aliás, eu estive pensando sobre isso nos últimos dias. Digo, sobre nós dois. Nossa relação.
Jungkook o segurou pela cintura antes que pudesse conter suas próprias mãos. Seus rostos estavam a pouquíssimos centímetros de distância agora.
– O que pensou nesses dias? – ele perguntou.
Jimin ouviu sua respiração se prender. Ele tinha pensado em muitas coisas, começando pela oficialização de um namoro e finalizando no tópico ex namorado. Falar sobre isso com Jungkook nunca foi uma questão, até porque Jimin não tinha planos de um dia poder rever seu ex, principalmente após a viagem dele para Detroit.
Aquilo tinha sido águas passadas até Taehyung o contar que ele estava de volta, o que significava dizer que algo estava pendente e precisava ser resolvido.
– Tem uma coisa que preciso te contar, mas eu não sei por onde começar. – disse Jimin e então pausou, fazendo um carinho com os dedos na pele da nuca dele, somente para não deixar o clima tão tenso após sua fala.
– Tente, anjo.
Jimin respirou fundo.
– Você já namorou uma pessoa estando com outra? – Jungkook não demonstrou confusão pela pergunta, mas ele havia ficado pensativo sobre o porquê dela.
– Como em um relacionamento aberto? – Jimin engoliu e balançou a cabeça para os lados.
– Não. Digo, você começa a se envolver com uma pessoa, mas deixa de ficar com ela porque não sente mais nada. Já aconteceu isso com você?
– Bem, eu já me envolvi com outros caras por uma noite, mas nada a longo prazo. – ele explicou. – Anjo, é impressão minha ou você está tentando me contar alguma coisa sobre o seu passado?
Antes de Jimin abrir a boca, um ruído de algo caindo no chão veio da cozinha, o suficiente para fazer o menino saltar para trás. Um estranho tremor correu pelo seu sangue, o fazendo olhar na direção do barulho. Ele encarou Jungkook de relance, perguntando-se se ele havia escutado também.
– Tem alguém aqui? – Jimin perguntou.
O menino detectou um sorriso incerto atrás dos lábios de Jungkook juntamente com um olhar calculista pelo assunto anterior. Ele parecia querer lhe dizer algo, mas estava em processo de seleção das palavras.
– Eu estava esquecendo de te apresentar uma pessoa. Venha.
O corpo inteiro de Jimin pareceu chumbo. Ele arqueou as sobrancelhas, indeciso, e então sentiu-se ser agarrado pela mão e puxado na direção da cozinha. Algumas peças confusas começaram a flutuar em sua mente e então Jimin passou a se perguntar quem Jungkook gostaria que ele conhecesse. Não parecia certo sentir tanta inquietação só por isso, pensou.
Ao entrar na cozinha, ele se deparou com uma figura feminina virada de costas. Ela estava escavando a gaveta do armário quando escutou pegadas por trás. Jimin pôde sentir praticamente cada palpitação de seu coração em movimento logo que ela se virou de frente para eles.
– Mãe, este é o Jimin. – Jungkook vos disse. – Jimin, esta é a minha mãe, Cecily.
Ela tinha cabelos pretos ondulados e olhos igualmente pretos. Sua altura parecia ser três centímetros menor que Jungkook, o que sugeria que ela tinha o mesmo tamanho de Jimin. Cecily abriu um sorriso enorme no rosto, mais ou menos emocionada por conhecê-lo. Jimin sorriu de volta, mas seu gesto tinha saído um pouco tenso demais.
Por um momento, o menino olhou descuidadamente para Jungkook, tentando entender o porquê de ele trazer a mãe para o seu apartamento, uma vez que Jungkook guardava um certo rancor dela. Mas, pensou, se Cecily estava ali era porque ele havia perdoado-a.
– Eu não posso acreditar. – disse a mulher, largando o talher sobre o balcão. Ela andou até ele e segurou sua mão entre as suas. – É um grande prazer te conhecer, Jimin.
– Igualmente. – ele sorriu, dessa vez seu gesto fluiu melhor. – O Jungkook não me disse que a senhora estaria aqui.
Aquilo foi um comentário, mas ele também havia insinuado algo mais, uma bronca talvez. Jungkook poderia ter lhe dito que sua mãe estaria em casa naquela noite, pensou, assim ele evitaria as más impressões. O detetive, no entanto, apenas riu discretamente de sua generosa observação, sem dizer nada.
– Eu estou de passagem. – Cecily explicou, desviando os olhos para baixo brevemente, como se algo a envergonhasse. – Eu me divorciei do meu ex marido, então estou morando com uma amiga. Passei aqui para ver o meu filho. Foi bom porque tivemos uma longa conversa.
– Então está tudo bem entre vocês?
– Eu diria que está muito mais do que bem. – ela sorriu. – Muitas coisas aconteceram no nosso passado e agora entendo quem causou tudo isso. Fico muito feliz por ver que o Jungkook me perdoou.
Jimin observou que Cecily certamente estava tendo dificuldade para digerir a história de sua filha, visto que sua reação mudou bruscamente na menção do assunto. Jungkook havia contado a ela sobre Jennie, o que deixou sua mãe extremamente angustiada. Ela chorou com a morte da filha, obviamente, mas ela também soube que os motivos por trás disso eram bem maiores.
Inicialmente, nenhuma parte de Jungkook se sentia confortável com a presença de Cecily, não necessariamente por culpá-la pelo que aconteceu naquela época, mas por saber que ela continuava submissa ao homem que o espancou. Hoje, no entanto, sua mãe reconhecia que tinha errado em não ter ficado do seu lado, e o principal motivo de ela não o ter procurado antes tinha nome e estado civil: seu marido.
– Aliás, devo dizer que o Jungkook não mentiu quando disse que você é lindo. – Cecily comentou, fazendo uma avaliação de olhar rápida sobre seu filho. – Eu nunca conheci os namorados do meu filho, mas tenho completa certeza de que você é o melhor de todos.
Jungkook quase engasgou. Ele olhou para sua mãe de modo duro, houve um flash de censura em seus olhos. Jimin sentiu-se esquentar como brasa, realmente envergonhado com aquele elogio. Cecily encontrou os olhos de seu filho e os segurou. Fracamente, ela arqueou as sobrancelhas, sem entender tudo aquilo.
– Tudo bem, eu acho que você já falou um pouquinho demais por hoje. – disse Jungkook, não de modo sério, e então voltou-se para Jimin. – Nós temos que ir, anjo.
– Anjo? – Cecily perguntou, pestanejando, realmente comovida com o que ouviu. – Você realmente dá apelidos para ele? Isso é tão fofo, filho.
– Mãe. – ele disse naquele mesmo tom neutro, soando mais como um segundo aviso.
– Ok, tudo bem. Eu vou deixar vocês em paz. – ela falou com um sorriso apertado nos cantos. – Eu adoraria que você viesse jantar comigo, Jimin, especialmente em um final de semana. Quero muito te conhecer melhor.
– Claro. Eu adoraria.
– Então está combinado. Eu falo com o Jungkook antes e nós marcamos o dia.
O garoto balançou a cabeça em confirmação, apesar de estar com um sorriso incerto estampado na cara. Foi Jungkook, aliás, quem o tocou nos ombros e o chamou para sair. Yoongi já havia ligado três vezes para saber onde eles estavam e todas elas caíram na caixa postal de propósito, pois Jungkook sabia que ouviria uma série de xingamentos se atendesse.
– O que vai fazer com essa garrafa? – Jimin questionou assim que chegou na sala de estar e visou a garrafa dentro do recipiente com gelo.
– É para nós. Mais tarde. – ele respondeu enquanto caçava a chave do carro no sofá.
Não era bem sua intenção, mas Jimin falhou em conter a ansiedade para mais tarde. Ele pensou se poderia cancelar o encontro com os outros para ficar com Jungkook ou, quem sabe, pular algumas horas. De qualquer modo, promessa é promessa.
– Achei você. – murmurou o detetive quando encontrou o molho de chaves. – Bem, vamos lá.
Com isso, ele lhe deu um rápido selinho e abriu a porta para Jimin passar. O menino deslocou-se para fora e um segundo depois Jungkook o acompanhou. Antes de sumir completamente, ele deu um tchauzinho para Cecily, que retribuiu seu gesto na mesma hora. Ela possuía um olhar de quem estava intensamente orgulhosa.
Com a mão em sua cintura, Jungkook o carregou para o elevador e então eles deram partida.
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– O casal chegou! – exclamou Yoongi quando abriu a porta de sua casa e se deparou com as duas figuras no meio da noite.
Ele segurava uma taça cheia de conhaque. Às suas costas havia uma pista de discoteca improvisada com um globo de luz pulsando em várias cores acima de suas cabeças. Um olhar ligeiro sobre a casa de Yoongi, e Jimin observou o quão maravilhoso ela era.
A sala tinha o teto alto e os móveis eram vitorianos, o que deixava tudo ainda mais belo. A música se intensificou assim que Jimin e Jungkook entraram. Layla e Taehyung estavam dançando no centro da pista enquanto Ric e Peter enchiam seus copos com gim. Algumas mobílias estavam servindo como suporte para copos e garrafas.
Jimin respirou fundo e disse a si mesmo que poderia lidar com aquilo. Ele passou a odiar lugares com música alta e homens mais velhos. Nesse caso, não havia ninguém além de quem ele já conhecia e, também, seria só por uma noite.
– O que vocês vão querer? – Yoongi perguntou através da música.
– Vou começar com o uísque. – disse Jungkook.
– E você, Jimin?
– Ponche. – escolheu.
Yoongi estalou os dedos como se ele tivesse feito uma boa escolha. Em seguida, virou-se nos calcanhares e sumiu através de uma porta arqueada, a qual Jimin supôs ser a cozinha. Quieto, o menino continuou a observar os outros bebendo e rindo. Obviamente, Taehyung deve ter sido um dos primeiros a chegar, se é que ele já não estava lá dentro desde a noite passada, pensou Jimin.
Ele sentiu um par de braços o agarrando por trás de repente. Isso o fez virar o rosto por cima do ombro, o que facilitou para que Jungkook lhe desse um demorado beijo no canto superior de sua bochecha. Jimin fechou os olhos com aquilo e pôs seus braços sobre os dele, o que Jungkook entendeu como uma forma de lhe manter por perto.
– Quer dançar um pouco? – Jungkook cochichou em seu ouvido. A pergunta em si não tinha soado tão sedutora quanto sua voz.
Jimin estava começando a pensar que muito em breve ele estaria beijando-o em algum canto afastado se Jungkook continuasse a usar aquele tom de voz, o que por sinal era um gesto muito perigoso, diga-se de passagem. Não seria grande coisa fugir por uns minutinhos da festa, mas por enquanto ele precisava se conter.
– Eu prefiro ficar com você. – respondeu Jimin, quase de acordo com seu pensamento anterior.
Jungkook abriu um sorrisinho, mas seu gesto foi subitamente cortado por uma voz que veio por cima da música.
– Jimin! – era Taehyung.
O garoto virou os olhos na direção de seu amigo, o encontrando a meio metro de distância. Jungkook se aprumou com a chegada de Taehyung, mas seus braços não soltaram Jimin um segundo sequer. Sua postura ficou descontraída, mas ele não deixou a atenção de lado.
– Caramba, eu achei que você não fosse aparecer nunca. – comentou Taehyung, fazendo uma varredura por Jungkook em seguida. – Hum, acho que sei o motivo de seu atraso.
– Não seja bobo. – Jimin advertiu, mas seu pequeno sorrisinho deixou transparecer que a advertência não foi séria. – E você, que horas chegou? Algo me diz que você nem saiu daqui.
Taehyung olhou para Jungkook antes, mas ele estava observando a movimentação na sala, atento, como se não estivesse disposto a ouvir a conversa deles, assim como não pretendia, também, largar Jimin para ir atrás de Yoongi. Portanto, Taehyung aproximou seu rosto do dele e disse:
– Eu dormi aqui pela segunda noite – Jimin fez uma cara de surpresa, mas ele realmente não estava.
– Vocês dois...
– Não. – Taehyung bufou. – Eu estou deixando ele com mais vontade. Você nunca ouviu o ditado que diz que quem tem mais combustível, mais velocidade tem? Não importa. Eu acabei de criar o ditado e é assim que funciona. Deixamos eles com sede e na hora H é só apertar o acelerador.
Jimin revirou os olhos com a sua explicação barra conotação sexual e riu.
– Você realmente não existe, Taehyung.
Ele deu de ombros, sugando sua bebida pelo canudo. Havia uma tiara com orelhas de gato acima de sua cabeça e glitter multicolorido em sua feição e blusa, o que sugeria que ele estava em uma chuva de glitter minutos atrás. Analisando bem, Jimin observou que Layla e Ric também estavam sujos com purpurina. O dela, no entanto, deslizava até as pernas desnudas.
Layla ergueu sua taça para Jungkook e moldou alguma palavra com os lábios, mas o detetive não conseguiu identificar o que era sobre a música. Ele apenas acenou de volta e sorriu. Ric estava largadão em uma poltrona enquanto Peter dançava atrás de Layla, fazendo seus movimentos esquisitos.
Algo em especial naquela casa fez Jimin se sentir completamente vazio. Melhor, o que não estava lá acabou puxando seus pensamentos para longe. Hannah não tinha ido com eles, ela nem sequer quis sair do quarto para comer. Cansaço, alegava ela, mas Jimin percebeu várias idas suas ao banheiro juntamente com ruídos de engulho.
Depois de muita conversa, ele conseguiu convencer Hannah a ficar na casa de Taehyung com ele, mesmo não se lembrando de nada. A partir de então, ela começou a se retrair mais, principalmente quando flagrava Taehyung andando de cueca pela casa, isso quando ele não dava a louca para ficar nu, mas Jimin o orientou a não fazer.
– Taehyung, você sabe por que a Hannah não veio? Eu e você passamos a noite fora, será que ela está bem?
– Sim, sobre isso. Eu falei com ela por telefone, mas você sabe como a Hanninha me olha torto só porque eu ando de cueca. E olha que faz uns dois dias que não faço isso.
– Talvez porque você está dormindo aqui a dois dias? – Jimin sugeriu.
Taehyung lhe deu um olhar aguçado.
– Qual é, ursinho, você sabe como eu gosto de fazer isso. É libertador. Não me julgue. – Jimin revirou os olhos. – Olha, seria melhor a Hannah ir para outro lugar. Que tal a casa do seu pai? Digo, do Christopher, que também é seu pai. Ou então vocês poderiam ficar na minha casa enquanto eu vou para outro lugar.
Jimin semicerrou os olhos com aquilo.
– Você está fazendo tudo isso para ficar na casa do Yoongi? – Taehyung pestanejou, fingindo inocência. – Eu achei que você quisesse ficar comigo. Sabe, preencher o tempo perdido.
– O quê? Não! Quero dizer, sim! Eu quero muito ficar com você, meu ursinho carinhoso. Mas se a Hannah continuar me vendo como um estranho, eu não posso agir como se tivesse intimidade com ela, assim como tínhamos.
– Se você estiver longe, ela dificilmente deixará de te ver como um estranho. – opinou Jungkook, interferindo-os. Taehyung elevou seus olhos a ele. – Que tal uma noite sim e uma noite não? Assim você não vai precisar sair de sua casa e poderá visitar o Yoongi quando quiser.
– Ok, seu namorado me convenceu. – ele disse, suspirando. – Mas agora eu não quero pensar nisso. Primeiro a festa, depois os problemas. Vamos.
– Eu vou depois. – Taehyung endureceu o olhar na direção dele, como se não acreditasse naquela promessa. – Depois.
Quando Taehyung se virou, ele quase se esbarrou com Yoongi. Se ele tivesse ido um pouco mais para a esquerda, teria derrubado todo conteúdo no chão. Taehyung fez uma cara de desculpas, mas seu gesto soou um pouco cafajeste demais. Yoongi o repreendeu com o olhar antes de oferecer uma taça para Jungkook e outra para Jimin.
– Eu não coloquei muito álcool na sua bebida, Jimin, mas se quiser posso acrescentar mais. – Yoongi disse.
– Não, está ótimo assim. Obrigado.
– Você não vai me oferecer nenhum favor também? – perguntou Taehyung, sugerindo outra coisa.
Jungkook e Jimin se entreolharam brevemente. Aquela pergunta deu a Yoongi um pequeno grau de esperança. Ele ameaçou sorrir, mas por algum motivo se conteve. Se as pessoas não tivessem notado, ou melhor dizendo, se Ric tivesse notado, Yoongi o agarraria ali mesmo, bem na sua frente, mas este estava mais preocupado em recolher as latinhas de cerveja do chão.
– Ora, ora, olha só quem chegou. O nosso futuro diretor-assistente. – a voz de Layla estrondou através da música. Ela estava se aproximando com seus saltos finos. – O que deu em você para não falar com os pobres agentes mortais dessa festa, querido?
Jungkook riu. Um momento depois, ele se desvencilhou de Jimin para ir abraçá-la. Ela pressionou os braços ao redor dos ombros dele, o que acabou deixando uma longa impressão de purpurina no tecido. Ela cheirava a álcool, mas não estava bêbada. Jimin flagrou o olhar dela quando a viu se afastar de Jungkook e vir em sua direção.
– E você, baixinho, como está?
O menino apertou a taça entre as mãos e sorriu nervosamente.
– Eu estou bem. – ela sorriu para a sua resposta. – Não totalmente, mas estou.
– E a Hannah?
– Ela ainda não decidiu sobre a gravidez, o que vem me deixando muito preocupado. – Jimin percebeu como a compreensão tomou o rosto de Layla naquele instante. – Você acha que ela vai abortar?
– Olha, independente do que ela escolha fazer, é importante que você esteja lá para apoiá-la.
Jimin não quis prolongar aquela conversa, ainda mais em um ambiente como aquele. Eles não estavam lá para falar sobre os seus problemas, muito pelo contrário, a ideia era justamente esquecê-los. Por isso, o menino lhe deu um aceno, sugerindo entendimento. Layla se aproximou dele cautelosamente, como se estivesse prestes a lhe contar um segredo.
– Quando acabar a festa, nós conversamos sobre isso. Se eu não estiver bêbada, claro. – disse ela. – Eu posso conversar com a sua amiga se você quiser. De mulher para mulher.
– Você faria isso?
– Claro! – ela sorriu. – A propósito, gostei de sua nova cor de cabelo.
Por um momento, Jimin ficou imóvel, o coração martelando de felicidade. Talvez Layla pudesse fazê-la se sentir firme e segura simplesmente por ser mulher. Ele não tinha muita familiaridade com o assunto e nem estava no corpo dela para entender as mudanças em detrimento de uma gravidez indesejada, portanto não lhe restava nada a não ser escutar.
– Bem, eu vou dançar. Quem vem comigo? – Taehyung falou, não vendo outra alternativa para melhorar o clima.
– Eu! – Layla aceitou.
– Alguém falou em dança? – Ric veio por trás de Taehyung, não de forma invasiva ou provocadora.
– Sim, gracinha, dança. Você quer? – Taehyung disse de forma inocente, mas seu sorriso era de um menino mau e encantador.
– Seu convite é uma ordem. – Ric respondeu.
Yoongi olhou para Taehyung de forma nada discreta, sentindo um súbito sentimento de mal-estar no estômago. No entanto, Taehyung lhe deu um sorriso de derreter o coração, o suficiente para espatifar sua mágoa em mil pedaços.
– Eu vou com vocês. – Yoongi disse, baixando sua guarda.
Sem perder tempo, Layla começou a empurrá-los para a pista de dança. Peter veio logo atrás com um balde de espumas e arremessou neles, deixando tudo ainda mais agitado. Eles começaram uma guerra de espumas e uma grande nuvem de sabão acabou acertando Jungkook. Jimin caiu em gargalhadas, o que foi um grande erro, pois o detetive colocou sua taça sobre uma mobília e encheu as mãos de espuma.
– Jungkook... – Jimin balançou sua cabeça para os lados quando o observou sorrir de modo astuto em sua direção, o que significava que ele estava tendo uma ideia.
De repente, Jungkook avançou para cima dele, mas o menino correu em disparada para trás do sofá. Ele ainda segurava o ponche em mãos, o que atrapalhou sua tentativa de defesa contra a nébula de sabão que voou em sua cara.
O garoto abriu os lábios em surpresa enquanto varria a espuma dos olhos. Jungkook, sentindo-se meramente culpado, foi até ele, rindo, e o ajudou a limpar o conteúdo. Jimin deu um soco em seu peito, não muito forte, apenas para mostrar seu protesto.
– Você me sujou! – ele disse como se fosse óbvio demais, alguns fios loiros ficaram grudados na testa. Jungkook riu ainda mais.
O menino fisgou uma almofada e arremessou contra o peito dele, como se aquilo fosse fazê-lo parar de rir. Ele diminuiu o ritmo, mas não afastou aquele sorriso indecente dos lábios.
– Tudo bem, eu me rendo. Vamos buscar uma toalha para você.
– E eles?
Jungkook olhou na mesma direção que Jimin e encontrou aquelas figuras estranhas, as quais ele chamava de agentes federais, rindo e pulando sobre a piscina de espumas. Yoongi teria um baita trabalhão para limpar tudo no dia seguinte.
– Eles nem vão se dar conta. – disse Jungkook. – Venha.
Com um gesto de cabeça, então, Jungkook convidou Jimin para subir. Havia uma longa escadaria de mármore no final da sala. O andar de cima estava parcialmente escuro, indicando que todas as pessoas presentes na casa estavam dançando sobre aquelas espumas de sabão, exceto Jimin e Jungkook, que agora caminhavam pelo corredor à esquerda.
A primeira porta estava entreaberta, então Jungkook espiou pela fresta, percebendo que estava olhando para dentro do quarto de Yoongi. Ele abriu a porta por completa e deslizou a mão pela parede em busca do interruptor. Quando o encontrou, a claridade deu forma ao quarto. Tudo estava bem organizado, exceto pelas inúmeras embalagens de preservativo sobre a cômoda, todas fechadas.
Jimin olhou para aquelas embalagens e por algum motivo ele experimentou uma onda de náuseas, o que o fez desviar os olhos para outra direção. Jungkook fechou a porta às suas costas, abafando a batida eletrizante da música.
– O banheiro deve ser ali. – falou Jungkook, apontando para uma porta à direita. – Vou buscar a toalha. Me espere aqui, anjo.
Jimin não disse nada, apenas confirmou com um aceno. Ele não estava tão molhado como antes, seu rosto já tinha se secado sozinho, embora seu cabelo ainda estivesse úmido. Jungkook desapareceu dentro do banheiro, então o garoto aproveitou para observar o quarto.
Ele notou que nos pés da cama, a quase dois metros de distância, havia uma porta dupla de vidro com cortinas de voil. Sentindo uma tentação irresistível para espiar o que tinha atrás dela, então, Jimin caminhou naquela direção, abriu as cortinas e em seguida destrancou a porta.
Uma brisa atingiu seu rosto e as cortinas voaram para trás como um bater de asas. Depois que Jimin teve certeza de que estava olhando para a sacada, ele caminhou para fora e ficou parado próximo do parapeito. A coluna de proteção ficava no nível de sua cintura, o que facilitava o apoio dos braços. O chão parecia a quinze metros fora do alcance.
Adiante, a bela vista para a cidade o enfeitiçou. O céu não estava nublado como nos meses anteriores, dessa vez pontilhadas estrelas enfeitavam a noite. Na verdade, o quarteirão de Yoongi era muito bonito, o que de certa forma contribuiu para a sua apreciação.
Era estranho imaginar, Jimin pensou, que a um tempo atrás ele estava sob o teto de um cativeiro e que neste instante estava olhando, à distância, para a sua cidade. Em momentos de agonia, acreditou que nunca iria ter uma vida normal de novo, mas, aparentemente, ele estava enganado. Em partes.
Estar livre não significa dizer que tudo foi apagado. Mesmo em momentos de felicidade, Jimin se encontrava tendo flashbacks de tudo que lhe aconteceu. Ele sabia que tinha um grande desafio pela frente, especialmente envolvendo seu trauma. O primeiro passo, desse modo, seria procurar um psicólogo, embora Seokjin já tivesse contratado um para começar semana que vem.
– Anjo?
Jimin foi puxado de seus pensamentos de supetão, então ele girou a cabeça na direção de Jungkook e o encontrou parado na porta da sacada. Em silêncio, ele caminhou até o menino e olhou rapidamente na mesma direção que Jimin estava olhando anteriormente.
– O que está fazendo aqui? – ele perguntou cautelosamente.
– Eu quis ver o que tinha aqui. Esse lugar é tão lindo, não é?
Jungkook sorriu.
– Sim, verdade. Para isso o Yoongi tem bom gosto. – ele comentou, esticando o braço em sua direção. – Aqui está a toalha.
Os olhos do menino foram para a toalha pendurada na mão dele, depois ele a pegou e enrolou os seus cabelos, espichando gotículas de água pelo ar. Depois de arrumar os fios bagunçados que ficou, devolveu-lhe com um enorme sorriso.
– Obrigado, meu detetive.
Encantado por aquela palavrinha mágica, Jungkook girou lentamente o corpo de Jimin de frente para o jardim da casa e o abraçou por trás, ficando com o queixo apoiado em seu ombro. O estômago do menino virou círculos, principalmente quando ele respirou o seu perfume.
– Você sabia que essa palavra soa muito bonita na sua voz? – perguntou Jungkook através de um sussurro, sugerindo algo a mais.
– Qual?
– Meu. – ele disse em seu ouvido. – Eu gosto quando você usa esses pronomes possessivos, porque eu posso ser seu em todos os sentidos, não apenas o seu detetive.
Jimin inclinou a cabeça para o lado, encarando-o pela lateral.
– O que você quer dizer?
Com um beijinho demorado em seus lábios, Jungkook virou o corpo dele de frente para o seu, sem desdobrar seus braços ao redor dele, e acariciou sua bochecha em fascínio. Jimin não deveria estar tão nervoso para o que ele estava planejando dizer, mas de certa forma ele ficou.
– Hum – começou Jungkook, o fazendo sentir aquela sensação de borboletas no estômago novamente. – O que quero dizer é que você pode me chamar de meu detetive, meu Jungkook, meu namorado.
Uma grande névoa invisível preencheu a cabeça de Jimin, o deixando momentaneamente paralisado. Ele pensou ter ouvido errado, mas pela reação de Jungkook, ele é quem estava tendo dificuldade para acreditar em sua própria audição.
– Jungkook-
Ele começou, mas suas palavras se quebraram no caminho. Bastou apenas um segundo para Jimin compreender aquelas palavras, ou melhor, bastou Jungkook remexer o bolso da calça para que a certeza caísse como chumbo em sua cara. Ele o observou trazer uma pequena caixinha preta entre as mãos.
Ok, se acalme. Jimin disse para si mesmo em sua cabeça.
– Anjo – ele começou. – Eu estou tentando dizer isso a quase quatro dias, mas ainda não tive coragem. No início pensei que fosse por causa dos meus sentimentos, depois supus que ainda estava cedo para tomar essa iniciativa. Eu quis ter certeza de que o que sentimos um pelo outro é forte o bastante para avançar alguns sinais. Eu vou entender caso você diga que ainda não está pronto para isso, mas mesmo assim eu gostaria de te perguntar. Namora comigo?
Jimin estava esperando tanto por aquela pergunta que nem sequer acreditou que finalmente a escutou. Ele ficou imóvel por um instante, incapaz de controlar a surpresa em seu rosto. Ele estava sendo pedido em namoro? Não um namoro de fachada, não um namoro de vez em quando, mas um namoro real, selado por confiança, compromisso e, sobretudo, paixão.
Isso significava dizer, portanto, que eles teriam que se assumir para todo mundo. As pessoas agora saberiam que eles se tornaram oficialmente namorados. Não havia mais medo pelo protocolo, não havia mais receio de serem vistos juntos, seria uma relação unicamente natural aos olhos da lei.
De repente, Jungkook abriu a caixinha e revelou um par de anéis dourados, o que contribuiu para o aumento da expectativa do menino.
– O que você me diz? – ele perguntou em voz baixa, aguardando uma resposta.
– Eu – ele engoliu com dificuldade, sua garganta estava seca, não conseguindo dar seguimento.
– Ouça, anjo – Jungkook disse, sendo totalmente compreensivo com a dificuldade dele. – Se você disser sim ou não, não vai mudar nada entre a gente. Eu só quero poder fazer as coisas certas. Não quero ficar em silêncio quando alguém nos perguntar o que somos, quero ter certeza do que a nossa relação significa...
– Eu quero. – Jimin falou rapidamente, interrompendo-o antes mesmo de ele terminar de falar. – É lógico que eu quero ser seu namorado
Ali, então, ele observou o sorriso genuíno de Jungkook, aquele que ele sempre usava quando algo dava certo. Após um instante de silêncio, Jungkook tocou seus lábios com o polegar, avaliando-o com seus olhos negros. O menino sabia o que viria a seguir, por isso ele umedeceu a boca em expectativa.
– Você não imagina o quanto eu esperei por essa resposta. – disse Jungkook, apoiando sua testa contra a dele.
– Eu também, mas nunca tive coragem. Eu achei que você fosse me ver como um garoto desesperado por relacionamentos sérios.
Jungkook riu baixinho.
– Bem, eu nunca estive em um relacionamento sério por tanto tempo...
– Isso quer dizer que eu vou ser a sua primeira experiência? – perguntou Jimin.
– A única.
O menino perdeu momentaneamente as palavras. Jungkook tinha o dom de deixá-lo sem reação por tão pouco. Naquele instante de tamanha emoção, Jimin o viu pegar o anel com uma das mãos enquanto segurava a sua com a outra. De repente, ele sentiu o metal frio abraçando seu dedo lentamente.
Ele encarou o arco com fascínio, sentindo-se quente de felicidade. Jimin voltou a olhá-lo com um sorriso enorme no rosto. Jungkook, por outro lado, circulou seus braços pela cintura dele e o aninhou contra seu corpo. Preso no momento, o menino deixou escapar um arfar pela surpresa do gesto, mas ele não ficou insatisfeito.
Depois de o estudar por um momento, Jungkook tomou seus lábios devagar. Jimin o agarrou pela nuca carinhosamente enquanto suas bocas se enlaçavam uma na outra. O beijo começou suave, mas em poucos instantes esquentou.
A brisa injetou neles um pouco de frio, mas o desejo estava em um grau ainda maior. Jungkook sugou seu lábio inferior, o que trouxe um arrepio de prazer na espinha de Jimin, que espremeu os fios de seu cabelo entre as dobras dos dedos.
Então, com um pouco mais de impulso, Jungkook o ergueu do chão, o fazendo circular as pernas em seu quadril. Eles não se separaram do beijo um minuto sequer, muito pelo contrário, o contato ficou mais intenso.
Com isso, Jungkook o carregou para dentro do cômodo, ciente de que eles corriam risco de serem flagrados juntos a qualquer momento. No entanto, ele tinha algo muito melhor em seus braços agora para se importar.
Jimin começou a sentir a espessura do colchão em suas costas lentamente. Jungkook beliscou sua boca, mas não muito forte, o suficiente para fazê-lo sorrir um tiquinho. O jeito como Jungkook lhe tratava era tremendamente incomparável, mesmo estando deitados sobre a cama, ele não dava sinais de que pretendia ir além, o que, de certo modo, acabava passando segurança para o menino.
– Eu gostaria de nunca parar de te beijar. – disse Jungkook, roçando as palavras contra a boca dele.
– Então não pare. – sussurrou.
Aquilo arrancou um sorriso dos lábios de Jungkook, um sorriso que se curvava ligeiramente mais alto na esquerda. Então ele deslizou os lábios alguns centímetros abaixo, o beijando mais uma vez. Jimin podia sentir facilmente o leve sabor de uísque, o suave toque da paixão e a promessa recém selada entre eles.
O anel se afundou mais em sua pele quando ele distribuiu mais apertos no cabelo de Jungkook, o torcendo entre as mãos, obviamente, da maneira menos dolorosa possível. Porém, isso arrancou um pequeno gemido da garganta do detetive, o qual ele estava contendo desde o primeiro momento. Jimin, desse modo, se afastou um pouquinho, mas antes lhe deu um rápido selinho.
– Esse é o nosso primeiro beijo como namorados. – disse o menino, brincando com o piercing na orelha dele.
– Segundo.
Jimin enrugou a testa.
– Por que segundo?
– Nós nos beijamos, então paramos, e depois nos beijamos de novo. – ele explicou, conforme limpava uma fina camada de saliva que ficou para trás, bem próxima do queixo de Jimin.
– Ok, então esse é o nosso segundo beijo como namorados.
– Minha meta é cem beijos por dia. Você me ajuda nisso? – Jimin gargalhou. – Não ria, anjo. Eu realmente não me importaria de passar o dia lhe beijando.
– Quantos beijos você já deu por dia? – Jungkook semicerrou os olhos, pois sabia que ele tinha um interesse particular por aquela pergunta.
– Se eu disser trinta, você vai achar que sou um beijoqueiro gratuito?
– Não, eu diria que você era solteiro. – ele sorriu e então lhe roubou um rápido selinho. – Hoje não é mais, então fique à vontade para quebrar sua meta comigo.
Jungkook lhe retornou o sorriso enquanto acariciava o rosto dele. Jimin sentiu, de repente, que ele tinha algo para perguntar.
– Antes de sairmos, você disse que queria me contar uma coisa. O que era?
Jungkook esperou que ele respondesse, mas, ao invés disso, Jimin ficou em silêncio. Seu sangue pareceu congelar, então ele deslizou sentado na cama. Jungkook se virou para ele e sentou-se também.
– Não é uma boa hora para falar sobre isso. – explicou Jimin, seu timbre estava grave. – Podemos deixar para depois? A gente acabou de começar um namoro, eu quero aproveitar esse momento.
– Tudo bem, anjo. Você está certo. – ele sorriu, puxando sua mão para descansar entre as suas. – Fale apenas quando se sentir confortável.
Jimin assentiu, mas os seus pensamentos estavam em outro lugar. Jungkook queria ouvir o que ele tinha para dizer, ainda mais depois de perceber que o assunto parecia o incomodar. No entanto, forçar uma conversa indesejada não era uma boa opção, especialmente após um pedido de namoro. Então ele deixou para lá.
A porta do quarto abriu de supetão, revelando a imagem de Yoongi na semiescuridão do corredor atrás. Ele estava com uma expressão agitada no rosto, que desapareceu em instantes, mais especificamente quando seus olhos pousaram nos dois.
– Ufa! Achei vocês. – disse ele, limpando uma gota de suor da testa. – Pensei que tivessem ido embora. Por que vocês estão aqui? Ou melhor, o que estavam fazendo na minha cama?
Yoongi não parecia raivoso, apenas curioso. Jimin e Jungkook se entreolharam de modo cúmplice, mas foi Jungkook quem disse primeiro.
– Estávamos conversando. Apenas.
– Sim, uma conversa. – Jimin assegurou.
Nem um pouco convencido daquilo, Yoongi sondou o quarto discretamente, vendo a porta que dava para a sacada escancarada e o lençol da cama amassado com duas impressões de corpos. Ele visou também uma pequena caixinha preta caída sobre a cama, o que o deixou com uma certeza crua.
– Espere um pouco – Yoongi disse. – Vocês estão namorando?
Quando não houve resposta por parte de nenhum deles, Yoongi deu um gritinho de felicidade.
– Mentiraaaa! – ele se lançou entre Jimin e Jungkook, ficando espremido no meio deles enquanto os abraçava pelos ombros. – Então quer dizer que o meu casal está namorando? Finalmente esse cabeção tomou vergonha na cara, não é, Jimin?
– Maldição. – Jungkook murmurou, tentando conter seu sorriso.
– Ok, eu prometo que não vou contar a ninguém, mas nem adianta, porque todo mundo vai saber quando olhar para isto. – ele disse, apontando para os anéis deles. Jungkook revirou os olhos. Jimin mordeu o lábio. – A propósito, eu vim chamar vocês para fazermos um brinde.
– Brindar o quê? – perguntou Jimin.
– O sucesso. – falou. – O fim do caso, o novo cargo do Jungkook, o namoro de vocês, uma vida nova. Enfim, tudo. Vamos. Levantem essas bundas daí.
Sem tempo para pensar, Jimin e Jungkook foram arrastados para fora do quarto. A princípio, eles não tinham notado que a música estava mais baixa e que a gritaria de antes tinha desaparecido, o que significava dizer que eles tinham feito isso para o momento de brinde.
Layla e Ric estavam organizando as taças sobre a mesa de jantar. Taehyung estava colocando as almofadas caídas sobre o sofá enquanto recolhia também as latinhas de cerveja e as jogavam dentro de uma cesta. Jungkook, Jimin e Yoongi se juntaram a eles em instantes.
– Onde está o Peter? – questionou Jungkook.
– Ele está no banheiro. Quis brincar de misturar bebidas e agora está quase vomitando os próprios órgãos. – Layla disse, não considerando aquilo um tópico de conversa perfeitamente normal.
– Podemos brindar assim mesmo. – Yoongi sugeriu. – O coitado não está em condições de ingerir mais nada.
– Por mim tudo bem. – disse Taehyung, juntando-se a eles na mesa.
Ric começou a encher as taças com champanhe enquanto todo mundo se organizava em seus respectivos assentos. Eles ainda estavam um pouco molhados pela espuma, Jimin observou, mas não pareciam bêbados.
– Muito bem. Eu começo. – disse Layla, erguendo sua taça à altura do abdômen. Todo mundo olhou na direção dela. – Eu gostaria de começar brindando o nosso sucesso. Não estive no caso desde o começo, mas pude apreciar o nosso momento de triunfo ao derrotar a máfia. Sou muito grata por fazer parte dessa equipe, por atuar ao lado de pessoas competentes e por ter conhecido profissionais determinados. Nada poderia ser melhor do que esse emprego. Eu, como detetive e cidadã, vou estar sempre lutando pela justiça desse país. Um brinde a nós.
Ric pigarreou quando ela terminou de falar, sabendo que o próximo seria ele.
– Bem – Ric deu seguimento a celebração. – Quando entrei no Departamento, não imaginei que estaria dentro de um caso tão importante quanto esse. Trabalhar ao lado do Jungkook, Yoongi e Layla foi uma tarefa da qual não irei me esquecer. Todos nós fizemos um bom trabalho. Então, nesse momento, eu gostaria de brindar a nossa jornada. Houve muitos desafios pelo caminho, mas o importante é que superamos todos eles.
Ric olhou para Taehyung ao seu lado, lhe passando a vez. O garoto engoliu em seco e levantou a taça.
– Ok, agora sou eu. – ele prosseguiu, sugando uma quantidade grande de ar para os seus pulmões. – Não sou detetive, nem nada disso. Não participei do caso, nem o acompanhei, mas vocês me trouxeram de volta a pessoa mais importante da minha vida. Vocês trouxeram de volta a minha felicidade, o meu aconchego, minha alegria, tudo aquilo que eu pensei ter perdido a muito tempo. Por isso, gostaria de brindar o trabalho de vocês, mas, acima de tudo, a força do meu melhor amigo. Se não fosse pela garra dele, nós não estaríamos aqui agora. Eu te amo.
Jimin segurou a mão dele quando o viu esticar o braço por trás de Yoongi. Ele estava com os olhos cheios de lágrimas, completamente emocionado pelas palavras de Taehyung. Os votos continuaram, mas eles não soltaram as mãos.
– Eu tenho muita coisa para falar, mas vou tentar resumir. – retomou Yoongi, ganhando o olhar de todos. – Estou aqui desde o início. Presenciei vitórias, derrotas, perdas, sobrevivência, tudo. Minha mente acabou ficando sobrecarregada com tantas reviravoltas. Eu cometi muitos erros durante o meu percurso nesse caso, uma delas foi pensar que as coisas teriam que ser do meu jeito. Um certo cara me disse uma vez que eu deveria pensar um pouco mais em mim, e ele estava certo. Hoje, eu percebo o quão passageiro é a vida para perdermos tempo com coisas fúteis. Por isso, quero fazer um brinde especialmente àqueles que não estão mais aqui, mas que estiveram conosco durante o caso.
Até esse momento, Jimin ficou de cabeça baixa, ciente de que o próximo seria ele. Quando um breve silêncio caiu sobre todos, o menino ergueu a cabeça e encontrou cinco pares de olhos o encarando à distância. Depois de um momento de hesitação, ele selecionou as palavras em sua mente e disse:
– Eu não tinha planejado dizer nada... – ele pausou, esperando ouvir uma advertência, mas, ao invés disso, não houve qualquer ruído de interferência, então ele prosseguiu. – Mais do que ninguém, eu sou a prova viva do que esse caso significou. Se não fosse pelo Jungkook e por vocês, certamente eu não estaria vivo para falar sobre isso. Ainda me dói imaginar tudo o que passei, mas ao mesmo tempo me alivia saber que nada disso vai voltar a acontecer de novo. Vocês me trouxeram para casa, me fez reencontrar o meu pai e o meu melhor amigo, então nada mais importa. Agora, tenho tudo aquilo que me faltou nesses últimos meses: apoio e proteção. Por isso, quero brindar a liberdade.
Jungkook o abraçou pela lateral do corpo e lhe deu um beijinho no topo da cabeça, gesto esse unicamente protetivo.
– Agora eu quero ouvir o que o novo diretor-assistente tem a dizer. – Layla falou, sendo apoiada por Ric e Yoongi.
– Tudo bem, eu sei que vocês amam a minha voz. – debochou Jungkook enquanto pegava a taça da mesa. – Bem, eu gostaria de começar parabenizando o esforço de cada um. Houve momentos de estresse e decepção, mas o importante é que estamos bebendo e nos divertindo com a consciência limpa depois de salvar muitas vidas. Eu sei que o trajeto até aqui não foi nada fácil, mas tudo isso valeu a pena. Como futuro diretor-assistente do FBI, prometo fazer dessa equipe a mais prestigiada de toda a história do Departamento Federal. Nós vamos ser uma equipe de peso. Vamos deixar o nosso legado, especialmente depois de todas as críticas que recebemos. Precisamos reerguer o nome do FBI.
– Um brinde ao recomeço! – Yoongi disse, levantando sua taça.
– Um brinde ao recomeço! – todos disseram.
Dito isso, eles finalmente brindaram. O tilintar das taças se tocando ecoou pela sala juntamente com o coro de felicitações. Jungkook engoliu tudo de uma vez, assim como Layla e Yoongi. Ric tomou um grande gole, mas não aguentou ingerir tudo. Jimin bebeu pausadamente enquanto Taehyung encheu as bochechas com o líquido antes de engolir.
Yoongi caçou o controle do aparelho de som entre as almofadas e aumentou o volume da música quando o encontrou. A batida eletrizante começou a retumbar pela casa, fazendo o chão sob seus pés tremer. Layla arrancou os saltos e puxou Jungkook pelo braço para a pista de dança. Taehyung fez o mesmo com Jimin, mas ele teve dificuldade de se soltar, mesmo com Taehyung o conduzindo.
Estava tudo bem dançar com eles, Jimin pensou, seriam apenas alguns movimentos desengonçados, nada com teor sexual. Além do mais, não haviam estranhos naquela festa para ele se sentir tão desconfortável. Diferente da boate, ele sabia que estava ali de igual para igual, sem ser o centro das atenções, e isso o deixava aliviado.
Um acentuado ruído tamborilou através da música. Era o som da campainha. Por um desnorteante momento, Yoongi pensou que a polícia estava batendo em sua porta. Mas eu sou a polícia, ele refletiu, desconsiderando essa opção.
– Jungkook! – ele o gritou sobre a música. – Atende a porta para mim. Vou ao banheiro.
Jungkook olhou para ele de modo divertido, ciente de que Yoongi estava evitando se encontrar com Seokmin e por isso usou uma desculpa para se livrar de atender a porta. Sua tática vinha dando certo desde a última semana. Nada de atender ligações, nem correspondências.
Se vendo obrigado a conferir quem era, Jungkook caminhou na direção da porta e puxou a maçaneta, esperando encontrar a figura de Seokmin parada no relento. No entanto, quem ele viu estava longe de ser Seokmin.
Uma estranha mulher estava virada de costas. Quando a porta se abriu, ela rapidamente girou de frente. O detetive ficou no lugar, estudando-a, considerando. Ela tinha o cabelo na altura dos ombros, olhos pretos, e usava um sobretudo marrom. Nada nela lhe parecia comum.
– Olá, posso ajudá-la? – perguntou Jungkook, soando gentil.
– Você é o detetive Jungkook?
Ele não gostou nem um pouco de como ela o respondeu com outra pergunta. Jungkook balançou a cabeça uma única vez para cima e para baixo, ainda com um olhar de inquérito no rosto. A expressão dela adotou características de fascínio e, surpreendentemente, felicidade. Sorrindo, então, a mulher disse:
– Finalmente eu te encontrei.
Jungkook espremeu as sobrancelhas, meio incerto sobre a reação dela.
– Me desculpe, mas eu não te conheço. Acho que você se enganou de endereço. Esta não é minha casa.
Com um rápido movimento, ela trouxe algo de dentro do casaco. Uma credencial. Jungkook inspecionou o documento apresentado, deixando um momento de silêncio estranho se seguir.
Portanto, ela acrescentou:
– Sou agente especial da CIA. Mais especificamente, sua irmã biológica.
CONTINUA NA SEGUNDA TEMPORADA
✮✮✮
Meu deus!! a primeira temporada chegou ao fim :(((( eu to muito tristinha pq já to com saudade de escrever dangerous.
Enfim, esse finalzinho deixou claro que a segunda temporada promete MUITA coisa, eu espero que vocês tenham percebido algo que não foi citado no capítulo, mas que fará uma enorme diferença na segunda temporada.
Eu espero de coração que essa história tenha trazido muitas reflexões acerca da humanidade, empatia, o termo "vilão" e inúmeras outras coisas. E claro, a segunda temporada promete muito chamego jikook
OBRIGADA POR TUDO!
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