⍟ seventeen

Jungkook desceu os degraus de forma lenta enquanto segurava o corrimão com uma mão e o relatório com a outra. Seus olhos ficaram fixados nas primeiras linhas, deixando que seu cérebro organizasse uma conclusão.

Seu cabelo estava empregado formalmente em um topete casual, autorizando que alguns fios se desprendessem pela lateral. O terno, que era usado constantemente no dia a dia, não estava sendo aplicado naquela manhã. Jungkook agarrou-se à uma camisa de botões, livre do blazer e da gravata justa.

Ele parou no último degrau quando seu olhar encontrou Yoongi andando de um lado para outro, ora parando para confiscar os papéis sobre a mesa. Quando o seu parceiro pendurou seus olhos na imagem dele, suas sobrancelhas se curvaram em um gesto de pura dúvida.

— O que faz acordado a essa hora? — o que devia ter sido uma resposta rápida acabou se tornando um pesado instante de silêncio.

— Já amanheceu e eu nem dormi se quer saber. — Jungkook disse, afrouxando a mão contra o corrimão.

Ele rolou silenciosamente para fora da escada e caminhou de encontro a uma cafeteira sobre a ilha.

— Não me diga que eu te deixei ficar na cama até essa hora para você dizer que nem sequer pegou no sono? — Yoongi perguntou, como se aquilo fosse motivo de um profundo bate-boca.

— Estive relendo os relatórios. — ele os jogou sobre o notebook fechado, segurando a xícara próxima dos lábios.

— E descobriu alguma coisa?

— Tenho uma teoria, mas não sei se o Seokjin aprovaria. — Yoongi curvou os ombros antes de fisgar uma banqueta próxima e sentar-se, confessando por aquele gesto que estava interessado. — Acho que há duas ou mais pessoas comandando a máfia. Não acho que exista apenas um cérebro administrando tudo.

— Então a sua teoria é de que há mais de um chefe? — seu cérebro tomou consciência daquela teoria. Jungkook acenou conforme espalhava os papéis para ele. — Aqui está.

Ele apontou para uma linha grifada com caneta e esperou que Yoongi fizesse sua observação. Quando ele nada disse, Jungkook prosseguiu:

— De acordo com esses registros, o horário que as vítimas foram levadas eram às 18h, só que a partir do outro relatório este horário mudou para a manhã.

— Onde você quer chegar?

— Até o dia 11 do mês passado, eles seguiam o mesmo padrão, mas agora, após um suposto novo administrador, essa rotina foi alterada. — Yoongi esfregou a testa, seu gesto sugeria reflexão.

— Bem, talvez seja o mesmo homem governando, mas com uma estratégia diferente. — Yoongi opinou.

— Tudo é possível, mas, como eu disse, é apenas uma teoria. — ele apoiou a xícara na pia e voltou-se para o seu parceiro. — Suponho que eles estejam passando o bastão para novos administradores. Por isso, se pegarmos os chefões, a máfia inteira cai.

— Rose comentou sobre aquela agência ser de um tal de Kim Namjoon. Acha que ele tem envolvimento?

— Eu li sobre isso. Kim Namjoon só vendeu o local para Derek Meyer. Ele pode nem saber do que se trata o trabalho do comprador, ou talvez ele seja esperto o bastante para esconder seus rastros.

Depois de passar a noite acordado reproduzindo as imagens daquele garoto no colo do tal Derek, Jungkook buscou por coisas que arrancassem essas memórias insistentes. Ele passou horas pensando em formas criativas para encontrá-lo de novo. Mas a verdade era que as coisas não eram tão simples como parecem. Jungkook entendia que para atingir aquilo que se quer não basta apenas imaginar, tem de ir atrás.

Por isso ele fuçou, caçou e investigou cada palavra usada nos relatos dos familiares informando a última hora que os viram e como eles estavam se comportando nos decisivos dias enquanto ainda estavam juntos. Investigou as semelhanças e as diferenças das respostas até finalmente chegar a uma conclusão plausível.

O que se igualavam eram as reações controversas das vítimas para com os seus pais. Ao analisar as respostas deles, Jungkook notou que os comportamentos coincidiam, no entanto, havia alguém oposto àquelas descrições: Park Jimin.

Jungkook estudou o interrogatório da Sra. Park e, de acordo com ela, seu filho nunca mudou seu comportamento. Para ela, ele sempre fora aquela pessoa que costumavam descrever: um garoto tranquilo, que gostava de dançar em seus dias ruins. Portanto, esse caso em específico parecia um mistério a se revelar, uma vez que Jungkook sentia sua cabeça começar a ferver quando parava para pensar nas possibilidades e no curto tempo para analisá-las.

— Ouviu o que eu disse? — perguntou Yoongi, chamando a atenção dele com um aceno de mão. — Precisamos informar essa teoria para o Seokjin.

Cautelosamente, Jungkook inspirou fundo, recapitulando suas hipóteses em um curto tempo, deixando-as ordenadas.

— Não, deixe o Seokjin fora disso por enquanto. — ele recusou, enfatizando sua decisão com um gesticular de dedos. Ao julgar pelo olhar vacilante que Yoongi lançou em sua direção, concluiu que ele não havia aprovado aquela sugestão. — Preciso ter certeza primeiro do que estou falando. Não quero chegar até ele com especulações como fiz da última vez.

— A diferença é que da última vez você estava certo. — seu sorriso cáustico perambulou por seus lábios, deixando Jungkook informado sobre aquela mensagem.

— Quero fazer do meu jeito. — ele falou com decisão. — A propósito, onde está a Rose?

— Ela foi atrás do vendedor daquela joia.

— E você, o que conseguiu a respeito disso?

— Reuni as digitais do colar e encontrei dois traços de DNA, um é do Derek e o outro de Park Jimin. Localizei a joalheria responsável pela venda, tudo indica que aquele colar é uma peça rara geralmente encontrada nesse estabelecimento.

Jungkook balançou a cabeça, como se aquela resposta fosse a chave do que precisava.

— Conseguiu o mandado com algum juiz?

— Com um juiz aqui do Canadá mesmo.

– Ótimo. Quando ela trouxer as imagens das câmeras e os dados da compra, você registra tudo e me passa depois, certo?

Após receber uma resposta positiva, o detetive Jungkook captou um olhar diferente em sua direção. Yoongi estava encarando-o à distância, com as sobrancelhas suspensas em sinal de confusão. O olhar em seu rosto lhe dizia que ele estava intrigado com alguma coisa.

— O que você conversou com o garoto?

Jungkook camuflou sua inesperada reação de surpresa muito bem, uma vez que Yoongi não parecia visar as linhas de sua boca presas. Seu olhar ficou reduzido minimamente, a exibição recatada de sua feição deixou claro que ele não tinha o que esconder.

— Ele não me disse nada que possa nos ajudar a achá-lo de novo, se é isso que está pensando. — seus braços se cruzaram contra o tronco, demonstrando estar tranquilo sobre o assunto. — Já lhe disse, a única coisa que consegui foi o colar. Ele estava assustado, eu não podia forçá-lo a pensar em alguma coisa.

— Nem o perguntou quem está por trás disso?

— Yoongi, ele é uma vítima. Dizer o nome de quem está comandando tudo isso para um estranho é como entregar a própria cabeça à força. — seu parceiro nada disse. — Mas vamos saber quando eu o achar de novo.

— Sério? E como faremos isso se não temos nada?

— Eu vou atrás dele, Yoongi. — aquela não era bem a resposta que o detetive Collins esperava ouvir, mas também não lhe causou surpresa.

— Jungkook, me ajude a te ajudar, cara. — ele o viu fungar o nariz meio inquieto, meio impaciente. — Se você me contar o que pretende fazer, nós faremos juntos, mesmo que o Seokjin não participe disso.

Não bastava, apenas, se torturar com pensamentos lógicos sem caçar com mais aplicação o objetivo do caso. Jungkook sabia que não tinha muitas coisas em mãos e que o caso pertencia a eles, portanto não poderia agir sozinho.

Com um aceno que era muito mais relaxado do que ele realmente se sentia, Jungkook concordou com a proposta dele. Deixar seu parceiro fora disso seria uma ação muito egoísta, afinal, dois cérebros sempre funcionavam melhor que um. Ou melhor dizendo, o cérebro deles funcionava bem quando partilhados.

— Não quero que a Rose saiba disso, certo? — Jungkook informou, apenas como garantia. Quando Yoongi concordou com sua posição, ele prosseguiu. — Conheço alguém que pode ter respostas.

— Quem é esse alguém?

— Uma pessoa que conheci quando chegamos no Canadá. — sua hesitação em dizer com clareza quem era a pessoa transbordou como faíscas pelo ar, fazendo Yoongi captar a mensagem.

— Oh, aquela mulher que você dormiu? Como ela pode nos ajudar?

— Me dê tempo para conseguir respostas e então falaremos com o Seokjin.

— Não entendo aonde você quer chegar. — Jungkook sentiu que deveria contar a ele o que pretendia fazer, mas até aquele momento suas mãos estavam atadas, por isso, primeiramente, ele deveria colocar sua ideia em prática.

— Eu estou cansado de trabalhar com relatórios, Yoongi, quero agir.

— Vamos agir quando terminarmos de analisar o que temos em mãos.

— Esse é o problema. Não podemos trabalhar apenas com o que temos em mãos. Devemos buscar por fora. Por isso quero ir atrás dessa pessoa. — um silêncio infindável acomodou-se na cozinha, mas não por muito tempo. — Concorda com isso, detetive?

Os olhos de Yoongi deram um fraco solavanco após ouvir aquela pergunta profissional, embora ele entendesse muito bem o contexto dela.

— Você é o responsável pelo caso agora. Se sabe o que está fazendo, então eu apoio. — Jungkook gesticulou a cabeça sutilmente para baixo, um meneio que foi entendido como agradecimento. — Bem, enquanto você vai reencontrá-la, vou ligar para o Seokjin. Preciso marcar o interrogatório com a mãe do garoto.

Jungkook o observou por um momento. Uma parte sua esperou que ele continuasse o que começou a falar, mas a outra metade de seu cérebro já havia assimilado a quem ele se referia. Por isso suas sobrancelhas se torceram em confusão.

— Que garoto?

— Park Jimin. A Rose me pediu para falar com o Seokjin, ela quer marcar um interrogatório quando voltarmos para os Estados Unidos. Ela é suspeita e precisamos de mais informação. — a julgar pela expressão que Jungkook fez com a mandíbula, ele percebeu que aquilo seria um erro.

— Não a interrogue ainda. Se ela tiver algum envolvimento, não vai nos dizer sob pressão. — seu parceiro abriu a boca, mas a fechou na mesma hora. — Ela não vai ser interrogada. Não agora.

Quando Yoongi o viu recolher os papéis que havia jogado minutos atrás sobre o notebook, soltou um suspiro superficial e deixou que Jungkook definisse o ritmo do caso, executando aquilo que acreditava ser o certo.

— Ok, então o que pretende fazer depois? Ela ainda é uma suspeita. — Yoongi mencionou.

— Vou conseguir pistas para achar o garoto de novo — Jungkook garantiu. — E depois, eu mesmo perguntarei pessoalmente ao filho dela.

Com os olhos ainda conectados nos dele, Jungkook lhe deu um tapinha no ombro de modo expressivo e então seguiu para a porta, mas antes pegou seu casaco sobre o prendedor de roupa. Quando estava perto da saída, Yoongi lhe gritou:

— Não está esquecendo de nada?

Jungkook bateu a mão na testa ao se lembrar do distintivo. Yoongi o jogou na sua direção, que agarrou o objeto metálico com um único gesto. Em seguida, ele desapareceu para além da porta. Yoongi suspirou, ciente de que iniciar uma discussão com ele não o levaria a nada, tampouco era uma ideia inteligente. Por isso permitiu-se acatar o novo plano de seu parceiro.

✮✮✮

Duas batidas suaves foram o suficiente para Jungkook repousar um dos braços na parede ao lado da porta. Enquanto aguardava, sentiu sua respiração levemente pesada pelo silêncio, que foi abruptamente interrompido quando a porta finalmente foi aberta.

Seu olhar se curvou seguramente na imagem daquele que ele esperava ver. As írises verdes, já conhecidas pelo detetive, se revelaram através do olhar inesperado que Nolan lhe lançou.

O rapaz o avaliou da cabeça aos pés, dançando os olhos pelo traje convencional que ele usava. Ao observá-lo sem o boné, um arrepio encobriu seu corpo, o deixando desarmado diante daquela pessoa que parecia tão diferente da última vez.

Tão formal.

Tão gostoso.

— Jev? — sua pergunta soou em surpresa.

— Posso entrar? — com um movimento desajeitado, Nolan abriu espaço, deixando-o livre para que ele atravessasse.

Ao fechar a porta, o rapaz voltou a olhá-lo, dessa vez ele estava de costas e, pela sua feição, percebeu um músculo de sua bochecha retesado.

— Como soube que eu estaria aqui hoje? — sua voz parecia tão cismada, que por um momento Jungkook pensou que aquilo não seria uma boa ideia.

— Você trabalha pela noite e faz bioengenharia à tarde, então eu suspeitei que estivesse aqui pela manhã. — mesmo de costas, Jungkook podia sentir o peso dos olhos dele e como estes certamente estavam perplexos agora.

O detetive avaliou os livros espalhados pela pequena mesa de centro, havia um café ainda quente soltando uma ondulante fumaça para cima. A voz de Nolan veio com força às suas costas, espantada.

– Como sabe de tudo isso?

Ainda de costas, Jungkook introduziu as duas mãos nos bolsos da frente de sua calça e abaixou a cabeça. Ao enxergar os músculos de sua bochecha e da mandíbula se mexendo calmamente, Nolan adivinhou que ele estava pressionando o lábio contra o outro.

— Pode se virar para mim, por favor? — o rapaz se arriscou a pedir, inseguro, depois o viu virar de frente como lhe foi sugerido.

Decidido a não o deixar dirigir outra pergunta, Jungkook ergueu a mão até o nível do peito, revelando seu distintivo. Nolan desceu as vistas para o objeto metálico e muito ligeiramente suas sobrancelhas se franziram.

— Você é um...

— Agente Especial do FBI.

Ainda com os olhos presos no objeto, Nolan não conseguiu se desgrudar dele, pelo menos não até o detetive Jeon o colocar dentro do casaco. Sua atenção recorreu aos seus olhos, onde o encarou em silêncio.

— Por que está aqui? Eu fiz alguma coisa? — não havia desespero por trás de suas palavras, existia algo como... raiva.

— Não que eu saiba. — Nolan apertou os ossos da mandíbula. — Mas preciso de sua ajuda em um caso.

— Naquela noite... — ele começou a falar ainda impactado com a notícia. — Quando nós viemos aqui, você transou comigo como um policial só para conseguir informação?

— O que fizemos naquele dia não tem ligação com o meu trabalho. — suas palavras foram sinceras, mas insuficientes aos ouvidos de Nolan. — Quero que me ajude. Apenas isso.

— E o que eu ganho em troca?

— Podemos discutir o preço depois. Isso vai depender do que você tem a me oferecer. — Nolan suspirou, parecendo confuso diante daquela situação. Ele o viu dar um passo adiante, ficando um palmo mais próximo. — Naquela noite você me disse que tinha visitado várias casas noturnas, preciso saber se alguma delas tem prostituição infantil como serviço.

O rapaz passou os olhos por trás de Jungkook, então voltou-se para ele. A ausência de clareza foi demonstrada através de sua testa franzida, o que significava que Nolan não tinha a resposta.

— Acha que tenho envolvimento com essas coisas?

— Eu não disse isso, Nolan. Só estou buscando saber se você já notou alguma coisa assim no meio dessas boates. — o detetive tentou deixar a voz equilibrada, mas ele percebeu, tarde demais, que suas palavras o haviam com uma repentina confusão.

Subitamente, Nolan sentou-se na pequena poltrona ao lado, mantendo os antebraços apoiados nos joelhos.

— Olha, eu não sei aonde você quer chegar com isso, mas nessa cidade o que mais existe é trabalho infantil. — ele começou a falar, olhando diretamente nos olhos de Jungkook. — Geralmente eles fazem isso sem a autorização dos pais só para conseguir dinheiro quando a mesada é cortada, ou quando são obrigados a ficarem de castigo. Isso é comum entre os jovens.

— Como sabe que elas não são forçadas? — Nolan lhe dirigiu o olhar sem uma resposta pronta.

— Eu não sei. Talvez pela forma que agem. Por que está me perguntando isso como se eu soubesse a resposta? — Jungkook curvou o canto da boca para um único lado.

— Sabe demais para alguém que nunca frequentou esses bares.

— Acha que eu participo dessas festinhas ilegais? — ele saltou da poltrona abruptamente, mas Jungkook o parou com um movimento de braço.

— Vai com calma, garotão. Eu não estou afirmando nada. — seu braço foi descendo aos poucos, deixando ele à vontade para relaxar. — Se você nunca apareceu nesses bares, então como sabe que essas crianças não são forçadas?

Como um gesto instintivo, Jungkook capturou a reação dele conscientemente e identificou que a resposta estava trancafiada em sua garganta, sem uma autorização para fugir.

— Conhece alguém que participa disso, não é? — o detetive supôs, afetando todos os rastros de segurança que Nolan prendia. — Como ele se chama?

— Eu não vou te falar nada. — ele tentou atravessar pelo detetive, mas foi interrompido pelo braço de Jungkook, que atravessou seu caminho rapidamente.

— Não estou lhe perguntando como aquele cara que você conheceu na festa, estou lhe perguntando como um detetive do FBI. — a vibração que Nolan sentiu naquela fala o fez dissolver toda postura rebelde.

— E se eu não quiser falar?

— Tudo bem. Então vou te levar para a delegacia e você terá que responder a um interrogatório diante de meia dúzia de policiais. É isso o que quer? — não era bem uma ameaça, embora Jungkook quisesse que ele entendesse dessa forma.

— Você realmente não parece aquele cara que eu conheci.

— Só estou fazendo o meu trabalho. Colabore. — sua mão se afrouxou contra o braço dele, soltando-o suavemente. Jungkook o sentiu recuar até que de repente caiu sentado na poltrona, olhos distantes. — Como ele se chama, Nolan?

Depois de um longo momento em silêncio, o rapaz disse:

— É o meu primo.

— Nome? — ele sentiu a hesitação de Nolan para responder aquela pergunta tão simples, mas que figurava uma dificuldade dolorosa de dizer.

Então, Jungkook o encarou com cautela por alguns instantes antes de se mover até o sofá que ficava de frente para a poltrona. Nolan o encarou.

— Só tem nós dois aqui, não precisa ter receio de me contar. Não quero ter que te levar comigo para a delegacia, então não me deixe recorrer a essa opção.

As linhas profundas em torno dos olhos verde-claros de Nolan se acentuaram. Ele curvou-se, apoiou as mãos nos joelhos e encheu os pulmões com o ar morno.

— Elliot Campbell. — o rapaz desembuchou.

— É casado?

— Divorciado.

— Há quanto tempo ele se divorciou? — um suspiro pesado vagou dos lábios do outro, que passou a palma na testa antes de dizer.

— Já faz mais de três anos. Agora ele vive em casas noturnas, dorme com prostitutas e curte a vida dele do jeito que quer.

— Tem filhos? — outra pergunta.

Nolan balançou a cabeça suavemente.

— Não.

— Quantos anos ele tem?

— Trinta e cinco anos.

— E o que ele te diz sobre esses lugares?

— Meu Deus, eu prometi nunca contar para ninguém. Ele vai me matar! — ele comentou, mas não de um modo desesperado.

— Você sabe que precisa me responder, e isso não é um lembrete. — Nolan sentiu a intimidação naquelas palavras, que esfregavam em sua cara o aviso anterior.

— Ele me contava sobre as pessoas que conhecia e comprava. Eu sei que isso é ilegal, mas ele sempre deixou claro que são jovens que fazem por vontade própria.

Jungkook ficou parado, olhando em volta com seus olhos investigadores.

— Você sabe que mesmo sendo por vontade própria é considerado ilegal serviço infantil. Seu primo pode ser preso por participar dessas festas proibidas e o proprietário também. — sua voz surgiu como um alerta, o deixando mais uma vez consciente.

— Eu sei, mas, por favor, não faça nada contra ele. Ele confia muito em mim.

O clima parecia tenso até o momento que Jungkook realçou os contornos de sua boca em um sorriso perspicaz, mas desprendido de emoção.

— Então você vai conseguir essa informação para mim. — Nolan olhou para ele, curioso, sem compreender aquelas palavras.

— O quê?

— Converse com o Elliot e pergunte o nome das casas noturnas que ele costuma visitar. Se ele confia em você, aposto que vai dizer. — por um momento as sobrancelhas do rapaz se juntaram em indecisão.

— Não posso fazer isso. Ele sabe que eu não frequento esses lugares, o que vou falar?

Independente de esse trabalho ser feito para a polícia, Jungkook sabia que ele podia obter as respostas que precisava e, para ser mais honesto consigo mesmo, sua cabeça fervilhava toda vez que pensava nos detalhes desse caso e não chegava a uma conclusão provável. Estava cansado de permanecer em leituras que não o levavam a nada além de especulações.

Encontrar o garoto havia sido um passo grande, mas não o melhor que já deu. As pegadas que fizera estavam se afundando na lama e ele precisava voltar ao topo antes que o controle fugisse de suas mãos.

Estava com o colar do menino, Derek correria atrás do responsável por isso, provavelmente já o estava caçando neste momento. Mas Jungkook era mais ardiloso, suas táticas estavam sendo dominadas caso isso acontecesse inesperadamente.

No entanto, ele também sabia que a segurança deles iria se restabelecer quase que perfeitamente, colocar mais homens para trabalhar na garantia de seu serviço e mais pessoas para estabelecer a vigilância nas ruas. Não era bobo de pensar que as coisas ficariam mais fáceis, mas era mais esperto ao ponto de pensar nas estratégias para lidar com todas elas.

— Vou te dar 24 horas para me trazer a resposta. — Jungkook disse, depois lhe entregou um pequeno cartão. — Fique com o meu número caso surja alguma notícia.

— Ele não vai acreditar em mim.

— Diga que está querendo esfriar a cabeça. — ele sugeriu, balançando o cartão na direção dele.

Nolan ponderou por um momento antes de agarrar o cartão e ler uma sequência de números nele.

— E se eu não conseguir nada? — ele demonstrou incerteza.

— Então não vamos discutir o preço. — ele moveu minimamente a bochecha para cima e Nolan enxergou a pequena cicatriz que ele tinha naquela região tão peculiar.

O ar do lado de dentro estava quente, mas o vento frio que atravessava a janela já indicava que o dia seria gélido. O cabelo de Jungkook se desorganizou um pouco para o lado quando a lufada de ar impactou contra os seus fios.

Nolan se mexeu espontaneamente na direção do detetive Jeon, acorrentando suas mãos atrás da nuca dele antes de deslocar seus lábios na direção dos dele. Jungkook deixou que ele o tocasse na boca em um selinho desajeitado, logo distanciou-se.

— Não vim aqui para isso. — enfatizou Jungkook. Nolan assentiu uma única vez, entendendo o seu lado. — Faça o que pedi e me traga a resposta.

— Você vai voltar?

— Sim. — garantiu. — Mas agora preciso ir, vou esperar que me ligue.

Após relutar por efêmeros segundos, Jungkook cortou aquela linha invisível que ligava seus olhares, desviando sua atenção para a saída, que parecia tão perto desde o momento que se distanciou dele.

Quando estava prestes a sair, em pegadas curtas e arrastadas, sentiu a voz de Nolan perfurar seus tímpanos, o chamando pelo nome que lhe foi apresentado no dia da festa, deixando que seu corpo se virasse sem o comando racional de seu cérebro.

— O que vai fazer com ele?

— Se não conseguir nenhuma resposta, então eu mesmo irei pessoalmente atrás dele. — seu tom ficou mais grave do que o habitual e ele deixou um suspiro fugir de seus lábios. — E, acredite, não será o melhor encontro.

A porta foi aberta pausadamente, permitindo que ele se retirasse daquele lugar tão memorativo. Jungkook permitiu a seus olhos que passeassem pela silhueta de Nolan sumindo aos poucos quando a porta se fechou por completo.

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