⍟ forty eight

O sino acima da porta retiniu quando Jungkook a empurrou para dentro, explorando do espaço a sua frente. Um chão de madeira se estendia abaixo de suas botas e luzes brilhavam com um tom flavescente em volta. A estrutura interior tinha uma cúpula de arquitetura romântica e uma escadaria que fazia uma súbita lembrança da noite com Jimin renascer.

O detetive levou um momento para obrigar seus pés a iniciarem a caminhada até o recepcionista e foi recebido pelo olhar dele à distância. Seus olhos não pareciam nada espantados, estavam apenas agradavelmente surpresos. Um sorriso de satisfação se ergueu.

– Não posso acreditar no que estou vendo. Você voltou mesmo. – o sujeito disse com animação, ampliando ainda mais seus afiados dentes. – Onde está o seu garoto, meu caro? Posso arrumar um quarto belíssimo para vocês.

– Ele não pôde vir. – houve uma reação de infelicidade por parte do sujeito, mas ele não a demonstrou por muito tempo. – Estou aqui por outro motivo. Envolve o meu trabalho.

O rosto do detetive nada dizia, mas seus olhos ficaram mais sugestivos. O homem reparou no cinto com uma arma pendurada em volta do quadril de Jungkook e uma tensão reforçou seus músculos do rosto.

Ele engoliu em seco diante dessa informação não muito animadora e suspendeu as mãos ao nível do peito.

– Se for a respeito dos duzentos dólares que cobrei, posso devolver agora mesmo. – uma respiração entrecortada escapuliu para fora de seus lábios. – Só não me faça borrar as calças porque elas são novas.

Jungkook deu uma breve risada e encostou-se no balcão, apenas testando para ver se ele reagiria. O homem recuou o tronco e tremeu o queixo.

– Estou aqui para te fazer uma proposta. – o rosto dele estava cuidadosamente sem expressão.

– Proposta?

– Você pode ganhar muito mais do que duzentos dólares. – os olhos do sujeito deram um fraco solavanco. – Estou falando de milhares de dólares. O suficiente para você nunca mais precisar trabalhar.

Ele demorou alguns segundos para respondê-lo, ainda assombrado.

– Minha nossa – sua expressão era totalmente descrente. – o FBI vai me pagar para ajudá-los?

– Queremos a sua cooperação, caso esteja disposto a participar. – o homem ofereceu-lhe um olhar atento e em seguida se desvencilhou do balcão.

– Diga, meu caro, o que há de tão bom em um recepcionista de motel para agradar os olhos do FBI? – ele dobrou o móvel, sua fisionomia estava consumida por uma intensa incredulidade.

– Os meus olhos. – Jungkook o corrigiu. – Acredito que você tem potencial para cumprir a missão que estamos prestes a exercer. Podemos conversar em particular?

Por mais que estivessem sozinhos, Jungkook julgava ser mais congruente um diálogo distante de possíveis ouvidos. Não podia prever quem estava no interior daqueles quartos.

O sujeito deslizou as vistas por ele e encontrou o emblema firme no cós de sua calça, sinalizando o dourado rútilo do símbolo. De repente, ele apontou para uma sala reserva no canto inferior do saguão.

Eles caminharam na direção de uma porta corroída e adentraram. Do lado de dentro havia caixas empilhadas e um cheiro forte de poeira, enquanto o teto era rendilhado por finas teias de aranha nos cantos.

– Não se incomode com a bagunça, eu não limpo esse depósito tem meses. – o homem se explicou nervosamente quando percebeu os olhos do detetive sobre as caixas amontoadas. – Bom, você disse que eu tenho potencial para te ajudar. Do que se trata essa missão? Não que eu esteja com medo, claro, mas não gosto muito da ideia de que podem me matar.

– Você terá proteção máxima do FBI. Tudo o que vai precisar fazer é seguir o plano que vamos te passar.

Jungkook conseguia notar que ele estava se esforçando para refrear o medo em seu rosto para que não fosse lido. Mesmo que demonstrasse interesse pela oferta, ainda existia uma parede que cercava sua decisão.

– Do que se trata essa missão? – o recepcionista quis saber, uma fachada de interesse cortando seus olhos.

– Não posso contar se não estiver de acordo a se arriscar. – o homem pareceu ser pego desprevenido. Jungkook estava perfeitamente controlado, até a última célula de seu corpo. – É uma operação de grande risco, por isso preciso que esteja decidido a colaborar antes de saber qual será o seu papel na missão. Não posso dar as coordenadas sem um acordo.

O efeito sobre o sujeito foi instantaneamente desconcertante, ele esfregou os cabelos e sua testa ficou enrugada em consideração. Apesar de não ter tanta certeza de querer fazer aquilo, a oportunidade parecia útil e imprescindível.

– Tudo bem, aceito sua proposta. – ele disse depois de engolir duro e se empertigar. – Eu sempre quis fazer parte do FBI mesmo. Vai ser divertido.

A protuberância de seus caninos afiados brilhou em interesse, embora seu gesto cortasse um pouco para o nervosismo.

– Bom, diversão é algo que está longe de acontecer nessa missão. Não se empolgue. – o detetive esclareceu.

Uma sinfonia inteira de preocupação se passou por trás do rosto do homem e um filete translúcido de suor deslizou ao longo de sua mandíbula. Jungkook pareceu captar perfeitamente o impacto de suas palavras, então decidiu reformá-las.

– Precisa ter em mente que estará diante de um caso real. Seu papel será fundamental na vida desses adolescentes.

– Adolescentes?

– Tráfico humano. – em choque e sem palavras, o homem só conseguia fitá-lo. – Você irá comprar algumas garotas. Eles vão te passar a localização e nós vamos combinar a operação. Por isso é tão importante a sua consciência diante do que está prestes a enfrentar.

O homem estava o encarando com um olhar que misturava confusão e um crescente rancor. Ele tombou para o lado e caiu sentado numa cadeira velha de metal.

– Eles pegam garotinhas para vender? – perguntou ele depois de uma pausa criteriosa. Ainda em silêncio, Jungkook acenou. – Eu nem consigo acreditar que isso existe, pensei que só acontecessem em filmes. Meu Deus, eles são tão covardes.

Havia uma falta de fôlego oculta na voz do homem, sua fisionomia estava aborrecida sob a luz desbotada do depósito, e por um instante Jungkook pensou que podia ver o suor brilhando em suas têmporas, na base de sua garganta. O investigador reduziu o tom de voz para lhe dirigir as palavras seguintes.

– Por isso precisamos da sua colaboração. – o sujeito lançou-lhe um olhar esforçado. – Queremos que se passe por comprador e consiga ao menos salvar a vida de uma ou duas adolescentes.

– M-Mas como eu vou fazer isso? – ele recobrou seu equilíbrio e voltou a ficar em pé. – Não tenho cara de gente rica, muito menos de traficante. Eles vão meter a bala em mim assim que me ver.

– O disfarce não está na sua cara, está na sua postura. – os lábios do homem se repartiram em surpresa. – O FBI vai disponibilizar todo o disfarce. Roupas, acessórios, dinheiro e telefones, o resto é com você.

– Então, eu só vou ter que comprar alguma menina e meter o pé de lá na mesma hora, é isso? – sua pergunta guardava uma faixa espinhosa de nervosismo.

Jungkook conseguia sentir o cheiro de medo emanar dele e mesmo assim estava convicto de que ele executaria o plano com sucesso. Seu instinto podia ser arriscado, mas nunca o decepcionava.

– Exatamente. – confirmou. – Vamos te dar as coordenadas quando estivermos no prédio do FBI. Lá você vai saber de todos os detalhes e precisará assinar um documento de autorização, indicando que está de acordo com a proposta e ciente dos riscos.

– Por acaso contém alguma coisa nesse documento que diz que o falecido vai receber o pagamento? – o rosto a sua frente, pontilhado com olhos negros, o fitou com ceticismo. – Não que eu esteja dizendo que vou morrer, mas se eu morrer o que acontece com o dinheiro que devia ser meu?

– Está tudo documentado. Você irá ler e se estiver de acordo vai assinar. – a tensão no rosto do homem tornou-se mais sobrecarregada. – Escute, dou minha palavra que você ficará protegido o tempo todo, eu seria estúpido se colocasse alguém despreparado em risco sem tomar as precauções necessárias.

– Isso parece mais confortável levando em consideração que eu vou estar no meio de uma alcateia de lobos.

– Se ainda tiver dúvidas, tem tempo de desistir. – ele o lembrou pacientemente.

Havia uma consideração sutil na expressão do homem. Ele sabia que devia se sentir triunfante por ajudar o departamento de investigação, mas o pânico de estar no meio de uma organização criminosa tinha expandido para cercá-lo.

Entretanto, ele pensou na sua família, lembrou-se do semblante cândido de seus filhos e da inocência de suas brincadeiras. Por um momento, ele se colocou no lugar dos pais das vítimas e sentiu-se arruinado. A dor de perder um filho era esmagadora, mas a dor de perdê-lo para a prostituição infantil parecia ainda mais pungente.

– Eu aceito. – ele finalmente disse, luzindo o olhar para o rosto do detetive.

Pela primeira vez naquele diálogo, Jungkook não tinha ouvido uma falha na fachada de sua voz temerosa. Ele parecia estável e inegavelmente determinado.

– Vou te levar ao prédio para dar início a operação. – Jungkook falou num tom medido e pôde ouvir uma respiração controlada partindo do outro. – Mas antes preciso saber o seu nome.

– Oliver. Pode me chamar de Oliver. – Jungkook sorriu gentilmente e pegou sua mão.

– Será recompensado por isso, Oliver. O FBI vai registrar a sua participação e dará os devidos créditos a você. – o recepcionista deu um largo sorriso radiante e abanou a mão dele em saudação. – Mas eu gostaria de te pedir uma coisa antes.

– Me pedir uma coisa? – seu sorriso foi despedaçado ao meio e sua boca ficou secamente entreaberta.

– Eu ficaria grato se você não comentasse com ninguém sobre a noite que eu dormi aqui... com o garoto. – Oliver esticou os lábios num sorriso matreiro e fez uma cara sacana.

– Eles não sabem que vocês se pegam, não é? Danadinho. – sua voz forte ondulou ligeiramente enquanto parecia entender a súbita expressão desconfortável no rosto do investigador. – Mas não se preocupe, meu caro, minha boca é um túmulo. Ninguém vai saber que vocês transaram.

– Nós não transamos. – ele fez um barulho quase engasgado, mas estava mais próximo de desagrado. – E isso também não é da sua conta se quer saber.

Oliver sabia que ele não estava verdadeiramente irritado, o fulgir de indignação em seus olhos talvez fosse um disfarce para a sua moralidade contida, mas ele não levou isso adiante.

– Olha, eu estou vendo que você precisa transar, meu caro. Minha esposa costuma dizer que o estresse é muito tesão acumulado. – Jungkook o encarou fundo, seu rosto estava cautelosamente interrogativo, mas não assustado.

– Está pronto para ir? – perguntou, mudando abruptamente de assunto. Oliver demorou a responder, mas acenou com a cabeça. – Ótimo, vamos para o carro.

Com um irromper final, Jungkook traçou o caminho de volta para o saguão. O homem se juntou a ele em silêncio segundos depois, buscando desajeitadamente por suas chaves na bancada. O sino ecoou quando o detetive se empurrou para fora, sendo atingido por uma forte rajada.

Seus cabelos negros dançaram pelo ar e suas mãos foram instintivamente inseridas nos bolsos do casaco. Jungkook levou um tempo enquanto o aguardava pôr a placa de fechado e aferrolhava a tranca do lado externo.

Quando eles estavam prestes a alcançar a maçaneta do carro, os olhos de Oliver ficaram subitamente confusos. Jungkook parou ao percebê-lo embaraçado e olhou na mesma direção que ele, dando de cara com dois homens do outro lado da calçada.

A corrente de ar trouxe um conjunto de vozes tempestuosas que pareciam discutir seriamente. Não dava para ver a quem pertencia, mas o ruído de uma delas entoava de modo familiar.

– O que está rolando? – perguntou Oliver, referindo-se a cena que estava assistindo.

Jungkook forçou a visão para longe e muito lentamente a fisionomia do rapaz menor tomou forma. Era Nolan. Ele foi puxado pelo braço por um marmanjo corpulento e barbudo, mal conseguindo se mover. O detetive semicerrou os olhos diante do episódio e não gostou muito do que viu.

– Me espere no carro, não demoro.

Após a sua deixa, o investigador rolou na direção deles, seus olhos estavam fixos à frente. Ele tinha se convencido a ficar longe de Nolan, mas não podia deixar uma cena dessa passar em branco, pelo menos não para o seu lado policial.

Ele foi se aproximando, as vozes estavam ficando mais agudas, tornando-se possível absorver partes do que eles conversavam. Ou melhor, discutiam.

– Eu estou cansado desse joguinho, garoto. – o homem forte cuspiu de modo seco.

– O que está rolando aqui? – Jungkook perguntou no meio de uma violenta lufada de ar que se passou.

Nolan se virou, assombrado, seus exorbitantes olhos verdes o varreram como um holofote de inspeção. Havia alguma coisa na presença de Jungkook que o fez congelar no lugar. O marmanjo mais alto o encarou da cabeça aos pés e uma risada açoitou contra seus dentes.

– Quem é você, idiota? Se manca. – ele apertou ainda mais o braço do rapaz, como se desejasse mostrar sua dominância. Nolan gemeu de dor.

Jungkook deu um passo despreocupado para perto, depois deslizou a barra do casaco para o lado, fazendo o brilho do emblema piscar no seu cinto. Houve uma perceptível pausa e uma reação avessa por parte do cara alto.

– Ainda quer que eu diga quem sou? – ele disparou, imperturbável.

O marmanjo pareceu hesitar em silêncio, removendo lentamente sua mão do rapaz. Nolan recobrou a compostura, recuando em largas pegadas, e sentiu um buraco oco no estômago quando o sujeito o fitou com seus olhos como punhais castanhos, não muito contente com aquela situação.

– É melhor você ir. – o detetive ordenou, sua expressão instantaneamente obscura. – Eu não gosto de ter que repetir.

Os lábios do homem se espremeram numa fina linha, enraivecido, em seguida ele fez seu caminho de volta pela calçada, mas antes deixou uma mensagem silenciosa pelo ar, como se um ácido invisível estivesse expulsando as sílabas de sua boca.

Isso ainda não acabou. Suas palavras diziam.

Nolan estremeceu duas vezes, ele ainda parecia atordoado mesmo quando o sujeito partiu entre a turbulenta ventania. Seu rosto caiu para o seu braço, onde o homem o tinha agarrado grotescamente.

– Ele te machucou? – Jungkook perguntou gentilmente.

– Um pouco, mas logo passa. – ele mal podia ouvir a própria voz devido ao vento. – Obrigado por aparecer.

– É o meu trabalho. – retrucou. – Se cuida, Nolan.

No instante em que Jungkook ameaçou partir, ele sentiu uma mão macia e relutante segurar seu antebraço e o impedir de continuar. Seu olhar escorregou abaixo, para o gesto dele, e o encarou.

– Me desculpe por aquele dia que eu invadi seu quarto. – redimiu-se com um olhar de incrédulo arrependimento. – Eu não devia ter agido daquele jeito. Reconheço que fui estúpido.

– São águas passadas.

– Não para mim. – disse. – Eu cansei de fazer tanta besteira, cansei de te afastar de mim. Se tiver alguma coisa que eu possa fazer para você me perdoar, eu faço.

– Esqueça isso. – ele suspirou e puxou seu braço lentamente. – Volte para casa e siga sua vida.

– Não posso. – Nolan se enfiou na frente dele quando o viu driblar o caminho de volta. – Não estou mais naquele apartamento e minha bolsa de estudo foi cortada. Eu estou sem rumo, Jungkook.

Suas duas ondas verdes estavam avermelhadas pelas lágrimas, o fascinante brilho de seus olhos tinha sido destruído pela estrangulante preocupação. Jungkook podia ouvir o arranhar da respiração dele e até mesmo presumir a força das batidas de seu coração.

– Onde você está dormindo? – sua voz estava inabalável. Nolan piscou um par de vezes.

– Na casa de um colega, mas não por muito tempo.

– Diga onde fica e eu te dou uma carona. – o rosto do rapaz pareceu legivelmente ansioso.

– Gastown. É um bairro aqui perto. – a expressão no semblante do detetive indicava que ele conhecia o lugar.

Com um suave gesto, Jungkook o convidou para o SUV. Ele se virou ligeiramente em direção ao carro e atravessou a neblina esfumaçante, seu leve aroma veio como um toque de dedos e por um momento Nolan sentiu-se cheio de saudade.

Acompanhando-o, o rapaz cruzou transversalmente pela estrada e alcançou o carro. Jungkook indicou o banco do passageiro e ele rolou para dentro segundos depois. Logo o detetive entrou pelo lado do motorista.

Oliver, imóvel e parcialmente curioso, rodopiou a cabeça por cima do ombro e exibiu seus brilhantes dentes para o rapaz.

– Olá, meu jovem, está tudo bem? – Nolan pareceu brevemente caótico com a presença dele.

– Estou. – suas sobrancelhas ainda eram duas faixas curvadas. – O que está fazendo aqui?

– Sem conversas paralelas. – Jungkook interviu.

O motor do carro roncou e os pneus cantaram pela pista, tomando um trajeto no sentido oeste. Jungkook aterrissou os olhos em Nolan pelo espelho retrovisor e o observou conferindo a região do braço onde o marmanjo apertou.

– Quem é ele? – ao som de sua voz, Nolan o encarou de volta.

– Meu ex. – respondeu. – Ele estava na França e apareceu hoje dizendo que queria um encontro para reatarmos. Eu neguei, então ele me seguiu até aqui.

O vazio de sua expressão cedeu e ele olhou para longe antes que Jungkook pudesse ler seu sofrimento. Oliver estava olhando para além do vidro, mas o detetive sabia que a maior parte de seus sentidos estava concentrada na conversa.

– Você se envolve muito com pessoas problemáticas. Tome cuidado. – Jungkook comentou.

– Você não é problemático.

Nolan o tinha dado um longo olhar de pura atenção, como se aguardasse uma reação que não se enquadrou às suas expectativas. Jungkook o ignorou, mas no fundo ele estava irritantemente incomodado com a menção.

– Esqueça isso. – disse o detetive.

– Você teria que me matar para isso acontecer. – Nolan sorriu sem humor.

Uma terrível lentidão do tempo se esticou entre eles. Oliver olhou de esguelha para ambos com uma lenta fascinação, era como assistir um espetáculo de camarote. Não precisava ser tão especialista para saber que a tensão boiava sobre eles.

– Te deixo próximo do Tacofino. – Jungkook interrompeu o assunto, seu olhar ainda estava concentrado para além do para-brisa.

Nolan correu o olhar para ele quase como se não o conhecesse, vendo sua fisionomia completamente vazia. Uma densa camada de saliva se elevou na sua garganta como facas afiadas, era como receber uma punhalada no coração.

Então, ele somente acenou e murmurou em concordância, não tinha motivos para prolongar uma conversa indesejada. Nolan recostou-se no banco, não parecia certo fazer comentários quando se tinha uma terceira pessoa ao lado deles.

Jungkook localizou o controle dos limpadores quando uma fina chuva incitou contra o vidro. Cinco minutos depois, ele acelerou o SUV dentro de uma rua de comércios e desacelerou quando passou por uma encruzilhada.

Havia um parque à distância com silhuetas correndo para se proteger da chuva. Na calçada à frente, uma coluna horizontal de estabelecimentos recolhia clientes em suas locomoções.

O detetive afundou o pé no freio quando o carro alcançou o Tacofino. Tijolos antigos estavam incrustados na fachada do bar e quatro imensas janelas embutidas revelavam a presença de poucos clientes perambulando pelo interior. Jungkook conseguia ver o reflexo do carro através da porta dupla de vidro.

Finalmente ele olhou diretamente para Nolan e apontou para o bar.

– Chegamos. – disse.

O rapaz retribuiu seu olhar de um jeito desamparado, como se no fundo relutasse para sair. Ele regulou-se rapidamente e limpou a garganta, rolando para fora do carro segundos depois. Jungkook girou a chave na ignição posteriormente, fazendo o motor rosnar, mas logo foi distraído por uma sombra que se colocou na janela lateral.

– Obrigado pela carona. – Nolan disse, suas pálpebras piscaram duas vezes pela chuva.

Jungkook o assistiu arrancar algo do bolso e muito ligeiramente fechar a distância entre eles. Era um pedaço de papel.

– Fique com isso, caso queira conversar comigo. – sua mão passou pela janela e o entregou um número escrito a lápis, em seguida ele recuou para trás. O investigador leu rapidamente e o encarou com olhos interrogativos. – Eu vou embora para os Estados Unidos semana que vem. Espero que possamos nos encontrar qualquer dia.

Aquela informação pareceu desagradável para Jungkook por um momento. No final, ele só fingiu desinteresse e respondeu:

– Se cuida, Nolan.

Foi tudo o que ele disse instantes antes de pisar no pedal e fazer o SUV guinchar em movimento. Suas mãos se apertaram em volta do volante, formando dobras brancas ao redor dos dedos, e seus olhos checaram o espelho retrovisor para vê-lo uma última vez. Nolan ainda estava parado no mesmo lugar, sua silhueta foi sendo engolida pela névoa até desaparecer.

O papel em sua mão foi esmagado e arremessado para fora da janela. Jungkook não sentia raiva de Nolan, sobretudo, preferia deixá-lo apenas como uma aventura do seu passado. Apesar da satisfação que teve na noite que dormiram juntos, às vezes ele cogitava a escolha que fez sobre ter aceitado aquela noite de sexo.

– O jovem está apaixonado. – comentou Oliver, sorrindo. Jungkook havia esquecido dele por um segundo. – É, meu caro, você está fodido.

Um suspiro quase inaudível escapou dos lábios do detetive como uma seca nuvem de ar e sua cabeça se agitou para os lados. Ele ainda estava olhando através do para-brisa quando tomou as palavras à sua garganta.

– Me perdoe, eu não podia prever que o encontraria. – o homem fez um gesto de rejeição e riu.

– Não se preocupe, rapaz, eu não dou importância para essas coisas. – Jungkook retribuiu seu sorriso gentil e checou o tráfego antes de seguir para a estrada de acesso ao prédio. – Mas, diga-me, vocês tiveram um caso?

– Sim. – Oliver abriu um sorrisão.

– Parece que ele está doidinho para repetir a dose. – o investigador o enfrentou nos olhos. – Digo, com todo respeito ao seu garoto de cabelo de algodão-doce, claro.

Jungkook riu e pisou no acelerador. Os faróis do carro penetraram uma densa neblina esfumaçante, iluminando a pista com flocos rasos enquanto eles cortavam pela rodovia. Matos se erguiam nas suas laterais e se apresentavam como vultos pelo canto de seus olhos. O cume das árvores estava forrado por neve e a faixa preta sob os pneus era um deslize branco.

Ele aproveitou a ausência de automóveis e despachou o carro pelas sombras da estrada, logo aumentando a velocidade. Talvez estivesse um pouco surpreso pela quietude de Oliver, afinal de contas, ele não era do tipo que ficava calado por muito tempo.

Dez minutos mais tarde o pilar do prédio começou a apontar a quilômetros de distância. Seu cume estava sendo cortado por uma imensa nuvem baixa e um traçado sinal flutuante vinha do céu. Jungkook ladrilhou pelo cruzamento, mantendo seus olhos na direção do portão robusto que se aproximava.

Ele fez o mesmo procedimento de acesso e introduziu o SUV em sentido ao estacionamento. O automóvel morreu numa vaga desviada, Jungkook arrancou o cinto e abandonou o banco do motorista. Oliver calcou para fora e se empertigou, virando-se para olhar ao redor.

– Lembra do acordo? – o detetive perguntou.

– Perfeitamente, meu jovem. – ele fabricou um sorriso, mas seu estômago azedou-se.

Jungkook deu a volta pela traseira do carro e escapuliu para dentro do elevador com espelhos de vidro fosco em cada parede. Segundos antes da porta se fechar, ele apertou o botão para o terceiro andar e as engrenagens rangeram em movimento. Ao seu lado, o homem estava com os lábios comprimidos em uma linha lívida como se os impedissem de suspirar em preocupação.

– Está preocupado? – Jungkook indagou para ter certeza.

O homem deu a ele um lastimável meio sorriso e uma braçada de ombros.

– Pela ideia de que eu posso morrer, sim. – respondeu. – Mas se eu estou aqui é porque confio no trabalho do FBI.

O investigador não duvidava da confiança dele, mas conseguia ver nos seus olhos que a principal fonte motivadora era o pagamento. Obviamente, ele tinha uma tendência mórbida a cobiçar pela oferta final.

O elevador estremeceu quando parou, as portas correram e eles abandonaram a máquina. O olhar deslumbrado de Oliver se lançou em torno da enorme sala à medida que avaliava a estrutura tecnológica. Haviam homens apinhados próximos de um painel digital e escrivaninhas dispersas pelos cantos.

As paredes eram incrustadas com números binários e mármore adornado deslizava ao longo do teto sinuoso. No centro da sala tinha um móvel esticado e retangular que apoiava uma sequência de notebooks, cada funcionário estava sentado em seu respectivo lugar com aparelhos no ouvido. Um espaço vazio formava uma esfera no meio da mobília.

– Meu Deus – o homem estava perplexo. – Esse lugar parece um campo tecnológico.

– Essa é a área de alta tecnologia. Aqui é o cérebro do prédio. – Jungkook explicou, o convidando a acompanhá-lo.

Um calafrio andou pelo corpo do homem quando suas vistas encontraram um enquadramento de possíveis culpados, linhas vermelhas ligavam uma circunstância à outra, formando uma teia de hipóteses. Ele sentia-se fascinado com o trabalho dos federais e mal podia acreditar que foi solicitado a participar.

Jungkook empurrou as portas de uma sala nos confins do saguão e foi recebido por três pares de olhos previstos. Oliver ficou imóvel por um momento atrás do detetive, surpreendentemente curioso com os equipamentos de radiocomunicação.

– Este é o Oliver. – o apresentou, dando espaço para que ele pudesse ser visto.

O homem fitou os três rostos e sorriu nervosamente. Só estavam a alguns metros de distância, o suficiente para uma boa observação absorver seu amedrontamento.

– Seja bem-vindo, Oliver. – Seokjin foi o primeiro a falar, gentilmente. – Sou o diretor do departamento e estamos gratos por ter aceitado a nossa proposta.

O recepcionista ficou em silêncio por um instante, seu coração tinha se contraído com toda aquela formalidade. Em seguida, um sorriso enorme esticou seus lábios e ele agarrou a mão de Seokjin, os olhos dourados quase incrédulos.

– Eu não posso acreditar que fui chamado pelo FBI. Parece coisa de filme. – ele firmou o aperto de suas mãos e depois o soltou. – Sem ofensa, senhor diretor, mas no início eu fiquei meio encabulado com essa oferta. Afinal, sou só um recepcionista de um motel, o que o FBI poderia querer comigo?

– Motel? – Yoongi perguntou, seu olhar interrogativo deu um nó no estômago de Jungkook.

O homem sacudiu a cabeça freneticamente, mostrando-se honrado com seu emprego. Jungkook não requisitou imediatamente que ele calasse a boca porque tornaria tudo mais suspeito, portanto, ele se ajustou para dentro da sala ao fechar a porta e checou um documento sobre a mesa.

– Esse é o contrato do acordo? – perguntou o detetive durante a sua tentativa de fugir do assunto.

Yoongi o fitou com olhos ligeiramente estreitados, sua boca estava ajustada em uma linha. Jungkook aguardou que ele adicionasse algum comentário à sua interrupção, mas ele não o fez, somente respondeu o seu questionamento.

– Sim.

– O detetive Yoongi vai sobrepor o seu cadastro do sistema com um falso registro. – Seokjin interveio, falando diretamente para o participante. – Ele vai te fazer algumas perguntas para não ocorrer nenhum erro durante a operação. Mas antes, você precisa assinar o documento concordando com os termos. Sente-se aqui para ler.

O diretor pegou uma cadeira próxima e Oliver sentou-se, recebendo a declaração escrita sobre a mesa. Ele apalpou uma caneta e começou a ler as condições. Enquanto isso, Jungkook refez seus passos na direção de um móvel com artigos de investigação e tateou o primeiro.

Ele sentiu um corpo se aproximar e uma voz reaparecer no caminho de seu ouvido, ao nível de seu ombro.

– Motel, é? – Jungkook girou ao som baixo da voz de Yoongi. – O que você estava fazendo no motel desse cara? Foi lá que você o conheceu?

Jungkook não tinha certeza da razão, mas os olhos à sua frente, normalmente muito brilhantes e alegres, estavam sombreados.

– Seja lá o que você estiver pensando, está enganado. – refutou.

– E o que eu estou pensando?

– Sério, Yoongi? – sua expressão tinha esmaecido para algo mais superficial. – Isso é realmente importante agora?

– Você nunca me conta as coisas, esse é o problema. Achei que fôssemos mais do que parceiros. – sua voz era forte, sua atitude desapontada.

– Esse não é o melhor momento para falarmos disso. – censurou.

– Para você nunca há um bom momento.

Uma onda de remorso se passou ligeiramente por Jungkook, tão rápido que nem ele mesmo a sentiu. Ele não precisava mencionar, mas Yoongi não estava errado. Eles eram parceiros tal como eram amigos, entretanto, ultimamente a primeira relação estava se sobrepujando.

– Tudo bem, não precisa dizer mais nada. – havia desgosto no seu rosto. Jungkook se amaldiçoou. – Chega desse assunto.

– Yoongi – Seokjin os interrompeu. – Ele está terminando de assinar o documento. Recolha a digital dele e registre a retina, vamos precisar de um perfil perfeito para o mercado clandestino. Quando tudo estiver pronto, nós vamos explicar ao Oliver como vai funcionar.

Ele somente acenou e se apressou na direção do homem sentado, sem sequer olhar para Jungkook. Ele meio que esperava ver Seokjin rebater com uma pergunta curiosa, mas tudo o que ele disse passou longe de seus pensamentos.

– Eu não gosto de ser pessimista, mas você acredita mesmo que ele vai se adequar ao disfarce? – Jungkook atirou as vistas para o sujeito, o vendo desesperadamente passar a mão no rosto quando Yoongi o levou para um computador implementado com leitores biométricos e aparelhos de captação de retinas.

– Vamos ter que guiá-lo. – ele parecia legivelmente calmo, mas seus pensamentos corriam espessos. – Eu disse a ele que vamos protegê-lo, não quero falhar como falhei com o Andrew.

– Dessa vez você terá uma equipe ao seu lado. – Jungkook deu um suspiro seco. – A ideia que você teve é muito inteligente, estou confiante de que vai dar certo.

– Se nada sair dos trilhos. – ele acrescentou.

– Pensei que estivesse confiante.

– Eu estaria mais confiante se fosse um de nós. – esclareceu meio desconfortável. – Ele se disponibilizou a fazer, mas ainda é alguém sem treinamento.

Seokjin viu uma distraída e terrível preocupação arder na fisionomia dele, tão vaga que se ele não o conhecesse bem diria que Jungkook estava eficientemente preparado. E ele estava. Ainda que houvesse uma inquietude a respeito da responsabilidade que teria.

Ele sorriu abruptamente para Jungkook, um sorriso horrorizado de culpa, como se dissesse em silêncio que suas experiências com pessoas despreparadas em operações eram muitas. Seus encaradores olhos pareciam sedas quando o fitou.

– Onde está o garoto? – o diretor perguntou despreocupado, sentindo-se aliviado por mudar de assunto.

Uma avalanche de imagens se elevou perante os olhos de Jungkook. Ele se agarrou a recordação do beijo, dos pequenos dedos deslizando ao longo de sua tatuagem, do rosto suave e quente se esticando em pedido de um beijo no pescoço. A cena o pegou num sobressalto e ele abanou as lembranças para longe.

– Eu o deixei dormindo. – finalmente respondeu, vendo seu chefe abrir um sorriso simpático.

– Vejo que ele está se recuperando.

– Ele não está como antes, mas desenvolveu um trauma. Vai demorar um pouco até que esteja ótimo em todos os pontos. – Seokjin pareceu lamentar, mas ainda estava com seu jeito professoral.

– Eles o quebraram, Jungkook, e você está o ajudando a se reconstruir. – ele disse e sua mão desceu ao longo do ombro dele. – Ninguém aqui dentro seria tão bom quanto você nesse papel.

Houve um barulho pela lateral e de repente Seokmin mediu os passos para perto deles, atraindo ambos os olhares. Uma maleta preta descansava entre suas mãos.

– A maleta está pronta. – disse. – O rastreador já foi implantado.

Houve uma súbita troca de olhares entre Jungkook e Seokjin.

– Muito bem, só precisamos fazer a ligação e aguardar o preço deles. – acrescentou o diretor.

– Coloque a mala na mesa, vou verificar se o rastreador ficou bem encaixado. – Jungkook articulou, seu tom assumiu a energia de uma frieza pouco explorada.

O agente da CIA posicionou a maleta na mesa e se esquivou do alcance de Jungkook. Ele se aproximou com olhos insondáveis e escuros, agarrou o detector e depois o derrapou por cima do couro. O aparelho não emitiu qualquer som a princípio. Ele triscou o movimento do objeto acima da alça e o ruído disparou.

– Vamos torcer para que o detector deles não passe próximo da mala. – Seokjin deliberou.

– Eles estão mais preocupados se há uma escuta no comprador do que no objeto que ele carrega. – Jungkook opinou, ainda explorando a mala.

– A equipe demorou quarenta minutos para embutir. – a voz de Seokmin veio do seu lado esquerdo. – É impossível camuflar o mecanismo e impedir que seja demodulado. O máximo que temos que fazer é torcer para que eles não desconfiem.

Jungkook ponderou em silêncio, seus lábios estavam repartidos pela ponta da língua. Uma ideia sibilou em sua mente e de repente ele abraçou a alça da maleta com sua mão e beirou o metal do aparelho na mesma direção de antes. Dessa vez não houve qualquer sinal, era como se não houvesse nada além do ar.

– A mão dele vai estar abafando o rastreador. Isso talvez ajude para que eles não vejam. – ele continuou logo após confirmar sua suposição.

Sua voz soou surpreendentemente normal, o bastante para confundi-la com uma tranquilidade recém-descoberta. Seokjin não estava totalmente certo de que seria fácil enganá-los, mas sabia que o minúsculo aparelho estava bem protegido.

– Está tudo pronto. – Yoongi anunciou, ele estava retornando com Oliver. Jungkook endireitou os ombros e lançou um olhar para eles. – Deem boas-vindas para Osman, um proprietário turco com fama de namorar mulheres jovens.

– Turco?

– Tenho família na Turquia, morei lá por muito tempo. – o homem explicou, o medo em seus olhos esteve escondido nesse momento e a nostalgia era o que fazia seus olhos brilharem.

– É um disfarce forte. – Yoongi emendou. – Aproveitei que ele sabe falar o idioma e coloquei no perfil. Fiz uma troca significativa da digital e ela foi incluída em todos os sistemas clandestinos.

– Parabéns, Yoongi. – Seokjin o elogiou com um sorriso enorme no rosto. – Eu sempre soube que você é bom no que faz. Aliás, organize os aparelhos para a ligação. Temos que nos preparar.

Uma sensação de ferroadas de calor se espalhou pelo corpo de Oliver após seu comunicado. Os nós de seus dedos tornaram-se brancos quando ele apertou suas próprias mãos. O momento se aproximava e saber disso não trazia nenhum conforto.

Yoongi se movimentou na direção de uma máquina com aparelhos telefônicos. Havia diversos números reunidos no equipamento e monitores escuros à frente deles. Uma sequência de cabos rastejava pelo chão, embutidos nos canais.

O detetive chegou mais perto dele cautelosamente enquanto repousava as vistas no manear nervoso de seus dedos. Oliver percebeu e algo pareceu penetrar seus olhos.

– Sabe o que precisa fazer? – Jungkook perguntou.

– Ele me explicou. – seu braço ficou imóvel mesmo quando ele tentou apontar para Yoongi. – Eu preciso dizer um código, não é?

– Sim, é o código que eles usam para identificar negociantes. – o sujeito tomou um profundo fôlego e acenou silenciosamente. – Você vai solicitar duas garotas. O dinheiro que temos não é muito, levaríamos tempo para conseguir o valor desejado em um dia. Eles multiplicam o preço das garotas quando as vendem para terceiros, por isso acredito que a quantia que temos não é suficiente para além de duas vítimas.

Oliver mordeu forte seu lábio, esperando que a dor pudesse tirá-lo do estado de zanga. Ele engoliu a raiva, as palavras de ódio coçando para saltar de sua garganta. Porém, ele se controlou e focou no plano.

– Para alguém tagarela, você está muito calado. – Jungkook tentou tranquilizar a situação, o vendo embrandecer os ombros.

– Ah, meu caro, dessa vez é diferente. Eu sou um pouco falador só quando estão interessados no meu motel. Você sabe, tenho que conquistar os fregueses. – ele sorriu nervosamente em desafio, seus dentes pontudos insinuando algo evidente. Quase instantaneamente Jungkook riu, mas ele acabou ignorando sua investida.

– Vamos.

Ele olhou para frente e deu um tapinha em seu ombro, indicando o caminho às costas dele. Oliver o seguiu na direção da máquina e o viu puxar uma cadeira rotatória para que se sentasse. Ele se posicionou de frente para um dos monitores como uma estátua de mármore, imóvel e terrivelmente silencioso.

– Segure isso. – Yoongi entregou-lhe um par de fones com um microfone e um papel. O homem o instalou nas orelhas, um fio o estava ligando diretamente para o monitor principal, depois fitou a folha em mãos. – Diga o código quando a linha abrir. É uma chave universal, os números são pontos exclusivos de territórios de transação. É onde eles fazem as trocas de garotas e também as recebem.

– Tente manter a voz firme, Oliver. – Jungkook falou ao seu lado, seu tom estava cuidadoso. – Tudo o que você precisa dizer está nesse papel. Nada além disso.

– Está preparado? – foi a vez de Seokjin interferir.

Oliver tinha os olhos pregados nas próprias mãos, se poupando para refletir por um momento sobre sua coragem interna. Quando ele balançou a cabeça em efeito, Jungkook sinalizou para o restante e todos assumiram uma posição compenetrada. Cada um situou um fone no ouvido e sentou-se na cadeira mais próxima.

Yoongi apertou uma cadeia de botões e de repente a tela à frente se acendeu. Ele aparelhou o sistema e sincronizou a ligação para o computador, em seguida deu início a chamada. Havia uma linha verde traçada no monitor que formou ondas quando uma voz robótica atendeu no quinto toque.

Diga o código.

– Três, sete, cinco, nove, dois. – Oliver deu-lhe, apesar da voz firme, sua cabeça serpenteava por dentro.

Jungkook fez um suave sinal com a cabeça, aprovando seu primeiro desempenho. Yoongi emparelhou a voz robótica com a de outros traficantes recolhidas e fez a identificação, logo a validação surgiu na tela. Era Derek.

Como o meu negociante se chama? – ele prosseguiu diabolicamente.

Osman. – ele engoliu em seco. – Não se impressione, a Turquia tem ótimos negociantes.

Diga, Osman – Derek, por trás da fala metálica, continuou. –, como você quer a sua mercadoria?

Oliver olhou para Jungkook tão ligeiramente que uma corrente de tontura se passou por ele. Suas vistas deslizaram abaixo, para o papel com as mensagens, e sua voz retornou com força.

– Quero duas garotas não muito velhas. – o mafioso riu com aquilo.

– Você gosta de garotinhas?

– São minhas favoritas. – ele não gostou muito de improvisar essa parte, mas isso pareceu agradar Jungkook. Ele tinha que mergulhar no personagem ou não teria êxito.

Temos muitas. Tem preferência de idade? Cor? Gênero?

– Prefiro verificar pessoalmente. um ruído estalou em recusa do outro lado da linha.

– Levaremos apenas aquelas que seguem o seu padrão de atração. Diga, Osman, qual é o seu? – Seokjin e Jungkook se entreolharam e depois enviaram um gesto para Oliver, ele entendeu que devia criar imediatamente um modelo.

Seus olhos se desviaram para um ponto distante, lutando por uma boa desculpa. Só que ao contrário do que ele esperava, uma justificativa subiu à superfície de sua mente.

Meu jovem, eu não estou em busca de um padrão. Para um bom conhecedor, o triunfo é ter uma boa carne juvenil. Homens como eu e você não buscam por padrão, buscam por prazer.Oliver falou descontraidamente para a surpresa de todos. Jungkook pareceu apreciar sua atuação.

– Ora, ora, quem diria que eu concordaria com isso. – ele admitiu, suas palavras foram cruelmente crapulosas. – Seu preço para duas garotas fica por oitenta mil. Essa oferta é para poucos.

Feito.ele aceitou após ver um movimento positivo provir de Jungkook.

Eu estarei te esperando no Foreshore Park, em Burnaby. Lembre-se que não aceitamos qualquer tipo de arma. Se estiver grampeado, nós te matamos. – dito isso, ele finalizou a ligação.

Jungkook arrancou seus fones e deslocou de seu assento. Yoongi desativou o aparelho e desligou a tela, observando os outros corpos se dispersarem pela sala. Oliver nada disse, apenas espiou os três com grandes olhos de preocupação.

– Por que ele nos deu uma localização pública? – essa pareceu ser a única cisma de Jungkook naquele momento. Um lugar fechado iria facilitar para eles, afinal de contas, seria difícil tramar uma emboscada para pegá-los.

– Vai estar escuro, as luzes do parque só iluminam alguns metros. Perto do rio não há luzes, eles podem se aproveitar disso. – Seokmin comentou do outro lado, fazendo todos considerarem essa opção.

– Podemos ter certeza de algo: eles vão levar homens para ficarem à espreita. – Yoongi argumentou ainda sentado. – Mesmo que a gente só considere a luminosidade, vai ter pessoas por perto. Isso é muito arriscado para eles.

– Principalmente porque ainda vai ser cedo. Muitas pessoas podem estar lá, inclusive capangas disfarçados de pedestres. – mencionou Jungkook, Yoongi sentiu seus olhos o traírem quando olhou na direção dele, mas logo suas vistas se esquivaram.

Seokjin olhou para aquela informação por um instante, se endurecendo antes de tomar uma decisão tardiamente planejada.

– Vamos preparar a equipe, temos dez horas para nos organizarmos.

Yoongi recolheu suas coisas da mesa e foi o primeiro a deixar a sala, havia algo de doloroso na forma como ele condenou seus desobedientes passos que o levaram a perfurar ao lado de Jungkook.

Tentando não vacilar, o detetive se esforçou conscientemente a esquecer daquela situação no momento, ele teria tempo suficiente para conversar com Yoongi depois.

– Seokmin, providencie o dinheiro e leve o Oliver para a equipe de infiltração antes de darmos início a operação. Eles têm o melhor disfarce. – Seokjin ordenou, vendo algo estranho varrer sobre a fisionomia do homem, algo próximo de dúvida.

– Bom, eu não quero ser chato, mas ainda não sei o que vou fazer lá. – seus lábios, rodeados por sombras escuras, sorriram em nervoso. – Vou ficar cara a cara com esse homem?

– Sim. – Jungkook o respondeu e ganhou seus olhos. – Nós vamos te dizer o que deve ser feito na hora, você ficará por dentro de tudo. Não precisa ter medo, Oliver, vai haver uma equipe de guardas atrás de você. Qualquer sinal de emergência, eles entram em ação.

– Isso devia me confortar? – ele perguntou sem parecer realmente cobrá-lo.

– Você se saiu bem na ligação. Tenho certeza que vai conseguir driblá-los durante a missão também. – Jungkook garantiu.

O homem surpreendeu-se com suas palavras motivadoras e tudo o que ele conseguiu fazer foi sorrir em retorno. Não podia negar que estava satisfeito em poder ajudá-los, ainda que suas pernas sacudissem de medo.

Seokmin suspirou e tocou o ombro de Oliver. – Temos que ir, você precisa se preparar enquanto eles elaboram o plano.

No meio do pensamento ele parou e gesticulou a cabeça. Seokmin o levou para a saída e eles desapareceram pela porta. Jungkook ficou pensativo com um fulgor de fé em seus olhos. Ele acreditava que Oliver era forte para resistir a essa tarefa, mas ainda existia uma pontada de hesitação por deixá-lo fazer.

– Pronto, detetive? – Seokjin o despertou, ele estava com a porta meio aberta. – Venha dar o comunicado a sua equipe. Eles precisam de um líder como você.

– Eu pensei que você-

– Estou cedendo esse momento para você. – uma ilegível mistura de júbilo com incredulidade esquentou os pensamentos de Jungkook.

Houve um longo silêncio dentro da sala. O detetive nada disse, apenas o encarou parcialmente indistinto, como se olhasse através de um vidro embaçado. Em seguida, sua cabeça fez um modesto sim contra sua vontade e muito ligeiramente Seokjin já estava marchando para fora.

Jungkook se moveu para fora, sua mente trabalhou febrilmente quando percebeu que os agentes estavam desarrumados e de pé, certamente aguardando a declaração que Yoongi, sem dúvida, os passou quando deixou a sala.

Ele viu Seokjin se embrenhar entre os homens vestidos com uniformes pretos como se quisesse participar dos espectadores. Seu chefe era esguio e magro, os ossos proeminentes de seu rosto se destacavam no reflexo das luzes.

Havia uma plataforma suspensa com uma pequena elevação que se erigia do chão. O detetive subiu o degrau e espreitou ao redor, seus olhos encontraram os de seu chefe, ele podia facilmente ver um lampejo de glória os dizendo que esse momento pertencia a ele.

– Prestem atenção – a voz de Jungkook cresceu e quem estava conversando subitamente parou. – Em dez horas estaremos no meio de uma missão, a mesma que estamos esperando desde que pisamos nesse lugar. A máfia que estamos atrás atuará hoje em público, portanto, é necessário a participação da maioria.

– Será uma emboscada, senhor? – um dos agentes no fundo perguntou.

– Não, vai ser um exercício de espionagem. – esclareceu para o sujeito de braços cruzados.

Yoongi subiu na plataforma e correu o dedo pelo painel digital, aguçando as imagens no quadro translúcido. Jungkook fez uma pausa e franziu a testa em sua direção.

– Aqui é o Foreshone Park, está localizado em Burnaby, cerca de alguns minutos de onde estamos. – ele explicou, empenhando-se em não olhar diretamente para o detetive ao lado. É nesse lugar que vai acontecer a nossa operação. Acreditamos que terá homens deles disfarçados de cidadãos comuns.

– A regra é clara: ninguém vai atacar sem um sinal de emergência. – Jungkook completou.

– Qual será o sinal? – outro policial questionou à distância.

– Estaremos observando o infiltrado, eu saberei quando houver uma urgência. – ele respondeu lentamente, deixando uma pontada de controle lhe tocar a voz. – Vamos ficar posicionados nos arredores do parque, instalados em uma longitude apropriada para que não sejamos vistos. Há um rio e colinas ao redor, isso vai facilitar nosso esconderijo.

– Eu trouxe uma planta para que possamos observar o terreno de cima. – Yoongi desceu o dedo mais um centímetro e ampliou o guia geográfico. Um disco vermelho pulsava em cima de uma extensa região. – O círculo é o nosso limite. Se ficarmos além dele, não vamos conseguir chegar a tempo se algo der errado.

– Eu e o Yoongi ficaremos responsáveis por vigiar o infiltrado e transmitir as informações para o resto da equipe. – Jungkook anunciou e logo percebeu que suas palavras o atingiram como um tapa. – O restante estará situado no limite da esfera aguardando a nossa instrução.

– Por que não os pegamos de vez? – um policial protestou e houve alguns burburinhos a seu favor.

– A maioria das vítimas não vão estar com eles. – Jungkook refutou. – Nós não queremos resgatar apenas uma parte. O FBI só irá invadir quando tiver certeza do esconderijo deles, ou tiramos todos de lá, ou não tiramos ninguém. O que vocês preferem?

Os murmúrios correram ao redor em prol da primeira opção. Claro que era mais vantajoso resgatar todas as vítimas ao mesmo tempo, ao invés de salvar uma pequena parte e colocar em perigo as outras em cativeiro.

– Ótimo. – ele emendou por fim. – Peguem as armas e os coletes apenas aqueles que vão ficar em posição de ataque. Os demais ficarão disfarçados de pedestres em monitoramento. Agora, estão dispensados.

Quando o pessoal começou a se espalhar em diferentes direções, Jungkook se virou imediatamente para Yoongi, algo sugestivo cintilando seus olhos.

– Você vem comigo? – perguntou.

Confuso, seu parceiro hesitou por um momento antes de responder.

– Seokjin fará uma parceria melhor com você nessa missão. – a expressão de Jungkook ficou completamente interrogativa, suas sobrancelhas estavam levemente erguidas.

– Diga – incentivou. – o que quer saber?

– Pare, Jungkook.

– Não, fale. Você está estranho porque supostamente acha que estou escondendo algo, então eu gostaria de saber o que pensa que sabe. – o olhar de Yoongi demorou-se nele, mas logo desviou-se para o fluxo de pessoas trabalhando.

Ele detestava aquele clima, parecia tão sufocantemente vazio. Por mais que tomasse fôlego, a verdade é que Jungkook estava omitindo algo, e a sensação de saber disso o traía.

Quando percebeu que ninguém estava dando importância e nem ouvidos para aquela conversa, Yoongi moveu-se para perto dele a passos largos e falou:

– Sabe qual é o problema? Eu te conto coisas que jamais contei a ninguém, mas você não confia em mim para fazer o mesmo. Toda vez que te pergunto algo, você nega ou se esquiva. Qual foi, Jungkook? Eu pareço um suspeito para você?

O detetive gargalhou suavemente.

– Você acha que eu te considero um suspeito? – Yoongi deu de ombros.

– Talvez.

– Olhe – Jungkook se moveu graciosamente para ele. –, eu não tenho motivos para desconfiar de você. Mas existem coisas sobre nós mesmos que é melhor serem mantidas em segredo, para a nossa segurança e a de outras pessoas envolvidas.

– Então há outra pessoa envolvida? – Jungkook suspirou diante da sua pergunta.

– Você sabe que sim.

Yoongi perguntou-se, subitamente, se as suas deduções estavam certas, sobretudo, aquela resposta. Havia um monte de coisas a se verificar, inclusive o significado daquela afirmação.

– Detetives? – Seokjin o chamou do lado de fora da plataforma. Ambos olharam abaixo. – A equipe está aguardando vocês.

Yoongi sentiu seu alívio com um súbito suor frio, talvez ele estivesse agradecido por Seokjin chegar naquele momento e estilhaçar o emaranhado de dúvidas na sua cabeça. Ele sentia-se desconfortável com segredos.

– Eu vou na frente. – Jungkook disse ligeiramente, se oferecendo a deixá-los.

Antes de se virar, ele ficou suficientemente seguro para enfrentá-lo com seus grandes olhos sugestivos e familiarizados, uma reconfortante e seca expressão estava navegando em seu rosto. Havia algo de genuíno no seu modo de encará-lo.

No segundo seguinte ele se afastou, fazendo seu elegante casaco cinza flutuar.

✮✮✮

HORAS DEPOIS

O carro de Jungkook se movimentou pela rodovia esfumaçante, o caminho à frente era uma passagem erguida por vapor. Ele deixou o SUV no estacionamento e optou por um BMW escuro, não queria se arriscar publicamente com seu carro ainda sendo um alvo.

Na dianteira, o carro que Oliver dirigia estava rolando pela estrada retilínea, os faróis traseiros apontavam um brilho cegante. Jungkook estava olhando direto a frente, a linha de seu perfil era penetrante no luar, seu queixo apertado em concentração. Eles estavam andando agora ao longo da rua do parque, quase próximo do local do encontro.

Em seu aparelho digital estava sinalizado todas as posições estipuladas horas atrás. Os sensores aéreos de Yoongi facilitavam sua óptica do espaço e alertavam para uma possível situação de risco. Isso o fazia relaxar ligeiramente, embora a missão não tenha começado de fato.

Ele visualizou a tela do dispositivo portátil e parou o carro quando notou que já estava na fronteira da zona de limite. O BMW foi estacionado em um beco escuro de uma construção, o translúcido vidro dianteiro o permitia espreitar o deslocamento de pessoas pelo parque. Eram poucas, um pequeno grupo desigual com aspectos suspeitos.

Detetive Jungkook? – a voz de Seokjin veio baixa na escuta em seu ouvido. – Está me ouvindo?

– Estou. Diga.

– Já estamos em posição. Nos mantenha informados. – ele avisou, trazendo uma lembrança à superfície da mente do detetive.

Yoongi tinha optado por acompanhar Seokjin, obviamente porque se sentia chateado pela conversa de mais cedo e não queria passar a operação inteira constrangido com um provável clima desagradável. Esse pensamento não perturbou Jungkook tal qual uma vez poderia ter feito, dessa forma ele apenas se interrompeu e focou na cena à frente de seus olhos.

– Eu mando um sinal para vocês. – ele disse e depois cortou a comunicação.

Um lampejo de movimento para além das árvores capturou seu olhar. Era Oliver. Ele deixou o carro elegantemente, a névoa transbordava borrões sobre o seu corpo, dando a impressão de que estava evaporando. O céu de um cinza ardósia estava erguido sobre a cabeça dele, seu corpo era um tremeluzir de uma sombra na fachada dos pingados postes.

Oliver caminhou para um banco próximo e sentou-se, colocando a maleta no colo. Seu tormento era evidente em seus ombros tensos e coluna aprumada. Jungkook dificilmente podia culpá-lo, era a primeira vez dele em uma situação drasticamente perigosa.

O esquema tinha sido ensinado para Oliver, ele praticou diversas vezes o que devia falar e como se comportar. O FBI não disponibilizou microfones para uma intercomunicação com o infiltrado por pura precaução, apenas deixou o rastreador embutido na alça da mala. Eles tiveram que definir um sinal de emergência caso o momento ficasse arriscado.

Jungkook parou por um momento para observar o rio que cortava à distância como uma cicatriz escura. A água não estava agitada, o terreno era espesso com árvores desfolhadas e os galhos acima faziam padrões de teias contra o céu acinzentado.

Dois carros e um furgão preto estacionaram na margem do rio, dentro da pontilhada escuridão da noite. Percebendo o som macio dos pneus, Oliver se levantou e caminhou despreocupadamente na direção do veículo. Jungkook semicerrou os olhos diante da cena e apertou o botão de chamada quando uma longa sombra familiar saiu indistintamente pela porta do carona.

– Eles estão aqui. – disse ao microfone, em seguida um chiado veio.

Estamos de olho. – Seokjin garantiu.

Derek estava meio escondido atrás do automóvel, mas ainda era possível observar seu casaco de morcego soprando como um bater de asas. O vento chicoteava seu cabelo para o rosto enquanto ele aguardava a chegada do falso cliente.

Oliver quase interrompeu os passos quando observou um grupo de homens de preto cercarem Derek. Eles ficaram tão imóveis quanto árvores no luar, suas expressões eram frias e esvaziadas para uma exposta hostilidade.

Tão subitamente, Derek andou devagar à frente, o farfalhar das folhas na areia explodiram em seus tornozelos em minúsculos ciclones. Ele ficou mais perto, pouquíssimos metros de distância, um diabólico sorriso perambulava em seus lábios.

– Você deve ser o Osman. – disse, seu sorriso era um conjunto de promessas terríveis. Oliver tentou manter sua mente consciente e a fisionomia imparcial mesmo quando seu coração perdeu o ritmo.

– Onde estão as minhas garotas? – um tremor chamuscou sua espinha ao usar um pronome possessivo.

– Elas estão aqui. – respondeu. – Mas antes vamos fazer umas coisinhas. Relaxe.

Oliver percebeu que a camisa por baixo do casaco dele tinha uma série de faixas de couro, como se fosse um colete. O abalo em notar aquilo foi enorme, porém sem choque, no entanto. Derek assobiou para o aglomerado de homens e um deles cortou pela areia, entre as outras figuras escuras.

Eric segurava um instrumento de metal e uma máquina portátil, cujo reflexo fez Oliver fechar instintivamente os dedos em torno da alça. O aparelho prateado cintilou quando o sujeito se instalou na sua frente, oferecendo a região transparente para que ele posicionasse o olho. Oliver arregalou os olhos para que o sensor reconhecesse sua retina.

Embora estivesse apavorado pela ideia de dar errado, ele pareceu menos tenso quando a luz verde se acendeu. Eric entregou o objeto para que Derek avaliasse as informações presentes, e pela sua reação, aparentemente tudo estava sob controle.

Após um aceno de autorização, o capanga deslizou sem pressa o detector ao longo do corpo do infiltrado. Oliver tentou se manter menos ansioso, ele só precisava ter em mente que o FBI estava o protegendo e que ele podia andar contra essa tempestade facilmente.

– Seu rosto me parece familiar. – Derek comentou, e para a sua surpresa, o homem não se mostrou com medo ou particularmente agitado.

– Eu estive no desfile de máscaras. – respondeu, simultaneamente alerta sobre essa parte do treinamento. – Foi um evento muito fascinante, devo ressaltar.

– Comprou alguma de nossas meninas?

– Eu não tive a honra de ser um dos sorteados. – sua expressão foi sobreposta por um desagrado agudo.

– Está limpo, senhor. – Eric informou para o alívio de Oliver.

O rosto de Derek ficou perigoso sob a luz pálida do luar, ele pareceu impossivelmente mais diabólico no momento que sorriu.

– Trouxe o dinheiro, Osman?

– Está na mala. – respondeu. – Quero ver as garotas primeiro.

Algo duro e frio pressionou as linhas da mandíbula de Derek, mas ele acabou considerando aquela oferta depois de um momento de análise. Seu dedo gesticulou para o capanga nos fundos do furgão e ele imediatamente destrancou a porta.

As meninas foram arrancadas para fora com puxões nos braços. Oliver espremeu as sobrancelhas diante da cena, só haviam quatro garotas encapuzadas.

– Onde estão as outras? – ele perguntou enquanto as assistia sendo alinhadas contra a lateral do furgão.

– Essas são suas opções. As outras serão vendidas para outros. – sua voz possuía um tom despreocupado e quase exigente. – Agora me dê o dinheiro.

Sua voz ondulou ligeiramente enquanto Oliver parecia entender aquela decisão. Era uma pena não haver escutas por perto, Jungkook certamente interpretaria aquela oferta final num estalar de dedos.

Então, de repente ele esticou a maleta para um dos capangas e entregou-lhe. Não funcionaria muito resistir a sua própria tarefa, ele tinha que fazer aquilo que lhe foi transmitido. O marmanjo carregou a mala para dentro do furgão e bateu a porta.

– É bom que não tenha faltado uma nota. – Derek ameaçou com um pouco de sutileza. – A nossa contadora eletrônica não erra.

– Você não acha arriscado deixá-las expostas? – Oliver mudou de assunto, não porque se sentiu vulnerável pela intimidação, sobretudo, porque havia uma curiosidade genuína.

– Meus homens estão cuidando do território. Ninguém vai nos ver. – seu tom foi curto e discretamente feroz. – Não se preocupe, Osman, você pode tocar nelas. Faça seus dedos experimentarem.

O homem sentiu como se uma grande palma tivesse tirado toda sua expressão. Ele olhou para longe rapidamente, para a água escura do rio, e disfarçou com uma risada trepidante.

– Você é mesmo um homem de negócios. Gostei de você, meu jovem. – comentou sem dificuldade, simples e definido.

A ponta de seus dedos estava dormente, ele preferiu acreditar que era por conta do vento gelado e não por consequência do nervoso. Houve uma pausa antes que Derek risse e dissesse:

– É claro que sou. – ele respondeu sem hesitação. – Ande, toque nelas. Escolha a sua mercadoria.

Oliver supôs que não deveria estar chocado por vê-lo autorizar a seleção sem antes calcular a mala de dinheiro. Mas, de alguma forma, ele parecia querer acelerar o processo.

O criminoso levantou a mão e apontou para as reféns, o encorajando a seguir até elas. Oliver tentou olhar para as garotas e seu corpo o traiu quando o carregou à frente, embora sua parte consciente se negasse a fazer isso.

As vítimas usavam peças íntimas, nada além disso. Seus corpos desnudos estremeciam fervorosamente e suas cabeças estavam cobertas por panos pretos. Mais de perto, Oliver observou os hematomas e as mutilações nos braços de duas delas, que enviou uma punhalada de dor para o seu coração.

Dava para ouvir os choramingos por trás dos capuzes, um choro dolorosamente silencioso e repreendido. Ele abriu a boca, mas nenhum som veio.

De repente, ele agarrou duas meninas e as puxou para frente contra sua vontade. Elas protestaram com gemidos de dor e um choro mais intenso. Oliver não podia ser gentil, seu disfarce não o permitia ser, portanto, optou por aquelas que estavam mais feridas fisicamente, as julgando como as mais frequentes a sofrerem agressões.

– Eu quero elas. – ele disse ruidosamente contra a forte rajada que soprou.

Derek olhou para ele com olhos frios e calculistas. Antes que pudesse dar uma resposta, a porta do furgão grunhiu e o seu capanga deixou o veículo. Ele alcançou seu mestre e cochichou algo em seu ouvido.

Oliver viu os olhos dele caindo de encontro aos seus, revelando através daquele gesto que o assunto o envolvia. Por um momento, uma dor desconfortável esmagou seu peito quando uma ideia horrível se passou por sua cabeça. Se o dinheiro estivesse faltando, certamente sua cabeça faria companhia às notas ausentes.

– O dinheiro está certo. – Derek informou em voz alta. – Pode levar a sua mercadoria.

Quando Oliver ameaçou carregar as reféns, Derek se colocou na sua frente, o fazendo paralisar ligeiramente. O homem ergueu uma sobrancelha em inquérito, embora ele só quisesse recuar para trás.

– Algum problema? – questionou baixo.

– As garotas – ele disse despreocupadamente, revelando de modo discreto a ponta da arma na cintura. –, tem certeza que não quer olhar as outras?

– Essas chamaram mais a minha atenção. – rebateu secamente e logo foi retribuído por um sorriso maléfico.

– Não se incomode, Osman, meus homens cuidam dessa parte. – seu dedo gesticulou para dois marmanjos imóveis na beira do rio. – Amarrem elas dentro do porta-malas do Osman. As outras duas podem ser recolhidas de volta.

As meninas foram imediatamente arrancadas das mãos do falso cliente e puxadas aos gritos para o automóvel dele. Elas foram imobilizadas contra o capô do carro, suas mãos estavam sendo atadas por uma espessa corda e suas bocas vedadas por uma fita. Não demorou muito para elas serem lançadas dentro do porta-malas como se fossem sobras de lixo. As outras duas reféns foram conduzidas à força de volta para a van.

– Sabe, elas ficam um pouco agitadas quando são transferidas. – Derek comentou como se a informação fosse desdenhosa e ganhou o olhar do homem em sua direção. – Foi bom fazer negócio com você, Osman. Entraremos em contato para mais ofertas.

Oliver fitou sua mão esticada e a segurou. O aperto enganosamente suave de suas mãos o fazia associar ao peso de um ferro. Sobretudo, ele se manteve inalterado, simulando uma expressão tão afiada quanto uma faca.

– Estarei aguardando. – finalmente o respondeu e largou sua mão enluvada. – Se me permite, vou aproveitar esse momento com as minhas garotas. Posso chamá-las assim, não posso?

Derek riu, o som parecia incrédulo.

– Elas são suas agora. – emendou.

Oliver sorriu e deu uns tapinhas no seu ombro, logo se distanciando em passos elegantes. Ele não queria dizer, mas o preto ácido da vestimenta de Derek o deixava terrivelmente diabólico. Em vez de alívio por estar se afastando do perigo, ele sentiu horror no modo como o criminoso continuava a encará-lo à distância.

– Boa noite, rapazes. – ele falou em despedida para os dois marmanjos que ainda permaneciam próximos de seu carro.

Eles trocaram olhares rápidos entre si e se afastaram de volta para Derek. Oliver fez um movimento circular para dentro do carro e deslizou no banco do motorista, observando através do retrovisor os três automóveis rasgarem os pneus pela areia e pegarem o acesso pelos cascalhos do parque em fila.

Sua garganta parecia ácida quando engoliu, como se tivesse sido raspada com lixa. Ele se dobrou por cima do encosto para verificar se as meninas estavam bem, mas tudo o que ele ouvia eram soluços baixinhos.

Oliver quase saltou do banco quando o telefone vibrou no seu bolso. Entre acalmar as vítimas ou atender a chamada insistente, ele optou pela segunda alternativa.

– Alô?

Finja que está falando com algum de seus homens. – Jungkook o comunicou e ele rapidamente recompôs a postura, seus sentidos estavam bem aguçados agora. – Não saia do disfarce por enquanto, eles devem ter colocado uma escuta no seu carro ou nas garotas.

Piscando para afastar o impacto da informação, o homem recuperou a voz e efetuou exatamente aquilo que lhe foi pedido.

– Sim, estou ouvindo. – conseguiu responder.

Siga para o Hastings Street, é um bairro de prostituição que não fica muito longe de onde estamos, eles não vão desconfiar caso tenha algum rastreador nas garotas. – Oliver anotou mentalmente aquele nome. – Eles vão te seguir, mas os homens da CIA estarão de olho. Te encontro lá em cinco minutos.

– Tudo bem, estou a caminho. Não mexa em nada até eu chegar. – ele atuou e em seguida encerrou a chamada.

O gelo em suas veias pareceu cristalizar, o congelando no mesmo lugar. Ele olhou instintivamente para além da neblina, averiguando a redondeza como se para ter certeza se estava sendo observado. Bom, a verdade é que ele não quis ficar para ter uma resposta, sua força de sobrevivência fez seus dedos girarem a chave na ignição e o motor estrondou em partida.

– Bom, meninas, vamos dar um passeio. – foi tudo o que ele disse para quem quer que estivesse o ouvindo agora.

O carro acelerou-se por cima dos cascalhos e voou velozmente para o cruzamento. Ele podia ver uma van preta o seguindo instantes depois, os faróis eram dois holofotes pálidos e ofuscantes. Realmente, não dava para ver quem estava atrás do volante, mas com certeza não parecia ser coincidência.

Por um longo momento, Oliver se perguntou como se livraria das vistas do motorista da van e o que Jungkook faria para que o FBI não fosse descoberto como o intermediário da operação. Esse pensamento fez seu coração bater com medo.

Entretanto, ele tentou manter a preocupação longe de seus pensamentos e dirigiu por uma rua tranquila com casas imensas. Oliver não podia negar que a recordação da fisionomia de Derek o fazia associar a um conjunto de terror, dor e assassinato.

Cinco minutos depois ele estava no meio de um bairro agitado, com dúzias de pessoas perambulando nas calçadas. A rua era uma ruína banhada por uma luz crua que acentuava seu estado caótico, fumaça esvoaçava de dentro dos barris de lixo e mulheres desfilavam dentro de suas minissaias.

As janelas dos andares inferiores dos prédios abandonados eram estilhaços antigos e qualquer um tinha acesso. Algumas mulheres estavam sendo levadas para dentro através de uma porta arcaica. Oliver ainda estava encarando o fluxo de pessoas do lado de fora quando de repente a visão do carro de Jungkook se tornou clara e precisa.

Instintivamente, ele verificou através do retrovisor se a van estava no encalço e a enxergou estacionada no terminal da rua. Seu carro foi sobrestado no meio-fio, próximo de uma estrutura com parapeitos de pedra.

Um dilema pareceu crescer em seu peito. Ele devia sair do carro ou permanecer nele? Levando em consideração que estava sendo observado o tempo todo, seria um grande risco retirar-se agora. Contudo, manter-se no carro também levantaria suspeitas.

Uma batida macia veio contra o vidro lateral. Ele quase deu um pulo quando viu uma mulher loira mascando chiclete. Seus cílios eram dois delineados pretos e seu batom vibrante estava um pouco manchado. Oliver desceu o vidro e ela se debruçou com seu decote chamativo.

– Quer um programa, gatinho? – ele observou um filete de suor riscando a testa dela, sua franja grudava na testa. Logo ele supôs que a moça tinha feito um programa momentos atrás.

– Ah, querida, me perdoe, estou procurando outra pessoa. – ela gemeu em resmungo e abaixou o tom de voz para algo mais sedutor.

– Vamos, gatinho, cinquenta dólares em uma hora. Oitenta para você fazer o que quiser comigo. – insistiu. – Pode ser no seu carro mesmo.

Oliver sentiu-se subitamente estranho. De repente ele teve uma ideia inteligente que podia despistar o vigilante da van. Então, sem demora, ele saiu do carro e bateu a porta, a mulher mordeu o lábio em expectativa.

– Tem um lugar maravilhoso logo ali. Posso te mostrar. – ela se ofereceu, enfiando as unhas na gravata dele.

– Olha, minha jovem, eu não faço essas coisas que você está pensando. – embora sua voz estivesse calma, seus ombros pareciam tensos. A mulher suspirou irritada e apoiou as mãos na cintura.

– Não quer fazer sexo comigo?

– É claro que não. Eu sou casado. – ela suspendeu as sobrancelhas e cuspiu o chiclete, tonta de descrença.

– Esses turistas me dão nojo.

A mulher jogou seus cabelos no rosto dele e desfilou para longe, seus fios eram uma cortina dourada que tremulava para trás em ondas gigantes. Dava para ver a enorme borboleta tatuada no meio da coluna dela.

O homem ficou chocado, mas ao invés de rebater, ele somente pigarrou e olhou na direção da van. Dessa vez, ele demonstrou firmeza e desentendimento diante do responsável que ainda permanecia lá. Sobretudo, Oliver quis se manter rijo, com uma aparente perturbação por estar sendo vigiado, talvez se demonstrasse consciência sobre a presença do sujeito, ele decidisse ir embora.

Não bastou enfrentá-lo à distância, ele precisou virar de frente para intimidar quem quer que fosse dentro daquele carro. E funcionou. O veículo fez um solavanco e deu partida para a estrada principal. A van saiu cantando pneu para a zona leste e Oliver não evitou mostrar os dentes em satisfação.

– Veja quem é que manda, babaca. – ele murmurou em triunfo.

– Oliver? – era a voz de Jungkook e parecia longe.

O homem rodopiou e o encontrou atravessando a rua com pegadas largas, uma arma pairava na lateral de seu corpo. Seus pulmões expulsaram o ar preso e a sensação de alívio veio como ondas.

– Graças a Deus, homem, onde você estava? – resmungou com um suspiro. – Tinha um cara me observando, mas acho que assustei ele.

– Creio que ele se assustou com a polícia local. Eles estão fazendo ronda nesse perímetro por pedido nosso. – Oliver pareceu momentaneamente desapontado, mas feliz com o resultado.

– Onde estão os outros? – questionou.

– A equipe foi recuada, os outros vão nos encontrar aqui.

Um barulho veio diretamente do porta-malas, semelhante a um chute. Jungkook examinou a região e logo obteve uma conclusão.

– Elas estão amarradas lá dentro. – Oliver falou. – Estão assustadas também, não acha melhor tirarmos elas de dentro?

– Vamos ter que escanear o carro e as garotas para ter certeza que não há escutas ou rastreadores embutidos. Quando tivermos certeza, então poderemos levá-las em segurança para o prédio.

Jungkook chegou mais perto da parte traseira do carro e olhou abaixo cuidadosamente com seus grandes olhos calculistas. Ele trocou uma breve olhadela com Oliver quando ameaçou abrir o bagageiro. O homem, completamente imóvel, recuou uma pegada para não assustar as garotas.

Com um movimento cuidadoso, ele puxou para cima a porta do bagageiro e viu as garotas se espremerem para trás em defensiva. Ele fez um gesto com a mão, pedindo calma, em seguida apresentou seu distintivo. Elas estremeceram e ficaram horrivelmente perplexas.

Ambas estavam com os olhos inchados e vermelhos pelo choro recente, o desespero delas tinha diminuído para algo próximo de descrença. Um corte profundo corria ao longo do ombro de uma delas e uma assustadora mancha roxa marcava a perna da outra.

O detetive, muito gentilmente, desamarrou as cordas de seus pulsos, ainda fazendo meneios para que elas não se mexessem bruscamente, e retirou a fita de seus lábios. Depois, ele selou a própria boca em pedido de silêncio e pegou de leve o braço de uma delas, fazendo-a se erguer num sobressalto. A outra também recebeu ajuda para se desvencilhar do porta-malas e pareceu desorientada.

As duas estavam completamente assombradas e entorpecidas, mal conseguiam respirar direito. Jungkook sinalizou para uma agente disfarçada e a mulher se aproximou seguidamente.

– Faça o scanner, depois dê agasalhos para as duas. – ele disse baixinho. – Tente mantê-las em silêncio, eles não podem saber que estamos nos comunicando com elas se porventura houver uma escuta.

– Sim, senhor.

Afastando-se, ela alcançou as meninas e fez uma menção de silêncio com as mãos antes de indicar amigavelmente o canto de uma construção antiga. As vítimas foram levadas para essa viela com o intuito de manter a segurança de olhos clandestinos. Jungkook pensou que talvez uma policial despertasse mais segurança nas garotas, embora soubesse do histórico de mulheres envolvidas no tráfico humano.

Ele e Oliver também seguiram para o recesso obscuro do beco, mas permaneceram na entrada. O lugar possuía um conjunto de latas de lixo, poças de água e era marcado aqui e ali por rachaduras, tudo coberto por uma camada infinita de poeira. O céu daquela posição era uma curva esfumaçante com uma fatia da lua se revelando entre a neblina.

O olhar do investigador estava desviado para os arredores. Ele percebeu duas sombras familiares se aproximando e logo as reconheceu. Era Yoongi e Seokmin. Nas mãos de Yoongi havia um aparelho portátil.

– Me atrasei um pouco. Onde estão as vítimas? – Yoongi indagou quando finalmente o alcançou. Jungkook reparou que ele estava com um ar relutante.

– A Samantha está fazendo o scanner nas duas. Resta só averiguar o automóvel. – seus olhos eram grandes e pretos, mais foscos do que a noite.

Yoongi arfou de um modo sutilmente duro e se remexeu na direção do veículo estacionado. Jungkook sabia que estava sendo suficientemente ignorado por seu parceiro, mas não podia fazer nada a respeito. Seokmin pareceu perceber o clima, uma vez que gargalhou extenuado.

– O que aconteceu entre vocês?

– Lembra-se de quando conversamos sobre não dividir informações pessoais durante a operação? – Seokmin semicerrou os olhos e curvou a cabeça para o lado.

– É mesmo?

– É. – disse depois de encará-lo superficialmente. – Controle seu macho.

O agente da CIA lançou as mãos para o alto em rendição e riu baixinho. Yoongi remexeu os dedos na tela de seu dispositivo móvel e aguardou o escaneamento. Não demorou mais do que um minuto, o resultado pareceu brilhar na tela em milésimos de segundos.

Yoongi retornou através da névoa com o seu aparelho brilhante entre as mãos. Jungkook levantou uma sobrancelha em inquérito quando ele se empurrou para perto.

– Não há escutas e nem aparelhos de rastreamento no carro. Está limpo. – o detetive pareceu pensativo, mas não teve tempo de falar nada, pois a voz de Samantha se sobrepôs abruptamente contra o vento.

– Senhor, tenho uma péssima notícia. – ela informou. – Dois chips foram implantados nelas, mas eles só mantêm a função de localizar, não é possível nos ouvir. Para retirá-los será necessária uma cirurgia.

– Onde estão os chips? – indagou Yoongi.

– No antebraço esquerdo, próximo do pulso. – ela esclareceu.

O rosto frio e inexpressivo do investigador no ar empoeirado formigou. Algo na sua postura pareceu afirmar que ele já presumia por isso, mas não de uma forma incrustada. As meninas estavam agora revestidas por malhas de algodão em defesa do frio congelante, mas suas expressões ainda eram entoadas por um medo sombrio.

Ele olhou para elas sem realmente vê-las. Como ele faria esse processo? Se levasse as garotas para um centro cirúrgico, a máfia ficaria sabendo que descobriram o chip e imediatamente associaria a circunstância como um golpe. Mas ele também não podia deixá-las nesse bairro de prostituição, as meninas necessitavam de cuidados médicos.

– Se servir, eu trabalhei com implantação de chips em operações de disfarces para a CIA. Posso retirá-los. – Seokmin se ofereceu, mas havia um estorvo no seu semblante. – Mas isso terá que ser feito sem anestesia.

– Vai machucar elas. – Yoongi protestou em desaprovação.

– É o único jeito, querido. – ele fez uma pausa para flagrar Jungkook. – O que me diz?

Ele hesitou por um momento. Uma cura nem sempre pode ser feita de maneira aperfeiçoada, às vezes seria fundamental fazer sacrifícios para ter êxito. Jungkook sabia que a dor seria excruciante, mas esse seria o primeiro passo para uma liberdade permanente.

Portanto, com uma voz muito menos suave, ele disse:

– Faça.

✮✮✮


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top