⍟ thirty seven

Derek entrou pela porta silenciosamente, suas botas molhadas carimbaram o chão do escritório e no seu longo casaco de couro escorriam os respingos da chuva. Seu cabelo escuro encontrava-se grudado à testa, ele o chacoalhou, arremessando gotas de água em várias direções.

Seu olhar encontrou a figura de Namjoon em um canto escuro da sala, virado de costas, aparentemente, com os braços cruzados contra o peito. Ele se mantinha de frente para dois monitores, cada um exibia uma imagem diferente, uma delas era o rosto do homem que acabara de matar.

Derek, muito desconfiado, sentou-se na elegante poltrona com contornos dourados e arrancou as luvas das mãos, atirando-as sobre a mesa. Suas sobrancelhas continuavam virtuosamente erguidas enquanto segurava o olhar contra as costas do seu chefe. Namjoon estava insuportavelmente quieto.

– Ele está morto – falou Derek, convicto de que receberia um elogio pelo seu trabalho.

Namjoon se virou para ele, seu ritmo era lento, sem pressa. Seus olhos eram uma combinação sombria de severidade e desforra.

– Quem? O cara errado que você acabou de matar? – perguntou ele, sua voz medida profundamente em um som mais gutural.

Derek aprofundou os vincos na testa, inseguro daquela pergunta. Sentiu como se seu próprio poder estivesse rindo de sua cara.

– O que disse? – Foi tudo o que sua mente redigiu.

– O agente que você matou não era o Jungkook. Este é ele. – Seu dedo apontou para o monitor às suas costas, fazendo os olhos de Derek caminharem naquela direção, os deixando diante de uma imagem que refletia um sujeito segurando sua foto. – Ele deu uma entrevista coletiva pela manhã para todo o país e seu rosto foi exposto. Como ninguém nos deixou ciente dessa coletiva?

A expressão de Derek foi de estranheza para algo muito mais sombrio. Um músculo se moveu ferozmente por toda linha de sua mandíbula, enrijecendo.

– Está dizendo que a vagabunda infiltrada que você colocou lá dentro nos enganou? – Sua pergunta saiu num fiapo entre os dentes.

– Isso nunca aconteceu. Ela pisou na bola. – Derek olhou para ele descrente.

– Vai defendê-la? – Ele deixou a poltrona abruptamente. – Eu matei o agente errado porque a sua vadia te mostrou a foto errada. Enquanto isso, onde você acha que ele está? – Seus braços se abriram pelo ar, debochando. – Provavelmente comendo a sua mulher já que ela preferiu ele ao invés de você.

Namjoon estava irritantemente inabalável, embora houvesse uma faísca de irritação apoderando-se de seu rosto. Ele olhou para Derek com puro desprezo e deu um passo à frente.

– Ela vai pagar por mentir para nós. Semana que vem ela será transferida para a prisão feminina em Washington. Vamos matá-la por descumprir a tarefa. – Derek riu sob sua respiração e se afastou dele.

– Do que adianta matá-la? Ela te enganou, Namjoon. – Ele o encarou com ar severo. – A merda do plano foi por água abaixo. Eliminamos o policial errado e o filho da puta daquele detetive continua vivo. Você sabe o quanto ele é um perigo para nós.

– Vamos dar um jeito.

– Vamos? – Derek quase gargalhou. – Então eu sugiro que comece usando seu cérebro para tirar todas as provas desse lugar. Porque se aquele agente está vivo, então ele sabe como nos encontrar.

Ainda calado, o líder se virou contra as televisões e regulou as imagens, voltando o vídeo em alguns segundos. Derek encrespou a testa diante do que ele estava fazendo, mas optou por não refutar. O cenário que rompeu a tela foi a imagem do lado de fora do cassino. Namjoon pausou o vídeo e ampliou o quadro, mostrando mais de perto o vidro dianteiro de um SUV.

Ele iluminou a tela, transformando o escuro do vidro num nuance quase vítreo, capaz de vislumbrar o interior do carro. O rosto de Jungkook tornou-se evidente diante da lente da câmera e foi reproduzido no programa de identificação de traços faciais. Em poucos segundos, lá estava os seus dados.

Jeon Jungkook. 24 anos. Agente especial do FBI.

Namjoon voltou-se para o seu parceiro, parecendo notar a ausência de consciência na expressão de Derek quando ele endureceu o olhar nas informações manifestas no monitor.

– Este é o nosso homem. – estipulou Namjoon, um vulto de precisão se passando em seus olhos.

Muito lentamente, Derek caminhou para mais perto, ficando de frente para a tela. Havia uma estranha linha erguida em sua boca, quase que cruel. Sua mente o estudou e um ódio ardente inflou seu peito.

– Foi esse desgraçado que roubou o meu garoto? – Sua voz ecoou tremendamente insensível. – Eu vou ter o prazer de matá-lo com minhas próprias mãos.

O desejo de Derek por vingança superava seu ferimento interno. Superava tudo.

– Derek – Namjoon estava por trás dele, suas palmas tocando cada ombro –, espero que dessa vez você pense com o cérebro ao invés do pau.

Derek piscou por causa da estranha escolha de palavras dele e o olhou furiosamente quando o sentiu se distanciar. Seus dentes rangeram e, antes de pronunciar em sua defesa, seu líder tomou a frente.

– Precisamos pensar em como vamos encurralá-lo. O carro dele já deixou o cassino há quinze minutos. – Namjoon falou pensativamente.

– Você conseguiu monitorá-lo, não pode rastrear onde ele está?

– Eu já tentei isso depois de descobrir que assassinamos a pessoa errada, mas o desgraçado desligou o celular e o rastreador do carro.

– Nós sabemos que ele está em um SUV e temos a foto da placa, se verificarmos as imagens de segurança das rodovias aqui perto, podemos saber onde ele está – sugeriu Derek, triunfalmente convencido de seu palpite.

– Isso seria prático se ele fosse idiota de andar sob os radares. – Namjoon andou na direção da mesa e puxou o telefone, discando o número de alguém. No segundo toque, a pessoa atendeu. – Venha até o meu escritório imediatamente.

Derek cruzou os braços e estreitou os olhos.

– O que está pensando em fazer?

– Ele não deve ter ido muito longe. Vai ser necessário uma hora de relógio para conseguir chegar no edifício do FBI. – O líder pronunciou enquanto folheava suas estratégias. – Se ele está se desviando dos radares, provavelmente deve estar seguindo por um caminho secundário.

– E tudo isso por nada – disse Derek, exalando acidamente. – Ele estava bem na minha frente, eu teria o matado se você não tivesse me dado a foto errada.

– Por quanto tempo pretende jogar isso na minha cara? – Ele rebateu, havia um intenso olhar em seu rosto. – Eu limpei todas as sujeiras que você deixou pelo caminho quando se apaixonou por aquele pirralho. Ou melhor – Sua voz endureceu de repente – , quando ficou viciado em foder ele.

Inicialmente, a expressão que habitou no rosto de Derek foi de puro ódio, entretanto, seus traços foram suavizando aos poucos e o canto direito de sua boca se curvou para cima.

– Isso me cheira a inveja. – Seu olhar sugeria escárnio. – Quer saber? Eu não duvido que tenha colocado fogo no leilão só para vê-lo fugir. Você fez isso de propósito.

– Colocar fogo em um evento que iria arrecadar milhões de dólares e ameaçar a minha reputação? Eu pensei que fosse mais inteligente que isso.

Derek olhou de maneira zangada para seu chefe, mas antes de proferir qualquer coisa, alguém bateu na porta. Eles olharam juntos na direção da entrada, mas somente Namjoon se movimentou a caminho dela, abrindo-a.

– Mandou me chamar, senhor? – Eric estava diante dele. Namjoon olhou por cima de seu ombro, verificando que a música lenta balançava calmamente os corpos femininos no palco e alguns capangas protegiam as entradas.

– Feche a porta – decretou, movendo-se para longe da porta. Eric fechou quando já estava dentro, amortecendo vagarosamente o som da música. Ele reteve a coluna alinhada, numa suave postura de quem está aguardando ordens. – Mande homens na direção leste, vasculhe em vielas, matas, espaços de construções antigas, pontes, parques, todos os lugares. Eu quero este homem morto ainda hoje.

– Sim, senhor.

– Outra coisa – lembrou-se ele. –, ligue para o Yixing e diga que precisamos que ele mande homens se esconderem no perímetro de algumas quadras antes do edifício do FBI. Informe que ele está em um SUV. Esse detetive não vai atravessar senão morto.

– Deseja mais alguma coisa, senhor? – Eric perguntou ainda na mesma posição.

Namjoon rascunhou um bilhete apressadamente e o dobrou, esticando para o seu capanga em seguida.

– Mande entregar isso a Yixing, diga que preciso ainda hoje.

– Sim, senhor. – Ele agarrou o pedaço de papel e acenou antes de deixar a sala.

– O que escreveu para ele? – perguntou Derek, injetado por uma punhalada de desconfiança.

Namjoon permaneceu calado e quando ele virou de frente, seus olhos escuros ornados por uma evocativa observação chamou a atenção do outro, que percebeu de repente uma silenciosa decisão se manifestar ali.

– Precisamos dar o fora desse lugar ainda hoje – falou decidido. – Yixing sabe de um lugar para onde podemos levar as garotas. Não vai demorar muito para o FBI invadir essas portas.

– E todas as provas? – Derek parecia incrédulo e, relativamente, furioso. – Se eles encontrarem o que temos aqui, vão nos achar de qualquer jeito. Não dá para levar com a gente, o que pretende fazer com toda essa merda?

Havia algo afiado que cintilava como fogo nos olhos de Namjoon. Ele endureceu cada aresta de seu rosto e disse:

– Vamos queimar tudo e todos.

Naquele momento, as palavras se dissolveram na garganta de Derek. Sua mente se rebobinou, sendo invadida pelo desejo de vingança. Ele nunca imaginou deixar aquele lugar, e agora parecia que todas as coisas que construiu estavam sendo inegavelmente arruinadas.

Ele não pensou muito quando golpeou o estojo de lápis acima da mesa, o despedaçando em partes no momento que acertou a parede ao lado. Estilhaços foram espalhados por cada canto no chão. Namjoon assistiu aquela cena em silêncio, enquanto o observava se inflamar de ódio.

– Tudo é culpa daquela vagabunda! – Ele guinchou-se, arremessando as pastas no chão. – Ela te mostrou a foto errada e abriu a boca sobre o nosso esconderijo. Você é o culpado por colocar essa piranha entre nós!

– Vai com calma.

– Vai com calma? – repetiu Derek, os olhos arregalados em completa incredulidade. Ele se aproximou de seu líder aos poucos e ficou cara a cara com ele. – Eu perdi o Jimin por culpa dos seus planos, matamos o cara errado por culpa de quem você colocou para servir de penetra, e agora esse lugar vai ser destruído por conta da sua falha. Não é o seu rosto que está na mira deles, Namjoon. É o meu!

Cuidadosamente, Namjoon selou seu dígito na boca dele, o deixando momentaneamente em silêncio. Uma maré de sugestões surgiu por trás dos seus olhos escuros.

– Eu vou limpar o seu nome como sempre fiz. – garantiu Namjoon, deslizando o dedo pela lateral do rosto dele. – Como nos velhos tempos.

Derek riu de maneira desdenhosa.

– E como fará isso?

– Eu limpei o seu histórico de criminalidade, você não estaria aqui se não fosse por mim. – Derek se calou imediatamente. – Não quero criar uma rivalidade com você. Não é de mim que você deve ter sede de vingança. Guarde a sua raiva para o detetive, foi ele quem pegou o Jimin.

As palmas de Derek se fecharam de repente, movido por uma ira familiar. Ele sentia seu corpo arder pelo desejo da revanche, a tentação de ver o detetive se asfixiar com o próprio sangue enquanto testemunhava a imagem de Jimin em seus braços, levando consigo essa cena antes de dar o último suspiro.

– Me mostre que você não tem um dedo envolvido no incêndio – pediu Derek, ansiando por provas. Namjoon exalou, afastando-se. – Você pediu para que ele fugisse, o Jimin se recusou e de repente o lugar começa a pegar fogo. O que você sugere que eu pense?

– Você já está começando a ficar paranoico. – Ele falou como se fosse óbvio, então sentou-se em sua elegante poltrona. Derek estava em sua frente, nem um pouco persuadido. – Eu estava aqui no meu escritório quando soube do incêndio. Eric me contou que o Jimin tinha ficado preso na taberna e eu comecei a imaginar como contaria isso a você. Mas no dia seguinte as coisas mudaram. Eu mandei homens verificarem se tinha algum corpo lá dentro, foi então que encontraram o corpo do Brat na floresta. Havia pegadas que seguiam do alçapão até o corpo do Brat e depois sumiam. Eu presumi que esse detetive o encontrou porque a bala que ele disparou no Brat é de calibre 40, os federais só usam estas. – Derek encrespou a testa, parecia calcular tudo. – Bom, eu juntei as peças. Jimin tentou fugir pelo porão, Brat o encontrou na floresta como eu havia ordenado e foi morto pelo detetive, ele tentou limpar as pegadas que fez para não deixar rastro do seu caminho, é por isso que a trilha de pés some.

– Então você sabia que o Jimin ia fugir?

– Eu suspeitava que sim, por conta disso deixei homens espalhados na floresta. – Ele suspirou, exaurido. – Mas eles tiveram que recuar para ajudar os outros quando começou o incêndio. Só o Brat ficou, mas acabou sendo morto.

– E qual era o seu plano, afinal? Por que a escuta na coleira do Jimin?

– Porque eu tinha certeza que Jungkook iria comparecer no leilão. – Uma lufada de ar furiosa escapou das narinas de Derek. – Dentro ou fora da taberna, eu sabia que ele ia aparecer. Por isso usei dois planos: os meus homens e o quarto vermelho. Se ele estivesse dentro, iria comprar o Jimin para o quarto vermelho, mas se estivesse fora, meus homens iriam prendê-lo quando ele e o Jimin se encontrassem. A escuta era somente para ouvir quais planos eles tinham de nos pegar. E infelizmente os dois deram errado.

Com um pesado olhar, Derek sentiu-se manchado de traição. Ele conhecia os planos arriscados de Namjoon para alcançar um objetivo, entretanto, ciente de sua revelação, ele não podia negar que os riscos resultaram na perda de Jimin. Ele o tinha perdido para Jungkook. Seu ego foi subitamente inflamado.

– Vamos recuperá-lo de volta – garantiu Derek mais para si mesmo. – E quando eu conseguir, Jimin vai ficar longe dos seus planos e continuará me servindo. Ele é meu.

– Eu acho que não. – Desconfiança cobriu as feições de Derek. – Jimin deve estar mais esperto agora, provavelmente inteligente o bastante para te enganar. Do jeito que você está obcecado por ele, não seria tão difícil te manipular.

– O que está querendo dizer?

– Você tem um ponto fraco e eu consigo vê-lo em seus olhos. Não vai ser difícil para o Jimin notar isso também, certamente esse detetive já deve ter ensinado as artimanhas para te convencer facilmente.

– Ele não me conhece.

– Mas o Jimin sim, e já deve ter exposto tudo o que você fez com ele. – Derek rangeu os dentes e torceu a mandíbula. – Quando pegarmos o Jimin, ele será exportado para a Tailândia. Tenho ótimos compradores que se interessaram por ele inicialmente. Ganharemos um bom dinheiro e poderemos recomeçar o nosso negócio em outro país.

– Não vou embora sem o meu garoto. – seus aguçados dentes quase assobiaram num chiado rançoso.

– Derek – Rolando para fora da poltrona, Namjoon o enfrentou incerto –, estamos a um passo de cair, precisa colaborar comigo. – Ele tinha uma dicção lenta, leve e pausada. – O nosso negócio ficou na beira da falência, começamos a tropeçar depois do incêndio e tudo o que fazemos é movido pela sorte. Tem alguém mais esperto que nós segurando nossos pés e temos que tirá-lo do nosso caminho. Você tem que abandonar seu fetiche pelo Jimin e pensar no dinheiro que vamos ganhar se o vendermos.

Derek fez um barulho impaciente com a boca e empinou o queixo, mostrando-se ainda mais soberbo.

– Se o Jimin não fosse tão importante para você, não teria perdido seu tempo tentando usar a Hannah para consegui-lo de volta. O Jimin é a sua fonte proveitosa e eu sei que você o quer de volta, mas não para vendê-lo.

Uma linha sinuosa se acentuou no rosto de Namjoon. Depois de longos segundos se encarando em silêncio, Derek optou por cortar ao seu lado, seguindo para longe dele.

– Tudo bem – pronunciou Derek, sacudindo a cabeça –, vamos resolver esse assunto depois. No momento precisamos limpar essa sujeira.

Concordando com um aceno de cabeça, Namjoon deu um passo para frente e alcançou um pequeno aparelho celular descartável sobre a mesa.

– Bom, eu estou sujeito a acreditar que esse detetive não foi para o prédio, ele sabe exatamente como pensamos, não seria tão idiota. Ainda sim, eu mandei meus homens verificarem só por precaução – explicou Namjoon, remoto em suas próprias análises. – Ele sabe onde estamos e por isso irá avisar a equipe dele por algum lugar, talvez um telefone público. Mas o que precisamos fazer é despertar a atenção deles e trazê-los para cá. – Ele encontrou o olhar de Derek mais distante. – Vamos atraí-los para um massacre.

– E como vamos fazer isso? Não podemos colocar nossos homens contra os deles.

– Não, o que faremos será bem mais divertido que isso. – Ele riu de forma maligna. – Vamos colocar uma bomba na boate, vai ser uma ótima maneira de dar boas-vindas quando eles passarem pela porta.

Enfeitiçado pela nova ideia de Namjoon, Derek soltou uma gargalhada, soando como cubos de gelo crepitando num copo.

– Para nos pegar, eles vão precisar de muitos homens, o que significa que será toda a equipe do FBI, ou a maioria deles. – Derek concluiu, fascinado. – E todos esses filhos da puta vão explodir juntos.

– E para isso vamos ter que buscar um motivo para atraí-los até aqui – articulou Namjoon, mantendo, lentamente, os olhos fixos em seu aliado enquanto falava –, mas somente alguém pode fazer isso nesse momento. O Máscara.

A voz de Derek pareceu ter fugido passageiramente, seus olhos se abriram de supetão e uma onda correu por ele com impulso. Não podia sequer dizer o verdadeiro nome da pessoa em voz alta, era apenas o seu nome fictício. Tudo era dirigido secretamente. Chamar o Máscara não parecia uma boa escolha, e ele se alimentou desse pensamento.

– Eu não concordo. Essa pessoa odeia ser interrompida com esses problemas, porque ela sabe que podemos cuidar disso. – Derek debateu, apoiando-se na sua decisão.

– Dessa vez vamos precisar de sua ajuda. – Namjoon assegurou-se, mas Derek pareceu discordar brevemente com um agitar de cabeça para os lados. – Eu sei que o acordo era manter os problemas da boate o mais longe possível de sua identidade e preservar a imagem do Máscara, mas não há outra saída senão apelarmos.

– Eu discordo! – exclamou Derek. – Namjoon, sabemos o quanto o Máscara detesta se envolver em questões como essa que nós podemos consertar.

– Você está temendo que descubram que pisamos na bola, mas isso é necessário. – Desta vez Derek não disse nada. – No momento, o Máscara é a única pessoa que pode ter a atração perfeita para chamar a atenção deles.

– Por que não podemos cuidar disso sozinhos?

– Porque a decisão desde o início era recorrer ao Máscara quando estivéssemos em apuros. E agora estamos. – Sua voz estava mais grave. – Veja bem, existe alguém maior que nós que construiu todo esse negócio para conseguirmos dinheiro, se tem alguém capaz de limpar nossos nomes, essa pessoa está lá fora. Temos que entrar em contato e colocar o plano em ação. Caso contrário, os federais vão marchar por cada parede dessa boate com ordem para matar sem estarmos prontos.

Observando-o em silêncio, Derek pareceu entregar-se à decisão dele, exalando fortemente sem confrontá-lo. Havia uma sombria sensação arranhando sua espinha, mas ele preferiu lançá-la para longe e escutar quais eram os planos de Namjoon, afinal, independentemente de qualquer decisão, seu pescoço já estava pendurado na corda.

– Por onde começamos? – Finalmente, perguntou Derek, o vendo se locomover ligeiramente em direção ao notebook, onde teclou por um momento e depois vasculhou com seus olhos metódicos as informações que apareceram.

Havia algo estranhamente sinistro agitando-se acima da boca de Namjoon, quase como um sorriso. Então, com a voz cuidadosamente neutra, ele disse:

– Se eles querem brincar, então temos que fazer a nossa cartada. Está na hora de buscar alguém nos Estados Unidos.

✯✯✯

O céu lá fora estava pintado com relâmpagos e barulhos estrondosos. Jimin ouviu vagamente batidas na porta e abriu um pouco as pálpebras, piscando um par de vezes. Muito lentamente, ele começou a enxergar, conforme os olhos se adaptaram, a luz da clareira ardendo à distância. As batidas voltaram com mais força e, tomando consciência de que havia alguém do lado de fora batendo na porta, ele saltou do sofá.

Mal tinha percebido quando caiu no sono com o controle da televisão na mão. Ele passou a palma por seu rosto amassado e focou na porta da entrada, ouvindo o som das batidas salpicar em companhia da chuva. Rolando para fora do sofá, o menino procurou por algo para se defender da possível ameaça que podia estar por trás daquela porta, encontrando mais adiante um taco de beisebol pendurado na parede, como uma relíquia.

Segurando-o com tanta força que seus dedos embranqueceram, ele tropeçou pausadamente para frente, se preparando para ver pelo vidro antes de atacar. Sua garganta estava seca, o pavor mastigando sua coragem aos poucos, o fazendo quase ceder as pernas pelo chão cada vez que se aproximava mais.

Até seu corpo inteiro amolecer quando uma voz característica e inconfundível chamou por seu nome.

– Jimin, sou eu – murmurou Jungkook do outro lado; o som de sua voz sendo, relativamente, abafado pela pressão que ele fez contra a porta para o garoto escutá-lo.

Jimin largou o taco no chão e correu velozmente até a máquina de código ao lado da porta, digitando cada número que Seokjin havia lhe passado. A trava sucumbiu e estalou, abrindo-se, então ele esticou a mão contra a maçaneta e a puxou, encontrando a imagem do detetive completamente ensopado pela chuva.

– Senhor? – As palavras morreram na metade do caminho. Ele parecia surpreso e, parcialmente, envergonhado por deixá-lo tanto tempo debaixo da tempestade.

Diante disto, o menino deu espaço na porta, convidando-o a entrar. Jungkook atravessou para dentro, arrancando o casaco encharcado das costas e pendurando-o no cabide da parede. Jimin discou, novamente, a senha e a porta se trancou imediatamente.

Ele voltou-se para Jungkook, uma sensação curiosa vibrando por dentro de seu peito quando imaginou o motivo que o levou até lá.

– O senhor veio me ver? – Jimin perguntou baixinho, sentindo seu rosto esquentar quando recebeu o olhar dele. Um olhar que dizia que a resposta não era a que ele esperava ouvir.

Um gelo foi esmagado em seu peito. Ele lutou para afastar uma errante apunhalada de desapontamento. Então seu olhar caiu para o chão e uma confusão agitou seu estômago de repente. Jungkook parecia apreensivo e parcialmente turbulento, porém sem nenhuma intenção de magoá-lo.

– Eu devia voltar para vê-lo – começou Jungkook, andando suavemente até ele –, mas não em uma situação como essa.

Levantando a cabeça rapidamente, Jimin dobrou as sobrancelhas e o encontrou quase próximo de seu corpo, numa distância suficientemente aceitável. Ele pestanejou em meio a surpresa e balbuciou os lábios, sem o som das palavras.

– O-O que o senhor quer dizer com isso?

O detetive exalou, frustrado.

– Aconteceu uma coisa com um dos nossos agentes e eu não sabia para onde ir. Não posso voltar para o prédio agora porque, provavelmente, eles devem ter enviado homens para me pegar.

– Eles? – Jimin estava com os castanhos arregalados em espanto. – O senhor se refere ao Namjoon e Derek? O que aconteceu?

– Eu os encontrei. – O rosto do menino se transformou numa nuvem aturdida, completamente desacreditado. – É uma longa história, por isso preciso da sua ajuda. Não posso me comunicar com o Yoongi através do meu celular porque a bateria acabou no meio do caminho. Então corri para cá, já que aqui tem muitos equipamentos, talvez tenha um notebook ou celular descartável que me sirva.

Jimin cambaleou para trás, entorpecido, e segurou o olhar em um ponto fixo além de Jungkook. Ele não ouviu suas últimas palavras, uma vez que seu pensamento formou uma névoa de cogitações. E se eles tivessem seguido Jungkook? Se estivessem preparando uma armadilha para pegá-lo dentro da casa? Talvez uma escuta ou rastreador no carro.

Jimin podia sentir o cheiro de medo na sua respiração. Todos os nós do seu corpo pareciam desfeitos e uma pequena rachadura rompeu o terror em seus olhos no momento que Jungkook o chamou pela segunda vez.

– Jimin? Está tudo bem? – Ele encontrou seus olhos inertes e o viu balançar a cabeça para os lados.

– E-E se eles me encontrarem, senhor? Se descobrirem onde estou? O-O que eu vou fazer? – Confusão se destacava em seus delicados olhos castanhos.

Então, Jungkook aproximou-se dele, atenciosamente, espalmando as mãos em cada lado do seu rosto de forma sutil, exatamente como no dia que o reencontrou fugindo do leilão. O mesmo olhar lapidado de cautela o fitava nesse momento. Jimin se prendeu aos olhos dele, sentindo-se sucumbir.

– Está com medo, não é? – O menino fez com que sim. – Eu compreendo o seu medo, mas está seguro aqui. Eu fui contra isso inicialmente, só que a minha concepção mudou um pouco depois que avaliei o lugar. Confie em mim, Jimin, aqui é mais seguro para você.

– Longe do senhor?

– Eles conhecem o prédio, mas não conhecem aqui. Este lugar é protegido pelos superiores, há olhos da polícia por cada canto. – Impensadamente, seu polegar acariciou a bochecha do menino. Ele sentiu seu toque aquecê-lo. – Eu jamais te deixaria sozinho sem conhecer quem está por trás destas paredes.

– É que eu começo a me imaginar encontrando o Derek de novo. O que ele faria comigo se...

– Ei – Ele selou seu dígito ao lábio dele e sorriu –, agora ele é um homem procurado pela polícia do Canadá e o FBI juntos. Uma hora ele será encontrado e preso. Acredite, ele não vai ousar tocar um dedo em você porque vai evitar mostrar o rosto. – O corpo do menino pareceu suavizar. – Então eu duvido que ele dê a cara a tapa em um condomínio totalmente protegido por federais.

Com um suspiro, Jimin apertou os lábios e assentiu, meio que conformado. As mãos de Jungkook demoraram por um momento nas suas bochechas antes de ele, relutantemente, retirá-las. No entanto, antes que ele pudesse dar um passo para trás, Jimin enroscou os dedos no tecido de seu suéter e o abraçou.

Jungkook não reagiu, ele sentiu os pequenos braços envolverem suas costas, o apertando silenciosamente, quase desesperador. De maneira civilizada, o detetive respondeu ao seu abraço, embalando seu braço ao ombro dele enquanto os dedos de sua outra mão mergulhavam polidamente nos fios rosados.

Eles não disseram nada por um prolongado momento, apenas permaneceram envolvidos nos braços um do outro. Jungkook apoiou o queixo no alto da cabeça dele, passando-lhe segurança e conforto, sentindo o pequeno corpo falar contra o seu, dizendo-lhe que não queria ser encontrado por eles novamente, tampouco ficar longe de presença protetora do detetive.

Jimin suavizou sob seu toque e acabou se distanciando devagar, mais dez segundos ficando perto dele e Jimin poderia sentir suas defesas se explodindo em mil pedaços.

– Obrigado – sussurrou o menino, sabendo muito bem que estava vermelho; então ele só desejou que sua pele clara não mostrasse a cor tão facilmente sob os feixes de luz da clareira. – Então, como o senhor quer que eu te ajude?

Jungkook arrastou suas palmas para longe dele e olhou ao redor, sugando ar para os seus pulmões, ainda sob o efeito da súbita atitude meiga de Jimin.

– Eu preciso de um notebook ou um celular descartável para falar com o Yoongi. Você viu algum por aí?

– Sim, eu vi um notebook aqui quando busquei por um livro hoje de tarde. – Ele se apressou até uma prateleira de madeira próxima de um aquário. Seus olhos pesquisaram acima, mas sua altura não permitia que alcançasse o dispositivo.

Jungkook se movimentou a ele, examinando o lugar correto antes de esticar o braço e alcançar o aparelho. Os dois pares de olhos fitaram o notebook, e na mesma velocidade que foi apanhado, o dispositivo foi colocado sobre a mesinha de centro diante da lareira.

– Eu vou buscar uma toalha para o senhor se enxugar – disse Jimin enquanto o assistia ligar o aparelho.

– Obrigado – agradeceu ele com um sorriso doce no rosto, logo voltando-se para o monitor em sua frente.

Jimin sabia que devia fazer o que acabou de dizer, mas suas pernas não o obedeceram e ele acabou permanecendo no mesmo lugar, mantendo seus olhos cuidadosamente atentos na forma devotada que o detetive se acomodava no chão para sentar.

Ele parecia dopado por uma sugestão discretamente intrigante que o fazia desejar observá-lo. Era estranho, mas igualmente satisfatório. Jimin chacoalhou a cabeça, como se quisesse afastar esses pensamentos, e rolou para cima.

Focado em sua tarefa, o detetive roçou os dedos nas teclas e aguardou a tela se acender. Ele estava prontamente preparado para digitar quando uma mensagem acionou no centro, pedindo para inserir a senha. Ele fez um barulho com a boca, parcialmente como um grunhido irritado, e apertou o canto dos olhos. Era de se esperar.

Fazendo uma expressão inconformada, Jungkook começou a pensar nas possíveis senhas que ele certamente usaria. Não era tão prático adivinhar quando se tinha consciência que o criador delas era um agente do FBI. Elaborar códigos enigmáticos era uma das funções do seu trabalho.

Entretanto, no meio de uma montanha de alternativas, Jungkook sabia que seu chefe não arriscaria colocar qualquer código, portanto, ele consequentemente iria priorizar uma palavra-chave capaz de ser decifrada por outro agente apenas por precaução, caso um incidente acontecesse.

Por conta disso, ele olhou ao redor, investigando cada ângulo em busca de um possível indício, mas nada o chamava atenção. Jimin surgiu descendo as escadas, uma mão segurando o corrimão enquanto a outra amparava a toalha no antebraço. Jungkook sorriu para ele espontaneamente, banindo a sensação de urgência que sentia instantes atrás.

– Sua toalha. – Jimin esticou para ele quando se aproximou, retribuindo o seu sorriso gentil.

Jungkook agarrou-a ainda com seus olhos nos dele, provocando uma fumaça imediata na mente do menino quando sua mão se chocou na dele levemente. O corpo inteiro de Jimin cantarolou sob seu toque, uma sensação elétrica e completamente fascinante rachando suas defesas.

Ele não havia se sentido dessa forma quando Jungkook o tocou nas últimas vezes, e mesmo assim nenhuma delas o acertou tão em cheio. Por que ele começou a se sentir assim por estar perto dele?

Desse modo, sua parte lógica o alertou ligeiramente e então ele deu um passo para trás, não confiando muito na resposta corporal que podia ter perante ao detetive.

Por outro lado, Jungkook enxugou seus cabelos vagamente úmidos e localizou a toalha ao seu lado no chão. O garoto sentou-se no sofá às costas dele, um pouco perto de seu corpo, e retorceu as sobrancelhas quando enxergou a mensagem na tela do notebook.

– Uma senha? – Ele perguntou confuso. Jungkook murmurou meio desapontado.

– Eu já devia esperar por isso.

– O senhor já tentou o aniversário dele?

– Muito previsível. Homens como o Seokjin não colocariam senhas tão fáceis. – Jimin formou um bico nos lábios e pensou. – Eu preciso descobrir essa senha e falar com o Yoongi, isso é extremamente urgente.

– Deixa eu ver se posso ajudar o senhor – disse Jimin, indo a frente e tocando as gavetas da escrivaninha, seus dedos deslizando sobre a superfície das caixas empilhadas dentro do pequeno armário.

Jungkook o assistiu atenciosamente, achando gracioso a forma como ele procurava por livros ou mensagens que pudesse ajudá-lo na tentativa. O detetive acabou se movendo a ele quando o viu agarrar três caixas medianas com alguns livros guardados.

– Me dê isso – pediu Jungkook, colocando os braços delicadamente por baixo dos caixotes e os carregando para perto do notebook.

Jimin o seguiu e acomodou-se ao seu lado, o ajudando a retirar os livros de dentro. Ele examinou o interior de alguns, caçando por bilhetes escondidos entre as páginas. Jungkook, em contrapartida, focou-se certamente nos gêneros e nos autores favoritos. Talvez existisse alguma semelhança entre eles que estivesse abaixo do seu nariz.

– As armas têm descrições, não é? – Jimin perguntou alheio. Jungkook rolou seus olhos na direção dele e o encarou com uma expressão intrigante. – E se for a descrição da arma dele? Eu soube que policiais escolhem as suas armas porque querem mostrar que elas o representam. O senhor concorda?

Quase hipnotizado pela sua perspectiva, Jungkook demonstrou-se impressionado e brevemente atento. Seu sorriso acabou sendo superior.

– Sim, você está certo. – concordou ele, soando como um elogio. – Nós escolhemos a nossa arma porque nos identificamos. O tipo de revólver diz muito sobre um policial, é por isso que criamos uma relação com a nossa arma.

– Então, talvez, seja a arma dele? – Jimin perguntou quase contente.

– Precisamos estar cem por cento certo disso, o notebook está programado para reconhecer a senha apenas uma vez, e se errarmos, só teremos uma segunda chance depois de algumas horas.

O garoto abriu a boca em espanto e piscou um par de vezes.

– Ele pode fazer isso?

– É um método de segurança – falou Jungkook, voltando-se para o dispositivo. – Temos que pensar com mais atenção.

Retornando para sua passageira função, o garoto pulou as páginas, procurando por algum sinal perdido entre elas. Ele encontrou um minúsculo papel com bichos pingados, estavam todos tingidos de vermelho.

– Ele gosta de animais? – perguntou Jimin enquanto erguia o papel de frente aos olhos.

Entretanto, fixando-se no que ele tinha em mãos, Jungkook foi atraído imediatamente ao pedaço rasgado que havia sido encontrado.

– É o horóscopo chinês – articulou o detetive, segurando suavemente o papel dos dedos dele. Ele o avaliou em silêncio, quase como se fosse uma peça rara. – Em que página estava?

– Vinte e Três. – respondeu ele, relativamente enfeitiçado pela expressão tão regrada de concentração que se exibia no rosto de Jungkook.

Definitivamente ele estava vendo o que Jimin não conseguia decodificar.

– Talvez você não esteja tão errado assim. – disse Jungkook, sorrindo diretamente para ele. Jimin tropeçou na própria respiração quando sentiu-o se aproximar um pouco, o suficiente para que os ombros se tocassem.

– Está vendo esta marca? – Jungkook suspendeu o braço e deixou a luz da clareira reluzir atrás do papel. Jimin enxergou um discreto traço contornar um dos bichos com o número oito acima da cabeça do animal. – Vinte e Três de agosto foi quando ele entrou para o FBI. Essa é a nossa chave.

Jimin ficou boquiaberto, seus amendoados olhos se arregalando aos poucos, sem piscar. Havia uma surpresa e admiração sinistra rodopiando simultaneamente em sua cabeça, maravilhado pela capacidade de dedução tão vertiginosa que Jungkook possuía. Ele era um gênio.

– Por que está acima do tigre, senhor?

– Porque é a definição do tigre que o caracteriza. – Jimin o encarou, sentindo-se titubeante quando notou os olhos dele pousarem nos seus no mesmo momento. – Ele se define como um tigre. Um líder nato.

O garoto estremeceu por dentro.

– Então essa é a senha? Líder? – perguntou Jimin, meio perdido.

– Vamos tentar.

No tempo em que Jungkook ameaçou teclar o código, Jimin se apressou e agarrou as mãos dele, o impedindo de prosseguir.

– Senhor, e se alguma coisa foi ativada no celular dele que pode, talvez, mostrar que tem alguém invadindo o notebook dele? Eu acho melhor o senhor não tentar, é bem arriscado.

Jungkook soltou um riso nasal e o fitou graciosamente. Havia cautela se derramando por suas órbitas escuras.

– Eu preciso tentar, Jimin, é urgente. Ele vai entender a minha emergência.

Em silêncio, Jimin somente mordeu a pontinha do lábio inferior e retirou relutantemente as mãozinhas das palmas do detetive. Ele ainda era contra a decisão de Jungkook, entretanto, optou por não interromper quando o assistiu escrever a possível palavra-chave.

Sua respiração pareceu se tornar mais apreensiva e uma série de pensamentos se atropelaram em sua cabeça, um atrás do outro, o deixando mais nervoso quando enxergou o dedo de Jungkook sobre a tecla enter.

– Jungkook, espera! – exclamou Jimin, movido pela desagradável sensação de insegurança. Mas não bastou chamá-lo, ele já havia pressionado o botão.

Quando uma mensagem positiva brilhou na tela, Jungkook girou-se para o garoto assustado e mostrou-lhe suavemente os dentes, sorrindo de maneira afetuosa para ele. Jimin, por outro lado, tentou conter sua expressão estarrecida.

– Do que me chamou? – murmurou Jungkook ainda com um sorriso no rosto.

Os olhos do menino se desviaram do notebook e caíram sobre ele, recebendo automaticamente um choque de realidade em sua consciência. Jungkook não estava sorrindo por ter conseguido entrar no sistema de Seokjin, e sim em razão de ter escutado seu nome sair dos lábios do menino.

Jimin mastigou o lábio em defesa do momento impensado e abaixou a cabeça. Ele sentia suas bochechas quase explodirem de tão quente que estavam.

– M-Me desculpe, eu falei sem pensar, senhor – desculpou-se ele ainda de cabeça baixa. Jungkook riu pelo nariz.

– Não tem que se desculpar por isso. – argumentou ele, seu tom de voz lento e deliberadamente sedoso. – Meu nome soa bonito na sua voz, Jimin.

O garoto estremeceu mentalmente, retornando seu olhar ao dele um tanto sem reação. Seus lábios continuavam repuxados para cima, sem a intenção de deixá-lo comovido ou com medo de seu comentário.

Em reflexo disso e da ausência de resposta por parte de Jimin, o detetive optou por acelerar o seu trabalho ali dentro, deixando o garoto completamente engasgado com as palavras que se formaram em sua garganta.

Um olhar profundo e misterioso cobriu o rosto de Jungkook quando ele pesquisou o que procurava. Jimin engoliu em seco, sentindo-se mais nervoso do que inicialmente. Ele acabou arrastando-se pelo chão um pouco mais para longe, oferecendo um espaço considerável para Jungkook trabalhar sozinho. Ele não entendia o que estava fazendo seu estômago se retorcer, como também não confiava nessas sensações esquisitas.

Jungkook estava fazendo uma chamada de vídeo, um quadro preto aberto exibia-se no centro da tela. Ele demonstrava-se inquieto pela demora prolongada da aparição de Yoongi, por conta disso decidiu desligar e ligar novamente.

À medida que as horas se esticavam e a chuva se derramava com mais força do lado de fora, Jimin sentiu uma minúscula voz no fundo da sua mente produzir frases que servissem de conforto à urgência do detetive, mas não houve som saindo do fundo de sua garganta. Nada saiu.

Sua consciência se despertou abruptamente quando escutou a voz de Yoongi se reproduzir num tom desconfiado.

– Jungkook? – Sua pergunta não foi retórica. – Onde você está?

– Na casa do Seokjin. Tive que pegar o notebook dele para entrar em contato com você. – Yoongi curvou a testa do outro lado. – Preciso que me ajude.

– Espera um pouco, você descobriu a senha do diretor? – O de cabelo preto assentiu fracamente. – Caramba! Ele vai comer seu rabo, Jungkook, se prepare.

– Você vai me ajudar ou não?

O que estava do outro lado levantou as mãos ao nível dos ombros e apertou os lábios.

– Certo, eu vou te ajudar obviamente. Mas primeiro me diga porque não me ligou do seu celular, seria mais fácil nos comunicarmos.

– Meu celular descarregou depois que te mandei a mensagem. – houve um suspiro partindo de sua boca e em seguida um vapor trouxe novamente as imagens de Andrew para dentro de suas lembranças. – Aconteceu uma coisa horrível na missão.

Os olhos de Yoongi ficaram congelados e sem movimento, ele parecia esperar pela pior notícia. Por um momento, sua parte lógica o alertou e então ele acabou movendo sua visão por cada pedaço da tela à procura de alguém.

– Onde está o Andrew? Por que ele não está com você? – sua voz aumentou, um tremor perceptível ondulando sobre ela.

Jungkook pareceu relutar brevemente, agarrando-se ao que sobrava de sua energia para dizer em voz alta aquilo que nem sua mente desejava acreditar.

– Ele está morto.

Yoongi caiu para trás, assombrado, mas o encosto da cadeira o segurou. Ele estava endurecido, olhos arregalados e lábios abertos, injetado pelo impacto da notícia. Apressando-se para acalmá-lo, Jungkook disse:

– Yoongi, eu reagi da mesma forma quando o vi ser baleado. Não tem nada que possamos fazer. Esse é o nosso trabalho.

– E você me ligou para dizer isso? – Ele arfou por ar e pestanejou para Jungkook.

– Na verdade eu te chamei porque preciso que me ajude a desvendar uma coisa que aconteceu lá. – A concentração de Yoongi escorregou, então Jungkook prosseguiu. – Eles mataram o Andrew achando que era eu.

– O quê? – Yoongi e Jimin falaram ao mesmo tempo.

– Fiquei surpreso também, mas isso não será por muito tempo. Eles vão descobrir que mataram o agente errado e virão atrás de mim pela estrada do prédio. Por conta disso, eu não dirigi para o edifício e optei por procurar ajuda na casa do Seokjin. – o rosto de Yoongi tornou-se mais observador e atento.

– Me explica do começo.

Jungkook olhou para Jimin e exalou um forte ar, logo recapitulando todo episódio.

– Ordenei para que o Andrew entrasse disfarçado no cassino, já que no momento eu havia imaginado que eles conheciam o meu rosto, mas deu tudo errado quando eles o mataram e o chamaram pelo meu nome. – com o olhar ainda esbugalhado, Yoongi apoiou a mão no queixo pensativamente. – A Rose deve ter mostrado a imagem do Andrew ao invés da minha. Eles não o confundiram comigo, simplesmente estavam seguindo a informação da infiltrada deles.

Yoongi esfregou a testa, a incredulidade dispersando-se de seus olhos.

– E para o que exatamente você precisa da minha ajuda?

– Quando ele ia atirar no Andrew, eu tentei sair do carro, mas ele estava travado. Eles trancaram as portas e me encurralaram dentro.

– Para te intimidar.

– Exatamente – concordou Jungkook –, eu só não entendo como eles conseguiram fazer isso. Precisa me ajudar a descobrir.

Acenando para ele, o agente por trás da tela abandonou a cadeira, saindo de cena, e começou a remexer em sua pasta de equipamentos. Jungkook não estava enxergando-o, mas ouvia de longe a sonoridade abafada dos aparelhos tecnológicos sendo ligados. O detetive sabia que ninguém além de Yoongi, neste momento, era capaz de desvendar esse problema.

Jungkook roçou o canto dos olhos com a ponta dos dedos e esticou o pescoço para afastar a fadiga enquanto Yoongi ainda não havia comparecido no vídeo. Ele sentia-se completamente esgotado.

De repente ele sentiu uma suave mão tocar a sua por cima do tapete. Era a de Jimin. Ele rolou os olhos ao garoto e foi recebido por um sorriso confortavelmente gracioso. Suas unhas rasparam devagar a pele da mão dele, até se cruzar em harmonia com seus dedos, entrelaçando-os.

– Eu sinto muito pelo seu parceiro, senhor. – sussurrou Jimin, fazendo Jungkook engolir secamente. – Vai dar tudo certo.

Tentando ignorar a facada de confusão que beliscou seu peito, o detetive se atentou apenas na mensagem positiva do garoto, retribuindo docemente o seu sorriso acolhedor.

– Aqui está! – exclamou Yoongi em direção a câmera, fazendo Jimin desvencilhar sua mão da palma do detetive ligeiramente. Jungkook piscou algumas vezes e retornou seu olhar ao notebook, recompondo-se. – Preciso que me diga algumas coisas, só para eu ter certeza se é isso que estou pensando. – Jungkook acenou. – Certo, vocês estavam se comunicando por alguma escuta?

– Sim.

– Houve algum problema com a escuta? – Yoongi parecia ler uma pasta impossível de ser enxergada diante do ângulo que a câmera estava.

– Ele estava seguindo para uma área com bloqueios, então isso acabou provocando uma interrupção na nossa comunicação. – Yoongi fez um barulho com a boca, quase certo de sua teoria.

– Vocês continuaram se comunicando ou você desligou a escuta para impedir o rastreamento? – as sobrancelhas de Jungkook se curvaram para cima.

– Perdemos o contato e eu decidi informá-lo sobre o bloqueio através do meu celular.

– Espera um pouco – Yoongi interrompeu sua atividade com o pequeno aparelho retangular semelhante a um tablet e encrespou sua expressão. –, você disse que ligou para ele? Ainda na área de bloqueio?

– O que você queria que eu fizesse?

– Puta que pariu, Jungkook!

Num reflexo, ele se moveu urgentemente para o seu modesto aparelho de consulta e começou a teclar. Havia uma sombra agitada caminhando entre os contornos de seus olhos, acusando sua antecipada suspeita.

Um feixe de luz cruzou através da janela e um estrondo explodiu instantes depois. Jungkook sentiu Jimin se encolher ao seu lado, silencioso, e naquele momento, seguido por um instante de cautela, ele teve vontade de abraçá-lo contra seu peito.

O mais bizarro é que sua vontade ia muito além do que sentiu todas as vezes que o abraçou, por conforto e segurança. Ele apenas desejava abraçá-lo puramente por... querer.

Seu pensamento mergulhou mais fundo em seu cérebro até que essa ideia estivesse bem desviada de sua parte racional. Ele sacudiu a cabeça mentalmente e bagunçou seus pensamentos de uma vez, sendo tomado pelo poder da concentração.

O foco naquele momento era a máfia e não Jimin. Sim, ele devia focar no seu trabalho e ignorar todas as investidas que sua mente tentasse implantar na sua cabeça. Ele somente achava que daria certo.

– Eu acho que já sei o que aconteceu. – a voz de Yoongi penetrou sua mente, o fazendo saltar para fora de seu curto devaneio. – Seu celular tem ligação com o sistema de segurança do carro?

Jungkook não precisou refletir por muito tempo, a resposta era clara e direta.

– Sim, tem.

– Então foi isso. – sua expressão instilava uma profunda conclusão. – Quando você ligou para o Andrew, eles conseguiram invadir seus dados através do bloqueio que, possivelmente, deve ter acionado no sistema deles uma mensagem de alerta. Se vocês se comunicaram por mais de três segundos, então sua localização apareceu para eles.

– Três segundos? – perguntou Jungkook, furiosamente surpreso.

– Sim, além do mais, você estava perto da rede eletromagnética, o que facilitou o bloqueio da escuta. A metodologia de segurança desses caras é extraordinária. Eles conseguiriam te rastrear em dez segundos se você estivesse a quilômetros de distância. Mas como você estava perto, foi mais rápido e prático. – Jungkook sentiu-se irritado por não ter pensado nisso, tampouco tomado as medidas de preparo para se prevenir. – Bom, seu celular descarregou, o que ajuda você a desaparecer do radar deles, mas se você o ligar, eles vão receber sua posição.

– E o que eu devo fazer?

– Deixe-o desligado enquanto eu tento expulsar eles do seu aparelho. Não se preocupe, nada que tiver no seu celular vai ser visto por eles enquanto estiver desligado. – Jungkook passou as mãos no rosto de repente, sem refutar. Yoongi sabia exatamente o que estava fazendo. – Isso me faz pensar que, antes de te rastrear, eles invadiram o aparelho celular do Andrew e rastrearam a conversa de vocês. O programa deles te detectou e automaticamente eles conseguiram acesso ao sistema de segurança do carro. Por conta disso, o SUV se trancou sozinho, eles queriam que você assistisse-o matando seu parceiro para te intimidar e levar a informação para o FBI de que eles tiveram sucesso assassinando o único detetive capaz de encontrá-los. Mas parece que esse plano deu errado, porque eles não te conhecem. Ainda.

– Eu apareci nos jornais, como não podem saber sobre mim? – essa parte incomodou Jungkook.

– As manchetes só saíram no final da tarde, faz sentido eles não terem descoberto sobre você até a notícia bombar, ainda mais se estivessem cuidando de outros paradeiros.

Um silêncio prolongado caiu sobre eles. O rosto de Jungkook ainda não era conhecido, mas não por muito tempo. Hipoteticamente, seus capangas já informaram sobre a coletiva de imprensa, o que por certo rompe qualquer possibilidade de ponderar a respeito de uma infiltração.

– Senhor – chamou Jimin, tirando proveito da calmaria. –, se eles provavelmente já sabem quem é o senhor, então vão querer limpar todas as provas que incriminem eles, não é? Não faz sentido eles deixarem o senhor fugir de lá, sendo que eles sabiam que tinham dois policiais na boate. O senhor e o seu parceiro. O seu parceiro foi morto, mas o senhor continua vivo e sabe onde fica o esconderijo deles. Tem certeza que eles só queriam intimidar o senhor te deixando vivo para contar o que sabe?

Jungkook manteve-se cuidadosamente misterioso, observando seus olhos enquanto refletia sobre a interpretação de Jimin. Possuindo um articulado tom de quem está incerto, ele perguntou:

– Acha que eles querem nos atrair para uma armadilha porque podem ter acesso a outro lugar? – o menino assentiu sem relutar.

– Se o Jimin estiver certo, é provável que eles avancem para lá esta noite e isolem a boate, provocando alguma armadilha para nos pegar. Jungkook, isso faz sentido. Se eles te deixaram vivo para nos atrair ao esconderijo deles é porque eles querem, não somente derrubar você, mas todos os federais que vão invadir. Eles querem um massacre. – argumentou Yoongi, complementando a súbita possibilidade surgida.

– Certo, eles vão demorar algumas horas para eliminarem tudo o que têm. Vamos nos reunir no prédio e criar um plano de emergência sem que afete nossos homens. – por fim falou Jungkook, irredutivelmente convicto. – Mas antes, cheque o problema no meu celular, eu preciso ligá-lo porque lá tem dados que vão me servir. Consegue fazer isso em meia hora?

– Posso tentar, mas devo te adiantar que esse processo vai me permitir ver tudo o que você guarda no celular. – ele fez uma cara insinuadora. – Então, meu amigo, se você tiver alguma foto pelado eu vou saber.

Jimin quase riu, ele cobriu a boca e fez um barulho chiado, consciente de que o momento não era para risadas. Jungkook, por outro lado, revirou os olhos e ergueu suas sobrancelhas ligeiramente.

– Continue sonhando com isso, idiota. – ele colocou o dedo sobre a tecla de desligar e disse as últimas palavras. – Me chame por aqui quando tiver concluído e não se esqueça de mandar uma dúzia de policiais patrulharem no quilômetro de um raio em volta do prédio. Não quero correr o risco de ser surpreendido pelos homens deles.

– Acha que eles estão aqui, perto de nós?

– Quando descobrirem quem sou, sem dúvida vão enviar homens para me cercar, seja mais adiante ou não, quando eu estiver entrando ou saindo do edifício, tanto faz. De qualquer forma preciso de prevenção. – Yoongi agitou a cabeça em concordância. – Faça isso, certo? Eu estarei esperando o seu retorno.

Dito isso, ele afundou o indicador no botão e a tela se apagou. Ele sentiu o corpo pequeno balbuciar ao seu lado com uma risadinha presa, então ele o encarou com os olhos risonhos.

– Não me diga que está rindo do que ele disse? – brincou Jungkook.

– É que às vezes parece que ele flerta com o senhor. É estranho.

– Yoongi é um aproveitador nato. Não estou surpreso. – ele disse com uma indiferença zombeteira.

– O que vai fazer agora? – o menino quis saber, inclinando-se contra o estofado do sofá. Jungkook conseguia enxergar melhor a pele de seu pescoço reluzir contra a luz da clareira.

– Esperar. A qualquer momento esse notebook apita e eu precisarei me preparar para voltar ao prédio.

Uma adrenalina fria percorreu por cada centímetro do corpo de Jimin, ele acabou lutando para controlar a expressão desanimada que tomou conta de seu rosto, e sem perceber, houve um tempo para encontrar sua voz.

– Então... – ele formou um bico com os lábios. – o senhor gostaria de tomar alguma coisa? Tem café.

– Eu vou recusar o café. – disse ele, sua voz tinha uma pontada de desânimo, embora seus olhos continuassem a sorrir. – O sono não vai me pegar tão cedo depois de tudo o que aconteceu hoje. Então eu confio na ausência da cafeína no meu corpo.

Dando uma rápida olhadela comovente para o detetive, Jimin abaixou a cabeça e lamentou-se pelo que Jungkook estava passando. Ele conhecia essa sensação, o sentimento de perda, mesmo não sabendo se era uma intuição real, já que não tinha a confirmação de que Hannah estava realmente morta, portanto, ele sentia que havia perdido ela há muito tempo.

– Eu sinto muito por tudo o que aconteceu, deve ser duro para o senhor encarar isso. – admitiu ele, mostrando-se mais enternecido do que o próprio Jungkook.

– Tem coisas que não devemos mostrar com frequência. – falou Jungkook, encontrando os olhos curiosos dele. – Fomos treinados para não nos importarmos, nem com a morte de um parceiro em campo. Eu tento mostrar que me abalei pela perda, mas sem demonstrar fraqueza.

– Mas o senhor se importa comigo, isso é errado? – perguntou ele audivelmente, sua fisionomia tomada pela confusão.

– Em algumas coisas, sim. – um peso esmagou o peito do menino e ele acabou se asfixiando com o choque inesperado. – Mas eu não me importo com o protocolo nesse momento.

Certamente, Jimin não esperava por aquela resposta, tanto que um lampejo vítreo velejou por seus pequenos olhos por um longo momento, deixando-o hipnotizado e desprovido de resposta.

– O senhor se refere a mim o-ou ao seu parceiro que morreu?

– A você. – Jimin sentiu-se, vagamente, inseguro. – Eu olho para você e não consigo agir da maneira que meu trabalho preza. Eu-

Ele pausou, fracassando nas palavras. Então ele olhou ao redor em busca de uma distração, algo que estivesse bem longe daquele par de olhos melancolicamente caprichados ao seu lado.

– Fala – pediu Jimin num murmúrio. – Por favor, senhor.

O detetive focou em Jimin, observando seus olhos cintilantes revelarem uma curiosidade indiscreta. Ele acabou provando o gosto amargo do receio, simplesmente por medo de assustá-lo com seu pensamento.

Então ele catou as melhores palavras no fundo de sua mente antes de enunciá-las.

– Eu nunca fui o tipo de cara que consegue lidar adequadamente com outras pessoas, por isso me mantive tranquilo em relação a esse dever dentro do meu trabalho. Eu nunca me importei tanto com alguém ao ponto de me arriscar inteiro a ela. Mas com esse caso foi diferente, eu dou meu suor para salvar todo mundo, e não é somente por sede de justiça, é meu lado humano também.

– O senhor é um homem bom.

– Me tornei esse homem que você conhece depois que peguei o caso. Eu não era assim, Jimin. – ele falou sobre o estrondo do trovão. Uma expectativa se reacendeu no olhar do menino quando o detetive ameaçou falar novamente.

Diante da ausência de resposta de Jimin, Jungkook prosseguiu.

– O que eu quero dizer é que... eu gosto de cuidar de você. – O garoto ficou preso no momento, olhos saltados e a boca minimamente aberta, despido de uma resposta lúcida. Jungkook limpou a garganta em meio ao silêncio. – Eu espero que não me leve a mal, não quero que pense-

– Senhor – Ele o chamou, atraindo aquele olhar negro ardósia e puramente concentrado nas suas seguintes palavras. –, eu também gosto de ser cuidado por você. Ninguém nunca me tratou tão bem em toda minha vida.

Muito lentamente, Jungkook se virou para ele, segurando docemente sua mão, um gesto protetivo e carregado de autoconfiança. O coração de Jimin debruou um pouquinho, arremessando arrepios por cada pedaço do seu corpo, inclusive a nuca.

– Me chame de Jungkook mais vezes. – Os olhos do garoto deram um suave solavanco. Ele esperava ouvir tudo, menos isso. Então ele acabou mordendo o lábio para conter uma risadinha atrevida. – Meu nome parece bonito na sua voz.

– Deve ser porque seu nome é bonito – rebateu ele, quase brincalhão.

– Não estou tão convencido disso. – os dois riram, mas o som que prevaleceu foi o ronco do trovão do lado de fora. Jungkook manuseou sua atenção pela mesinha de centro, encontrando uma sequência de lápis espalhados. – Algo me diz que você trabalhou hoje. O que acha de me mostrar sua arte?

O sorriso do menino se alargou, contente, e ele sentiu a palma alheia deixar a sua gentilmente, o incentivando a pegar seus desenhos.

– Eu levei para o quarto, vou pegar e não demoro.

Ele o assistiu lançar-se para a escada com o rosto radiante, avançando os degraus de dois em dois. O foco singular de seus olhos estava na direção que Jimin seguiu, mas seus pensamentos fugiram para longe daquela realidade.

Jimin o fez se desprender da lembrança apavorante da morte de Andrew por um momento apreciável e isso o deixou bem... até sentir que estava sem ele, apenas com a memória repetitiva do disparo em direção ao corpo do ex-agente, que, infelizmente, teve uma morte desonrada.

Havia uma combinação quente circulando dentro de sua cabeça, o deixando completamente fundido ao desejo de estar mais perto de Jimin, mais familiar a ele. E isso o preocupava como um inferno.

Sincronicamente, uma parte do seu cérebro se deleitava da presença de Jimin, enquanto a outra urrava em seus ouvidos que isso era igualmente inapropriado com alguém que é vítima de seu caso perante aos olhos da lei.

Fora treinado para não se importar tanto, e ele sabia que estava trilhando pelo caminho contrário. O resultado de sua teimosia pode ser drasticamente imprudente se permanecer ferindo o seu dever.

Contudo, ele não dava a mínima para os preceitos escritos naquela noite, sentir-se confortavelmente à vontade com Jimin era como um remédio apropriado para curar determinada dor.

Evidentemente, Jimin tornou-se o seu remédio.

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