⍟ sixteen
Com os olhos ainda fechados, Jimin ouviu um coro de vozes conversando fora do quarto enquanto sentia o próprio coração esmagar o peito com agressividade. O nervosismo que sentia não era igual aos outros, dessa vez existia uma doentia sensação de pânico com alívio.
Ele tentou controlar sua respiração para não deixar evidente que estava consciente o bastante ao ponto de escutar a conversa por trás daquela porta. Seu corpo estava largado sobre uma cama desconhecida, a qual ele supôs que fazia parte de alguma divisão daquele salão de festas.
Lembrou-se daquela voz e daquele cheiro extasiado penetrando suas narinas, deixando pistas de sua essência. Relembrou-se daquela promessa, a afirmação de que voltaria para lhe buscar. Seus pensamentos pareciam estar desorganizados o bastante para deixá-lo confuso sobre o que pensar a respeito daquela situação.
Seu corpo ardia como brasa quente, mas ele não soube dizer se era por consequência das marcas das chicotadas ou pela lembrança auditiva do som profundo das pegadas daquele desconhecido se distanciando cada vez mais. Jimin desejou ter visto seu rosto, pelo menos visto um único traço seu fora das sombras, mesmo sabendo que não seria capaz de reconhecê-lo novamente, a não ser pelo som de sua voz.
Havia armazenado aquelas notas cuidadosas e o sotaque forte que ele possuía ao pronunciar seu nome, o suficiente para fazê-lo fantasiar todas as formas de reencontrá-lo, apesar de cogitar que as possibilidades eram improváveis e as chances de identificá-lo sob aqueles rostos nunca seriam altas.
O medo insaciável de ter entregado sua esperança a um estranho, correndo risco de gerar resultados drásticos para si mesmo, fazia o seu estômago embrulhar de inquietação, ainda mais quando uma linha racional flutuava por sua mente lhe acusando de ter caído novamente na armadilha de Derek.
Jimin foi arremessado para fora de suas próprias lembranças quando ouviu a porta rangendo aberta. Derek entrou no cômodo com mais alguém. O menino escutou o barulho duradouro de seus sapatos fincando o chão e sentiu um lado do colchão afundando com o peso de Derek, que caminhou as costas da mão pelo rosto dele.
— Jimin, abra os olhos. — ele pediu, sua voz ecoou tão baixa quanto um sussurro. — Não me deixe preocupado.
Quando não conseguiu uma resposta daquele que procurava, Derek levantou os olhos para Eric.
— Tem certeza que não o machucaram?
— Não sei lhe dizer, senhor. Ele estava desacordado quando cheguei.
— E sobre as pegadas que ouviu? — ele perguntou.
— Pedi para que um dos nossos homens verificasse. Ele disse que não encontrou nada. — apesar de estar com os olhos fechados, Jimin podia visualizar Eric controlando os músculos do rosto para não transparecer sua culpa.
— Como isso é possível? Não há saídas por lá. — Jimin estremeceu por dentro. Ele subitamente sentiu o colchão ao seu lado ficando livre do corpo alheio. — Você olhou os fundos do armazém?
— Não havia ninguém nos fundos, senhor.
— Você está me dizendo que quem quer que esteve lá fugiu? — Derek perguntou, retoricamente. — Você é tão inútil quanto esses homens.
Jimin esforçou-se para esconder suas mãos suadas e tremidas debaixo dos lençóis. E, então, naquele momento, bastou uma ordem de Derek para o seu coração se descontrolar abruptamente.
— Traga o notebook com as imagens das câmeras.
Não bastou dizer mais nada além daquilo, sua ordem já esclareceu tudo: Jimin estava encrencado.
Muito ligeiramente, seus olhos se abriram de supetão. Derek girou o olhar na direção dele, o vendo se remexer na cama para ficar sentado. Com isso, Derek dirigiu-se a ele rapidamente, percebendo que sua expressão estava desnorteada.
— Shh, eu sei que está assustado, mas tente ficar tranquilo. Está tudo bem agora. — disse Derek, segurando seu rosto com cuidado. Jimin o encarou com medo.
No entanto, a verdade era que seu súbito despertar se deu por causa da palavra câmeras. Jimin sabia que se Derek descobrisse que ele havia mentido, seu castigo seria ainda pior do que o anterior.
Parte do garoto preocupou-se com essa possibilidade, mas algo ruim dilacerou ainda mais seu coração. Ele pensou na possibilidade daquele homem ter sido parte de outro jogo de Derek como Eric havia sido. Não queria cogitar essas possíveis chances, o que significava dizer que ele devia confiar na palavra de um estranho ou seu pescoço seria arrancado.
A dor de estar errado quanto a sua confiança o fizera voltar para a realidade. Ele imediatamente se viu dentro daquele quarto claro, com um par de olhos severos a sua frente.
— O que aconteceu com você? — Derek deixou a voz mais grave e grossa como se quisesse intimidá-lo. Uma mistura de preocupação e raiva inflamou os olhos dele.
— Não me lembro direito. — a sua resposta veio em um murmúrio.
— Eric disse que ouviu pegadas de outra pessoa antes de te encontrar. Havia alguém com você?
— Eu não o vi.
Ele não mentiu.
— Espera mesmo que eu acredite nisso? — o garoto olhou com mais atenção nos olhos dele, vendo toda raiva se acumulando naquelas órbitas escuras. — Do que se lembra?
Jimin não sabia o que responder. E se ele sustentasse aquela mentira sabendo que Derek já tinha consciência dela como parte de seu plano? Ou, talvez, contasse a verdade e acabasse não só afetando a si mesmo, como também o desconhecido que conhecera?
Derek havia lhe avisado com todas as letras que se ele contasse alguma mentira, Jimin sofreria como nunca. O menino se sentia dividido entre uma invisível linha do que é certo e errado.
Mas, afinal, qual parte ele deveria contar?
"Deite no chão e finja que está desmaiado. Se eles te perguntarem o que houve, você diz que te ofereceram uma bebida e acabou acordando nesse lugar".
Aquela voz mais uma vez perfurou sua mente, tão distintamente que o fez ter a sensação de que ele estava mesmo naquele quarto.
— Estou falando com você, Park. — a voz de Derek o atingiu como um soco no estômago.
— Me ofereceram uma bebida quando você saiu. — ele começou a falar com os olhos abaixados. Mentir descaradamente na cara de alguém nunca foi o seu ponto forte, mesmo sendo para salvar a própria pele. — Eu não sabia se deveria beber, mas eu estava com muita sede.
— Quem te ofereceu a bebida?
— Não vi o rosto dele, só mandaram me entregar.
— E como você foi parar naquele maldito armazém? — ele rangeu os dentes, fazendo o menino se encolher pela falta de respostas.
Com o seu silêncio, Derek usou o indicador para levantar o queixo dele.
— Responda quando eu fizer uma pergunta, Park. — seu tom foi relativo, mas a ameaça por trás daquelas palavras estava evidente.
Jimin não disse nada por um momento, apenas balançou a cabeça em concordância.
— Eu comecei a ficar tonto, então procurei um lugar longe daquelas pessoas. Eu entrei no armazém porque pensei que era um lugar com ar fresco, mas antes de perceber isso eu desmaiei.
A maneira como Derek o enfrentou nos olhos depois de sua confissão, como se estivesse assimilando palavra por palavra, o deixou apavorado por dentro. Ele revelou um sorriso traiçoeiro e sem fragmentos de cautela, o fazendo estremecer por dentro.
— Eu tenho cara de idiota, Jimin? — aquela pergunta foi tão direta que Jimin supôs que ele sabia daquela farsa, e, por um instante, pensou que pudesse ter caído pela segunda vez naquele jogo.
Quando Eric abriu a porta do quarto e a fechou rapidamente, Jimin pôde soltar o fôlego devagar, principalmente quando Derek se afastou.
— Eu trouxe o notebook. — ele informou enquanto apoiava o aparelho sobre um suporte de madeira.
Derek se aproximou dele, seus olhos estavam inquietos. Havia dois homens servindo de segurança na porta, olhando para um ponto fixo na parede. O garoto correu seus olhos por Eric e Derek, realmente nervoso com o que eles poderiam encontrar naquelas imagens.
— Vamos saber agora se está falando a verdade. — Derek disse, olhando-o por cima do ombro. — Se não estiver, eu não vou ter pena de cuidar de você mais uma vez.
Jimin se remexeu na cama, inclinado a enxergar alguma coisa além das costas deles. Sentiu o próprio corpo fraquejar no momento que as primeiras imagens reluziam no monitor, revelando cenas da festa momentos antes. Ele sentiu-se doente de repente.
Estava em transe e com os pelos de seu corpo eriçados em sintoma do que poderia vir a seguir. Ele tentou engolir a saliva, mas a sua garganta estava tão seca que nada era capaz de atravessar. Uma sensação esmagadora o sufocou, o deixando sem ar e com os pensamentos bagunçados.
Derek estava com os braços cruzados contra o peito quando de repente suas sobrancelhas se curvaram para cima.
— O que houve? — ele perguntou para Eric, fazendo Jimin esticar o pescoço para entender o que ele estava se referindo.
— Não sei o que aconteceu. — Eric respondeu enquanto observava mais de perto a tela escura. — Parece que o vídeo foi cortado, senhor.
Um suspiro de alívio escapou dos lábios de Jimin enquanto ele os espionava eufóricos, tentando a todo custo repetir o vídeo para ter certeza do erro que ocorreu. Derek passou a mão no rosto, sem saber o que pensar.
— O que aconteceu, seu estúpido?! — ele intensificou o seu tom de voz, começando a demonstrar sua ira.
— Alguém cortou as imagens das câmeras de segurança, senhor.
— Quem foi o desgraçado?!
Instintivamente, Derek virou a cabeça na direção de Jimin, o vendo encolher os ombros quando tropeçou o olhar em seus lumes enraivecidos.
Após deslizar os olhos para o pescoço do garoto, sua fúria foi substituída por algo ainda mais intransigente.
— O filho da mãe roubou o colar. — ele disse em conclusão. — Aquele colar custou muita grana.
— Podemos falar com o Namjoon sobre isso. — Eric sugeriu.
— Ficou maluco? Se ele souber que eu estou gastando dinheiro com presentinhos, a minha cabeça será cortada e a sua também.
Naquele instante, quando aquela voz se manifestou na mente de Jimin mais uma vez, como um raio revivendo todas as palavras ditas por ele de que se certificaria sobre as imagens das câmeras, ele sentiu, pela primeira vez, o seu corpo atenuando.
Ele cumpriu a sua promessa, pensou.
— Precisamos descobrir como esse desgraçado teve acesso ao nosso sistema de segurança. — Derek disse enquanto caminhava de um lado para outro, arremessando Jimin para longe das lembranças. — Eu chequei tudo. É praticamente impossível rastrear o código do sistema se não tiver a minha digital.
— Não se ele for policial. — Eric supôs.
Jimin se retraiu ao ouvir aquela palavra mágica. Policial.
— Nós verificamos cada nome naquela lista, conhecemos cada um que foi convidado. — ele disse, suspirando. — Mas isso não importa agora. Tranque todas as saídas, ninguém sai até pegarmos o desgraçado.
Jimin viu Eric dar meia volta e sair pela porta do quarto, deixando Derek, em sua típica postura dominante, para trás. Ele girou de frente para Jimin, seus olhos estavam mais pretos que antes.
— Sabia disso, Park?
O menino tentou controlar o nervosismo em seu rosto e disse:
— Se eu soubesse, não estaria aqui.
Derek não disse nada, nem mesmo um suspiro aborrecido perambulou para fora de seus lábios. Ele estava inexpressivo e aquilo de fato assustava Jimin que, por um momento, lutou para manter o semblante do mesmo jeito.
— Fique aqui. Vou preparar o carro para te levar de volta à boate. — o garoto arregalou os olhos instantaneamente.
— E o cara? Você vai atrás dele?
— Isso é da minha conta. Eu cuido disso.
Jimin sabia bem como ele cuidava das coisas.
— O que você vai fazer? — perguntou o menino.
— Ninguém rouba o que é meu. — uma nota cínica vagou de seus lábios.
E foi então que o coração de Jimin se aniquilou por dentro, principalmente quando o viu se distanciar para fora do quarto. Ele escutou o ruído da chave se mexendo dentro da fechadura e muito ligeiramente seus joelhos desabaram no chão. As lágrimas insistentes se espalharam ao longo de seu rosto quando ele parou para pensar na possibilidade de Derek o encontrar.
A sua única salvação podia estar naquela festa nesse momento, sendo caçada sem chances de fugir. Ele havia cumprido a promessa de apagar as imagens das câmeras, mas em momento nenhum prometeu à Jimin que iria embora para não correr risco de ser achado.
E se ele fosse encontrado? Como Derek o acharia já que não possuía nada além de uma tela preta? Nem Jimin havia visto o rosto dele sob a claridade, então como Derek saberia onde achá-lo?
Querendo ou não, isso estava perfurando a sua mente incessantemente, deixando os seus pensamentos mal resolvidos e conflituosos.
A única certeza que Jimin tinha era de que ele estava com o seu colar e Derek se tornava ainda mais perverso quando estava com raiva. Àquela altura do campeonato, Jimin podia visualizar os olhos de Derek emitindo uma fúria nunca igual, capaz de perfurar qualquer coisa que surgisse em seu caminho.
✮✮✮
— O que houve? — foi a primeira coisa que Rose perguntou quando se deparou com aquelas duas figuras paradas na porta.
Jungkook cortou caminho em direção a cozinha sem revelar qualquer interesse em respondê-la. A mulher encarou Yoongi como se ele pudesse ter as respostas que ela procurava. Ele, assim como Jungkook, tinha uma expressão indisposta no rosto.
Ele se jogou no sofá e apoiou a cabeça no espaldar, sentindo-se exausto.
— Yoongi, eu estou falando com você. O que houve? — Rose voltou a perguntar, meio suspeita.
— Encontramos eles. — ela enrugou a testa, sem entender se aquilo deveria ser uma notícia boa ou ruim. — E Jungkook conversou com uma das vítimas. Park Jimin.
Rose arregalou os olhos e juntou-se a Yoongi no sofá antes de dizer alguma coisa.
— Está me dizendo que vocês encontraram a máfia? – ele não precisou responder, seu olhar lhe dizia que a resposta era sim. — Meu Deus! Vocês conseguiram alguma coisa, alguma localização?
— Nada. Por isso o Jungkook está puto. — ele disse. — Depois de conversar com o menino, ele me disse que era para saímos de lá urgente porque viriam atrás de nós. E, bom, estamos aqui, não é?
Ela roçou os dedos no vestido, refletindo sobre o assunto.
— Não estou entendendo nada. — ela protestou com uma careta de confusão.
— Ligue para o Seokjin, nós precisamos conversar com ele.
— Não, eu quero saber o que exatamente está acontecendo.
Yoongi suspirou.
— Nós conseguimos entrar no desfile e tudo naquele lugar era estranho. Eles estavam vendendo as meninas, você acredita? — Rose pareceu perplexa.
— Tipo um leilão?
— Tipo um leilão. — confirmou. — Não tínhamos certeza se eram eles até o Jungkook reconhecer o Jimin.
— Ele fez alguma coisa?
— Você conhece o Jungkook o bastante para saber que ele não fica quieto. Ele foi atrás do garoto. Acredito que tenham conversado muito, mas durante todo o nosso caminho de volta para o prédio, o Jungkook não me disse nada, nem sequer uma palavra.
— Vocês viram os rostos dos responsáveis?
— Suspeitamos de alguns, mas não temos certeza ainda. Precisamos checar com mais cautela. — Rose assentiu, ainda parecendo perdida nos próprios pensamentos.
Depois de um momento, ela disse:
— Yoongi. — ela olhou para ele. — Tem como você ligar para o Seokjin?
Ele não disfarçou a confusão em seu olhar após aquele pedido.
— O que vai fazer?
— Vou falar com o Jungkook. Faça isso por mim. — ela finalmente deixou o sofá. — Ah, e diga a ele para convocar um interrogatório com a mãe de Park Jimin. Jungkook disse que ela parecia suspeita, então eu mesma quero interrogá-la.
— Por quê?
— Ela é a mãe de uma das vítimas. Disse que estava na casa de uma amiga quando isso aconteceu, só que o álibi nunca confirmou isso. Sem contar que ela desacatou a ordem de um dos nossos detetives por sondar o quarto do filho dela com um mandado em mãos. Você quer mais?
Yoongi balançou a cabeça para os lados e levantou as mãos ao nível dos ombros. Rose sorriu, satisfeita, e então virou-se na direção da cozinha. O ruído de seus saltos foi reduzindo à medida que ela penetrou lentamente a cozinha. De imediato, Rose alcançou a imagem daquele que a fez sentir uma pontada dolorosa no peito.
Jungkook estava apoiado na pia, quase sentado, segurando uma xícara de café em uma das mãos. Sua atenção estava imóvel em um ponto distante, sem piscar.
Não precisou de muito esforço para entender que seu corpo estava estático ali, mas sua mente vagava em círculos em outro lugar. Ela deu um passo cauteloso para perto dele, provocando um rangido no assoalho, mas isso não o despertou.
— Jungkook? — ela murmurou, sentindo um bolo de saliva atravessar sua garganta com dificuldade.
Ela o chamou outra vez, sem receber os olhos dele em sua direção, até que finalmente aproximou-se devagar e alcançou seu ombro com uma das mãos, atraindo os olhos dele de encontro aos seus.
— Está tudo bem? — ele pareceu demorar alguns segundos para absorver a pergunta, logo confirmou com um balançar de cabeça. — Yoongi me contou o que aconteceu. Quer me contar o que conversou com o menino?
— Eu falhei. — foi tudo o que ele disse a princípio. — Ele me pediu ajuda e eu falhei.
— Ele te pediu ajuda?
— Ele não confiou em mim no começo, mas quando ele o fez, praticamente me implorou para que eu o tirasse de lá. Mas eu não podia. — sua voz morreu e uma última lembrança o fez voltar com impulso. — Não pude fazer isso depois de ver tantos seguranças do lado de fora.
— Não é sua culpa. Não tínhamos armado uma estratégia para essa situação. — seu corpo rastejou lentamente para perto dele, ficando com o tronco quase grudado na lateral de seu braço.
— É, talvez, mas não é isso que fazemos. Eu devia ter pensado em um plano melhor. — ele lamentou-se outra vez, sentindo sua nuca sendo roçada pelas longas unhas dela. — Se eu tivesse chamado reforço, isso não teria acontecido.
— Você sabe que isso teria sido um tremendo erro. O único lugar que devemos invadir com precisão é a boate. É lá onde todos os outros estão.
— Talvez você esteja certa, mas eu queria ter ajudado ele de qualquer forma.
— Ele não conseguiu dizer nada que te ajude a descobrir onde a boate está? — Rose perguntou enquanto continuava mexendo os dedos com devoção nos fios do cabelo dele.
— Ele estava apavorado, não conseguiu dizer muita coisa. Eu não podia pressioná-lo naquela situação. — a mulher gesticulou lentamente a cabeça, recebendo aqueles olhos escuros em sua direção.
Seu corpo travou quando se esbarrou naquele olhar, finalmente percebendo que estava tão perto dele sem ser recebida com pedras na mão.
— É por isso que está tão calado? — ela lhe mostrou seu sorriso, esperando ser retribuída.
Jungkook suspirou. Ele sempre preservou o cuidado em seus casos, mas aquele o parecia consumir inteiramente. Não tinha respostas definidas, era somente uma bola gigante com um vazio no centro.
Tudo o que tinha eram peças de quebra cabeça que pareciam não se encaixar. Estavam espalhadas por aí e ele as caçava euforicamente, tentando encontrar uma forma inteligente de montá-las. E era isso que mais o incomodava.
Quando encontrou aquele garoto, sua primeira intenção foi fazer uma série de perguntas para obter uma resposta. No entanto, suas investidas foram falhas. Ele precisou ser cauteloso para não o pressionar a se recordar de algo.
Gostaria de ter tido mais tempo para conversar com Jimin e ganhar sua confiança, mas ao vê-lo naquela cadeira, com o braço daquele homem o envolvendo pelas costas, Jungkook entendeu o receio dele quando se esbarraram no armazém.
Ele sabia que Jimin estava sendo molestado constantemente, assim como todos os outros adolescentes, por isso não achou correto insistir para que ele se lembrasse das coisas ao seu redor, inclusive da violência.
— Pare de pensar nisso. — a voz de Rose penetrou sua audição, tão próxima que parecia que ela estava dentro de sua cabeça. — Está preocupado porque não ajudou o menino?
— Estou preocupado por ter ido até lá sem trazer uma resposta.
Rose suspirou e então o virou de frente para ela.
— Você encontrou a máfia, Jeon. Quer alguma coisa melhor que isso?
— Encontrar a máfia não chega nem perto de tirar aqueles adolescentes de lá. — sua resposta foi curta e fria. — O que isso mudou, afinal? Encontrei os responsáveis, ou pelo menos suponho que encontrei, mas esses jovens continuam presos em um lugar que nem sequer sabemos.
Um pequeno sobressalto dominou Rose quando ela notou a indiferença naquelas palavras.
— Você não precisa se sobrecarregar com isso. Vamos falar com o Seokjin, ele vai mandar uma equipe reforçada para nos ajudar na busca. — ela transportou sua mão novamente ao ombro dele, deixando rastros de afago sobre o terno. — Você os achou, Jungkook. Ninguém em cinco anos conseguiu isso, então saiba que esse mérito é seu.
— Vou ter esse mérito quando acabar com cada um deles.
— Já estava sentindo falta do detetive Jeon. — ela brincou, soltando uma risadinha fina enquanto se aproximava mais dele.
— Ele me entregou isso. — Jungkook retirou um pequeno saco do bolso interno do casaco, revelando um colar de diamantes. — Recolha todas as digitais nesse colar e confira de qual joalheria foi comprado.
— Vamos interrogar o vendedor e reunir os dados de compras?
— Isso. Assim teremos uma prova de que Derek Meyer comprou o colar. Seu DNA vai estar na joia junto com o DNA do garoto, o que comprova que ele é suspeito de estar com Jimin.
Rose agarrou o saco de evidência, realmente impressionada, então o encarou.
Jungkook enrijeceu o maxilar quando ela se aproximou um pouco mais, finalmente juntando seus corpos. Eles estavam tão grudados que nem uma nesga de ar era capaz de atravessar entre eles. Um pequeno desequilíbrio a fez tropeçar na própria respiração quando Jungkook não recusou sua proximidade.
— Estou impressionada com você, Jungkook.
— Acho que foi exatamente por isso que treinei. — ela sentiu o hálito dele habitando suas narinas, deixando-a com mais sede de prová-lo.
Suas mãos foram derrapando para cima até que seus braços o envolveram pelo pescoço, dando permissão aos seus lábios para que caminhassem em direção aos dele. A respiração dolorosamente calma de Jungkook a fez suspirar de excitação. Ela fitou intensamente aquele par de olhos irrecusáveis antes de escorregar a visão para aquela boca úmida que a chamava para mais perto
— Não tente isso, Rose. — ele disse em um tom suave, mas seu aviso caiu em orelhas surdas.
— Eu quero te beijar, Jungkook.
— Pare.
Com um impulso, Rose se inclinou para frente com a intenção de beijá-lo pela primeira vez, mas Jungkook virou o rosto para o lado contrário, deixando que ela colasse os lábios em sua bochecha. A mulher recuou a cabeça, enxergando o maxilar dele se enrijecendo ligeiramente.
— Afaste-se de mim, detetive. — dessa vez ele ordenou, sua voz estava mais séria do que antes. — Não faça isso de novo.
— Me desculpe, achei que você quisesse.
Ela finalmente se afastou dele com dois passos para trás.
— Não confunda as coisas, Rose. Nossa relação não passa de negócios.
— Trabalhamos juntos, mas isso não significa que todos devem saber que fugimos do protocolo.
— Esse é o problema. Você quer que todos saibam. Mas isso não vai acontecer, nem aqui, nem fora do FBI. Então, pela primeira vez, seja profissional.
Rose vacilou quando tentou esconder sua inquietação perante aquela resposta tão dura. Sem dizer nada, Jungkook atravessou ao lado dela, deixando-a para trás e com os olhos vidrados em um ponto distante.
Um chiado rouco subiu pela garganta dela, que o bloqueou para não sair pela sua boca. Levar um não era semelhante a um tapa na cara, mas vindo de Jungkook era mil vezes mais agressivo. Ela expulsou o ar pela boca, virando-se rapidamente na direção que ele foi. Então, ela gritou seu nome antes que ele pudesse sair da cozinha.
— Quem é ela? — Jungkook apertou as sobrancelhas em confusão, até vê-la direcionar o queixo às marcas em seu pescoço.
— Não a conheço. Foi apenas uma noite.
— E você gostou?
— Por que quer tanto saber se eu gostei? — sua pergunta não teve resposta além de uma braçada de ombros. Ela parecia temer pela resposta e ao mesmo tempo esperar por ela. — Sim, gostei.
Uma instabilidade agressiva coordenou o corpo dela, como um choque incontrolável. Rose fechou as mãos em punhos antes de soltá-las, se empenhando ao máximo para erguer o canto da boca em um sorriso forçado.
Jungkook não calculou muito bem a reação dela, mas conseguiu captar rastros de raiva por trás daquele sorriso artificial. Suas sobrancelhas se esquivaram novamente, então ele desfez os braços, como se estivesse de saída, e disse:
— Obrigado por ter apagado as imagens das câmeras. Fez um bom trabalho. Agora se me permite... — ele esticou o braço para fora da cozinha, logo desapareceu das vistas dela.
Rose rangeu os dentes e enterrou os dedos no saco que segurava, machucando-os com ferocidade.
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