⍟ thirty eight

O prédio encontrava-se escuro do lado externo, as luzes dos andares superiores reluziam em meio a penumbra da noite. Jungkook penetrou o elevador e deixou-se ser levado para o escritório de Yoongi. Pedaços de sua memória se juntaram aos poucos, construindo o princípio do episódio anterior.

Ele parecia tonto, desgastado e desorientado. O som do disparo voltou com força em seus ouvidos e ele fechou os olhos, mas foi a lembrança do toque quente da mão de Jimin que prevaleceu, fazendo toda sensação ruim correr para longe de seu corpo.

Sua mente estava fabricando imagens que pudessem consumar efeitos benéficos à todas aquelas recordações de Andrew. E, incontrolavelmente, todas elas sinalizavam o rosto de Jimin.

A porta do elevador deslizou para o lado, o acordando do seu passageiro devaneio. Ele limpou o suor que escorria na lateral do rosto e seguiu para o escritório de Yoongi. Pingados olhares clandestinos o fitaram de diversos ângulos conforme ele passava por todos eles sem retornar o olhar.

Invadindo a sala de Yoongi sem bater, ele a encontrou completamente vazia. Suas sobrancelhas se torceram em suspeita e antes que pudesse fechar a porta e partir à procura dele, uma voz o chamou no fim do corredor. Era Yoongi.

– Nós estávamos procurando por você. Já tem horas que eu te avisei que a área estava limpa e você podia vir. – disse ele, o alcançando na metade do caminho.

– Eu tive um contratempo. – argumentou, esquivando-se dos detalhes. Yoongi içou suspeitosamente as sobrancelhas.

– Contratempo, é?

– Olha, não é hora para perguntas. Falou com o Seokjin?

Tentando dissimular uma expressão suspicaz que saltou em seu rosto, Yoongi respondeu:

– Falei. Ele já está preparando a equipe. – Jungkook acenou, qualificando a vertiginosa atitude de seu chefe em aprontar o grupo, embora seus olhos continuassem inquietos por outro motivo aparente. – Você viu ele sendo morto?

Jungkook estava aprisionado numa cadeia interna, na qual teve o cadeado subitamente quebrado com aquela pergunta, trazendo à tona suas trágicas lembranças. Ele limpou a garganta e exalou.

– É, eu vi. – ele parecia evitar o assunto.

– Eu nunca estive na sua pele e nem consigo imaginar como eu estaria se tivesse. – comentou Yoongi, comovido.

– Eu vou me vingar por ele. É tudo o que posso dizer.

Desviando-se do conteúdo da conversa, Jungkook apenas deu as costas para o seu parceiro e muito rapidamente atravessou para dentro da sala de Yoongi. Percebendo que havia cutucado a ferida dele, Yoongi se xingou mentalmente e o seguiu.

Em silêncio, Jungkook puxou uma cadeira e sentou-se, o mistério dentro dele sendo inquebrável. Seus pensamentos voavam por todas as partes, mas os fragmentos se conectavam numa única direção, cujo caminho desenhava os traços finos do rosto de Jimin contorcidos de terror quando o viu partir.

Ele, indiscutivelmente, não queria ter o deixado sozinho.

Yoongi deu um passo à frente, ocupando o espaço um tanto longe de Jungkook, irradiando preocupação em seus olhos.

– Pode avisar aos outros para se reunirem no saguão? Quero todos participando dessa missão. – falou Jungkook, rasgando sua memória e a serpenteando para um único objetivo.

– Sim, vou avisar.

Relutantemente, Yoongi voltou-se para o aparelho sobre a mesa e enviou um alerta para o prédio através de um rádio.

– O detetive Jungkook quer todos no pátio para um comunicado. Temos uma missão e todos devem atuar – decretou, sob segunda ordem. Ele desligou o rádio e segurou o olhar na imagem daquele que parecia cegamente alheio. – Está assim por causa da pergunta que fiz? Olha, eu não fiz por mal, ok? Você mesmo falou que nosso trabalho é arriscado e coisas assim acontecem.

O olhar neutro de Jungkook o encontrou, seu corpo tenso o suficiente para parecer ser feito de pedra.

– A não ser que – começou Yoongi, inclinando as sobrancelhas em suspeita. – talvez esteja assim por outro motivo. É o Jimin, não é? Você demorou todo esse tempo porque estava com ele, é isso?

A tensão no rosto de Jungkook suavizou-se e ele suspirou, rendendo-se.

– Não queria ter deixado ele sozinho naquela casa. – admitiu Jungkook, sentindo-se estúpido por esse pensamento. – A casa tem tudo e ao mesmo tempo não tem nada. É um completo vazio. Pelo menos nesse prédio ele tinha-

– Você? – Yoongi completou, o deixando momentaneamente calado.

– Alguém com quem conversar e se sentir protegido. – reformulou ele, ainda sob os relances de sua memória ordinária. – Ele está apagado naquele lugar. Seguro, talvez, mas ainda sozinho.

Yoongi permaneceu observando-o. Um toque forte na direção errada e Jungkook poderia muito bem quebrar sua resistência, se o dono do toque fosse Jimin. Ele parecia cego em protegê-lo e havia colocado na cabeça que somente perto dele isso seria possível, Yoongi pensou.

– Ele pode estar sozinho, mas está protegido. Isso é tudo o que importa. – articulou Yoongi enquanto recebia o olhar meticuloso do detetive. – No meio de toda essa guerra que estamos enfrentando, o Jimin só ficará seguro sob custódia protetora, e ele está. A única coisa que devemos focar agora é na máfia. Encontramo-os e devemos nos apressar para pegá-los.

Jungkook ficou preso entre o impulso de mentir e do conhecimento que não faria nenhum bem àquela conversa. Portanto, sua preferência foi a primeira opção.

– Você está certo. – disse. – A máfia é mais importante agora.

Abandonando a cadeira, ele deixou a postura disciplinada enquanto induzia as palavras na mente antes de enunciá-las. – Já está com a imagem da área do cassino? Precisamos avaliar os pontos de esconderijo em cada perímetro.

– Sim, consegui uma ilustração mais ampla. – ele se moveu até o monitor e dilatou a imagem, deixando-a mais evidente. – Esses sinais em vermelho são ótimos pontos para vigilantes, ficam em picos mais altos que podem facilitar a guarda.

– Vamos ter que mandar dois helicópteros sobrevoarem ambos territórios – falou Jungkook, os olhos metodicamente concentrados na tela.

– Esse lugar parece uma combinação perfeita de beleza e caos. Por fora é bem luxuoso, mas deve haver muitas camadas por baixo. Calabouços, porões, quartos, e outras extremidades mais fundas com sujeiras. – Yoongi falou pensativamente. – Isso significa que eles têm mais opções de fugas.

– Certamente com portas trancadas que só os mafiosos têm acesso. – completou Jungkook, movido por um desconforto no estômago ao especular o tamanho do pânico que cobre cada parede do lugar. – Por isso nenhuma vítima consegue fugir. Eles controlam tudo, todas as aberturas, e provavelmente escondem os corpos em alguma parte profunda.

– Como vamos entrar sem que nos vejam?

– Conte quantas câmeras há no local e veja se há sensores de presença também. Eles vão ficar de olho em cada passo nosso. – seus olhos o encontraram de repente. – Eles estão cientes que vamos invadir, mas ainda não sabem o momento. Vamos usar isso a nosso favor.

– Se a armadilha for homem contra homem, assim que entrarmos eles vão nos atacar. – Yoongi concluiu pensativamente.

– Se for um massacre, não será homem contra homem. Eles vão armar alguma coisa para nos derrubar. Algo grande.

– E o que você acha que pode ser?

– Ainda não sei, temos que pensar como eles. – Jungkook cruzou os braços e virou-se para ele. – Aliás, conseguiu ligar o aparelho que estava no carro daquele cara? Lá dentro pode haver pistas.

– Estou trabalhando nisso. Eu preciso da digital do cara que encurralei e da leitura da retina dele. – inconformado, Yoongi espremeu os cantos da boca. – Ou seja, isso vai demorar praticamente um dia inteiro.

– Se precisar de ajuda, pode falar comigo. – Yoongi acenou e sorriu para ele, adaptado com aquela atitude casual. – Bom, está na hora de passar o recado aos outros. Vamos?

Pegadas duras tilintaram para dentro da sala, atraindo a atenção de ambos detetives. Um homem formoso usando um fino paletó francês estava diante deles, com uma maleta preta descansando na sua mão. Os olhos do sujeito pesquisaram o lugar com soberba até caírem com uma certa curiosidade em Jungkook.

– Você deve ser o detetive Jungkook. – falou ele, movendo os pés em direção ao federal, onde esticou sua mão em cumprimento. – Me chamo Lee Seokmin, representante da CIA. É um prazer conhecê-lo, detetive, sua reputação procede.

Jungkook agarrou a mão dele, com toda gentileza, retribuindo aquele olhar observador com um sorriso fino, embora estivesse se perguntando por dentro a causa que o fizera seguir até lá.

– E você Yoongi? Como está? – perguntou diretamente para o outro detetive, na qual encontrava-se hipnotizado, ou surpreso, com a presença do homem. Ele acabou limpando a garganta antes de regular a postura e encará-lo.

– Estou bem. – Seokmin mostrou-lhe um sorriso pequeno.

Jungkook trocou um olhar espectador e completamente desconfiado entre eles, estranhando a resposta tão curta e ao mesmo tempo tão demorada de ser pensada por Yoongi.

– O que traz a CIA ao nosso departamento? – perguntou Jungkook, cortando o silêncio entre eles.

– Fomos convocados para ajudar vocês na missão através de uma mensagem de Seokjin. – afastando-se para longe, Jungkook pareceu notar um suspiro aliviado escapando de Yoongi quando o outro finalmente se apartou. – Estou aqui como um representante para avaliar o caso e autorizar que minha equipe faça parte da operação em campo.

– E onde está o Seokjin agora? – Jungkook quis saber, parcialmente intrigado por não o ver acompanhado pelo responsável que o contatou.

– Também gostaria de saber, afinal, eu tenho um compromisso aqui. – Seokmin falou com uma certa arrogância preguiçosa enquanto deslizava a cadeira para se acomodar. Ele olhou para Yoongi do outro lado com uma pontada de interesse antes de sorrir. – Pode chamar seu chefe, querido?

Seu tom de voz levantou todos os pelos do couro cabeludo de Yoongi. Houve um pouco de dificuldade para engolir a saliva e se desviar daquele fascinante olhar que o devorava. Jungkook sentiu uma tensão quente flutuar entre eles, e naquele momento ele teve a certeza que os dois tiveram um passado caloroso.

– Estou bem aqui. – coscuvilhou Seokjin, invadindo o escritório. Yoongi finalmente conseguiu respirar. – Aparentemente a CIA não sabe escolher seus representantes. – provocou, sendo correspondido por um olhar solenemente soberbo.

– Aparentemente o FBI falhou ao te colocar no cargo de diretor, não acha? – ele retrucou acidamente, lançando um sorriso divertido para Seokjin.

Ambos riram, então Seokjin segurou sua mão em saudação.

– Estamos precisando de vocês nessa missão. Já foram várias tentativas e até agora não obtivemos resultados. No momento, temos uma localização, só precisamos avaliar a área antes de invadirmos.

– Por que vocês estão trabalhando no Canadá? – o representante da CIA perguntou. – O FBI não tem jurisdição aqui, só nos Estados Unidos.

– A máfia é nossa jurisdição. – Jungkook se intrometeu. – Onde ela estiver, nós a seguiremos. A não ser que você queira uma briga com os documentos.

O homem abanou a cabeça e ergueu as mãos na altura dos ombros, sem objetar o argumento dele.

– Eu só estou indo por onde a lei permite, detetive. Mas não se preocupe com isso, o meu serviço hoje é estudar o caso de vocês e ver o que posso fazer para ajudá-los.

– Podemos começar com a localização. – Seokjin iniciou, mostrando-lhe o mapa estampado no painel. – O detetive Jungkook conseguiu a informação com um dos clientes. Oferecemos um acordo e ele ficará sob custódia, servindo como informante do FBI até encerrarmos o caso.

– E os rostos responsáveis? Descobriu quem está por trás?

– Derek Meyer é um deles. – pronunciou Jungkook, atraindo os olhares para si. – Já divulgamos a identidade dele. Está sendo procurado pela polícia do Canadá.

– Uma das vítimas o reconheceu como o encarregado dos sequestros. – concluiu Seokjin.

– Vítima? – Lee Seokmin questionou, sobrancelhas erguidas em inquérito. Ninguém o respondeu. – Por que ninguém aqui informou que havia resgatado uma vítima?

De soslaio, Yoongi e Seokjin trocaram olhares espantosos, enquanto Jungkook manteve-se imperturbável e consciente da pergunta que nem de longe o atingiu.

– Foi uma busca ilegal. – ele respondeu quando ninguém mais arriscou-se a dizer. – Fomos sem uma autorização.

– Quebraram o código federal?

– Olha, o importante é que isso já foi resolvido. A vítima está bem. – Yoongi inseriu-se no meio da conversa, sentindo-se fracamente bambo quando o olhar ardido de Lee Seokmin o encontrou. – Temos coisas mais importantes para tratar agora.

– Concordo plenamente. – declarou Seokjin. – Deixaremos a discussão sobre o protocolo para outra hora. Precisa noticiar a CIA sobre a invasão, vamos precisar de vocês.

– E o que ganhamos em troca? – ele indagou como se fosse óbvio, agarrando-se ao encosto da cadeira giratória enquanto retinha uma postura silenciosamente contestável.

– A CIA terá seu mérito garantido, isso eu posso assegurar. – Seokjin certificou-se, mas a curta risada que escapou dos lábios do homem expôs sua dispensável corroboração.

– Em que parte nós teremos mérito?

Revoltado, Jungkook esfregou a testa e fuzilou aquele rosto caçoísta sobre a cadeira, freando a demasiada vontade de externar seus pensamentos, então, por um momento selvagem, ele apenas exalou e deixou os dois se estapearem verbalmente.

– O FBI já conseguiu tudo praticamente, até o posicionamento deles. Mas para invadir vocês nos chamam? Sua equipe não consegue dar conta, Seokjin?

No momento que Seokjin ia respondê-lo, Jungkook adentrou-se novamente na conversa.

– Se está preocupado só com o mérito que a CIA terá no caso, então recuse. Se acha que o crédito vale mais do que essas vidas, vai em frente. A minha equipe sabe se cuidar sozinha.

Quando ele terminou de dizer, Lee Seokmin sorriu para o canto, curiosamente prendido na resposta. Ele parecia empolgante e surpreendentemente destemido aos seus olhos.

– Você se expressa como um líder, detetive. – ele admitiu, fascinado, levantando-se da cadeira ainda com o olhar fincado em Jungkook. – Me mostre o que conseguiu.

Talvez estivesse equivocado, entretanto, Jungkook observou um olhar escavado no rosto de seu chefe que refletia um aborrecimento fugaz. Portanto, ele ignorou a reação dele, a despeito de sentir que essa palavra possuía um significado enorme para Seokjin.

Um som de alerta invadiu a sala. A enorme tela piscava continuamente com um comunicado no meio. Mensagem de vídeo. Era o que a mensagem projetava.

Todos se entreolharam confusos, enquanto Yoongi se antecipava para verificar o problema. A luz vermelha de alerta pulsava no interior do escritório, deixando todos com os pensamentos caóticos.

– O que diabos é isso?! – Lee Seokmin perguntou em meio ao ruído incessante.

– A rede está nos avisando que estamos recebendo uma mensagem de vídeo. – respondeu Yoongi, deslizando os dedos nos teclados do computador.

– E você não pode fazer essa coisa barulhenta parar? – ele se referiu especificamente ao sinal de aviso.

– Yoongi, aceite a chamada. – falou Jungkook, aproximando-se ligeiramente dele. – Temos que saber qual a mensagem deles. Aceite.

Segurando a tecla que autorizava o vídeo, Yoongi lentamente afundou o dedo sobre ela, interrompendo o constante barulho.

Eles olharam para o painel à frente, observando a imagem do vídeo entrar em foco aos poucos. Havia um tronco diante da câmera, coberto por um traje de couro. As mãos enluvadas do sujeito se ergueram para a máquina, completamente revestidas de sangue.

Ele agarrou um lenço imaculadamente dobrado para esfregar suas mãos manchadas e o atirou para longe quando terminou com o seu momento provocativo. O rosto do sujeito ainda estava escondido, até aquele momento.

Jungkook sentiu-se ferido de ódio quando assistiu o rosto de Derek revelar-se diante da câmera, sem a máscara. Uma gargalhada incrédula explodiu na garganta dele, como se estivesse rindo de uma piada.

– Ele mostrou a cara. – falou Yoongi, parcialmente surpreso.

– Ele quer mostrar que não está com medo. – especificou Jungkook, regido por uma expressão de pura aversão.

Lembra-se de mim, detetive? – um sorriso perverso espalhou-se por suas feições. – Ah, eu lembro muito bem de você. Correu feito um cãozinho assustado quando me viu matar o seu parceiro.

Jungkook não se abalou.

– Eu vou contar para os seus amiguinhos que estão me vendo agora. – começou ele, fingindo estar pensativo. – O detetive perto de vocês simplesmente deixou o parceiro morrer e não fez nada. Deve ser um fracasso, não acha? Ser tão incompetente ao ponto de não saber como socorrer um companheiro.

Jungkook quase riu, cínico, nem um pouco surpreso com a invenção escarnecida que ele declarou. Ele sabia que Derek estava tentando enraizar um sentimento de culpa, mas o que ele não sabia é que Jungkook estaria devidamente blindado a qualquer tipo de insulto.

– Ah, mas ainda não acabou. – ele prosseguiu, soando inteiramente como um psicopata. – Fiquei sabendo que saiu mostrando o meu rosto por aí, o que é fantástico porque eu sou um pouco exibicionista.

Ele deu um passo para trás, deixando mais evidente as características do lugar onde estava. Muito ligeiramente, Yoongi começou a registrar a tela com a intenção de esquadrinhar cada ângulo do ambiente.

– Sabe, Jungkook, você diz que eu não sou homem o bastante para conversar cara a cara com você, mas, parando para pensar, o homem fracassado da história é você. Sabe por qual motivo? – ele ficou bem perto da câmera e sorriu. – Porque você se esconde atrás de disfarces. – abrindo os braços em deboche, Derek continuou. – Você tinha tudo para acabar comigo e ficarmos cara a cara, mas preferiu ser um covarde e correr.

Olhando para ele, Jungkook sorriu amplamente em sinal de triunfo e disse:

– Ele é péssimo em disfarçar a covardia.

Jungkook era poderoso em interpretar as expressões, mesmo que elas estivessem bem disfarçadas. Vantagens de dominar a leitura facial, pensou Yoongi.

Está vendo esse rosto, detetive? – Derek continuou com seu ataque, passando a mão pelo contorno da mandíbula. – Olhe bem para mim e memorize o que vou dizer. – ele pausou, seus olhos tremeluzindo um brilho assustador. – É a mim que o Jimin pertence. Você pisou no campo errado quando o tirou de mim, e eu irei me vingar por isso.

As pálpebras de Derek chegavam a tremer de indignação, doente por uma fantasia personalizada. Ele parecia em abstinência, compulsivamente dependente de alguém que servia para satisfazer os seus desejos, mesmo que contra a vontade, apenas por puro fetiche de ser o controlador.

Mas não é para isso que eu chamei vocês. – ele pegou um objeto, era uma faca. – Tem alguém que gostaria de falar com você, detetive.

Jungkook sentiu uma vaga pressão apertar seu peito quando ele escutou um gemido distante. Sua raiva foi subitamente sobrepujada pela forte preocupação, logo que Derek saiu da frente e mostrou sua prisioneira. Era Jennifer.

– Jen! – ele gritou, como se ela pudesse ouvi-lo.

Você a conhece, não é? Sua irmãzinha. – provocou Derek, orientando-se até ela.

Havia barras de metal atrás dela, o que indicava que estava em uma cela. Dois capangas mascarados a seguravam com força pelos braços, enquanto ela se sustentava em pé, completamente debilitada. Sua bochecha direita estava incrustada com sangue, o sangue manchando seu pescoço e toda a frente de sua camisa. Em um súbito pânico, ela se contorceu entre as gigantes mãos que a pressionavam.

Derek disparou um tapa forte no rosto dela, ouvindo-a protestar num grito estridente.

– Fica quieta, vagabunda!

Um olhar assombrado dominou as feições de Jungkook, terrivelmente em choque. Ele não piscava os olhos, tampouco conseguia obter pensamentos lúcidos. Sua irmã tinha se tornado uma prisioneira deles.

Vamos a oferta final. – começou Derek, colocando a lâmina abaixo do queixo dela. – Sua irmã querida está bem aqui, no mesmo lugar que o seu parceiro morreu. Eu só quero que venha buscá-la, detetive.

– Filho de uma put-

– Quer saber? Ela é uma delícia. – falou o criminoso, deslizando a ponta da faca para o meio da garganta dela. Jennie soltou um soluço em meio ao choro silencioso. – Eu tenho três lobos famintos que estão ansiando para devorá-la. Qual eu devo deixar usá-la primeiro?

– Eu vou te matar, desgraçado!guinchou-se Jungkook, sendo contido pelo braço de Yoongi, que o bloqueou para que ele não atacasse o painel.

– Jungkook, isso é uma gravação. Se controla.

– Pensando bem – continuou Derek com sua voz assustadoramente maléfica, saindo de trás dela. –, vamos ver como você reage a isso.

Uma expressão de profunda dor atravessou o rosto de Jungkook. Apreensivo, ele passou uma mão sobre sua testa. Jennie olhou para os lados, atormentada, e gritou pelo nome de Jungkook diversas vezes quando eles a forçaram para baixo em uma cadeira dobrável de metal, deixando-a à mercê do que quer que estivesse prestes a acontecer.

Seus tornozelos foram amarrados às pernas da cadeira enquanto ela lutava para se soltar deles. Um dos capangas ajustou dois cabos no ferro da cadeira numa rápida arrumação e se afastou dela.

Derek fez um gesto com a cabeça, chamando o terceiro participante mascarado. O cara se abaixou de frente a ela e rasgou sua blusa. Jennie se dobrou inteira e reclamou em meio a choramingo, mas os dois marmanjos em pé pressionaram seus braços para trás, prendendo-os.

Pare. – ordenou Derek, o vendo se erguer do chão e parar ao lado de outro sujeito. Jungkook sentiu um ataque de formigamento esfaqueá-lo. Ele estava rigorosamente fervendo de fúria. – Olhe só para ela, detetive, completamente assustada. Aliás, tem uma coisa interessante nesse lugar além dos meus homens famintos. – ele apontou com a faca para um tipo de máquina no canto. – Essa belezura provoca choques no corpo, se sua irmã não for forte, ela morrerá em quarenta minutos. Então eu sugiro que se apresse em vir pegá-la antes que essas descargas façam sua querida maninha morrer mais depressa.

Derek determinou outra ordem em silêncio, apenas com um aceno, vendo o marmanjo mais alto agarrar um balde de água e arremessar em Jennie com força. O corpo dela entrou em espasmos, ficando momentaneamente adormecido pelo gelo da água.

Então, movido por uma decisão perversa, Derek acionou a marcha vermelha da máquina e uma corrente elétrica correu dentro dela velozmente. Jennie gritou tão alto que o grito se estrangulou em sua garganta em meio a respiração. Seu corpo tremia por inteiro numa vibração contínua.

Então ele puxou a marcha de volta, cessando o choque. Jungkook sentiu uma pontada arder seu peito, ele definitivamente não queria olhar o sofrimento dela e se xingava mentalmente por não ter protegido-a.

Ela estava acorrentada e indefesa em uma cela subterrânea completamente gelada, quase sem roupa. Jennie não duraria muito mais que duas horas, ele tinha de salvá-la.

Se apresse, detetive. Não vai querer ver a sua irmã morta quando entrar por aquela porta. – falou Derek, sorrindo como um cafajeste. – Eu estarei bem aqui.

Dito isso, ele finalizou a gravação. O olhar de Jungkook chamejava com um lampejo enraivecido. Ele não disse uma palavra, e nem precisou, seu rosto acusava gritantemente cada pensamento que se passava na sua cabeça.

– Eu vou matar esse desgraçado! – falou Jungkook entredentes, dissipando seu equilíbrio emocional.

– Parece que a invasão vai ser antecipada. – comentou Seokmin, recebendo olhares misteriosos em sua direção. – O que foi? Não vamos deixar ela morrer, vamos?

– Temos que ir agora. Prepare todo mundo, Seokjin. – articulou Jungkook, movido por uma determinação ácida. Seu chefe não protestou, mas houve um olhar refutável navegando em seu rosto.

– Jungkook, precisamos de um plano antes da invasão. Não podemos chegar lá com os olhos vendados e completamente alheios ao que eles estão armando. – Yoongi explicou, tentando soar transparente. – Eu sei que quer salvar a sua irmã, mas precisa ser cauteloso como sempre foi, sem agir por impulso.

Olhando em volta, Jungkook viu pena nos olhos de Seokjin, e mesmo Yoongi parecia lamentar por ele.

– Não preciso que sintam pena de mim. – declarou amargamente. Todos estavam o observando em silêncio. – Vamos resgatar a Jennie, não por ser a minha irmã, mas por ser uma vida feita como refém. Então, eu vou fazer o meu trabalho independente de haver um plano de invasão ou não. Quem está comigo?

Houve um momento de calmaria quando o detetive terminou de falar, e para sua surpresa, foi Lee Seokmin quem rompeu a ausência de respostas.

– Eu estou com você, detetive Jungkook. Me dê a localização da boate e mandarei a equipe da CIA se organizar no lugar de espreita enquanto ainda nos estruturamos aqui.

Acenando, Jungkook entregou-lhe um papel e o viu analisar as informações redigidas antes de deixar a sala para fazer um telefonema. Ele sentiu Seokjin andar largamente para uma estante de equipamentos e arrastou para baixo uma pesada alavanca. A estante partiu-se no meio, deslizando cada metade para um lado.

Encontrava-se ali uma espécie de cofre, quase da altura de Seokjin, ele acabou girando o disco metálico numa combinação numérica. Jungkook parecia impressionado. A porta do cofre retiniu num estalo, abrindo-se.

– Se eles estão nos chamando até eles, é porque há uma armadilha nos esperando. – falou Seokjin meio alheio, levando um momento para processar sua tática. – Vamos precisar de munições e melhores armas.

Jungkook lhe atirou um olhar especialista e conhecedor. As pontas dos diversos tipos de armas resplandeciam sobre a estrutura de apoio que tinha dentro do cofre, servindo para sustentá-las. Havia também uma luz azulada derramando-se contra os petrechos.

– Isso significa que vamos invadir? – perguntou Jungkook.

– Sim. – respondeu, encontrando os olhos do detetive. – Mas eu quero que fique longe dessa missão.

– O quê?!

– Detetive, se houver um membro da família no meio de um caso, é obrigação minha manter você o mais longe possível dele. – Jungkook exalou, inconformado. – O resto da equipe cuidará disso, mas você ficará longe dessa operação. A não ser que esteja disposto a quebrar mais uma regra do protocolo.

Jungkook o encarou com as sobrancelhas suspensas, assimilando muito bem o seu insulto.

– Desde quando essa decisão é sua? – retrucou Jungkook, quase com um humor astuto. – As regras dizem que se o agente tiver força emocional para encarar isso, então cabe a ele decidir se deve participar. E eu vou.

– Jungkook-

– A minha capacidade de enfrentamento foi construída durante anos, Seokjin. Eu sei lidar com isso. – garantiu ele, os olhos negros completamente decididos.

– Assim como conseguiu lidar com a morte do Andrew? – Seokjin refutou, o vendo franzir a testa. Yoongi, por outro lado, passou a mão pelo rosto, ciente de que essa discussão duraria horas.

– Eu vou a campo, senhor. Não adianta me convencer do contrário.

O homem deu um passo à frente, ficando cara a cara com ele.

– Como eu posso te deixar na minha equipe se você se sente superior à minha autoridade?

Instantaneamente, uma linha apareceu entre as sobrancelhas desenhadas de Jungkook. Seokjin soava aborrecido ao fazer a pergunta, como se tivesse sido apunhalado pelas costas.

– Ok, eu só quero avisar que o tempo está correndo. – falou Yoongi, inserindo-se no meio deles. – Essa discussão de líder pode esperar para mais tarde, não pode?

Seokjin assumiu um ar ofendido e olhou carrancudo para Yoongi. Certamente, a influência de poder tinha um peso importante para ele, tanto que ele não se importou em demonstrar o efeito disso.

Muito diferente de como Seokjin esperava que ele reagisse, Jungkook apenas suspirou e rolou para fora da sala, dando as costas para os dois.

– Senhor, a irmã dele corre perigo, não o provoque. – alertou Yoongi bem baixinho.

O seu chefe apertou os botões do paletó ao redor de seu dedo, restaurando a postura recatada de antes e exalou profundamente.

– Isso não é de hoje, Yoongi. Ele acha que tem autoridade sobre mim.

– Ele não acha isso.

– É claro que sim! – exclamou ele num murmúrio, soando enfurecido. – Eu ainda tenho poder para tirá-lo dessa equipe, só que eu não faço isso porque não há ótimos detetives como ele para este caso. Mas quando tudo isso terminar, nós teremos uma conversa séria.

– E quem irá substituí-lo? O senhor não pode simplesmente colocá-lo para fora. Ele é ótimo no que faz.

– Sim, eu posso. – ele o encarou feio.

Yoongi podia sentir na voz dele uma afiada irritabilidade se aguçando. Diante disso, seu silêncio se aplicou depois da fala dele, demonstrando-se incapaz de protestar sua opinião. O que restou foi um sentimento desprezível ricocheteando através de seu peito.

– Vá chamar o pessoal, temos uma tarefa a cumprir. – Seokjin impôs por fim, cortando ao seu lado para longe da sala, o deixando completamente afetado por uma possível optação, na qual ele não desejava que fosse escolhida.

✯✯✯

A tropa de federais retirou-se para fora do furgão e encaminhou-se em ordem para o esconderijo secreto que havia sido combinado antes da operação. Lá estava o carro de Seokjin, estacionado abaixo do declive da colina. Ele estava em pé, aguardando todos os furgões aparecerem para dar início ao planejamento.

Tudo estava em completo silêncio, exceto pelo vento contínuo que assobiava em seus ouvidos. O local escolhido ficava numa distância clandestina do cassino, muito bem encoberto de olhos humanos que tentassem avistá-los daquela direção.

Quando o terceiro furgão surgiu no meio da névoa, Seokjin limpou a garganta e aguardou a aglomeração de policiais se alinharem em posicionamento. Equiparam-se com capacetes, coletes e rifles em mãos, devidamente precavidos.

Jungkook encontrava-se no canto direito, os olhos retidos na movimentação de seus colegas de trabalho. Ele queria comandá-los à operação, mas tinha alguém o bloqueando de exercê-la.

Pensava ele, a ação triunfa sobre o silêncio do sem voz. Ele era um sem voz naquele momento, sobretudo, sem sentir-se abalado com as decisões de seu chefe, mesmo que fosse o único a discordar delas.

O diretor andou na frente de sua equipe, confiscando se todos estavam presentes. Uma vez em posição, ele suspirou antes de dar a voz à tripulação.

– Alguém está inapto a esta tarefa? – o silêncio o respondeu. – Ótimo. Eu vou dar as instruções e qualquer dúvida que tiverem, eu exijo saber.

O pensamento de Jungkook estava tremendamente concentrado nele, mas seu sexto sentido varria cada extremidade daquele vasto lugar, tratando de memorizar o que o rodeava.

– Há uma refém lá dentro. – iniciou Seokjin. – Ela está presa em uma das celas, é provável que tenha alguma armadilha próxima da vítima que nos dificultem. Por isso preciso que tomem muito cuidado e sejam cautelosos, eles vão querer nos cercar de alguma forma. Vejam bem, estamos lidando com uma organização criminosa, eles com certeza têm um plano.

– Não acha que devíamos convocar mais agentes para essa operação, senhor? – perguntou um dos policiais.

– A CIA já enviou seus homens para vasculhar ao redor e dois helicópteros estão sobrevoando em torno do cassino. Qualquer suspeita, eu ficarei ciente. – articulou ele, olhando para cada rosto enquanto falava. – Mas o importante aqui é a garota. Eles são engenhosos, provavelmente já arrumaram um jeito de tirar as garotas da boate e levá-las para outro lugar. O que deve haver dentro do local que estamos prestes a invadir certamente é só a armadilha e a refém.

– Como o senhor pode afirmar que eles não estão dentro? – outro agente perguntou, sobrancelhas suspensas.

– Porque eles não ligariam para nós somente para entregar de bandeja a sua localidade. – interviu Jungkook, dando um passo à frente enquanto recebia a atenção de todos. – A máfia não é o perfil de quem encara um combate cara a cara. A preferência deles é por se esconder nas sombras, atrás de máscaras.

O detetive viu um olhar descontente no rosto de seu chefe quando ficou a poucos metros de distância dele. No entanto, ele deu de ombros mentalmente para a sua aparente insatisfação.

– Eles sequestraram alguém para nos atrair até aqui mais facilmente, nos colocando à mercê do tempo deles. – prosseguiu Jungkook. – Por conta disso, o plano deles não é um confronto, e sim um ataque.

Por fora, Jungkook vibrava como um superior impondo sua autoridade, mas por dentro havia um ódio venenoso se incendiando dentro do peito. Derek tinha cometido um erro enorme ao tocar na sua irmã e ele se arrependeria amargamente disso quando fosse encontrado.

Ele piscou quando um vento forte atingiu seu rosto, e então, olhando de soslaio para Seokjin, o mesmo entendeu que ele estava passando a palavra à frente.

– Yoongi ficará responsável por vocês. Ele cuidará do serviço de vigilância e dará o sinal a todos para que entrem. – explicou o líder, incutido por um desejo severo. – Fiquem atentos ao aviso dele, qualquer movimento suspeito que o detetive receber em sua rede, eles os deixarão prevenidos.

Todo equipado semelhante aos outros, Yoongi aproximou-se de Seokjin, um aparelho moderno entre as mãos.

– Está tudo pronto, senhor. A rede de vigilância deles está bloqueada. Podemos entrar.

Muito cuidadosamente, Jungkook deu um passo para perto, ameaçando se juntar com o resto da equipe, mas um longo braço esticou-se na frente do seu corpo. O detetive deslizou as vistas para baixo, sufocando a raiva macabra que subiu por sua garganta.

– Você fica, detetive. – Seokjin falou, não parecia uma escolha.

– Já conversamos sobre isso. – sua expressão era cuidadosamente individual, embora seus olhos gritassem de indignação.

– Sim, e é por conta disso que você não irá participar .

Partículas de revolta dançaram através do olhar de Jungkook. Virando o rosto para Yoongi, Seokjin disse:

– Comande o pessoal, eles estão nas suas mãos.

– Sim, senhor. – ele regulou a escuta no ouvido e girou de frente para os policiais. – Certo, quero todos em posição. Vamos nos separar e nos encontrar na porta de entrada.

Os policiais pisaram fundo para descer a costa, esmagando as camadas de folhas enquanto seguiam separadamente até a distante casa de jogos que pulsava com uma luz forte. Momentaneamente, empurrando sua irritação para o fundo, Jungkook arrastou-se para o carro, onde sentou no capô e cruzou os braços.

Estava só ele e Seokjin juntamente com o som oco, arrepiante, dos galhos secos acima de suas cabeças. Jungkook perguntou-se brevemente se aguentaria aquela companhia por muito tempo.

Lentamente, Seokjin passeou alguns passos à frente, tomando cuidado para não o incomodar.

– Eu sei que é difícil de entender, mas eu estou te protegendo. – falou ele, ganhando um olhar de desdém.

– Por Deus, invente uma desculpa melhor.

– Não estou mentindo, Jungkook. Sua mente precisa estar limpa quando formos enfrentá-los. Além do mais, eles te querem, eu não seria tolo de entregar de bandeja o nosso melhor detetive.

Jungkook sufocou um riso incrédulo e encarou os salpicados olhos que o fitavam.

– Se acha que pode me impedir de entrar por causa de sua preocupação fingida, está enganado. Eu vou salvar a minha irmã e não adianta me parar.

Seokjin continuou a observá-lo com um crescente estresse. Ele suspirou entre a forte lufada de vento, tomando consciência de que essa abordagem não funcionaria. Então, ele iria atraí-lo para o veredito final.

– Eu posso estar ciente que serei afastado do meu cargo num futuro muito próximo, mas ainda tenho poder para te tirar desta equipe. – uma onda de náusea rolou através de Jungkook. Ele não podia acreditar que esse pensamento se passou pela cabeça do diretor. – Já tive inúmeros motivos para te expulsar daqui, e um deles é a sua desconfiança excessiva, mas te mantive conosco independente de todos esses equívocos.

Apertando discretamente a mandíbula, Jungkook se odiou por estar tão reduzido à descrença. Ele olhou para Seokjin, sem realmente vê-lo.

– Quer me ver fora da sua equipe? Então me coloque para fora.

– Eu ainda posso fazer isso.

– É, você pode. – ele deu de ombros, indiferente. – Você quer me tirar do seu caminho porque sabe que posso ser um líder melhor do que você, Seokjin. Eu não deveria me sentir surpreendido com essa sua alternativa.

Um pensamento apático veio de repente na cabeça de Seokjin, ele nervosamente sorriu e achatou o queixo.

– De onde tirou essa ideia, detetive?

Jungkook riu sob sua respiração.

– Não foi difícil perceber o quão furioso você ficou quando o Seokmin falou de liderança. – sua voz estava mais grave, cavernosa pelo vento. – Tem medo de perder sua autoridade para mim, um jovem rapaz sem experiência profissional alguma como representante do FBI. Não é isso, senhor? Eu ameaço seu trono?

A ideia de Jungkook parecia quase cômica, se não tivesse ferido agudamente o ego dele de maneira cognoscível, ao ponto de o detetive pegar sua reação inopinadamente.

– Se isso fosse um problema para mim, eu não escolheria você para me substituir. – garantiu ele de modo implacável.

– Oras, admita logo o que todos já sabem. – Jungkook refutou, seu rosto ilegível. – Você é um corrupto, que infligiu a lei para colocar uma inexperiente como encarregada de liderar o caso. Independente de quem você recomendar, essa pessoa não será escolhida. Quer saber o motivo? – ele diminuiu a distância entre eles, ficando cara a cara com Seokjin. – Porque nenhum departamento vai legitimar a indicação de um corrupto. Talvez seja por isso que você esteja tão decidido a me indicar, porque sabe que os superiores pensariam que a pessoa sugerida por você cometeu erros semelhantes. E então eu não seria avaliado como um líder apto para isso, não acha?

Seokjin sorriu, mas não havia humor em seu rosto.

– Sua inteligência me impressiona, Jungkook. O que às vezes é uma pena, porque você se questiona demais sobre minha lealdade. – censurou ele, claramente tentando apelar para sua consciência. – Se está convencido de que minha indicação pode causar prejuízos a sua reputação, então eu não farei mais.

O detetive dobrou as sobrancelhas em inquérito, nem um pouco persuadido com a postura dele.

– Você ameaça tirar o meu emprego e de repente se vê decidido a riscar o meu nome da sua lista de opções?

– Digamos que eu tenho um bom palpite de que você não vai aceitar o meu lugar enquanto essa decisão vier diretamente de mim. – retrucou Seokjin. – Prefiro agir de acordo com suas vontades, afinal, eu ainda desejo que consiga enxergar minhas boas intenções.

Jungkook rastejou as pontas dos dedos pela superfície do queixo, ainda revirado com a súbita mudança de decreto dele. Antes mesmo de poder respondê-lo, uma pequena máquina utilizada para sintonizar os sons locais das redes apitou dentro do suporte tecnológico no interior de um dos furgões.

Ambos penetraram ligeiramente dentro do automóvel, acionando o botão vermelho para aceitar a comunicação.

Senhor? – Yoongi o chamou através do rádio.

Yoongi? Já está em posição?perguntou Seokjin, regulando o minúsculo microfone preso na estrutura técnica.

– Sim, estamos todos em posicionamento. O cassino está cercado. – Seokjin olhou para Jungkook, o vendo imediatamente se preparar para falar com Yoongi.

Me escute – disse o detetive, vestindo sua estratégia mental e ancorando-se no imediato planejamento. – Retire todos os clientes do cassino, mas faça isso em completo silêncio. As câmeras foram bloqueadas, eles não poderão te ver, nem poderão sentir a movimentação do andar de cima se a música continuar tocando. Então eu preciso que você ainda deixe as máquinas de jogos funcionando e não desligue a música. Eles não vão saber que estão dentro.

E o bloqueio? Preciso que me alerte o local exato.

Certo, me espere por perto. Estou descendo. – articulou Jungkook. – Enquanto isso, tire os clientes do cassino com bastante cuidado. Yoongi, isso precisa ser rápido.

Yoongi murmurou um sim antes de desativar a conexão entre eles. Jungkook pestanejou algumas vezes, cônscio de que o tempo estava disparado e não podia se delongar.

– Não vou te impedir se quiser ir. Mas eu irei com você. – Seokjin falou, o vendo acenar sem mais tardança.

Escorregando para fora do furgão, Jungkook rodou para a superfície rasa em companhia de Seokjin e deslocou-se para baixo, seguindo a trilha entre o arvoredo através do vapor da neblina. Enquanto derrapava por cima dos galhos soltos, Jungkook conseguiu alcançar o famoso nome da casa de jogos latejando em vermelho no meio da escassa fumaça de névoa.

Quanto mais perto chegava, mais acessível se tornava a vista daquela distância. Ainda remoto da opulenta casa, Jungkook avistou a imagem dos policiais introduzindo-se dentro do cassino, gesticulando as mãos para que as pessoas se retirassem em fila. Uns mostravam o emblema para quem aparentava estar confuso, enquanto outros arrancavam os clientes de seus assentos e indicavam a porta de saída com o queixo.

No meio do embaçamento do nevoeiro, uma silhueta de pequeno porte cortou o campo de visão de Jungkook. Yoongi estava com as mãos enfiadas entre os braços, oferecendo calor à sua pele, seus passos eram apressados e de sua boca escapava uma oscilante fumaça.

– Já está tudo pronto, senhor. – ele falou quando chegou mais perto. – Os homens da CIA estão nos fundos e atrás das rampas nos acobertando.

– Onde estão os coletes e os rifles? – interrogou Jungkook, completamente determinado. – Vou entrar com vocês.

Yoongi pareceu confuso, ele olhou de soslaio para seu chefe e voltou-se para o seu parceiro.

– O que está dizendo? – ele o segurou fervorosamente pelo ombro. – Por favor, fique e me deixe fazer isso por você, ok? Vou precisar de alguém aqui fora para inspecionar o sistema de vigilância.

– Yoongi-

– Eu dou conta. Apenas faça isso por mim e por sua irmã.

Ele ia dizer alguma coisa quando um carro de aparência maior estancou próximo deles. Lee Seokmin emergiu da fumaça, um equipamento portátil estava entre suas palmas. Seus olhos redondos se agarraram em cada rosto antes de emitir quaisquer palavras.

– Quem está comandando a incursão? – ele perguntou para os três, mas somente Yoongi ergueu o braço a altura do queixo. Ele encontrou seus olhos e um brilho profundo tomou conta de suas pupilas. – Preciso que verifique o mapa interno do lugar antes de pisar lá dentro.

– Conseguiu um mapa interno? – perguntou Seokjin, surpreso.

– Eu estive avaliando a planta desse lugar e até onde isso vai. Pesquisei sobre o engenheiro e entrei em contato com ele. – ele os chamou com um aceno quando situou o instrumento acima do capô do carro, logo os sentindo se aproximarem. – Antigamente isso era uma fábrica, foi construída a mais de vinte anos. Há vários andares, no final de todos eles têm uma passagem subterrânea que leva ao esgoto da cidade. Provavelmente eles fugiram por lá.

– Onde pode estar a Jennie? – perguntou Jungkook, parecendo ignorar toda explicação dele e focar apenas no seu interesse pessoal.

– Nessa parte. – ele apontou para um setor muito abaixo do chão. – Aqui é a ala das celas. É exatamente aqui para onde o Yoongi deve ir.

– Certo. – Yoongi parecia preparado.

– Consegue gravar o caminho? – Seokmin questionou, mostrando-se temeroso enquanto o encarava.

– Minha mente é fotográfica, isso não será um problema para mim. – um sorriso pequeno brotou no rosto do agente da CIA.

– Eu tinha esquecido desse detalhe.

Aproveitando-se do silêncio que se prolongou, Jungkook tossiu para chamar a atenção deles.

– Yoongi só precisará seguir para a ala das celas? Há uma porta com tranca especial, não temos a chave de acesso.

– Então usaremos uma radiação artificial para queimar a fechadura. – Seokmin falou, arrancando reações boquiabertas. – Yoongi, use isto. É um localizador que vai me ajudar a te observar. Tem uma mala dentro do meu carro com a ferramenta que vai perfurar a porta. Pegue e leve com você.

Ele suspendeu uma pequena peça enquanto abeirava-se do corpo à sua frente. Encaixando o acessório no tecido do colete dele, seus olhos subiram de encontro aos dele e seu lábio inferior se enrolou ligeiramente num sorriso.

– Me impressione como sempre fez. – sussurrou Seokmin, o fazendo engolir discretamente.

De repente ele se afastou e Yoongi, ainda entorpecido, tropeçou para trás, cruzando transversalmente para a porta do passageiro, na qual apanhou a maleta e rolou para longe dos outros. Ele agarrou melhor o seu rifle e deslizou para dentro do cassino, onde gesticulou para os demais policiais, ordenando em silêncio para que ocupassem o lugar.

– Seokmin, o que mais você guarda nessas coisas? – perguntou Seokjin, pesquisando dentro da bagageira do carro por cima do vidro.

– Coisas úteis.

Ele içou a porta da bagageira e pegou o primeiro instrumento que erigiu seus olhos naquela direção. Era pequeno e de espessura plástica.

– Isso é um raio X portátil? – Seokjin quis saber, ouvindo um murmúrio positivo em resposta. – Certo, vou usar isto para escanear o interior do espaço e garantir que não tenha ninguém se preparando para atacá-los em alguma parte.

O pequeno aparelho conseguia alcançar uma longitude considerável e interceptar a presença de pessoas no ambiente. Quantos corpos quer que estivessem lá dentro, a engenhosa máquina iria captar. À vista disso, Jungkook pareceu impressionado.

No monitor de Seokmin apareceu um ponto vermelho que se mostrava em deslocamento, ele estava inteiramente conectado aos movimentos de Yoongi ao transpassar por caminhos curvilíneos. Jungkook manobrou para perto, manuseando o olhar na mesma direção que ele.

– Ele é bem habilidoso. – comentou o detetive, alheio, mas sua análise gerou uma reação indivisível por parte do outro.

– Nunca duvidei da capacidade dele. – Seokmin explanou, ainda fitando o minúsculo círculo se movendo.

– Você o conhece bem. Já trabalharam juntos?

Jungkook sabia que a resposta era outra, mas não arriscaria de cara jogar as cartas na mesa. O homem o fitou, observando-o, conscientemente a par das intenções secretas do detetive.

– Você sabe a resposta. – ele disse, indiscretamente.

– Eu nunca o vi tão pálido quando você entrou por aquela porta.

Seokmin riu sob a respiração, mas rapidamente se recompôs, como se uma nuvem de recordações tivesse invadido sua mente naquele momento. Ele parecia prisioneiro da sua própria corrente de pensamentos.

– Ele nunca foi o tipo de pessoa que disfarça bem as emoções. – o homem elucidou por alto. – O que me encanta, na verdade, porque eu consigo vê-lo como um livro aberto.

– Você fala como um homem apaixonado. – Ambos riram, mas por um curto tempo.

O pontinho vermelho estava transitando para a esfera acima dos calabouços, não dava para alcançar a localização dos outros porque o aparelho localizador só detectava a movimentação de Yoongi, entretanto, dava para perceber como eles estavam trabalhando muito rápido, o que indicava que não havia nenhum capanga da máfia pelo caminho.

– Eu pensava que tinha sido, até encontrá-lo novamente hoje.

– Alguém sabia do caso de vocês?

– Ninguém além de nós, mas bom, aparentemente não soubemos esconder de você. – ele confessou de forma admirada.

– Não precisa ser tão esperto para notar. – brincou ele, vendo Seokmin sorrir de forma ampla, voltando instintivamente a olhar para o monitor. Yoongi estava em um território mais fundo.

De repente o sorriso no rosto de Seokmin dissipou e seu equilíbrio vacilou intuitivamente. Jungkook o observou com sobrancelhas erguidas, um embaraço estranho no rosto. Ele estava com o olhar perplexo e carregado de agitação.

– O que houve? – perguntou Jungkook, curiosamente suspeito.

– Esses pontos amarelos. – falou o homem, notando o pingo vermelho chegando mais perto dos sinais amarelos. – Yoongi está se aproximando da armadilha.

– Consegue descobrir o que está nesse espaço? – dessa vez foi Seokjin quem perguntou ao perceber a agitação entre eles, chegando rapidamente por trás.

– O sistema está tentando reconhecer. – explicou Lee Seokmin, esfregando a mão contra a testa. Uma mensagem subitamente marcou a tela, deixando todos em pânico. – São explosivos.

– Se o Yoongi abrir a cela, eles explodem? – Jungkook não desejava que sua pergunta fosse respondida, mas, infelizmente, ela foi.

– Sim.

Eles se entreolharam, exaltados, então Seokjin arrancou o celular do bolso ligeiramente.

– Vou ligar para o esquadrão antibombas. Jungkook, entre em contato com o Yoongi e mande ele se afastar das grades. – o detetive acenou freneticamente e alcançou seus bolsos, mas eles estavam vazios.

– Eu esqueci a merda do meu celular. – sua voz escapou com raiva.

– Use o meu. – Seokmin esticou o dele e o detetive tomou depressa de sua mão.

Uma sensação ruim agarrou o peito de Jungkook, puxando e torcendo. A personificação de uma aperfeiçoada armadilha para acarretar um massacre seria com explosivos, e esse pensamento em momento algum se passou pela cabeça de Jungkook.

A ligação caiu pela segunda vez, ele temia que não pudesse ouvir a voz de Yoongi por trás da linha quando iniciou novamente a chamada. Um pensamento adendo mergulhou em sua cabeça, mas ele o despistou para longe. Para o seu terror, a ligação caiu na caixa postal.

– Os explosivos vão ser ativados quando o Yoongi passar pela cela, ele terá dezoito segundos para sair da boate ou tudo vai pegar fogo. – Seokmin acrescentou quase apavorado, olhando freneticamente para o mecanismo portátil em sua frente. – Levando em conta que a refém está acorrentada e presa à uma máquina de choque, ele não vai conseguir sair a tempo.

– Você tem que desativar essas bombas. – Jungkook disse para ele, piscando em estarrecimento. – Alguma coisa tem que ser feita, precisamos tirar eles de dentro.

– Eu estou tentando me conectar a escuta dele. Mas tem algo me bloqueando e não consigo romper.

– Você não anulou o bloqueio?

– Yoongi fez isso antes de entrar lá, mas parece que há outro perto das celas. – Jungkook colocou a mão contra o rosto, negando para si mesmo aquela situação.

– Os bombeiros já estão vindo. – Seokjin surgiu perto deles, se misturando ao desespero que emanava no ar. – Conseguiu falar com ele?

– Não, por isso eu vou entrar. – decretou Jungkook.

– Você não pode, não vai dar tempo de chegar nele. – Seokmin o alertou apressadamente. – A merda do bloqueio não me deixa conectar a ele e agora eu o perdi de vista. O localizador foi danificado.

– Merda!

Andando de um lado para outro, Jungkook enfiou os longos dedos nos fios do seu cabelo e os apertou em aflição. Ele não conseguia imaginar perdendo Jennie, muito menos Yoongi. Dor, culpa e agitação como gelo caiam em pedaços dentro dele.

– As únicas pessoas lá dentro são os nossos homens e a refém. Se isso explodir, eles vão ter sucesso no plano. – explicou Seokjin, temendo por seu pensamento.

– Chega de ficar aqui parado, eu vou entrar lá dentro. – Jungkook tornou-se alvo de sua decisão. E ele não parecia com vontade de voltar atrás.

Por conta disso, muito apressadamente, ele correu na direção do cassino sem pensar duas vezes, arguto de que a qualquer momento tudo podia desabar. Não bastou chegar na metade do caminho, um fulgor quente sobrechegou com tamanha fúria que acabou planando o detetive para trás

Uma explosão violenta esvoaçou pelo ar, arremessando as máquinas e o teto do cassino para cima, perfurando todas as janelas de vidro. Uma fumaça enegrecida bruxuleou para o alto, causando um apavoramento em Jungkook.

Ainda caído, Jungkook focou à distância para a destruição do fogo, observando os destroços com os olhos arregalados. Ele estava preso na febre da incredulidade, a ausência de sentidos tomando poder sobre sua consciência. Seus olhos estavam abertos, mas aturdidos.

E pela primeira vez, ele ignorou sua conduta inabalável e deixou as lágrimas rolarem de seus olhos, a garganta estava seca por causa das emoções. Ele rastejou-se pelo chão um tanto para longe, não conseguindo admitir para si mesmo que Yoongi e Jennie haviam partido da pior maneira possível.

As piores feridas ardiam dentro de seu peito como papel queimado. Seu coração se encheu de amargura e as lembranças de Yoongi rompeu o pavor.

O sorriso genuíno revelando a mais pura sinceridade e carisma. O olhar surpreso de quem não sabia encarar as piadas de Jungkook tão facilmente. As feições antenadas quando abria seu notebook para investigar determinada informação.

É, Jungkook definitivamente nunca aprenderia a conviver sem isso. Por mais curto que seja seu tempo com Yoongi, ele o sentia como sua segunda metade.

Um par de mãos o segurou e o ajudou a se erguer do chão. Naquele instante, sua parte racional estilhaçou a sensação ilusória que sentia, e ele teve certeza que aquele cenário era assustadoramente real. Ouvir o crepitar das chamas nunca foi tão lancinante.

– Jungkook? – Seokjin o chamou, ainda segurando seu braço.

– Ele está morto? Todo mundo? – ele perguntou descrente, piscando para tirar as poucas lágrimas dos cílios.

Houve um suspiro angustiante saindo pela boca de Seokjin antes de ele finalmente respondê-lo. – Nós tentamos. É tudo o que importa.

Entretanto, Jungkook não prestou atenção nas palavras de conforto dele e sim no barulho macio de passos eclodindo no meio da fumaça. Ainda embriagado pela desesperança, ele cambaleou para frente, na direção do fraco ruído que parecia vir do beco.

– Jungkook, onde está indo? – ele o ignorou.

O terreno oferecia um esconderijo furtivo, visto que os ramos secos das árvores cresciam no solo como um muro folhado. Ele andou para a parte lateral, removeu o revólver da cintura e focalizou para dentro do beco. Por um momento, Jungkook se amaldiçoou por sentir seus braços frouxos e vagamente trêmulos, ainda sob o efeito do impacto que presenciou.

Dava para sentir as lascas de fogo voando pelo ar como folhas ao vento. Uma pilastra desmoronou na frente de Jungkook, o fazendo paralisar no mesmo lugar sem se mover. Ele olhou abaixo, observando a madeira se afogar na brasa.

Ao se recompor, ele passou bem longe da pilastra derretida e entrou no beco. Numa questão de segundos, sua arma escorregou dos dedos como areia e seus olhos se arregalaram imediatamente quando seu olhar encontrou um corpo caído perto do alçapão. Era Yoongi.

Muito rapidamente, ele correu em sua direção, o bastante para se agachar e segurar sua cabeça. Os olhos dele estavam apagados e a pele de seu rosto encontrava-se enegrecida pela fumaça.

– Yoongi? Consegue me ouvir? – sua voz saiu afônica.

Automaticamente, ele começou o trabalhoso processo de respiração boca a boca. Uma mão cobriu as narinas dele e a outra suspendeu delicadamente seu queixo para cima, deixando as vias aéreas mais livres. Jungkook encostou sua boca na dele e empurrou o ar para dentro. Ele repetiu essa técnica cinco vezes, até senti-lo tossir de supetão, expulsando o bolo de fumaça para fora.

Somente aquela reação encheu o peito de Jungkook de alívio. Ele tentou se levantar do chão e recebeu ajuda do detetive, que o deixou sentado em recuperação.

– Você me beijou? – Jungkook não quis rir, mas ele sentia-se tão cheio de alegria que não conteve o sorriso.

– Ou isso, ou te deixar morrer.

– Me lembre de te agradecer depois.

Ele falou, mas outra tosse furiosa o interrompeu. Jungkook agarrou o corpo dele e apoiou seu braço no seu ombro, arrastando-o para longe da casa incendiada.

– Como conseguiu escapar? – ele perguntou baixinho quando já estavam mais adiante. – Pensamos que tinha morrido. Tentamos te avisar sobre os explosivos.

– Eu fui bloqueado. – ele ficou engasgado com as palavras, um feixe de recordação atravessando seus pensamentos. – Quando passei pela ala das celas, a Jennie estava desacordada. Eu pedi que vasculhassem cada canto antes de entrarmos dentro. Foi então que o Mark encontrou os explosivos e ele acabou pisando no cabo de um.

– Isso acionou a bomba?

– Sim, e se ele tirasse o pé, só teríamos alguns segundos para fugir. – ele esclareceu extremamente abalado. – Eu consegui entrar na cela e tirar a Jennie de dentro, mas o Mark quis ficar para nos proteger. Quando todo mundo chegou no porão, eu gritei para ele vir, foi então que não demorou muito e tudo explodiu.

– Onde estão os outros?

– Alguns se salvaram, outros preferiram voltar para ajudar o Mark e acabaram morrendo. A equipe da CIA que estava aqui fora conseguiu resgatar os que passaram na minha frente.

– E onde está a minha irmã?

Yoongi exalou ao lado dele, travando a curva de seu rosto enquanto focava na distante casa queimada.

– Eu consegui tirá-la com um dos policiais, mas não sei se a explosão atingiu ela.

Os olhos de Jungkook se fecharam, as linhas de preocupação pressionavam seus traços. Jennie podia ter se queimado e corrido para alguma região da floresta durante a explosão, ele temia que ela estivesse ferida.

– J-Jungkook – uma fraca voz gemeu de algum lugar. Ele praguejou em meio a inquietude.

– Jennie? Onde você está? – ele olhou ao redor, à procura dela. As extremidades de sua visão foram rapidamente tingidas por um brilho esperançoso. – Jen!

Completamente perturbado, Jungkook espreitou, apreensivo, para cada aresta do beco, o medo se formando como pedaços de gelo em seu estômago. Ele não se perdoaria se a perdesse, jamais iria aceitar que falhou com sua promessa de sempre protegê-la.

Desde o princípio ele soube que seu trabalho iria acarretar riscos e ameaças a quem fosse próximo dele. Ser um federal é aceitar os transtornos e perigos que casos semelhantes a este apresentam. Entretanto, havia feito uma promessa a Jennie de que sempre a manteria longe de seu trabalho, sem torná-la cúmplice de seus casos para não sofrer ameaças.

Mas todo seu esforço foi arremessado para o fundo do mar, dolorosamente em vão.

Uma lenta e magra silhueta se contornou para fora das sombras. Ela cambaleou para o lado, apoiando a mão em uma árvore próxima para equilíbrio. Jungkook a encontrou com seus olhos e seus braços, ligeiramente, voaram para segurá-la quando os joelhos dela cederam para o chão.

– Jungkook? – ela perguntou, sussurrante, sem força na voz. Ele roçou o polegar pelo rosto ensanguentado dela e sorriu frouxo para tranquilizá-la.

– Eu estou aqui. – uma lágrima pingou a ponta do nariz dele. Compaixão tremeu seus olhos. – Ainda não acredito que está viva. Eu não suportaria te perder.

Ela segurou tremulamente seu rosto, inclinando para olhá-lo em seus profundos olhos.

– Você foi o meu herói. Como em todas as vezes que me defendeu.

Inesperadamente, Jennie o abraçou forte, se afundando em seus braços largos e inclinados. A palma dele mergulhou nos longos cabelos desalinhados e a apertou contra seu peito com tanta força que ela conseguia ouvir o martelar do seu coração.

Havia terra subindo nas pernas dela até os joelhos. A blusa estava rasgada na região do tronco, deixando que sangue e poeira maculasse sua pele, e poucas contusões sublinhavam a testa e o canto esquerdo da boca.

– Eles vão pagar por isso, eu te juro. – disse ele, baixinho, sentindo o corpo contra o seu estremecer de frio.

Jungkook suspirou, sua respiração levava de alívio às emoções cruas. A raiva estava começando a voltar com mais impulso, o deixando agarrado à febre ardente dela.

Uma mão tocou delicadamente o ombro de Jungkook e ele acabou suspendendo os olhos naquela direção. Yoongi sorriu sem mostrar os dentes e o acariciou.

– Temos que ir. – murmurou ele para Jungkook. – Os bombeiros acabaram de chegar e não podemos ficar aqui. Temos que nos encontrar com o resto da equipe. Eles provavelmente foram para os furgões, lá tem garrafas de água que vão servir. Sua irmã precisa de um pouco.

Jungkook havia ficado tão preocupado que nem sequer escutou as sirenes dos bombeiros. Então, acenando para a mensagem de Yoongi, ele engoliu a saliva e afastou com muito cuidado a sua irmã, focando protetoramente nos olhos machucados dela.

– Você precisa de cuidados, está muito machucada. Vou te levar para o edifício e cuidar de você, está bem? – ela balançou a cabeça, sentindo-se tonta. Em seguida, Jungkook voltou a encarar o rosto acima. – Muito obrigado por salvá-la, Yoongi.

– Eu teria feito isso de novo por você.

Jungkook ajudou a suspendê-la do chão e houve um grunhido em protesto. Ela parecia sentir extremas dores nas articulações e em toda parte do corpo depois das descargas elétricas.

– Da próxima vez eu não irei poupá-los. – disse Jungkook, sendo enrolado pelo frágil braço de Jennie, que se apoiou nele pelo pescoço. Yoongi franziu a testa.

– O que quer dizer?

Apesar do evidente cansaço em sua voz, Jungkook falou decididamente, sem conter vacilação ou compaixão:

– A ordem agora é para matar.

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