⍟ twenty three

— Jimin, se acalma. — Hannah pediu pela segunda vez enquanto o observava andar de um lado para outro, os nós dos dedos enfiados no cabelo com força. — Respira e me conta tudo de novo.

De repente ele parou, seus olhos encontraram os dela com cuidado. Seus pensamentos se retalharam ao meio quando a viu retirar os cílios postiços diante de um espelho velho. Jimin não entendia como ela parecia tão bem depois de estar em um quarto com outro homem minutos atrás. Se estivesse no lugar dela, provavelmente permaneceria chorando a noite toda.

Ela o encarou pelo reflexo, acatando seu silêncio enquanto esperava por uma resposta. Jimin arremessou para longe suas observações e focou no assunto atual.

— Lembra que eu te falei da conversa que ouvi do Namjoon com aquela mulher? — ele começou a falar, sua voz perdendo a força à medida que se recordava da voz enigmática do homem.

— A vadia infiltrada? — ele confirmou com um aceno. Seus olhos se escureceram de medo.

— Derek me chamou e disse que queria me ver. Eu pensei que fosse por causa dessa conversa. Não sei o que se passou na minha cabeça naquela hora, mas eu senti que ele ia me castigar por ter ouvido tudo. — Hannah soltou um suspiro perturbado e sacudiu a cabeça num gesto de entendimento. — Mas no final de tudo, ele queria que eu fizesse uma escolha entre fugir ou voltar a trabalhar na boate.

— Mas você ainda não deu a resposta, deu? — ele balançou a cabeça para os lados.

— Eu não sei o que falar, Hannah, não quero voltar a trabalhar naquela merda de boate de novo, mas também... — ele pausou por um instante e então suspirou. — Não quero colocá-lo em perigo. Se eu fugir, ele vai ser pego e não vamos ter mais esperança de sair daqui.

Hannah não se preocupou em esconder o fiapo de dor que a incomodou brevemente. Ela sabia que a única coisa que alimentava o filete de esperança que ainda sobrevivia em Jimin era aquele policial, o qual ela não conhecia.

Subitamente, ela se virou de frente para ele e o chamou com o nó de seu indicador. Jimin deslizou os pés para perto dela, se agachando para ficar na mesma altura.

— Não quero ser dura, ok? Mas a vida que você está levando com o Derek não é tão diferente do que eu levo na boate. Esse cretino faz coisas muito piores com você, meu anjo. — algo que Jimin interpretou como pena atravessou os olhos dela. — Sabe as marcas em suas costas? Elas podem sumir de seu corpo um dia, mas não sabemos por quanto tempo elas vão ficar em sua memória te atormentando.

Jimin não disse nada por um momento, sua expressão confusa persistiu por mais alguns segundos, a exploração lenta de seu cérebro resistiu no silêncio de sua voz.

— O que você quer dizer? — perguntou ele. — Quer que eu volte a trabalhar na boate?

Com cuidado, ela o segurou pelas mãos, podendo sentir o pulso dele martelando em suas veias de um jeito forte e violento. Ela se aliviou quando a palma dele se fechou contra a sua e um suspiro frouxo escapou de seus lábios.

— Quero dizer que você precisa fazer aquilo que menos te machuque. — a sensação de mal estar embrulhou o estômago dele quando os olhos verdes em sua frente endureceram. — Fuja.

Jimin apertou os olhos depois de sua surpresa imediata. De todas as vezes que pensou em alguma coisa, nenhuma delas envolvia se afastar de Hannah. A menina arriscou a própria vida para encontrá-lo de novo, por que a deixaria de repente? Não teria coragem, mesmo que fosse para salvar a própria pele.

— Não posso fazer isso. — ele se levantou de um jeito impensado e passou a mão ao longo do rosto. — Não posso te abandonar, nem deixar o Namjoon conseguir o que quer. Eu tenho que pensar em alguma coisa.

O silêncio de Hannah se estendeu. Ela se ajeitou no tamborete e apoiou o queixo sobre o punho. Seu olhar perambulou pelo pequeno quarto, procurando, entre as sombras que a lua formava nas paredes, uma solução para o presente problema.

— Se eu fugisse, para onde iria? — a voz dele cortou o silêncio, ela o fitou sob os cílios. — O Namjoon deve ter um plano perfeito na cabeça e agora quer me fazer de marionete.

— Meu anjo, se o Namjoon te escolheu para atrair esse policial, então significa que ele realmente vai vir. — ela desfez a posição e se ergueu do assento. — Essa megera disfarçada deve contar tudo para ele.

— Eu sei, Hannah, mas por que eu?

— Porque o Namjoon sabe que ele vai vir atrás de você. — aquelas palavras causaram uma dor que ardeu e inflamou o interior dele.

Seu coração estava por um fio. A esperança que o prendia se estilhaçou abruptamente. Por sua causa ele estava em perigo. Por sua tentativa boba de fugir, agora, Namjoon sabia do encontro no depósito. O encontro que, na visão de Jimin, não deveria ter acontecido.

Se não tivesse tentado achar uma saída, o policial não estaria enguiçado. Por sua falta de senso, pensou, ele o acabou deixando entrar no meio de uma tocaia, na qual as alternativas eram repudiantes.

— Jimin, presta atenção. — as mãos dela abraçaram seu rosto, fazendo aqueles castanhos brilhantes fitar seus olhos. — Você é a chave de tudo. O único que não estava naquela passarela como todas as outras. Você tem a chance de ser levado para qualquer lugar junto com o Derek. Por isso ele vai vir atrás de você, pois ele sabe que se te encontrar, vai poder encontrar os outros também.

— Então você quer que eu fuja e entregue ele de bandeja para o Namjoon?

— Quero que você fuja e conte tudo a ele sobre o plano do Namjoon com essa víbora de vestido. — ela escorregou os dedos pelo pescoço dele até que estivessem pousados em seus ombros. — Eu vou ficar aqui te esperando. Todas nós vamos.

— E se eu não conseguir chegar nele? E se antes de encontrar ele, os capangas do Namjoon o pegar primeiro? Esse desgraçado já deve ter planejado tudo de antemão.

— Você está pensando muito nas hipóteses. — ela se afastou, formando uma trança embutida bem justa com os seus fios ruivos. — Eu acho que se o policial misterioso aparecer, então vamos ter uma chance de contar tudo. Podemos chamá-lo assim, não é?

Ela brincou, inclinando a boca para o lado furtivamente num gesto de descontração. Jimin sorriu, mas sem mostrar os dentes. Por mais que o assunto fosse sério, ele sabia que ela só estava se esforçando para remover as feições confusas de seu semblante.

— Vamos imaginar tudo o que o Namjoon quer que você faça. — disse ela, pegando um pedaço de pano para retirar a maquiagem do rosto. Jimin apoiou as costas na parede, se escondendo sob as sombras, e abraçou o próprio corpo em proteção ao frio. — Digamos que você acabou de fugir. Para onde iria?

— Não sei.

Os olhos dela o encontraram no escuro, as sobrancelhas levemente erguidas e as pálpebras juntamente elevadas.

— Assim você não está ajudando, meu bem. — um suspiro frágil fugiu dos lábios dele, revoltado, no instante seguinte sua voz rompeu o silêncio.

— Correria para pedir ajuda.

— Vamos supor que você foge como o Namjoon ordenou e acaba encontrando o policial misterioso. Os homens do Namjoon saem do escuro e capturam vocês. Para onde eles os levariam?

Jimin curvou as sobrancelhas com a ausência de otimismo dela.

— Eu não sei...

— Para o local do leilão não seria, já que vai estar cheio de clientes e eu duvido que o Namjoon queira chamar atenção. — o pedaço de pano sujo de maquiagem foi jogado no chão assim que ela terminou de se limpar. — Ou eles vão levá-lo para um galpão e matá-lo ou vão torturá-lo em um beco escuro para que fique longe da máfia.

Jimin segurou as palavras na garganta, surpreso pela forma que ela expôs sua lógica amarga.

— Que maravilha, você acabou de me ajudar a escolher a opção de não fugir.

— É isso! — Hannah deu um gritinho fino, estalando os dedos no ar. — O objetivo do verme do Namjoon é que você fuja e atraia o policial misterioso, certo? Mas, e se você não escapasse sozinho?

A expressão de Jimin ficou ainda mais confusa. A estranha sensação de vê-la radiante de expectativa cresceu em seu interior.

— Onde você quer chegar?

— É simples, meu anjo. — ela sorriu. — Eu vou fugir com você.

Os olhos de Jimin ficaram esbugalhados.

— O quê? — ela se ajoelhou em sua frente e puxou a coberta para o seu colo. — Tem certeza que isso vai dar certo?

— Certeza eu não tenho, mas pensa comigo: você vai fazer exatamente aquilo que o Namjoon mandou, a única diferença é que vai ter uma parceira. Se eles me pegarem, você vai ter tempo de chegar no policial, mas se eles te pegarem, então eu faço esse serviço. E acredite, quando eu encontrar aquela lacraia de saia, vou arrancar os cabelos dela. — apesar do tenso assunto, Jimin acabou rindo do mais novo apelido à infiltrada.

— Gostei do seu plano, só que tem um problema. — ele mordeu a pontinha do lábio inferior, nervoso. — Ele te coloca em perigo, Hannah. Se esses homens te pegarem, vão te ferir.

— Eu vim atrás de você com o objetivo de te tirar daqui. E para isso eu vou correr o risco. — Jimin quis abraçá-la, mas ao invés disso, ele apenas abaixou a cabeça e concordou com um fraco aceno. — Namjoon espera que você fuja sozinho, então se eu for com você, isso vai mudar completamente os planos dele.

— Acho que devemos pensar melhor sobre isso. — ela deu de ombros e beijou a testa dele.

— Tudo bem. Pense melhor no que você quer fazer, mas não demore tanto porque só temos mais um dia. — a expressão murcha de Jimin sumiu quando ele esfregou o canto dos olhos, sonolento, e balançou a cabeça devagar.

O escuro da noite impedia que Hannah pudesse ver com clareza as feições dele. Os olhos estavam mais escuros sob as sombras, as íris pareciam envolver toda a esclera como uma órbita negra. O céu da madrugada estava maculado, a lua derramava sua luz branca pela pequena janela acima deles.

— Se importa de desamarrar aqui? — Hannah apontou para as suas costas, indicando os nós de seu vestido.

Jimin girou os dedos para que ela se virasse de costas e então se aproximou um pouco mais. Suas mãos caíram no zíper que descia pela linha da coluna do vestido e o puxou para baixo. Hannah segurou a parte dianteira do vestido quando o sentiu escorregar para frente. Jimin agarrou um moletom dentro da bolsa e entregou para ela.

— Quantos foram hoje? — ele quis saber, a hesitação saltitando de suas palavras.

Hannah estava ereta, seus ombros ficaram tensos quando ouviu a sua pergunta. Ela jogou o moletom por cima das costas e fechou o zíper antes de se levantar.

— Cinco.

Uma coisa como desespero cortou os olhos dela. Jimin sentiu uma súbita dor no coração ao observar sua reação.

— Me desculpe, eu não quis...

— Está tudo bem, meu anjo. — o seu vestido deslizou por baixo do moletom e ela o pegou nas mãos, o arremessando dentro da mala em seguida. Uma calça folgada estava descansando entre algumas blusas, Hannah apalpou a peça e começou a vesti-la.

Jimin abriu a boca para falar, mas a fechou no mesmo instante, parcialmente arrependido.

Desespero, raiva, repulsa. Estas eram as palavras que caracterizavam seus sentimentos em relação àquele lugar. Era um assunto delicado, o qual precisava calcular o peso das emoções antes de dizê-las.

— Você vai precisar de mais roupas. O frio vai ficar pior na madrugada. — Jimin aconselhou, referindo-se ao traje que ela pôs para dormir.

— Que tal meias? — ela olhou para ele pelo canto de olho, os lábios semicerrados em um sorriso travesso. Jimin sentiu um enorme alívio por vê-la com a expressão menos apavorada. — Vou pegar um par para você também.

Logo que retornou, Hannah entregou um par de meias para ele e se atirou no colchão, se aconchegando nos braços de Jimin. Ele a envolveu com um braço, deixando-a que descansasse a cabeça em seu peito.

Ele arrancou o cobertor do outro lado e o lançou em cima de seus corpos, protegendo-se do frio cortante que enquadrava toda a cela. Era o segundo inverno que enfrentava naquele lugar, as rajadas chegavam a ser tão agudas que seus pés ficavam congelados.

Hannah o abraçou pela cintura e fechou os olhos, o abraço foi tão forte que Jimin temeu derramar uma lágrima, como se fosse uma despedida antecipada.

— Jimin. — ela o chamou, a voz falhando por conta das lufadas de ar que adentravam a janela de grade. — Não quero que fique pensando no que tem que fazer. Descanse sua mente antes de tomar uma atitude. — seus olhos encontraram os dele desesperadamente. — Nós vamos sair daqui juntos.

A visão dele desceu de encontro a ela, seu peito subiu e desceu rápido demais pelo nervosismo do silêncio que prosseguiu e pelos pensamentos bagunçados que se atropelaram em sua cabeça.

— Quero que me prometa uma coisa — ela se retificou após a ausência de palavras dele e olhou bem fundo em seus olhos. — Se encontrar esse policial, conte tudo o que sabe para ele. Ele foi o único que conseguiu chegar até nós, meu anjo. Tem ideia de como isso faz dele o cara mais inteligente do que os outros? Se ele chegou até aqui, com certeza deve ter um plano para o leilão.

— Eu sei, Hannah, mas tem aquela mulher que passa toda informação para o Namjoon. Se ele tiver um plano, não vai dar certo por causa dela.

— Shh, olhe para mim. — o dedo dela selou a boca dele, depois acariciou sua bochecha. — Esquece essa víbora e foca no nosso plano, certo? Daqui a pouco amanhece, você só precisa descansar essa cabecinha cheia de coisas e depois pensar no que fazer. Não importa qual seja sua decisão, eu só quero poder ficar com você agora.

Ele sorriu e puxou ela para um abraço. Mesmo que uma voz rugisse em seu interior, bloqueando qualquer sono que ousasse aparecer, Jimin sabia que tinha que fazer uma escolha, e não saber as consequências de cada uma delas era o que dificultava essa tarefa.

✮✮✮

Jungkook apertou as mãos no volante quando girou à direita. Sua fisionomia séria e compenetrada aparecia e sumia à medida que ultrapassava os postes nas ruas. A sua mandíbula estava levemente travada, sendo clareada apenas pelo fulgor de luz da lua, enquanto seus olhos se escondiam sob a sombra do retrovisor interno.

Ele quase riu de escárnio ao se lembrar das palavras de Seokjin. O Juiz negou o mandado. Ele se recordou, endurecendo vagamente sua expressão ao reviver duramente aquela frase.

Era como se uma onda gigante conspirasse contra seus planos e cuspisse sem piedade em cada esboço que criava. Como se os erros estivessem medidos e calculados antes mesmo que pudesse efetuá-los. Como se alguém estivesse do lado deles, urdindo cada esquema que o FBI projetava.

Essa nuvem escura se passou nos pensamentos de Jungkook diversas vezes, mas sua preferência foi deixá-la de lado por um momento até conseguir resolver o problema recente: o mandado.

Havia muito vácuo na investigação, coisas que deveriam ser apresentadas e estavam sendo tapadas pelo próprio diretor. Ou Seokjin queria protegê-lo de algo, ou ele estava ousadamente traindo o Departamento, pensou, desde o momento que pisou no quarto. Ao invés de descansar como havia prometido, sua mente favoreceu o lado duvidoso de toda aquela conversa que teve na sala.

Suas mãos se apertaram contra o volante, evocando de forma vívida o capítulo de horas atrás. As ruas estavam cobertas pela neblina, os faróis corriam depressa pela faixa preta da estrada que seguia por atalhos curvilíneos. Jungkook sentiu seu celular vibrar no bolso e se inclinou para o lado para segurá-lo, enquanto segurava o volante com apenas uma mão.

Yoongi surgiu do outro lado da tela, esperando ser atendido. Jungkook aceitou a chamada de vídeo e posicionou o aparelho acima do painel de controle.

Olha aqui, eu não disse que você podia sair na madrugada para beber. O que foi agora?

A voz histérica de Yoongi cortou o silêncio.

Jungkook mirou a tela do celular, sobrancelhas vagamente franzidas, depois voltou-se para a estrada adiante.

— Não sabia que estávamos em um relacionamento. — ele brincou, embora sua expressão continuasse sóbria.

Não foi bem isso que eu quis dizer. Você tinha dito que ia descansar e do nada pega a chave do carro e sai. Sabe que horas são?

— Ok, agora você está parecendo a minha mãe. — o provocou mais uma vez, ouvindo o ruído de um suspiro aborrecido partindo dele. — Olha, eu realmente fui descansar, mas acabei encontrando novas pistas com base nas pesquisas que fiz e agora estou a caminho delas.

Espera aí, novas pistas? — Yoongi perguntou, se bulindo em curiosidade. Jungkook confirmou com um balançar de cabeça, estacionando o carro numa área com poucos veículos. — Quais pistas são essas? Algo me diz que você deveria ter me chamado também.

— Yoongi, eu ia te chamar, mas te vi ocupado no notebook. — o detetive atrás da tela segurou um copo com canudo e começou a sugar o que quer que estivesse dentro, como se dissesse através daquele olhar para que Jungkook abrisse o jogo. — Certo, eu estava estudando sobre Derek Meyer. A última localização dele foi em um hotel, e adivinha? O dono desse hotel é o mesmo cara que conversou com ele no dia do desfile. Eu o reconheci por foto.

Não me diga que você está indo para esse hotel?

Jungkook olhou em volta, assistindo algumas pessoas emergindo da neblina e entrando no prédio.

— Tenho que conseguir respostas. — foi o que ele respondeu.

Olha, eu não vou te deixar fazer isso sozinho. Me dá o nome do lugar. Jungkook gesticulou a cabeça para os lados, abrindo um sorriso cafajeste.

Você fica bem melhor quando está no notebook. — Yoongi abriu a boca para protestar, só que Jungkook agiu mais depressa. — Te ligo mais tarde.

Assim, ele desligou o aparelho e o colocou de volta no bolso. Apesar da névoa encobrir boa parte do vidro do carro, impedindo que pudesse ver com clareza o lado de fora, Jungkook conseguiu enxergar, na penumbra da noite, a silhueta do homem que procurava: Alexander Cooper. Ele estava entrando no hotel com duas garotas, uma em cada lado.

Era o mesmo homem que viu no dia do desfile conversando com Derek. Jungkook não ouviu sua conversa, já que estava a metros de distância, mas sua memória gravou otimamente as características dele: cabelos grisalhos, pele bem cuidada e olhos azuis.

Seus olhos se iluminaram de convicção. Havia uma coisa que precisava fazer naquela noite e ela estava inteiramente ligada ao dono daquele lugar. Abusar de suas artimanhas em disfarce era o que Jungkook mais gostava de fazer.

Ele abandonou o carro ligeiramente, seus olhos sondaram em volta como se procurasse alguma coisa. Um suspiro atiçado fugiu de sua boca em forma de fumaça. O inverno conseguia deixar seus lábios ainda mais vermelhos do que sua cor natural.

Com o frio rachando sua pele por baixo do casaco, Jungkook fechou a porta do carro e travou, começando a andar com as mãos friccionando uma na outra para aquecê-las. Seu cabelo dançava para trás como uma onda oscilante e seu rosto recebia as lufadas pesadas de ar que se eclodiu como vapor. Ele passou pelo gradil, acenando educadamente para o segurança do prédio, o qual o respondeu com o mesmo gesto.

Uma mulher tombou nele assim que atravessou a porta principal, lhe pedindo desculpas pela forma desajeitada. Jungkook não levou tão a sério, parecia bêbada e sem força para sequer ficar em pé. Ele vislumbrou um balcão aclarado com vitrinas de bebidas, havia poucas pessoas acomodadas nas banquetas ao seu redor.

Em um daqueles bancos, Jungkook descobriu a figura de Alexander cochichando no ouvido de uma das garotas. Cada uma delas estava ao seu lado, recebendo cereja na boca. Não pareciam crianças, muito menos adultas.

Então, astuto o bastante, o detetive disfarçado fabricou um sorriso cativante no rosto e dirigiu-se até o bar no outro lado do saguão.

— Boa noite! Pode me dar um copo de gim, por favor. — ele pediu, levantando o dedo na direção do barman para atrair a sua atenção.

Pelo canto de olho, Jungkook conseguiu capturar o olhar sórdido do homem caindo sobre si como se estivesse olhando para uma pintura, o interesse brotando como faíscas em seus olhos selvagens.

— Vocês só atendem os hóspedes ou abrem exceção? — Jungkook perguntou ao barman quando ele se aproximou.

— Só liberamos as bebidas para quem é hóspede. O senhor não é um hóspede? — ele perguntou atenciosamente, deixando os lábios em uma linha fina como se sentisse muito.

— Na verdade, eu acabei de chegar de uma viagem de negócios. Esse lugar foi o primeiro que encontrei. — ele criou uma falsa história. — Mas não tem problema, eu procuro outro bar. Obrigado pela sua atenção.

Logo que Jungkook se virou para sair, um braço atravessou o seu caminho e bloqueou sua passagem.

— Me perdoe a interrupção, mas eu jamais deixaria um rapaz como você sair sem tomar uma bebida. — Alexander disse, o canto de sua boca estava erguido em um sorriso perigoso e cafajeste. Xeque-mate. — Aceite o gim. É por minha conta.

— Tem certeza?

Pegue a bebida, querido. — ele deslizou o copo de gim para perto de Jungkook e lhe ofereceu.

— Obrigado.

Ele aceitou a oferta imediatamente.

— Acredito que ainda não fomos apresentados. — disse o homem, sua acentuada voz com sotaque. Ele esticou a mão num gesto de cumprimento. — Me chamo Alexander Cooper.

— Jev. — Jungkook odiava aquele nome.

Sua mão segurou a dele, e antes de soltá-la, Jungkook olhou de relance para as duas meninas ao seu lado.

— Quem são elas?

O homem pigarrou furtivamente, olhando para cada uma das garotas como se sentisse vergonha por tê-las em sua presença naquele momento. Ele as empurrou de um jeito disfarçado e forçou um sorriso.

— O que acham de me esperar lá fora? Eu chamo vocês assim que terminar. — ele disse diretamente para elas, que sorriram antes de finalmente se afastarem. Ele se virou para Jungkook, contemplando-o com um sorriso de canto. — São apenas umas das mulheres que não resistem ao meu charme.

— Então você é um homem narcisista? Acho que temos algo em comum. — Jungkook argumentou, arrancando uma risada infame que se formou lento e de um jeito travesso no rosto dele.

— Eu tenho alguns pontos interessantes, quem sabe eu te mostre. — Jungkook acabou rindo com o copo entre os lábios, fingindo estar interessado no que ele tinha a oferecer. — Mas, alguma coisa me diz que você não é um estranho...

— Talvez o desfile de máscaras te faça lembrar.

As feições do homem se alteraram de repente. Ele ficou sério por curtos segundos e então sorriu, satisfeito, seus olhos irradiavam ambição e desejo.

— Eu sabia que você tinha algo de interessante também. — por fim, ele proferiu. Jungkook curvou o canto da boca, realizado, mas seu agrado se dava ao fato de ele ter caído como um patinho em seu jogo verde. — Então quer dizer que você gosta de atividades ilegais? Me conte mais sobre isso.

Jungkook enxergou uma nuvem de interesse florescer nos olhos dele. Aquela era a hora de se aventurar com o assunto que mais o agradava e o fazia penalizar sua segurança.

— Eu sou um pouco novo nessa área. Talvez por você ser mais velho e mais experiente, consiga me dar uma ajudinha, não acha? — o homem formou um 'O' com os lábios, surpreso e contente pelo elogio. Ele bebericou seu martini antes de pronunciar alguma coisa.

— Tem tantas coisas que você precisa experimentar, meu rapaz. — disse ele, rindo, depois segurou o ombro de Jungkook, o acariciando com seu polegar. — O que me diz de garotos de treze anos?

Um gosto forte subiu à garganta de Jungkook como um fio em forma de serpente, ele cercou aquele incômodo com mais um gole de gim. A repulsa ameaçou aparecer em seu rosto, mas ao invés de deixá-la transparente, ele a bloqueou com uma feição ordinária.

— Não fazem muito o meu tipo. — respondeu risonhamente, mascarando o seu impulso de socar a cara dele. — Talvez uma boate me sirva.

Sua tentativa de invadir pouco a pouco parecia estar resultando em alguma coisa, por isso ele estava disposto a se apossar ainda mais. Alexander se remexeu no banco, chamando o barman com um gesto de cabeça.

— Traga-me uma garrafa de espumante. — ordenou, em seguida seu olhar atrevido perscrutou sobre Jungkook. — Conheço algumas boates, mas isso é um assunto muito sigiloso.

— Alguma dessas pertence a Derek Meyer? Eu pensei em falar com ele no dia do desfile, mas achei a ocasião inadequada.

— Derek? — o homem perguntou, surpreso. — Conhece ele?

— Já tivemos contato, mas nunca cheguei a perguntar sobre a boate. Essas coisas precisam ser discretas, não acha? Como ele vive viajando, ainda não encontrei o momento certo. — Jungkook sentiu que sua resposta o convenceu, por isso sorriu em seu pensamento.

— Derek é um homem ocupado. Vive viajando para pegar as meninas novas e trazê-las para cá.

Jungkook ficou sério de repente.

— Ele traz as meninas para o seu hotel? — Alexander olhou para ele depois de encher sua taça de espumante, depois confirmou com um aceno.

— Ele precisa de um lugar para deixar elas, não é? E bom, como sou um amigo, não tem problema dar uma mãozinha. — ele gargalhou, um pouco consumido pelo álcool. — Mas se você quiser, eu posso informar que tem uma pessoa nova querendo frequentar a casa deles. Um a mais é sempre bem-vindo.

Então era isso. Derek sequestrava as garotas necessárias e as levava até o hotel de Alexander para mantê-las seguras e cientes de que estavam em um ambiente fenomenal para modelos, já que o lugar possuía perímetros refinados e de boa qualidade. Tudo não passava de um golpe para convencê-las do contrato que, em um certo momento, seria revelado como um acordo falso.

— Mas podemos falar sobre isso no meu quarto. O que me diz? — a voz grave de Alexander o expulsou para fora de seus pensamentos. A mão dele estava afagando sua perna, enquanto seu olhar o devorava em petição.

Jungkook avaliou seu rosto, procurando algum sinal suspeito, mas o que se camuflava atrás daqueles azuis cínicos era só excitação.

— Tem algo que vai adorar ver. — ele acrescentou quando não houve resposta por parte do outro. — Um álbum de fotografias de todos que já comprei.

Jungkook sentiu uma massa trancar sua garganta, uma antipatia violenta o fez esmagar sua mão contra o copo, embora uma expressão curiosa tenha dominado seu semblante. Aquilo era um banquete para vê-lo atrás das grades.

— Aceito a proposta.

O homem passou a mão pelo rosto, deixando escapar um som que pareceu meio uma risada áspera da garganta, depois colocou algumas notas no balcão de vidro.

Jungkook largou a taça de gim quando o viu chamá-lo com um movimento de cabeça. Ele afundou as mãos nos bolsos e caminhou na mesma trilha que ele, sem deixar de fuzilar suas costas com desprezo. As palmas formigavam para prendê-lo, desejando fazê-lo pagar por cada barbaridade que praticou com essas crianças.

A porta metálica do elevador rangeu, abrindo-se ao som de um aviso. Alexander gesticulou para dentro do elevador, insinuando para que Jungkook fosse na frente. O detetive curvou ligeiramente o lábio inferior num sorriso agradecido e atravessou por ele.

Fora treinado exclusivamente para transformar suas expressões e ações irreais quando estivesse em uma missão de disfarce, mesmo que seu interior fosse contra as atividades exercidas.

Sua preparação para o FBI especializou sua concepção em cada ângulo, até porque ele sabia que as respostas não estavam espalhadas pela rua, mas baseadas nas conclusões que sua mente obtinha através de análises.

Tinha de entrar na mente do patife e pensar como ele. Era uma missão que exigia foco e cuidado, mas com sua pontuação máxima neste exercício em fase de treinamento, ele sabia que tiraria de letra.

Jungkook pensou na possibilidade de ele saber sobre seu disfarce, apesar de não ter registrado qualquer indício disso nos olhos dele. Estava carregando uma arma na cintura da calça, bastava qualquer movimento suspeito para que ele a erguesse.

O elevador chiou quando parou no décimo andar. As portas se abriram e o homem deslizou os pés para fora, mas antes, seus olhos perversos fitaram o policial por um curto tempo. O detetive se conduziu instantes depois, andando em linha reta pelo corredor enquanto sua atenção estava inteiramente enterrada na nuca do marmanjo. Quando ele se virou, seus olhos encontraram os de Jungkook.

— Esse é o meu quarto. Eu sempre venho aqui guardar algumas coisas quando preciso — ele se aproximou em passos lentos e deliberados, Jungkook manteve-se quieto. — Acho que vamos nos divertir bastante hoje.

— Me mostre o que tem.

O homem sacudiu a mão dentro do bolso interno de seu paletó e retirou um pequeno cartão metálico, onde o introduziu no aparelho instalado na frente da porta. Ela fez um estalo quando a trava se abriu. Jungkook foi o primeiro a entrar a pedido de Alexander.

Ele olhou em volta. Havia uma cama de casal no centro do quarto, os lençóis estavam alinhados e os travesseiros nem um pouco amassados. Uma mesa pequena e redonda estava localizada em um canto mais afastado, duas poltronas a cercavam e, acima de seu suporte, uma garrafa de vinho descansava.

Jungkook andou cuidadosamente por cima do carpete felpudo, as mãos estavam afundadas nos bolsos de seu casaco e o lábio inferior levemente preso em seus dentes. Ele seguiu até a porta dupla de vidro e vislumbrou as baixas nuvens no céu através da sacada.

— Aceita um vinho? — a voz de Alexander chamou sua atenção. Jungkook se virou de lado, onde o flagrou segurando a garrafa na mão.

— Dessa vez vou recusar.

O homem deixou os lábios em uma linha fina e deu de ombros.

— Esse é o melhor que já tomei. — ele derramou um pouco de vinho dentro das taças, depois entregou uma para Jungkook. — Por isso vou insistir.

Os olhos negros do detetive ficaram fixados no líquido quando recebeu a taça nas mãos. Um sorriso forçado surgiu em seus lábios, seu gesto parecia de satisfação aos olhos do outro, embora não fosse de fato.

— Saúde. — o sujeito mostrou os dentes afiados antes de dar um gole.

— É estranho deixar alguém que acabou de conhecer entrar no seu quarto. Devo me preocupar? — Jungkook quis saber, continuando com sua jogada para conseguir respostas.

Ele fabricou um sorriso ladino e franziu as sobrancelhas só para distraí-lo do real motivo da pergunta. Ele realmente conseguia absorver uma expressão que deixava transparecer o que queria passar para o sujeito.

— Algo em você me chamou atenção, talvez a semelhança dos gostos. — seus dedos seguraram o queixo dele, levantando-o devagar enquanto o fazia olhar mais fundo em seus olhos animalescos. — Como você pode ser tão bonito?

A pergunta surgiu de repente. Ele o examinou cautelosamente, estudando cada traço de seu rosto como se quisesse ter certeza se era real. Jungkook permitiu que sua língua fizesse uma rápida aparição quando umedeceu os lábios, percebendo o efeito enfático que causou nele segundos depois.

A sua ausência de palavras só confirmou que a atitude do detetive não havia sido descartada.

— No desfile, por que você não comprou nenhuma menina? — Jungkook perguntou, parcialmente interessado no problema em questão.

Ele encarou o rapaz em silêncio, no instante seguinte arrastou seus dedos para longe dele.

— Digamos que a idade delas não é necessariamente a que eu gosto. Prefiro as mais novas.

Jungkook inclinou a cabeça para cima, então uma risada explodiu em sua garganta, fingindo estar se divertindo com o conteúdo da conversa.

— Mas mudando de assunto... — o sujeito prosseguiu, desta vez sua voz estava diferente. — O que acha de sacudirmos aqueles lençóis?

— Acho que eu passei da idade que você gosta.

— Não tem problema. Sem roupa eu não me importo muito para a idade. — Jungkook levantou a sobrancelha de um jeito discreto, depois um sorriso elevado se desenhou em sua fisionomia, agora, totalmente soberba.

O rosto do homem era um retrato sórdido, o qual Jungkook ansiava estilhaçar até vê-lo partido em cacos no chão.

— Que tal começarmos primeiro com a boate? — propôs, arrancando um olhar confuso do homem.

— Está tão interessado assim em frequentá-la?

— Apenas se for tão boa como dizem. — ele disse, entretendo-se. — Como posso entrar em contato com o Derek?

Jungkook sabia que ele estava afetado pelo álcool, a tontura já devia estar destruindo seu cérebro e dificultando sua parte racional. Desse modo, ele jogaria com a consciência de Alexander a seu favor.

Antes de respondê-lo, Alexander virou a cabeça devagar por cima do ombro, as rugas se realçando aos poucos na lateral de seus olhos quando ele exibiu um sorriso solene.

— Existe uma forma de se encontrar com ele, mas você precisa encontrá-lo em um lugar quieto e seguro. — ele contou. — Um lugar que apenas ele conheça.

— E como isso funciona?

— Alguém de confiança tem que te levar até lá. — sua voz estava começando a vacilar por conta do álcool. — Mas vocês terão que conversar semanas antes, só para garantir que não seja uma armadilha.

Jungkook apertou a mandíbula e rangeu os dentes. Toda essa burocracia o podia levar a uma cilada, até porque ele já desconfiava que a máfia sabia de sua infiltração, embora estivesse surpreso por Alexander não ter suspeitado.

— Esse é um assunto que precisa ser conversado com cuidado, e, bem, meu estado não está em boas condições para isso. — disse ele, fitando os olhos intensos do detetive como se quisesse insinuar outra coisa, como se fosse um predador pronto para dar o bote.

Como se sua intuição tivesse o alertado antecipadamente, o homem saltou para cima dele, ficando mais perto de seu rosto. Seu olhar deslizou pelas linhas de bosquejos em volta do maxilar de Jungkook até caírem sobre sua boca.

— Você sabe exatamente o que veio fazer no meu quarto, certo? — ele sussurrou, o puxando contra seu corpo. Jungkook prendeu a respiração quando sentiu o nariz dele roçando a sua bochecha. — Eu quero te foder, garoto.

— Não me confunda achando que tenho a mesma idade dos meninos que gosta. — ele o lembrou, soando mais como um aviso ameaçador.

— E daí? — ele o encarou, seu rosto retorcido de um jeito assustador. Seus olhos estavam quase saltando para fora como se estivesse perdendo o controle. — Podemos colocar uma roupa em você, vai combinar direitinho. Eu já usei fantasias nos meus meninos, posso fazer isso com você também.

— Alexander — Jungkook o chamou com os lábios prensados assim que sentiu a barba dele roçando o seu pescoço. — Me mostre as fotos e eu faço o que você quiser.

De repente, o homem se afastou. As rugas em sua testa se acentuaram no segundo que levantou as sobrancelhas. Um brilho cortou os olhos dele e algo alertou Jungkook de que aquela oferta havia dado certo.

Ele teria que alimentar o fetiche do marmanjo se quisesse uma prova física bem nas suas mãos.

— Eu uso as fantasias, contanto que me mostre as fotos que tirou de seus meninos. — o canto da boca de Alexander se ergueu e Jungkook sorriu também, um sorriso pequeno e dolorosamente irresistível.

— Sim, espere. Elas estão guardadas aqui.

Ele marchou na direção de um quadro na outra parede, depois o arrancou sem demora. Havia um pequeno cofre embutido na estrutura, que precisava de quatro letras para destravá-lo. Ele os digitou rápido demais, depois recolheu um envelope de dentro.

— Estão todas aqui. — sua mão tremeu quando entregou o envelope branco nas mãos dele.

Jungkook ficou um tanto pensativo enquanto fitava o envelope em suas palmas.

— Abra e veja as fotos. Depois vamos fazer o que me prometeu. — ele disse, sibilando por entre os dentes quando uma fisgada de excitação picou partes de seu corpo.

Atento, Jungkook arrancou as fotos de dentro e as colocou acima do envelope. Os seus olhos se escureceram subitamente e uma força dura fez os músculos de seu queixo se enrijecerem. Suas articulações pareceram derreter com aquelas fotografias bárbaras bem diante de seus olhos.

Eram crianças. Todas despidas em posições diferentes. Umas se escondiam nos lençóis, olhos vermelhos e assustados, outras pareciam incapazes de se mover com marcas no corpo, rastros de chicotes e mordaças na boca. Aquela era uma situação na qual Jungkook não tinha outra escolha senão prendê-lo.

Um tanto atordoado, Jungkook esfregou os olhos e passou mais uma foto. Aquela chamou sua atenção. Era um menino. A faixa etária não devia passar de quatorze anos. Ele tinha olhos castanhos e um cabelo preto que escorria por sua testa e atingia seus olhos inundados pelas lágrimas. Estava amarrado na cama, a boca aberta revelava seu desespero sufocante em um grito, que ficou ali, crescendo e o ferindo, enquanto seu mundo se desfazia e perdia a cor por conta da tortura.

Jungkook sentia a angústia dele atormentá-lo, conseguia ouvir a presença de seu rugido bem no fundo de sua mente, implorando com um grito cheio de pontas afiadas para que o soltasse, mas ele acabou não fazendo nada além de ver aquela imagem em silêncio.

Estava sentindo tanto ódio que doía respirar.

— Quero tirar uma foto sua assim hoje. — a voz de Alexander atrapalhou sua linha de pensamento. Ele se aproximou, fazendo Jungkook se desencontrar das imagens para fitá-lo, dessa vez com o rosto rígido. — Eu posso te amordaçar, te prender com algemas. Você gosta?

Uma onda violenta de abominação se agitou dentro de Jungkook, no fundo ele escutava uma voz de fúria e vingança urrando em sua cabeça.

O homem pegou as fotos juntamente com o envelope das mãos dele e jogou sobre a poltrona, sua boca ousada ameaçou encostar na dele, mas Jungkook foi mais rápido e o virou contra a parede. Com sua bochecha se esmagando no maciço e seus braços sendo violentamente apreendidos nas suas costas, Alexander curvou os lábios num sorriso intimidador.

— Então quer dizer que esse tempo todo você quis ficar por trás? — ele perguntou, rindo, sua voz sendo meio abafada devido a pressão que Jungkook fez contra suas costas.

O detetive Jeon chegou mais perto, sua boca beirou a orelha dele para dizer:

— Não, Alexander, eu gosto de prender pedófilos. — ele respondeu, envolvendo a algema nos pulsos do marmanjo.

O sorriso cafajeste que se habitava no rosto do homem desapareceu subitamente, ele arregalou os olhos, surpreso, depois abriu a boca para protestar.

— O quê? — sua voz grossa se arrepiou no ar, irritadiço, e a cor de sua fisionomia se tornou mais vermelha que o normal, a raiva estava governando suas células. — Você me enganou, seu desgraçado!

— Na verdade, Alexander, covardes como você que usam crianças sempre caem nessa armadilha. — o homem fez uma careta quando tentou, sem sucesso, sacudir para se livrar das algemas, mas Jungkook agarrou seus dois braços e forçou seu torso ainda mais contra a parede, o fazendo gemer em desconforto. — Devia pensar bem antes de deixar qualquer um entrar no seu quarto, talvez ele seja da polícia.

De um jeito brusco, o detetive o virou de frente e o segurou na gola de sua camisa, amassando-a entre seus dedos.

— Vai apodrecer na cadeia pelo que fez à essas crianças. — ele começou a falar, as palavras rosnando entre os dentes. — Mas quem sabe o juiz te dê uma pena menor caso me conte sobre a máfia. Você sabe muita coisa, e se não colaborar, vou ter o prazer de ver os outros detentos fazendo o mesmo que você fez com esses adolescentes.

— Seu filho da puta!

O sujeito se amaldiçoou e se contorceu para tentar se soltar do aperto que se tornava mais forte em sua gola. Jungkook se afastou e o segurou rudemente pelo braço, o puxando para que andasse até a saída.

— Você está preso por posse de pornografia infantil e corrupção de menor. Tem o direito de permanecer calado ou tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal. Tem direito a um advogado. — Jungkook esclareceu enquanto o carregava para fora do quarto.

— Você... Você não pode me levar algemado na frente dos meus hóspedes! — ele grunhiu, resistindo à tentativa de ser empurrado para fora do quarto.

— É mesmo? — Jungkook quase gargalhou. — Sabe qual é a melhor parte desse jogo, Sr. Cooper? Sou eu quem dito as regras por aqui. Agora anda!

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