⍟ thirty one

Com o dedo em cima do botão, Jungkook repetiu o vídeo mais uma vez. Ele recomeçou, voltou alguns segundos e deixou a imagem se reproduzir. Sua mão esfregou o canto da boca, recolheu metade do suor acumulado na testa e abriu os botões da camisa, enquanto afrouxava a gravata.

Cerca de duas horas dentro de uma sala, repetindo e pausando o vídeo e mesmo assim não conseguiu reunir nada que servisse para ajudar o caso. Ele suspirou, exausto, estendendo a mão para agarrar seu celular sobre a mesa. Já passava das oito horas da manhã e seu sono não havia se manifestado ainda.

A porta se abriu e uma figura entrou, cautelosamente, na sala. Yoongi chegou por trás dele e passou a xícara de café à frente. Jungkook a segurou e esperou o outro dar a volta pela mesa, se acomodando em uma das cadeiras.

– Conseguiu dormir? – perguntou Yoongi, passando a borda da xícara pela boca.

Jungkook suspendeu os olhos cansados, ele parecia pálido e um borrão enfastiado os rompeu quando ele os deslocou à Yoongi.

– Um pouco. – Sua resposta não o convenceu.

– Acho que você precisa descansar mais.

– Tenho coisas mais importantes para fazer do que dormir.

– Tipo transar? – provocou-o de um jeito descontraído.

– Não estou tão na seca quanto você. – Yoongi gargalhou. No fundo, era a mais dura verdade à sua vida sexual.

– Qual é, querido Jungkook, você anda muito estressado ultimamente, – ele pausou e se debruçou sobre a mesa, aproximando-se do outro. – isso se chama falta de sexo.

– Não, isso se chama preocupação com a mensagem desse vídeo. – ele colocou a xícara sobre a mesa e deixou a cadeira. Yoongi o seguiu com o olhar e riu mentalmente de sua falha tentativa de se esquivar do assunto. – Está vendo a expressão dela? – perguntou, apontando para o telão acima. – Esse é o momento que ela diz que quer a volta do Jimin. Segundos depois ela nega a cabeça, ou seja, suas palavras eram uma mentira. Ela não quer que o amigo volte, por isso sua expressão emite um sentimento contrário às suas palavras.

– Então ela prefere morrer?

– Prefere – Olhou para ele com segurança. –, mas não vou deixar que isso aconteça.

– Como aquele desgraçado disse, não temos opções; nem sequer sabemos onde ela está. Colocaram um pano preto no fundo do vídeo, a pessoa atrás dela usava luvas. Eles estão tomando cuidado para não serem identificados.

– Não foi isso que me deixou intrigado. – falou Jungkook, sua voz apresentando uma entonação mais grave. – Eles sabem que não vamos entregar o menino, mas também sabem que não deixaremos a menina morrer. Eles querem muito mais do que o Jimin.

As linhas do rosto de Yoongi se endureceram diante do pensamento estranho que surgiu em sua mente naquele momento e ele acabou percebendo que Jungkook pressagiou a mesma coisa.

Um par de batidas de silêncio caiu entre eles, então o detetive disse em voz baixa:

– Eu.

Yoongi negou freneticamente.

– Por quê? Não faz sentido eles quererem você.

– Eu fui o responsável por entrar no desfile e tirá-lo do leilão. – Jungkook desviou seus olhos ao telão. – Eles não querem a cabeça da Hannah, querem a minha.

– Se isso for verdade, eu te peço para que deixe o caso. – Yoongi se levantou abruptamente, ignorando caso o café esfriasse.

– Que tipo de policial seria eu se abandonasse o caso pela metade? Eu preciso enfrentar isso, Yoongi.

O de cabelo azul massageou a parte inferior do rosto, se contendo perante a insistência dele.

– Jungkook, me escuta...

– Eu vou me oferecer para ir no lugar do Jimin.

– Não.

– Assim irei protegê-lo e eles terão a mim em troca da vida dela. – continuou, folheando as suas opções.

– Você não vai ir no lugar de ninguém! – Quase gritou. Jungkook permaneceu, momentaneamente, calado. – Eu sei que as nossas escolhas são limitadas, mas podemos usar estratégias para pegá-los, só precisamos pensar direito.

– Você tem tempo para pensar em estratégias? Porque o meu cronômetro diz que só temos mais um dia. – A expressão de Jungkook detinha a mais profunda coragem, seus olhos irradiavam fagulhas convictas.

– Temos que esperar o Seokjin e nos juntarmos com a equipe de planejamento estratégico. – articulou, ouvindo um sopro antipático como resposta. – Jungkook, por mais que você seja contra a presença do Seokjin, e eu seja contra a escolha que ele fez de deixar a Rose entrar no departamento, temos que respeitá-lo. Seu cargo está muito além do nosso.

– Você o defende tanto.

– Eu apenas não exponho meus pensamentos a respeito dele e sei separar as coisas. – Jungkook soltou o ar com insatisfação e se afundou no assento, exasperado.

– Continuo achando a minha opção a melhor. – Jungkook pensou que Yoongi lançaria uma raiva ainda mais violenta, mas ele apenas o olhou estreitado. – Eu sei o que estou fazendo, só precisamos ver que ela está viva na hora da troca.

– Não vai ser uma troca, e sim, você sendo carregado para o covil deles. – rebateu, sua voz se tornando irregular. – Temos que aguardar a ligação e ouvir quais vão ser as instruções, com isso, a gente pensa a respeito do nosso plano.

A pele de Jungkook estava pálida, sua testa brilhava com o suor; ele passou a mão pelos cabelos e deixou escapar um longo suspiro, cansado e inapto, para levar aquela discussão adiante.

– Tudo bem, eu faço o que achar melhor. – Yoongi comprimiu os olhos diante de sua resposta. O Jungkook que conhecia agarraria sua decisão até o fim e não iria ceder facilmente. Ele não parecia bem, de qualquer forma.

Ele esfregou seus olhos sonolentos e tomou um gole do café. Yoongi queria perguntar se estava tudo bem, mas, ao invés disso, ele apenas manteve seu olhar aguçado na direção dele.

A porta se abriu, silenciosamente, e o corpo de Seokjin transitou para dentro. Ele manuseou o olhar entre os dois detetives e sacudiu o queixo para o telão.

– Encontraram alguma coisa no vídeo? – Sua pergunta foi dirigida à Jungkook, no qual chacoalhou a cabeça para os lados, sem encará-lo.

O diretor colocou as mãos no quadril e seu rosto ganhou uma, distante, confusão.

– Nós estávamos pensando, senhor, seria melhor criar um plano para pegá-los. Quando eles falarem o lugar onde devemos devolver o Jimin, vamos colocar patrulhas e um exército de espreita. – explicou Yoongi, vendo os olhos de Jungkook caírem firmemente nele, como se dissessem: "Nós não pensamos nada disso".

– Eles já devem estar preparados para uma possível armadilha. Temos que agir fora dos pensamentos deles. – afirmou Seokjin, consultando o telefone sobre a mesa. – Eles ligaram novamente?

– Não. – Jungkook respondeu seco, engolindo um pouco de sua raiva. – Onde dormiu?

Seokjin olhou para ele, tendo consciência de sua pergunta. – Tenho uma casa aqui.

O detetive suspendeu uma sobrancelha discretamente e seu polegar correu ao longo de seu lábio, escondendo o sorriso preguiçoso que se ergueu momentaneamente. Não havia ânimo em seu ato, apenas uma pequena porcentagem de indignação pela diferença de privilégios.

Ele não podia ficar tanto tempo longe do prédio porque tinha obrigações com seus casos, que deviam ser trabalhados em conjunto em um lugar específico. Enquanto o diretor tinha a liberdade de escolher onde dormir.

– E onde fica?

– Jungkook. – repreendeu Yoongi.

– Sei que desconfia de mim pelo erro que cometi, detetive, mas tenho consciência do que faço e posso garantir que não tenho um dedo envolvido nas atrocidades que a máfia vêm cometendo. – garantiu, deixando a voz mais ríspida. – Ao invés de me acusar, sugiro que tome medidas a respeito da ameaça que sofremos. Não temos muito tempo.

– Já decidi o que fazer. – eles ficaram em silêncio, então Yoongi passou a mão pela testa, incapaz de acreditar que ele voltaria no assunto. – Quero ir no lugar do Jimin e garantir a segurança dele. Posso ir com eles depois de me certificar que a Hannah estará viva.

– Eles querem o menino. – declarou Seokjin.

– Eu também tenho valor para eles.

– O único valor que você tem para eles é dentro de um túmulo. – Jungkook apertou os cantos da boca. – Seu plano não é tão negativo assim, podíamos usar você como isca para atraí-los, mas já suspeito que eles tenham noção que vamos colocar um exército em nossas costas. – Ele andou de um lado a outro, sacudindo as suas possibilidades. – Temos que pensar como eles, devemos fazê-los acharem que não tivemos nenhuma outra opção, a não ser fazer essa troca.

– E se eles insistirem que querem o Jimin? – Yoongi perguntou.

– Então usaremos o menino como isca.

– De forma alguma. – Jungkook recusou subitamente. – Ele é responsabilidade minha e eu o quero longe dos seus planos.

– Eu não o colocaria no meio de um campo de batalha sem as armaduras necessárias, detetive. Ele estaria totalmente protegido e seguro. – Jungkook mordeu as palavras e se levantou da cadeira.

– Você não ouse colocá-lo como isca. – Seu indicador apontou instintivamente para ele. – Jimin está fora desse plano, não se atreva a fazê-lo passar por isso de novo.

As palavras rolaram de sua boca como facas amoladas. Yoongi tossiu surpreendido e encarou os dois rostos em silêncio. Ele compreendia a revolta de Jungkook, afinal, ele se dedicou em dobro para resgatar o menino; certamente, não teria coragem de colocá-lo como uma distração no intermédio de uma guerra.

Entretanto, não aceitava o tom elevado direcionado ao seu chefe. Jungkook tinha que se controlar mais, para o seu bem.

– Certo, o menino fica de fora. – Seokjin garantiu, sua postura parecia relaxada, mas seus olhos não estavam. – Mas teremos um problema se eles exigirem apenas o Jimin.

O rosto de Jungkook estava, perturbadoramente, desprovido de preocupação. Sua decisão já tinha sido tomada, independentemente se fosse dificultar a operação.

– Eu sugiro pensarmos melhor sobre isso. – Yoongi se posicionou. – Podíamos apenas esperar a ligação deles, mas antes, como Seokjin mesmo disse, devemos fazê-los pensarem que não vamos ter nenhuma outra saída além da troca.

– É como um jogo de tabuleiro – disse Seokjin, ganhando o pesado olhar do detetive. –, o melhor jogador não é aquele que sabe o próximo passo, e sim aquele que está a cinco passos à frente. Vamos atacá-los quando pensarem que estão no auge.

– E como pretende fazer isso? – Jungkook lhe indagou, cruzando os braços no tórax.

– Veja bem, se eles aceitarem que você vá no lugar do Jimin, só precisamos estudar cada perímetro do local da troca e deixaremos vazio. Com toda certeza eles levarão homens para vigiar, é provável que o cabeça da máfia nem esteja presente, mas mande seu sucessor. A única coisa que precisamos, com objetividade, é ver se a menina está viva, se eles mostrarem para nós, então Jungkook segue sozinho até eles.

– Espere um pouco... e onde vamos ficar? – Yoongi perguntou a Seokjin, sua testa parcialmente franzida.

– Bem longe do lugar. Não podemos mostrar que estaremos com reforço.

– E como isso mostra que vamos proteger o Jungkook e resgatar a menina? – Jungkook passou os dedos pela boca e sentou-se, totalmente despido de opiniões.

– Ele vai estar com um microfone, qualquer sinal que ele nos der, ficaremos cientes de quando atacar. – Explicou o homem, virando-se para o detetive. – Está de acordo com isso?

– Estou de acordo com tudo que não envolva o Jimin. – falou, cansado, sua voz escapulindo vagarosamente, sentindo a fadiga se externar aos poucos.

– Por falar no Jimin – Yoongi começou, arrancando um olhar súbito de Jungkook em sua direção. –, acredito que seja melhor a gente transferir ele para um lugar mais seguro.

– Mais seguro?

– Escute, ele está trancafiado em um prédio cheio de policiais, cada canto desse lugar tem guardas com armas na cintura, isso deve intimidá-lo. Não é à toa que ele nem sai do quarto direito. – esclareceu, vendo Jungkook negar.

– Ele não sai das minhas vistas.

– Jungkook, eu concordo com o detetive Yoongi. – Seu chefe apoiou, deixando o temperamento dele ainda mais inflamado. – O garoto passou por muitas dificuldades, foi abusado várias vezes, como acha que ele deve se sentir perto de pessoas armadas?

– Protegido, talvez?

– Ele se tremeu todo quando me viu, e eu nem demonstrei ameaça. – Jungkook levantou uma sobrancelha em inquérito. – Se quiser, ele pode ficar na minha casa. Lá tem todo tipo de segurança que um federal precisa. Ele estará seguro e não terá acesso ao nosso caso.

– Eu concordo. – Foi a vez de Yoongi. Jungkook olhou para ele com uma expressão crítica que dizia: "Sério?" – Se ele souber pelo o que a amiga está passando é capaz de entrar em transe. Ele precisa esfriar a cabeça e ficar longe de tudo que o faça lembrar dos dias naquela maldita boate.

– Ele fica comigo e essa decisão é minha. – Negou novamente.

– Você é muito teimoso, Jungkook. – Seokjin articulou, gesticulando as palavras seguintes. – Essa escolha não deve ser somente sua, precisa ver se o garoto aceita a proposta. Talvez ele esteja se sentindo da mesma forma que se sentiu dentro daquela boate. Se Jimin aceitar a proposta, a única coisa que você fará é deixá-lo vir comigo.

Jungkook não disse nada por um longo momento e quando falou, suas palavras vibraram com um escárnio silencioso.

– E sugere que ele fique na sua casa que, segundo você, ele tremeu de medo? – perguntou a Seokjin, suas palavras sendo atadas com um leve tom de desprezo.

– Estou oferecendo um lugar para ele, se o garoto quiser, as portas da minha casa estarão abertas. – Não haviam sinais em seu rosto que indicassem uma ofensa. Seokjin estava, terrivelmente, inabalável. – Fale primeiramente com ele, eu vou aguardar a resposta.

Jungkook trocou olhares com Yoongi, esperando vê-lo ao seu lado, mas este se mostrava inteiramente a favor da sugestão de seu chefe. Aquilo o fez endurecer os músculos do queixo e esfregar os olhos, sua concentração começava a ficar embolada pela necessidade de sono, talvez sua irritação fosse consequência da sonolência, ele não sabia dizer.

– Yoongi, precisamos falar com a equipe de espionagem e planejamento estratégico enquanto eles não ligam. – Seokjin o convocou, recebendo um aceno positivo. Jungkook estava prestes a se levantar quando foi avisado pela voz acentuada do homem. – Você fica.

Sua testa enrugou imediatamente e sua garganta se fechou. Ele acabou rindo sem humor.

– O que disse?

– Você não vai. Está caindo de sono, não quero que me siga sem ao menos estar com a cabeça limpa. – Jungkook soltou um sopro, cético, e balançou a cabeça para os lados.

– Eu estou bem

– Você está dopado. Quanto tempo está sem dormir? – Aquela pergunta o fez juntar as sobrancelhas.

– Já disse que estou bem. – garantiu.

– Continua em pé porque isso está te mantendo em pé. – Apontou para o café dele acima da mesa. – Descanse e depois conversaremos sobre o caso.

– Seokjin-

– Sem mais debate, Jungkook. Você está pálido porque não está se cuidando, enquanto continuar com essa aparência, vai ficar longe das missões.

Os olhos dele podiam estar vermelhos e a expressão meramente cansada, mas nem por um instante ele cedeu.

– Eu vou com vocês. – disse, seu olhar estava tão decidido, quase em transe.

Seokjin agitou a cabeça.

– Você fica. A ordem é clara. – Yoongi passou a mão na testa, injetado pela falta de decisão entre eles. – Detetive Yoongi, venha comigo.

Jungkook seguiu com o olhar os passos dele para fora da sala; nada o irritava mais do que receber as costas de alguém quando coisa alguma tinha sido resolvida. Seus olhos encontraram os de Yoongi e uma característica feroz afiou seu rosto quando o viu se aproximar lentamente e pousar a mão em seu ombro.

– Faz o que ele pediu, ok? Descansa um pouco e então planejamos tudo depois. – disse, roçando a mão em seu terno. – Toma um banho, se alimenta e dorme. Eu não quero ver esse rosto pálido quando voltar. Sério, Jungkook, eu odeio te ver se desgastando com isso.

– Já disse que estou bem, isso é só o cansaço. Eu não preciso dormir. – certificou-se, mas sua defesa não pareceu tão convicta assim.

– Se livra do café e tira algumas horas pra dormir. Se continuar trabalhando desse jeito sem ao menos repousar, você pode ficar louco.

Ele o olhou em silêncio por muito tempo, depois exalou, longo e lento, os nós em seu corpo relaxando aos poucos. Seguidamente acenou a cabeça, mesmo que contra a oferta.

– Eu vou ficar, mas não porque ele pediu. – falou, ganhando um sorrisinho de Yoongi. – Esse caso está me preocupando, pela primeira vez eu não tenho ideia do que fazer sem colocar a vida do Jimin ou a minha em risco.

– Nós vamos cuidar disso, nem você e nem ele vão se entregar à essa quadrilha, me ouviu? – Jungkook apertou os lábios e confirmou. Ele não tinha tanta confiança em outra possível solução, nada tirava da sua cabeça que ele teria que ser a moeda de troca.

– Yoongi, estou esperando. – Seokjin apareceu na entrada da porta e isso o fez pigarrear em surpresa e se afastar de Jungkook, com uma expressão que dizia: "Estamos entendidos".

Jungkook ficou olhando para a tela com a imagem da menina por um momento; ele podia voltar o vídeo e recomeçá-lo mais uma vez, caçando por algum sinal diferente. Entretanto, seu corpo parecia que estava recebendo espasmos internos, capazes de se derramarem em suor. Ele sabia que não estava se alimentando como deveria, nem dormindo as horas necessárias e o pior, ele sabia que o resultado disso se dava pela sensação de fracasso perante ao caso, a ausência medonha de respostas.

Seu corpo se fechou, frustrado além da medida e ele vagou para fora da sala depois de notar que estava sozinho a um bom tempo. Quando abriu uma porta na metade do corredor, ele caminhou pela sala, alcançando o sofá que parecia, surpreendentemente, longe. O lugar gritava com o som do ar condicionado e o tique-taque contínuo do relógio na parede.

Ele arrancou a gravata com impulso, o chão aos seus pés balançou em um giro nauseante, o fazendo se jogar no estofado com as mãos nos olhos. As gotas do suor escorriam em trilhas pela lateral de seu rosto e ele acabou sentindo que estava de cabeça para baixo.

– Senhor? – A voz baixinha de Jimin retiniu mais afastada. Jungkook olhou na direção dele e o viu parado na entrada da cozinha, uma tigela estava entre suas mãos.

– O que faz acordado? Ainda são... – ele olhou para o relógio no pulso e franziu as sobrancelhas. – oito e meia.

– Eu fiquei com fome. – ele deu um bracejar de leve com os ombros e Jungkook sorriu fraco. – Onde o senhor estava?

Ele sentiu um puxão de dúvida na hora de responder.

– Trabalhando.

Jimin caminhou relutantemente em sua direção e depositou sua tigela em cima da mesa de centro. Jungkook levantou os luzeiros à ele, vendo seus pequenos olhos amendoados um tanto inchados, provavelmente não tinha muito tempo que ele havia acordado.

– O senhor está bem? – perguntou, não querendo parecer invasivo.

– Não muito. – Foi sincero. – Há uma parte de mim que não quer raciocinar e pretende agir por impulso.

– Está se referindo ao caso? – ele sentou-se ao lado de Jungkook, alguns longos centímetros distante.

O detetive confirmou suavemente, um gesto praticamente esgotado. – São coisas que precisam ser analisadas com cuidado, ou sofreremos consequências.

– Queria poder te ajudar.

– Você me ajuda ficando longe. Não quero te colocar no meio disso, por mais que tenha vivido e saiba de mais coisas do que nós, pretendo te deixar o mais distante possível deles.

– Eu me sinto melhor ouvindo isso. – ele quase vacilou fora de equilíbrio quando um sorriso preguiçoso dançou nos lábios de Jungkook.

Por mais que ele estivesse sorrindo em sua direção, uma coisa estranha cutucou o peito de Jimin. A expressão dele encontrava-se branca como água plácida, e o interior de seus olhos era coberto pelo tom vermelho, na qual maculou toda intensidade negra que era o seu olhar.

Aquilo o entristeceu e o fez encolher os ombros com a pergunta imediata que se formulou em sua mente.

– O senhor está dormindo bem? – Jungkook pareceu ser pego de surpresa e automaticamente seu sorriso foi se dissipando.

– Não durmo direito já tem quatro dias. – Jimin ficou boquiaberto.

Como ele conseguia ler relatórios e trabalhar sem estar repousado para isso? O menino acabou engolindo discretamente e tentou não demonstrar seu espanto quando notou que seus olhos estavam perplexos.

– Eu admiro sua determinação, – falou, sentindo-se quente quando o olhar do detetive tropeçou no seu. – mas o senhor não pode trabalhar nessa condição.

– Fui avisado sobre isso e estou suspenso do caso até me cuidar. Mas, Jimin, eu não tenho ideia do que é ter descanso. – Suas palavras amoleceram o coração do menino. – Desde que entrei no departamento, eu me dedico inteiramente a isso. Sou cobrado quando falho e suspenso quando me dedico demais. Afinal, o que eles querem?

Um silêncio frágil se instalou entre eles. Jimin se sentiu agradável por não vê-lo relutar em confessar seus sufocos. Ele parecia tão consumido, e não era apenas fisicamente. Ele tinha toda pose autoritária e bem disciplinada, sabia se portar diante de situações distintas, entretanto, uma hora ou outra, o peso da responsabilidade podia atormentá-lo e mesmo que resistisse e não assumisse a ninguém, para Jimin, ele se abriu.

– Então faça o que eles pediram. O senhor sabe que precisa de um tempo afastado disso, pelo menos o suficiente pra dormir. – admitiu, mas ele não respondeu. – Eu posso te ajudar com isso se o senhor deixar.

– Jimin, não se preocupe...

– Por favor, você me ajudou tanto, me deixe te ajudar agora. – O peso de suas palavras lentamente o atingiu, por mais que não quisesse ocupá-lo, parecia difícil dizer não a ele.

E pela primeira vez, ele ouviu um você e não um senhor.

– Não quero te ocupar com algo tão simples e que pode ser resolvido em minutos.

– O senhor acabou de dizer que não sabe o que é descansar. – Ele o lembrou, escutando um riso nasal como resposta.

– Certo, você me venceu. O que deseja fazer? – Algo, parcialmente, divertido acendeu através dos olhos de Jimin.

Ele se mexeu no estofado e virou de frente para o detetive, sua visão deslizou em torno do corpo dele. – Primeiro precisa tirar essa roupa e vestir algo mais confortável.

Jungkook olhou para as vestes que usava e encrespou a testa, depois voltou-se para Jimin, que agora possuía um olhar analisador em seu semblante.

– Tem que dormir, mas precisa comer algo antes. – Ele soltou uma respiração curta antes de concluir. – Eu posso preparar alguma coisa para comer.

O detetive se surpreendeu subitamente.

– Não posso aceitar.

– Senhor, por favor. Você não parece bem pra preparar um café da manhã. Me deixe fazer isso, por todas as vezes que me ajudou.

Ele esperava que Jungkook fosse protestar, mas sua expressão suave o disse que não o convenceria do contrário facilmente.

– Ok, mas eu não acho necessário isso tudo. – articulou suavemente, deixando o sofá para seguir até o quarto. Uma nuvem de tontura cruzou seus olhos e ele acabou esfregando-os. – Eu estarei no quarto. Vou deixá-lo destrancado.

Entontecido, Jungkook perambulou à escada, depois de receber um aceno, e se agarrou ao corrimão para ter apoio. Ele acabou, instintivamente, girando os olhos ao menino, verificando todo seu cuidado em pegar a tigela sobre a mesinha e levá-la para a cozinha.

Ele seguiu até seu quarto, onde enfiou a chave no interior da fechadura, abrindo-a. Estava escuro, então ele procurou o interruptor, encontrando-o na metade do caminho. As luzes acenderam no alto de sua cabeça, e ele finalmente pôde examinar os cantos do cômodo com outros olhos.

Os livros estavam empilhados acima da escrivaninha, as cortinas impediam que a claridade da manhã atravessasse pela janela e sua cama estava perfeitamente arrumada, cujo colchão ele não passava mais de trinta minutos em cima.

Ele acabou atirando a chave em cima do colchão e deixou um sopro aborrecido escapulir. Incomodava-o saber que, neste momento, eles estavam investigando sem sua presença. Queria estar lá, de preferência, averiguando novamente as imagens do vídeo de Hannah.

Ao deixar seu pensamento correr ao vídeo, algo o inquietou. Será que ele deveria contar a Jimin? Como ele reagiria diante dessa informação? Não poderia mencionar a troca que eles definiram pela vida da garota. Definitivamente não deveria falar.

No entanto, como reagiria se ele questionasse sobre sua amiga? Como esconderia dele a situação atual dela? Ele não conseguia mentir para Jimin, não era capaz de fazê-lo pensar que Hannah estava bem apenas para camuflar uma possível reação desesperada por parte de Jimin. Depois de todas as pessoas que cuspiram mentiras na cara dele, Jungkook sentia que devia ser diferente de todos eles.

E Jimin confiava nessa diferença.

Ele arremessou esse pensamento para longe de sua mente e andou até o banheiro, fechando a porta logo em seguida. Seu reflexo inexpressivo foi tudo o que ele encarou no momento que se virou. Havia manchas escuras em torno dos seus olhos, ele acabou roçando os dedos por elas. Desde quando se tornou tão desleixado com sua saúde? Ele já devia estar acostumado com isso.

Banindo todas as reflexões sobre sua aparência, ele arrancou a roupa de seu corpo e ligou o chuveiro. A água era fria, tão fria que podia facilmente arder a pele de qualquer pessoa, menos a de Jungkook. Ele estava tão inflamado por dentro, que o crepitar das gotas se declinando por sua pele não fazia diferença, tampouco o incomodava.

Depois de manter-se ocupado avaliando suas opções, ele tirou todo sabão do corpo e desligou o registro, esticando a mão para pegar a toalha pendurada no box, enrolando-a em sua cintura. Parte da água corria de seu cabelo até as costas e seu tronco ainda estava úmido.

Ele procurou uma toalha menor na primeira gaveta do balcão da pia e chacoalhou seu cabelo com ela. Quatro passos à frente e ele já estava fora do banheiro, vagando na direção do enorme guarda roupa.

Uma blusa simples de manga longa, uma cueca e uma calça de algodão preta foram colocadas sobre o colchão. Ele as vestiu rapidamente e carregou a toalha que estava envolvida em seu quadril novamente para o banheiro.

Havia uma pasta sobre a escrivaninha, acima da pilha de livros; ele a encarou assim que retornou e segurou-a entre as mãos. O nome de Jimin estava anotado em tintas pretas na capa do documento. Um silêncio espesso e tenso, flutuou por sua mente quando ele folheou as páginas.

No final, tinha a imagem de um homem, o pai de Jimin. O detetive não tinha mexido naquela parte do relatório ainda, sequer consultado o histórico do relacionamento deles. Sabia que devia ter investigado quando pegou o caso, mas tudo o que tinha em mãos, até o momento, não ligava nada ao homem.

Uma parte naquela foto o chamou atenção, ele cerrou os olhos especulativamente e antes que pudesse tomar conclusões, alguém bateu na porta.

– Está aberta. – ele falou um tanto alto para a pessoa do lado de fora, depois fechou a pasta, colocando-a na mesma posição de antes.

Parcialmente desequilibrado, Jimin empurrou a porta com o quadril e apareceu segurando uma bandeja no antebraço. Ao vê-lo tentando sustentar o objeto, Jungkook correu até ele e tirou-o de sua mão delicadamente.

– Deixe isso comigo. – falou, recebendo um sorriso de agradecimento do menino.

– Eu trouxe leite, cereais com frutas, torradas e pão francês. O senhor pode escolher o que quiser. – Jungkook depositou a bandeja nos pés da cama e sorriu para ele.

– Eu agradeço por ter feito isso, não precisava ocupar seu tempo comigo, mas muito obrigado. – ele mirou nos alimentos enfeitando o instrumento de metal. – Eu não saberia o que escolher, então vou provar todos.

Jimin se atentou na forma esmerada que ele sacudia o cabelo com a mão para enxugar mais rápido, consciente de que ele já tinha tomado banho.

– Eu acho que o senhor já tem tudo, então vou para o meu quarto. Se precisar de mim, pode me chamar. – Jimin falou, virando-se instantaneamente contra a porta.

Era estranho, porque, naquele momento, ele não desejava sair. Por isso, sua mão o desobedeceu e não segurou a maçaneta. Entretanto, quando o fez, a voz macia do detetive o atingiu.

– Espere – ele pediu. –, eu gostaria que ficasse.

Os olhos de Jimin eram um borrão de expectativa. Ele se encolheu e virou o rosto por cima do ombro, fitando as feições acentuadas que o encarava com aguardo.

– Ficar aqui... com o senhor?

– Quero conversar com você. – Essa última parte eriçou os pelos de Jimin.

Ele pestanejou um par de vezes e pigarreou, esforçando-se para não demonstrar surpresa imediata. Jungkook deslizou a bandeja para o outro lado da cama, abrindo espaço para que ele pudesse se acomodar. Jimin deslocou-se, hesitante, e se sentou cuidadosamente.

O detetive se juntou a ele e esperou, em silêncio, receber os olhos dele de encontro aos seus. O guincho de vergonha do garoto resultou numa afagada por seus cabelos emaranhados. Jungkook tinha o poder de deixá-lo envergonhado com um simples olhar. Embora não fosse tão simples assim.

– Tem algo que eu gostaria de perguntar. – falou o detetive, a entonação mais suave e lenta. Mil coisas passaram pela cabeça do menino naquele curto tempo, mas no final, ele apenas acabou franzindo os olhos e movimentando a cabeça. – Você se sente protegido aqui?

Algo vacilou atrás dos olhos de Jimin antes de respondê-lo.

– Sim.

– Por favor, preciso que seja sincero. – Tentou novamente, o fazendo apertar os dedos sobre o colo.

– Me sinto protegido quando o senhor está por perto. – Os olhos escuros e sérios de Jungkook ganharam um toque sublime.

– E quando eu não estou?

– Eu penso toda hora se eles vão me levar de volta. Tenho medo de ter outra pessoa deles aqui dentro.

– Então não se sente totalmente seguro? – Jimin confirmou com um aceno.

– Por que está me perguntando isso, senhor? – Quis saber, olhando diretamente para o outro, na qual soltou um suspiro indesejado.

– Seokjin está com a ideia de te levar para outro lugar. Um lugar mais seguro e longe desses policiais. – Jimin tirou o cabelo do rosto e piscou como uma coruja, surpreendentemente pasmado. – Eu não aceitei, nem recusei. Quero saber de você primeiro.

– M-Mas por que ele quer me tirar daqui? O que eu fiz?

– Você não fez nada, Jimin. Ele só está consultando maneiras de te deixar mais confortável, é por isso que estou perguntando isso.

– Ele não gostou muito de mim, não é?

– Não há motivos para ele te odiar.

– E-Então eu não entendo o porquê desse homem me querer longe do senhor. – Um formigamento de medo rastejou por ele.

– Me escute, – Jungkook se virou para ele e segurou de um jeito leve o seu pulso, sentindo-o bater contra a pele dele. – eu jamais ia te deixar sair daqui sem a sua aprovação. Por mais que ele insista, eu só cederei se você quiser.

– É por causa do caso? Ele tem medo que eu escute, é isso? – Os olhos de Jungkook deram um discreto solavanco. Sua mão foi deixando o braço dele devagar.

– Não. Quero dizer, um pouco. – Se atrapalhou, o menino enrugou a testa de súbito. – Na verdade ele está com medo do que você pode sentir diante de tantos policiais armados.

Jimin engoliu a saliva com dificuldade. Ele não gostava de andar perto dos sargentos sem estar com Jungkook, era verdade, eles o causavam medo. Entretanto, não ia contar sobre isso a ele.

– Jimin – A voz familiar de conforto atacou novamente, e o menino teve um impasse em olhar nos olhos dele e mentir. –, diga-me se eles te assustam.

Não, não pergunte isso.

– Você se sente intimidado perto deles? – Jungkook reforçou a pergunta, vendo-o virar o rosto na direção contrária enquanto fungava o nariz.

– Não.

– Não?

– Não tenho medo deles. – Girou o olhar à ele, abruptamente. – Se o seu chefe queria saber se me sinto um cãozinho amedrontado só porque eles têm uma arma, então ele já tem a minha resposta. Isso basta para que ele me deixe ficar aqui?

Tanto ele quanto Jungkook sabiam que nada do que foi dito era verdade.

Com o polegar, o detetive limpou uma lágrima solitária que fugiu dos olhos dele, o fazendo perceber assustadoramente que estava chorando.

– Então por que está chorando? – perguntou de forma carinhosa.

Jimin sufocou um soluço e controlou sua respiração furiosa, enquanto outra lágrima passeava por sua bochecha. Jungkook o sentiu exalar lentamente, e quando ele falou, houve uma honestidade agradável em sua voz.

– Porque eu não consigo mentir para o senhor.

Um sorriso preguiçoso puxou a boca de Jungkook, mas não mascarou uma nota de preocupação. Ele gostava de receber a confiança do menino, mas saber que por dentro ele se sentia de tal forma acabava, discretamente, o afligindo.

Mais lágrimas nublaram a visão de Jimin, ele as limpou com as costas da mão e piscou os olhos para secá-las mais rápido.

– Tenho medo de todo mundo. – ele declarou, a voz tremendo. – Eu não era assim antes de me pegarem, mas, depois, eu passei a ter medo de tudo. Não consigo confiar depressa nas pessoas e sempre acho que elas estão prestes a me trair. – ele parou e encarou Jungkook. – Até com o seu parceiro, o detetive Yoongi. Ele é super gentil comigo, mas, na minha mente, eu chego a pensar que pode ser um disfarce, sabe? Que um dia ele vai virar para mim e colocar a arma na minha cabeça. Eu sou maluco por pensar assim?

– Talvez esses sentimentos façam parte de um possível trauma decorrente das condições que você foi obrigado a enfrentar, isso leva um tempo para ser devidamente superado.

– Eu não sei se consigo superar isso. – revelou, parecendo brevemente angustiado.

– Você precisa de cuidados especializados e eu vou garantir todos eles em breve. – Jungkook arrancou as palavras seguintes com mais cuidado. – É por isso que estou preocupado com seu estado, Jimin. Você ainda fica apavorado quando vê uma arma ou encara esses homens; no momento, você só precisa ficar longe de tudo o que envolva eles, entende? Tanto as pessoas que te sequestraram, quanto as que estão neste prédio. Não estou dizendo que deve aceitar a proposta do Seokjin, mas deve pensar, primeiramente, em si mesmo.

– Às vezes eu só queria saber me defender, aprender alguns golpes. Eu acho que me sentiria mais seguro se eu soubesse como agir na hora. – revelou, sentindo sua respiração sufocá-lo. – Tenho a sensação de que sou um inútil e que todo mundo tem dó de mim.

– Isso não é verdade.

– Mas eu me sinto assim, senhor. – Olhou para ele por baixo dos cílios. – Eu não tenho nenhum objeto com ponta, a única coisa que me resta é saber usar os punhos.

Jimin se sentia tão impotente que chegava a duvidar das próprias capacidades, ele aspirava por se defender e aprender meios de defesa, sem que fosse preciso outras pessoas para isso. Não lhe importava mais nada, ele só queria ter confiança em si mesmo para resistir a qualquer súbito choque.

– Onde eu ficaria se aceitasse a proposta? – perguntou de repente, sem qualquer toque de amabilidade em sua voz.

– Ele tem uma casa aqui; segundo ele, é um lugar seguro e totalmente favorecido. Você não teria acesso às pessoas armadas o tempo todo e poderia aproveitar a televisão, outros livros, qualquer coisa mais vantajosa. – O menino passou a mão por cima do cabelo e gemeu. Ele não parecia tão de acordo a ficar na casa de alguém estranho. – Eu vou com você.

– O que disse?

– Não estou de acordo com isso, de tirarem você de perto de mim, por este motivo, se você aceitar, vou com você para ter certeza se o lugar é realmente seguro. – Havia uma delicadeza profunda em suas notas que fez Jimin não parar de enfitá-lo.

– E se eu quiser ficar trancado no quarto? Não tem problema nenhum para mim, senhor. – Jungkook suspirou como se aquela alternativa fosse uma faca afiada.

– Aí está o problema, Jimin. Não quero que se sinta preso, muito menos obrigado a ficar trancado por causa de uma escolha que não cabe a nós dar a você. Se você não for, poderá sair do quarto quando quiser e a hora que quiser. Eu te tirei daquele lugar para que se sinta livre e não pressionado.

Ele se aliviou mentalmente. A questão podia ser complicada, e seu momento de choro, ao invés de reflexão às palavras de Jungkook, só o deixou mais entristecido, porque ele se sentiu como uma criança chorona, ao contrário de alguém maduro e disposto a entender as opções que restavam.

Jungkook possuía toda disciplina e paciência em explicar a situação a ele, sua delicadeza escovava todo receio que Jimin tinha para bem longe. No entanto, o poder da surpresa e do imediato acabava quebrando sua rápida assimilação.

– Só quero que entenda que você não tem a obrigação de ir. Sinta-se à vontade para escolher o que te deixa mais seguro, certo? – declarou o detetive, vendo-o considerar sua explicação por alguns segundos até acenar com a cabeça.

O garoto se curvou para frente e se levantou. Uma súbita onda de surpresa passou por Jungkook, ele, definitivamente, não esperava vê-lo sair sem tomar uma decisão.

Jimin o observava parado, de repente um sorriso tímido flexionou seus lábios.

– Acho que devo deixar o senhor descansar. – falou, sentindo como se algo queimasse em seu peito. – Prometo que vou pensar sobre isso.

Jungkook ofegou de leve e seus olhos pretos se suavizaram.

– Decida por você e não por nós. – concluiu.

Jimin assentiu sem dizer nada, olhando para o detetive se erguendo da cama.

– E-Eu tenho algumas dúvidas. – Jungkook recuou, franzindo a testa furtivamente.

– Diga-me.

– Melhor não. Não agora, o senhor precisa descansar.

– Jimin.

– Por favor, isso pode esperar. Relaxe um pouco, eu vou para o meu quarto. – Jungkook pareceu preocupado por um momento, porém, no momento que Jimin tocou seu braço e olhou para a bandeja na cama, aquilo, de certa forma, fez este pressentimento desaparecer de Jungkook. – E coma o que eu trouxe, senão vai esfriar e o gosto não é o mesmo.

Ele sorriu grandiosamente e cambaleou para trás, seguindo até a porta. O detetive se moveu à caminho dele e abriu a porta com cuidado. O menino parou em sua frente, o encarando sem dizer nada e ele percebeu que Jungkook entendeu a direção dos seus pensamentos.

– Obrigado mais uma vez pelo café da manhã. – Agradeceu novamente e um minúsculo sorriso se abriu em sua boca; precisamente plano.

– Não precisa me agradecer, senhor. – Ele falou, já saindo para fora do quarto.

Jungkook encostou um ombro no batente e olhou fixamente para ele. Seus olhos sorriam.

– Eu gostei quando me chamou de você hoje. – revelou, vendo-o arregalar os olhos, minimamente, com uma ponta aguda de espanto. Certamente, nem ele havia notado quando falou. – Não se preocupe, eu prefiro assim. Pelo menos não me sinto um velho.

Envergonhado, Jimin riu baixinho e desceu a cabeça para seus pés. No fundo, ele queria dizer mais alguma coisa para Jungkook, somente para prolongar o tempo deles juntos, mas nada aparecia em sua mente. Parecia que um vapor preto anuviou seus pensamentos e o deixou outra alternativa, senão seguir para o seu quarto.

Era errado?

Ele sabia que o detetive estava cansado e precisava dormir, entretanto, só desejava ficar mais um pouco com ele e passar o tempo conversando. A presença de Jungkook o acalmava e ele se sentia acolhido.

– Bom, vou deixar o senhor sozinho. – falou por fim, percebendo que ele ainda o fitava.

Jimin tropeçou os pés pelo corredor, mas para a sua surpresa, a voz do detetive interrompeu seus passos.

– O que vai fazer à noite? – perguntou, os olhos do garoto lampejaram.

– Eu não tenho muitas opções do que fazer. – Jungkook riu pelo nariz e sacudiu a cabeça bem de leve para os lados.

– Vou estar na biblioteca. – ele disse com um pequeno sorriso acentuado no rosto. Uma onda de entusiasmo atravessou Jimin. – Se quiser me acompanhar até lá...

A voz dele sumiu e ele deixou o resto da frase vaga, mas o menino assimilou o convite. As bochechas de Jimin ficaram enrubescidas, e Jungkook pareceu pescar muito bem sua reação.

– Vamos ler? – O menino quis saber.

O detetive negou formalmente.

– Vou te ensinar a lutar.

✮✮✮

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top