⍟ four

A luz misteriosa e transparente do sol reluziu através de uma janela na parede ao lado, alvejando a feição amedrontada de Jimin. Ele foi puxado por um corredor completamente silencioso, exceto pelas suas pegadas claudicantes e as do homem que o carregava para um lugar desconhecido.

O capanga estava atrás de si, segurando-o com suas palmas firmes. Ele queria gritar, mas sua garganta parecia sufocada com um bolo crescente. Não tinha ideia do que Derek faria, mas, muito provavelmente, seria algo duradouro e cruciante. Recapitulando a expressão dele no momento que percebeu que Jimin o havia traído, o garoto suspeitou que ele não o pouparia novamente.

A mão em seu braço afrouxou e então Jimin se viu livre do aperto, porém seu corpo foi empurrado para frente. Ele foi lançado para dentro de uma pequena sala escura, sem janelas e com um cheiro horrível. Com as mãos apoiadas atrás de suas costas, Jimin começou a rastejar para trás à medida que Eric caminhava em sua direção. O lugar estava quase um breu, mas ele captou a sombra de um sorriso argucioso surgindo nos cantos da boca do sujeito.

— Derek está vindo. Ele odiaria te ver com medo. — disse o capanga, fazendo todos os pelos da nuca de Jimin ficarem eriçados. — Acho que vou ter o prazer de desfrutar um pouco do seu sofrimento.

— O que vai fazer comigo? — sua voz vacilou um pouco e aquilo o fez se amaldiçoar internamente. Estava completamente apavorado.

— Vamos brincar um pouquinho antes do Derek aparecer. Já que ele vai te punir de qualquer forma, não custa nada eu aproveitar primeiro.

Muito subitamente, Jimin sentiu seus próprios músculos congelarem de medo. Suas costas encostaram na superfície dura da parede enquanto sua respiração ficava cada vez mais entrecortada. Eric começou a andar em direção a ele, mas não conseguiu avançar muito, pois Derek invadiu o cômodo rapidamente.

Os olhos de seu chefe caíram sobre a figura do menino e então correram para o capanga imóvel. Inexpressivo, Derek disse:

— O que ia fazer, Eric?

— Eu estava apenas cumprindo a sua ordem, senhor. Trouxe-o para cá como ordenou que eu fizesse. — Derek suspendeu uma faixa de sobrancelha, suspeito. — Eu só estava vigiando para que ele não fugisse.

— Bem, acho que já cumpriu com seu dever. Volte para a boate e avise ao Namjoon que as garotas que contratamos hoje já estão no porão.

Após dar a ordem, Derek caminhou em direção a Jimin, sendo horrivelmente fuzilado pelas costas. Eric parecia incrédulo, como se estivesse duvidando de seus próprios ouvidos.

— Eu pensei que precisaria de ajuda na punição do garoto. Não achei que mudaria de ideia tão rápido. — disse Eric, recebendo um olhar severo por cima dos ombros.

— Eu sou o seu chefe, portanto a ordem sou eu quem decido. — refutou, indo na direção dele. Eric evitou encará-lo nos olhos. — Ordenei para que se retirasse da minha frente. Vou precisar desenhar para que entenda que do Park cuido eu?

— Não, senhor. — ele garantiu, e por um segundo deixou seu olhar cair sobre Jimin. — O que pretende fazer com ele?

Derek sorriu, mas sem humor.

— Eu saberei castigá-lo do meu jeito. Você já fez o bastante por mim hoje, não precisa se meter nas minhas decisões também.

Eric, absorvendo suas palavras, acenou com a mandíbula cerrada e deu as costas para ele. Em seguida, fechou a porta às suas costas, deixando Derek para trás ainda olhando em sua direção. Ele sabia que podia confiar em Eric, mas também não se arriscaria a colocar a mão no fogo pela lealdade do mesmo. Derek suspeitava, porém não tinha certeza, de que ele seria capaz de estar atrás da porta tentando ouvir qualquer coisa que confirmasse um castigo seu contra o menino.

No entanto, ele optou por não se certificar de sua própria suspeita e deixou para lá.

Jimin engoliu em seco quando o seu olhar se esbarrou com o de Derek logo que ele se virou de frente. Ele parecia perigosamente sério. O homem deu o primeiro passo lentamente, fazendo o garoto se assustar na mesma proporção. Jimin sentiu uma proximidade perigosa em seu corpo e isso o fez reagir fechando os olhos em reflexo.

Derek se agachou para ficar no mesmo nível que ele e apoiou os cotovelos nos joelhos. Seu olhar parecia impetuoso, mas bastou Jimin encolher os ombros com medo para sua expressão mudar subitamente. Ali, portanto, ele não quis castigá-lo brutalmente, apesar de saber que o garoto merecia.

— Não vou te machucar. — ele garantiu em um sussurro. Jimin abriu as pálpebras para encará-lo. O interior de seus olhos estava vermelho pelo acúmulo das lágrimas. — O que você fez merece uma punição, mas não farei isso. Não sou esse monstro que você pensa.

O garoto permaneceu quieto, sem dizer uma palavra. Ele não tinha certeza se podia confiar naquilo. Derek podia estar tentando enganá-lo, pensou, na tentativa de descobrir algo que desejava saber. Ou talvez ele não fosse um monstro como Jimin pensou. Entretanto, avaliando a última opção, o garoto optou por descartá-la. Derek certamente estava jogando verde com a sua mente, pois tinha consciência de que Jimin não sabia como entrar no seu jogo.

Sem obter uma resposta, Derek, então, suspirou pesadamente antes de se levantar e andar até o meio do quarto. Ainda virado de costas para o garoto, ele abaixou a cabeça, como se estivesse concluindo o próprio pensamento antes de finalmente verbalizar.

— Sabe o que o Namjoon faria com você se estivesse no meu lugar? — Jimin franziu as sobrancelhas para aquele estranho questionamento. Derek se virou de frente. — Provavelmente ele te mataria para garantir que isso não viesse a se repetir de novo. Mas você sabe o que eu vou fazer? — silêncio. — Vou te dar uma segunda chance. A última chance. Você foi um tolo por ter me traído e eu não deixarei barato. Vou colocar mais homens de olho em você para garantir que esteja seguro em minhas mãos. Quero que entenda de uma vez por todas que agora você pertence a mim. Deve obedecer às minhas regras sem questionar nada. Caso contrário, vou contar tudo para o Namjoon e deixar que ele tome uma providência contra você.

— Me desculpe... — Jimin falou num fio de voz. — Eu não devia ter feito isso.

— É, não devia mesmo. Não é tão fácil fingir que estou com raiva de você na frente dos meus homens. — Jimin ficou um pouco chocado com o que tinha acabado de ouvir. — Eu te escolhi para servir a mim e não para te machucar com castigos. Porém, é sempre bom manter a minha postura de controle. Por isso grito com você e te aperto na frente deles porque quero que vejam que eu consigo te dominar. Namjoon não me perdoaria se soubesse que estou praticamente te dando uma segunda chance, uma chance da qual poderei me arrepender.

— Eu não vou fazer mais isso.

— Você fez e pode fazer de novo. — Jimin se calou imediatamente. Derek andou até ele e o tocou no rosto. — Quando me perguntarem, vou dizer que fiz uma atrocidade com você e não recomendo que vejam. Namjoon não saberá o que aconteceu aqui, mas caso ele descubra, preciso que confirme que te machuquei.

Jimin não se atreveu a recusar, então acenou a cabeça freneticamente. Por mais que fosse enganado, ele pretendia obedecer às ordens de Derek. Não podia falhar mais uma vez, não depois de receber um voto de confiança.

— Se você não quer me machucar, então por que não me ajuda a sair daqui? — o menino se arriscou a perguntar, ciente de que o caminho até a resposta era perigoso.

— Mesmo que eu quisesse, não posso fazer isso. Existem regras aqui dentro, Park. — seu tom havia mudado um pouco, como se ele estivesse entrando em um assunto do qual Derek não pretendia falar. — Por isso te escolhi. Se você fosse meu, ninguém poderia te machucar. Os clientes são terríveis quando dormem com prostitutas. Eles as veem apenas como bonecas para sexo.

— Mas você me machucou ontem, assim como todos eles. — ele o lembrou.

— É apenas uma marca. Isso garante que a partir de agora você é minha propriedade, assim nenhum outro homem que trabalha aqui poderá tocar em você como eu posso.

Mesmo assustado com aquelas palavras, Jimin se lembrou de Eric e do que ele provavelmente faria se Derek não tivesse surgido. Por um instante, passou pela sua cabeça de contar a Derek sobre a investida de seu capanga, assim Derek poderia depositar um pouco de confiança nele, mesmo que houvesse outros interesses por trás da atitude de Jimin.

— Eric. — contou. — Ele queria fazer alguma coisa comigo antes de você chegar.

O homem na sua frente apertou os cantos da boca.

— Eric é um aproveitador de merda. Vou cuidar disso mais tarde, não se preocupe. — Jimin assentiu. — E sobre isso, quero que passe o dia neste lugar, só para garantir que eles não saibam de nada do que aconteceu aqui.

Jimin não gostou nem um pouco daquele pedido. Ele estreitou os olhos para o ambiente, observando alguns móveis velhos em um canto afastado, todos cobertos por um pano branco. O cheiro de madeira empoeirada estava muito forte. Uma voz na sua cabeça lhe dizia constantemente que seria apenas um dia e nada mais. Pequenos calafrios de pânico o atravessaram.

— Só vai ser hoje? — perguntou.

— Sim, Jimin. Amanhã você vai me acompanhar para a sessão de fotos das novas garotas. — sua voz parecia suave, mas com uma fina camada de dureza.

— Eu não sei se você está bravo comigo pelo que fiz, mas...

— Park, eu não estou bravo com você. Tomei aquela atitude diante do Eric porque queria mostrar que tenho controle sobre você. Não pretendo te machucar. É por isso que estou te dando uma segunda chance para continuar comigo ou serei obrigado a te entregar para o Namjoon e deixar que ele decida por mim. — disse. — Odeio admitir que o Namjoon tem razão em alguns momentos, mas espero que ele esteja enganado sobre você.

— Eu não farei de novo. — Jimin tentou convencer a si mesmo que não seria estúpido de cometer o mesmo erro duas vezes. — Acho que devo te agradecer por isso.

Por mais que tudo estivesse acontecendo rápido demais, Jimin desejava que Derek pudesse depositar sua confiança nele. Não queria pensar que ele estava testando-o novamente, até porque sabia que não teria capacidade de confrontar alguém tão superior quanto Derek.

Muito rapidamente, o homem deslizou as mãos pelo pescoço de Jimin, tão escaldantes quanto brasas. Ele apertou suavemente os polegares contra a sua garganta e inclinou sua cabeça parcialmente para trás. O garoto pôde sentir a presença de uma boca fria contra a sua e ela veio tão depressa que ele silenciou qualquer xingamento que estivesse prestes a sair por causa daquela atitude.

As mãos maiores desceram por seus ombros, escorregaram pelas laterais dos seus braços e se detiveram no final das suas costas. Jimin sentiu um calafrio estridente percorrer todo seu corpo. O garoto conseguia ouvir a própria respiração entrecortada, assim como seu peito subindo e descendo diante daquele gesto.

Derek espremeu os lábios dele como um cachorro selvagem e tentou usar a língua para o seu benefício. Por mais que Jimin lutasse mentalmente para apartar aquela sensação estranha que era beijar Derek, ele sentiu-se na obrigação de corresponder ao beijo, mesmo que fosse contra a sua vontade.

Após uma longa batalha interna, Jimin permitiu beijá-lo de volta, fazendo expressões de nojo durante o processo. Mesmo sendo contra sua verdadeira intenção, o garoto quis demonstrar que Derek poderia confiar nele. E na melhor do que demonstrar isso através de uma troca de beijos, que ele julgava ser um ponto positivo para o seu jogo.

✮✮✮

Jungkook arrastou os dedos pela linha da mandíbula enquanto andava em direção a sua sala. O departamento estava infestado de estagiários trabalhando em seus computadores, o que vinha se tornando muito comum no seu dia a dia. Ele vestia um terno escuro e seu cabelo estava em um topete formidável, nada muito pontudo. Em um piscar de olhos, Jungkook observou Yoongi no final do corredor, vindo em sua direção às pressas quando o enxergou também.

— Boas notícias. — Yoongi falou assim que o alcançou. — Não vamos precisar ir até a casa do amigo de Park Jimin. Kim Taehyung já está na sua sala te esperando.

— Obrigado por me avisar. Acho que vou precisar de sua companhia. — Yoongi confirmou com a cabeça. — A propósito, sobre a Sra. Park, vamos ter de marcar outro interrogatório com ela, dessa vez com um mandado. Aquela mulher esconde alguma coisa e nós precisamos saber o quê.

— Claro. Vou avisar ao Seokjin que providencie isso o mais rápido possível. Se quiser, posso trazê-la aqui.

— Não. Vamos pegá-la de surpresa.

Com isso, Jungkook o chamou com um gesto de dedos e eles caminharam para longe. Ao alcançar a última porta do corredor e abri-la, Taehyung, sentado em uma das cadeiras, levantou-se abruptamente, olhando para eles com a mão no peito. Jungkook o observou brevemente, então deslocou-se até a sua poltrona, mas antes o cumprimentou com um aperto de mão. Ele suspirou, afundando-se na cadeira.

— Por que está tão nervoso, garoto? — Jungkook perguntou, entretendo-se, mas ele não gostou nem um pouco de seu tom brincalhão.

— Eu só estava com sede. Esses estagiários não trabalham, não? Eu estou há meia hora esperando por um copo d'água e ninguém apareceu ainda. — Taehyung contestou, cruzando os braços contra o tronco.

— Por que não foi até a porta e pediu? — Yoongi indagou.

— Porque eles pensariam que eu estava tentando despistar o grandalhão que está ali parado na porta me impedindo de sair.

— E você iria? — Jungkook esboçou um sorriso curioso quando ele o encarou.

— Lógico que não.

Sem mais delongas, Jungkook deslizou uma imagem para perto dele, observando como ele reagiu à pessoa da fotografia.

— Olhe para a imagem. — Taehyung olhou para baixo com um pouco de dificuldade. — Diga-me o que sente quando olha para uma foto de seu amigo?

Taehyung engoliu as palavras. Quanto mais elas eram forçadas a saírem, mais distante elas ficavam de sua garganta. A expressão do menino ficou angustiada, seus olhos começaram a arder de repente e ele tentou controlar a chegada das lágrimas.

Jungkook pôde perceber o quão desesperado ele tinha ficado por dentro apenas por confiscar os seus olhos. Taehyung parecia ficar vulnerável quando o tópico da conversa era Park Jimin. Portanto, era válido supor que ele não aguentaria mais um minuto olhando para aquela imagem.

Diante disso, o detetive virou a foto de cabeça para baixo, ganhando os olhos do menino em seguida. O olhar dele era uma mistura de preocupação e melancolia, algo que somente ele sabia a razão.

— Suponho que saiba o porquê de estar aqui. Você é amigo de Park Jimin, por isso acredito que tenha informações valiosas que podem nos ajudar. — Taehyung não disse nada. — Quando foi a última vez que conversaram?

Taehyung olhou para o próprio colo, como se estivesse evitando responder.

— É melhor responder a pergunta. — Yoongi alertou-o, sendo ligeiramente fuzilado por um par de olhos curiosos.

— Dois dias antes de ele desaparecer.

— E sobre o que conversaram? Ele demonstrou alguma anormalidade no comportamento?

Jungkook apoiou os cotovelos na mesa, seu gesto pareceu intimidador, apesar de essa não ter sido a sua intenção.

— Antes disso acontecer, ele me perguntou sobre o Amsterdam. Eu morei lá por dois anos, então eu era a melhor pessoa para explicar a ele.

— O que ele quis saber sobre o Amsterdam?

— Como era o lugar e se eu gostava de morar lá. Bem, eu disse que é uma cidade bonita, muito iluminada, com várias casas e pontes charmosas. Contei também sobre a cultura e o clima. A nossa conversa aconteceu naturalmente.

— Você lembra da reação dele? — Jungkook ficou mais instigado a saber. Taehyung esfregou os olhos e suspirou.

— Ele ficou feliz. Na verdade, quando contei sobre a cultura, ele mostrou interesse.

— Ok, e sobre a Hannah? Eles tinham alguma ligação íntima? Namoro? Amizade? — sua voz sugeria outra coisa.

Taehyung pareceu não gostar nem um pouco de ouvir a pergunta.

— Não, eles eram só amigos. A Hannah sempre foi muito próxima do Jimin, mas nada além disso.

Parecendo captar algo no ar, Jungkook, então, disparou:

— Existe algo que queira me falar sobre a Hannah... e você?

Taehyung engoliu.

Subitamente, ele sentiu uma agitação feito redemoinho se contorcer dentro de seu estômago. Sentiu-se incomodado com a pergunta, tanto que seus dedos começaram a grudar pelo suor. Ele olhou de relance para Yoongi, mas ele não devolveu-lhe o olhar, pois anotava algo em sua caderneta.

— Não tínhamos nada. — sua voz vacilou brevemente, o que acabou arrancando um curvilíneo sorriso dos lábios de Jungkook.

— Por que me parece tão nervoso quando pergunto sobre vocês dois?

— Não estou nervoso. — mentiu.

— Sabe alguma coisa sobre o desaparecimento dela? Conseguiu descobriu que ela estava se comunicando com esses homens? — Jungkook perguntou.

Taehyung permaneceu com o rosto rígido, as linhas da mandíbula levemente apertadas. Dessa vez, ele não esboçou qualquer reação que fizesse Jungkook acreditar que era uma prova de cumplicidade.

— Onde ela estava quando Park Jimin desapareceu? — Jungkook disparou outra pergunta, ciente de que essa tentativa estava encurralando-o.

— A Hannah tinha ido embora com a mãe para Boston. Elas voltaram oito meses depois do Jimin ser levado. Quando a Hannah soube, as coisas ficaram péssimas. Ela se alterou, começou a perder o sono e vivia me perguntando se eu sabia de alguma coisa. Mas eu não pude contar, porque a polícia me proibiu de vazar essa história. Então, a Hannah procurou descobrir por conta própria.

— Como ela fez isso?

— Ela conseguiu acessar o notebook do Jimin. Acredito que ela tenha encontrado alguma coisa lá. — ele contou. — Ela não me disse o que encontrou, mas deixou subentendido. Em uma outra noite, a Hannah foi até minha casa e me disse que iria atrás dos homens que pegaram o Jimin. Eu acho que ela estava indo para o aeroporto porque segurava uma mala de viagem. Depois disso, ela começou a dizer que tiraria fotos das pessoas que pegaram o Jimin para levar a polícia. Eu pedi um milhão de vezes para que ela não fizesse isso, mas a Hannah não me ouviu. Ela quis ir atrás do Jimin e sumiu.

— Se ela estava indo apenas para tirar foto dos responsáveis, por que levava uma mala? — Taehyung suspirou, sentindo que as perguntas estavam caminhando para longe de seu alcance.

— Não faço ideia. Eu já disse que ela não me falou o porquê.

— Por que não contou isso à polícia? — Jungkook questionou.

— Eu fiquei com medo, então optei por não contar e esperar que ela voltasse logo.

— Pois bem, ela não voltou. — Jungkook deslocou para fora da poltrona, ciente de que estava começando a perder a paciência. Ele tinha uma ideia em mente, mas precisava colocar em prática. — Precisamos pegar aquele notebook se quisermos descobrir o que realmente aconteceu. Temos de ter esse mandado em mãos urgente. Não podemos demorar mais do que já demoramos.

Ele se movimentou até a mesa e agarrou um molho de chaves. Yoongi olhou para ele de modo incerto e então perguntou:

— O que vai fazer com isso?

— Preciso de alguns equipamentos. E você, Kim Taehyung, já está dispensado.

Dito aquilo, então, Jungkook arrastou os pés para fora da sala, deixando Yoongi imóvel no mesmo lugar. Taehyung o encarou por baixo, percebendo que ele não parava de avaliá-la em silêncio.

— Está tentando ler minhas expressões, detetive? — sua pergunta estava mais para uma afirmação.

— É o que geralmente fazemos.

Ele guardou a caderneta dentro do bolso interno de seu casaco e moveu-se para longe, mas antes que pudesse atravessar a sala, Taehyung bloqueou sua passagem de modo inesperado e descansou a mão esquerda no peito dele. Yoongi olhou para o seu gesto, então voltou a encará-lo.

— O que está fazendo, garoto?

Ele aguardou um breve momento antes de responder.

— Eu percebi que não parava de me observar. — sugeriu ele, analisando os detalhes de seu rosto.

— Eu estava fazendo o meu trabalho. É assim que descobrimos quando alguém tenta nos manipular.

— Então deve saber que não menti sobre tudo o que falei, não é? — Yoongi permaneceu paralisado, sem mover um músculo sequer.

— Onde está tentando chegar?

— Não diga que estava me observando porque é o seu trabalho. Eu conheço um olhar interessado, detetive. — Taehyung observou. — E também sei que gostei de ser notada por você.

— Você me parece muito inteligente para chegar a essa conclusão. Mas, sinto muito em dizer que você está enganado. — disse ele. — Agora, por favor, afaste-se de mim.

— Não estou fazendo nada contra a lei. — Taehyung deu um passo à frente, ficando cara a cara com o detetive. — Se eu estou enganado, diga em voz alta que você não está arrepiado com a minha proximidade.

Yoongi engoliu em seco, mas tentou se manter totalmente inabalável diante daquela situação. Ele não havia sentido nada a princípio, mas agora era possível perceber a presença de um choque diferente quando sentiu Taehyung um pouco mais próximo de seu corpo. Claro que Yoongi não seria idiota de confirmar a suposição dele, por isso preferiu dar o benefício da dúvida. Guardar para si mesmo era menos pior do que assumir descaradamente.

Depois de um longo momento em silêncio, Yoongi recuperou a compostura e manteve o foco na ideia inicial de afastá-lo. Aquela informalidade estava começando a se tornar perigosa.

— Por favor, saia da minha frente. Preciso continuar o meu trabalho. — o menino mordeu o lábio inferior na interferência de um sorriso.

— Claro, detetive. Você sabe o meu nome. — ele agarrou a gravata do policial e o puxou lentamente para perto, deixando-o a centímetros de distância de seu rosto. — E também sabe o meu endereço.

Yoongi fez um esforço enorme para garantir que sua expressão continuasse séria. Todavia, quando Taehyung não se deu ao trabalho de conter um sorriso ardiloso, ele deixou de lado a posição hostil e suspirou pesadamente. Ali, portanto, havia deixado transparecer o seu nervosismo e não existia nada que pudesse esconder sua cara nesse momento.

✮✮✮

Jungkook bateu a porta do carro e começou a caminhar na direção da residência da Sra. Park. Um grupo de policiais permaneceu dentro da viatura enquanto Jungkook e Yoongi seguiam para dentro. Eles subiram os degraus da varanda e pararam diante da porta. Com apenas algumas batidas, a mulher abriu. Hyeri enrugou a testa com a presença deles, sua expressão oscilou de repente.

— Bom dia, Sra. Park. — disse Jungkook, sua voz soava tão mordaz, como se estivesse guardando uma promessa ardilosa. — Eu trouxe o mandado para vasculhar o quarto de seu filho. Temos essa permissão em mãos, e caso tente nos impedir, terá de resolver diretamente com a justiça.

— Mas-

Antes que ela pudesse se defender, o detetive mergulhou para dentro da casa de forma abrupta, fazendo-a sobressaltar para trás, sem saber como interceder. Eles inspecionaram o local à procura de algo.

— Poderia nos dizer onde fica o quarto de seu filho?

— Vocês não têm esse direito! — ela retrucou, completamente aflita pela forma como sua casa fora invadida.

— Se não quiser nos dizer, tudo bem! Eu mesmo procuro. Com licença. — Hyeri arregalou os olhos com aquilo. — Yoongi, me acompanhe até o andar de cima.

Seu parceiro acenou e então eles foram para as escadas, ignorando completamente os resmungos de Hyeri às suas costas. Ela implorou para que eles não invadissem o quarto de seu filho, este que se encontrava da mesma forma como Jimin deixou antes de ser levado.

Não se importando com a semiescuridão do corredor, Jungkook empurrou a primeira porta que encontrou. Ele deu de cara com um depósito, então decidiu avançar para outra porta. Forçou-a, e embora estivesse trancada, a trava cedeu.

— Por favor! — implorou Hyeri. — É o quarto do meu filho, não mexa em nada!

— Acho melhor se afastar, Sra. Park. Este é o nosso trabalho. — ele impediu-na de entrar no cômodo com um ligeiro gesto de mão, deixando-a boquiaberta.

Hyeri espremeu os ossos da mandíbula quando o observou andar pelo quarto, pesquisando visualmente cada ângulo. Ela não queria que ele e nem ninguém se atrevesse a vasculhar as coisas de seu filho. Eram coisas pessoais que somente o seu menino tinha acesso. Durante todo esse tempo, nem ela mesma havia tocado em seus pertences.

— Sra. Park, saia daqui, por favor. Eu não quero ter de falar de novo. — Jungkook agravou a voz quando se deu conta que ainda estava sendo observado por ela à distância. A mulher se retirou às pressas, furiosa, sem ao menos contestar.

O cômodo tinha um cheiro doce, semelhante a baunilha. As paredes eram pintadas de um cinza pálido, havia algumas pequenas fotos enfeitando a silhueta da cama, assim como um minúsculo baú sobre a cabeceira. Tudo aparentava estar em perfeita ordem, sem uma única partícula de poeira nos móveis.

Com apenas um aceno, Jungkook chamou Yoongi para se aproximar. Ele se dirigiu até uma prateleira com livros e pegou um aleatoriamente, pulando as páginas em sequência. Yoongi pesquisou minuciosamente sobre a cabeceira, esperando encontrar algo de grande valia para o caso, mas não obteve resultado.

O olhar de Jungkook deslizou para o guarda-roupa, onde inúmeras peças de roupas estavam alinhadas e organizadas por cores. Ali, portanto, ele visualizou uma caixa de porte mediano. Havia outras caixas por baixo daquela, mas aquela em específico atraiu a atenção do detetive, justamente por ser a única de cor escura.

Então, Jungkook agachou e pegou o objeto entre as mãos, percebendo que o fundo estava parcialmente pesado, o que significava que não estava vazio. Quando ele abriu a caixa, encontrou um punhado de polaroides. Eram fotos do menino em zoológicos, parque aquático, praias, restaurantes etc. Seu rosto parecia tão angelical, indicando a sua pouca idade. Jungkook não podia acreditar que o ser humano podia chegar a esse ponto, especialmente com adolescentes.

— Jungkook — Yoongi o chamou pela lateral, atraindo os olhos dele por cima do ombro. — Encontrei isso. Acho que vai ser de grande importância.

Jungkook avaliou o que ele tinha em mãos. Era uma espécie de cartão com um nome e um endereço.

— Coloque dentro do saco de evidências.

Yoongi balançou a cabeça e então se afastou. Com um olhar atento, Jungkook começou a vasculhar em outras direções. Não queria perder de vista qualquer coisa que considerasse importante para a investigação. No entanto, o que ele mais desejava encontrar agora tinha evaporado de seu alcance como fumaça. O notebook não estava lá, ao menos era isso que Jungkook achava.

Subitamente, seu pensamento começou a trabalhar em construir ideias para esconderijos de notebooks. Se havia algo secreto nele, certamente estava em um lugar sigiloso e totalmente livre dos olhos alheios.

Desse modo, Jungkook inspecionou o quarto novamente, como se estivesse atrás de algo para além daquelas paredes. De repente, ele visou a pontinha do computador bem acomodado entre uma capa escura na parte inferior do guarda-roupa. Ele deu um pequeno sorriso de sucesso e pegou o aparelho do chão. Se tudo o que ele precisasse saber estivesse dentro daquele notebook, então o caso começaria a dar os primeiros passos.

Com isso, Jungkook fez um gesto para Yoongi e eles saíram pela porta, cientes de que tinham muita tarefa pela frente.

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