⍟ twenty four

Jungkook apoiou as duas mãos sobre a mesa e inclinou o corpo calmamente para frente, enquanto devorava a fisionomia do sujeito algemado numa cadeira de metal. Um fino rastro de observação flutuou por seus olhos quando estes ficaram semicerrados numa análise silenciosa.

— O tempo está passando, Alexander. O que acha de facilitar as coisas e me contar o que sabe sobre a máfia? — Jungkook sugeriu, seu semblante endurecendo aos poucos pela ausência de palavras do criminoso.

A resposta dele veio com um levantar de olhar desdenhoso, as rugas em sua testa se acentuaram quando ele a franziu.

— Quero meu advogado.

Jungkook soltou um suspiro indesejado, sua paciência estava sendo varrida para longe a cada segundo que passava. Ele ignorou aquele pedido mais uma vez e passou a língua entre os lábios de um jeito absorto.

— Onde fica a boate?

— Já disse que homens como eu não deduram seus parceiros. Se quer uma resposta, não conseguirá ela de mim. — o marmanjo retrucou, as algemas em seus pulsos chiando contra a mesa.

Uma expressão sólida tomou conta das feições do detetive Jeon, até que um sorriso lento e crápula brincou em seus lábios.

— Acha que eles se importam com a sua lealdade? — ele debochou, arqueando levemente as sobrancelhas. — Se fosse um deles em seu lugar, o que acha que eles fariam? Esconderiam sua identidade? Com certeza eles te jogam na fogueira para se queimar junto com eles.

— Não caio nos seus joguinhos psicológicos, detetive. Conheço bem o que homens como você fazem, por isso garanto que isso não vai me convencer tão fácil. Quer uma resposta? Traga meu advogado aqui.

Nenhuma reação se exibiu no rosto de Jungkook, ele apenas digeriu aquelas palavras em silêncio, seu cérebro fazendo uma rápida avaliação sobre as notas debochadas na voz dele. Mesmo que aquelas palavras fossem ditas com convicção, Jungkook pescou algumas fisgadas de hesitação no momento que ele ameaçou abrir a boca.

Com a mesma postura inexorável, o investigador arrastou uma cadeira que ficava em frente a ele e sentou-se.

— Sabe o que é engraçado? Enquanto eles estão lá se divertindo, você está aqui dentro de uma sala de interrogatório. — Jungkook arrancou um olhar duro e severo em sua direção quando disse aquilo. — Tem certeza que prefere continuar protegendo eles quando na verdade pode entrar em um acordo sobre a sua sentença me entregando os nomes?

O homem não disse nada. Com seus braços apoiados na mesa, ele deslizou para frente e sussurrou de forma desafiadora:

— Acho que você não me escutou. Eu não caio nesse labirinto de perguntas que vocês fazem. Conheço muito bem suas artimanhas para arrancar respostas dos interrogados. Mas acredite, detetive, isso não funciona comigo.

Um riso inabalável arranhou a garganta de Jungkook, que se reclinou contra a mesa e se aproximou dele para rebater sua provocação.

— Então também deve saber que leio expressões e sei quando está mentindo. — o olhar do homem se petrificou subitamente e seu maxilar travou em denúncia da raiva. — Isso me faz concluir que você não conhece tão bem o meu trabalho, senão saberia esconder melhor a sua raiva.

Jungkook voltou a se recostar na cadeira, o anel girando em seu dedo lentamente enquanto seu olhar engolia o dele com vigor. Com a ausência de palavras de Alexander, não sendo mais uma surpresa para o policial, Jungkook decidiu novamente retomar com as perguntas, mas dessa vez decidido a ir mais fundo.

— Vamos começar do início. Quanto tempo trabalha com eles? — Alexander derrapou sobre o assento e escorou as costas no espaldar, seus braços ficaram esticados devido às algemas presas no pequeno ferro embutido na mesa.

Sua boca não se abriu para nada. A pequena curva de seus lábios se levantou devagar num fino gesto cruel e dissimulado. Ele queria jogar com a paciência de Jungkook e isso estava mais do que claro.

— Se não quiser responder, está tudo bem. Seu advogado já foi chamado e deve estar a caminho. — o tom solene do detetive se arrastou, em seguida ele abandonou a cadeira e se pôs de pé, sério, com as mãos enfiadas dentro dos bolsos de sua calça. — Mas acredito que você esteja ciente de que não há nada que ele possa fazer sobre a sua sentença, afinal você foi pego em flagrante.

— Ou seria mais fácil dizer que um detetive se disfarçou sem a aprovação da auditoria? — ele rebateu com um sorriso enrustido pairando em seu rosto. — Qual é, detetive, eu sei que eles não aprovariam essa missão.

Jungkook encrespou o semblante moderadamente e suspendeu uma faixa de sobrancelha.

— Sabe?

Ele queria jogar, então Jungkook lhe daria as cartas.

Com um movimento contestador, o agente correu com as palmas por cima da mesa e as deixou fixadas ali por um longo tempo. Seu olhar estudou o dele, atencioso, depois inclinou a cabeça suavemente para o lado.

— O que quer dizer com isso, Sr. Cooper?

— O especialista em análises comportamentais aqui é você.

— Está dizendo que há um infiltrado na nossa equipe? — ele o continuava encarando como se não pudesse ouvi-lo. Era como falar para as paredes.

As palavras não necessariamente precisavam sair da boca dele para Jungkook enxergar a possível resposta para aquela pergunta. O escárnio gotejava por aqueles olhos azuis, lhe dizendo silenciosamente que tudo estava rondando através de sua concepção.

De repente, Jungkook se afastou e jogou uns fios de cabelo para trás, mostrando-se impaciente. O ar ficou denso de um modo abrupto e sua tranquilidade começou a estilhaçar no mesmo ritmo. O olhar frio de Alexander brilhou em triunfo, sendo possível irritar qualquer um presente naquela sala, mas Jungkook estava suportando otimamente esse fardo. Por enquanto.

— Quanto é a sua parte do acordo? Não é possível que eles não te paguem nada para te deixar de bico fechado. —supôs o investigador, economizando sua paciência para que não se fragmentasse de uma vez.

— Acha mesmo que tem dinheiro envolvido?

— Sua cara não é de quem cede um quarto de luxo gratuitamente apenas para fazer favores. — ele rebateu de um jeito cínico. — Eu suspeito de vinte mil. — o homem não reagiu, então Jungkook concluiu que o preço era mais alto. — Talvez cinquenta mil? — sem ações suspeitosas. — Que tal cento e cinquenta mil?

Na última tentativa, os azuis vetustos e com rugas nas laterais deram um fraco solavanco suspeitosamente. Ele tentou esconder sua reação no momento que o detetive absorveu seu comportamento.

— Cento e cinquenta mil é o preço para te deixar calado? Achei que suas informações valessem mais que isso. — ele soltou o fôlego debochadamente. — Estamos indo muito bem, Alexander.

— Não vou te dizer nada! – ele grunhiu mais alto, sacudindo as mãos algemadas.

A cabeça de Jungkook se deitou levemente para o lado, um sorriso flácido cruzou por seu rosto enquanto o seu olhar o observava de um jeito frio.

— Sabe que não precisa falar nada. — ele articulou. — Seu rosto vai me contar a verdade.

Alexander tentou conter seu olhar desesperado quando o desviou para as paredes de cor cinza maçante. Havia uma janela de vidro fosco na sua lateral, o que indicava que atrás dela havia mais policiais o espiando. Por dentro da sala não dava para perceber, mas por fora a sua imagem ficava perfeitamente bem visualizada.

— Você disse que o Derek deixa as garotas no seu hotel até um certo dia. — ele começou a especular. — Mas o que me deixa intrigado é não saber como ele entra no seu hotel sem ser visto. Talvez exista uma passagem secreta, não é mesmo?

Não foi difícil notar a saliva deslizando com dificuldade pela garganta de Alexander. As linhas em volta de sua boca se desenharam num traço fino de irritação e sua mandíbula robusteceu friamente.

— Oh, parece que eu acertei, não foi? — Jungkook se divertiu, reparando que o olhar dele ficou mais apreensivo. — E onde fica essa passagem? Você não deixaria uma porta visível para os seus hóspedes, já que a sua boa imagem é o que impera sob os olhos deles. Provavelmente há uma porta bloqueada numa área isolada, que seja de fácil acesso na madrugada. O que me diz do estacionamento?

De repente, o silêncio encobriu as paredes. A visão do homem o atingiu depressa, os azuis se refletindo com mais intensidade devido a perplexidade estampada em seu semblante. Seus dentes afiados rangeram e os punhos se fecharam automaticamente.

Jungkook sorriu, um sorriso carregado de vantagem. Ele sabia do prejuízo que teria se não achasse outras evidências sobre a máfia, e aquelas que tinha no momento o direcionou até Alexander Cooper.

Apesar de saber boa parte sobre o funcionamento do acesso à boate, Jungkook precisava de uma prova física e aceitável sobre a confissão dele, visto que as suas palavras ditas não bastavam. Ele teria que ter, no mínimo, uma gravação com o suspeito.

Porém, essa possibilidade não era tão estimada, dado que o acusado estava optando por usar o silêncio.

Depois de segundos explorando, o detetive andou até a porta e abriu-a, chamando alguém com um aceno de cabeça. Não demorou muito e Andrew se aproximou.

— Andrew, preciso que reúna a perícia e faça uma busca imediata no prédio inteiro. Verifique o estacionamento e procure por alguma porta isolada e sem acesso. É por lá que eles entram com as meninas. — Jungkook ordenou. — Esvazie os quartos e vasculhe cada perímetro, procure por cofres nas paredes ou talvez embaixo de tapetes. Qualquer prova que encontrar, eu exijo ser o primeiro a saber.

— E para onde vamos mandar os hóspedes, senhor? — o homem de uniforme quis saber.

— Diga que há uma investigação sendo feita naquele hotel, por isso eles precisam deixar o local até que terminemos a busca. Se algum deles violar essa ordem, traga aqui para que resolvemos isso pessoalmente. — Andrew balançou a cabeça em entendimento, e antes de ele se virar, Jungkook prosseguiu. — Chame o Yoongi aqui, quero falar com vocês dois.

Quando Andrew saiu, Jungkook voltou a olhar para o rosto familiar sobre a cadeira metálica, seus olhos eram da cor de um azul ciano bem translúcido e estavam semicerrados de puro ódio. As cicatrizes quase que apagadas das rugas se evidenciaram com sua expressão inflexível.

— Seu desgraçado! — ele resmungou, Jungkook mordeu a ponta do lábio para conter o sorriso sacana que se mostrou logo após ouvir a reclamação dele. — Mesmo que me prenda, não vai encontrar o que procura.

Jungkook avançou lentamente, seus cílios formavam um matiz mais escuro que seu cabelo na penumbra da sombra. Seu corpo parou diante dele e seus olhos se enrijeceram quando caiu sobre aquela fisionomia sinistra.

— Acha que essa é a minha maior preocupação? — ele questionou, o vendo estremecer com a gravidade de suas notas. — Ainda temos tempo de achar eles, mas e você? Sua vida acabou de ser corrompida no momento que me conheceu. Olhe em volta. — ele abriu os braços, parcialmente trocista. — Você não vai continuar com sua vidinha de luxo. Nunca mais vai tocar em outra criança. Acabou. Sua sede por dominação não vai passar de uma fantasia. Talvez os seus colegas de cela gostem de fazer o que você faz.

Ele viu um flash de fúria atravessar os olhos do homem como os de um animal preso em uma gaiola, então suas palmas ficaram firmes na mesa e seu corpo se inclinou, ficando mais próximo de Alexander.

— Mesmo que a minha equipe não tenha encontrado provas contra a máfia por agora, pelo menos você está preso, porque aqui é o lugar para homens como você. E sabe qual é a melhor parte disso? — Alexander deixou escapar uma arfada pesada do nariz. — Um membro a menos nessa quadrilha vai desequilibrar eles, vão ficar frágeis como alguém que perde uma parte do corpo. Eles te ajudaram porque precisavam de um lugar para deixar as meninas, e com a sua prisão, isso vai deixá-los mais vulneráveis.

— Não vai conseguir pará-los.

— Talvez não agora, mas eu vou encontrá-los de qualquer jeito, nem que eu precise ir até o inferno.

Alexander também dobrou o seu corpo e se esticou para mais perto do detetive.

— Boa sorte, gracinha. — seus dentes aguçados brotaram de repente. — Quem sabe quando eu sair da prisão podemos terminar o que começamos no quarto. Ainda quero transar com você.

Jungkook manteve seus olhos fixos no rosto de Alexander, um segundo depois uma linha minúscula apareceu no canto de sua boca quando abriu um sorriso para ele.

— Você não é o único.

Yoongi havia invadido a sala sem bater na porta, mas o som de seus sapatos fez Jungkook se dar conta de sua presença. Então, ele apenas se distanciou da mesa e se virou de frente para o seu parceiro, que se encontrava relativamente surpreso por estar vendo um homem desconhecido com os braços acorrentados.

Yoongi pigarrou e voltou a encarar Jungkook quando o viu se aproximar.

— Quem é ele? — perguntou Yoongi quando o outro chegou perto o bastante para que o ouvisse.

Tudo ficou estranhamente silencioso. Jungkook não respondeu de imediato, seus olhos cortaram para Andrew.

— Leve ele para o andar de baixo e o coloque em uma cela até que o advogado apareça. Deixe dois guardas de vigia por segurança.

Andrew marchou até o suspeito e o arrancou da cadeira, poupando a sutileza. As sobrancelhas de Yoongi se uniram levemente em desconfiança. Toda aquela situação parecia estranha, uma vez que ele não tinha certeza o que de fato estava acontecendo.

O olhar frio e imperioso de Jungkook escorregou para Alexander no instante que ele passou ao seu lado. A face rígida do homem estava contorcida de raiva.

A porta se fechou quando os dois saíram, fazendo Jungkook suspirar como se tivesse arrancado uma tonelada de aço das costas. Ele seguiu até a mesa e ficou sentado na beirada. Yoongi não havia sequer se mexido.

— Jungkook, o que está acontecendo? — Yoongi questionou subitamente. — Primeiro você some no meio da madrugada dizendo que achou pistas, e agora aparece com um cara algemado em uma missão de disfarce que nem sequer foi aprovada.

— Pelo menos agora temos provas.

— Quais provas?

Jungkook esfregou os olhos, sua expressão estava levemente maculada pelo cansaço.

— Ele me contou algumas coisas sobre a máfia porque pensou que eu fazia parte disso. E agora eu tenho algumas informações que podem nos ajudar no caso.

— Estou ouvindo. — foi tudo o que ele disse.

— Ele oferecia quartos de hotel para que o Derek deixasse as meninas que chegassem dos Estados Unidos. Eu supus que a entrada principal não é por onde eles passam, então, aparentemente, deve haver uma entrada por outra área. — ele disse tudo de uma vez, sem poupar o fôlego. — Se o Derek estava hospedado lá, deve ser por esse motivo. Existe uma enorme possibilidade de haver alguma coisa guardada nesse hotel que sirva como prova.

— Ele te contou isso?

— Em uma parte de nossa conversa. — Jungkook amainou os ombros e suspirou. — Ele também me disse que para poder fazer parte da boate eu precisaria me encontrar com um deles num local desconhecido, mas teria que me comunicar com eles antes para que não pensem que é uma armadilha. Tudo indica que tem que ser feita uma identidade falsa para que eles reconheçam na hora que fomos frequentar a boate. Alexander sabe exatamente como encontrá-los. Ele é um dos responsáveis por atrair os clientes até lá.

— A sua hipótese é magnífica, mas onde esse homem se encaixa? Não me diga que você vai prendê-lo por ser cúmplice da máfia de acordo com o papo que tiveram? Pelo menos você gravou a conversa?

— Ele é pedófilo, Yoongi. — retrucou. — Havia fotos de crianças amarradas em camas, com marcas de agressões por todo corpo. Ele me mostrou o álbum, então eu não tive escolha senão prendê-lo. Eu podia não estar em uma missão aprovada, mas pelo menos tirei um malfeitor das ruas.

Houve um momento de silêncio entre eles. Yoongi hesitou brevemente, olhando para baixo em seguida. Os olhos negros de Jungkook o perpassavam, imóvel, sabendo que suas palavras o atingiram de um jeito diferente, não pelo que disse, mas como foram proferidas.

— Você fez a coisa certa. — de repente Yoongi falou, vendo o endurecimento da mandíbula de Jungkook ceder aos poucos. — Você trouxe as fotos?

— Eu acabei deixando para trás, mas já foram buscar.

— Pelo menos temos uma prova contra esse patife. — ele se expressou num murmúrio quase que inaudível. — O que mais ele te falou?

— Parece que ele faz isso em troca, não apenas de dinheiro, mas de vítimas também. — Jungkook respondeu. — Talvez o Derek entregasse as crianças para ele em troca de um lugar para ficar, como forma de pagamento.

— E onde ele consegue essas crianças?

— Esse é outro ponto que devemos descobrir. Mas no momento só precisamos de uma prova contra a máfia. Já temos evidências suficientes contra o Alexander, só devemos sentar e esperar que encontrem alguma coisa escondida nesse hotel, então teremos o mandado em mãos. — Jungkook esclareceu.

— Temos apenas quinze horas para conseguir esse mandado. O leilão está batendo na porta, precisamos agir depressa. — Yoongi disse um segundo antes de retirar o celular do bolso para discar um número. — Vou ligar para informar ao Seokjin.

— Não. — o detetive negou, a sombra de seu rosto ainda mais inexorável. Yoongi paralisou e franziu as linhas de sua testa.

— Ele é o nosso diretor, Jungkook, merece saber o que encontramos.

— Desligue o telefone, Yoongi. — ele pediu calmamente, mas com uma força transparente por trás das palavras.

Na terceira chamada, Yoongi cancelou a ligação. Seu olhar se afundou em Jungkook com um certo aborrecimento. Ele não estava entendendo toda aquela suspeita de Jungkook para com Seokjin.

— Posso saber o motivo? — indagou.

— Não confio nele.

— Por mais que você tenha criado uma cisma com ele, isso não tira o Seokjin do cargo em que ele está agora. Ele tem poder sobre nossas missões, você querendo ou não. — Yoongi deixou escapar um arfar insatisfeito, declarando seu desagrado diante daquela situação. — Você pode ser suspenso do caso se continuar agindo assim.

— Eu tenho meus motivos.

— Mas não tem provas. — retrucou. — Tirar conclusões por causa do que acha que ouviu numa ligação não quer dizer nada.

— E o que você sugere que eu faça?

— Pelo menos evite rebater o que ele diz. — Jungkook deixou escapulir um sopro risível, não acreditando naquelas palavras tão defensoras.

Ele não era bobo, pois sabia que Yoongi também estranhou a voz de Seokjin do outro lado da linha, mas a imagem que ele criou de um homem soberano e superior ao seu cargo o impedia de refutar suas ações.

— Jungkook, você precisa descansar. — Yoongi disse de um jeito súbito, sua voz amoleceu e seu corpo se aproximou do dele. — Você não dorme direito já tem quantos dias? Dois? Eu realmente estou preocupado com a sua saúde.

Os olhos cuidadosos de Jungkook encontraram os dele. Sua mão passeou pelo cabelo, desalinhando o curto topete, e sua boca liberou um leve suspiro em forma de assobio.

— Não posso dormir. Não temos tanto tempo assim, eu preciso tirá-los de lá, Yoongi. — embora sua voz estivesse equilibrada, ondas oscilantes se sufocavam por trás de suas palavras.

— Nós vamos salvar eles, Jungkook. — disse. — Mas não podemos ir em frente se um de nossos agentes estiver incapaz de raciocinar direito.

— Há quanto tempo vocês falam que vão salvar eles para as famílias? Cinco anos?

— O que eu quero dizer é que você precisa descansar a mente. Eu vou esperar a perícia trazer os resultados da investigação e te deixo informado. — Jungkook acenou, finalmente cedendo à proposta dele, apesar de saber que não iria conseguir cochilar com tanta coisa acontecendo.

Seu rosto nivelado se desenhou num sorriso preguiçoso. Ele era muito mais alto do que o outro detetive, assim como tinha os músculos dos braços e tronco mais definidos, enquanto Yoongi era mais magro e longe de um corpo robusto.

Antes de seguir até a porta, Jungkook agarrou o envelope sobre a mesa, mas foi impedido quando Yoongi segurou em sua mão.

— Nada de relatórios. — disse ele, ouvindo um gemido contrariado em resposta. — Como você vai descansar com essa coisa em mãos?

— Eu só vou guardar. — Yoongi fez uma careta incerta. — Certo, você guarda então.

Ele esticou o documento e o entregou contra seu gosto. Seus olhos embotados de exaustão se traçaram quando um sorriso falso brincou em sua boca.

— Não hesite em me chamar quando a perícia trazer o resultado. — Jungkook reforçou a promessa dele. — E também não ligue para o Seokjin. Não por agora.

Yoongi inclinou a cabeça para o lado, se mostrando meio vacilante com aquela petição. No entanto, deixou um breve aceno quando se deu conta que discordar dele não o levaria a nenhum lugar.

— Certo, você fica me devendo essa.

Os olhos de Jungkook eram impossivelmente grandes e pretos lustrosos. Dessa vez, ele não relutou e nem cedeu ao trabalho, mesmo sabendo que aquela situação era só a ponta do iceberg. Ele confiava no empenho de Yoongi para cuidar das coisas em sua ausência.

O peso das pálpebras estava pressionando seus olhos para baixo, o qual fazia um esforço maior para deixá-los suspendidos. Mesmo tendo sido treinado para lidar com circunstâncias que exijam perder a noite, naquele momento ele estava se sentindo exausto e precisava repousar os músculos de seu corpo por pelo menos trinta minutos.

Por isso, pegou seu casaco e fechou a porta da sala de interrogatório quando saiu para fora. Os policiais trabalhavam no corredor externo, alguns conversavam no canto, enquanto outros perambulavam de um lado para outro com caixas de evidências em mãos. Vozes baixas formavam um falatório por toda passagem do corredor.

Jungkook marchou na direção do elevador. Ele se impressionava com o trabalho árduo dos guardas de permanecerem acordados por tanto tempo, mesmo depois de passar horas e horas investigando os casos que surgiam de repente.

O chiado do elevador parando o fez se desviar deles e entrar assim que a porta se abriu. Apertou o botão direito e indicou o décimo andar. Havia uma separação gritante entre os detetives e o restante dos policiais. Os guardas vigiavam o perímetro do lado de fora e dentro do estacionamento, enquanto os demais seguiam as ordens dadas pelos detetives responsáveis e procuravam informações que servissem.

Apesar de haver um sistema de segurança perfeitamente avançado no prédio, o FBI optou por deixar olhos humanos sondando toda área, uma equipe superiormente preparada para qualquer coisa. O resto dos policiais serviam como base de reforço em alguma missão inesperada e deviam estar à serviço dos investigadores a todo instante.

Era um prédio adaptado para cada condição, onde havia escritórios com profissionais agenciando cada um e trabalhando em suas respectivas áreas. A ala das celas ficava depois do andar das salas de interrogatório e o campo de treinamento estava localizado atrás do edifício, com proteção máxima de espionagem aérea e uma defesa excepcional dos vigilantes florestais.

Um som suave apitou quando o elevador parou. Jungkook deslizou para fora, observando aquele corredor meticulosamente escuro e silencioso. Ele digitou a senha num aparelho metálico que ficava ao lado da porta e abriu-a quando esta estalou com um clique.

O ambiente interior não estava diferente. Um fio de luz brilhava do abajur e deixava sombras nas paredes. Jungkook rastejou os pés até o sofá, onde largou o paletó acima do encosto e se atirou no estofado. Ele lançou sua cabeça para trás, fechando os olhos cautelosamente para sentir a melancolia do silêncio abraçá-lo.

Sem ao menos se importar em tirar os sapatos, ele apenas esticou os braços sobre a sua cabeça. Uma faixa de pele se mostrou entre a camisa de botões e a cintura da calça, um V fundo traçava a lateral de seu quadril e a pontinha da cueca rompia a palidez de sua pele.

Ele acabou deixando um sopro exausto fugir de sua boca, depois começou a desabotoar a camisa, mas foi interrompido por uma voz feminina.

— Jungkook? — Rose o chamou no topo da escada. Ela começou a descer os degraus devagar, o rangido da madeira soando mais próximo à medida que ela se aproximava. — É você?

Jungkook fechou os dois primeiros botões que haviam sido despregados e olhou na direção da escada. Ele viu a silhueta dela segurando o corrimão, seus pés estavam descalços e ela usava uma blusa folgada que descia até a metade das coxas.

— Sou eu. — ele respondeu, reparando que os ombros dela relaxaram com o som de sua voz.

— Por onde andou? Que horas são? — ele percebeu que ela estava dormindo antes de ele chegar, mas que certamente o barulho da porta a acordou.

— Eu estava cuidando de algumas coisas sobre o caso, mas não se preocupe. Volte a dormir.

Ela não o obedeceu. Jungkook a observou caminhar com relutância em sua direção, as mãos abraçando o próprio corpo em defesa do frio cortante. Ele não conseguia ver seu rosto na penumbra da noite, mas pôde notar que o seu cabelo longo estava inclinado sobre os seus ombros.

— Posso me sentar? — Jungkook fez que sim. — Eu posso fazer algo para você se sentir melhor? Talvez um banho quente?

— Estou bem. — respondeu rápido. — O que faz acordada a essa hora? Ainda não passa das cinco.

— É que... eu não consegui dormir, apenas cochilei. Acabei me despertando com o som da porta. — a voz dela oscilou moderadamente, fazendo Jungkook pescar seu receio. — Se você quiser, eu posso me vestir para te ajudar no caso.

— Yoongi já está cuidando disso. — a visão dele desceu para as suas pernas desnudas ligeiramente. — Não está com frio?

Ela colocou uma mecha solta atrás da orelha, envergonhada, depois sorriu um pouco atrapalhada.

— Não gosto de dormir com calças, me deixa incomodada. Mas o quarto está quente, então não faz tanta diferença.

— Está com vontade de me dizer algo, Rose? — ele perguntou de repente, percebendo que ela tentou desviar os olhos dele.

— O quê?

Brevemente, a mulher se assustou com a rápida inspeção que ele fez em seu rosto, que, apesar de estar sob as sombras, ainda conseguia revelar traços de ansiedade.

— Parece que você está tentando me contar alguma coisa. É apenas uma observação.

Ela fechou ainda mais as pernas e passou a mão pelo rosto, encabulada pela forma como Jungkook lhe dirigiu o olhar. Ele se remexeu no sofá e sentou-se de lado, tentando ver seu semblante escondido entre o cabelo.

— Eu não sei se consigo te encarar. — disse ela depois de um longo tempo em silêncio. Jungkook franziu uma sobrancelha, incerto. Uma fungada no nariz denunciou seu quase choro. — Não sei se consigo te olhar na cara depois do que fiz.

A expressão de Jungkook se tornou ainda mais confusa, o preto de seus olhos se intensificou e o sono urgentemente havia ido embora naquele momento. Ele nunca a tinha visto daquele jeito, tão frágil e quase entregue ao choro.

— Me diga o que aconteceu.

O choque de suas palavras foi como um pulso de energia zunindo através do corpo dela, na qual virou o rosto de frente para o dele em seguida.

— E se você não me perdoar?

— Tente.

Rose engoliu um soluço e se ajeitou no sofá, deixando seu corpo inteiramente virado para ele.

— Eu preciso te contar uma coisa que fiz, uma coisa errada e imperdoável. — ela esperou que Jungkook reagisse com surpresa, mas as linhas de sua fisionomia estavam cuidadosamente suaves. Ao entender sua quietação, ela continuou. — Uma coisa que envolve o Seokjin e eu.

Instigado pelo assunto, Jungkook balançou sua cabeça uma única vez, a encorajando a terminar aquela conversa, mesmo não tendo consciência do que exatamente se tratava. Ele podia criar hipóteses, já que recentemente fez reflexões sobre seu chefe, mas ouvir aquilo de outra pessoa era diferente.

Apesar de não saber do que se tratava sua confissão, Jungkook sentia que isso a incomodava como um inferno.

Com a voz ainda mais calma, ele sibilou:

— Me conte do começo.

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