⍟ three
Jimin estava se balançando para frente e para trás com os joelhos erguidos ao nível do queixo. Ele deixou um pouquinho de ar sair de seus pulmões e se abraçou mais forte. O dia tinha começado a clarear lentamente e seus olhos não tinham sido fechados a noite toda. O que aconteceu foi uma prévia de seu futuro pesadelo.
A sua visão estava turva pelas lágrimas e seus pensamentos corriam a mil na cabeça. Ele sentiu um frio cortante penetrar o grosso tecido de seu moletom e acariciar sua pele como dedos gelados. Supôs que a sensação de agora era fruto do que viveu na noite passada. Lembrava-se de tudo o que passou nas mãos de Derek, de seus toques, de suas palavras sujas, de suas promessas descabidas.
O menino ficou tão apavorado que não conseguiu se levantar da cama em momento algum. Permaneceu a noite toda com o cobertor enrolado até o pescoço, chorando em silêncio enquanto o homem dormia ao seu lado. E agora, também, se sentia incapaz de se mover.
Despertou-se quando viu a porta do banheiro ser aberta. Ele rapidamente limpou as lágrimas do rosto com as costas da mão. Derek ficou parado diante da entrada semiescura, encarando-o fixamente. Com a toalha em torno da cintura, o homem caminhou até o armário e pegou um traje cerimonial para a ocasião que aconteceria em algumas horas.
Ele voltou a encarar Jimin por cima do ombro, que permaneceu quieto, sem ousar encará-lo de volta. Em seguida, caminhou na direção do menino, parando somente quando o alcançou. Derek jogou as peças recém-tiradas do armário sobre o colo dele, depois disse:
— Use isso. Não podemos nos atrasar para o evento. — seu tom de voz parecia grave e ríspido, não mais gentil e convincente.
Jimin encarou a roupa em seu colo, depois voltou-se para Derek. Seu olhar denunciava desprezo e repugnância.
— Onde vamos? — perguntou.
— Será uma surpresa, querido, mas tenho certeza de que irá gostar. — Jimin não disse nada dessa vez, ele somente o assistiu caminhar de volta para o armário, onde buscou por suas próprias roupas. — Diga-me, o que achou da nossa primeira noite juntos? Ardente? Eu diria que sim. Literalmente.
Instintivamente, Jimin se sentiu inclinado a gorfar quando reviveu aquelas memórias, mas ele levou a mão à boca para deter a vontade. O garoto fechou as pálpebras com tanta força que pôde sentir as lágrimas se formando no interior de seus olhos. Quando abriu-as, observou que Derek continuava virado de costas, certamente aguardando uma resposta que não viria.
Diante de seu silêncio, Derek girou de frente para ele, onde pegou um vislumbre de seus ombros e cabeça encolhendo-se para baixo.
— Eu sei no que está pensando. — Derek afirmou da forma mais natural possível. — Você deveria me agradecer por lhe tirar daquela boate. Eu podia ter deixado você apodrecer naquele quarto sujo com vários homens ao seu redor, mas não o fiz. Em vez disso, optei por te tirar daquele lugar para uma vida melhor.
— Vida melhor!? — Jimin repetiu, incrédulo, e então riu sem humor. — Onde está a parte boa nisso tudo? Você não é tão diferente deles, Derek. Você fez comigo o mesmo que eles me fizeram.
— Você não me recusou, Park.
— Eu precisava dizer não para você perceber que eu não queria!? — Jimin perdeu a paciência e estava quase perdendo a compostura também. Derek suspirou, como se tentasse manter a calma diante daquela conversa. — Se eu soubesse que seria assim, não teria aceitado a sua maldita proposta.
Muito ligeiramente, Derek avançou para cima dele, furioso, e o agarrou pelos pulsos. Jimin se assustou com a surpresa do ataque, mas não teve tempo de escapar.
— Escute aqui, Park, se eu te trouxe para mim foi por um único propósito e eu suponho que você saiba qual seja. — ele o alertou. — Você aceitou a minha proposta e agora está aqui comigo, então apenas me obedeça. Independente de estar interessado ou não, eu posso fazer o que quiser com você. Entendeu?
Honestamente, o garoto não estava preparado para ouvir aquelas coisas, apesar de ser algo previamente calculado para acontecer. Jimin sentiu o próprio coração falhar uma batida quando se viu liberto das mãos dele. Claro que ele podia ter previsto que tudo aquilo aconteceria uma hora, mas pela primeira vez Jimin desejou estar errado. Estava mais do que óbvio que os próximos dias não seriam fáceis, não mais depois daquela proposta.
Jimin estava dividido entre ter esperança de que conseguiria achar uma saída e de que esse plano não daria certo. De qualquer forma, ambos pensamentos estavam torturando sua cabeça. Antes sentia-se incapaz de continuar com aquela rotina infernal e agora não parecia tão diferente, pois Derek não era totalmente o oposto deles.
Algumas vezes, o menino já chegou a pensar em pegar uma lâmina para rasgar os próprios pulsos, mas sempre desistia quando a tinha em mãos. No primeiro momento, era movido por um impulso raivoso, no segundo momento o que lhe restava era uma vontade avassaladora de chorar por ter pensado em desistir.
Talvez, só talvez, Hannah estivesse certa.
— Tome um banho e use a roupa que te dei. — a voz de Derek o despertou brutalmente. — Estarei te esperando aqui.
Jimin o encarou pela última vez antes de se levantar duramente em direção ao banheiro. A expressão no rosto de Derek era firme e calculista, geralmente ele fazia essa cara quando suspeitava de algo. Ele notou, no entanto, que suas palavras anteriores despertaram algo no menino, mas não tinha identificado o que era. Jimin, portanto, abriu a porta do banheiro e apoiou as costas contra a madeira quando a fechou. Ele deixou-se escorregar pela superfície lisa e sentou-se no chão.
Ali, sozinho, Jimin colocou as mãos contra os olhos e chorou. Chorou de desespero. Chorou de angústia. Chorou de aflição. Chorou porque sabia que sua vida nunca voltaria a ser como era antes, pois ela havia sido destruída por causa de um pequeno deslize.
✮✮✮
Jungkook fechou a porta do apartamento quando entrou. O ambiente estava escuro e muito silencioso, exceto pelo barulho do aquecedor. Ele caminhou em direção ao sofá à medida que tirava o casaco das costas, onde o apoiou no espaldar da poltrona ao lado e se atirou, muito cansado, sobre o sofá.
Fechando as pálpebras em alívio, Jungkook também permitiu-se inspirar e expirar para relaxar. Com os olhos ainda fechados, ele colocou a chave do carro em cima da mesa ao lado e afrouxou a gravata para se sentir mais confortável. De repente, uma corrente de pensamentos mergulhou em sua cabeça.
A imagem de Park Jimin veio com clareza em suas lembranças. Jungkook ainda não tinha entendido como todas as redes sociais do menino tinham sido deletadas. Sem mencionar, também, que a Sra. Park tinha ficado muito nervosa durante o interrogatório, parecendo esconder algo. O detetive notou que ela estava se mostrando ansiosa e com sudorese nas mãos, uma vez que ela as esfregava a todo momento na roupa.
Jungkook estava disposto a estudar melhor sobre a vida de Jimin. Queria conhecer os seus hobbies antes de ser levado pela máfia e descobrir o principal motivo de ele ter se transformado em um alvo. A entrevista com o amigo do garoto, Kim Taehyung, estava agendada para o dia seguinte, mas por enquanto Jungkook estava interessado em uma única coisa: afastar aquela maldita enxaqueca de sua cabeça depois de ter aborrecido seus neurônios passando a noite inteira maltratando suas vistas na tela do notebook.
— Dia difícil? — uma voz feminina chamou sua atenção. Jennifer.
Jungkook girou a cabeça na direção da voz e encontrou uma figura imóvel na entrada da sala. A mulher usava uma blusa xadrez de Jungkook e suas pernas estavam desnudas. O homem abriu um sorriso largo quando a flagrou andando em sua direção.
— Eu estou exausto, para variar. — ele respondeu.
— Primeiro dia no trabalho e já está assim? — ela riu e gesticulou para que ele desse espaço no sofá. — Quer um pouco de café? Acabei de fazer.
— Não preciso de café, preciso trabalhar mais no caso e a cafeína neste momento não me parece uma boa opção.
— Na verdade, a cafeína me deixa bem desperta, mas isso depende de cada pessoa. — ela encarou o perfil dele e apertou os olhos. — Aliás, em qual caso está trabalhando?
— É confidencial, Jen. — Jennie bufou, fingindo uma falsa expressão de tédio.
— Tudo bem, mas eu vejo que você precisa de uma boa massagem. Parece tenso. — Jungkook balançou a cabeça em confirmação. No minuto seguinte, ela se pôs de pé e colocou a xícara sobre a mesinha, dizendo: — Tire a blusa.
Jungkook a encarou por um breve momento, depois ergueu as mãos até os botões da blusa, começando a desabotoá-los. A cada botão despregado, os músculos de seu peito se tornavam mais nítidos. Ela o ajudou a retirar a peça de roupa pelas costas quando percebeu que ele havia lhe pedido para fazer isso.
Posteriormente, Jungkook deitou o tronco no sofá, ficando de barriga para baixo enquanto suas mãos apoiavam sua cabeça. Jennifer sentou-se no final de sua espinha, um pouco acima da bunda, e começou a deslizar os dedos por sua pele. As palmas dela começaram a se arrastar pelas suas omoplatas até os ombros. Ela repetiu o movimento algumas vezes, ouvindo alguns suspiros prazerosos daquele que estava por baixo.
Fechando os olhos, Jungkook permitiu-se mergulhar fundo na sensação daquela massagem. Havia tranquilidade no toque dela, algo que fez o rapaz esquecer de todas as coisas ao seu redor. Ele acabou grunhindo de dor quando sentiu o lado esquerdo de seu ombro ser apertado pelos dedos dela.
— Você parece realmente exausto. — Jennie disse, um sorriso tocou-lhe os lábios. — E me parece mais forte do que antes.
Jungkook sorriu com aquilo.
— As suas mãos são ótimas. — ele comentou por fim.
— Minha percepção também. — Jungkook foi pego de surpresa, por isso seus olhos ficaram ligeiramente abertos. — O que está te deixando tão perturbado? Quer me contar o que houve?
Jennifer tinha habilidades com linguagem corporal, principalmente quando se tratava de Jungkook. Ela era formada em psicologia e em análise das microexpressões, e embora não costumasse usar a ciência no dia a dia, não pôde evitar perceber aquela diferença no rapaz.
— Não dá para esconder nada de você. — Jungkook comentou.
O peso em suas costas reduziu quando Jennie se deslocou para fora dele.
— Você raramente me engana. Agora desembucha. — disse ela.
— Antes preciso te fazer uma pergunta. — ela não o respondeu com palavras, mas fez um gesto de prossecução. Jungkook, no entanto, voltou a se sentar. — Como faço para descobrir a verdade quando uma pessoa mente? Devo pressioná-la?
— Jungkook, não é legal pressionar uma pessoa para que te conte algo. Você precisa passar confiança para que ela consiga, ao menos, te enxergar como uma caixinha de segredos.
— Está falando isso como Jennie ou como perita em linguagem corporal?
— O que estou tentando dizer é que ninguém vai te contar a verdade, caso exista, se você começar com ameaças.
— Jen... — Jungkook falou em seguida. — Tem uma mulher, mas ela não nos conta nada sobre o filho. As informações são poucas, nada muito aprofundado. Sempre que tocamos no nome dele, ela chora e chora.
— Talvez seja saudade, culpa, nervosismo... — sugeriu. — Não podemos ter uma verdade absoluta apenas por analisar essa reação isolada. Há muitos motivos para uma pessoa se comportar de determinada maneira. Mas, analise os fatos, ela pareceu nervosa ou muito inquieta quando você tocou no nome do filho?
— Sim, ela me pareceu muito nervosa e suava muito. Eu tive contato com linguagem não verbal devido às exigências da academia para com as operações de disfarce, então posso garantir que ela estava muito nervosa, mas não sei dizer se era por medo, culpa ou qualquer outra coisa.
— Preste mais atenção nesses detalhes. Não me refiro apenas às reações em si, mas às perguntas que você faz também. Identifique como ela reage diante delas. Você é um ótimo especialista em microexpressões, Jungkook, não entendo o porquê de estar me perguntando isso.
Parando para refletir, Jungkook sabia que era um ótimo profissional, suas notas nos exames da academia eram surpreendentes, por sinal. No entanto, ao se deparar com aquela mulher, Park Hyeri, ele se viu desafiado a colocar seu papel profissional em jogo. Não era como se ela pudesse passar a perna nele facilmente, mas nem todas as camadas dessa história foram retiradas, e ele estava disposto a remover todas elas.
Precisava estudar mais sobre o caso em questão e focar em seu principal objetivo dentro daquele Departamento. Jungkook tinha uma tarefa a cumprir, portanto faria de tudo para evitar qualquer coisa que tirasse seu foco. Não podia se permitir ser enganado.
— Quer saber? Eu preciso de café. Muito café. — Jungkook disse em seguida, arrancando uma risadinha dela.
Ele caminhou na direção da cozinha, mas a voz dela gritando seu nome o fez parar.
— Vai me deixar aqui sozinha?
Com aquilo, Jungkook fez uma cara sacana e retornou até ela, onde a pegou no colo de surpresa e a carregou até a cozinha. Eles riram durante o percurso. Jungkook a colocou sobre o balcão, então ela aproveitou para cruzar as pernas enquanto ele ia atrás de uma xícara.
— Você dormiu fora? — Jennie quis saber, não esperando por uma resposta.
— Na verdade, eu nem dormi. Fiquei trabalhando no caso o dia inteiro. Ainda preciso entrevistar outros familiares.
— Nossa mãe sentiria orgulho de você. — ela comentou, sorrindo. — Podíamos visitá-la um outro dia. O que acha? Ela deve estar morrendo de saudades.
— Bem, nós moramos juntos, não deve ser difícil para ela vir nos visitar. — Jungkook ficou subitamente sem humor após a menção daquele assunto. — Eu vou tomar um rápido banho porque ainda tenho muita coisa para fazer.
— Você não gosta muito dela, não é? Por que não esquece isso? Já faz tanto tempo, Jungkook...
— Olha, eu não vou bancar o filho adorável sendo que ela resolveu me dar atenção só quando entrei para o FBI. — Jennie abriu a boca para dizer algo, mas seu irmão foi mais rápido e selou os lábios dela com o dedo indicador. — Não quero tocar neste assunto, ok? Vou tomar um banho, me trocar e depois volto.
— Não vai tomar café?
— Perdi a vontade.
— E o meu beijo? — ela fez um beicinho com os lábios, arrancando uma risada baixinha de seu irmão.
— Você é muito atrevida, Jen. — ele apertou o nariz dela levemente entre os dedos.
— É apenas um beijinho de bom dia do meu querido irmão, qual é o problema?
Depois de tanto insistir, Jennie acabou ganhando um rápido beijo na bochecha esquerda e muito ligeiramente ele se retirou de seu campo de visão. Jungkook subiu as escadas com pressa, desistindo de seu café e do assunto que sua irmã tocou.
Após o perder de vista, ela encarou um ponto distante na cozinha. Jennie percebeu que seu irmão não queria de fato perguntar sobre a tal mulher, uma vez que a voz dele estava hesitante, pausada e fraca. Talvez houvesse um interesse oculto por trás de sua pesquisa para com a mulher que nem o próprio Jungkook identificou. Porém, ela deixaria que as respostas viessem à tona, afinal não podia exigir de Jungkook algo que o seu trabalho não o permitia fazer.
✮✮✮
A estrutura que Jimin estava vendo agora era imensa, moderna e estava cheia de pessoas civilizadas. Com os olhos firmes naqueles estranhos usando smokings bem ajustados e vestidos de gala, Jimin se flagrou paralisando na entrada do salão. Ele não tinha certeza de para onde ir, apesar de Derek estar ao seu lado como um guarda-costas.
Apesar de se sentir diferente por estar dentro de um grupo que não fosse o das meninas da boate, Jimin não podia negar que alguma coisa ainda estava faltando em seu íntimo. Mesmo estando dentro de um lugar preenchido por pessoas, ele ainda se sentia limitado.
Ele observou que aqueles indivíduos pareciam pessoas da alta sociedade. Jimin supôs também que ali estavam os donos de agências de modelos e de outros ramos da moda. A grande maioria dos homens estava segurando uma taça de champanhe em mãos, todos devidamente acompanhados por mulheres novas.
Jimin sentiu a palma de Derek subindo por sua cintura como quem não queria nada, fazendo-o encolher os ombros. A sua respiração começou a ficar irregular após o contato, principalmente quando se deu conta de que Derek estava praticamente colado em seu corpo. Diante disso, o menino conteve a avassaladora vontade de clamar por socorro, pois imaginou que isso daria errado como em todas as outras vezes. Portanto, optou por abaixar a cabeça, ciente de que se fizesse qualquer tolice as consequências seriam piores do que na noite passada.
— Espero que se comporte, Park. — Derek sussurrou em seu ouvido. — Meus homens estão lá fora vigiando tudo caso tente fazer alguma bobagem.
O garoto não se atreveu a objetar, apenas permaneceu calado ouvindo o que era dito.
— Eu tenho muitos amigos aqui. Se algum deles perguntar algo a você, responda somente com a minha permissão. Fui claro?
Após receber um aceno de cabeça, Derek finalmente o conduziu até uma mesa reservada no final do salão. À medida que caminhavam, olhares de apreciação e curiosidade caíam com petulância sobre Jimin. Ele sentiu-se devorado por aquelas pessoas.
A iluminação do salão destacava fervorosamente os olhos do garoto, permitindo que um brilho exclusivo ficasse realçado em sua bela feição. Os candelabros de cristais estavam situados sobre cada mesa e mais adiante havia um bar.
Derek abriu espaço para que Jimin pudesse atravessar em sua frente, então deslizou uma cadeira para ele e depois fisgou uma para si. Em seguida, gesticulou os dedos para o funcionário, que se dirigiu até a mesa deles após o chamado.
— Me traga vinho tinto e uma garrafa de licor. — Derek pediu, olhando para Jimin posteriormente. — E você, querido, o que vai querer?
O menino sentiu uma enorme angústia percorrer por suas veias quando foi chamado. Sua única vontade naquele momento era de fugir para bem longe e pedir ajuda. Entretanto, ele não fazia ideia de onde estava, quem eram aquelas pessoas e como garantir sua própria segurança. Derek o impediu de olhar as ruas por onde passavam, mas antes ordenou para os seus capangas trocarem os vidros das janelas do carro para uns totalmente foscos.
— Água. — Jimin disse por fim, sem humor.
— Traga o mesmo para ele, por favor. — ignorou sua escolha. Jimin o encarou com ódio, mas Derek não se importou, ele apenas dispensou o funcionário e o olhou de volta. — Gostou do lugar, Jimin?
— O que veio fazer aqui? Me trazer para jantar? — Derek sorriu de modo perverso para o atrevimento dele.
— Eu estou aqui a trabalho, mas achei uma boa ideia te trazer comigo. Você estava precisando sair um pouco daquele lugar. — disse.
— Não está esperando que eu te agradeça, está?
— Sei que está bravo comigo por causa do que fiz hoje cedo, mas eu precisava ser duro com você. — ele se mostrou pacífico, mas Jimin não pareceu convencido disso. — Não quero te machucar, Park. Se me obedecer, não vou precisar tocar minha mão em você.
Sinceramente, Jimin estava começando a ficar confuso quanto às verdadeiras intenções de Derek. Parecia indecifrável. Se fosse completamente obediente aos comandos dele, certamente iria sofrer da mesma forma que sofreu na boate. Entretanto, ele também sabia que poderia ser ainda pior se agisse com rebeldia. Estava preso entre duas alternativas torturantes e sem saída.
Maldita proposta!
— Parece que as novatas chegaram. — disse Derek, olhando na direção da entrada do salão. Jimin acompanhou o seu olhar e encontrou duas figuras paradas à procura de alguém. De repente, uma delas acenou para onde eles estavam sentados, fazendo Jimin perceber que aquele gesto tinha sido para Derek. — Bem, agora eu preciso voltar ao trabalho. Se comporte direitinho, não vou demorar. E lembre-se: meus homens estão lá fora.
Derek fez questão de deixar o aviso antes de se deslocar para fora da cadeira e caminhar de encontro às meninas. Jimin seguiu seus passos com o olhar, vendo-o cumprimentá-las com uma breve reverência e um beijo na mão. O garoto revirou os olhos para aquela cena dissimulada e voltou a encarar as próprias mãos sobre o colo. Ele observou que Derek as convidou para sentarem em uma mesa distante.
— Aqui está, senhor. Mais alguma coisa? — a voz do garçom o atirou para fora de seus pensamentos. Ele balançou a cabeça para os lados, dizendo não, mas desejando dizer sim.
— Não, obrigado.
Após o rapaz colocar os pedidos na mesa e se distanciar, Jimin fitou a bebida na sua frente. Não iria beber aquilo. A única bebida com álcool que poderia petiscar era o vinho, e nem isso, na sua atual situação, mudaria o seu humor.
Aproveitando a própria companhia, Jimin acariciou a taça cheia, brincando com a borda do objeto para se distrair. Seus pensamentos começaram a vagar dentro de sua cabeça e ali, portanto, ele decidiu refletir acerca deles.
Derek o havia levado para aquele lugar porque não queria deixá-lo sozinho na boate. Seu desejo era tê-lo por perto o tempo todo, afinal de contas, a proposta era basicamente essa. Jimin soube, a partir do momento que o escutou afirmar que estava ali para trabalho, que o objetivo de Derek era buscar novas garotas para suas falsas propostas.
Sentia-se consternado por saber que elas estavam aceitando uma oferta que as levariam para uma terrível armadilha. Ele já passou por isso antes, portanto sabia o que viria a seguir. Desespero, dor, lágrimas, gritos e tortura. O contrato que elas estavam prestes a assinar guardava uma emboscada cruel.
— Olá, está sozinho? — uma voz diferente atraiu os olhos de Jimin. Era um homem alto, ombros largos, olhos claros e cabelos acobreados. — Posso me sentar ao seu lado?
O garoto pensou e pensou. Depois de alguns segundos em silêncio, ele chacoalhou a cabeça devagar, tentando pensar em alguma coisa que não fizesse Derek olhar em sua direção. Observou disfarçadamente que ele estava muito ocupado conversando com as garotas, provavelmente tentando convencê-las a aceitar a proposta do falso contrato.
— Acho que não fomos apresentados. — o tal homem falou, trazendo os olhos de Jimin de volta para si. — Me chamo Eric. E você?
— Jimin. — sua voz estava insegura, pois não sabia se podia confiar naquele homem, embora a expressão dele o convencesse de que era uma boa pessoa. — Park Jimin.
— Oh, Jimin... Você me parece muito jovem para este lugar. Suponho que não seja administrador de alguma empresa, estou certo? — aquela observação fez o garoto engolir duramente, sem saber exatamente que resposta dar em seguida.
— Sim, eu não estou sozinho. — Eric enrugou a testa em confusão. — Este lugar é para donos de agências de modelo?
— Sim. O nosso departamento de marketing sempre reúne os grandes nomes da indústria para discutir negócios, contratações de novas modelos e fazer acordos com outras agências. — ele contou como se fossem íntimos. Jimin se sentiu ainda mais perdido naquele lugar. — Um dos maiores empresários que costumamos chamar é Kim Namjoon. Ele tem uma ótima reputação e suas modelos são mulheres fascinantes.
Aquele nome fez todos os pelos do corpo de Jimin subirem.
— Você trabalha aqui? Conhece ele?
— Não exatamente, eu estou no lugar de um amigo, então passei a ser o responsável por agendar com os grandes empresários. — não era bem aquela resposta que Jimin esperava ouvir, mas saber que ele conhecia Namjoon era um pontapé para colocar a sua ideia de fuga em ação. — Você está bem? Me parece um pouco machucado...
Jimin ficou subitamente perplexo com aquele questionamento. Talvez não fosse uma boa ideia dar detalhes de sua vida para um estranho, mas ele tinha de estimular a sua coragem de novo. Se esse Eric fosse confiável, ele poderia ajudá-lo a fugir. Derek ainda estava entretido naquele diálogo quando Jimin o espiou mais uma vez, tentando encontrar brechas para o que estava prestes a fazer.
— Você parece assombrado. Tem certeza de que está tudo bem? Se quiser eu posso buscar uma água para você. — Eric estava prestes a se levantar quando Jimin segurou seu braço, o impedindo de sair.
Ele sentiu uma vontade incontrolável de abrir a boca e contar sobre tudo o que estava acontecendo. Quis expor o porquê de estar ali e como sua vida foi arruinada por uma máfia. Talvez se Eric soubesse que ele era uma vítima de tráfico, ou melhor dizendo, vítima daquele que o departamento de marketing via como um dos maiores nomes na indústria da moda, fosse surtir algum efeito positivo.
— Eu preciso de sua ajuda. — ele implorou através de um sussurro. Eric ficou confuso no primeiro momento, depois apoiou os braços sobre a mesa e se aproximou dele. — Tem um homem aqui neste lugar que está me obrigando a fazer coisas nojentas.
— Do que está falando?
— Eu sou dos Estados Unidos. Esse homem que você falou, Kim Namjoon, ele me traficou. Existe uma espécie de boate clandestina, onde ele nos obriga a fazer coisas nojentas com vários homens. Você precisa me ajudar, por favor.
O homem afastou-se da mesa rapidamente, assombrado com aquela história. Ele o encarou com um olhar arrebatado, tentando assimilar suas estranhas palavras.
— Espere um pouco... você está me dizendo que foi traficado? — Jimin confirmou freneticamente, os olhos se enchendo de lágrimas. — E como eu posso te ajudar?
— Não sei, só preciso que me tire desse lugar, por favor.
Talvez estivesse sendo equivocado com sua própria expectativa, mas não podia atar as mãos e deixar que as circunstâncias rolassem de acordo com o jogo de Derek. Jimin não conhecia Eric tão bem para depositar toda sua esperança nele, mas também não ignorou a atenção que Eric estava dando desde o começo. Não que isso significasse que ele era confiável, mas de uma certa forma aquilo se tornava um ponto extra.
Por mais que Eric dissesse não justamente por não saber se o que ele dissera era verdade, Jimin estava disposto a se arriscar para salvar a própria pele. Estava cansado de se sentir amargurado por conviver com as atrocidades daquele ambiente repulsivo. Quebrar a cara mais uma vez não seria pior do que aquilo que já vinha enfrentando.
— Bem, eu posso te tirar daqui pela porta dos fundos, mas ninguém pode nos ver, caso contrário serei demitido. — Jimin abriu um enorme sorriso quando o ouviu dizer. — Quando você sair, vou te levar até um Jeep, depois seguiremos para um hotel aqui próximo.
— Muito obrigado, eu nem sei o que dizer...
— Não diga nada, nós só precisamos ser rápidos.
Jimin assentiu às pressas antes de conferir mais uma vez se Derek ainda estava negociando com as garotas, em seguida se pôs de pé. Com um gesto, Eric o chamou quando checou que o corredor que seguia para o setor culinário estava vazio. Jimin o seguiu cegamente, desviando-se de algumas pessoas pelo caminho.
Eric parou de andar no momento que alcançou a cozinha, onde os garçons perambulavam de um lado para outro com suas bandejas em mãos, repondo os pedidos e adicionando outros.
— Fique atrás de mim. — Eric disse diretamente para Jimin, que balançou a cabeça em confirmação.
Com um movimento súbito, Eric pegou o garoto pelo braço, não de modo brusco, e o arrastou até a porta dos fundos. Alguns olhares curiosos os encararam à distância, mas ninguém disse nada. Jimin observou que mais adiante havia uma porta escura, a qual ele supôs ser a tal saída secundária.
Empurrando-se para o lado de fora quando finalmente alcançou a maçaneta, Jimin sentiu um vento cortante rasgar sua pele por baixo do terno que vestia, fazendo-o se abraçar para se proteger da brisa. Eric fechou a porta às suas costas e indicou o jeep com o queixo. O garoto estava com o coração quase saindo pela boca, mas não deteve seus pés de caminharem depressa na direção do carro indicado. Estava ciente de que aquele jeep seria sua ponte para escapar de Derek... Se ele não o estivesse vendo agora.
Jimin ficou paralisado no lugar quando se deparou com a figura de Derek ao lado do prédio. Sua respiração ficou irregular à medida que um medo incontrolável dominava cada fibra de seu corpo. O homem o encarava fixamente, como se suas narinas pudessem soltar fumaças. Jimin acabou recuando uma pegada, embora seu instinto o gritasse para correr.
Muito ligeiramente, ele fitou Eric logo atrás, também estático no lugar, e então seu corpo começou a deslizar para trás em defensiva. Derek apertou a mandíbula com aquilo, principalmente quando o observou apontar o dedo em sua direção em um gesto de acusação.
— Eric, é ele.
Seus olhos começaram a vazar as lágrimas antes acumuladas. Jimin podia sentir a palpitação do próprio coração pulsando contra as costelas. Eric não se moveu, nem se mostrou surpreso, ele somente apertou as sobrancelhas.
— Então foi ele quem fez isso com você? — Jimin confirmou em desespero.
Derek pisou fundo em sua direção, enraivecido e com sangue nos olhos. Ele estava furioso por fora, mas incrédulo por dentro. Não podia acreditar que Jimin quebrou a confiança que ele havia prometido a Namjoon.
Jimin quis correr, mas cada músculo de seu corpo pareceu pesar como chumbo molhado, principalmente quando se deu conta que era tarde demais, pois Derek já o tinha alcançado. Ali, ele teve certeza de que seria punido pela traição.
Eric riu de forma abrupta e com um desejo contido. Seus olhos mantinham uma agressividade estranha e estavam totalmente concentrados em Jimin. Ele sorria agora, um gesto astuto, porém suave.
— Você errou. — falou Eric, havia um tom diferente em sua voz. — Seu garoto falhou no teste, Meyer. Ele correu para pedir ajuda na primeira oportunidade.
Jimin arregalou os olhos com o que acabara de ouvir. Derek havia feito um teste com ele para descobrir se Jimin era realmente capaz de pedir ajuda na primeira oportunidade, e bem, ele falhou ao acreditar em sua intuição.
Com aquilo, Derek o agarrou pelo braço com força, ouvindo-o resmungar em dor. O sangue pareceu subir à sua cabeça, deixando-o cego de ódio e com o ego inflamado.
— Ele trabalha para mim, Park. — seu tom de voz era ríspido e rudimentar. — Ordenei que o Eric fizesse isso para eu ter certeza de que você pensaria duas vezes antes de fazer uma burrice. Não acredito que me enganei justo nisso.
— Derek...
— Cale a boca! — ele apertou seu braço entre a palma da mão como forma de advertência. Jimin quase gritou de dor. — Vou te levar de volta para a boate. Não quero ouvir uma palavra no caminho. Quando chegarmos lá, nós resolvemos isso.
Se vendo liberto, Jimin passou a mão na região agredida e olhou apavorado para Derek, que deu as costas para ele e avançou para dentro do carro. Eric não perdeu a chance de ir até o garoto provocá-lo, então, com a boca apertada em sinal de rancor, pegou o pulso dele e o arrastou na direção do veículo que Derek entrou.
As emoções estavam tão conflitantes em seu peito que Jimin se encontrou sufocado. Ele tentou lutar contra as lágrimas, mas seu esforço se tornou inútil a partir do momento que ele se desmanchou de tanto chorar.
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