⍟ fifty five
⦁⦂⦁ Uma semana depois ⦁⦂⦁
Depois de tanto esperar para retornar ao caso, Jungkook finalmente tinha esse troféu em mãos.
Ele fechou os últimos botões do terno enquanto olhava o seu reflexo no espelho. Seus pulsos estavam envolvidos por fracas linhas brancas, como velhas cicatrizes, e as manchas roxas estavam agora sumindo de sua pele. Nunca pensou que sua recuperação pudesse demorar mais do que o tempo calculado.
O distintivo estava descansando na cabeceira da cama, ele o pegou um segundo antes de trazer a arma consigo, onde a guardou na cintura da calça. Podia ver a protuberância do cabo do revólver para fora do cós, bem ao lado esquerdo de seu quadril. Jungkook sorriu estreitamente para ele mesmo, manuseando as vistas por cada detalhe de seu reflexo.
Até que enfim regenerado.
Ainda sentia dores em regiões específicas do corpo, mas nem mesmo isso o faria ficar quieto por mais um segundo. Jungkook não deixou de trabalhar quando estava de cama, ele solicitou câmeras de segurança, histórico profissional de Jennie e decodificou mensagens de texto no celular de Derek. Não dava a mínima para a condição de seu corpo naquele momento, ele só desejava algo e não pararia até conseguir.
Mas, agora, estava decidido a refazer suas estratégias com o que tinha estudado e investigado sozinho. Então, ele relaxou e definiu seus passos para fora do cômodo, usando suas roupas escuras como de costume. Atravessou o corredor subitamente, fazendo barulho no assoalho dos degraus quando desceu a escada. Não havia ninguém na sala, nem na cozinha, mas ele conseguiu ouvir um baixo murmúrio de vozes através da porta principal.
Ele tinha imediatamente se lançado para o lado externo do compartimento quando deu de cara com meia dúzia de guardas no corredor se apressando para descer as escadas, todos eles com as vestimentas sujas. Jungkook encostou a porta com um suave clique e ergueu uma tira de sobrancelha enquanto olhava para eles em confusão. Ele não sabia exatamente o que esperar, talvez exclamações de boas-vindas ou um pouco de aplausos, mas não houve sequer um olhar receptivo na sua direção.
Que equipe amável, pensou ele.
O detetive acelerou os passos para o final do corredor, onde Seokjin o avisou que estaria para a reunião. Quando alcançou a última porta, ele capturou apenas um ligeiro vislumbre de vozes por trás dela antes de abri-la sem bater. Seokjin, sentado na poltrona posta na extremidade da mesa, olhou involuntariamente para Jungkook e sorriu. Yoongi tinha levantado a cabeça com seus finos olhos surpreendidos, enquanto Seokmin manuseava um lápis entre os dedos. Todos os olhares se voltaram para ele, mas ninguém fez menção de quebrar o silêncio.
– Finalmente está de volta, detetive. – Seokjin disse em cortesia. – Estávamos aguardando sua chegada. Sente-se.
– Bem-vindo de volta, Sherlock. – Seokmin adicionou com um tom de gozação, porém suave.
Jungkook fez uma observação sobre Yoongi e o encontrou meio relutante, parecia que havia engolido uma grossa camada de saliva antes de emitir qualquer palavra.
– Bem-vindo de volta.
Havia uma pequena quantidade de ácido arranhando sua voz. Jungkook percebeu que a intenção dele era fazer uma recepção calorosa, mas algo o puxou contra a parede e o fez conter essa energia, possivelmente. O detetive fisgou uma cadeira próxima, fazendo de tudo para não manifestar a dor de uma leve pontada quando se curvou para sentar. Era apenas uma migalha que restou do último acontecimento, nada demais.
– Bem, eu esperava no mínimo uma cafeteira. – comentou Jungkook enquanto inspecionava a superfície da mesa.
– A máquina de café quebrou, mas nós temos isto. – Seokjin apontou para uma bandeja acima de uma base de vidro com copos de isopor. – Comprei mais cedo porque sabia que você exigiria.
– Quanta gentileza. Obrigado.
Ele deixou o assento e foi atrás do copo de café, sentindo-se satisfeito por ver o vapor subindo da margem do líquido. Apesar do ambiente estar ventilado por causa do ar condicionado, o calor da bebida não havia alterado. Sem nenhuma palavra, Jungkook se virou de volta para a mesa de reuniões e se aconchegou na cadeira, não se dando conta do olhar imóvel de Yoongi sobre ele.
– Podemos começar? – Seokmin rompeu o silêncio tão subitamente como se tivesse atingido o estômago de Yoongi com um soco, que moveu os olhos para encontrá-lo.
– Bem, eu solicitei essa reunião porque temos que discutir urgentemente o andamento do caso antes que as coisas saiam dos trilhos mais uma vez. – Seokjin explicou. – Primeiro vou organizar a linha do tempo com vocês, depois passo o esquema para o resto da equipe.
– Isso é só a ponta do iceberg. – a voz de Jungkook veio aguda para fora de sua boca. Yoongi deixou os olhos caírem semicerrados sobre ele. – Quer um conselho? Essa reunião é inútil.
– Inútil? – Seokmin discordou. – É uma reunião para debater estratégias, o que há de inútil nisso?
– A reunião, não. O tempo proposto a ela, sim. – esclareceu. – Vocês tiveram uma semana para formular um plano com as evidências que conseguiram, mas não o fizeram. São coisas que acontecem. Mas já que estou aqui, vamos ao que interessa.
Algo afiado e doloroso subiu na parte de trás da garganta de Yoongi, que olhou de Seokmin para Seokjin em segundos. Jungkook parecia zangado com alguma coisa e no seu ponto de vista isso talvez pudesse ter relação com Jimin. Não que estivesse arrependido do que fez, suas sugestões foram francas e ditas de coração, o que foi bom, pois não queria interferir grosseiramente na vinculação dos dois.
– Yoongi conseguiu uma localização da Jennie, não foi? – enfatizou Seokjin, o vendo executar um súbito giro de cabeça. – Conte-nos.
– Huh – ele limpou a testa nervosamente e trouxe seu recente relatório para perto. – Ela recebeu uma ligação do Conselho que durou só alguns minutos, mas foi o suficiente para detectar o lugar. Ela estava na fronteira entre Portugal e Espanha, infelizmente não deu para localizar a cidade porque a ligação caiu antes.
– Alguma sugestão, detetive? – interrogou o diretor, as mãos abaixo do queixo. – Sabe nos dizer o motivo pelo qual ela viajou para a Europa?
– Talvez.
– A viagem era premeditada, com certeza existe algo na Europa que atrai os olhos de sua irmã. Você provavelmente deve saber. – Seokmin emendou, ainda girando o lápis entre os dedos.
Irmã. Jungkook passou a detestar essa referência, pois doeu saber que o jeito como ele sempre tinha visto Jennie, durante toda a sua vida, tinha sido uma mentira. Suas memórias estavam diferentes agora, eram fragmentos vazios e sangrentos, sem nenhum toque de emoção. Ele tinha bebido do veneno dela e não iria dormir até fazê-la engolir o próprio veneno. Literalmente.
– Entende, Jungkook? – continuou Seokjin à distância, o libertando daquela reflexão. – Decidimos fazer essa reunião agora porque você já está recuperado e ninguém além de você sabe tanto sobre ela. O rosto da Jennie já está nas mãos dos departamentos de polícia da Europa, mas essa mulher ainda é a nossa sombra. Nós temos o ponto fraco da Jennie que a guarda policial de outros países não têm: você.
Jungkook suspirou e balançou a cabeça para os lados. – Não sou.
– Sim, você é. – assegurou. – Ninguém sabe tanto sobre ela quanto você.
– Acho que você quer dizer que não sei absolutamente nada sobre essa mulher. Ela me enganou por anos fingindo ser uma pessoa que não era, nem sei se posso dizer que a cor favorita dela é vermelho já que provavelmente eu fui enganado sobre isso também.
– Entendo sua frustração. – Seokjin estava tentando poupar Jungkook de mais confusão e desapontamento, não tendo certeza se sua abordagem surtiria algum efeito positivo. – Mas tenho certeza que existem muitas cartas na sua manga, basta pensar sobre isso. Eu aposto que no final das contas ela deixou escapar algo valioso. Tente se lembrar.
– Pressão psicológica nunca funciona. – advertiu Seokmin, pegando sua pasta entre uma pilha pequena de documentos. – Primeiro vamos desenrolar o assunto, quem sabe no decorrer ele consiga se lembrar de algo.
– É uma boa sugestão. – Yoongi acrescentou.
– Tudo bem. – Seokjin ergueu as mãos em rendição, como se dissesse que não questionaria os termos. – Então? O que vocês têm em mãos? Estou ouvindo.
– Isso me chamou atenção. – Seokmin distribuiu uma cópia de seu documento para cada um. – Eu imprimi essa mensagem enviada pela Jennie a uma pessoa desconhecida. Yoongi tentou decodificar os termos que ela usou, mas pelo jeito a cobrinha tentou dificultar.
– É, ela tentou usar números e asteriscos em espaços isolados, então isso comprometeu um pouco a minha interpretação. – Yoongi disse. – Tem palavras estranhas também, como descrições discretas de lugares. Por exemplo, aqui diz "descansarei ao ar livre à sombra de uma árvore enquanto você não aparece. Meu telefone vai estar desligado, mas minha prima Rosadela me emprestará o dela. Ah, e tome cuidado para não cair. Um anjo como você não pode se machucar".
– Conhece alguma Rosadela? – Seokjin fez a pergunta para Jungkook, que se mostrou totalmente alheio a esse nome.
– Nunca ouvi falar. Conheço todos os parentes da Jennie e nenhum deles têm esse nome.
– O que acha disso? Uma localização? – foi a vez de Seokmin.
– Certamente. – disse. – Um ponto turístico, talvez. A quanto tempo essa mensagem foi enviada?
– Quarenta minutos. – Yoongi o respondeu, não o encarando por muito tempo. Jungkook pareceu notar essa reação subitamente esquiva. – A ideia de impressão foi muito boa porque segundos depois a mensagem foi deletada. Salvamos no sistema, mas os dados do recado foram danificados. Há uma forma de recuperar as mensagens, mas isso demoraria horas e não temos tanto tempo assim.
Jungkook tomou uma decisão numa fração de segundos.
– Bem, as figuras são suficientes. Além disso, não é tão necessária uma evidência sólida, uma simples ilustração basta.
Yoongi concordou com um suave aceno, aliviado por não ter sido recebido por uma patada. Não tinha certeza de como estava o humor de Jungkook naquele dia, por isso considerou melhor não falar nada. Apenas apertou a boca um pouquinho e, só por um momento, olhou para o seu parceiro, tão rapidamente quanto podia.
– Alguma ideia de onde ela pode estar? – dessa vez foi Seokjin quem interpelou, desprendendo sua aura de liderança.
Jungkook suspirou e tentou se lembrar de algum lugar associado a Europa que tivesse relação com a descrição feita por Jennie. Sentiu-se ofuscado ao evocar o rosto de sua "irmã", como se estivesse preso num estranho pesadelo. Não fazia tanta diferença para ele, não agora, mas seria importante ignorar esse ódio para buscar respostas. Com isso, a primeira coisa que relampejou no fundo de sua mente foi uma cidade famosa, na qual Jennie comentou uma vez com ele.
– Madri. – ele finalmente disse. – É para onde a Jennie foi quando viajou de férias no ano retrasado. Parece que ela tem uma casa na Espanha. É isso. Acredite ou não, a Jennie está em Madri.
– Se ela tem uma casa, certamente é onde vai confinar as reféns. – Seokjin acrescentou, seu rosto precisamente plano estava rígido. – Com certeza ela não se arriscaria para levar as garotas para um país onde ela não tivesse influência. Os aeroportos estão sendo monitorados, então se a Jennie transferiu as reféns, isso aconteceu através de alguma aeronave de carga ilegal.
– A mensagem que ela enviou é uma referência de onde ela está. Precisamos interpretar cada palavra. – Seokmin se pronunciou, sua voz fora firme dessa vez. Yoongi já estava teclando no seu aparelho portátil antes mesmo de receber ordens para o fazer.
Suas buscas não surtiram efeito a princípio porque ele não sabia exatamente o que estava procurando, nada parecia imediatamente óbvio se levasse em consideração os 604,3 km² e os diversos lugares residenciais que ela poderia estar. Yoongi precisava de mais informações para obter alguma média sobre a localização.
– Verifique o total de parques públicos. – sugeriu Jungkook com praticidade, não parecendo zangado por se dirigir a Yoongi, o que era de se surpreender na verdade, porque ele parecia estranhá-lo desde o momento que pisou naquela sala.
Yoongi levou um tempo para fazer o que foi solicitado, segundos depois pigarreou e correu os dedos pelas teclas, um jeito fácil que ele achou para evitar os olhos de seu parceiro. Jungkook tinha ficado calado, o observando, coisa que normalmente ele não faria. Yoongi estava ocupado olhando para o monitor sem saber o que fazer, percebendo pelo canto do olho que os olhos do detetive estavam pesados sobre si.
Algo, uma memória, saltou no fundo de sua mente. Jungkook provavelmente sabia sobre os conselhos que ele tinha dado a Jimin na semana passada e talvez estivesse fingindo não saber. Yoongi não podia se julgar por uma suposição sem prova, mas não podia ignorar que ele parecia estranhamente quieto desde os últimos quatro dias, cuja aparição de Jimin ao seu quarto começou a se tornar menos frequente.
Finalmente, ele decidiu fazer sua caçada virtual e aguardou o resultado. Quando recebeu a informação na tela, uma linha apareceu ligeiramente entre suas sobrancelhas. Ciente de que todos o fitavam, ele limpou a garganta e disse:
– São vinte parques, o que é além da conta.
– Reduza esse número para aqueles que possuem rosaleda. São jardins de rosas e a Jennie é apaixonada por rosas. Ou fingia ser. – Jungkook recomendou, atirando-lhe um olhar calculado enquanto tomava um gole de seu café.
– Nome de uma prima... – comentou Seokjin, soltando um chiado risível por achar aquilo ridículo. – Ela só trocou duas consoantes de lugar e a gente se mordeu para descobrir quem era a pessoa.
Jungkook limpou os lábios com a língua e abaixou o copo.
– É, minha irmãzinha não é tão criativa. – debochou.
– Quatro. – Yoongi respondeu quando finalizou a pesquisa. – Querem que eu reduza mais?
– Vamos ver... – Jungkook disse, pegando a cópia da impressão na superfície de vidro da mesa. Sua voz tinha uma estranha e suave qualidade quando a leu. – Aqui diz "tome cuidado para não cair. Um anjo como você não pode se machucar". Onde exatamente essa pessoa poderia cair? E por qual motivo ela chamaria alguém de anjo?
– Talvez seja um aviso para que essa pessoa evite os olhares da polícia. Definitivamente ela não está preocupada com joelho ralado. – Seokmin supôs.
Seokjin, olhando para eles com a mão no queixo, franziu a testa.
– Esse "anjo" me chamou atenção. Ela poderia terminar o recado sem esse atributo porque não faria diferença alguma no sentido da mensagem, mas ela fez questão de usá-lo. – apontou, sentindo que, de alguma forma, era importante considerar esse detalhe.
– Ela também cita sobre queda. Anjo é a personificação do bem, mas um anjo caído representa a impureza, um ser amaldiçoado por sua desobediência. – Jungkook pensou em voz alta, arrancando um significado daquilo. – Namjoon pode ser o anjo caído, afinal, ele foi condenado por sua desobediência enquanto participante da base. Ele é a pessoa para quem ela mandou essa mensagem.
– É isso! – Yoongi berrou. – Existe uma estátua de anjo caído no Parque Del Retiro, na verdade é uma fonte, mas não deixa de ter o mesmo significado. Há um roseiral por perto que ela usou para dizer que é o nome de uma prima. Devo admitir que a cobra passou o endereço bem discretamente.
– Podemos encontrá-la através da localização da mensagem, não podemos? – Seokmin direcionou sua pergunta para Yoongi. Ele levantou seu olhar de confusão e pensou. – Se ela tem uma casa, certamente está registrada no nome dela.
– Ou não. – Jungkook interferiu. – Ela não seria tola de usar o nome verdadeiro. Com certeza há uma identidade falsa em jogo.
Houve-se um instante de silêncio enquanto Yoongi processava essa informação, então ele se apressou para consultar seu sistema de buscas. Ele tinha que admitir que a ideia de Jungkook parecia mais coerente levando em consideração que a equipe estava lidando com uma comandante de uma organização criminosa. O programa não a encontrou pelo nome verdadeiro e isso o fez suspirar convencido de que a teoria de Jungkook estava correta.
– Bem, não há nenhum registro ou título de autorização de residência com o nome verdadeiro dela. – Yoongi os disse.
– Faça o reconhecimento facial e encaixe o perfil nos registros de dez anos. Ela é uma estrangeira que reside em um território espanhol, com certeza há algum título de residência temporária. – Seokjin sugeriu, encontrando o lance perfeito para descobri-la. Yoongi começou a mexer os pauzinhos e deixou o aplicativo trabalhar no resto.
Eles precisavam de qualquer comprovação sobre o endereço de Jennie, não importava o quão mínimo fosse. Yoongi observou uma série de rostos femininos relampejando através da tela conforme uma linha esverdeada deslizava sobre eles em posição vertical. Uma figura parou e a face de Jennie surgiu ao lado, próxima de seus dados pessoais. Ela não tinha antecedentes criminais e nem conexão com Jungkook naquele falso retrato.
– Valentina Lopez. – Yoongi leu. – Ela não usou uma identidade norte americana. Aqui diz que ela é filha de porto-riquenhos, mas que nasceu em Valência, na Espanha. Não há nenhuma residência mencionada ao nome dela, mas aqui diz que ela está hospedada em um hotel em Calle de Alfonso XII.
– Ok, isso é estranho. – Seokmin comentou. – Ela não seria burra de esconder mais de quinze reféns em um hotel, seria? Deve haver um outro lugar.
– Existem muitos terrenos baldios em Madri, mas não acho que a Jennie, sozinha, se garantiria de levar todas elas para algum lugar sem que sejam vistas. – analisou Seokjin, notando que os outros absorveram suas palavras com atenção. – O que estou tentando dizer é que ela certamente deve ter um sócio para isso.
– Namjoon?
– Não. – respondeu. – Alguém igualmente influente... em Madri.
Jungkook se recostou no espaldar da cadeira e suspendeu o dedo para a boca enquanto olhava em retrospectiva. Ele tinha suposto muitas coisas durante aquele diálogo, mas a hipótese de Seokjin o pegou de modo certeiro. Jennie, definitivamente, havia levado as reféns para um território bem explorado onde ela tinha acesso a tudo. Sua mente girou em círculos, tentando apontar o dedo para alguém, então um pingo de ideia surgiu de repente.
– O dono do hotel. – Jungkook disse e todos os olhares na sala se voltaram para ele. – Verifique o histórico dele.
Yoongi teclou todos os elementos pedinchados e aguardou o quadro com as informações do sujeito. Em pouco menos de um minuto a lista escorregou abaixo.
– Lorenzo Rodriguez, 40 anos, sem antecedentes criminais, divorciado, não tem filhos e... – ele pausou quando consultou a próxima informação, sua mente tinha ficado defasada. – Ele é obcecado por jogos. Já pagou uma fortuna por um cassino e um de seus adversários favoritos é o Namjoon. Eles são amigos.
– Bingo. – Jungkook murmurou.
– Ótimo! Era isso que queríamos. – Seokjin comemorou, levantando-se de seu assento para pegar um telefone na mesa posterior. – Yoongi e Jungkook, vocês viajam amanhã para a Espanha. Vou solicitar um mandado agora mesmo, não quero mais atrasos.
A dupla se entreolhou em um silêncio frágil e, pela reação de Yoongi, Jungkook teve a sua resposta. Ele não parecia inclinado a recusar, mas algo o havia deixado com o rosto frio em recolhimento. O detetive ainda não sabia o estava o incomodando, mas tinha certeza que o motivo era ele. Arrependimento, talvez? Culpa? Isso ainda era um mistério.
– E o planejamento? – Seokmin interferiu, atraindo olhares, inclusive o de Seokjin. – Não vai deixar que eles viagem sem um planejamento antes. Aliás, os dois sozinhos não vão dar conta. Eu irei com eles.
– Não se preocupe com o planejamento, todo o esboço vai ser passado para eles quando já estiverem na Espanha. – explicou. – O FBI vai preparar tudo antes, vocês só terão o trabalho de exercer o plano de acordo com o que for decidido.
– Por mim tudo bem. – interrompeu Jungkook quando se pôs de pé. – Já temos o endereço e a identidade do cara que provavelmente está acobertando tudo, só nos resta traçar a linha do tempo. Bem, agora preciso respirar um pouco. Me chame se precisar de alguma coisa.
Yoongi espremeu as sobrancelhas, nem um pouco surpreso com aquele pretexto. Agora ele chama de 'respirar um pouco' quando quer ficar com o Jimin? Patético. Antes que Jungkook pudesse ao menos se virar, houve um baque seguido por um deslizar de cadeira. Yoongi havia deixado cair uma pasta e isso o fez resmungar um xingamento. O detetive o olhou meio incerto, depois recolheu seu copo com café, virando-se em seguida.
– Jungkook, espera. – Yoongi o chamou de repente, sendo encarado de esguelha, um gesto que dizia "diga, não tenho muito tempo". – Posso falar com você lá fora? Não vai demorar muito.
Não houve resposta, Jungkook somente abriu a porta e o chamou com um meneio. Yoongi não levou mais do que um segundo para se mover na mesma direção que ele, mas antes deu uma olhadela desengonçada para Seokmin, que retribuiu de um jeito nada gentil. Ele não ficou muito ciente da reação de Seokmin, por isso, talvez, a julgou como de desagrado no primeiro momento.
Yoongi deslizou a porta fechada atrás de suas costas e encontrou Jungkook parado no meio do corredor vazio, podia ouvi-lo assobiando levemente. Ao vê-lo o esperando, decidiu dar um passo à frente. O detetive esboçou uma expressão de confusão durante aquele intermediário silêncio.
– Então? O que quer me dizer?
Seu parceiro olhou para os confins do corredor em busca de alguém, mas não encontrou nenhuma alma perambulando naquele setor. Então ele girou, meio decidido a falar algo.
– Para onde você está indo? – indagou.
– Isso é sério? – ele pareceu realmente incomodado. – Yoongi, eu estou me esforçando para não me irritar com você, mas essa perseguição está me tirando do sério.
– Perseguição? – havia um tom de incredulidade na sua voz. – Eu me preocupo com você, cara.
– Sua preocupação já passou um pouco dos limites, você não acha? – rebateu desdenhosamente. – Faça um favor para si mesmo e se poupe de ficar preocupado. Tem um monte de relatórios no depósito para serem lidos, por que não começa por algum? Dizem que é uma boa terapia.
– Está insinuando que eu não tenho nada melhor para fazer? – Jungkook deu de ombros e aquilo fez Yoongi apertar os dentes. – Você realmente não percebe. Esse garoto já começou a mexer com a sua sanidade. Você não pensa mais em nada, só nele.
– Aparentemente isso te incomoda, não é? – divertiu-se, o fazendo se calar subitamente. – Olhe, você já vomitou seus conselhos em cima de mim e eu já ouvi todos eles, então se alguma coisa der errado nessa história não será culpa sua. Fim de papo.
– E o Jared? Ele...
– O Jared não está aqui, está?
– Jungkook, por favor me escute...
– Não, me escute você. – ele o interrompeu, levantando sua voz. – Se preocupe com as suas coisas e deixe as minhas de lado. Eu não fico enchendo seu saco quando você faz algo de errado. Quer saber o que faço? Eu ignoro e deixo passar.
Yoongi piscou, tentando avaliar o que tinha feito ele dizer aquilo.
– Está insinuando que...
– Você e Seokmin. – Yoongi arregalou os olhos e engoliu. – Vi vocês juntos a semana inteira e digamos que vocês não são tão silenciosos como deveriam.
– S-São situações diferentes.
– É mesmo? – ele cruzou os braços contra o peito. – Não me lembro de estar no protocolo que podemos fazer sexo dentro do setor de investigação. Você fez isso com um agente da CIA e algo me diz que o departamento dele não aprovaria essa conduta, não é mesmo? Você diz que estou colocando as emoções acima da razão, mas você fez o mesmo quando decidiu transar com seu ex.
Chocado era a palavra ideal para a reação de Yoongi depois daquela sequência de farpas. Ele tinha ficado boquiaberto com a comparação e mais ainda por saber que Jungkook havia escutado tudo do quarto ao lado. Era estranho, ele pensou, imaginar o que se passava na mente de Jungkook agora. Talvez devesse rebater, mas estava surpreso demais para dizer algo.
– Bem, eu preciso ir agora. – o detetive disse em uma voz baixa e quase gutural. – Não se esqueça que o silêncio pode ser um amigo. Eu não faria nada para te prejudicar, espero que você também não.
Havia algo de diferente no seu tom, um aviso discreto ou talvez uma ameaça incomum. Yoongi não teve tempo de calcular o que era, pois Jungkook o havia deixado para trás quando caminhou em direção ao elevador depois de fazer sua deixa. Ele observou as costas de seu parceiro, sentindo-se enjoado por saber que era o culpado por aquele clima pesado entre os dois. Sua voz pareceu ter fugido da garganta de repente, e embora quisesse chamá-lo ou segui-lo, ele não o fez.
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Estava quase totalmente escuro agora, o céu acima era como um espiral de cinza e laranja. O pavilhão ficava a alguns metros de distância do prédio, localizado no meio do jardim, entre a vegetação congelada. Jungkook conferiu o relógio mais uma vez, começando a ficar preocupado com a demora de Jimin.
Durante a semana, o detetive percebeu que o garoto parecia um pouco distante, mal comparecia no seu quarto, e quando o visitava, não permanecia por muito tempo. Talvez fosse equivocado afirmar algo agora, mas Jungkook tinha quase certeza de que Jimin estava fugindo dele. Então, combinou de se verem no pavilhão porque não havia câmeras naquela parte e eles poderiam conversar a vontade.
Uma figura brotou através das camadas de fumaça, caminhando relutantemente na direção do pavilhão. Sua cabeça estava abaixada, escondendo a maior parte de seu rosto por baixo dos cabelos salpicados por flocos de neve. Jungkook se desvencilhou da pilastra e o esperou se aproximar. Ele tinha ficado espontaneamente feliz por vê-lo.
Um momento depois, Jimin subiu numa fileira de degraus ladrilhados e parou dentro do círculo de concreto, seu coração batia numa pesada e rítmica velocidade. Ele levou um tempo para erguer a cabeça de encontro a Jungkook, sentindo o próprio estômago se contorcer.
– Senti sua falta. – Jungkook finalmente disse, quebrando o silêncio.
– Eu também.
Tente parecer normal, Jimin. Ele se alertou.
O detetive deu um suave passo à frente e o acariciou na bochecha, admirando suas altas maçãs ruborizadas pelo frio. Jimin tinha cílios longos e espessos que o deixavam surpreendentemente mais bonito, tal como um tênue brilho que fazia seu rosto iluminar. Quando Jungkook ameaçou beijá-lo, Jimin virou o rosto para o lado contrário e o abraçou pela cintura imediatamente, colando a bochecha no peito dele.
Confuso, o detetive enrugou as sobrancelhas, mas retribuiu o gesto dele e o abraçou de volta. Seguido por um instante de cautela, Jungkook beijou seus cabelos e sentiu a umidade da neve durante o contato, depois acariciou suas costas com uma mão. Jimin recuou e o encarou, aqueles familiares olhos pretos o olharam com atenção e incerteza, parecendo querer perguntar algo.
– Você está melhor? – o menino perguntou primeiro, o coração batendo rápido.
– Estou bem melhor agora. – algo, um enxame de borboletas no estômago, fez com que Jimin engolisse uma densa camada de saliva. – Estive pensando em você todos esses dias. Acho que isso me fez recuperar mais rápido.
Essa confissão fez um nó engrossar na garganta do menino, que acabou reagindo com um desapego frio. Jungkook infelizmente pareceu notar isso. Na verdade, ele havia fisgado uma indiferença atípica no semblante de Jimin desde o instante que o viu.
– Isso é bom. – falou. – Quero dizer, sua recuperação.
– Você está bem? Aconteceu alguma coisa?
Jimin ficou surpreso com a súbita pergunta, os pedaços de sua resistência se agarraram juntos, o fazendo criar uma parede em cima de suas lembranças. Ele não queria pensar nos conselhos de Yoongi, pois isso o machucava, mas por outro lado não dava para ignorar os fatos e fingir que eles não existiam.
Através do seu choque, de alguma forma ele encontrou sua voz.
– Eu não pareço bem? – Jungkook apenas levantou uma sobrancelha. – Digo, e-eu estou ótimo, só fiquei um pouquinho desconfortável por você escolher esse lugar. Nós nunca ficamos juntos em um lugar aberto, sabe, então eu sinto que tem alguém nos vendo.
– Os guardas mal vêm aqui, anjo, e também não há câmeras nessa área. Esse lugar é o mais seguro em termos de privacidade. – explicou o detetive, arrancando um olhar conformado do garoto. – Mas se não estiver de acordo, podemos escolher outro lugar. A escolha é sua.
Uma onda repentina se quebrou dentro de Jimin e então ele ficou em silêncio. Não queria magoar Jungkook, não queria feri-lo com seus pensamentos e tampouco destruir os sonhos dele por causa de um sentimento. Pensou que se usasse um pretexto talvez não precisasse encará-lo nos olhos ou prolongar uma conversa, mas a verdade era que uma hora ou outra sua tentativa de fuga seria percebida e, provavelmente, questionada.
– Tudo bem, podemos ficar aqui. – Jimin disse.
Com isso, a sombra de um sorriso tocou o canto da boca de Jungkook enquanto ele segurava o olhar do outro. Mas não foi somente isso que fez o coração de Jimin acelerar. O detetive tinha diminuído a distância entre eles e estava a poucos centímetros de tocar seus lábios, no entanto, o menino escapou com um recuo de cabeça, depois livrou-se do alcance dele. Jungkook ficou imóvel no mesmo lugar, completamente confuso.
– Então, como anda a investigação? – Jimin perguntou às suas costas, sua voz parecia distante, a alguns metros de distância.
Jungkook sentiu que o menino estava, de fato, se restringindo de algo, ou melhor, dele. Nunca pensou que Jimin pudesse recusar seu beijo depois de tudo o que tiveram, mas bem, aparentemente isso estava acontecendo.
– Estamos indo bem. – ele falou ainda virado de costas, depois girou de frente. – Encontramos uma pista da Jennie na Espanha, estou indo para lá amanhã de manhã.
– Amanhã? – o detetive acenou. – E quando você volta?
– Não tenho certeza ainda, mas espero que seja logo.
– Você vai sozinho?
– Com metade da equipe. – respondeu ele, fazendo uma breve pausa. – Mas não se preocupe, Seokjin ficará aqui para garantir a segurança do prédio. E as suas amigas também estão aqui.
Jimin pareceu pensativo e com uma pontada de medo no peito. Ele não queria ficar longe de Jungkook por muito tempo, embora tivesse consciência que aquilo fazia parte de seu trabalho. Jungkook não podia simplesmente deixar as coisas explodirem só para atender os desejos individuais de Jimin, ele tinha outras obrigações e de um jeito ou de outro isso assustava o garoto.
– Bem, eu prefiro não pensar em trabalho agora. – Jungkook falou, quase murmurando. – Já fazem alguns dias que não temos um momento a sós, não é? Eu senti falta de ficar com você.
Jimin acabou indo para trás na mesma hora que Jungkook fez menção de caminhar até ele, porém o detetive não o fez. As costas do garoto tocaram a pilastra, seus olhos brilharam pelas recentes lágrimas. Ele não queria ser entendido de forma errada por agir daquele jeito, mas seu cérebro o dizia o tempo todo "isso não é certo, não se aproxime".
– Tudo bem, Jimin, eu não vou tentar te beijar. – disse Jungkook, voltando uma pegada. – Já entendi que está evitando meu toque.
– Não! – seu protesto foi adicionado apressadamente. – Eu não estou te evitando.
– Então por que você está tão longe de mim?
O menino observou o espaço entre eles e percebeu que estava a vários pés de distância. Seu olhar deslizou do chão imundo com terra para a expressão magoada de Jungkook e isso o fez querer abraçá-lo imediatamente, mas essa vontade logo foi contida.
– Me desculpe.
O detetive fez uma expressão confusa, não entendendo exatamente o motivo por trás de suas desculpas. No entanto, ele ofereceu um banco de madeira para que Jimin sentasse. O menino olhou para o assento e aceitou, um pouco impressionado pelo belo espaço. O pavilhão era cercado por um parapeito de pedra que ficava sob uma cobertura de roseira. Claramente era uma área apropriada para quem quisesse ficar sozinho.
Jungkook sentou-se ao seu lado, mantendo o corpo a centímetros de distância do dele. Ainda existia uma nesga de ar atravessando o espaço entre eles, o que certamente indicava que, por mais perto que estivessem, seus braços não podiam se tocar.
– Aconteceu alguma coisa? Alguém te fez algo? – Jungkook questionou devagar, tomando cuidado com as palavras.
– Não é nada, só não estou acostumado a ficar com você nesse lugar. É só isso.
– Anjo, você não está nem me olhando nos olhos. – com isso, Jimin o encarou com um súbito aumento de surpresa, envergonhado. – Você não parece que está interessado em ficar perto de mim. Acho que o seu problema não é com esse lugar e sim comigo.
– Por favor, não pense nada de errado sobre mim. – sua voz gotejava súplica.
– Eu jamais pensaria algo de você sem antes ouvir uma explicação, e é por isso que estou te questionando. – ele tinha uma cautela na voz, o suficiente para passar confiança para o menino. – Se eu fiz ou falei alguma coisa que você não gostou, preciso que me diga.
As sobrancelhas angulares de Jimin se espremeram.
– O que... não! – ele disse precipitadamente, encolhendo os ombros com aquilo. – Você é o único que nunca me fez nada. É só que...
As sobrancelhas de Jungkook se arquearam em curiosidade, mas ele não verbalizou nada, apenas continuou segurando os olhos sobre o menino. Jimin estava congelado nos próprios pensamentos, e embora soasse razoavelmente constrangedor, Jungkook quis dar a ele um momento de reflexão através de seu silêncio. Aparentemente deu certo, pois Jimin falou em seguida:
– O detetive Yoongi conversou comigo. – começou, esperando ver uma expressão diferente no rosto de Jungkook, mas ela continuava imóvel. –, ele me disse algumas coisas que me fez pensar muito. Mesmo que me machuque dizer isso, ele não está errado.
– Quais coisas ele te falou?
O menino vacilou um suspiro, como se não tivesse certeza de como contar aquilo.
– O que estamos fazendo é errado. – ele disse, vendo algo reluzir através dos olhos do detetive, um súbito puxão de confusão. – Não posso arruinar sua carreira, Jungkook. Você já foi advertido várias vezes por causa dessa coisa de protocolo, não quero que você deixe de exercer o que gosta por minha causa.
– Anjo...
– Não, me escute por favor. – Jungkook ficou muito parado, o preto em seus olhos escurecendo ainda mais. – Temos que parar com isso. Você precisa obedecer a lei ou alguma coisa ruim pode acontecer com sua carreira. Eu vou me sentir culpado se algo te acontecer, entende? Não quero estragar mais do que já estraguei.
– Yoongi te disse todas essas coisas, não foi? – Jimin pôde sentir o calor do aborrecimento na voz dele como um forno aberto, mas estava ciente que aquele ódio não era direcionado a si.
– Não exatamente. Ele me falou sobre um contrato que vocês assinam antes de trabalhar na equipe e que você pode ser preso se não cumprir os termos.
Jungkook esfregou o rosto como se tivesse ficado subitamente contrariado. Ele não estava com raiva, mas havia um estranho olhar fixo em seu rosto que era de algum modo pior. Yoongi tinha inventado um monte de mentiras, não havia a possibilidade de detenção para quem violasse os termos do protocolo, no máximo um afastamento temporário. Entretanto, Jimin aparentava estar convencido daquelas mentiras.
– Yoongi é um mentiroso. – ele disse. – O contrato existe para determinar um prazo de atuação, então quando ele expirar vou ter que renovar por mais um tempo. O protocolo é uma outra questão, como um código de ética do departamento, mas não está dentro dos termos do contrato. Yoongi se aproveitou disso para tentar te convencer, ele não diria essas coisas se estivesse na minha frente.
– Mas ele não está errado, Jungkook. – o interior de seus olhos arderam brevemente quando voltou a assegurar aquilo. – O Jared esteve aqui, ele te perturbou por conta disso e pode te afastar se souber sobre a gente. Eu não iria suportar se ele te afastasse do caso... ou de mim.
– Olha, isso não vai acontecer. – ele rodou de frente para Jimin e tomou suas mãos. – Jared conversou comigo semana passada e me autorizou a continuar no caso.
– E depois? – perguntou. – O que vai acontecer com você? O que vai acontecer com a gente? E se ele te forçar a me deixar e não se aproximar de mim?
– Ei – seus dedos o tocaram levemente na boca, seus olhos nunca vacilando do rosto dele. – Pensar no futuro é angustiante, vamos focar no agora. Eu me sinto bem quando estou com você, Jimin, não quero estragar isso imaginando suposições.
Jimin sentiu sua garganta queimar. Ele se perguntou se sua expressão estava tão afetada quanto sua mente estava naquela hora. Aquelas palavras, por mais doces e recíprocas que fossem, ainda guardavam um sentimento de tristeza, uma articulação cicatrizada que só Jimin foi capaz de sentir. Jungkook só havia deixado o atual momento muito mais difícil de suportar.
Ele mirou os lábios do detetive e se pegou dentro de um flash ondulante onde suas bocas se roçavam, mas logo esse lampejo foi substituído por um inquestionável sentimento de violação. Jimin não se importava se Yoongi mentiu sobre a questão do contrato, o fato é que ele não estava errado. Jungkook podia sofrer graves punições por conta desse relacionamento e, definitivamente, sua consciência se culparia por isso.
– Jimin – ele sussurrou, o expulsando de seu devaneio. – Fique comigo. Confie em mim. Não vou te decepcionar.
– Eu sei que isso nunca vai acontecer. – sua voz disse inesperadamente, mas algo oculto parecia apertar sua própria garganta para interromper as seguintes palavras. – Mas sou eu que não quero te decepcionar. Por isso acho melhor a gente... dar um tempo... de tudo isso.
Jungkook ficou completamente rígido, sem ter certeza do que tinha ouvido, sentindo o coração apertar um pouco. O menino derramou uma lágrima silenciosa quando percebeu a descrença crua no rosto do outro, os olhos largos o fitando em confusão.
– Jimin...
Jungkook fez menção de tocá-lo no ombro, mas o garoto se sacudiu para longe, quase tropeçando quando se levantou. O detetive recolheu a mão lentamente, meio surpreso com a reação dele. Nunca o tinha visto daquele jeito, nunca pensou que ele pudesse recusar seu toque, por mais simpático que fosse. Mas apesar de tudo isso, Jungkook entendia esse comportamento esquivo por parte dele.
– Dói muito dizer essas coisas pra você. – foi Jimin quem falou, as bochechas manchadas com duas faixas de lágrimas. – Mas é por gostar muito de você que eu estou fazendo isso. Não fique triste comigo, por favor.
– Nós podemos resolver essa situação, meu anjo. Me escute. – Jungkook se ergueu e o pegou pelo rosto, mergulhando nos castanhos dele. – As coisas podem parecer que não têm solução, mas existe uma saída para tudo. Eu sei que você está assustado com o que pode acontecer no futuro, mas não vale a pena se questionar sobre isso agora. Deixe que eu cuido disso, confie em mim.
– Pare, Jungkook, por favor. – ele se soltou de suas palmas e limpou a cortina translúcida de lágrimas que estava atrapalhando sua visão. – Essa escolha tá sendo muito difícil, não piore as coisas, por favor. Já está doendo muito.
As palavras simplesmente morreram na garganta de Jungkook. A expressão no seu rosto não era de culpa, realmente, mas uma terrível dor que era difícil olhar por muito tempo. Jimin sentiu o próprio coração despedaçar por vê-lo assim, mas estava tomando aquela decisão porque era muito apaixonado por ele... apaixonado por um detetive.
Talvez ele pudesse optar por levar esse momento adiante, esquecendo-se das regras, da lei e de qualquer outra coisa, mas a verdade era que as consequências nunca surgiam sozinhas, elas vão estar sempre acompanhadas de uma ação anterior. Jimin queria mais do que tudo ficar com Jungkook, no entanto a realidade não era tão fácil quanto seu desejo sonhava que fosse.
– Então é isso? – Jungkook disse por fim, seu tom tinha mudado para algo mais sólido. O menino o fitou através do véu de lágrimas. – É isso mesmo que você quer? Porque se estiver fazendo isso pelo Yoongi, ele vai se ver comigo.
Não.
– Sim. – a palavra simplesmente foi rebocada para fora dele. – É melhor que seja assim, pelo menos até tudo isso acabar.
Aquilo doeu mais do que as perfurações que levou da lâmina de Derek. Ele nunca pensou que fosse tão angustiante e pesado ouvir aquelas coisas dele. O detetive não tentou esconder o semblante de mágoa, nem de tornar isso uma reação passageira. Poderia ter escolhido não expressar o que de fato estava sentindo, mas para Jimin não havia segredo, ele queria que o garoto também conhecesse suas emoções.
– Jungkook... – ele segurou as mãos do detetive quando o sentiu alheio nos próprios pensamentos, certamente ainda avaliando tudo aquilo. – Nós não podemos continuar fazendo isso na frente deles, você pode se prejudicar ou eles podem querer me usar para me afastar de você. Isso já aconteceu antes.
– Não vai mudar muita coisa. Eu vou responder por desobediência ao protocolo, mas não por estar com você, e sim porque eu cometi algumas infrações durante o processo de investigação. O que aconteceu entre a gente é só um acréscimo, não altera em nada na minha advertência. – Jungkook corrigiu, olhando para ele de modo cansado – ou abatido. – O momento para voltar atrás deveria ter sido quando nos beijamos pela primeira vez. Mas quer saber? Ainda assim eu não voltaria atrás. Conhecer você foi a coisa mais importante que me aconteceu nesse caso, eu não mudaria nada.
Uma forte dor indesejável apunhalou Jimin, então ele se encolheu para trás. Tudo o que ele queria era não ter medo de estar com Jungkook, só que ele se sentia assustado o tempo todo, ainda mais agora. Sempre existia alguém para atrapalhá-los, eles não conseguiam ficar sozinhos por muito tempo e não podiam demonstrar afeto diante dos demais policiais. Tudo era meticulosamente calculado. Tudo.
Jimin o queria, mas não de forma escondida, ele o queria de corpo e alma, sem temer demonstrar qualquer tipo de carinho diante das pessoas. Ele queria poder beijá-lo toda vez que o visse, queria segurar sua mão para confortá-lo, queria andar livremente com ele... mas simplesmente não podia. O peso da realidade é muito maior do que o peso de sua fantasia; a circunstância não os permite fazer.
– Bem, se você quer assim, eu prometo manter a nossa relação a mais profissional possível a partir de agora. – falou Jungkook, tentando soar um pouco convencional. Jimin o encarou por baixo desesperadamente, como o toque de uma mão arrependida sobre o ombro.
– Eu não quero que você se afaste de mim. – ele disse, quase chorando, e o segurou pela barra do terno, realmente tomado pelo desejo de tocá-lo. – Por favor, não entenda dessa forma. E-Eu só quero que a gente evite confusão, entende?
– Não vou me afastar. – garantiu. – Mas eu não consigo ficar tão perto de você e não sentir nada. De qualquer forma, deve existir uma diferença de espaço entre nós dois. É uma das regras que o protocolo exige, meu bem. – ele fez uma pausa. – Digo, Jimin.
Percebendo que estava muito perto, o garoto recuou duas pegadas, seu rosto todo salpicado por lágrimas. Jungkook tinha mudado a compostura e agora ele o olhava como um oficial, embora Jimin ainda conseguisse ver a dor por trás dos olhos dele. Jungkook estava igualmente mal – ou até pior –, mas estava respeitando a decisão do outro.
– Chegou minha hora. – o detetive disse, sua voz estava baixa, quase falhada. – Eu tinha decidido tirar um tempinho para ficar com você, e mesmo que não tenha sido da forma que esperei que fosse, pelo menos esse tempo serviu para alguma coisa. Digo, você me disse o que estava te incomodando e tomou uma decisão. Aparentemente.
Ele realmente está mal, pensou Jimin, deixando mais lágrimas escaparem. Ele podia dizer alguma coisa, mas sua garganta travou com uma massa de choro e não o permitiu verbalizar nada. Seu rosto estava pálido, exceto por um excitado rubor nas bochechas por onde as lágrimas desciam.
– Jungkook...
– É melhor eu ir, Jimin. – seus olhos descansaram nele e o menino não pôde decifrá-los no primeiro segundo.
– Posso pelo menos te dar um abraço?
O detetive não respondeu em palavras, mas acenou lentamente. O garoto se lançou contra ele e o abraçou fortemente pela cintura, o agitar de sua respiração sendo audível por baixo. Jungkook o abraçou de volta depois de hesitar no caminho, ele apertou as pálpebras com aquilo, afundando-se no cheiro de seu menino. Seu queixo ficou apoiado sobre a cabeça dele enquanto aproveitava os últimos segundos com ele, afinal, não podia prever quando o teria novamente em seus braços.
Era uma coisa tão calma e instantânea, como nos filmes, que trazia uma corrida de lembranças através dos sentidos. Agora Jimin entendia o grande sentimento que batia dentro dele toda vez que estava com Jungkook. Era intenso, genuíno, complexo, semelhante a... amor.
Ele estava amando?
Quando eles se afastaram, Jungkook colou sua testa na dele e forçou um sorriso, não era o mesmo sorriso que encantava Jimin, havia alguma coisa ligeiramente pungente na forma como ele sorriu.
– Isso não acabou. – sussurrou, um som cansado e triste. – Nada do que está por vir vai ser fácil, mas eu vou esperar seu tempo.
Antes que o menino pudesse abrir a boca, Jungkook o soltou cuidadosamente e caminhou para longe. O coração de Jimin pulou selvagemente no peito quando se sentiu livre do corpo dele e isso o quebrou por dentro. Jimin o queria por perto, sem pensar em deixá-lo ir, mas o fardo de ele ser parte de um caso que Jungkook investigava não o autorizava a fazer isso. Então, tudo o que fez foi exalar para não chorar.
O garoto ficou paralisado em horror, tentando engolir o choro, mas já era tarde demais. Ele se virou na direção que Jungkook seguiu e o encontrou igualmente parado, de costas e com a cabeça baixa. No momento que ele ergueu a cabeça, Jimin teve certeza de que ele havia limpado alguma coisa do rosto. Lágrima? Neve? A resposta era inatingível.
– Jungkook? – ele demorou a se virar, em seguida seus olhos rolaram para trás, para o garoto. – Antes de você viajar amanhã, eu gostaria de te ver.
A boca do detetive se apertou como se estivesse prestes a dar uma desculpa, mas não foi isso que ele disse no final.
– Oito e meia. Eu vou estar no saguão com a equipe. – respondeu gentilmente. – É melhor evitar que nos vejam sozinhos. Tudo bem para você?
O menino piscou uma lágrima para fora de seu olho e tentou sorrir durante um aceno. Ele não conseguiu dizer nada, pois suspeitou que não conseguiria dizer uma palavra sem soluçar. Depois de receber uma resposta, o detetive finalmente se virou e saiu do pavilhão, com um dificultoso e descuidado passo.
Jimin sentou no banco aos trancos enquanto permanecia incerto no canto do pavilhão, o assistindo sumir entre as sombras do jardim. Ele colocou o rosto entre as mãos e chorou, um choro de súplica, dor e arrependimento. Eu fiz a coisa certa? Foi o que sua mente se perguntou uma sequência de vezes.
Jungkook parou atrás de um desvio de árvore à distância e inclinou a testa contra o caule lenhoso, depois deu um soco no tronco. Os ossos de seu punho fisgaram, mas ele ignorou completamente a dor. Nada era pior do que ficar longe de Jimin, não literalmente, mas ele não poderia mais beijá-lo, abraçá-lo, e nem ficar tão perto quanto gostaria. De qualquer forma, essa era a pior distância que poderia enfrentar.
Uma lágrima quente umedeceu seu rosto, mas ele a varreu com as costas da mão rapidamente, pois um nome veio com força à sua consciência, o fazendo ranger os dentes e golpear outra vez o tronco úmido. Yoongi.
Se ele te feriu, isso significa que eu fui ferido também.
✮✮✮
O momento pesou e o draminha chegou...
Antes que vocês falem "ah, jikook nunca tem paz", "sempre tem que acontecer alguma merda pra atrapalhar o casal", "não aguento mais tanta desgraça" sempre tenham em mente as circunstâncias do ocorrido, ok bebês? Os dois estão se arriscando tremendamente pra ficarem juntos, é importante que eles tenham esse momento de reflexão assim como vocês, leitores, devem usar o senso crítico pra avaliar a situação.
Queremos jikook juntos? óbvio! A situação/ambiente é adequada? depende do ponto de vista. Vale ressaltar que os acontecimentos da fic são baseados na nossa realidade, então as coisas não são tão fáceis quanto parecem ser.
Enfim, espero que tenham gostado da atualização, apesar das escolhas do jimin terem machucado o nosso querido detetive :( aguardem os próximos capítulos que prometem trazer algo interessante pra vocês. E sim, teremos o Jungkook hablando espanhol haha.
Beijinhos na bunda e se cuidem!!
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