⍟ fifty three
Um distante zumbido de tiros enchia o úmido ar, mas Jungkook sequer se incomodou com o som. Ele ainda estava imóvel e em silêncio, realmente inexpressivo, embora algo parecesse queimar através de seus olhos pretos. Jimin lançou-lhe um olhar por baixo, percebendo que a luz da manhã estava iluminando o cabelo dele com um improvável halo.
O corpo de Derek ainda estava caído sobre o próprio sangue, os olhos mortos enfrentavam Jimin como uma verdadeira visão sombria. O menino segurou o olhar no dele um momento antes de deitar o rosto no peito ferido de Jungkook. Mesmo sem vida, Derek conseguia assombrá-lo, no entanto.
Jungkook tomou suas mãos contra o peito e segurou seus dedos gelados. Jimin estava frio junto a curva de seu ferimento, furtivamente estremecido, enquanto o detetive parecia muito calmo, mais contido do que deveria ser, afinal. A fachada dura de seu rosto em nenhum momento cedeu.
Eric não se mostrou impressionado pela cena e nem a ignorou completamente. Ele se agachou para pegar a arma no chão, mas Jungkook o interrompeu imediatamente.
– Não se mova. – Eric, enrugado em embaraço, recuou as mãos e se pôs de pé.
– Não vou machucar vocês. – respondeu, seu rosto austero e rijo estava agora reduzido para uma impressionante obediência.
– Chute a arma para cá. – ele o ignorou, Jimin podia ouvir os nervos debaixo de seu tom pulsando através do peito.
O menino levantou o olhar para encará-lo e o encontrou com a expressão séria, depois mudou a direção de seus olhos para o homem, que estava aparentemente confuso. Eric chutou o instrumento para o detetive, que travou o movimento do revólver com a ponta do sapato.
– Me escute, detetive, não sou mais um inimigo. Estou arrependido de tudo o que fiz e pretendo me entregar. – Eric disse e Jimin o fitou duvidosamente enquanto Jungkook parecia uma nuvem negra de tempestade.
Embora estivesse com dores e esfolado com sangue, o controle de Jungkook nunca se despedaçava e sua compostura permanecia inabalável. Jimin deu um passo para trás ao mesmo tempo que o detetive se curvou para recolher a arma. Ele pareceu preocupado quando Jungkook pressionou as costelas com a palma, provavelmente por causa da dor, e apesar disso não gemeu.
– Sei que deve estar com vontade de me matar agora, mas antes que pense nisso, quero que saiba que estou arrependido de ter feito parte disso. – revelou Eric com um tom de lamentação.
– Já que está tão arrependido, por que não começa me contando o que sabe? – rebateu Jungkook, estranhamente formal. O homem hesitou e engoliu.
Ele deslocou as vistas para Jimin por um breve momento, eram os mesmos olhos sérios e severos, mas dessa vez havia um lampejo de surpresa e devastação através deles. O menino segurou seu próprio pulso em defensiva e sentiu a pulsação sob a pele, então desviou-se de lado.
– Não sei de muita coisa. – Eric disse. – Depois que eles descobriram o rastreador, Derek os avisou que os federais estavam na cola, então eles fugiram.
– Para onde? – questionou o detetive.
– Eu não sei, de verdade. – ele respondeu com urgência e algo vacilou em seus olhos. – Quando Derek os avisou, eu estava com ele na van. O galpão estava vazio assim que chegamos. – houve-se um longo silêncio, portanto, Eric deu continuidade. – Namjoon e Derek brigaram no telefone porque o Namjoon queria encontrá-lo não sei onde, mas o Derek negou. Ele disse que estava determinado a recuperar o Jimin de volta, por isso armou essa coisa toda para pegar você.
– Eu não acredito em uma palavra que sai de sua boca. – o menino confessou subitamente. Eric considerou refutá-lo, mas não houve menção de uma resposta. – Você é um mau caráter como todos eles e um mentiroso.
– Acredite em mim, Jimin. Eu estou sendo o mais sincero possível. – o garoto quase riu de descrença. – Eles me forçaram a fazer coisas horríveis e eu não podia negar. Sinto muito. Sei que é doloroso ouvir isso, mas essa é a verdade.
– Desde quando um canalha como você tem compaixão? – ele rebateu com um pouco de cólera. – Logo você, Eric, que abusou da Hannah e fez piadinhas sobre o nosso corpo. Vai dizer que também foi forçado a fazer isso?
– Sim. – o menino sentiu uma náusea feito redemoinho retorcer seu estômago. – Quando recebi a oferta do Derek, eu pensei que seria algum tipo de guia que ajudaria as pessoas a se locomoverem enquanto conheciam os pontos turísticos da cidade. Mas a verdade é que esse desgraçado mentiu para mim e o discurso dele mudou quando pisei aqui. Ele me ameaçou, Jimin, disse que mataria minha esposa se eu não cumprisse com o trato.
– Mentiroso!
– Você acha que não tentei sair daqui quando descobri que estava trabalhando com tráfico humano? – seus olhos perpassaram por cima de Jimin fixamente. – Sim, eu tentei, mas ele sempre me ameaçou. Eu não podia fazer nada senão aceitar e obedecer, não havia saída.
Engolindo em seco, o menino lembrou-se das fotografias de Taehyung que foram tiradas por alguém da máfia. Jimin conseguia visualizar o rosto de seu amigo ao saber que estava sendo observado e a sensação de terror durante essas diferentes memórias. Doía saber que ele estava longe e desprotegido, sem sequer saber que tinha sido perseguido.
Entretanto, de qualquer forma, não dava para confiar na palavra de Eric, pois ele já havia esfregado diversas vezes na sua cara que mentir era uma de suas habilidades. Esse detalhe não podia ser esquecido.
– O que mais você está escondendo? – indagou Jungkook logo após uma ligeira inspeção da conversa. Jimin piscou como se estivesse despertando de um sonho e o encarou em confusão. Eric demonstrou uma reação instantânea de hesitação. – Não me diga que o comparsa de um mafioso não sabe de nada?
– Acredite em mim, detetive, eu já disse tudo o que sei. – Jungkook arrastou um ligeiro sorriso no canto da boca, algo parecido com escárnio.
– Disse mesmo?
Eric somente olhou para ele, mas não falou nada. Ele parecia irritantemente calmo, embora a pulsação em sua têmpora dissesse que ele não estava tão tranquilo quanto fingia estar.
– Tudo bem. – o homem falou calmamente, mas com uma ponta de força por trás das palavras. – Eu sei onde as meninas que foram vendidas estão. Me lembro de cada rosto, quem são os compradores e de onde eles são, posso te dar todas essas informações se quiser. Mas não me pergunte para onde o Namjoon levou as outras garotas porquê disso eu não sei.
– Você não pode acreditar nele, Jungkook. – Jimin protestou com um estalo de aborrecimento. – Esse cara é um mentiroso, ele está inventando todas essas mentiras porque a casa caiu e agora está com medo.
Um silêncio caiu sobre eles. Havia uma escuridão nos olhos de Jimin que fez Jungkook se perguntar o motivo por trás daquela sombra, mas ele não o culpava, afinal. Eric, um segundo depois de sua acusação, franziu o rosto em absoluto inquérito.
– Não estou mentindo, Jimin. – ele assegurou mais uma vez. – Já faz muito tempo que venho pensando em acabar com tudo isso e só agora tive essa oportunidade.
– Não, você não está mentindo. – foi Jungkook quem disse. – Mas está omitindo.
Jimin observou que Jungkook colocou as armas na cintura da calça e andou alguns passos. Havia duas faixas de queimaduras ao longo de sua barriga e um corte com os lados arroxeados no antebraço. Ele realmente não parecia preocupado com esses detalhes em seu corpo. Mas essa percepção não serviu para Jimin, que acabou olhando-o com aflição.
– Vamos direto ao ponto. – começou o detetive depois de um momento em silêncio. – Você me libertou das correntes, se rebelou contra seu chefe e agora está disposto a me contar o que sabe. Mas, bem, algo me diz que você está com um pouco de dificuldade para cumprir essa última opção. Vamos lá, Eric, prove que você merece uma pena menor, afinal, essa deve ser a principal causa de sua traição.
Seus olhos como a noite o encararam à distância, pensativos, e ele notou que uma sensação intensa de desconforto agarrou Eric de repente. O homem demonstrou um tipo de perplexidade que se pode esperar de uma acusação tão exata, mas não durou muito. Ele permaneceu calado enquanto o encarava de volta, suas palavras pareciam ter sido sugadas.
– Yixing. – o homem pronunciou de modo arrastado, quase peculiar. – Foi ele quem ofereceu o galpão para o Namjoon deixar as meninas, assim como também doou um outro espaço para escondê-las hoje. O Yixing tem esconderijos por todas as partes, mas as únicas pessoas que sabem onde ficam é o Namjoon e o Derek.
– Parece que você sabe muito para quem não estava no galpão na hora. – Eric congelou os ombros. – Isso significa que você ficou no galpão e foi obrigado a continuar lá porque seu chefe não é o Namjoon, era o Derek, e ele exigiu que fosse assim.
O homem suspirou em um assobio, sucumbindo-se, e balançou a cabeça.
– Sim, você está certo. Ele exigiu que eu ficasse no galpão quando soube que caiu na armadilha do FBI e por isso planejou essa emboscada para te pegar e recuperar o Jimin. – o menino hesitou quando aquele olhar caiu sobre o seu momentaneamente. – Derek quebrou o pacto e decidiu agir por conta própria, então o Namjoon fugiu sem se importar em deixá-lo para trás.
Uma estranha pontada de dor espremeu o peito do menino quando seus pensamentos se construíram. Ele podia sentir o gosto de terror ao imaginá-las perdidas pelo mundo, sendo submetidas a encararem um conjunto de homens estranhos e lugares desconhecidos.
Sua respiração raspou para fora do peito no momento que ele pensou em Hannah, numa grotesca cena onde ela encontrava-se morta. Eric podia ter essa informação e, quem sabe, finalmente confirmar ou negar seu terrível receio.
– A Hannah. – o som que saiu de sua boca foi precipitado, como palavras desfiadas. – O que aconteceu com ela?
O homem a sua frente intercalou um olhar surpreso, sentindo como se algo pesado atingisse sua cara. Ele tomou um fôlego artificial e esfregou a cara. Jimin não estava gostando nada daquele silêncio.
– A sua amiga mudou de lado. – uma espécie de insegurança se quebrou dentro do menino. – A Hannah está do lado da máfia agora. Ela não é mais aquela garotinha rebelde que você conhece, sua melhor amiga se transformou em uma assassina.
Jimin arregalou os olhos subitamente e cambaleou para trás, sua garganta estava prestes a se rasgar em um grito, mas tudo o que ele fez foi permanecer em silêncio. Os pelos de seu corpo eriçaram feito agulhas afiadas e então ele soltou um suave, porém constante, ruído de negação.
– Não, isso não é verdade. – Jimin disse, sua face estava retorcida em uma expressão de incredulidade. – A Hannah nunca faria isso, eu tenho certeza. Ela podia morrer, mas jamais se curvaria a vocês.
– Quem está do lado de fora também pensa assim. – Eric refutou. – Não sei o que eles fizeram, ou se fizeram, mas a Hannah não é mais a mesma pessoa. Eu a vi várias vezes com o Derek, eles pareciam estar se entendendo.
– N-Não é possível.
– Por que ela faria isso? – Jungkook questionou com uma enorme desconfiança. Ele reconhecia aquilo bem o suficiente para saber que havia algum furo nessa história.
– Não faço ideia, mas eles tentaram evitar que qualquer pessoa visse a Hannah viva, por isso a mantiveram presa. – a metade da mente de Jungkook foi preenchida por uma vertiginosa análise, mas ele não a expôs. – Talvez ela tenha decidido mudar de lado para sair do cativeiro, não sei.
Com aquilo, um guincho de surpresa pegou Jimin subitamente. Em vez de estar aliviado por saber que sua amiga estava viva, ele sentiu o terror se intensificar no peito. Aquilo não soava nada seguro, sobretudo, a proximidade incomum entre Hannah e Derek.
O detetive se virou para ele e o chamou, tão familiar quanto a dor, mas sua voz foi dilacerada ao meio e o menino não conseguiu escutar nada além de um suave sussurrar. Jimin espremeu suas memórias e tentou chegar a uma conclusão, mas a resposta parecia estar longe de seu alcance.
Houve um eco distante de sussurros através das paredes de pedra e um retumbante som de pessoas correndo as escadas, ficando agora mais próximo. Por trás de um pesado arrastar, a porta metálica se abriu num ruído estridente e uma nuvem rasa de poeira se ergueu na frente deles. Jimin finalmente se despertou do choque e girou, tentando ver para além da abertura.
Algo ondulou através da entrada, eram sombras de pessoas. Sem nenhuma palavra, o menino recuou para longe e se apressou na direção de Jungkook, onde foi recebido por um toque protetor nas costas. O detetive segurou a visão contra a porta enquanto sua outra mão rodeava o cabo da arma. Antes que pudesse sacá-la, Seokjin invadiu a área.
Ele manuseava uma arma entre as mãos quando se empurrou a frente, inspecionando cada canto. Seus olhos pousaram em Jungkook com um insistente alívio, depois caíram para o corpo de Derek no chão. Um filete de sangue pendia de sua boca aberta e seu peito estava imóvel.
Yoongi cruzou por ele na porta e paralisou assim que se deparou com as três figuras em pé e um cadáver sujo de sangue. Ele podia ver nitidamente os cortes no tórax e nos ombros de Jungkook, assim como duas tiras escarlates ao redor dos pulsos, onde as algemas estiveram.
Jimin finalmente pôde respirar de forma regular, mas ele ainda se sentia incapaz de mostrar-se forte. Não podia negar que a preocupação estava corroendo o seu interior por todos os lados, mesmo que a sensação tivesse diminuído um pouco.
– Prendam-no. – Seokjin falou para a dupla de policiais que brotou às suas costas, sua voz soou estranhamente alta no espaço quieto.
Os homens fardados andaram na direção de Eric e o seguraram pelo braço. Suas mãos foram esticadas para trás enquanto um par de argolas de ferro se apertavam em torno de seus pulsos. Ele foi levado aos trancos para além da porta, resmungando alguns xingamentos durante o seu percurso.
Com um suspiro derrotado, Seokjin dobrou a mão armada para baixo e guardou o revólver no coldre. Ao seu lado, Yoongi continuava imóvel com seu olhar de espanto no rosto. O diretor conferiu novamente o morto e deu a Jungkook um olhar interrogativo.
– Você o matou? – ele murmurou com a testa enrugada. O estômago de Jimin se revirou com a pergunta.
– Sim.
Essa não era exatamente a verdade, mas nem todos os detalhes precisavam ser contados. Jungkook podia ver um misto de confusão e ceticismo na expressão de seu chefe, embora ele não se importasse em questionar. Seokjin apenas considerou sua resposta e acenou tranquilamente conforme visualizava os itens fora de lugar e a posição de cada um.
– Você está bem? – foi Yoongi quem perguntou, ainda parado no mesmo lugar.
– Estou melhor agora.
Yoongi não sentiu firmeza naquelas palavras, mas elas o deixaram um pouco satisfeito, afinal, Jungkook não parecia estar aborrecido com sua presença por causa do que aconteceu horas atrás. Então, com alguns rápidos movimentos, Yoongi foi até ele e o puxou para um abraço.
Jungkook pareceu surpreendido, tal como o menino ao seu lado, que encolheu os ombros e deu um espaço extra para não os interromper. O detetive grunhiu em dor e logo seu parceiro se afastou, visualizando as marcas em seu corpo com total preocupação.
– Você me assustou, Jungkook. – ele disse, mantendo suas mãos o mais distante possível dos ferimentos. – Nunca mais saia de perto da equipe de novo, me ouviu?
Jungkook nada disse, apenas encarou aqueles olhos mirabolantes. Sua face era impassível e marcada com um pouco de sangue nos lados. Ele apenas sorriu em gratidão, mas não prolongou o gesto.
– Não devia ter trazido o Jimin. – Yoongi trouxe seus braços de volta após aquela observação, sentindo-se meio culpado. – Foi ideia sua usá-lo como isca?
Houve-se um longo silêncio entre eles após Yoongi não fazer menção de responder. Nenhum dos dois pareceram realmente inclinados a dar continuidade ao assunto. Não era hora e nem o lugar certo.
– Por Deus, Jimin, você me deixou preocupado. – foi Seokjin quem falou dessa vez, rompendo sua postura quando deslocou-se até o menino, onde o segurou pelos ombros. – Não faça isso outra vez, está bem?
– Me desculpe, senhor. Eu não queria causar nenhum problema. – seus olhos estavam reduzidos numa triste lamentação. Seokjin suspirou e sorriu com gentileza.
– Deixe para lá. O importante é que você está bem e seguro. Isso é tudo. – sua voz estava tênue e baixa, o que soou estranho para o menino.
Um espasmo de dor percorreu o rosto de Jungkook e então ele tocou as costelas. A visão de Seokjin caiu sobre ele, onde fez uma rápida observação por cima das contusões feias. Dava para notar que ele estava lutando para disfarçar a dor.
– Talvez nós devêssemos ir. – Jimin disse nervosamente enquanto fitava Jungkook com um olhar de ofuscada preocupação, embora sua fala tivesse sido direcionada para Seokjin.
– Tem razão, ele precisa cuidar desses ferimentos. – Seokjin assegurou. – Vamos te levar para o prédio, acho que será necessário um raio x para ver se está tudo no lugar. E, Yoongi, chame alguém para recolher o cadáver e levar para o necrotério.
– Sim, senhor. – ele disse um segundo antes de girar sob os calcanhares e começar a andar.
O detetive olhou abaixo e observou as faixas de queimaduras sob seus dedos delgados. Parecia que sua pele quase tinha sido brutalmente escalpelada e isso o deixou furioso. Naquele momento, Jimin o viu fechado em si mesmo, distante, provavelmente lembrando-se de alguma coisa com relação as marcas.
– Jennie. – sua voz quebrou o silêncio e as palavras escaparam debaixo de sua respiração. – Ela é quem está por trás de tudo. A minha irmã é o cérebro da máfia.
Yoongi, que estava a poucos centímetros de distância da porta, parou subitamente e se virou para ele com uma mistura de horror e confusão no rosto. A boca de Seokjin se abriu em um silencioso arfar de surpresa, parecendo tão embaraçado quanto o restante, depois ele recuou uma pegada.
– O que disse? – Seokjin indagou apesar daquela alegação.
– Sim, ela esteve aqui e se identificou como Máscara. – ele riu sem humor e depois fez uma careta devido as constrições na barriga. – Ela deve estar agora mesmo viajando para algum lugar enquanto batemos um papo.
– Espere um pouco – Yoongi disse, varrendo um olhar incrédulo sobre ele. – Está dizendo que eu quase morri naquela merda de explosão sendo que tudo não passava de uma armação? Esse tempo todo ela era a vilã? Puta merda, eu quero matá-la.
– Entre na fila. – adicionou Jungkook de modo sutil, ainda que por trás de seu tom existisse um fiapo de ferocidade. – Tudo isso não está acontecendo aleatoriamente. A aparição dela foi premeditada, não por eles, mas por ela. A Jennie me queria aqui, sozinho, por isso eu desconfio que esse lugar tenha sido oferecido ao Derek por ela.
– A desgraçada é esperta, mas ela não vai se safar. – Yoongi disse, sem tirar os olhos de Jungkook. – E pensar que eu senti pena dessa megera.
– A boa notícia é que ela acredita que estou morto. – Jungkook anunciou entre suspiros. – Fiz o Derek ligar para ela. Espero que isso dure.
– Foi por aquele telefone que ele ligou?
Yoongi apontou para um celular dentro de uma poça de água e os olhos do detetive caminharam naquela direção. Ele confirmou com um aceno, e no segundo seguinte, Yoongi se apressou para que pudesse pegar o aparelho. Uma rachadura corria através da tela do display e as bordas estavam descascadas, mas, aparentemente, ainda estava funcionando, por sorte.
Ele usou uma luva transparente antes de apalpar o celular e fez uma prolongada inspeção para ver se poderia servir como prova, afinal, supostamente ali estava todos os registros telefônicos e muito além disso. Yoongi enxugou o aparelho e colocou em um saco de evidência antes de retornar para eles.
– Ok – Seokjin quebrou o silêncio de repente. – Vamos discutir sobre isso no prédio. São muitas informações para serem debatidas dentro de uma porcaria de construção antiga. – em seguida, ele encarou Jungkook lateralmente. – Acho melhor você se apoiar em mim para não forçar seu corpo. Todo cuidado é pouco.
Com um movimento gentil, Seokjin puxou o braço dele por cima de seu ombro e Jungkook acabou se inclinando um pouco sobre ele, mesmo contra sua vontade. Lentamente, os dois se moveram em direção a porta. Jimin se flagrou com um olhar tenso e lábios ligeiramente repartidos enquanto assistia o percurso deles. Na metade do caminho, Jungkook parou e se voltou para o menino.
– Você não vem? – perguntou, o fazendo piscar nervosamente em alívio.
O garoto se arrastou em direção a eles, onde acabou por descer a mão contra a de Jungkook no momento que o alcançou. Yoongi fitou aquele gesto com os olhos espremidos atrás deles, mesmo quando suas mãos se desfizeram no instante seguinte. Ele estava franzindo as sobrancelhas quando começou a caminhar em sentido a porta.
Jungkook viu o pessoal do FBI protegendo a passagem da escada assim que saiu e reparou nos pingados corpos ensanguentados no chão, os quais ele supôs serem dos capangas. A luz que entrava pelas janelas quebradas era suficiente para envolver o perfil dos combatentes, que se mostraram aliviados por ver o detetive vivo. Jungkook fez um gesto pequeno de saudação quando passou por eles e continuou seu percurso até o fim dos degraus estreitos.
Houve um vento congelante vindo em sua direção quando ele alcançou a saída do prédio e isso o fez estremecer um pouco. Jimin notou uma espessa equipe de federais parada à distância, todos em pé, próximos dos carros. Seokmin estava perto do capô, seu rosto angular sendo sombreado e inflexível enquanto os assistia. A silhueta da cidade estava branca às suas costas.
Os olhos do agente da CIA foram para Jungkook, sentindo-se mais leve por vê-lo vivo. Seokmin abriu a porta do carro quando o povo foi se aproximando e sorriu na direção do detetive ferido.
– É bom vê-lo novamente. – disse, depois entregou-lhe um manto pequeno de veludo. Era feito de lã castanha, quase caramelo. – Use isto, precisa se aquecer.
Jungkook aceitou e o pegou entre as mãos, logo desenrolando-o sobre os ombros. Ele desviou-se para Jimin e gesticulou para o banco do passageiro. Entendendo seu convite, o menino pôs o corpo para dentro do carro e o detetive entrou posteriormente. Seokmin bateu a porta e encontrou os olhos de Yoongi por cima do teto, ele estava ruborizado pelo frio, os dentes apertados e as veias atadas ao pescoço.
Naquele momento, Seokmin observou que ele estava evitando olhar para dentro do carro. Com aquilo, Yoongi andou para o automóvel ao lado e fechou a porta subitamente, deixando Seokmin levemente inquietante e em dúvida. Logo, ele rolou para o banco do motorista e observou através do vidro que Seokjin fez o mesmo. Estava curioso sobre o motivo de Derek não estar entre eles, entretanto, sua dúvida poderia esperar mais alguns minutos para ser esclarecida.
No segundo seguinte, o motor roncou em partida e as rodas deixaram uma profunda impressão no pavimento de gelo. Enquanto um grupo de guardas foi deixado para trás com o objetivo de terminar o serviço, os agentes optaram por retornar para o prédio, afinal, a investigação não podia ter intervalo.
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Depois de tomar um longo banho quente e comer alguns petiscos, Jungkook estava agora sentado contra a cabeceira da cama, vestido com uma calça de algodão levemente apertada nas coxas, mas suficientemente aquecida. Seu braço estava estendido por cima de um travesseiro enquanto a enfermeira fazia os curativos. Lá estavam as duas linhas grossas na pele em torno de seus pulsos, onde o ferimento se encontrava avermelhado e suavemente arroxeado nas bordas.
Seokjin se mantinha parado nos pés da cama com as mãos enfiadas nos bolsos de veludo de seu casaco. Ele tinha trocado a roupa e não estava mais com as vestimentas de combate, dessa vez utilizava um traje mais casual e aconchegado. Tinha uma caneca de café sobre a cabeceira, Jungkook a pegou com a mão livre e tomou um gole.
– Como está se sentindo? – Seokjin perguntou.
– Estou bem o suficiente para voltar ao trabalho. – ele parecia cansado, mas não como se ainda estivesse com dor.
– Não tenha pressa. – seu chefe advertiu. – Sua saúde é mais importante nesse momento. O trabalho pode esperar mais um pouco.
Jungkook suspirou e esparramou-se contra o estofado às suas costas. Seokjin esperou que ele fosse protestar, mas ao invés disso não disse nada. O quarto possuía cortinas elegantes nas janelas, a única fonte de iluminação era o brilho da manhã que vinha delas.
– Então, já que estou proibido até de me mover, faça alguma coisa para pegar a Jennie. – o detetive articulou e lá estava uma ferida na sua voz.
– Yoongi está trabalhando agora mesmo no celular para ver se consegue localizá-la. – ele explicou. – Eu já falei com os outros agentes para que verifiquem se há alguma instabilidade no sistema de segurança do prédio. Não podemos descartar a possibilidade de ela ter colocado escutas ou aparelhos de rastreamento em nossas coisas.
– Desgraçada. – resmungou.
– Para ser honesto, não acho que ela conseguiria fazer isso aqui com tantas câmeras espalhadas. – considerou. – Mas, de qualquer forma, não é bom brincar com o diabo.
Jungkook olhou abaixo para o seu café e em seguida deslizou para o movimento dos dedos da enfermeira sobre seu ferimento. Ela passou um algodão úmido com pomada cicatrizante por cima do corte e depois tapou com ataduras. O detetive esteve calado por um breve momento, pensando, mas logo se voltou para o diretor.
– Posso te fazer uma pergunta? – sua incerteza veio como um raio, deixando Seokjin um tanto surpreso por ser interrogado. Ele acenou uma única vez, autorizando-o. – Por que você levou o Jimin?
Sua interpelação deixou Seokjin ligeiramente desconfortável, cuja postura sofreu uma pequena oscilação que não passou despercebida por Jungkook. Ele lançou os olhos sobre o detetive como se pensasse na coisa, subitamente muito pálido.
– Não tínhamos tempo para pensar em uma estratégia inteligente, você poderia morrer. – sua boca estava em uma linha fina como um pedido de desculpas. – Yoongi pensou na estratégia mais óbvia, e de certa forma daria certo, mas o Jimin não cumpriu com o combinado, o que chega a ser concebível.
– Não pode culpá-lo por algo que vocês decidiram. – ele replicou, os olhos centrados no outro. – Você trabalha nesse departamento a mais de uma década, deveria saber que é errado usar a vida da vítima para salvar nossa pele. Se o tal do Eric não tivesse se rebelado, provavelmente estaríamos mortos, ou pior que isso, ele seria levado de volta.
– Foi uma escolha equivocada, me desculpe. – ele parecia de fato arrependido. – Ultimamente não sei o que acontece comigo, não me reconheço mais.
– Está assim depois que a Rose foi transferida. – Jungkook declarou sem hesitar em dizer.
Ele observou pelo canto do olho que a enfermeira levantou os cílios aos trancos, mas em seguida voltou-se para o que estava fazendo. Seokjin olhou ao redor freneticamente, conferindo se mais alguém tinha ouvido aquela alegação. Sua visão caiu em Jungkook como um peso sobre os ombros e ele acabou se mostrando inflexível.
– Uma coisa não tem nada a ver com a outra, detetive. – Jungkook deu a ele um olhar de suspeita, mas nada disse. – Aliás, o departamento de Washington me ligou agora a pouco para dizer que eles fecharam o estúdio de modelos e que os responsáveis estão presos para um interrogatório. As meninas tiveram que cancelar o voo e foram levadas para suas casas. Parece que está tudo bem por lá.
– Só nos resta encontrar as outras. – Jungkook disse. – E a pior parte é não saber por onde.
– O Eric já está sendo interrogado pelo Seokmin, ele disse ter informações sobre isso. – ele articulou e ponderou sobre suas palavras, lembrando-se de algo. – Por falar nisso, tenho que me encontrar com ele. Combinamos de entrar em contato com a polícia da Rússia para informar sobre o mafioso no território deles.
– Não pegue leve com ele. – Jungkook articulou. – Ele também participou disso, embora justifique dizendo que foi ameaçado. Não há veracidade nessa alegação, e além do mais, qualquer idiota diria isso nessa situação.
– Relaxe, já alertei o Seokmin sobre isso.
– Terminei, senhor. – a enfermeira falou, sua voz possuía uma raiz doce, coberta por gentileza. – Não faça tanta força, precisará de quarenta e oito horas de repouso.
– Está ouvindo? É melhor que cumpra. – Seokjin brincou e sorriu, fazendo Jungkook revirar os olhos sem realmente parecer aborrecido.
Ele se endireitou e retirou o travesseiro do colo, levantando-se meio grogue. Seokjin ameaçou dar um passo em sua direção quando o viu ficar de pé, mas não foi necessário avançar. Jungkook recuperou o equilíbrio imediatamente, sentindo os ossos de suas costelas gritarem em agonia. Havia uma faixa branca entrelaçando seu tronco, embora os músculos de seus ombros estivessem desnudos.
O detetive agarrou um suéter da cor de musgo e o enfiou sobre a cabeça com a ajuda da enfermeira, que cuidadosamente o arrumou em seu corpo. Ele olhou para ela e deu-lhe um aceno de agradecimento. Seokjin, ainda parado no mesmo lugar, ouviu uma suave batida na porta e uma forma escura surgir abaixo dela, bem no cantinho.
Ele se moveu naquela direção e desfez a tranca. A claridade do corredor atravessou o quarto como um farol de carro e um rosto familiar apareceu lentamente na porta. Era Jimin. Ele rolou os olhos para dentro do quarto e encontrou os olhos de Jungkook sobre os ombros de uma mulher.
– Jimin? – era a voz de Seokjin, ele estava bem na sua frente. O menino desviou-se de Jungkook e o encarou.
– Oi, senhor. – ele esfregou as próprias mãos, como se não soubesse exatamente o que falar em seguida. – Vim ver como o detetive Jungkook está.
Seokjin pareceu considerar aquelas palavras, então olhou para o detetive por cima do ombro, mas Jungkook sequer tinha olhado de volta. Ele ainda estava visando o garoto, o fazendo ter a sensação de um toque real na pele, como dedos frios.
– Entre. – Seokjin autorizou por fim, escancarando a porta.
Jimin mergulhou para dentro do quarto com um movimento contido, olhando ao redor curiosamente. Ele podia sentir o peso dos olhos de Jungkook sobre si, e talvez Seokjin também pudesse, uma vez que ele parecia estar captando algo no ar.
– Bom, eu tenho outras coisas para tratar agora. Você vai ficar bem? – Seokjin perguntou, reparando que o olhar dele mudou para sua direção.
– Sim, não se preocupe.
– Jane, podemos ir? – dessa vez sua pergunta foi para a enfermeira, que imediatamente recolheu os equipamentos da escrivaninha e os arrumou dentro de uma maleta.
– Mais tarde eu volto para trocar os curativos. – ela disse diretamente para o detetive e sorriu um segundo antes de virar sob os calcanhares e andar na direção da porta.
Quando a mulher passou pela porta, Seokjin parou a meio caminho da saída e a fechou um pouquinho para que ninguém o ouvisse, depois se inclinou para eles, falando suavemente:
– Yoongi disse que daqui a pouco vem te ver, então tomem cuidado. – Jimin engoliu duramente, mas entendeu seu aviso. Jungkook apenas fez que sim.
Quando ele partiu com um bater de porta, Jimin manteve-se parado, seus ombros estavam rígidos com a tensão. O menino encarou Jungkook de longe, ele já estava se acomodando entre o ninho de travesseiros, e quando finalmente se sentou, seus lábios mostraram um sorriso torto para Jimin.
– Você está melhor? – o garoto perguntou, aproximando-se em passos lentos. O detetive pôde sentir o cheiro doce de seu sabonete quando ele parou, em pé, ao lado da cama.
– Quando meu sangue estava quente não senti tanta dor como estou sentindo agora. – ele disse, fazendo o menor apertar os lábios como se lamentasse. – Venha, sente-se comigo.
Ele indicou o lado da cama com uma leve batidinha, o chamando, e Jimin sentou-se na beirada do colchão, quase silencioso. De perto, o garoto observou que o cabelo dele estava molhado para trás, deixando um fio pender ao longo de sua têmpora. Havia um corte sutil no canto de sua boca, tal como uma mancha arroxeada abaixo de seu olho esquerdo.
– Eu senti tanto medo do que podia acontecer com você. – falou Jimin, enroscando o dedo numa linha desfiada de sua blusa. – Quando eu te vi amarrado naquela coisa, pensei que estava a um passo de te perder.
– Foi difícil para mim também. – ele sussurrou, atirando-lhe um olhar não identificável. – Eu não parava de pensar em você. Seu rosto aparecia na minha cabeça o tempo todo e isso me aterrorizava. – o rosto de Jimin enrubesceu com pontilhados tons rosados. – Sabe o que era pior? Lembrar que eu tinha feito uma promessa para você e que estava prestes a falhar com ela. Você não merecia ficar me esperando por causa da promessa que fiz.
O menino sentiu dois longos dedos subindo sobre sua mão enquanto ainda estava com os olhos congelados nos de Jungkook. Ele dificilmente reagiria assim se aquelas palavras não tivessem apunhalado seus ouvidos como agulhas. Os dedos subiram o braço de Jimin cautelosamente e descansaram em sua bochecha, o fazendo corar ainda mais.
– Você é a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos tempos. – o menino encolheu os ombros em um movimento delicado, sentindo o polegar dele acariciar sua pele. – Eu não podia falhar com você, anjo.
Jimin se viu refletido em cada uma de suas pupilas dilatadas antes de voar contra ele e abraçá-lo pela cintura. Jungkook gemeu um pouquinho, mas ignorou a picante dor em suas costelas e o abraçou de volta. O garoto pôde sentir o calor dele através de sua roupa e a textura de uma bandagem por baixo dela.
– Ainda bem que você está aqui comigo. – Jimin falou contra a roupa dele e se afastou depois. Um sorriso escorregou na boca de Jungkook. – Mesmo que você esteja um pouco machucadinho, pelo menos está vivo.
O detetive riu. Uma risada gostosa e sutil.
– Sim, tudo isso graças a você. – ele disse, afagando o rosto confuso do menino.
– Por que a mim?
– Você foi corajoso por ter entrado naquele lugar e usado a arma. – por um momento, Jimin se recordou do que aconteceu e pensou que fosse cair em mil pedaços irrecuperáveis. – Eu não estaria aqui se não fosse você. Então, obrigado por salvar minha vida.
– Você fez muito mais por mim. – ele abaixou a cabeça instantaneamente, meio incomodado com algo. – Sabe, eu nem consigo acreditar que peguei aquela arma e atirei nele. Quando o Derek tocou em mim, tentei me lembrar do que você me ensinou, mas não consegui me mexer na hora, eu paralisei completamente. V-Você tá decepcionado comigo?
Jungkook sorriu gentilmente, e antes que pudesse dizer alguma coisa, ele escaneou cada detalhe de seu rosto e o trouxe para seus braços. Ele podia sentir a ansiedade do menino como uma descarga elétrica, apesar da grossa lã de sua roupa. Jimin suspirou e deitou em seu peito levemente para não o machucar.
– Dentre todos nesse prédio, você foi o único que não me decepcionou. – o detetive declarou, sua voz vibrava através do ouvido do menino. – Sinto tanto orgulho em saber que você enfrentou seu medo. Sua alma é como a de um herói.
Jimin expeliu uma respiração e o encarou por baixo com uma surpreendente admiração. Jungkook o olhava com encanto enquanto afagava seus fios rosados, havia um sorriso sutil que se torcia em seus lábios.
– Eu não consigo me ver assim. – assumiu tristemente, vendo o sorriso de Jungkook escorregar até sumir. – Não consigo me perdoar por deixá-lo me tocar. Eu devia ter reagido na hora, Jungkook, mas não fiz.
– Ei – ele o tocou na bochecha, gentilmente, com as costas da mão. Seu rosto estava na sombra, mas Jimin observou um halo de luz ao redor de seu cabelo. – você fez muito mais do que deveria. Não era sua obrigação estar lá e mesmo assim esteve.
Jimin refletiu sobre suas atitudes, e então lembrou-se do momento que correu para dentro daquele prédio abandonado. Ele não tinha parado para definir aquilo como algo heroico, afinal, estava com medo de o fazer desde a hora que voou para longe do FBI. Entretanto, ouvir Jungkook dizer tais coisas o fez considerar um pouco essa ação impensada.
– Como você está se sentindo? – o detetive perguntou baixinho, o empurrando para fora de seu devaneio. Ele suspendeu levemente a cabeça na sua direção. – Com a morte do Derek. – adicionou.
As palavras pareceram se afundar na garganta do menino, então ele engoliu com dificuldade e se inclinou contra o peito de Jungkook, o suficiente para ouvir seu coração pulsar. Os músculos de sua traqueia travaram e houve um momento súbito de silêncio.
– Ainda sinto que ele está vivo. – falou, sua cabeça estava cuidadosamente pressionando o tórax de Jungkook. – Mas por outro lado, me sinto estranho por estar feliz com a morte de alguém. Não exatamente uma felicidade de alegria, mas de alívio.
– A parte boa é que agora você está livre dele. – suas palavras soaram perfeitamente educadas e gentis, ainda que existisse um fiapo de indignação no fundo de sua voz. – Esse desgraçado não pode mais te tocar, essa ambição acabou.
Um fraco tremor passou através de Jimin quando ele se remexeu no colchão, como se alguma coisa tivesse puxado seus nervos, e sentou-se. Jungkook não o soltou totalmente, ele permaneceu segurando sua delicada mão acima dos lençóis.
– Será que ele vai continuar aparecendo nos meus sonhos mesmo depois de morto? – Jimin sibilou com uma genuína surpresa e olhou fundo para ele. O detetive reconheceu seu medo e beijou lentamente as costas de sua mão, lhe passando conforto.
– Ele não pode mais te ferir, nem nos sonhos. – assegurou, vendo-o contrair a espátula dos ombros. – Depois do que aconteceu hoje, eles não vão durar por muito tempo. E quando tudo isso acabar, você finalmente vai estar livre, anjo.
Seu tom não deixava margem para discussão, ali estava contida uma doce vingança. Naquele instante, Jimin percebeu que algo a mais foi adicionado sobre seu medo, um súbito pensamento congelante. Ainda havia um punhado de pessoas vivas da máfia e todas elas, provavelmente, fugitivas.
Entretanto, alguma coisa além parecia incomodá-lo, capaz de deixá-lo, por uma fração de segundos, com uma sensação vertiginosa de dor no coração. A acusação de Eric sobre Hannah não saía de sua cabeça, não era possível que um salafrário fosse falar a verdade justo agora, era? Ele conhecia sua amiga, sabia que ela jamais ficaria no time de pessoas que a abusou.
De qualquer forma, não importava. Jimin estava determinado a enterrar de vez esse assunto e lutar contra os rugidos de desespero em sua mente. Ao invés de dizer qualquer coisa, ele falou:
– Pior que não dá para comemorar sabendo que o Namjoon ainda está solto. E também tem as meninas que foram levadas para não sei onde. – ele argumentou, notando que o rosto do detetive apresentou um cintilar inquietante, como se tentasse guardar as feições reais em uma expressão racional. – Aliás, como você está se sentindo depois dessa revelação sobre sua irmã?
Jungkook nada disse por um breve momento. Ele pareceu, para variar, perdido nos próprios pensamentos. Então, ele se empurrou contra as almofadas e sorriu, um riso que parecia doloroso.
– É um pouco inacreditável pensar que a mulher que me ajudou é a mesma que me quer morto agora. – Jimin franziu as sobrancelhas em preocupação e entrelaçou sua mão na dele. – Mas o meu momento de choque é página virada. Tenho algo melhor em mente.
– Você vai matar ela?
Jungkook o olhou fixamente, havia alguma coisa nas fendas de seus olhos que enviou um calafrio através do sangue de Jimin.
– Eu não vou hesitar. – suas palavras diziam tudo.
– A sua irmã é uma mulher terrível, não consigo acreditar que ela foi capaz de fazer tudo isso com você. – Jimin pensou tê-lo visto acenar em resposta, mas na verdade ele só abaixou o olhar brevemente. – Ela foi a responsável por alguma coisa de ruim que aconteceu na sua vida, não foi?
O detetive se pegou levemente surpreendido pela observação dele, e seu olhar, uma luminosa ágata negra, caiu sobre ele. Jimin possuía uma aura tão genuína e atenciosa que as vezes Jungkook se perguntava como existiam pessoas capazes de desejar-lhe o mal.
– Meu passado foi turbulento e a Jennie é a responsável por isso. – ele contou, sentindo um pouco de dificuldade para se abrir. – Eu fui adotado por pais religiosos e eles eram muito severos, principalmente o meu pai. No início, ele sugeriu me tirar da escola para que eu passasse a frequentar apenas a igreja, mas minha mãe não achou certo. Então, continuei na escola, mas fui forçado a visitar a igreja todos os dias.
A expressão de Jimin não mudou enquanto o ouvia, mesmo percebendo que não houve sentimento em sua voz, nem mesmo raiva. Jungkook jogou uma tira de cabelo para trás e esfregou o rosto, ele não parecia estar satisfeito com isso, com as lembranças.
– Eu era amigo de um garoto na escola e infelizmente acabei gostando dele. – sua voz se quebrou, como se ele tivesse interrompido seu próprio pensamento. – A Jennie descobriu isso e nos fotografou juntos. Ela diz que fez isso porque queria ferrar a minha imagem para os meus pais.
O garoto acabou franzindo o cenho em preocupação, e antes que começasse a sentir pena dele, Jungkook sorriu um tiquinho, ainda que não tivesse um pingo de humor, isso acabou aliviando as barreiras de apreensão que pareceram crescer no peito de Jimin.
– Meu pai viu as fotos e não me questionou nada, ele apenas me bateu por horas, sem parar. – o garoto viu alguma coisa nos olhos de Jungkook. Mágoa? Ira? Jimin não soube dizer. – Minha vida virou um inferno, as pessoas sentiam nojo de mim na igreja e por isso decidi que deveria fugir para longe.
– Seu pai fez isso? – ele parecia verdadeiramente incrédulo.
– Digamos que ele não é o tipo de pessoa que resolve seus problemas no diálogo. – seus olhos estavam vazios e dispersos, tal como suas palavras. – Este homem pensou que poderia me curar levando-me a igreja, ele me ensinou que empatia era para os fracos e sentimentalismo era coisa de mulher.
– M-Mas isso não vai contra os princípios religiosos dele?
Jungkook sorriu e tocou sua bochecha com os dedos num movimento suave.
– Se todo mundo que estivesse na igreja praticasse o que prega, esse lugar seria perfeito, meu bem. – Jimin suavizou o choque e agora se mostrou indignado. – As piores tragédias que aconteceram e acontecem no mundo advêm da religião. Ela é o bem e o mal da humanidade.
– Sinto muito, Jungkook. – ele lamentou com um suspiro. – Isso não devia ter acontecido com você.
– Eu virei a página e mudei de vida, mesmo sofrendo com a rejeição. – Jimin arfou, claramente triste por aquela história. – Sabe, meu anjo, nada é tão agradável quanto uma virada de jogo. É duro sofrer, mas é pior ainda quando não se supera.
Olhar para Jungkook daquele jeito era como se deparar com uma segunda versão dele, mais franco e menos combatente. Ele sabia destinar cada coisa para um lado, às vezes eram inseparáveis, mas isso fez com que o menino se sentisse ainda mais íntimo dele.
– Você superou? – Jimin perguntou. – Digo, você conseguiu esquecer seu passado?
– Sim. – sua voz ardeu com uma honrada confiança. – Por mais que o meu passado tenha me transformado neste homem, hoje posso dizer que meu pai está morto para mim, assim como todas as coisas que me lembrem dele.
– E sua mãe?
Jungkook o observou, mas não soube responder. Ele sentiu como se o ar tivesse sido socado para fora de seus pulmões. Diante da história que ouviu, sua mãe não teve culpa das atitudes do marido e sentiu-se culpada por não ter reagido na hora. Entretanto, Jungkook precisava pensar melhor sobre o assunto.
– Por que não deixamos essa conversa para depois? – o detetive perguntou num murmúrio, vendo os cílios do menino flutuarem em uma surpresa atônita. – Existe algo melhor que podemos fazer.
– E se o detetive Yoongi aparecer?
– Está sugerindo alguma coisa? – ele revidou com uma pergunta, abaixando a mão do rosto dele. Jimin mordeu o lábio e deu um olhar de soslaio para a porta, deixando uma ideia vagar na sua cabeça.
– Na verdade, eu estou.
Então, o menor deslizou para fora da cama e andou na direção da porta, onde segurou a maçaneta e rodou a chave, trancando-a. Ele girou de frente para Jungkook e apertou os lábios, como se sua ideia tivesse sido a coisa mais travessa. O detetive aumentou o sorriso, aprovando seu plano, e o chamou com um gesto.
A cor no rosto de Jimin se tornou mais rubra, então ele se movimentou em sentido a cama, removendo os chinelos para subir no colchão. Seus joelhos se moveram à frente sobre os lençóis, não de forma rígida, mas de um modo peculiar e adorável. Ele se pôs entre as pernas de Jungkook e sentou-se sobre os calcanhares.
– Sua estratégia me pareceu genial. – comentou o maior, sorrindo.
– E um pouco arriscada. – emendou.
A palma do detetive flutuou em torno de seu braço, correndo ao longo da manga da blusa dele até alcançar a mão. Jimin tomou fôlego enquanto o assistia levar sua mão, gentilmente, para os lábios, onde deixou um beijo carinhoso. O menino não se mexeu, apenas o fitou com uma expressão de puro fascínio enquanto seus pensamentos evaporavam.
De repente, Jungkook o soltou com delicadeza, permitindo que ele levasse aquilo adiante. Jimin, um pouco tonto com aquela decisão, sentiu que ele esperava por seu progresso, então traçou o dedo pela linha de seu maxilar até descansar um centímetro abaixo do lábio inferior.
Os olhos de Jungkook eram como a noite, seus lábios acabaram se partindo em expectativa. O menino desceu os dígitos ao longo do pescoço dele, tão quente quanto seu próprio desejo, e visou as marcas roxas de dedos na sua pele.
– Quem fez isso? – ele não interrompeu o toque, mas tomou coragem para perguntar.
– Derek.
Jimin pensou ter feito um ruído em espanto, mas logo se deu conta que essa impressão partiu do fundo de sua mente. Era quase como receber uma punhalada nas costas e o grito se rachar no meio. Ele ficou visualizando as digitais um segundo antes de ser atraído na direção dos olhos a sua frente.
– Feche os olhos. – o menino pediu num tom baixo, fazendo Jungkook erguer uma faixa de sobrancelha.
– Isso foi uma ordem?
Jimin riu.
– Vamos, feche os olhos. Quero te mostrar uma coisa. – ele explicou enquanto se via refletido em cada uma de suas íris.
Jungkook fez o que ele solicitou, tendo uma ligeira sensação de que algo viria a seguir. Jimin deixou suas mãos explorarem livremente ao longo de seus ombros, sentindo uma espessa tensão sob os músculos dele. Em seguida, pressionou a curvatura do osso, arrancando dele um gemido.
– Você parece tenso. – o menino observou. – Posso te fazer uma massagem se quiser. Você deixa?
– Está pedindo minha permissão? – ele fez uma expressão de deleite quando as mãos de Jimin escorregaram, subitamente, para a escápula e o espremeu com cuidado.
– Isso é um sim?
O detetive abriu as pálpebras e o encarou por baixo. – Isso significa "o que você quiser."
Com um sorriso adorável, Jimin descobriu que nada daquilo o importava naquele momento, ninguém ao seu redor e muito menos os eventos atuais. Ele estava perdido na sensação de leveza em seu corpo e no sentimento lindo que Jungkook havia despertado dentro dele.
– Então era isso que queria me mostrar? – o detetive falou com um sorriso largo no rosto. – A massagem.
– Não. – respondeu. – Eu ainda não te mostrei o que queria.
Jungkook leu a expressão nos olhos dele e, com um penetrante sentimento de fascínio, pôs as próprias mãos nele, na cintura, o convidando para perto. Jimin pareceu surpreso, mas não deu uma palavra, apenas se arrastou alguns centímetros à frente.
– Dessa vez eu preciso fechar os olhos? – Jungkook questionou com uma indisfarçável vontade. Jimin negou, ainda sorrindo.
– Não. Dessa vez você precisa deixar que eu te beije.
O maior notou com uma distraída clareza que havia uma quantidade de calor diferente na voz dele, algo incomum no seu modo de falar. Entretanto, isso não pareceu um problema para Jungkook, ele tinha ficado animado com essa ideia, afinal.
– Você sabe que não precisa da minha permissão para isso. – o garoto ficou vermelho com suas palavras, mas dessa vez ele não teve nenhum interesse em esconder sua cor.
– Jungkook – ele o chamou em um meio sussurro. A súplica na sua expressão era evidente. – Todas as vezes que nos beijamos, foi você quem me encorajou a retribuir. Mas hoje não quero que seja assim. Eu quero ser o primeiro a te beijar.
Admirado, Jungkook ficou olhando para ele com uma pontada de surpresa e sorriu. Jimin nunca pensou que poderia pedir tal coisa para ele, nem mesmo imaginado que iria vê-lo reagir daquela forma. Então Jungkook disse, com uma súbita e impressionante disposição:
– Faça o que quiser, meu anjo.
Jimin ergueu as mãos, envolvendo-as em cada lado do rosto dele, embora seu olhar estivesse fixado nas marcas que se torciam em seu pescoço. Fitando-as, ele se empurrou à frente lentamente, sentindo que seu próprio receio havia ido embora quando tocou os lábios na primeira cicatriz roxa.
Em reflexo, Jungkook enterrou os dedos na sua cintura, suavemente, era quase como ter as mãos em um contato direto com sua pele. Jimin subiu o beijo e selou outra marca, tão carinhoso quanto a textura de uma nuvem. Ele ouviu um suspiro se quebrando na garganta do detetive e percebeu que estava indo bem.
Aos poucos, Jimin foi subindo as carícias, passando pela margem inferior da mandíbula até alcançar seu queixo, onde o presenteou com uma mordida graciosa. Jungkook lançou a cabeça para trás devagar, o suficiente para tocar a cabeceira. Jimin se agigantou sobre ele, raspando suas bocas tão levemente quanto o roçar de uma pluma. Ele obteve a memória de um beijo e de repente uniu seus lábios.
Jungkook sentiu a dura pressão dos braços dele sobre os ossos de seus ombros quando ele os entrelaçou ao redor de seu pescoço. A dor queimou ao longo de sua espinha, mas sua mente estava tão perdida em outra questão que esse detalhe passou despercebido.
Houve uma fricção de seus lábios, primeiramente leve, seguidamente arrojado. O menino sentiu-se tão fluido e maleável que seus joelhos o tiraram de equilíbrio e então ele acabou dobrando-se contra Jungkook. O detetive o puxou gentilmente para o colchão e Jimin rolou de costas, aterrissando acima dos finos lençóis. Eles acabaram rindo entre o beijo.
As mãos de Jungkook o tocaram nos cabelos, o beijo deixou de ser gentil e se tornou ardente, tudo em um simples momento. Jimin conseguia sentir o suave palpitar do coração dele contra as costelas. Era como se cada pulsação combinasse com a sua num ritmo harmonioso.
O garoto o trouxe para perto como se estivesse tentando se aconchegar nos seus braços, sentindo o peito dele subir e cair uma vez, rápido. Suas línguas dançaram agradavelmente juntas e eles se aventuraram no sabor do outro. A respiração de Jimin falhou, mas ele continuava a definir o ritmo.
De repente, Jungkook gemeu durante o beijo e contraiu o tronco. Ouvindo-o suspirar em dor, Jimin interrompeu o contato para encará-lo com o coração pulando selvagemente.
– Você está bem?
– Essa posição é um pouquinho desconfortável, não acha? – o menino simplesmente sorriu, seu gesto era instável.
– Claro.
Segundos depois, Jimin sentou-se de modo mecânico e sentiu um arrepio na espinha quando notou que Jungkook o olhava de longe. Ali, ele observou que mesmo à distância seu corpo respondia aos toques invisíveis dele.
– Jimin? – Jungkook o chamou, sua voz era calma, atenciosa e cautelosa. O garoto se virou num súbito movimento. – Por que paramos?
– Não posso. Você não está bem. – essa foi a coisa mais estúpida a se dizer, pensou Jimin. Ele viu um lampejo sutil de negação no olhar de Jungkook.
– São apenas ferimentos, meu bem. Eles somem.
Jimin nada disse, mas deixou-se levar quando o detetive pegou sua mão e fez uma cara interrogativa, mostrando-lhe que não havia quebra-cabeças, nem motivo para tal apreensão.
– Vem aqui. – o chamou com um senso de conforto.
Deslizando sobre os lençóis, o garoto se apoiou no cotovelo e encarou o outro que não estava totalmente deitado. Ele se sentia tão confortável com Jungkook que não se importava em ficar na mesma cama que ele. E lá estava o sorriso gentil que Jimin tanto adorava.
– No que está pensando? – ele perguntou ao detetive.
– Em você. – Jimin estremeceu com aquela confissão. – Pensar em você é a única parte boa do meu dia, então digamos que faço isso com frequência.
– Quem diria – a garganta dele quase se apertou e um rubor subiu a superfície de suas bochechas. – Eu e um agente do FBI.
A expressão no rosto de Jungkook não mudou, mas Jimin suspeitou de algum deslumbramento no fundo de seus olhos. Ele esboçou um sorriso em sua direção, e embora o menino não tivesse muita certeza do motivo, acabou retribuindo seu gesto. Jungkook se dobrou cuidadosamente para não amarrotar as feridas e chegou mais perto dele.
Jimin o encarou com um ar curioso quando foi surpreendido por uma carícia nos fios soltos sobre sua testa. Ouvindo seu silêncio, o detetive acrescentou de modo gentil:
– Talvez seja porque eu sou um homem de sorte. – ouvir aquilo foi como receber uma pancada no peito para o garoto. – Você sabe, nem todo mundo tem a honra de encontrar um Park Jimin.
Não escondendo o sentimento êxtase, Jimin riu em espanto e achou aquilo uma graça. Seus olhos estavam do jeitinho que Jungkook gostava, cintilantes e sorridentes, como duas fendas estonteantes. Então, Jimin acariciou seu rosto carinhosamente, como costumava fazer sempre que estavam próximos, e observou que os cílios dele faziam sombra sobre as maçãs de seu rosto.
De repente, o menino foi diminuindo a distância e tomou os lábios dele, inicialmente com um selar. Suas bocas se arranharam demoradamente e ambos fecharam os olhos para sentir o toque. Jungkook abriu a boca sobre a dele em busca de um contato mais próximo e logo foi recompensado. Seu gesto era gentil e suas mãos tão leves quanto cobertas de veludo ao seu redor.
Jimin sentiu-se derreter quando ele puxou seu lábio inferior com os dentes e depois voltou a colidir suas línguas lentamente. A sensação que tinha era que as batidas de seu coração estavam prestes a saltarem do peito. O sabor de sua boca e o choque de lábios acabou roubando o fôlego do menino, que retribuiu seu ato com uma suave mordida.
Jungkook cheirava a gardênia e seu hálito tinha um leve toque de cafeína. Uma mecha molhada pendeu de seu cabelo e atingiu a testa do menor, o fazendo estremecer com o gelo. O beijo pareceu esquentar rápido demais, o suficiente para deixar Jimin um pouco tonto. Identificando isso, o detetive levou a mão dele à sua nuca, onde o incentivou a explorar daquele território.
Jungkook estava entregando todo controle nas mãos de Jimin, ele percebeu isso, então decidiu aproveitar a oportunidade para mergulhar suas garras nos fios molhados e espremê-los na curva de seus dedos. O detetive sorriu entre o beijo, satisfeito com o resultado, mas seu gesto não durou muito.
Uma batida na porta os interrompeu imediatamente. Jimin se afastou aos trancos, recuperando o fôlego, e sentou-se. Jungkook fez o mesmo, só que usando menos esforço. A garganta do menino se contraiu quando ele encarou o outro, interrogativo, e não notou nenhuma diferença nele.
– Quem é? – sua pergunta veio num sussurro. Jungkook deu de ombros, igualmente perdido.
Jimin engoliu o próprio desconforto e rolou para fora da cama num instante. Ele verificou as próprias roupas e arrumou o cabelo, reparando que Jungkook fez o mesmo. Ele deu uma rápida conferida no rosto do investigador, desviando-se apenas quando outra batida veio.
– Eu abro. – disse Jimin, respirando fundo.
Ele não podia entrar em pânico agora, só devia se concentrar em seguir até lá e fingir que nada aconteceu, embora soubesse que esse plano não funcionaria com Yoongi.
Deixando de lado o choque da circunstância, ele se moveu adiante com passos calculados e alcançou a maçaneta. Um borrão de luz invadiu o quarto quando a porta se abriu e um delineado corpo irrompeu na entrada. A pessoa deu um desconfiado olhar para o garoto e notou que ele ficou horrivelmente perplexo, como se uma névoa o engolisse e drenasse a cor de seu rosto.
– Inspetor Jared?
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