⍟ sixty five [PARTE 1]
DIAS DEPOIS
Estar dentro de um avião pareceu algo novo para Jimin, como quem experimenta uma coisa inédita pela primeira vez, mas dessa vez com um bom propósito.
Ele estava fascinado pelas nuvens cortando as montanhas naquela manhã límpida, pela sensação de estar voando por cima da cidade, como se fosse um pássaro em liberdade, e, sobretudo, por saber que estava voltando para casa. Ficar tanto tempo em cativeiro fez com que Jimin perdesse a esperança de um dia poder voltar para o seu cantinho de conforto, aquele do qual ele costumava se lembrar quando estava em apuros.
Em sua imaginação, Taehyung o estaria esperando na porta do FBI, uma vez que todos os familiares foram comunicados sobre a chegada de seus filhos, mas Hyeri, no entanto, não foi informada a pedido de Jimin. Christopher apoiou sua decisão, assim como Seokjin também lhe deu força. Era estranho pensar que agora ele tinha dois pais e ambos estavam se dando muito bem agora, como se toda aquela história passada não fosse nada além de feridas antigas.
Olhando ao redor, Jimin observou cada menina descansando em uma respectiva poltrona, algumas dormindo, outras conversando baixinho para não fazer barulho. Hannah estava ao seu lado, silenciosa, olhando para fora da janela. Ela não tinha dito uma palavra desde que pisaram dentro daquele avião. Diferente de como Jimin pensou, sua amiga não parecia assustada ou qualquer coisa do tipo.
Com um lampejo, o garoto encontrou Jungkook caminhando lentamente entre as fileiras dos assentos, fazendo sua minuciosa inspeção sobre as garotas para ver se estava tudo bem. Ele foi o escolhido para cuidar de todas elas, portanto era o único federal dentro daquela aeronave.
O restante da equipe, porém, havia permanecido em outro jatinho juntamente com Christopher. Aquelas que tinham sido contrabandeadas para o Japão foram resgatadas por Jared. Eram apenas três meninas norte-americanas que agora estavam em companhia das outras para o alívio de todos.
Jimin não podia negar que ficou pálido quando deu de cara com o inspetor pelos corredores, mas Jared lhe pareceu amigável, muito diferente da última vez que se viram, cuja expressão dele parecia guardar uma dura promessa contra qualquer um que atravessasse seu caminho. Apesar de sua postura rígida, Jimin sabia que Jared tinha boas intenções, e ele soube disso principalmente quando o inspetor demonstrou preocupação pelo ocorrido no prédio.
Com Jungkook se aproximando aos poucos de sua poltrona, Jimin se despertou e levantou os olhos a ele. O detetive usava o clássico casaco com o nome do FBI nas costas, bem como todos de sua equipe decidiram vestir também, especialmente para a imprensa. Jimin o observou olhando para Hannah de relance, talvez se imaginando como ela devia estar, e então se sentou na poltrona vazia à frente deles.
O menino tentou conter um sorriso nervoso quando o flagrou fazendo um sinal com os dedos, o qual significava "estamos quase lá". Ele não era imune à maneira como Jungkook tentava lhe confortar. Na verdade, Jimin não conseguia ser imune à ele. De todas as formas e jeitos.
– Como está se sentindo? – perguntou o detetive baixinho, também atraindo o olhar de Hannah em sua direção.
– É tão estranho pensar que estou voltando para casa. Nem parece verdade. – Jimin lhe respondeu com um pouquinho de timidez nas palavras.
Ele havia deixado a vergonha de lado quando passou a se envolver mais intimamente com Jungkook, mas estar ao lado de Hannah praticamente o obrigava a agir assim. Jimin sabia que sua amiga tinha a habilidade de avaliar as pessoas instantaneamente, sobretudo o que elas diziam, mas não tinha certeza se a nova Hannah gostava de fazer o mesmo. Apesar de sempre ser franco com ela, Jimin não podia negar que seria embaraçoso para ela ouvir que ele estava apaixonado pelo detetive que o resgatou.
– E você, Hannah, como está? – dessa vez Jungkook especificou o endereço de sua pergunta, tentando incluí-la na conversa de modo cordial.
– Bem.
– Isso lhe parece bom? – ele prosseguiu, cauteloso.
– Eu estou viva, então isso é bom.
Jungkook absorveu sua resposta e concluiu que aquilo era um sinal do estresse pelo qual ela estava passando. Além disso, a péssima notícia que lhe foi dada dias atrás não parecia ser, pelo menos teoricamente, um presságio positivo. Ela estava passando por tudo aquilo com o apoio de Jimin, porém, de modo subjetivo, não deixava de ser algo que só ela estava sentindo.
– O senhor sabe me dizer onde fica o banheiro? – Hannah perguntou e automaticamente Jimin entendeu o motivo por trás daquilo. Ela estava evitando receber mais perguntas.
– Na cabine à esquerda.
Hannah deslocou para fora da poltrona e seguiu pelo corredor, recebendo alguns olhares esquisitos de vários ângulos diferentes. Desde o momento que ela passou a ficar sob o teto do FBI, algumas das garotas estranharam seu novo visual. Jimin lhes explicou o motivo da súbita mudança, mas algumas delas não acreditaram na sua versão e preferiram presumir ideias desagradáveis sobre Hannah, como, por exemplo, considerar a possibilidade de ela ter mudado de lado por vontade própria.
– A Hannah ainda está muito confusa. Não a leve a mal. – Jimin se lamentou quando a observou entrando no banheiro.
– Eu compreendo as reações dela. Não se preocupe.
– Vai ser difícil trazer a antiga Hannah de volta. – ele espremeu os lábios como se seu próprio pensamento o incomodasse. – Aliás, Jungkook, você sabe me dizer o que vai acontecer com ela daqui pra frente?
– Está se referindo ao fato de ela ter feito aquilo com a Jennifer? – Jimin confirmou com um aceno. – Bem, tudo que posso dizer é que haverá uma audiência para avaliar isso. Querendo ou não, a Hannah feriu uma pessoa e o tribunal pode julgar essa ação com diferentes perspectivas.
– Mas ela foi drogada e perdeu a consciência. Isso não é considerado crime culposo?
– O crime culposo ocorre a partir de um descuido, quando não há uma real intenção de matar. O doloso, por outro lado, ocorre quando há intenção de matar. – explicou. – A Hannah estava drogada na hora, sim, mas ela também cometeu o crime por vontade própria. Essa situação pode ser avaliada de várias formas por diferentes juízes. Primeiro, e não menos importante, eles precisam ouvir a versão dela e descobrir o que de fato houve para aquilo acontecer.
Jimin refletiu sobre aquilo e então disse:
– Algum médico pode comprovar que ela sofreu uma alteração neurológica?
– Muito bem pensado. Nós vamos levar a Hannah para um especialista e acharemos um bom advogado para ela. – Jungkook lhe garantiu com um sorriso gentil.
Estava muito evidente o cuidado em sua expressão, algo muito comum quando se tratava diretamente de Jimin. O menino estava certo de que essas novas circunstâncias lhe dariam muita dor de cabeça, mas ele estava disposto a pensar positivo.
– O que está sentindo? – Jungkook perguntou, exercendo um heroico cuidado para não o chamar de anjo na frente das outras meninas. – Digo, sobre estar voltando para casa depois de tanto tempo.
– Eu fico imaginando se vou conseguir ter uma vida normal de novo. – ele disse, soando mais como uma queixa. – Creio que agora todo mundo saiba o que aconteceu comigo. Eu não quero que eles me vejam apenas como um garoto que foi traficado.
– Você se vê assim?
– Não sei mais como me vejo. – ele olhou para as próprias mãos no colo e então voltou-se para Jungkook. – Mas eu sei que as pessoas são estigmatizadas o tempo inteiro, principalmente em situações como a minha. Não vai ser diferente comigo. Todo mundo vai me olhar e pensar: "caramba, esse menino foi traficado, foi usado e agora está aqui como se nada tivesse acontecido".
– Esse tipo de pensamento não é nada mais que uma crença pessoal. Você acredita que as pessoas vão te olhar assim, mas não quer dizer que elas de fato comecem a te enxergar dessa forma. – Jimin inclinou a cabeça para o lado, como se pensasse sobre aquilo. – Você e as outras meninas vão trabalhar em cima desses pensamentos na terapia. O FBI estará disponibilizando o acompanhamento psicológico gratuitamente para vocês.
– E onde vai acontecer?
– Temos um local específico para esse tipo de acompanhamento. – Jimin começou a imaginar como seria esse tal local. – No FBI tem ótimos psicólogos. Cada agente tem que passar por lá pelo menos uma vez na semana, mas como o caso se estendeu até o Canadá, tivemos que deixar de comparecer nas sessões. Também costumamos passar por testes aleatórios de exame toxicológico.
– Aleatórios?
– É uma política do FBI. Eles nos chamam em dias aleatórios para fazer esse teste, e em casos de confirmação, o agente precisa se afastar temporariamente do Departamento para se tratar. – Jimin abriu a boca em surpresa — ou fascinação talvez. – Por isso nenhum agente usa drogas ou qualquer substância que afete diretamente o nosso sistema neurológico.
– Já aconteceu casos de um agente ser pego no flagra? Digo, usando drogas.
– Diversas vezes. – contou. – Alguns até fingiam que não estavam se sentindo bem para trabalhar e ficavam em casa até a droga desaparecer do organismo, pois eles sabiam que se fossem para o Departamento e tivessem que fazer o exame toxicológico, eles se dariam muito mal.
Jimin não podia negar que ficou surpreso com aquela história. Primeiro porque ele sempre acreditou que todas as pessoas da lei eram pessoas politicamente corretas e nunca falharam com o sistema. E segundo porque agora ele tinha consciência de que estava enganado quanto a isso.
– Demorei? – a voz de Hannah o despertou. Ela estava se aproximando quando Jimin a observou, vendo-a se deslocar em direção à poltrona vazia e sentar-se ao seu lado. – Tinha uma garota na minha frente.
– Pelo menos você conseguiu aguentar. – Jimin brincou.
Jungkook os encarou discretamente, notando, muito de longe, que o humor da menina havia melhorado. Para ser honesto, ele não entendeu sua súbita fuga para o banheiro, mas supôs que tinha relação com ele e Jimin ficarem a sós.
– Bem, vou verificar se já estamos perto de pousar. Com licença. – o detetive lhes avisou, sorrindo com gentileza após deixar o assento.
Jimin olhou para ele com uma expressão adorável. Daquele ângulo, ele viu seu detetive com a feição mais interessante do que nunca. Geralmente, Jungkook costumava ser belo, vaidoso, cheiroso, mas dessa vez ele estava triplamente mais, Jimin analisou. E quando ele sorria era como se todas as ondas agitadas ficassem tão suaves quanto o roçar de uma pluma.
Aquele sorriso era o ponto fraco de Jimin. Sempre que Jungkook sorria, ele sorria de volta, como um ímã. Por mais gentil ou cafajeste que fosse, o garoto não podia negar que aquele gesto quebrava suas defesas em mil pedaços. Não foi diferente de agora. Jungkook sorriu para ele antes de se virar para longe e foi retribuído imediatamente por um sorriso de orelha a orelha.
– É impressão minha ou você está... apaixonado? – com aquela pergunta, Jimin parou de sorrir e desviou o olhar para Hannah. – Suponho que esse seja o motivo de você estar sorrindo assim.
O garoto sentiu um bolo ácido crescer em seu estômago e então ele corou. Seus ossos pareceram virar líquido, pois Jimin sabia que não estava conseguindo disfarçar o efeito daquela pergunta.
– Foi ele quem me resgatou. É por isso que tenho um carinho enorme por ele. – Jimin tentou justificar, mas Hannah suspendeu uma sobrancelha como quem não tinha caído naquele papo furado.
– Sei.
– Estou falando sério. Ele me salvou daquele lugar.
– Ah, isso você fala sério, mas quanto a segunda parte? Está ou não está apaixonado?
Jimin não via problema em contar a verdade para Hannah, mas aquele não era bem o lugar para se ter esse tipo de conversa. Apesar de suspeitar que o escândalo de Namjoon rendeu muitos burburinhos, tinha consciência também de que isso não passava de suposições.
– Eu te conto depois. – respondeu Jimin num ímpeto. – É coisa demais pra ser dita aqui.
Hannah não contrapôs, apenas lhe deu um sorrisinho divertido em confirmação e voltou a olhar para a janela. Eles não tinham conversado muito durante o percurso, mas dava para perceber que Hannah parecia mais confortável na presença dele. Não havia tocado no assunto da gravidez a pedido dela, pois também considerou melhor não intervir em seu momento de decisão.
– Meninas, eu peço um minuto da atenção de vocês. – Jungkook disse para todas elas, seus olhos estavam mais escuros daquela distância, principalmente por conta da aba do boné. Todo mundo o encarou. – Nós estamos muito perto de pousar. A imprensa está louca para ganhar alguns cliques desse momento, por isso vamos aterrissar no campo de aviação do FBI por via das dúvidas. Peço que, por gentileza, não se desesperem na hora da saída.
– Onde está nossa família? – uma menina perguntou.
– A família de vocês já está no Departamento os aguardando. – dito aquilo, muitas delas começaram a ficar ansiosas. – O encontro será totalmente sigiloso, a imprensa não terá acesso a isso. Eu sei que vocês estão ansiosas para rever seus entes queridos, mas não saiam depressa para ninguém se machucar, está bem? Isso é tudo.
Dito aquilo, Jungkook sorriu para elas e se virou para longe. Jimin aproveitou o meio período para olhar para o lado de fora do avião, sentindo uma breve tontura por reconhecer a cidade de Washington. Em retrospectiva, ele se viu entrando no avião com destino ao Canadá, e agora estava sobrevoando de volta a sua cidade natal.
Dava para ouvir o poderoso barulho do motor, o movimento em declive e o seu próprio coração batendo a mil dentro do peito. Ele observou uma enorme estrutura envidraçada, com aço nas extremidades e uma bandeira dos Estados Unidos numa torre pontiaguda. Ele realmente estava sobrevoando próximo do distrito do FBI.
Era difícil se imaginar de agora em diante, pensou Jimin, pois ele sabia que não seria mais visto da mesma forma que era. Sua vida agora era como um livro aberto, cada pessoa começaria a escrever nas páginas em branco, afinal, cada uma o enxergaria de modo diferente, entre elas a sua mãe.
Jimin não queria ver Hyeri nem pintada de ouro, mas ele sabia que uma hora ou outra teria de encontrá-la, nem que fosse para cuspir verdades na sua cara. Ele estava engasgado, sim, mas, sobretudo, magoado. Ouvir a versão dela parecia mais correto, a julgar pelos últimos acontecimentos, mas ele não a perdoaria independente das explicações.
Jimin escapou de seus próprios pensamentos num pulo, se dando conta, então, que a aeronave começou a diminuir a velocidade, já em superfície terrestre, e estava quase parando. Ele sentiu um frio na barriga, aquele em especial que todo mundo sente quando está diante de uma situação nova.
O garoto estava tão concentrado na ideia de que havia voltado que nem percebeu Hannah cutucando seu braço.
– Ei, nós temos que descer. – ela comunicou, apontando para Jungkook com o queixo. – Ele está nos chamando.
Jimin olhou na direção indicada e observou o detetive conduzindo as meninas para o lado de fora. A escada de embarque já havia sido posicionada e aparentemente havia alguém auxiliando elas do lado externo. O garoto, porém, não conseguiu identificar quem era. Tudo o que ele identificou foram os assentos cada vez mais vazios e o olhar receptivo de Jungkook.
No instante seguinte, Jimin se deslocou para fora da poltrona e andou atrás das outras. Hannah o seguiu na mesma hora. Quando se aproximou da porta de saída, o garoto finalmente pôde reconhecer o rosto de Seokjin um pouco abaixo. Ele estava ajudando as meninas a descerem da escada, tal como Yoongi.
Jimin olhou fixo para ele, tentando decifrar o significado de seu sorriso de orelha a orelha quando este o encarou, e então virou-se para Jungkook. O detetive estava parado na porta do jatinho, o aguardando descer para ir junto. Hannah, em contrapartida, atravessou por ele e desceu a escada, consciente de que as coisas ali levariam tempo.
– Você é o único que resta, anjo. – disse Jungkook, referindo-se ao fato de todo mundo já estar fora da aeronave.
O garoto deu um pequeno suspiro e um segundo depois os braços de Jungkook deslizaram ao redor de seus ombros, o acompanhando para fora da aeronave. Jimin não pôde evitar de espiar o campo ao redor. Tudo parecia tão bem estruturado, na medida certa para qualquer espécie de veículo. O segundo jatinho havia pousado alguns metros atrás do primeiro e todos os policiais nele estavam agora seguindo para dentro do distrito.
Ao contrário de Jungkook, Jimin ficou surpreso com o tamanho do edifício do FBI, parecia triplamente maior que do Canadá. As meninas pareciam igualmente surpresas, mas a maioria delas estava mais ansiosa do que chocada, afinal de contas, suas famílias estavam dentro daquele prédio.
– Como está se sentindo, Jimin? – Seokjin lhe perguntou logo que o viu se aproximar.
– É um pouco estranho, não é? – ele riu nervosamente enquanto manuseava o olhar pelos arredores. Seu gesto era de quem estava à procura de alguém do que necessariamente uma observação. – Aliás, o senhor tem certeza que a imprensa não pode ver a gente?
– Fique tranquilo, eles estão parecendo formigas na porta de entrada do edifício, nem vão se dar conta de que chegamos pelos fundos. – Yoongi comentou, rindo.
– Yoongi tem razão. – Seokjin adicionou. – Os repórteres acreditam que vamos chegar pela parte dianteira do edifício. De qualquer forma, não faz mal eles esperarem, afinal nós ainda vamos fazer a coletiva de imprensa.
De repente, os olhos de Jimin ficaram congelados para além de Seokjin, seu gesto indicava surpresa e animação. Ele sorriu de orelha a orelha quando encontrou a figura de alguém conhecido e então correu.
– Pai!
Christopher abriu os braços para recebê-lo, em seguida beijou seus cabelos. O menino o abraçou tão forte que pôde sentir o martelar de seu coração batendo junto com o de seu pai. Seokjin não pôde deter a inquietação por vê-lo tão receptivo ao pai adotivo, mas isso também não o incomodou. Jungkook o observou desviar os olhos daquela cena por um breve momento.
– Eu estava esperando pra te ver. – Jimin lhe disse.
– Eu também, meu filho.
– O senhor falou com o Taehyung?
Christopher sorriu.
– Sim, ele está a caminho. – o estômago de Jimin flutuou até a garganta. – Eu me ofereci para ir buscá-lo porque ele está sem veículo.
– Ele não pode pegar um táxi?
– Táxis não são permitidos dentro do distrito do FBI. – dessa vez não foi seu pai quem o respondeu, foi Jared. Jimin girou para o encarar. Ele estava a meio metro de distância deles. – Mas não se preocupe. Você vai se reencontrar com seu melhor amigo de um jeito ou de outro.
– Inspetor Jared? – o menino parecia chocado.
– É bom te ver de novo, Park. Mal nos falamos. – seus olhos se esquivaram para Christopher na mesma hora que os lábios dele moldaram uma saudação. – Sr. Dallas, é um prazer revê-lo também.
Christopher apenas o cumprimentou com um gesto de cabeça, nada muito informal. Jimin pigarreou, não ruidosamente, somente para recompor a compostura. Jungkook fugiu de olhar aquela cena. Ele chamou Yoongi, Layla e Ric para levar as meninas para dentro do prédio, e enquanto os outros cumpriam sua ordem, no entanto, ele permaneceu no mesmo lugar juntamente com Seokjin.
– Fique com o detetive Jungkook, está bem? E com o seu outro pai também. – Christopher disse para o seu filho, seu tom era gentil como em todas as outras vezes. – Eu vou buscar o Taehyung e não demoro.
Dito aquilo, Christopher o beijou na testa e então se virou para longe. Jimin estava sorrindo para as costas dele quando alguém o tocou gentilmente no ombro. Virando a cabeça para conferir quem era, ele encontrou os intensos olhos negros de Jungkook.
– Vamos aguardar lá dentro. – disse o detetive
O sorriso de Jimin voltou para trás de seus lábios e então ele acenou. Ele percebeu que Hannah continuava imóvel no mesmo lugar, sem qualquer interesse de sair de perto dele. Talvez fosse por receio de se sentir sozinha ou assustada, mas seu amigo supunha que estava mais voltado para uma questão de familiaridade.
Por uma fração de segundos, Jimin flagrou Jared os encarando a uma certa distância. Ele parecia querer lhes dizer algo, mas, por algum motivo, decidiu guardar para si. Jungkook não havia lhe devolvido o olhar, apenas arrastou Jimin com ele sem qualquer força brusca. O inspetor, no entanto, permaneceu parado por um breve momento após a retirada deles e depois os seguiu.
Jared ficou sabendo sobre o incidente no terraço do FBI como também a paternidade de Seokjin. No que tange a última parte, ele não demonstrou qualquer sinal que pudesse declarar alguma contrariedade, na verdade suas reações foram uma mistura de surpresa e divertimento. Jimin presumia que agora o Departamento inteiro teria conhecimento do assunto, não por Jared ser fofoqueiro, mas por ele fazer parte da esfera mais alta.
As mãos de Jungkook eram gentis em seu ombro enquanto eles caminhavam em direção ao edifício. Ele o segurou como se estivesse acostumado a tocá-lo de modo protetivo, mesmo que fosse instintivamente. Então, após um tempo, eles foram para dentro, subiram por um elevador e andaram por uma espécie de hall. A parte interna do prédio parecia mais moderna do que no Canadá, Jimin observou.
As paredes eram de um cinza escovado e aquela que ficava de frente para eles continha um enorme símbolo do FBI. O ambiente possuía um poderoso cheiro de limpeza. Jimin ficou boquiaberto com o intervalo de espaço entre o teto e o chão. A iluminação parecia vir propriamente do teto, uma vez que as luminárias estavam embutidas na cobertura. Havia também algumas aberturas ao longo da parede que davam para outras repartições do Departamento.
Jimin se aproximou de uma sala no qual dava para ouvir o murmúrio de vozes e pessoas em prantos. Ali, ele soube que estava sendo levado para dentro do cômodo onde os familiares os aguardavam. Seu coração torceu no peito quando de repente ele viu pessoas se desmanchando em lágrimas enquanto abraçavam suas filhas.
Olhando a cena adiante, o garoto sentiu-se emocionado por ver alguns pais checando o rosto de suas filhas para ver se não havia algum ferimento. Jimin se lembrou do que sentiu quando reencontrou Christopher, a sensação de conforto por estar entre os braços de um ente querido era inigualável. Ele supôs que aquilo era exatamente o que elas estavam sentindo agora.
Hannah estava imóvel ao seu lado. Ela não parecia disposta a permanecer ali, mas conteve-se. Depois de perder a memória, aparentemente ela aprendeu a não expressar suas emoções, mesmo que as sentissem internamente. Namjoon havia lhe ensinado passo a passo de como se tornar obscura e isso assustava Jimin.
Seokjin liderou o caminho até o seu chefe do outro lado da sala, mas, pelo caminho, cumprimentou a família de cada vítima. Hannah olhou para os próprios sapatos como se estivesse desviando de alguma coisa, Jimin observou.
– Vocês querem beber alguma coisa? Água? Café? – Jungkook perguntou a Jimin e Hannah.
– Obrigada. – a menina recusou.
– Pode ser uma água. – Jimin sugeriu, sorrindo em gratidão.
– Ali tem alguns assentos caso queiram sentar. – o detetive lhes apresentou, algo em seu tom deixou Jimin saber que ele estava aberto a outras alternativas. – Bem, preciso cumprimentar primeiro o diretor-chefe e entregar a ele todos os meus relatórios do caso, mas prometo não demorar.
– Está tudo bem. É o seu local de trabalho, você precisa seguir as políticas.
Jungkook lhe deu um sorriso fofo, mas por trás de seu gesto havia uma breve sugestão. Jimin sabia o que aquilo queria dizer. O detetive não se deu muito bem com as políticas do Departamento durante o seu trajeto no caso, afinal ele estava descumprindo a mais crucial de todas, por isso, ali, eles teriam que manter as aparências.
Com isso, Jungkook movimentou-se entre aquelas pessoas, saudando-as com um sorriso uma vez ou outra. Jimin olhou para o lado para falar com Hannah, mas ela não estava mais lá. De repente, ele a encontrou sentada em uma das poltronas das quais Jungkook havia mostrado e então ele decidiu ir até ela.
– Olhe só para elas... tão felizes. – Hannah comentou quando ele sentou na poltrona ao lado. Jimin viu os olhos dela fixados nas outras garotas.
– Algumas delas estavam a anos sem ver a família.
– E quanto a minha? – ela o encarou naquela hora. – Onde está a minha família?
Jimin perdeu as palavras de repente e congelou, sua garganta ficou ácida. Ele não sabia se a família de Hannah tinha vindo, mas sabia que eles foram informados. Escutou por alto que a mãe dela havia se mudado para outra cidade após se separar do pai de Hannah, Ben, este que sempre andava aprontando em bares.
– Sua mãe deve estar vindo. Acho que ela se mudou para outra cidade e por isso vai demorar um pouquinho. – ele tentou justificar, sua voz hesitante, quase gentil. – Mas você tem a mim, não se sinta sozinha.
– Não sei se a quero ver. – Jimin continuou encarando-a, mudo, sem saber o que dizer. – Não quero me decepcionar com outra família.
– Não é uma outra família, eles são sua família e sempre foram. – ela parecia bem longe de concordar com aquilo. – Você diz isso porque se decepcionou com o Namjoon, talvez ainda o sinta como parte de sua família, por isso tem medo de se decepcionar de novo.
– Olha, Jimin, como quer que eu tenha sido antes de perder as minhas memórias, hoje não sou mais. Eu não sinto nada dentro de mim a não ser um vazio enorme.
– Hannah... – seu amigo a tocou lentamente nos cabelos. Ela não recuou como ele imaginou. – Você sente, sim, só não consegue identificar ainda. As nossas emoções são como um balão, às vezes pensamos que elas não significam nada, mas por trás daquela esfera redonda há um monte de gás. Quanto mais a gente acumula o gás no balão, mais ele cresce. É a mesma coisa com as nossas emoções. Se você as controla como se isso fosse lhe fazer parar de sentir, então elas vão aumentar cada vez mais.
Ela pareceu pensativa brevemente e então balançou a cabeça, ainda calada, demonstrando entendimento. Hannah sentiu os próprios lábios formando uma linha reta, como se aquilo a tivesse atingido em algum ponto. Quando ela abriu a boca para dizer algo, a voz de alguém se sobrepôs à sua de supetão.
– Filho!
Jimin girou os olhos na direção da voz e viu sua mãe parada no meio da sala. Ele fixou o olhar nela e recuou o tronco, como se estivesse diante de uma figura ameaçadora. O garoto tinha ficado muito surpreso para dizer algo. Mas, primeiro, ele se perguntou como ela entrou naquele edifício sem ter conhecimento de sua chegada.
– Meu amor! – Hyeri avançou até ele com os braços abertos, mas Jimin saltou da poltrona e arremessou seu corpo para fora do alcance dela. Hyeri ficou perplexa com sua reação. – Eu senti tanto a sua falta, meu menino. Me deixe te abraçar.
– Fique longe de mim.
– Jimin – ela ficou paralisada no lugar, os olhos brilhando pelas lágrimas. – Eu sou sua mãe, meu amor. Por que está fazendo isso?
Jimin sugou o ar para os seus pulmões e apertou os dentes para não ceder ao choro.
– Você me abandonou, mãe.
– Não, eu jamais faria isso. – ela deu alguns passos para perto dele, mas Jimin recuou na mesma proporção. – Você não faz ideia do quanto eu te esperei. Passei muitas noites acordadas sonhando em te ver de novo.
– É mesmo? – seu humor estava ácido, mas não havia uma real intenção em agir assim. – Algo me diz que essas noites em claro eram porque você estava com medo de ser pega em flagrante.
– Filho, do que você está falando? – ela perguntou em surpresa. – Por favor, me deixe te abraçar. Eu preciso te sentir e ter certeza de que você está mesmo aqui.
Hyeri não aguardou uma resposta, ela simplesmente avançou para cima dele. Jimin não podia mais recuar, pois suas costas já haviam tocado a parede traseira. No entanto, antes que sua mãe tivesse a chance de abraçá-lo como gostaria, um corpo surgiu na frente dela e bloqueou sua investida. Era Jungkook.
– Sra. Park, por favor, afaste-se.
Ela o enfrentou nos olhos e parou, incrédula, sentindo-se ofendida pela interferência.
– Está dizendo que não posso abraçar o meu próprio filho, é isso?
– Só estou cumprindo aquilo que o seu filho me pediu. Então, novamente, afaste-se dele. – Hyeri cerrou a mandíbula e continuou imóvel. – Sra. Park, você está dentro de uma corporação federativa, posso prendê-la por desacato a autoridade.
– Patético. – ela murmurou.
Jungkook apreendeu a palavra, porém não deu ouvidos. Finalmente, Hyeri estendeu a distância entre eles quando deu alguns passos para trás, sem deixar de encará-lo, e então o viu retirar-se da frente de Jimin. Agora ela pôde ver claramente a expressão assustada e ao mesmo tempo aliviada no rosto de seu filho.
– Muito bem, agora me acompanhe até a cela. – determinou o detetive, arrancando um evidente olhar de choque do rosto da mulher.
– O quê?
– Me acompanhe até a cela. – ele repetiu. – Você está presa por colaborar com o sequestro de seu filho e receber dinheiro ilícito de uma ação criminosa em troca de seu sigilo. Terá direito a um advogado.
– Você não tem provas! – ela disparou, aflita. – Isso que está fazendo é uma calúnia.
– Encontramos dinheiro ilegal na sua conta e o autor da transferência era um corrupto de menores. Como explica isso?
Ela perdeu a fala com aquilo, como se as palavras tivessem sido dissolvidas em sua garganta. Portanto, Jungkook prosseguiu:
– Estou sendo gentil em te convidar para me acompanhar ao invés de algemá-la na frente dessas pessoas. Colabore e não terá que passar por isso.
Hyeri olhou para Jimin como se esperasse que ele fizesse alguma coisa contra aquela atitude de Jungkook, mas o menino não se moveu, nem disse nada. Sua mãe, portanto, limpou raivosamente as lágrimas dos olhos e disse:
– Você vai mesmo permitir que esse detetive de quinta fale assim com sua mãe? Eu não lhe criei a vida toda para você me agradecer assim, seu ingrato.
– O que está acontecendo aqui? – Seokjin interviu, não muito alto para não atrair olhares.
Hyeri ficou branca como papel quando olhou fixo para ele. Yoongi, alguns centímetros atrás de Seokjin, fez uma cara de quem estava sentindo o clima começando a pesar. Ele foi para perto de Hannah sem ninguém notar e falou algo próximo dela. No instante seguinte, a menina foi atrás dele em direção a outra sala, disposta a não participar daquela reunião familiar.
O coração de Jimin começou a bater com medo quando sua mãe deu um olhar assassino para Seokjin. O menino encolheu os ombros com aquilo e desejou correr para bem longe dela, mas suas pernas pesaram como chumbo. Seu pai, no entanto, não apresentou nenhuma mudança na compostura.
– O que está fazendo aqui? – Seokjin perguntou, soando gentil, mas sem humor.
– Vim buscar o meu filho. – o ênfase naquela simples palavra deu a Seokjin a certeza de tudo. – Saia do meu caminho. Eu preciso levá-lo para casa.
– O Jimin não vai a lugar algum com você. – ela enrugou a testa em descrença. – Ou melhor dizendo, o meu filho não vai sair daqui. Ele ficará comigo.
A primeira reação de Hyeri foi surpresa, a segunda caminhou para uma risada cansada. Ela ficou de frente para Seokjin, como se o desafiasse.
– Pare de blefar. O pai do Jimin se chama Christopher. Eu não tenho que lhe dar satisfações da minha vida. Venha, Jimin. Vamos embora.
– Já sabemos a verdade, Hyeri. – o corpo dela tencionou. – Agora eu sei o motivo de você ter me procurado naquela época. Você estava grávida, mas não quis me contar. Se casou com o Christopher de fachada e se envolveu com o Namjoon ainda casada.
– O que você tem a ver com isso?
– Tudo. – ela calou a boca. – Você me enganou, enganou meu filho e agora quer enganar a si mesma. Não adianta fingir, agora eu sei que o Jimin é meu filho.
Ela inclinou um pouco o queixo para cima, desafiando-o.
– Você não o criou como o Christopher fez, não deu amor a ele e nem gastou seu dinheiro para comprar as coisas que ele gosta. Fazer um filho é fácil, difícil é ser pai. – Hyeri o atacou com palavras. – Você não teria abandonado a porcaria do seu sonho para criar o filho de uma estranha. Eu sei disso. Você me escolheu por uma noite, não para a vida toda.
– Está enganada. Eu teria assumido o meu filho.
Hyeri riu.
– Você? Aquele adolescente imaturo que só pensava em sexo e curtição? Não seja tolo. Nós dois sabemos que você só está dizendo isso agora para amenizar a culpa que carrega, mas no fundo você sabe que naquela época sua decisão teria sido essa.
Ela não conseguiu ir além disso, pois Jungkook pigarreou para chamar a atenção deles.
– Não é hora e nem lugar para falar sobre isso. – ele disse para ambos. Mesmo vendo que eles ainda continuavam se encarando, Jungkook sabia que estava sendo escutado. – Seokjin, eu vou deixá-la numa cela até todo mundo ir embora. Depois você conversa com ela na sala de interrogatório. Por favor, Sra. Park, me acompanhe por gentileza.
– Ir com você para onde? Uma cela? Nem pensar. – Hyeri rebateu.
– Você não está me dando outra opção. – o detetive disse, observando aquele olhar estranho no rosto dela novamente. – Coloque as mãos atrás da cabeça e vire-se.
– Hyeri, isso não é um convite para participar de uma cerimônia de festas. Isso aqui é sério. Você está sendo presa. – Seokjin tentou ser o mais transparente possível. – O detetive Jungkook está te poupando de olhares estranhos, afinal, essas pessoas ainda não sabem que você estava ciente de tudo que aconteceu. E quando souberem, você vai ser linchada até não suportar mais.
Aquilo foi o estopim. A ficha dela realmente começou a cair e tudo o que ela fez foi olhar para o seu filho como se ele fosse um inseto nojento. Jimin sentiu o frio de um arrepio subir por sua espinha, e antes que alguém pudesse perceber seu desconforto, ele imediatamente abaixou a cabeça.
Se vendo rejeitada, Hyeri não esperou para ouvir mais uma palavra, ela simplesmente foi obrigada a andar adiante por Jungkook, que lhe indicou uma passagem no outro compartimento. As pessoas ao redor não perceberam a cena porque tudo ocorreu de forma muito discreta, mas para os envolvidos o clima ainda estava pesado.
Jimin estava olhando na direção que ela foi quando sentiu Seokjin se aproximando. Ele tentou não parecer envergonhado assim que encontrou os olhos de seu pai, mas sua tentativa falhou e ele corou.
– Você está bem? – Seokjin perguntou, quebrando o silêncio desconfortável. Jimin suspirou.
– Quem deixou ela entrar? – ele não tinha certeza se receberia uma resposta ao julgar pela cara que Seokjin fez.
– Não sei quem foi o responsável, mas tudo o que importa agora é que ela não pode te fazer mal.
O menino suspirou, ele não queria lidar com coisas envolvendo sua mãe. Ela o enganou, foi cúmplice de tudo, se envolveu com um chefe de tráfico e nem sequer lhe pediu perdão. Jimin não esperava explicações, ele esperava um pedido de desculpas, uma demonstração de arrependimento. Mas ele não o teve. O que significava dizer que ela nunca esteve arrependida e tudo aquilo não passou de um espetáculo.
Ele olhou ao redor e viu tantas pessoas se abraçando, pessoas dizendo 'eu te amo' para suas filhas, aproveitando cada segundo do tempo perdido como se fosse o último. Jimin observou que ali havia uma recepção honesta pela qual ele não tinha passado, e isso o deixou com um pouco de inveja.
– O que vai acontecer com elas? – perguntou Jimin.
– Elas vão para casa. Nós vamos disponibilizar o acompanhamento psicológico para vocês e garantir que fiquem bem longe da imprensa. – ele explicou. Jimin teve que admitir que essa última parte provavelmente não daria certo. – Aliás, Jimin, eu tenho que te perguntar uma coisa, mesmo que você ache essa ideia inusitada.
A expressão no rosto de Seokjin era de quem estava inclinado a contar um segredo. Jimin o olhou firmemente, sem constrangimento de se mostrar incerto. O que quer que Seokjin estivesse planejando dizer, ele passou um bom tempo procurando pelas palavras certas.
– Bem, talvez isso pareça estranho, mas eu estive pensando no seu futuro. – o menino apertou as sobrancelhas, meio embaraçoso, notando que Seokjin estava indo pelas beiradas para então mergulhar fundo na questão. – Não sei se você está pensando em voltar a morar na sua antiga casa, mas eu estou aberto a qualquer sugestão.
– Sugestão?
– É, digo, sobre morarmos juntos. – aquelas poucas palavras fizeram o sangue de Jimin correr mais rápido nas veias, o deixando paralisado. – Como vou receber a carta de afastamento muito em breve, agora vou ter mais tempo para aproveitar a vida, e, principalmente, sua companhia. Portanto eu adoraria que você aceitasse vir morar comigo.
O garoto engoliu. Jimin cresceu vendo Christopher como seu único pai. Estava acostumado a descrevê-lo assim, mesmo que não fosse de sangue. Nos últimos dias, no entanto, sua ficha começou a cair lentamente e às vezes ele se flagrava chamando Seokjin de pai.
– Eu gostei da sua proposta. – Jimin começou e então parou. Seokjin havia aberto um sorriso enorme com aquilo. – Mas ainda é cedo para isso. O senhor não acha?
O sorriso no rosto de Seokjin começou a diminuir até que de repente desapareceu.
– Cedo? – repetiu.
– Quero dizer, nós dois ainda não temos tanta proximidade para morarmos juntos. – explicou. – Mas eu quero muito te conhecer melhor, quero passar mais tempo com você, só que aos poucos, entende?
– Talvez ainda seja cedo para você, mas dezoito anos para mim foi uma eternidade. E esse é o tempo pelo qual eu tive que passar longe do meu filho. – disse Seokjin, apesar de não ter intenção de transformar aquilo em uma cobrança, supôs que para Jimin suas palavras soaram daquele jeito. – Mas eu entendo seu lado. Nós vamos fazer as coisas do seu jeitinho, sem precipitação ou cobrança.
– Está chateado comigo?
Seokjin sorriu e tocou-lhe os cabelos gentilmente.
– Não, não estou. – no momento que Seokjin disse aquilo, Jimin percebeu como pareceu estúpido por lhe perguntar aquilo. – Só estou preocupado com você. Onde pretende ficar?
– Não quero voltar a morar na minha casa. Odeio aquele lugar.
– Tem algum lugar em mente?
– Sim, a casa do Taehyung. Vou falar com ele depois. – Seokjin pensou que ele fosse dizer Christopher, mas havia se enganado. Jimin, pescando sua reação, prosseguiu justificando. – Eu falei com o meu pai e ele vai voltar para a Grécia semana que vem. Nós combinamos de nos ver pelo menos uma vez no mês. Não quero atrapalhar a vida dele com meus problemas, por isso insisti para que ele não desistisse da empresa.
– Ele concordou?
– Ele me disse que é uma ótima ideia. – contou. – O senhor acha que eu fiz uma boa escolha?
– Claro que sim. O Christopher é apaixonado por aquela empresa e agora ele pode ter os dois: você e a empresa. Isso é o mais importante para ele.
Jimin não tinha parado para pensar dessa forma, na verdade ele não parou para cogitar sobre muitas coisas. Tudo estava tão corrido ultimamente. Ele achou que após o fim da máfia tudo voltaria ao normal, que ao menos iria superar o cheiro do cativeiro, mas a realidade é que tudo o que viveu ficou enraizado em sua consciência.
– Parece que agora chegou a hora de sabermos o futuro do Jungkook. – disse Seokjin de repente, seu olhar estava para além dos ombros de Jimin.
O menino, confuso, portanto, olhou na mesma direção que ele e viu Jared chamando Jungkook para entrar em uma sala. O detetive havia acabado de retornar da ala das celas quando o inspetor solicitou seu nome. Ele não objetou, pois sabia que aquela conversa, não importava os seus meios e fins, teria que acontecer em algum momento.
Claro que Jimin ficou preocupado com aquela súbita reunião, afinal, Jared nunca escondeu a necessidade de punir Jungkook por tais desobediências. Entre elas, o relacionamento que ambos tinham. Apesar de ter sofrido muitos altos e baixos, principalmente quando o inspetor chegou no prédio, a relação dos dois continuou a mesma, pois eles sabiam que podiam contornar a situação atual, bastava apenas jogar com a cabeça.
E, bem, isso Jungkook sabia fazer perfeitamente.
Entre ficar de mãos atadas a correr o risco de pôr tudo a perder, Jimin achou melhor não se colocar na fogueira. Ele tinha consciência do perigo que seria se agisse com insensatez e acabasse tornando mais público a relação deles. Para ser mais exato, Jimin não gostaria que os outros diretores do FBI descobrissem sobre isso.
Portanto, ele deteve qualquer reação que o tornasse cúmplice das circunstâncias. Jungkook, desse modo, o encarou à distância, e com uma leve arqueada de sobrancelhas, ele desapareceu para o interior da sala. Uma náusea instalou-se no estômago de Jimin quando viu Jared fechar a porta em seguida.
No silêncio do cômodo, Jungkook encontrou um indivíduo diferente sentado na ponta da mesa. Ele estava dentro da sala de reuniões, na qual tinha entrado no primeiro dia de trabalho para discutir sobre o caso. A longa mesa estava composta por cadeiras vazias, o que sugeria que aquela reunião era propriamente para Jungkook.
– Olá, detetive Jungkook. – disse aquela voz rouca, meio enferrujada pela idade, mas gentil pela experiência. – Finalmente posso dizer que é um grande prazer conhecê-lo pessoalmente.
Ali, então, Jungkook teve certeza de que estava diante do presidente do FBI. Ele chegou a essa conclusão após observar sua vestimenta específica. Raramente os membros do Departamento tinham a chance de conversar com o presidente, na verdade os inspetores-chefes eram os responsáveis pela comunicação direta, nesse caso, Jared era o canal entre eles.
– Detetive Jungkook, este é o presidente Alfred Floyd, meu chefe. – Jared falou, como se para dar ênfase àquele detalhe. – Por favor, junte-se a nós.
Aquele convite não o deixou muito confortável, pois ele sabia o motivo de estar naquela sala com dois superiores. No entanto, se recusar a ouvir o que o presidente tinha para lhe dizer, mesmo que fossem elogios, seria o maior dos golpes baixos. Portanto, caminhou até eles e fisgou uma cadeira próxima.
– É um grande prazer conhecê-lo, Sr. Floyd. – disse Jungkook, lhe agarrando a mão em cumprimento.
Ele se tornou, inequivocamente, mais gentil após o conhecer, e nem era pelo simples fato de querer causar uma boa impressão, e sim porque Jungkook era um grande admirador de seus trabalhos. Ele já estava acostumado a ouvir, enquanto aluno, que Alfred conquistou muitos feitos para o FBI durante os seus trinta anos de carreira.
– O inspetor Jared me falou sobre você. – Alfred comentou, fazendo um gesto cúmplice para Jared. – Bem, primeiramente, eu gostaria de parabenizá-lo pela coragem. Você foi um ótimo agente em campo, desafiou as estatísticas, lutou contra a máfia e se colocou em risco para salvar vidas. Isso me enche de orgulho, detetive.
– Obrigado, senhor.
Jungkook olhou para ele com quantidades iguais de cautela e curiosidade, realmente consciente de que havia mais coisas para serem ditas. Alfred pigarreou, se ajustou na poltrona, e então disse:
– Você entrou a pouco tempo no Departamento, estou certo? – Jungkook confirmou com um aceno. – Você também leu o nosso protocolo, sim?
– Sim.
– Ótimo. – disse, um pouquinho entusiasmado demais. – Eu gostei muito de você, Jungkook. Quando eu soube que você faria parte da equipe, não pude deixar de comemorar. Acompanhei seu desempenho na academia, por isso sempre estive ansioso para lhe ver atuando em campo. – Alfred apertou os lábios com o que diria a seguir. – Mas você quebrou muitas regras da nossa política. As nossas atividades devem ser regidas pela disciplina e pelo respeito aos superiores, mas você foi desobediente em muitas situações.
– Eu estou ciente disso, Sr. Floyd. – ele disse com toda educação. – Sei que descumpri muitas regras do nosso protocolo, por isso estou aberto a qualquer punição que queira aplicar.
– Em casos como esse, eu poderia lhe dar um afastamento de um ano e meio pela quantidade de códigos que você descumpriu, mas não pretendo fazer isso. – do nada, o rosto de Jungkook ficou confuso, sobrancelhas levemente franzidas. – Você feriu nossa política em alguns momentos. Se envolver romanticamente com a vítima de um caso ainda em aberto é um deles. Bem, mas eu não estou aqui para colecionar seus erros, mas fazer com que você enxergue que nós só tivemos êxito por sua causa. Então, por essa razão, não vou manchar a sua imagem.
– Eu não vou ser punido?
– Meu jovem, muitos agentes novos cometem falhas no início da atuação. Nenhum de nós é tão bom ao ponto de conseguir seguir cegamente o protocolo. Nem mesmo aqueles da alta escala. – Alfred disse. – O que estou tentando dizer é que você descumpriu a lei por uma boa causa. Se não fosse por isso, a máfia certamente estaria ativa. No entanto, o meu trabalho exige que eu avalie as ações e não as intenções, por isso sou obrigado a lhe dar pelo menos um castigo.
Jungkook não achou que ele fosse olhar por esse lado. Alfred optou por considerar as intenções de Jungkook ao invés das atitudes, que apesar de erradas, surtiram efeitos positivos para o caso. No entanto, o seu papel como corretor da lei exigia que uma punição fosse dada. Se ele fosse imparcial em tal situação, muitos agentes poderiam agir da mesma forma e usar esta situação como um motivo.
– Você é um ótimo detetive, por isso não quero perdê-lo da equipe por muito tempo. – começou Alfred. – Portanto decidi te afastar por um mês. É um período curto, suficiente para você tirar um tempo para aprimorar suas habilidades. Está de acordo?
Jungkook sorriu.
– Claro que sim. Eu tinha pensado que seria um período de tempo maior, mas assim está ótimo. – aparentemente, Jared vinha tendo o mesmo pensamento que ele, uma vez que sua reação foi bem parecida com a de Jungkook.
– Outra coisa – Alfred prosseguiu. – Quando você retornar, quero que assine o nosso contrato. Você será o novo diretor-assistente do FBI. Jared me deu essa sugestão e eu realmente concordo que você tem o perfil ideal que estamos procurando.
– Seokjin será afastado do cargo por definitivo e nós estamos atrás de alguém para preencher o seu lugar. Há muitos nomes poderosos no nosso Departamento, mas nenhum deles se chama Jeon Jungkook. – foi Jared quem disse para a surpresa de Jungkook, deixando claro sua preferência.
Por muito tempo, Jared tinha sido uma pedra em seu sapato, que insistia em incomodar, mas agora estava lhe convidando para assumir um dos maiores cargos do FBI. Jungkook se flagrou o encarando em surpresa, realmente chocado por essa decisão ter partido dele. Jared, por outro lado, adotou uma expressão satisfeita.
A ideia de poder ser o novo diretor-assistente do FBI em menos de um ano de atuação lhe dizia que, apesar das desavenças, algo nele chamou a atenção de Jared. Ele finalmente estava começando a subir na hierarquia do Departamento.
– Bem, eu adoraria continuar conversando com você, detetive, mas preciso me retirar para receber as meninas. Ainda teremos muito tempo para conversarmos. – Alfred falou, deixando a poltrona em seguida. Jungkook se levantou ao mesmo tempo que ele. – Creio que esteja muito feliz com essa notícia. Todos nós estamos, aliás.
– Eu nem sei o que dizer, senhor. – falou Jungkook. – Muito obrigado por confiar no meu trabalho.
– Agradeça o inspetor Jared, foi ele quem abriu meus olhos em relação a você e me fez lhe enxergar como a melhor opção para o cargo de diretor-assistente.
Jungkook olhou para Jared e pegou um vislumbre de sua boca quase torcendo em um sorriso. Ele tinha um lado que era predatório, mas também um lado humano. Sua expressão era de quem estava orgulhoso consigo mesmo.
No fim, portanto, Alfred e Jungkook deram um aperto de mão, selando aquela promessa inicial. Em seguida, o homem precipitou-se para a esquerda, onde seguiu em direção a porta. Sozinhos, Jungkook olhou para o inspetor, encontrando a chance perfeita para lhe dizer algumas palavras. Jared, no entanto, permaneceu parado, com a mesa entre eles.
– Nós começamos de uma maneira errada, mas estou feliz que tenha enxergado algo em mim que não fosse a desobediência. – começou o detetive, deixando seu deboche habitual como fora de questão. – Quando o Seokjin me disse uma vez que me indicaria como o sucessor dele eu não levei a sério. Honestamente, nunca me vi na posição de diretor e agora posso dizer que subir de cargo é algo que todo agente sonha em conseguir.
– Que ironia, não? O cara pelo qual você passou o caso inteiro desconfiando, na verdade é o pai biológico daquele que você mais se dedica a proteger. – Jared comentou como uma mera observação. – Mas, apesar de todas as falhas, Seokjin sempre teve uma boa perspectiva. Ele não se enganou quando disse que você seria o sucessor dele.
– É uma honra para mim, Jared. – disse. – De verdade, eu prometo fazer o meu melhor. Minha equipe não vai lhe decepcionar e nem decepcionar os outros superiores.
– Tenho certeza que não. – ele sorriu. – Posso parecer implicante às vezes, mas estou apenas fazendo o meu trabalho. E o meu trabalho exige que eu seja coerente com as demandas do Departamento, nesse caso, encontrar um novo diretor requer que eu avalie as atividades dos agentes fora e dentro do campo. Então, seria incoerente da minha parte selecionar outro agente que não fosse você. Sua atuação nessa operação deixou, diga-se de passagem, uma impressão muito positiva, detetive.
Todos aqueles elogios vindos de Jared soavam estranhos aos ouvidos de Jungkook, mas concisamente verdadeiros. Seokjin não mentiu quando disse que ele sempre valorizou a posição de inspetor. Talvez Jared, pensou Jungkook, fosse o mais, senão o primeiro e único, a colocar a política do Departamento acima de todas as coisas, até mesmo de ele próprio.
No mais, seus comportamentos decisivos poderiam ser justificados a partir dessa perspectiva. Jungkook, enquanto futuro diretor-assistente, cumprirá com o protocolo, mas sem deixar de lado ideias que podem ajudar a resolver mais facilmente algum caso em questão.
Jungkook foi puxado dos pensamentos quando o som de seu celular tocando no bolso ecoou pela sala. Ele remexeu os bolsos em busca do aparelho até achá-lo. Uma mensagem de texto estava estampada na tela, a qual foi lida com muita atenção. Era um aviso de Christopher.
Ele tinha dado o seu número para Christopher como garantia de que ele não ficaria sem notícias de Jimin. Claro que o menino poderia se comunicar diretamente com ele através de uma ligação ou videoconferência, mas, segundo Christopher, haviam assuntos à parte que deveriam ser tratados apenas com Jungkook.
– Está tudo bem? – perguntou Jared, e logo o detetive se deu conta de que sua expressão pensativa estava muito na cara.
– Está. Está, sim. – assegurou. – Eu só preciso dar um recado ao Jimin.
Aparentemente, sua resposta transmitiu um outro significado. Isso explicaria o sorriso irônico que deslizou pelas margens da boca de Jared.
– Oh, claro. Fique à vontade. – falou o inspetor. – Eu preciso avisar a imprensa de que vamos dar um comunicado. Você poderia ser o nosso canal, não acha?
Jungkook arqueou as sobrancelhas.
– Quer que eu dê o comunicado? – Jared confirmou com um breve aceno. – O Seokjin foi o responsável pelo caso durante cinco anos. Ninguém melhor do que ele para fazer isso.
– Ele pode ter sido o mediador, mas você foi a alavanca. Portanto, quero você naquele microfone.
Jungkook não fez questão de recusar sua ordem. Ele somente deu de ombros e sorriu, como se não fosse nada demais aparecer para a imprensa. Já tinha feito isso outras vezes, a grande questão é que agora ele não se via como o melhor para passar o comunicado. No entanto, se Jared queria assim, ele o daria.
– Certo, em poucos minutos eu vou estar lá. – Jungkook garantiu por fim, interrompendo a linha de visão que tinha de Jared para olhar para a porta. – Preciso ir agora.
– Tranquilo. Vá.
De repente, Jungkook se encontrou contornando a mesa para sair, ciente do olhar do inspetor para suas costas. Quando alcançou a maçaneta e se pôs para fora, ele observou que a maioria das pessoas já tinham saído, exceto por alguns estagiários perambulando para dentro de algumas salas.
Jimin e Hannah estavam sentados em um largo sofá. Yoongi e Seokmin conversavam entre si enquanto Seokjin andava de um lado a outro com as mãos nos bolsos. Com a súbita aparição de Jungkook, alguns pares de olhos caíram sobre ele. O detetive andou até Jimin e ele se levantou em reflexo. Ao julgar pela cara de Jungkook, o menino deduziu que ele trazia más notícias.
Esse pensamento fez o seu estômago experimentar uma sensação ruim.
– Aconteceu alguma coisa? – Jimin perguntou, falhando em manter a voz livre de nervosismo. – O Jared disse algo? O que ele fez?
– Está tudo bem entre nós dois. Depois te dou mais detalhes sobre nossa conversa. – Jimin estava certo de que ele queria lhe dizer outra coisa, mas não sabia por onde começar. – O Christopher me mandou uma mensagem. Ele disse que o Taehyung não pode vir.
Houve um instante de confusão por parte de Jimin, que tentou pensar em um porquê para tudo aquilo.
– Ele disse o motivo? – perguntou.
– Não. Ele só disse que eu deveria te levar para casa. A casa dele, na verdade.
– Quem é Taehyung? – foi Hannah quem quis saber.
Através da cortina de confusão em sua cabeça, Jimin respondeu:
– Ele é o nosso amigo. – ele disse, em seguida voltou-se para Jungkook. – Aconteceu alguma coisa com o Tae? Por favor, me fala.
– Seu pai teria me dito se tivesse acontecido algo grave. – Jimin se aliviou um pouco, embora ainda estivesse confuso. – Me espere aqui, ok? Vou dar um comunicado à imprensa e então te levo para casa. Será rápido.
– O que está acontecendo? – Seokjin se juntou a eles. Suas sobrancelhas estavam levemente suspensas.
– Christopher não poderá vir com o Taehyung. Eu vou levar o Jimin para casa. – explicou brevemente.
– Não, deixe comigo. Eu o levo para casa.
Jungkook se virou para ele, encarando-o. Ele notou que a voz de Seokjin tinha sido abrupta, porém não rude. Parecia uma voz de negócios.
– Por que eu não posso levá-lo? – Jungkook indagou.
– Você está muito atarefado. E, além do mais, estou curioso para conhecer a casa do meu filho.
Jimin bateu a mão na testa, como se soubesse que aquela discussão não os levariam a lugar algum. Hannah, por outro lado, deu uma risadinha discreta.
– Não seria mais prático os dois levarem o Jimin para casa? – uma voz feminina emergiu por trás deles. Era Layla. Ela parou ao lado de Jimin e o tocou nos ombros. – Você está encrencado com esses dois caras no seu pé, baixinho.
– Como sempre, uma mulher pensando mais do que os homens. – Yoongi comentou à distância.
– Você também é um homem, querido. – Seokmin adicionou em cima de seu comentário.
– Estou me incluindo nessa também. – concluiu Yoongi em suma.
– Bem, já que estou certa, podemos ir logo falar com a imprensa? Depois vocês brigam para ver em qual carro vão levar o baixinho.
– Concordo. – apoiou Yoongi, aproximando-se deles. – Aliás, posso ir com vocês? Não que isso signifique nada, mas também estou curioso para conhecer a casa do Jimin. O Christopher tem pinta de ricaço, deve ser uma baita mansão.
Jungkook olhou para ele como se soubesse exatamente o motivo por trás de seu pedido. Seokjin também. Jimin, Hannah e demais, no entanto, se mostraram embaraçosos. O menino sabia do interesse de Taehyung por Yoongi, mas não tinha certeza se alguma coisa rolou entre eles. Seokmin apenas os encarou de modo calculista, sem dizer nada.
– Opa, onde vocês vão? – Ric surgiu do nada, um sorriso enorme estava estampado em seu rosto. Yoongi revirou os olhos.
– Quem chamou esse intrometido? – ele disse, mas não de forma audível.
– Impressão minha ou vocês estão trocando farpas? – Layla perguntou.
– Pergunte ao Ric. – Yoongi disse e então Layla se virou para Ric com as sobrancelhas arqueadas. O agente mais novo deu de ombros, se mostrando completamente confuso.
– Ok, isso pode ficar para mais tarde. – Jungkook cortou imediatamente aquela conversa cheia de alfinetadas, olhando de relance para Jimin e então para Yoongi. – Jared já deve estar me esperando para o pronunciamento. Você vem comigo?
– Claro.
– Seokjin? – Jungkook o chamou em seguida e o viu balançar a cabeça em confirmação. – Ótimo, vamos adiantar. Temos muito o que fazer.
Antes de se virarem, Jungkook encarou Jimin novamente, que sorriu em sua direção como forma de confirmar que ficaria bem. Layla fez um gesto para o trio se apressar e então indicou uma máquina de comida bem ao lado do elevador. Jimin e Hannah acenaram para ela, sem requisitar os pedidos, e, em silêncio, a mulher caminhou até a máquina. Seokmin aprovou a ideia e então a seguiu.
Mais adiante, Jungkook, Yoongi e Seokjin andavam para o salão principal. Jungkook sabia que Layla era uma boa companhia, tanto de negócios quanto de farra, portanto Jimin e Hannah não poderiam estar em melhores mãos. Alguns minutos mais tarde, eles já estavam chegando na porta principal do edifício. Com certeza Jared não estaria lá, mas ele certamente informou a imprensa sobre o anúncio.
À distância, era possível visualizar um grupo de repórteres na fachada principal. Havia pessoas com vestimentas pretas que seguravam câmeras e microfones e estavam posicionadas em uma longitude apropriada para jornalistas. Acima de uma plataforma tablada com degraus, havia um móvel com um microfone embutido.
Uma espécie de cerca humana, formada por policiais do FBI, estava à frente dos repórteres para evitar qualquer invasão súbita. A porta dupla de vidro foi aberta por dois seguranças quando os agentes se aproximaram. Com Jungkook no centro, os três caminharam em direção ao palanque, notando que a equipe de jornalistas começou a se organizar para a filmagem.
Jungkook parou atrás do móvel. Seokjin e Yoongi ficaram ao seu lado, cada um em uma lateral oposta. Flashes foram disparados contra o rosto deles. Por um capricho, Jungkook decidiu aguardar que o silêncio se instalasse para poder falar. Ele estava um pouco nervoso, afinal. Ainda estava meio incerto quanto as palavras certas, mas ele se permitiria usá-las da maneira mais natural possível.
Alguns segundos se passaram antes que o detetive finalmente pudesse abrir a boca. Percebendo, então, que eles aguardavam o seu pronunciamento, Jungkook lhes disse:
– Bom dia a todos os cidadãos de Washington. – começou. – Estamos ao vivo para todo o Estado prestes a fazer um pronunciamento importante. A cinco anos atrás, uma organização criminosa iniciou uma série de crimes contra crianças e adolescentes. Seus métodos envolviam contratos falsos, tortura, assédio, estupro, abusos sexuais, tráfico e prostituição. O FBI se dedicou arduamente a interromper esse comércio clandestino, mas os criminosos encontraram outras formas de prosseguir com o contrabando de pessoas. Hoje, portanto, tenho a honra de anunciar para todo o país que essa máfia foi derrotada. Prendemos os responsáveis pela ação, alguns foram mortos durante o confronto direto com o FBI, outros conseguiram escapar, mas já estão sendo caçados por todos os Departamentos de polícia do continente.
"Quero fazer desse pronunciamento uma homenagem a todas as vítimas de tráfico humano, especialmente aquelas que perderam a vida em busca de sua liberdade. Pais e mães, irmãos e irmãs e qualquer outro familiar que conheça uma das vítimas, deixo aqui a minha sincera compaixão. Lamento, em nome do FBI, pela tragédia que aconteceu na vida de seus filhos".
"Alguns se foram, mas seus rostos vão estar em nossas memórias para o resto de nossas vidas. É triste vir a público trazer uma notícia boa e ao mesmo tempo dolorosa. Enquanto alguns comemoram pela chegada de seus filhos, outros choram em silêncio pela perda dos seus. A vida é realmente uma caixinha de surpresas. Por isso ame, chore, se declare, grite, coloque os sentimentos para fora antes que seja tarde demais. Onde quer que seus filhos estejam agora, eles sabem que vocês o amam".
Dito aquilo, Jungkook largou o microfone e notou, pela primeira vez desde que pegou o caso, que o sol começou a aparecer em Washington. Alguns raios solares tocaram seu rosto, o fazendo piscar um par de vezes. Ele pôs a mão na frente do rosto e sorriu um pouquinho na direção do sol, sentindo-se mais leve após as suas palavras de conforto.
E, enfim, uma nova história estava começando.
CONTINUA...
✮✮✮
Olá meus amores, tudo bem? Gostaria de dizer que o último capítulo de dangerous foi dividido em duas partes, a segunda, muito provavelmente, sairá na semana seguinte ou na próxima, depende do meu tempinho. Mas enfim...
Não vou comentar muito nesse capítulo, vou deixar pra falar um pouco mais na 2ª parte que, enfim, será a última da primeira temporada. Espero que tenham gostado do capítulo e aguardo vocês em breve.
Obs: a 2ª parte está ficando uma delícia rs
Beijinhos e se cuidem!
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