⍟ forty five
Com pegadas relutantes, Jimin cruzou por um corredor com paredes de aço e portas igualmente uniformes. Um gelo caiu como pedra em seu peito logo que uma terrível sensação vibrou partes do seu corpo.
Ele estava sendo guiado para o escritório de Jared na presença de Jungkook. Mesmo que estivesse acompanhado, a metade sensitiva de seu cérebro o alertava do perigo que aquele lugar transmitia. O silêncio engolia a imensa passagem estreita que se anexava à parte superior do prédio.
Jimin não sabia dizer, mas tinha a sensação de que estava andando numa esfera quase isolada do resto, onde qualquer grito se reduzia a um zumbido vazio.
– Que tipo de escritório fica em lugares como esse? – o menino perguntou baixinho, mas seu cochicho correu ao longo do corredor em forma de eco.
– Aqui é o lugar mais sigiloso do prédio. Nada pode ser ouvido do lado de fora. – Jungkook explicou, ganhando o olhar do garoto para a lateral de seu rosto.
Embora Jungkook estivesse ao seu lado, a impressão que Jimin teve é que ele estava particularmente distante. Mesmo que soubesse o motivo, esse pensamento foi desagradável, tão desagradável que sua atenção retornou para os próprios pés.
Percebendo a retenção de sua compostura, Jungkook desejou abraçá-lo, mas a área em que estava não o permitia fazer. Câmeras de segurança os vigiavam à distância, condenando qualquer ação que assegurasse as suspeitas de Jared.
– Vai ficar tudo bem. – a voz do detetive murmurou, seu tom leve e macio. Jimin pareceu terrivelmente ansioso. – Você só precisa fazer o que combinamos.
– E se eu falhar? – Jimin mordeu o lábio em nervoso, demonstrando ainda mais preocupação quando percebeu um feixe de luz áureo deslizar por baixo de uma porta.
– Tente se lembrar do plano. – eles pararam a dois metros de distância da entrada e Jungkook fitou o relógio no pulso para disfarçar. – Independente das perguntas, reaja naturalmente e tente não olhar para os lados, nem restringir os movimentos das mãos. Fique atento ao rosto dele e veja se ele sorri para alguma resposta sua, se isso acontecer é porque algo o chamou atenção.
Após um suspiro arguto de entendimento, Jimin acenou para ele e aguardou que Jungkook abrisse a porta. Ele não estava nem um pouco confiante sobre esse plano, uma vez que Jungkook tinha habilidade para mentir, enquanto ele só carregava as poucas dicas para executar uma boa mentira.
Seu corpo ligeiramente empacou quando a tranca foi aberta. Uma grande sala circular refletia à sua frente, velas compridas estavam apoiadas nos castiçais, dando à cena um brilho dourado embotado. Jared ergueu o olhar quando a porta de metal pesado rangeu para dentro.
Ele estava parcialmente sentado sobre a escrivaninha, havia uma revista entre suas mãos, que logo foi fechada e colocada no meio de outras. Jimin, como se ficasse subitamente consciente, pestanejou em recomposição.
– Você deve ser o Jimin. – disse Jared, saltando elegantemente da mesa para cumprimentá-lo. – Entre e sinta-se à vontade.
O garoto ameaçou entrar, mas o braço do detetive cuidadosamente atravessou seu caminho, o impedindo. Jimin olhou para ele, confuso, uma linha aparecendo entre suas sobrancelhas. Jared fez o mesmo, parecendo não entender sua reação imediata.
– Vou ficar na sala durante o interrogatório. – ele disse, sua expressão enrijecendo.
– Negativo. – Jared recusou. – Jimin é crescido e saberá responder todas as minhas perguntas. Ele não precisa de um mentor para isso. Espere lá fora, detetive.
Jimin conseguiu ouvir o som áspero da respiração de Jungkook ao seu lado, não parecendo nada contente com aquela decisão. O garoto suspeitava que os sentidos de Jungkook pudessem notar as ínfimas intenções desagradáveis nos outros.
Então, Jimin o encarou por um momento sem dizer nada, depois suas palavras foram enunciadas com clareza.
– Senhor, eu vou ficar bem. – Jungkook encontrou seus olhos, seu rosto quase sem expressão, agora completamente suavizado.
Por um instante, Jungkook imaginou se levá-lo até o escritório fora uma alternativa inteligente. Jimin não tinha a obrigação de responder ao interrogatório se, por hipótese, as perguntas não fossem sobre o caso em específico.
Entretanto, ele sabia perfeitamente que o Inspetor tinha outras intenções guardadas.
Ainda sem dizer nada, o detetive afastou seu braço de Jimin e retornou sua atenção para Jared, pescando um sorriso tolerante sendo levemente lançado em sua direção. O silêncio recaiu sobre suas palavras como pedra e isso foi o suficiente para mostrar sua conformidade.
– Está bem, vou esperá-lo lá fora. – O olhar que ele atirou para Jared o dizia: "Eu ainda estarei por aqui".
O Inspetor fez um suave gesto para o garoto, chamando-o para entrar na sala. Jimin acabou dando um passo na direção dele, mas a princípio seu corpo se recusou a fazer. Jungkook olhou para ambos uma última vez antes de puxar o pesado metal de encontro à trava e desaparecer.
Quando a porta se fechou às suas costas e o ambiente tornou-se razoavelmente escuro, exceto pelos revérberos das velas, Jimin sentiu um gosto amargo subir a sua garganta.
– Poderia acender as luzes, senhor? – ele perguntou para Jared, levando um certo tempo para criar coragem e pedi-lo.
– É claro.
A sombra dele se lançou para a parede lateral e seu dedo topou no interruptor, em menos de dois segundos a claridade esbranquiçada caiu sobre as extremidades escuras e o teto cônico brilhou acima. O chão de madeira polida estava incrustado com pedaços de mármore.
– Assim está mais adequado? – Jimin acenou com uma certa relutância. – Por favor, Jimin, queira se sentar.
Ele o viu apontar para uma das cadeiras acolchoadas com bordas douradas, seu acostamento era longo e parecia confortável. No meio delas, havia uma mesa circular que ficava distante da qual Jared estava sentado inicialmente.
Tentando superar seu medo e vertigem, Jimin engoliu contra a espessura densa em sua garganta e andou até o assento indicado, onde sentou-se de forma hesitante. O homem deslocou-se com cortesia na direção da outra poltrona, no qual ficava de frente para o garoto.
Ele alinhou o cinto de seu longo casaco e cruzou as pernas, parecendo pacientemente confiante. Seus olhos azuis brilharam quando se esbarraram no menino, mas ele não disse nada.
– Bom, Jimin, certamente você já deve estar informado sobre o interrogatório. – começou Jared, assoprando as palavras de modo calmo. – Acredito que o detetive Jungkook teve tempo para isso.
Jimin tentou interpretar essa última parte de várias maneiras, mas optou por ficar calado e não demonstrar dúvida. Então, ele somente acenou com uma reduzida relutância.
– Nós, superiores, demoramos muito para falar com você após o seu resgate – Ele pausou e Jimin esperou em silêncio enquanto ele parecia decidir-se de algo. – Bom, eu estive conversando com o detetive Jungkook sobre uma supervisão psicológica para você, e então decidi que seria mais correto perguntar pessoalmente.
O garoto pareceu estranhamente confuso de repente. Não era bem esse tipo de pergunta que ele esperava ouvir. Seu rosto se tornou um deserto pálido e parcialmente inseguro, Jared interceptou sua ligeira reação.
– Está perguntando se eu preciso de acompanhamento psicológico? – Jared balançou a cabeça em confirmação. – E-Eu acho que ainda não estou pronto para isso.
– Tem algum motivo em específico?
As linhas irregulares no rosto do homem estavam relaxadas enquanto os batimentos do coração de Jimin não se encontravam da mesma forma. Ele friccionou as mãos em nervosismo, porém tentou ser o mais breve possível.
– Na verdade, não, senhor, eu apenas não consigo confiar em outras pessoas. – sua voz veio baixa, quase vazia.
– Outras pessoas. – Jared repetiu, arrancando algo dessas duas palavras. – Você confia em alguém aqui dentro?
O estômago de Jimin pareceu subitamente pesado. Seu chiado de surpresa se transformou numa curta tosse enquanto continuava a olhar para o rosto meticuloso em sua frente. O Inspetor, por outro lado, carregava uma expressão equilibrada e imparcial.
– Sim, senhor. – respondeu.
– Quem?
O menino se esforçou para não desviar as vistas para outra direção como Jungkook o havia ensinado. Criando coragem para falar, ele murmurou:
– O detetive Jungkook, senhor.
Inicialmente, Jimin suspeitou que o homem já estivesse aguardando por essa resposta, dado que sua expressão não se modificou, ela permaneceu neutra e vagamente calculista. Portanto, a voz dele preencheu a sala.
– Você confia muito nele? – Jimin resmungou afirmativamente, seu rosto se franzindo de imediato. – Por quê?
– Ele foi o único que me tirou daquele lugar, senhor. – havia uma espécie de gratidão derramando-se por suas palavras. – Diferente do seu pessoal, o detetive Jungkook cumpriu com a promessa dele e me resgatou.
– Ele carrega esse mérito nas costas. É um bom investigador.
– Eu diria que ele é o melhor. – Jimin respondeu abruptamente. – O que ele conseguiu até hoje faz dele o maior desse lugar.
Mesmo não sendo especialista em leitura facial, Jimin percebeu que o deixou momentaneamente impressionado. Talvez elogiar Jungkook fosse uma boa opção para quaisquer que fossem as futuras ordens que Jared estivesse cogitando acerca do detetive.
– A qual promessa você se refere quando diz que o detetive cumpriu? – seu tom era macio e cuidadoso, o suficiente para o menino não se sentir pressionado.
– O Jungkook – Ele imediatamente interrompeu a frase e se amaldiçoou, logo reformulando-a. – O detetive Jungkook me encontrou no desfile e prometeu voltar para me resgatar. Depois disso, eu comecei a imaginá-lo todos os dias porque não o conhecia e mesmo assim quis acreditar que alguém poderia me tirar de lá. Acho mais do que justo depositar toda minha confiança em alguém que me salvou.
Os olhos de Jared ganharam um tom artificial de azul.
– Alguém viu vocês juntos no desfile?
– Não, senhor. – Jimin lembrou-se com cenas vívidas desse dia. – E se não fosse por ele, provavelmente eu estaria morto hoje.
Jared parecia muito controlado, mas deixou um tiquinho de enfado correr ao longo do seu rosto. Aparentemente, ele já presumia essa gratidão excessiva.
– Você se sente muito seguro ao lado dele. Isso é bom. – Jimin teve uma leve impressão de que não era exatamente isso que ele gostaria de dizer. – Você sabe a diferença entre apego e afeto, Jimin?
– Sim, senhor.
– E qual dos dois você sente pelo detetive Jungkook?
O menino quase engasgou. Seus olhos deram um fraco solavanco e ele acabou piscando para afastar o impacto da pergunta.
– O-O que quer dizer com isso?
– Por favor, não me leve a mal. Só estou fazendo o meu trabalho, caso se sinta desconfortável com alguma pergunta, posso refazê-la.
A boca de Jimin se contraiu involuntariamente e seu olhar ficou perturbado, ele não estava gostando nem um pouco do rumo que a entrevista estava levando. O ar em seus pulmões parecia sair numa onda sibilante quando sua voz tomou impulso.
– Eu sinto apego por ele, senhor. – a verdade é que ele sentia os dois.
Jared estava olhando entretido para Jimin e isso o fez se afundar contra a cadeira. Não foi medo que ele sentiu, mas, sim, um lampejo flamejante de terror pela sua própria resposta. Definitivamente, o homem conseguiu alguma coisa nela.
O precipício se abriu diante de Jimin e ele podia facilmente sentir a longa queda na escuridão.
– Vejamos, Jimin, isso é compreensível já que foi ele quem te resgatou e jurou protegê-lo. – Sua voz era pacificadora. – Nós sempre tendemos a buscar por segurança independente de quem seja a pessoa a nos oferecer.
– E-Eu não sei onde o senhor quer chegar com isso.
– Recentemente, você se mudou para a casa de Seokjin, mas você me afirmou agora a pouco que não confia em ninguém além do detetive Jungkook. Eu gostaria de saber por qual razão aceitou ir para a residência de alguém que você pouco confia?
Apesar de sua garganta queimar, Jimin engoliu em seco e virou cúmplice do silêncio por um instante. A resposta era óbvia, mas ele temia verbalizá-la.
Enquanto isso, o Inspetor soava de modo implacável, sem qualquer indício de pressa. Ele o observou encarar as próprias mãos e pigarrear em seguida.
– Eu tive contato com uma informação do caso que me envolvia, na hora eu não pensei direito e decidi ir embora. – Ele fez um breve intervalo, como se a lembrança o ferisse. – A verdade é que eu nunca quis ir, mas tive medo de encontrar respostas que me deixassem triste.
– Que tipo de informação você leu?
– Sobre meu pai. – Jared se mostrou momentaneamente interessado. – Estavam investigando coisas sobre ele e a empresa. Eu me senti péssimo e pedi para o detetive Jungkook me tirar de lá.
– Eles simplesmente deixaram as evidências espalhadas por aí?
Muito ligeiramente, a garganta do menino se trancou, o deixando um tanto apavorado com a possibilidade de ter ido longe demais.
– Não, senhor. A culpa foi toda minha. – O olhar do homem ficou gelado, distante, insípido como a lâmina de uma faca e ao mesmo tempo macio como uma pluma. – Eu mexi nas coisas confidenciais, mas eu não devia.
– Você compreende que isso é errado, certo?
– Sim, senhor, por isso não me envolvo mais, só quando precisam me entrevistar. – Jared acenou em compreensão, mas seu gesto pareceu estranho aos olhos do menino. – Eu vou receber alguma advertência por isso?
Jared riu fracamente.
– Você, não.
Os músculos do corpo de Jimin congelaram e ele perdeu completamente a cor de seu rosto. O que ele quis dizer com isso? Não podia negar que as interpretações criadas na sua mente o fizeram estremecer.
– Você não acha que esse lugar te traz muitos gatilhos, Jimin? – Ele quis saber, mudando de assunto. O garoto não soube responder de cara.
Ele vasculhou as cenas dos últimos dias, ou melhor, dos últimos meses e tentou reconhecer o estopim de suas crises, mas sua lista mental parecia se estender cada vez mais.
– Você consegue ao menos identificar os gatilhos situacionais? – prosseguiu o Inspetor após vê-lo em silêncio.
– Acho que sim.
– E como faz para resolvê-los?
– Senhor, se não se importa, eu prefiro não falar sobre isso. – ele não o encarou nos olhos. O momento se esticou, mais e mais, um silêncio quase interminável até Jimin recuperar a voz. – Pensei que não fosse haver perguntas sobre o meu estado.
– Você está certo, perdoe-me. – Seu tom de voz encontrava-se surpreendentemente calmo. – Eu não sou a pessoa ideal para lhe dirigir esse tipo de pergunta. Eu não quis deixá-lo retraído.
Apesar de mal tê-lo conhecido, Jimin sentiu uma linha de contrição na voz dele, mostrando-se arrependido pela sua interferência. O menino ficou um pouco mais reconfortante após sua lamentação.
– Bom, se precisar de um acompanhamento psicológico, saiba que estarei à disposição para fornecê-lo, está bem? – disse ele, tão suave quanto seus olhos. – Não hesite se precisar de ajuda, Jimin, o nosso trabalho é cuidar de você.
– Obrigado, senhor. – Ele mostrou os dentes em agradecimento, sem saber exatamente como reagir.
– O nosso interrogatório terminou. – Jared sorriu com gentileza. – Você poderia pedir para o detetive entrar? Eu quero dar uma palavrinha com ele.
Jimin quase enrugou a testa com o aviso dele, afinal de contas, pensou que a entrevista duraria em média uma hora, mas não haviam se passado nem vinte minutos. E o mais esquisito é que as perguntas não foram apenas sobre ele e Jungkook como pensou inicialmente.
No final, ele apenas concordou, fazendo um sinal com a cabeça. Então, depois de abandonar a cadeira, Jimin sentiu uma nesga de ar eriçar os pelos de sua nuca quando se virou de costas para ele e lentamente caminhou na direção da porta.
A sensação que se passou por cada membro de seu corpo era semelhante à mesma que ele teve durante uma noite com Derek, onde se sentiu observado a cada centímetro de distância.
Entretanto, quando espiou o homem disfarçadamente por cima do ombro, o enxergou distraído com o celular. Essa imagem confortou sua mente e tranquilizou as batidas erráticas de seu coração.
Quando alcançou a maçaneta e puxou a porta num rangido, suas vistas correram ao longo do corredor e aterrissaram em Jungkook. Ele estava com as costas apoiadas em uma das paredes de aço, a cabeça igualmente inclinada. Ao perceber a presença de Jimin, seu corpo automaticamente se alinhou em pé.
– Ele quer te ver. – O menino falou, olhando de relance para Jared antes de dar um passo precipitado para perto do outro e sussurrar. – Ele perguntou bem pouco sobre nós dois. Não acho que ele esteja interessado em saber sobre a gente.
– Isso é muito estranho.
O detetive lançou um olhar confuso para o homem por cima da cabeça de Jimin, o enxergando tirar os azuis índigos do celular para focar em sua direção.
– Vou para cima. – articulou Jimin, reduzindo gravemente o tom de sua voz em seguida. – Biblioteca?
Sua pergunta foi clara e sem rodeios.
Ele estava de costas para o homem, então, certamente, seus lábios não podiam ser lidos. Jungkook desviou sua atenção para o garoto e acenou uma única vez. Mesmo que seu rosto fosse um retrato sério, Jimin conseguiu vislumbrar a sombra de seu olhar lentamente sorrindo.
Ele viu um lampejo tolerante atravessar o rosto do menino um segundo antes de ele girar no sentido do corredor. Antes que pudesse vê-lo desaparecer nos confins da passagem, Jungkook invadiu o escritório não muito satisfeito.
Seus passos ecoaram rígidos no interior da sala enquanto a porta se fechava às suas costas. Jungkook parou e não lhe dirigiu uma palavra, apenas aguardou que a primeira iniciativa partisse dele. E foi o que aconteceu.
Jared deslizou para fora da cadeira e seguiu para a outra mesa, agarrando imediatamente um pedaço de folha. Mesmo com o duro silêncio enquadrando o ambiente, Jungkook continuou inexpressivo e sem demonstrar urgência.
– Eu estive avaliando seu teste. – começou ele, circulando a mesa. Jungkook seguiu seus passos com os olhos. – E aqui mostra que você mentiu duas vezes. A primeira, quando você afirma que não está fazendo nada de errado, e a segunda quando questiono o seu envolvimento com o garoto.
– E?
– E a conclusão que obtive é que você está muito envolvido com Park Jimin e não podemos tolerar esse tipo de relação com um caso ainda em aberto. – ele sentou-se elegantemente na quina da mesa muito despreocupado. – Aliás, quando falo de envolvimento, estou me referindo a estarem juntos.
Jungkook fez um chiado irritado e riu sem humor.
– Essa sua conclusão partiu de uma máquina que não é utilizada em julgamentos por não ser totalmente confiável?
– Como também da minha experiência com mentiras, detetive. – rebateu ele, repentinamente sério. – Sou especialista nessa área, e para ser honesto, eu estaria jogando quinze anos de conhecimento no lixo se você estivesse certo.
– Para ser sincero, não sei onde você quer chegar.
– Não ficou claro ainda? – sua expressão tornou-se intransigente e feroz. – Você deixará o caso imediatamente, detetive Jungkook.
Qualquer traço de cor se apagou do rosto de Jungkook, por um momento ele desacreditou do que ouviu. Um olhar surpreso, quase irado, contorceu as suas feições.
– Não pode estar falando sério. – acrescentou, seu tom educado arrastando-se para algo mais truculento.
– Em algum momento eu demonstrei que isso aqui é uma brincadeira?
Afastando-se, o detetive esfregou o canto dos olhos e balançou a cabeça para os lados, negando para si mesmo aquela situação. De todas as punições detestáveis que poderia levar, essa, definitivamente, era a pior.
– Você não pode me tirar do caso por causa do que acredita que sabe! – ele parecia incrédulo, mas nem de longe sua alegação pareceu atingi-lo. – Eu tenho um compromisso aqui dentro e não vai ser você o homem a romper isso.
– Não tente bancar o durão agora, detetive, essa postura não dá certo comigo. – seu olhar azul-escuro o fitou como cacos de uma garrafa de vidro. – A decisão é clara: você vai deixar o caso hoje. Não permitimos esse tipo de romance dentro do departamento.
Uma hostilidade crescente e tão concentrada quanto ácido pareceu aumentar em Jungkook. Ele não se conteve e deixou outro espasmo de raiva endurecer as linhas de sua mandíbula.
– Então você quer me ver fora e deixar o caso empoeirando enquanto eles tentam preparar uma espécie de fuga embaixo dos seus narizes? – Jungkook perguntou com um escárnio duro, vendo as sobrancelhas de Jared saltarem para cima.
– Tenho total convicção de que você não é o único bom investigador que temos.
– Eu nunca disse que sou. – dois pontos brilhantes de cor iluminaram as maçãs do rosto de Jungkook. – Mas enquanto o seu pessoal vive de estratégia, eu me alimento de ações. O protocolo que os superiores tanto exigem respeito não passou de um empecilho nesse caso. Tudo o que vocês conseguiram foi cinco anos de atraso.
– Se eu fosse você não estaria tão certo disso. – o desagrado era claro em sua voz.
– Eu encontrei respostas que vocês passaram anos tentando achar. – havia uma estranheza sutil nas suas palavras. – Uma única conversa foi o suficiente para eu descobrir o lugar onde eles se escondiam, enquanto vocês demoraram anos para sequer saber a agência de modelos ligada a isso.
– Posso parabenizá-lo um milhão de vezes pela sua capacidade estratégica, detetive, mas isso não anula o seu descuido a respeito do menino. – por mais que houvesse gentileza em sua expressão, Jungkook não estava convencido dela. – Você errou, tem que pagar por isso. Assim como qualquer outro bom profissional.
Dessa vez, o detetive passou as mãos por cima do cabelo escuro, tentando fuçar seus pensamentos em busca de uma saída. Ele virou-se de costas para Jared e andou alguns passos para lá e para cá, mas nada brotava.
– Sei que pode estar decepcionado com a minha decisão, mas estou apenas seguindo a lei do departamento. – explicou Jared, soando como um pedido de desculpas. Jungkook parou e o encarou enfurecido à distância.
– Está cometendo um grande erro. – ele o alertou, mas não soou como uma ameaça.
– São consequências de seus atos, detetive, reflita sobre isso.
– Você nem sequer tem provas do que está falando. – Jungkook sabia que estava enganado, mas ele ainda acreditava que podia reverter isso.
– Tenho provas suficientes para saber que vocês dois estão juntos. – disse ele, vendo o detetive engolir uma densa camada de saliva como um cão raivoso. – Por favor, me entregue o distintivo e a arma.
Ele esticou a mão subitamente, mas Jungkook não encarou seu gesto. Na verdade, a risada que saiu de seus lábios foi um ruído sem qualquer traço de humor e completamente descrente.
– É impressionante como você tenta resolver as coisas. Acha que me tirar do caso resolve os seus problemas? – Jared não pareceu ofendido, ele somente suspirou e comprimiu os lábios.
– Meu trabalho é corrigir os problemas desse departamento. O seu é um deles. – ele fez um sinal com o queixo para a própria mão. – Eu não vou pedir de novo, detetive.
Jungkook retraiu um movimento duro de sua mandíbula e piscou para afastar a irritação. Não tinha volta, ele estava fora do caso por definitivo.
Sua mão desembolsou o distintivo do casaco, o brilho do metal rutilando uma luz dourada, e a arma foi arrancada do cós de sua calça num movimento brusco. Poupando sutileza, Jungkook avançou na direção dele e colocou os instrumentos com força sobre a mesa.
Jared recolheu a mão quando o viu se afastar, dava para sentir a amargura no olhar de Jungkook, resplandecendo como uma pedra enfeitiçada. Ele não se importou com a despedida, somente virou-se de costas e seguiu para a porta. Entretanto, a voz de Jared quebrou o silêncio como também os seus passos.
– Voltará para os Estados Unidos ainda hoje. – disse, o fazendo parar abruptamente. – Está dispensado por um tempo, depois será inserido em algum caso circunstancial quando retornar.
Jungkook girou de frente para ele, seu rosto era um rosnado seco.
– Quer que eu volte para o país também? – ele não parecia confortável com essa súbita decisão.
– É a coisa mais correta a se fazer.
– Não. Na verdade, você está fazendo isso para me afastar do menino. – ele disse suavemente, mas de forma séria. – Saiba que se eu voltar para os Estados Unidos, ele voltará comigo. E não venha me dizer que há alguma norma no protocolo que proíba a viagem da vítima com o responsável por ela, afinal de contas, eu o resgatei, portanto sou o único que tem direito de autorizar essa viagem.
– Você está certo em partes. – Jared deu um passo à frente como se desafiasse-o. – Acontece, detetive, que você não está mais atuando no caso, sendo assim deixa de ser automaticamente o responsável por ele. Jimin agora é responsabilidade do FBI, não sua.
Qualquer traço de delicadeza desvaneceu do rosto de Jungkook e as linhas em torno de sua boca se espremeram. Antes que ele pudesse retrucar em sua defesa, alguém invadiu a porta.
– O que está acontecendo aqui? – era a voz de Seokjin e ele parecia estressado.
Jared revirou os olhos e deu a volta pela mesa, seus músculos das costas subiram com uma respiração irritadiça. Jungkook, por outro lado, recompôs a postura e olhou para o diretor, este que revezava o olhar entre os dois.
– Está tudo sob controle, Seokjin. Já pode se retirar. – o Inspetor disse meio indiferente enquanto arrumava as folhas dispersas pela escrivaninha.
– Não, não. – recusou com as sobrancelhas franzidas. – Você está interrompendo uma investigação e ainda por cima intimando um dos meus detetives. O que pensa que está fazendo, Jared?
Finalmente o homem o encarou à distância, seu olhar parecia astuto e exasperado.
– O detetive Jungkook está fora do caso. Vou colocar outro investigador no seu lugar. – as rugas na testa de Seokjin se acentuaram e um misto de incredulidade cruzou seu rosto.
Ele olhou para Jungkook de soslaio, como se para conferir a sua reação diante do peso daquela ordem, mas ele se encontrava igualmente inconformado.
– Que história é essa? – o diretor perguntou para ter mais certeza e observou um sorriso nascer entre a barba de Jared.
– Deixe-me te explicar. – uma espécie de afronta derramou-se por suas palavras. – O detetive Jungkook passou pelo teste do polígrafo e eu descobri que ele está se envolvendo romanticamente com a vítima. Nós desaprovamos esse tipo de atitude, por isso estou tomando uma medida mais severa.
Seokjin ficou surpreso, seu olhar correu para Jungkook com total incompreensão e tentou achar algum sinal que confirmasse as suspeitas de Jared, mas tudo o que ele viu foi um rosto neutro e sem resistência.
– Isso é verdade, Jungkook? – perguntou, ligeiramente ganhando seus olhos.
– Se eu disser que não, você vai acreditar em mim ou em um membro dos superiores? – falou com descaso, uma leve arrogância escondida sob seu tom.
– É claro que é verdade! – exclamou Jared, dessa vez sua expressão era tão rígida quanto pedra. – Os dois ficam juntos embaixo do seu nariz e você nem desconfia. Um diretor como você não devia deixar coisas desse tipo acontecer dentro do distrito.
– Acho que meu tempo aqui esgotou. Então se me permitem, tenho mais o que fazer. – Jungkook falou sem paciência, começando a andar até a saída, mas o braço de Seokjin trancou sua passagem.
– Você fica. – sua voz era autoritária, porém gentil. Em seguida, Seokjin retornou o olhar para o superior. – Tem uma coisa que aparentemente você se esqueceu de anotar. Eu ainda sou o diretor desse departamento, e até o presente momento não recebi nenhum documento solicitando que eu me retire do cargo. Portanto, você não pode decidir algo sem a minha permissão.
Os ombros de Jared enrijeceram, quase arrebatado, e então ele se calou. Percebendo o efeito de suas palavras, Seokjin deu um passo despreocupado para perto.
– Enquanto os superiores não enviarem um registro de afastamento, eu continuarei monitorando essa equipe. Então, Jared, economize sua saliva e providencie, antes de tudo, uma nota de demissão para que assim você consiga ter voz aqui dentro.
– Está dizendo que vai deixá-lo sair ileso? – ele pareceu absurdamente calmo aos olhos de Jungkook, embora as sombras de seu rosto estivessem endurecidas. – Você sabe o quanto isso vai pesar na sua punição, não sabe, Seokjin?
– Eu não me importo. – e ele realmente não demonstrou se importar. – O detetive Jungkook continua no caso. E sim, eu estou anulando a sua ordem, mesmo que ela não tenha sido diretamente apresentada para mim.
Jungkook não era o tipo de homem que era pego de surpresa com frequência, entretanto, naquele instante, seus olhos manifestaram um leve indício de choque naquele momento.
O Inspetor estava mais inconformado do que demonstrava. Pela primeira vez durante o longo tempo que estavam presos naquela sala, Jared não teve uma resposta pronta. Não existiam razões para refutar o irrefutável, Seokjin havia usado um motivo justo para silenciá-lo.
Ele era o tipo de homem que reconhecia os próprios erros e aguardava calmamente a chegada da penalidade. Chegava a ser esquisito vê-lo tão imperturbado com o seu futuro nada promissor.
– Se não se importa, eu gostaria de ter um momento a sós com o detetive. – pediu Seokjin, não havia mais tanta gentileza em sua voz. Seu terno cinza e bem arrumado chegava a brilhar.
Depois de enfrentar os dois rostos à sua frente, Jared terminou de empilhar as pastas e as inseriu dentro de uma maleta de couro, não demorou muito e ele já estava prontamente endireitado. Seus olhos se demoraram em Jungkook antes de se moverem para Seokjin.
– Depois teremos uma conversa. – disse ele com uma indiferença seca na voz. Seokjin apenas concordou.
No momento seguinte, Jared desviou-se para longe e cruzou entre o largo espaço no meio deles. As dobradiças da porta gemeram e então o ruído forte do aço se fechando ecoou através da sala. Eles estavam sozinhos.
Seokjin soltou um fôlego como se tivesse expulsado uma tonelada de tensão das costas e caminhou lentamente à escrivaninha. Jungkook continuou com os olhos amarrados nele, decidido a desfazer o silêncio.
– Por que você fez isso? – Ainda imóvel no mesmo lugar, Jungkook perguntou.
Inicialmente, ele não obteve resposta, mas em seguida Seokjin devolveu-lhe um olhar imaculado. À distância, Jungkook conseguia perceber que não havia cobiça, tampouco intenções prejudiciais no rosto dele.
– Eu não preciso exatamente de um motivo para achar a atitude dele errada. – disse ele sem grosseria, olhando fixamente para Jungkook. – Eu o conheço há alguns anos, ele sempre foi esforçado e muito inteligente. Mas, independente de ele ter poder sobre os erros que acontecem no setor interno, eu posso proibi-lo temporariamente de prosseguir com isso, caso eu perceba que está afetando o andamento de algum caso.
– Pelo jeito ele está determinado a conseguir a sua retirada e a minha. – Jungkook fez um gesto com as mãos, referindo-se ao modo como ele deixou o escritório.
– Eu não tenho dúvida disso. – eles ficaram momentaneamente em silêncio, então Seokjin optou por prosseguir. – O que ele disse sobre você é verdade?
Jungkook orientou o olhar do rosto dele para o outro lado, havia um crescente incômodo subindo à superfície de seus olhos. Ele podia simplesmente dizer não, mas uma parte sua se recusou a fazer.
– Jungkook, eu não estou aqui para julgá-lo. – continuou Seokjin. – Mas ele tem razão quando diz que é minha função resolver isso e não ele.
Ele o encarava inquisitivamente, esperando um pronunciamento que demorou a vir. Jungkook ponderou por um longo tempo, esfregando seus cabelos para tentar fugir daquela cobrança. Ele não era tolo e sabia que Seokjin estava consciente da verdadeira resposta, mas que esperava ouvir de seus próprios lábios.
Ele sentia como se estivesse encurralado entre duas paredes estreitas, sem saída e sem alternativa.
– Acabou acontecendo. – revelou de imediato, evitando enfrentá-lo nos olhos. Seokjin não expressou surpresa.
– Onde aconteceu?
O diretor pôde ver um movimento brusco do tórax dele enquanto ele respirava. Seokjin nunca o tinha visto assim, com uma certa fragilidade andando sob as linhas imperturbáveis de seu rosto.
– Em um motel. – ele finalmente o encarou à distância, completamente consciente das consequências. Talvez fosse imprudente, ele sabia, mas estava sentindo-se engasgado. – Nós tivemos que dormir lá porque as estradas estavam congestionadas, mas ficamos em camas separadas. O resto você deve saber.
Seu chefe ficou ligeiramente pensativo, mas essa expressão derreteu-se logo. Ele sentou-se numa poltrona atrás da escrivaninha meio despreocupado, no entanto havia uma espécie mínima de espanto pela declaração.
– Você gosta dele? – Seokjin quis saber, sua cabeça inclinando-se curiosamente para o lado.
– Mais do que eu deveria. – o peso de sua resposta fez Seokjin limpar uma gota translúcida de suor com seu lenço imaculado. – E ele também sente o mesmo.
Uma leve contração pareceu se formar no canto da boca do diretor. Ele limpou a testa com o lenço e o guardou dentro do bolso. Chegava a ser nítido o fardo da responsabilidade que ele começava a sentir diante do assunto.
– Vocês apenas se beijaram ou rolou mais alguma coisa? – pela reação de Jungkook, ele concluiu que a primeira opção estava correta.
– Foi apenas um beijo, e antes que você diga qualquer coisa, quero que saiba que aceito todas as punições. – assumiu o detetive, soando sincero com as palavras. – Mas eu te peço para que não me afaste dele. O Jimin ainda está vulnerável e eu sou a única pessoa aqui dentro que ele confia.
– E por qual motivo eu faria isso? – Jungkook ficou parcialmente quieto enquanto o avaliava em silêncio. – Eu vejo o quanto ele se sente protegido com você, depois de todas as coisas que você fez por ele, é mais do que compreensível.
– Então – começou Jungkook, abrindo os braços. – diga qual é a sua punição.
Inclinando-se para frente, Seokjin deixou a cadeira e continuou olhando diretamente para ele. Pior do que a sensação de ter aberto o jogo, era saber que a pessoa para quem falara era o homem que ele pouco confiava.
Mas talvez, só talvez, sua crença a respeito disso pudesse mudar.
– Esqueça as punições, Jungkook. – o detetive foi pego desprevenido. – Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que nós não podemos mandar no nosso coração. Eu sei mais do que ninguém o quanto a paixão pode ser um perigo. Por isso estou passando um corretivo nesse assunto.
Jungkook sabia exatamente a quem ele estava atribuindo. Por conta disso, quis perguntar.
– Está se referindo a Rose?
– Sim. – Jungkook viu um remorso pesado atravessar os olhos dele. Por mais que se mostrasse implacável, ainda existia o gosto da culpa o recordando de suas falhas. – Eu reconheço a minha estupidez de colocá-la aqui dentro. Isso feriu o caso e principalmente a mim, esse é o meu preço por gostar dela.
Ele entrelaçou as próprias mãos assim que se apoiou na mesa, elas pareciam pálidas sob a luz que vazava das lâmpadas acima. Logo Jungkook deduziu que ele estava pensando insistentemente sobre esse assunto a muitos dias.
– Ela não te merece. – de repente Jungkook se pegou falando, como se as palavras simplesmente tivessem escapado de sua garganta.
Seokjin sorriu sem humor para ele, igualmente revelando sua fragilidade.
– Ela é um pesadelo do passado, apenas. – percebendo que estava expondo-se demais, Seokjin se recompôs e ajeitou a postura. – Mas voltando para você, não precisa se preocupar com essa situação, eu vou conversar com o Jared e garantir que esse assunto fique enterrado até o caso terminar.
– Eu nem sei como-
– Não me agradeça. – ele recusou com antecedência. – Eu já fui jovem como você, Jungkook. Sua habilidade como investigador me impressiona, me arrisco a dizer que você foi o melhor detetive que pisou aqui. Não quero ver a sua carreira sendo destruída por boatos ou por ordens equivocadas.
– Seokjin-
– Quando entrei aqui eu tinha a sua idade. O seu temperamento e a sua determinação em descobrir as coisas me faz lembrar dos meus tempos como iniciante. – ele sorriu, parecendo se recordar de algo. – Eu tinha o mesmo pensamento que você. Todo caso que caía em minhas mãos, eu olhava e pensava: "Caramba, é exatamente assim que tem que ser", e na maioria das vezes eu não escutava ninguém além da minha cabeça, porque no fundo havia uma intuição me dizendo que eu estava certo. Essa é uma espécie jovem.
O modo como ele retratou a sua imagem à Jungkook não pareceu ser ofensiva, na verdade soava como exaltação e honra. Jungkook não sabia muito sobre o passado dele, embora já tenha cogitado inúmeras vezes em procurar conhecer.
Com um ligeiro movimento, Seokjin pegou o distintivo e a arma sobre a mesa, em seguida andou alguns passos de encontro ao detetive. Jungkook encarou os instrumentos quando estes foram esticados em sua direção.
– Acho que isso pertence a você. – falou generosamente, deixando-o surpreendido. – Pegue e volte ao trabalho.
Mostrando-se absurdamente entretido, Jungkook tomou a arma e depois o emblema. Talvez ele não pudesse acreditar que os tinha de volta e por conta disso demorou-se observando o símbolo do FBI no distintivo.
– Quero te pedir uma coisa. – disse Seokjin, segurando seu ombro direito. – Tome cuidado, está bem? Não deixe que os outros policiais vejam vocês juntos.
– Obrigado. – seu agradecimento foi genuíno.
– Outra coisa – ele se aproximou e depois sussurrou. – Não fique exposto às câmeras, Jared tem controle sobre elas. Há um pavilhão no fundo do prédio, eu costumo ir lá quando quero ficar sozinho.
Jungkook encarou seu rosto, intrigado, os olhos fundos e negros absorvendo a sua mensagem enrustida. Se Jimin estivesse por perto, certamente ele teria emitido um ruído de engasgo, mas, como era Jungkook o único a ouvir, ele somente manteve o contato visual e acenou.
– Também posso te pedir uma coisa? – perguntou, ouvindo um murmúrio positivo. – Eu prefiro que o Yoongi não saiba disso ainda. Consegue manter apenas entre nós?
– Fique tranquilo. – foi tudo o que ele disse antes de sorrir e dar dois tapinhas no seu ombro. – Essa conversa não sai daqui.
O coração de Jungkook começou a bater num ritmo mais acelerado, mal acreditando que estava pedindo segredo para o homem vítima de sua desconfiança. Talvez Seokjin tivesse cometido erros no passado, mas ele não podia negar que durante aquele diálogo foi possível reparar que ele também se encontrava frágil e desafiado a aturar as próprias consequências.
Ele não viu mentiras, ele viu um homem inabalável se mostrar igualmente inseguro.
– Bom, eu preciso voltar ao trabalho. – Seokjin falou, conferindo as horas no seu relógio de pulso. – Qualquer novidade que surgir eu te comunico. Até mais.
A porta se fechou às suas costas e o silêncio engoliu tudo. Jungkook soltou um longo suspiro, sem saber exatamente se era de alívio ou preocupação. Ele fechou a mão contra a boca, recapitulando tudo o que aconteceu durante a sua passagem por aquele escritório.
Os ossos dos seus dedos estavam mais proeminentes e rijos, seus olhos eram um espelho perfeito de meditação. Jungkook tinha que pensar agora em como Jimin reagiria ao saber disso, dado que ele temia um dia serem descobertos.
Havia um globo imóvel no canto da escrivaninha, linhas com nomes rodeavam a esfera e marcavam os continentes do mundo. Jungkook fitou diretamente a tinta vermelha que caracterizava a América do Norte.
– Eu sempre estive tão perto de você e ao mesmo tempo tão longe. – a ponta do seu dígito tocou o globo. – Por que eu não te encontrei antes?
Um toque insistente vibrou dentro do seu bolso e quebrou seus pensamentos ao meio. Ele procurou pelo celular e o agarrou entre as mãos quando o alcançou. O nome de Yoongi piscava na tela.
– Alô? – ele atendeu.
– Onde você tá? – a voz dele parecia urgente. Jungkook imediatamente estranhou sua pergunta.
– No escritório de cima. Aconteceu alguma coisa?
– Preciso que venha à biblioteca. Agora.
O mundo pareceu perder a cor para Jungkook, assim como a terra aos seus pés. O único pensamento que subiu à superfície de sua cabeça refletia a imagem de Jimin e a sensação foi desagradável.
– Yoongi, me diz o que está acontecendo. – insistiu, mas tudo o que ele ouviu inicialmente foi um chiado.
– Tem uma coisa que você precisa ver. Vem logo. – a ligação foi encerrada.
Ainda encarando o aparelho, Jungkook pareceu em choque. Ele lembrava-se perfeitamente de vê-lo sussurrar o local de encontro, mesmo não estando certo se o acharia lá nesse momento.
O curto telefonema de Yoongi fez seus nervos chisparem subitamente, então ele não pensou duas vezes e enfiou o celular depressa no bolso antes de rolar para fora do escritório. Um segundo depois, ele já estava parado de frente para o elevador, esperando a porta se abrir.
Quando a barra de aço correu para o lado, ele mergulhou para dentro do pequeno espaço e apertou para descer. As engrenagens começaram a girar e a caixa metálica escorregou em declive. Ele baixou os cílios, fitando seus próprios pés, uma terrível visão se passando em sua cabeça.
E se alguma coisa tivesse acontecido com Jimin? Alguns dias depois do resgate, Jungkook o encontrou desmaiado no chão do quarto, e isso se repetiu duas vezes. E sempre que ele perguntava, Jimin afirmava ter sofrido com mais uma crise. Então, conforme se recuperava com o tempo, os seus desmaios foram acabando e ele passou a se sentir mais estável.
Em função disso, Jungkook devia se manter calmo e menos preocupado.
De repente, as engrenagens travaram e o elevador estacou em segundos. No momento que a porta começou a deslizar para o lado, o detetive se viu antecipando os passos à biblioteca. A porta dupla encontrava-se entreaberta, uma lacuna sombria apontava para a escuridão no interior.
Jungkook acelerou as pegadas, não escondendo os vincos de escrúpulo na sua testa. Aproximando-se da maçaneta, ele espiou pela brecha, não enxergando nada além das extremidades das estantes com livros. Logo em seguida ele invadiu a biblioteca e deu de cara com o vazio.
A enorme janela estava revestida por uma cortina branca, a luz do dia perfurava por baixo num feixe pálido e dava cor à escrivaninha. Jungkook olhou ao redor parcialmente suspeito.
– Yoongi? – ele o chamou, mas não muito alto.
O silêncio o respondeu. Desconfiado, ele andou um pouco mais para o meio da sala, pesquisando para além dos livros nas prateleiras. Jungkook foi se aproximando da escrivaninha, onde observou alguns caixotes arrumados no canto da parede.
A porta se fechou com força e um movimento brusco no fundo o fez girar com a arma prontamente equilibrada entre as mãos. Era Yoongi. Ele havia engolido um engasgo de espanto segundos antes de suspender os braços ao nível da cabeça e agredir as costas na madeira ao saltar para trás.
– O que diabos está fazendo? – Jungkook perguntou, seus olhos escuros e profundos denunciando o seu aborrecimento.
– A porta bateu sem querer. – ele disse meio hesitante e mirou a arma. – Eu não gosto muito quando sua arma fica me encarando.
Jungkook revirou os olhos e guardou o revólver, ainda perdido sobre o motivo da ligação. Portanto, ele resolveu perguntar.
– O que queria me mostrar?
– Na verdade, eu quero te falar. – um sorriso torto se alargou no seu rosto enquanto era avaliado por aquele olhar negro ardósia. Ele acendeu as luzes e a claridade deu cor ao ambiente. – Bom, eu não podia falar por telefone porque estamos sendo grampeados, por isso tive que fazer um draminha para chamar sua atenção.
Uma parte de Jungkook sentiu-se suavizada por não ter envolvimento com Jimin, mas a outra parte quis estrangular o pescoço de Yoongi.
– Eu só não te mato agora porque estou curioso para saber do que se trata. – ele articulou desdenhosamente, um humor teatral consumindo suas feições.
– Não seja tão rabugento. Eu gosto desse clima de suspense.
– Eu não.
Yoongi semicerrou os olhos e estalou a língua no céu da boca.
– Do que você gosta, então? – perguntou de forma soberba e ligeiramente estalou os dedos como se a resposta tivesse transitado diante de seus olhos. – Já sei! Bater punheta embaixo do chuveiro?
Os lábios de Jungkook imediatamente se curvaram em um sorriso endiabrado, tal como os olhos de Yoongi deram um solavanco em perplexidade.
– Espera um pouco, você já bateu punheta embaixo do chuveiro? – Jungkook deu de ombros, considerando uma completa irrelevância. – Puxa, Jungkook, isso é horrível!
– Por quê?
– Porque agora eu vou te imaginar pelado e batendo uma. – sua expressão ficou enojada. – Que visão do inferno você me deu.
– Que tal você parar de me imaginar pelado e falar logo por que me chamou aqui?
– Está bem, seu chato.
Jungkook podia ter uma aparência jovem e atraente, mas chegava a ser ranzinza igualmente um velho, pensou Yoongi. Então, ele apenas atravessou o caminho de Jungkook e alcançou os caixotes no chão, colocando-os sobre a mesa.
Uma espécie de curiosidade voraz e dominante preencheu o rosto do detetive, o deixando brevemente entretido nas caixas tampadas.
– O que tem dentro dessas caixas? – de repente ele se ouviu perguntar, um interesse crescente na sua voz.
– Aqui tem todos os arquivos pessoais e profissionais do Seokjin. – ele revelou, percebendo um súbito sobressalto partir do outro. Jungkook pareceu desacreditado. – Tirei uma cópia de todos os documentos e empacotei tudo, por isso eu não quis falar por telefone.
– E fez isso escondido dele?
– Bom, talvez isso prove que eu não sou tão baba ovo do Seokjin. – Jungkook ainda estava o afrontando, completamente impressionado. – Eu pensei em investigar o passado dele com você. Quem sabe podemos encontrar alguma relação entre ele e... Como se chama mesmo o empresário famosão?
– Kim Namjoon. – acrescentou.
– Isso! Esse cara que a Rose disse que está por trás de tudo.
– Quer mesmo fazer isso? – Jungkook indagou para ter certeza. – Eu quase fui afastado por conta dessas atividades secretas.
Ele não foi totalmente honesto, então Yoongi não precisava saber de todos os detalhes.
– Eu não ligo. – ele estava convicto. – Só quero acabar logo com isso para voltarmos aos Estados Unidos. E já adianto que não é por causa do Taehyung.
Jungkook riu e sacudiu a cabeça para os lados. Agora ele tinha plena certeza de que se tratava de Taehyung. Yoongi era péssimo em acobertar as próprias intenções para o companheiro.
Com um dos caixotes descoberto, Jungkook espreitou a parte de dentro e observou uma pilha de pastas arrumadas, todas catalogadas com datas e endereços.
No fundo, ele só desejava não encontrar evidências que o incriminasse, afinal de contas, momentos atrás havia exposto sua vida pessoal para o mesmo sem ao menos cogitar mentir.
– Algo me diz que isso vai nos ajudar muito. – mencionou o detetive, referindo-se aos registros.
– Eu penso que se a Rose disse que ele quer o Seokjin desde o início, então eles devem ter se conhecido antes, você não acha? – Jungkook confirmou. – Mas por que o Seokjin não se lembra dele? Se ele realmente o conhece, então por qual razão não nos disse antes?
– Pensei na possibilidade de talvez ele ter se esquecido. – Jungkook avaliou um diploma antigo com a foto de seu chefe mais jovem. – Ou então...
A conotação em sua voz era evidente, uma ideia insinuada se desdobrou nos traços de seu rosto. Yoongi o fitou assombrado, uma ausência frugal sobre o que ele se referia.
– Ou então o quê, Jungkook?
As ideias vívidas surgiram depressa nos pensamentos de Jungkook. Levando em consideração que Namjoon cobiça por Seokjin, as suspeitas sobre ele ser um membro da máfia amortece gradativamente, afinal de contas, é esquisito imaginar que o líder poderia correr atrás de quem já faz parte de sua equipe.
Jungkook o enfrentou nos olhos por um instante antes de falar.
– E se eles não se conheciam? – Yoongi fez uma careta de confusão. – E se a cobiça do Namjoon for pegar algo que só o Seokjin tem? Os dois não precisam necessariamente se conhecerem, na verdade, basta um deles saber sobre o outro para que a perseguição comece.
– Então isso significa que um dos dois deve conhecer o outro de algum lugar. Nesse caso é o Namjoon. – Jungkook acenou.
– Só precisamos saber onde eles possivelmente já se esbarraram.
Yoongi pareceu estar subitamente a milhões de quilômetros dali. Ele ficou pensativo como se a crença de Jungkook atingisse algum ponto específico na sua cabeça e o fizesse refletir mais fundo.
Foi necessário um longo tempo para ele romper seus pensamentos e falar.
– A Rose deve saber do que se trata.
– De qualquer forma, ela já foi transferida. – assumiu, ganhando um olhar desconcertado. – Jared não quis poupar tempo.
Ele recuou com um susto e se flagrou olhando para Jungkook.
– Eu não imaginava que seria tão rápido assim. – ele parecia ter ficado mais uns graus chocado.
Jungkook expulsou um suspiro e puxou entre as palmas a primeira pasta dentre o punhado de outras. Independente de quais fossem os resultados de sua pesquisa, ele tinha que manter em mente a possibilidade de achar respostas desagradáveis, ou, na pior das hipóteses, revelações delatoras.
Ele havia treinado sua mente para lidar com as piores notícias, mas desejava estar enganado quanto às suas suspeitas, já que tudo o levava a crer que Seokjin também era um alvo.
Diante disso, sua expressão ficou séria e tácita, havia um reflexo pálido em seus olhos negros, sugerindo alguma coisa até então furtiva.
Ele trouxe o diálogo com Rose na cela para as beiradas de sua mente, revivendo as revelações que ainda pareciam isoladas. Então, algo conciso acabou empurrando uma rápida conclusão que poderia, à sombra de alguma de suas teorias, unir metade das pontas soltas.
– O que está pensando? – perguntou Yoongi, como um segredo sussurrado.
Ele sentiu suas vísceras se apertarem quando recebeu o olhar do detetive, mostrando-se evidentemente preocupado com a resposta seguinte.
Finalmente, Jungkook declarou:
– Eu tenho um bom palpite de onde eles se conheceram.
✯✯✯
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top