⍟ thirty nine
Logo após um prolongado momento apreciando o toque macio da água quente em seu corpo fatigado, Jungkook finalmente decidiu se encontrar com os outros. Havia abandonado o terno e gravata para adotar um suéter verde pálido mais agasalhado. Ele ainda conseguia sentir o cheiro entorpecente da fumaça em suas narinas, mesmo depois de se limpar completamente dos resquícios do evento decorrido.
Ainda com os cabelos molhados, ele andou para o setor de enfermagem com sua valiosa xícara de café. Momentos como aquele careciam de uma boa dose de cafeína no organismo. Então, percebendo a pouca movimentação de guardas do lado externo à sala ainda sob o efeito traumático, Jungkook introduziu-se para dentro e alguns pares de olhos clandestinos encararam-no.
No canto superior estava Yoongi, sentado em uma cadeira enquanto dedilhava a faixa em sua mão, naturalmente arrumando-a nos dedos. As paredes eram de um azul sereno e o ar cheirava a amônia. Uma onda de calma encheu o peito de Jungkook e um sorriso espontâneo rastejou sob as curvas de sua boca no momento que Yoongi gentilmente sorriu em sua direção.
– Como se sente? – perguntou Jungkook quando chegou mais perto. Yoongi deu de ombros, desdenhoso, e prendeu seus olhos nos dele.
– Estou vivo e isso é tudo o que importa. – um sorriso doce vestiu seu rosto, mas ele refletia um brilho lentamente artificial. Jungkook assimilou que somente aquilo não bastava. – Machuquei um pouco minha mão, mas isso não é tão importante. Ela vai se recuperar.
Os olhos do detetive escorregaram à palma enfaixada que estava repousada no colo dele e subiram imediatamente para o rosto escaldado com pequenos cortes acima da sobrancelha, marcando sua luta pela sobrevivência.
– Você está falando comigo, Yoongi. – ele disse, puxando o ar antes de encontrar novamente sua voz. – Alguma coisa está te preocupando, eu posso ver em seus olhos.
Ele balançou a cabeça, sinalizando que estava tudo bem. – Minha única preocupação é que perdemos eles. De novo.
Com a expressão tão firme quanto aço, Jungkook exalou profundamente e ocupou a cadeira ao lado de Yoongi. Ele esfregou a ponta dos dedos em volta dos lábios, consciente da revolta alheia, que particularmente se assemelhava a sua. Eles pareciam andar em círculos, e seus adversários estavam correndo mais depressa.
– Não vamos desistir agora. – garantiu Jungkook, compartilhando um olhar instantâneo com o outro. – Nós somos a única esperança desses jovens, se desistirmos, quem vai salvar eles?
Yoongi fez um som de aflição.
– Eu não estou tão convencido de que vamos encontrá-los com vida.
– Não diga isso. – Jungkook o advertiu com um tom censurador. – O FBI falhou com esses adolescentes por cinco anos, está na hora de mudar isso.
Yoongi respondeu com o silêncio. Sua cabeça instintivamente se abaixou, movido por um sentimento sufocante de violação e culpa. Ele nunca foi de desistir facilmente, em razão disso sua mente o amaldiçoou com uma repreensão.
– Você está certo. – apoiou ele, pesquisando ao redor. O ar frio dentro da sala era sutil e transmitia uma calmaria aconchegante. – Eu costumo dizer as coisas sem pensar.
Jungkook acariciou seu ombro e sorriu. Ele estava tentando o empurrar para frente, encorajando-o, quando na verdade nem ele mesmo tinha saído do lugar. Sua memória enfraquecida estava presa nos fragmentos da explosão, e mesmo que tentasse despistá-la para longe, o medo que teve de perder Yoongi e sua irmã não fugia do seu peito.
– Descanse por hoje. Tire o dia só para você. – ele o aconselhou, arrancando um aceno do outro.
– Seokjin disse a mesma coisa. Ele quer que a equipe tire o dia para repousar e se cuidar.
– Os outros estão bem?
– Alguns sofreram ferimentos graves no rosto, outros se queimaram, mas já passaram por uma revisão médica. – Jungkook sentiu uma pontada de contrição resvalar sob sua pele. – O estrago teria sido muito pior se não fosse pelo Mark.
– Temos que informar a família dele. – sua mão deslizou por cima dos cabelos, aflito, e praguejou-se mentalmente. – Essa é a pior parte desse trabalho.
– Nem me fale, eu sou péssimo em dar más notícias. – ele bufou, sua voz soando espirituosa. – Ainda mais quando envolve quem conhecemos. Você poderia fazer isso por mim, não acha?
Jungkook deu uma risada fraca e agitou a cabeça uma única vez para cima e depois para baixo, completamente pressentido pela posição dele. Yoongi não tinha o perfil referenciado de quem saberia usar as melhores palavras num momento de extrema delicadeza.
– Certo, eu comando essa parte. – disse Jungkook, roubando um gole de seu café. Ele olhou clandestinamente em volta, percebendo a pouca movimentação e a ausência de dois rostos que mergulharam em seu pensamento de repente. – Onde está o Seokjin e o Seokmin?
Yoongi acompanhou seu olhar, deduzindo a mais provável observação.
– Talvez estejam resolvendo alguma questão de segurança. Esses dias o Seokjin está muito focado na nossa proteção.
Jungkook teve certeza que pegou um lampejo de algo mais substancial por trás do olhar dele. Entretanto, ele priorizou seu pensamento seguinte.
– Depois de tudo o que aconteceu, essa é a coisa mais certa a se fazer. – houve uma concordância silenciosa e um desvio de olhar para o chão. Jungkook não disse nada diante da reação dele, apenas inclinou seu rosto para baixo com a intenção de encontrar aqueles olhos deprimentes. – Quer me dizer alguma coisa, Yoongi?
Abanando a cabeça freneticamente em negação, Yoongi fungou o nariz e forçou um sorriso vacilante.
– Não, eu estou bem. É só minha cabeça que deu um giro agora.
Jungkook o viu se recompor para o seu benefício, embora sentisse-o rígido ao seu lado e completamente asfixiado com um sentimento latebroso. Ele não perdurou com o assunto, somente deixou a carência de respostas silenciar suas vozes.
Então, Jungkook pensou novamente e decidiu, por fim.
– Eu vou ver como a Jen está. Depois nos falamos.
Como se precisasse ancorar-se em algo, a mão de Yoongi agarrou o pulso de Jungkook quando ele ameaçou se levantar. Seus olhos o encontraram e um pensamento ficou preso em seu cérebro.
– É, você está certo, tem algo me incomodando. – revelou ele, uma imagem clara e familiar cortando sua memória. – Eu disse que provavelmente o Seokjin deve estar cuidando da segurança do prédio e isso me fez refletir uma coisa. – Jungkook não disse nada, mas seu olhar metódico o estudou atentamente. – Tem a ver com o Taehyung.
Após acrescentar, de todas as coisas ridículas e confusas, ele corou.
– O que tem ele? – Jungkook fingiu não estranhar.
– Eu fico pensando – começou ele, parecendo aéreo em seu raciocínio. –, se eles pegaram a Jennie, quanto tempo resta para que consigam pegar o Taehyung também?
– E o que pretende fazer a respeito?
Yoongi engoliu contra a espessura áspera na sua garganta, ausente de uma solução iminente. Arranhões de derrota feriram seu peito, empurrando ondas de amargura e insuficiência para o fundo de sua consciência.
Diante da reação atormentada dele, Jungkook operou com cautela.
– Talvez se estivessem interessados no Taehyung, já teriam-no pego. – Yoongi o olhou com apreensão.
– E se estiverem o deixando para o final? Como um desfecho, sabe? Jungkook, você precisa garantir a segurança dele.
– Me escuta. – ele tocou seu braço, acima da faixa. – Eu vou conversar com o departamento ainda hoje e direi para que o coloque sob custódia protetora. Mas preciso que você não demonstre preocupação diante dos demais.
Um poderoso vinco se formou entre as sobrancelhas de Yoongi, ele ficou agarrado a uma espantosa suspeita.
– O que quer dizer exatamente?
– Consegue fazer isso? – Jungkook assegurou o questionamento.
– Sim, mas eu não entendi o porquê de você me pedir isso.
– É só por garantia.
Desconfortavelmente inseguro, Yoongi abriu a boca para dizer algo, mas a fechou diante da ausência de palavras. Não era somente por preservação que Jungkook havia o pedido para tolerar suas emoções diante dos outros, sua intenção partia para além disso.
– Aliás, – prosseguiu Jungkook, sobrancelhas arqueadas. – por que está me pedindo isso? Sabemos que o Taehyung está informado sobre o quão perigoso isso é. Nós avisamos a ele sobre ser um alvo fácil, certamente ele deve estar se prevenindo.
– Mesmo assim, ele é um adolescente de dezenove anos, não aprendeu a diferenciar o que é uma ameaça de uma companhia amigável. – ele sentiu uma torção distante no pescoço após forçar gravemente as palavras. – As pessoas mais próximas podem ser as mais perigosas. E se ele tiver andando com pessoas que fazem parte da máfia e nem sequer se dá conta?
– Yoongi, eu vou conversar com o departamento, fique calmo. – Yoongi bufou, no entanto por não aceitar que havia se transtornado por tão pouco. – Isso tudo é só preocupação?
– Sim. – ele assegurou, mas Jungkook não se convenceu.
– Então, talvez você não se importe em me contar o porquê de sumir do caso após termos conversado com o Taehyung, se importa? – sugeriu ele, retomando a sua postura observadora.
Yoongi engoliu disfarçadamente e sentiu seu coração dar um giro tonto. Ele desviou o olhar para o chão, esquivando-se da análise silenciosa do outro.
– Foi encontrá-lo? – interpelou com mais transparência.
– Não.
– Diga isso olhando nos meus olhos. – seu tom estava longe de ser uma ácida exigência, muito pelo contrário, ele parecia completamente remansado.
Yoongi suspendeu o olhar de encontro ao dele, empurrando sua hesitação para longe, enquanto montava seu tom de naturalidade ao respondê-lo.
– Não fui. – ele garantiu com mais firmeza.
De repente um sorriso quente esticou os cantos da boca do detetive, ele balançou suavemente a cabeça para os lados e roubou um gole de seu café. Yoongi paralisou diante de sua reação, uma vez que a parte lógica de seu cérebro construiu uma conclusão em reflexo àquele sorriso: Jungkook não havia acreditado.
– Onde se encontraram? Eu espero que não tenha sido na casa dele. – comentou o detetive, arrancando uma ótica hipnoticamente angulada do rosto alheio.
Na presença de um zumbido inquietante, Yoongi se virou. – Você ficou louco? Não é nada do que está pensando.
– Então você me confirma que foi atrás dele? – Yoongi se amaldiçoou mentalmente, deixando a boca numa linha reta. – Que bom, estamos chegando quase lá. Onde foi?
A resistência de Yoongi acabou sucumbindo e um suspiro murcho raspou para fora de sua boca. Ele não obtinha efeito positivo quando tentava velar alguma informação de Jungkook, porque ele sabia que nada se passava despercebido por aqueles olhos meticulosos.
– Eu fui na casa dele, mas antes que você pense merda, foi somente para dar uma bronca. – Jungkook enrugou a testa.
– Dar uma bronca?
– Sim, sabe, por causa dos torpedos. – acrescentou, um tanto apático. – Não me pergunte como diabos ele conseguiu meu número, mas no mesmo dia o meu celular parecia uma metralhadora. Era mensagem atrás de mensagem, e eu não sabia como fazê-lo parar.
– E o que você fez?
– Eu fui até a casa dele e pedi para que parasse com as mensagens, ou eu iria tomar minhas providências. – Yoongi tocou a mão enfaixada, acariciando-a. – Foi então que ele me convidou para entrar.
– Você aceitou?
– De início não, mas quando ele disse que os torpedos eram só uma forma de chamar a minha atenção até lá, eu decidi ficar para ver o que ele queria afinal. – ele pareceu tristemente pensativo. – Tivemos uma conversa e eu o pedi para que se afastasse de mim, eu não podia me envolver com um garoto, ele é só um adolescente.
– Mas você queria? – Jungkook o estudou em silêncio.
– Sexualmente falando, não. – ele abaixou a cabeça e observou os ferimentos congestionados em torno de seus dedos. – Mas eu me sentia bem na presença dele. Ele tem uma essência única, sei lá, eu não me vi mais o mesmo depois que o conheci.
Um estranho toque familiar afagou a nuca de Jungkook e um dilúvio de lembranças dançou nas beiradas de sua mente. Ele não sabia o porquê, mas a réplica de Jimin emergiu de repente nas estilhas de sua memória.
– Você o vê em seus pensamentos o tempo todo? – Jungkook perguntou, consciente de que a confusão estava apontada mais para si do que para Yoongi.
– Só quando sinto falta das mensagens dele. Por quê?
Afrouxando o nó de bagunça em seu peito, Jungkook retomou com sua elucidação mal solucionada.
– Se o Taehyung estivesse o tempo todo em seu pensamento, seja em qualquer situação do dia, o que você acharia sobre isso?
Ele possuía um motivo oculto que usurpava seu denso desejo de descobrir esse sentimento interior, e nada melhor do que escutar uma opinião que não fosse a invenção de seus pensamentos.
– Está me perguntando sobre não parar de pensar nele? – Yoongi esperou uma confirmação que veio como um fraco aceno.
– Você diria que isso é preocupação?
Seu estômago foi atingido por um soco quando ele ouviu as seguintes palavras de Yoongi:
– Eu diria que é paixão.
Jungkook se perdeu por um momento em seus argumentos, sentindo-se bloqueado por uma parede invisível que se erigiu internamente. Aquela resposta estava errada, Yoongi não podia estar certo. Era impróprio demais pensar nessa possibilidade, ele sentia-se imundo por desconfiar da sua relação virtuosa com Jimin e de como se reconhecia perante a ele.
Ele fez uma pausa com a xícara de porcelana a centímetros de sua boca. Então ele pensou, genuinamente, que deveria se encarregar de tomar mais cuidado para não assustar o garoto com sua errônea suspeita a respeito de seus sentimentos. Não podia confundir as coisas, simplesmente não devia.
– Por que você me perguntou isso, Jungkook? Eu pareço apaixonado? – ele mastigou o lábio, como se para refletir acerca de sua dúvida.
– Não, é só que-
– Olha, existem muitos motivos para você pensar o tempo todo em uma pessoa. Sabe, talvez também seja preocupação. – Yoongi complementou, divagando em seu raciocínio. – Mas isso vai de acordo com o que você sente ao pensar na pessoa.
– E como você se sente pensando nele?
– Bom, eu me sinto normal quando me lembro do Taehyung, então não me vejo apaixonado. – aquela não era bem a resposta que Jungkook esperava ouvir.
Antes que Jungkook pudesse folhear suas opções de respostas, um corpo invadiu a sala silenciosamente. Seokmin olhou à distância, mostrando um sorriso efetivo para Yoongi quando encontrou o olhar dele. Ele aproximou-se com duas xícaras em mãos, um oscilante vapor quente dançando para o alto.
– Trouxe café com pouco açúcar. Do jeito que você gosta. – ele esticou a caneca à Yoongi e o sentiu segurá-la um tanto embaralhado pela lembrança espontânea que ele teve.
– Obrigado.
Ambos sorriram um para o outro e Jungkook teve a sensação que estava sendo confundido com uma parede. Ele revirou os olhos mentalmente com aquela cena e planejou uma desculpa esfarrapada para se esquivar dos flertes.
– Eu vou ver a minha irmã, qualquer coisa me chame. – ele deixou a cadeira, mas foi interrompido pelo braço de Seokmin.
– Antes que vá, gostaria de avisar que já isolamos o local do incêndio e enviamos a perícia para avaliar os destroços. Quando amanhecer, vocês dois vão cuidar do resto.
– Você não vai?
– Esse é um trabalho para você e o Yoongi. Eu cuidarei de outras coisas. – concluiu, arrancando um aceno entendedor.
Seokmin retirou-se da frente dele e se acomodou ao lado de Yoongi. Ainda no mesmo lugar, Jungkook manteve seu queixo ligeiramente inclinado enquanto deslizava os pés para a outra divisão.
Ele viu sua irmã além da janela de vidro no centro da parede que dividia as duas salas, seu olhar inteiramente nivelado naquela direção. Lentamente diminuindo suas pegadas, Jungkook alcançou a porta e abriu-a com cuidado, percebendo que o rangido despertou a atenção de Jennie e da enfermeira.
Ela sorriu largamente para ele, um ferimento pequeno desenhando sua bochecha esquerda. O detetive permaneceu distante, com um ombro ancorado no batente da porta enquanto aguardava a revisão terminar.
A enfermeira fez uma última exploração pelo corpo dela, confiscando se os machucados estavam todos cobertos por curativos.
– Não faça muito esforço, certo? Os ferimentos não foram graves, mas você ainda precisa de repouso. – alertou a mulher, removendo as finas luvas de suas mãos.
– Eu vou me cuidar. – atestou Jennie, sorrindo graciosamente em resposta.
A mulher arrumou todas as ferramentas utilizadas na revisão e norteou-se para a saída, enrugando o canto de seus olhos quando sorriu para Jungkook antes de atravessar ao lado dele.
Ele aguardou a mulher fechar a porta para que pudesse avançar até sua irmã, onde deu-lhe um abraço sufocante. Jennie tremeu em seus braços, as emoções guerreando dentro de seu peito em busca de uma harmonia justa. Ela estava completamente enterrada na saudade que sentia de Jungkook.
– Você me assustou. – falou ele, um mero som de alívio brotando em sua voz. Ele sentiu os braços dela apertarem com mais força em seu pescoço.
– Me desculpe... – sussurrou contra o ouvido dele, um soluço de frustração subindo por sua garganta. – Eu devia ter tomado mais cuidado.
– Jennie – afastou-se, segurando os ombros dela atenciosamente. –, nunca mais se culpe pela perversidade dos outros. Você não podia prever que isso um dia aconteceria.
O corpo dela ficou tenso reflexivamente e um olhar desolado tomou conta de suas feições. Então, ela abaixou a cabeça e deixou seus cabelos molhados caírem para os lados, disfarçando sua incontrolável preocupação.
Observando sua reação, Jungkook sentou-se na beirada da cama e tomou a mão dela entre a sua, sentindo-a trêmula.
– Eu sou seu irmão, tudo o que precisar me dizer sabe que irei ouvir. – ela fechou os olhos, incapaz de controlar as lágrimas escapando dos cantos.
– Eu não estava nos Estados Unidos quando eles me pegaram. – ela confessou, varrendo as lágrimas com as costas da mão livre. Jungkook dobrou solenemente as sobrancelhas. – Eu estava aqui no Canadá.
– O que você veio fazer aqui sem me avisar? – ela olhou fundo nos olhos dele e mastigou a ponta do lábio inferior. Uma lágrima solitária escorreu pela lateral do nariz.
– A mamãe praticamente me obrigou a vir. – Jungkook mostrou-se confuso. – Ela quis que eu viesse te dar uma notícia.
– Que notícia?
Quando ela não respondeu, ele franziu ligeiramente a testa.
– Jennie-
– O papai faleceu, Jungkook. – ela contou de uma vez, demonstrando inquietação. Qualquer indício delicado desapareceu do rosto de seu irmão. – Ela queria que eu te contasse pessoalmente, porque, talvez, eu saberia te confortar melhor do que por telefone.
Subitamente, a mandíbula dele se endureceu e sua palma abandonou a dela. Uma tensão pesada salpicou sobre eles, fazendo Jungkook deslocar o olhar para um ponto distante no chão.
– Ele não foi um homem bom para você, nós sabemos disso, mas tenha um pouco de empatia. Pelo menos nesse momento delicado. – falou ela lentamente, sendo simpática com as palavras.
– Eu não me importo com a morte dele.
– É o nosso pai, Jungkook.
– É o seu pai. – corrigiu-a, virando-se para ela. – Era melhor você ter me ligado.
– Eu devia saber que você não se importaria, tentei avisar isso à mamãe, mas ela não quis me ouvir.
– Você sabe que eu não dou a mínima para aquele homem. – sua voz era suave, mas seus olhos eram poços de gelo. – Faz tempo que ele está morto para mim.
– Mas desta vez é literalmente. – ela tomou novamente as mãos dele e o respondeu num tom suave. – Talvez ele não fizesse mais parte da sua vida, mas foi este homem quem colocou comida no seu prato e te disse palavras encorajadoras. Não se recorde apenas dos momentos ruins.
– Ele era o mesmo homem que fodeu com a minha cabeça quando eu era só uma criança. Você está mesmo me pedindo para ter empatia por uma pessoa que desde sempre me ensinou a ser frio? Tudo o que ele fazia por mim exigia um preço. – o olhar dela entristeceu de repente. – Então, por favor, não reflita suas emoções em mim. O que você sentiu com a morte dele não retrata o que eu estou sentindo agora.
– Me desculpe. – colocando uma mecha solta atrás da orelha, ela abaixou a cabeça.
Jungkook deixou a cama, usando seus dedos para apertar o canto dos olhos. Ele não podia acreditar que sua irmã colocou em risco a própria vida por nada. Jennie poderia estar morta pela insensatez de sua mãe. Ainda mais por uma falha pressuposição.
– Olhe só para você – falou o detetive, referindo-se aos ferimentos no corpo dela. –, toda machucada por imprudência da sua mãe. Isso não teria acontecido se você não tivesse ouvido ela.
– O que você queria que eu tivesse feito? Se esses homens estivessem atrás de mim para te atingir, com certeza iriam me pegar em qualquer lugar.
– Para te tirar do país seria mais difícil, eles teriam dificuldades. Mas parece que toda essa merda conspira a favor deles. – ele suspirou indignado, ponderando amargamente a respeito daquela situação corrosiva que havia lesionado metade de sua equipe.
– Ok, Jungkook, despeje sua raiva em mim. – ela levantou os braços em rendição e mais lágrimas explodiram em seus olhos. – Está certo. Nada disso estaria acontecendo se eu estivesse em casa ou no meu consultório atendendo um paciente. Você não teria passado por tudo isso e seus colegas de trabalho estariam vivos. Então, sim, tem toda razão de esvaziar a sua indignação contra mim. – ele não disse nada, como também não reagiu em surpresa. – Eu só aceitei vir porque sabia que mesmo com essa pose durona, por dentro você ficaria quebrado, e eu não conseguiria te consolar estando do outro lado da linha, porque provavelmente você desligaria na minha cara só por citar o nome dele.
– Eu não te culpo, Jennie. Você é importante para mim, se algo te fere, eu também me firo. Mas nada o que envolve esse homem me importa mais. Diferente de como você pensa, eu estou mais quebrado com a perda dos membros da minha equipe do que com a morte dele.
Efetivamente, ele não a responsabilizava pelo acontecido, entretanto, as reflexões de que tudo podia ter sido mais grave estava ruminando dentro de sua cabeça como ondas severas de redemoinho, o fazendo perder a capacidade de esclarecer melhor seu juízo.
À vista disso, ele tomou uma porção de ar antes de recorrer às consecutivas palavras.
– Você precisa ser mais cautelosa de agora em diante, pelo menos até resolvermos essa questão. – ela retorceu o rosto diante do seu aviso.
– Por Deus, Jungkook, quem você está enfrentando?
Relutante, ele fitou o pavor no rosto dela e decidiu quebrar de vez o silêncio.
– É uma organização criminosa que trafica pessoas. – Jennie arregalou os olhos em surpresa e balbuciou em meio ao choque. – São extremamente perigosos.
– E-Eu achei que fossem só sequestradores em busca de dinheiro. – ela estava pálida de perplexidade, inteiramente desacreditada.
– Existem vários jovens trancados em cativeiro, sem se alimentar direito e sem a higiene adequada. Estão em situação precária e nós temos que agir mais depressa ou eles podem morrer.
– Isso significa que eu estraguei a investigação, não foi? Eu devia ter te ligado ao invés de ter ouvido a nossa mãe. – Jungkook não havia ponderado a respeito de sua mãe pedir para que Jennie contasse a notícia pessoalmente, até ele sentir uma esquisita sensação cercá-lo quando passou a pensar no pretexto. – Não se preocupe, eu vou embora quando me sentir melhor, prometo.
– Não foi sua culpa. – ele garantiu, seu rosto completamente inexorável. – Eles foram covardes com você.
Seu olhar era um conjunto de sugestões e todas elas se direcionavam a uma conclusão silenciosa, na qual fez sua irmã ligeiramente assimilar. No momento que Jennie ia replicar, a vontade de chorar contorceu seu rosto e mais lágrimas gotejaram de seus olhos. Ela se debruçou inteira na cama, contraindo os joelhos contra o tronco enquanto soluçava de angústia. Observando aquela cena, Jungkook fantasiou a aflição que ela passou quando foi capturada, deixando rastros fantasmas em suas lembranças.
Ele aproximou-se com cuidado, afagando gentilmente os cabelos dela.
– Eu não devia ter deixado isso acontecer com você.
– Eles encontraram o hotel onde eu estava e me machucaram. – disse ela contra o travesseiro, sua voz estava abafada. – Me bateram e me drogaram para dormir.
– Como eles te acharam?
– Não sei. Eu ouvi algumas batidas na porta e quando abri tinha um homem alto. Quando pensei em correr ele me segurou pelos cabelos e colocou um pano no meu nariz, foi quando eu perdi a consciência e apaguei.
– Só tinha um homem?
– Eu só vi um, mas devia ter mais deles em outro lugar. – um mero som vacilante ofuscou sua voz. – Eu não me vejo mais forte como antes, Jungkook.
– Você continua sendo a minha garotinha valente. – virando-se para cima, ela encontrou os olhos dele, completamente risonhos. – Eu me orgulho de você e do quão forte é para lidar com a dor das pessoas. Isso te faz uma mulher poderosa.
– Faz parte do meu trabalho. – retrucou ela, sentindo o polegar dele acariciar sua bochecha.
– Como também da sua personalidade.
Ela demorou a reagir, em seguida sorriu sem perceber, um sorriso preguiçoso e satisfeito. O pânico que havia se apoderado dela estava começando a desaparecer e o puro senso de obstrução correu para longe de seu corpo.
No momento que ela mais precisava dele, sentindo-se assustada e perdida, Jungkook estava lá para oferecer seu ombro como apoio. Ela o admirava como um irmão e um defensor moral.
– Mas agora você precisa descansar. – ele forçou o corpo dela para se sentar na cama cuidadosamente. Jennie espanou seu rosto e o encarou. – Falaremos sobre isso mais tarde, ninguém está com a cabeça limpa para tocar nesse assunto.
– Eu queria te perguntar uma coisa antes. – ele não lutou para demonstrar desdém, entretanto expressou um olhar atrapalhado. – Alguma coisa está te preocupando?
Muito ligeiramente ele curvou as sobrancelhas. Toda aquela situação o preocupava, então onde diabos ela queria chegar?
– Onde quer chegar?
– Alguma coisa está te incomodando, Jungkook. Eu consigo perceber isso de longe. É o caso?
Em reflexo, uma respiração embaraçosa tropeçou para fora dos lábios dele, deixando patente a sua resistência perante ao assunto. Ele agitou suas mãos para longe dela e esquivou o olhar.
– Esqueça meus problemas, o foco aqui é você. – disse ele, fazendo Jennie reconhecer rapidamente sua tentativa de bloqueio e, em resposta, ela segurou sua mão.
– Não pense que só porque eu fui ferida isso me impede de perceber a sua expressão quando passou por aquela porta. – ela o puxou lentamente para perto, sentindo-o repelir o olhar para outro sentido. – Jungkook, o que está te machucando? O que é tão grave ao ponto de te tirar o sono?
Ele não a respondeu. No entanto, uma lembrança engoliu sua mente, retrocedendo desesperadamente para uma única pessoa, cujo rosto não se atrevia a abandoná-lo, nem se ele o arrancasse para fora.
– Me conta o que está acontecendo com você. – ela insistiu, mas ele se atirou para longe impulsivamente.
– Jennie, por favor, para!
– Prefere se sufocar com isso?
– Eu prefiro não tocar no assunto, certo? – ela imediatamente se calou. – Quando eu penso sobre isso, a minha cabeça dá um nó. Então prefiro não pensar.
– Enquanto isso for um problema mal resolvido e impensado, sua cabeça continuará um nó. – um gosto estranho subiu pela garganta dele. – Eu me importo com você. E te ver desse jeito me machuca.
Quando sua parte racional ameaçou interpretar os fragmentos da conversa que teve com Yoongi, seu pensamento foi imediatamente censurado. Ele não podia pensar nessas coisas, tampouco se questionar sobre sua relação com Jimin. Por Deus, ele tinha que ignorar essas investidas bizarras, afinal, não havia dúvidas que, somada a todas as vezes que o protegeu, ele só desejava ampará-lo como qualquer outra pessoa em seu lugar faria.
– Vá descansar. – ele disse para ela por fim, logo que recuperou o equilíbrio de sua memória e tomou consciência do lugar onde estava. – Seu corpo precisa de repouso. Mais tarde eu volto para vê-la.
– A nossa conversa ainda não acabou.
– Para mim acabou. – ele declarou, sua voz duramente obstinada. – Você está viva e bem, é tudo o que importa.
Ela balançou a cabeça para os lados, não engolindo a desculpa esfarrapada dele.
– Tudo bem que prefere guardar para você, – ela deu de ombros, fatigada. – mas não seja tão duro consigo mesmo, Jungkook.
Como uma fornalha, o reflexo de Jimin se estendeu novamente dentro de sua cabeça, dessa vez dando mais pulsão ao esboço delicado de seus pequenos olhos amendoados quando o chamou, precipitado, de Jungkook pela primeira vez. Ele armazenou sua reação, embora não compreendesse muito bem a finalidade disso.
Por fora, seu rosto era uma rocha inexpressiva sem deixar aparente o seu abalo interno. Ele acabou esfregando os olhos para disfarçar sua momentânea divagação e acenou para ela, somente para encerrar o assunto.
– Você tem que se recuperar agora. – ele tentou mais uma vez, buscando convencê-la de repousar seus músculos. – Vou pedir para que tragam água e comida para você. Posso pedir agasalhos também, o dia será frio quando amanhecer.
– Eu estou bem. – ela gemeu quando tentou se arrumar por cima da cama. – Eu ficarei aqui por quanto tempo?
– Provavelmente por mais algumas horas. Depois você poderá subir para um quarto melhor. – um triste olhar perfurou a face dela.
– E você, não vai descansar também?
– Preciso resolver algumas coisas antes. – ele colocou sua palma na bochecha dela e roçou seus dígitos calmamente. – Fique bem, eu volto depois.
Assentindo, Jennie inclinou a cabeça para baixo, entristecida por vê-lo tão sugado no caso. Jungkook simplesmente podia ficar ali cuidando dela e acalentando-a por tudo que foi imposta a enfrentar, mas ele priorizou a razão naquele momento, e beijou o topo da cabeça dela antes de deslizar para fora da sala.
A imagem dela foi se estreitando aos poucos à medida que ele fechava a porta. Jungkook respirou profundamente quando o trinco estalou, ele pressionou a cabeça contra a madeira e apertou as pálpebras.
Havia uma coisa martelando dentro de sua mente e ele lutou para unir as duas pontas soltas. Por que sua mãe a obrigou vir para lhe contar pessoalmente sobre a morte do homem que muito pouco ele se importava? Jungkook não possuía uma boa relação com seu pai adotivo, então por qual razão sua mãe cogitou a ideia de comunicá-lo presencialmente?
E o mais intrigante: por que ela não apareceu para dar a informação e preferiu exigir que Jennie fosse em seu lugar? Sua mãe podia tentar enganá-lo dizendo que ele necessitaria de apoio psicológico, portanto, sua lógica trabalhava mais depressa.
Jungkook não precisou pensar mais do que alguns segundos, seu cérebro já havia dado o veredito e posteriormente ele teria uma longa conversa com Jennie sobre isso. Se sua mãe possuía segundas intenções, ele iria descobrir.
Banindo essas observações, ele olhou ao redor das paredes, percebendo que Yoongi não estava mais ali, nem Seokmin. Então ele acabou dirigindo-se até a xícara que havia deixado acima da mesinha antes de sair, contudo ela estava vazia.
Sentindo os lábios secos, ele resolveu ir buscar mais café. No momento que ele girou para o corredor, uma figura mais baixa estava cercando sua passagem. Sua rápida captação o puxou para trás, travando seus passos. Um estranho sentimento surgiu dentro dele de supetão, deixando seus olhos um pouco largos na descrença.
– Jimin? – suas palavras escapuliram num assobio.
– Senhor? – balbuciou ele com os olhos inchados e um pouco arregalados.
Jungkook deslizou o olhar para o corpo maior que se mantinha ao lado do garoto. Seokjin.
– Antes que pergunte, eu fui buscá-lo. – explicou seu chefe, evitando questionamentos.
O detetive deu uma olhada embaraçosa para o relógio no pulso, depois voltou-se para ele.
– São quatro e meia da madrugada, Seokjin. – ele ecoou um tanto irritado.
– Eu estou ciente, mas precisei buscá-lo. – Jungkook suspendeu discretamente uma sobrancelha, aguardando uma explicação melhor. – Vamos precisar dele para essa etapa do caso.
– Quem te pediu para trazê-lo?
– Seokmin. Ele quer conversar com o Jimin. – quando Jungkook estava prestes a dar a voz a sua indignação, Seokjin ergueu o dedo em interdição. – Se está procurando alguém para reclamar, fale com ele. Aliás, preciso procurá-lo para avisar que já estamos aqui. Você o viu em algum lugar? – Jungkook o provocou com o seu silêncio, logo o ouvindo bufar e dar de ombros. – Certo, eu procurarei sozinho.
Rolando para longe deles, Seokjin arrancou o celular do casaco e discou uma sequência de números, certamente ligando para o autor daquela solicitação. Quando ele já estava mais adiante, Jimin se viu movido por uma intensidade sobrenatural que o forçou a erguer os olhos ao detetive, uma vez que ele não conseguia nem sequer respirar regularmente ao lado do grande diretor.
Jimin sentiu sua boca dormente e só então se deu conta que estava mordendo o lábio inferior.
– Ele te forçou a vir? – Jungkook perguntou cautelosamente.
– Não, senhor. Ele disse que vão precisar de minha colaboração para o caso, mas não me disse como.
– De qualquer forma eles deviam ter esperado o dia amanhecer. É um desrespeito te trazer aqui a essa hora. – disse ele meio alheio, recusando-se a encarar o menino nos olhos.
– O senhor se machucou? – ele o ouviu perguntar de repente, sendo incapaz de dominar seu esforço próprio para controlar a vontade tormentosa de observá-lo.
– O quê?
Jungkook sentiu sua resistência escorregar quando o percebeu se aproximando precavidamente. A ponta de seu dedo o tocou acima da sobrancelha, fazendo uma fisgada arder contra a pele de sua testa. Jungkook tateou o local machucado e fez uma careta.
– Eu nem me dei conta disso. – falou o detetive com um sorriso estreito no rosto, evitando causar preocupação no garoto.
– Isso precisa de um curativo. – articulou ele, sugerindo uma outra coisa. – Eu posso fazer se o senhor deixar.
Ele parecia tão adorável lhe pedindo por essa permissão, que se tornava uma judiação negá-lo.
Mesmo não manifestando o efeito daquela proposta, por dentro havia uma confusão farfalhando o coração de Jungkook. Novamente, a conversa com Yoongi invadiu sua cabeça nos mais estranhos momentos, e quando isso acontecia, um sentimento de reprovação surgia em cima de sua recordação.
– Não se importe com isso, é só um corte, eu consigo dar um jeito. – ele disse com gentileza, vestindo uma expressão genuína.
Jimin se conformou com um leve aceno de cabeça e um sorriso retraído. Ele sabia que o corte não era tão profundo, ainda assim, seu subconsciente selecionou aquele minúsculo motivo, talvez em busca de uma forma que pudesse acatar a sua exaltação de querer estar perto dele.
– Você está com sede? – perguntou Jungkook no meio de um conflito interno entre puxar assunto ou manter as coisas em silêncio.
– Tem água? – ele quis saber, vendo o detetive sorrir enquanto apontava para uma direção às costas de Jimin.
– É logo ali.
Eles caminharam sem demora para o aparelho de bebedouro. Jungkook inseriu um copo descartável entre o pequeno espaço e apertou o botão, já Jimin optou por ficar atrás dele na ponta dos pés, espiando a máquina por cima.
Jungkook o entregou e ele agradeceu com um sorriso enorme. Parecia enigmático, mas vê-lo sorrir por uma atitude tão simplória o deixou amplamente realizado. Ele deu uma segunda olhada para o detetive por cima do copo, o fazendo, naquele instante, ter consciência de que estava o observando demais. Então, ele afastou seu olhar para longe.
– Senhor – ele o chamou quando terminou, ganhando a sua meticulosa atenção. –, o que eles querem comigo?
Limpando a garganta, Jungkook estabeleceu uma justificativa imediata.
– Acho que farão algumas perguntas para você.
A sensação de aperto deslizou através do estômago do garoto. Ele não conteve a inquietação e acabou tropeçando um passo para trás.
– M-Mas eu já fiz essa entrevista com o senhor, não fiz?
– Sim, mas talvez eles precisem de novas informações. – ele o explicou pacientemente, retirando devagar o copo das mãos dele. Jimin olhou abaixo com a expressão levemente aturdida, percebendo que havia esmagado o maleável copo entre suas palmas sem se dar conta.
– Eu não quero fazer isso, senhor. Não confio neles. – seus olhos piscavam em completo desassossego.
– Sua desconfiança é compreensível, se não se sente à vontade para falar, ninguém vai te forçar a isso. Eles também estão cientes de que devem tomar esse posicionamento. – o menino se abraçou numa inconsciente defensiva e acenou em compreensão, agarrando-se às palavras dele. Por isso Jungkook usou o seu melhor tom em seguida. – Como está se saindo na casa do Seokjin?
– Lá parece bom, mas eu me sinto um pouco sozinho. – Jungkook cingiu o cenho, condenando sua remota observação anterior. – Eu estive pensando em falar com o senhor para voltar para cá.
Jungkook momentaneamente perdeu a capacidade de respirar. Sua assimilação deixou uma rápida impressão: Jimin ficaria mais perto dele.
Uma emoção, quente e inexplicável, sobreveio em surpresa. Ele manteve o olhar no garoto, mas sua cabeça deu um giro monstruoso.
– Você quer voltar? – ele perguntou para ter certeza, com uma discreta hesitação em sua voz.
– Sim, eu quero. – Jimin sentiu uma coisa potente mexendo dentro de seu peito, mas não soube identificar o que era. – Eu ia falar com o senhor quando voltasse para me ver. Tem uma coisa que me fez mudar de ideia.
Saboreando aquele fiapo de curiosidade, Jungkook mostrou-se interessado pela resposta, e mesmo sem saber, houve um rebuliço agradável se agitando em seu estômago.
– Eu estou curioso. – disse ele, ampliando artificialmente o seu interesse, embora estivesse de fato entusiasmado.
Instintivamente, Jimin esfregou os dedos na blusa para varrer para longe o excesso de suor e abaixou a cabeça. Ele mal se deu conta de seu nervosismo, até senti-lo se manifestar como um frio cortante na barriga.
Olhando para ele sob os cílios, o garoto podia facilmente enxergar o sorriso agradável que ainda desenhava os seus lábios. Certamente Jungkook já devia saber a resposta, afinal, ele já estava reagindo a ela.
– Eu não me sinto tão bem longe do senhor. – logo em seguida ele murmurou, com os seus lábios mal se movendo. – Quando eu estou sozinho, os olhos dele aparecem para mim o tempo todo. Ele permanece na minha cabeça, me fazendo recordar de tudo o que fez comigo. – Jimin levantou o olhar, e o sorriso que antes habitava o rosto do detetive tinha desaparecido por completo. – Eu odeio o silêncio, senhor, porque ele traz a lembrança do homem que eu mais detesto.
Jungkook se forçou a controlar o desejo impulsivo de abraçá-lo, uma vez que tinha consciência de que não estavam sozinhos naquele ambiente. Ao invés disso, ele elaborou uma abordagem mais interativa.
– Você tem alguma solução para esses pensamentos? – a resposta não se verbalizou, porém se manifestou com um balanço de cabeça para os lados. – Tem alguma coisa que te ajuda a esquecê-lo?
– Quando está somente eu e meus pensamentos, não. – ele pausou com receio, mas criou coragem para terminar. – Mas quando eu estou com o senhor tudo isso desaparece. Não é como se ele não estivesse mais lá, mas a forma como o senhor me dá atenção e conversa comigo me faz esquecer dele.
Essa última parte foi como um soco no meio do tórax de Jungkook, porque ele parecia puramente singelo ao dizê-la, entretanto, em sua cabeça essas palavras tiveram um seguimento maior e errôneo.
Jungkook podia perceber que ele se esforçou para quebrar o seu medo e revelar aquilo em voz alta. Mesmo não tornando sua reação tão aparente, o detetive estava indignado. Ele não podia sentir a dor de Jimin sob as condições que foi submetido a enfrentar em cativeiro, mas conseguia prever como os dias lá dentro deixaram severas marcas em sua memória, estas que serão dificilmente apagadas por completo.
– Mais tarde buscaremos suas coisas. – disse Jungkook, seu tom carregado de afeição. – Você estará aqui comigo de agora em diante. E Jimin, – dando um passo para mais perto dele, o detetive tocou gentilmente seu ombro. – ele pagará caro por ter feito isso com você. Eu te juro que ele não sairá ileso dessa história.
O menino não conteve um sorriso agradecido, ele parecia ainda mais cativante com suas bochechas fracamente infladas por causa do sorriso preso. Jungkook espontaneamente sorriu e contemplou cada pedacinho do rosto à sua frente, maravilhado pelos detalhes.
– Desculpe a demora, eu estava ocupado. – Seokmin surgiu na metade do corredor, fazendo Jungkook imediatamente se distanciar do garoto. Ele se aproximou, e em reflexo, Jimin deslizou um pouco para trás de Jungkook. – Você deve ser Park Jimin. Meu nome é Lee Seokmin, o agente encarregado da CIA.
Ainda com a mão esticada à espera de um cumprimento, Seokmin repuxou um sorriso despreocupado quando não recebeu uma resposta tateável por parte dele. Jimin abaixou as vistas e seus frágeis ombros se dobraram.
– Tudo bem. Eu compreendo sua relutância. – continuou Seokmin, trocando um olhar com o detetive ao lado. – Bom, Jimin, eu pedi para que eles te trouxessem aqui porque gostaríamos de fazer uma outra entrevista com você. Me informaram que você havia feito uma quando foi resgatado, mas dessa vez será diferente.
– Não há motivos para prosseguir com mais interrogatórios. – Jungkook argumentou, atraindo o olhar sólido do homem. – Tudo o que ele me disse serviu de alguma forma. Outra entrevista seria desnecessária.
– Talvez você não tenha feito as perguntas certas. – rebateu, seu tom estava surpreendentemente manso.
– Está questionando o meu serviço? – Jimin sentiu-se espremido entre aqueles olhares.
O mais esquisito foi a forma como seu interior se mostrou diante das palavras de Jungkook. Embora tão simples, sua voz apresentava um aspecto intimidador, porém tão agradável que o fez se arrepiar involuntariamente.
– Vou reformular. – articulou Seokmin, revestido com uma expressão sorrateira. – Talvez tenha mais perguntas que possamos fazer.
A cantos da boca de Jungkook se apertaram, como se sentisse muito. Logo em seguida ele disse:
– Eu poderia te ajudar, mas ainda não passei a entrevista para o relatório. – Seokmin espremeu as sobrancelhas, suspeito. – Foi confidencial.
– Está me dizendo que se lembra de cabeça? – o detetive confirmou. – E não pode me falar? – outro aceno, dessa vez para os lados. – Ok, de qualquer forma esse interrogatório será diferente. Se você estiver de acordo, Jimin, podemos começar daqui a pouco.
– Diferente como? – Jungkook quis saber, não muito contente com essa informação.
– Os meus superiores querem que o garoto dê uma entrevista pública. Só para esclarecer, ele não vai mostrar o rosto e a voz será alterada. O que eles querem está no depoimento do Jimin, que irá a público assim que o caso se encerrar.
– Seus superiores?
– A CIA está ao lado do FBI nesse momento, detetive, então os meus superiores também podem intermediar nesse caso. – Jungkook expulsou uma respiração risível e esfregou seus cabelos para trás. Jimin, por outro lado, endireitou sua atenção para ambos os rostos enquanto suas pernas ficavam bambas com o rumo daquela conversa.
– Eu não estou de acordo, você deveria ter me comunicado primeiro. – falou Jungkook, inconformado.
– Foi um erro. – sua voz era de arrependimento. – Achei que Seokjin fosse responsável pelo garoto, por isso o pedi para buscá-lo. Se o Jimin aceitar, vamos guardar o depoimento dele para quando tudo se encerrar.
– Eu vou me expor? – Jimin perguntou finalmente, uma pequena flor de apreensão se abrindo em seu peito.
– Não, de jeito nenhum. – Seokmin assegurou, seu tom estava mais moderado. – Você ficará em um ambiente escuro e fará o seu testemunho de acordo com as perguntas. Ninguém saberá quem é você além de nós mesmos. – Jimin estremeceu por dentro ao fantasiar essa experiência. – Você é um sobrevivente, Jimin. Todos precisam saber como foi sua vivência naquele lugar.
– Desculpe, Seokmin, mas isso aqui não é um drama barato de novela. – Jungkook rebateu friamente. – Ele não vai expor o que passou só para dar audiência aos seus superiores.
– Audiência?
– É, essa coisa que vocês fazem para ganhar reputação da mídia. – ele refutou desdenhoso. Seokmin prendeu o ar.
Jimin meio que entreabriu a boca em ricochete ao posicionamento de Jungkook. Ele estava tão grato por vê-lo agir protetoramente, parecia um verdadeiro escudo operando em sua defesa. Ele acabou admirando isso.
– Por mais que você implique, estamos trabalhando juntos agora e é necessário que você aceite as propostas feitas por eles. – Seokmin explicou. – Não foi uma decisão minha, foi uma decisão maioral.
– Diga aos seus superiores que eles não têm mais voz aqui. – Jungkook deu um passo à frente. – Se continuar insistindo em meter o dedo nessa parte do caso, então eu dispenso a colaboração da CIA.
Seokmin franziu a testa, completamente desordenado.
– Você não pode fazer isso, Jeon.
– Bom, eu sou o responsável neste caso então eu posso. – um cuidadoso traço de confusão serpenteou o rosto de Seokmin. – Você pode continuar trabalhando conosco, contanto que alerte aos seus superiores que eles não têm local de fala nesse departamento quando se trata das vítimas. Caso contrário, foi bom te conhecer.
Jungkook retornou seus olhos ao garoto e eles acenaram na direção da saída. Jimin se viu deliberando no instante que o detetive o chamou cuidadosamente para acompanhá-lo. Ele deu uma olhada para cima e gesticulou timidamente sua cabeça, aceitando o seu convite e deixando para trás um rosto retorcido pela incredulidade.
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