Capítulo 2 - Zashti ~ Parte 3
Após um momento congelada de medo, Alisha piscou algumas vezes e correu na direção da qual o veículo foi lançado.
A rua era uma confusão de carros parados, corpos em fuga e gritos de horror. O asfalto, consertado a pouco tempo pela prefeitura, estava parcialmente destruído: cheio de rachaduras e crateras. Enquanto canos subterrâneos, expostos pelas crateras, jorravam água, como jazers.
As pessoas corriam desesperadas, Abandonando seus carros e pertences para conseguirem fugir. Algumas até olhavam para Alisha como se ela fosse louca, afinal, ela corria justamente para o lugar onde ninguém queria estar. Enquanto isso, a garota imaginava como faria para apagar esse incidente da mente de todos. Talvez Raniel ajude.
A multidão em fuga havia, finalmente, chegado ao fim. Felizmente, para a segurança de todos, a área estava vazia. Repleta, apenas de veículos destruídos.
Um rugido irrompeu, alto o suficiente para fazer Alisha gritar e cobrir os ouvidos, tentando não ter os tímpanos danificados. Houve um grito, seguido por outro. Eram a fusão perfeita de medo e raiva.
A Zashti correu para o centro da destruição, encontrando, infelizmente, três enormes criaturas. Uma delas, era uma mistura insana de um urso e um crocodilo. A segunda, era um clássico Armyasenki, como os outros que já viu. Enquanto a terceira, era um Armyasenki alado, sobrevoando a área.
Havia um homem de terno, ele devia estar no trabalho, digitando e assinando documentos. No entanto, ali estava ele, encurralado por um Armyasenki terrestre. Ele gritou, tentando escapar, no entanto, ele foi agarrado pela cintura. As garras do monstro perfuraram sua carne, quebrando suas costelas e esmagando seus órgãos. Ele gritava desesperado. Seu corpo cedia a aquela enorme força, como um carro em uma prensa. Então, a língua do monstro adentrou em sua boca, subindo para as vias aéreas e saindo pelo nariz. Em seguida, com um único movimento, a língua conseguiu quebrar o pescoço, a carne e os músculos, separando a cabeça do corpo. A língua arrastou a cabeça para dentro da boca do Armyasenki. Alisha sentiu vontade de vomitar quando viu o contorno do crânio descer pela garganta da criatura e desaparecer.
O corpo foi solto no chão, e deixado de lado como um boneco velho e quebrado. Uma forte rajada de vento circular surgiu inesperadamente. Os fios castanhos da adolescente foram erguidos no ar, juntamente com a camisa, que revelou seu cinto e umbigo. Ela sabia que seu rosto estaria ruborizado, se não estivesse prestes a enfrentar três dos vários Armyasenkis que Khoasang cria.
No céu, surgiu um helicóptero militar. A porta estava aberta, e nela havia um soldado com uma arma de precisão a longa distância. O som estrondoso de um tiro foi audível, mesmo que o veículo aéreo estivesse a muitos metros acima do chão. Alisha não sabia a distância exata, mas percebeu que estava acima dos prédios mais altos da rua.
A besta alada rugiu. Os tiros não faziam efeito. As balas ricocheteavam em sua pele dura, ou então, eram comprimidas em discos assim que ocorria o impacto, então, caiam como moedas.
No entanto, quem desferiu o ataque fora um dos terrestres. O Armyasenki que mais se parecia com um crocodilo, agarrou com carro com suas mãos enormes e, com uma força absurda, o dobrou ao meio. Então, o lançou em direção ao helicóptero.
Alisha levou a mão aos lábios quando, inevitavelmente, o veículo atingiu o helicóptero. O impacto havia sido certeiro, atingido a cabine de passageiros e a de pilotagem ao mesmo tempo. Não houve tempo das hélices se partirem, ou de alguém conseguir acionar o assento ejetor. O helicóptero apenas explodiu, espalhando destroços flamejantes para todos os lados.
Ajuda. Ela precisava de ajuda. Ela não havia treinado o suficiente para enfrentar Armyasenkis. Eles eram fortes, rápidos e conscientes. Como poderia vencer uma criatura assim?
Houve outro grito de raiva. Alisha olhou naquela direção, vendo Marla. Ela arregalou os olhos e caminhou vagarosa até lá, usando os destroços para se esgueirar e escapar dos olhos das bestas de Khoasang.
A morena, suja de poeira, estava com o maxilar trincado. Ela estava ao lado de um carro capotado, tentando arrancar a porta do lado do motorista, que estava dobrada e, por isso, emperrada. Lá dentro, havia uma mulher. Ela estava ferida, com a testa sangrando, e as portas emperradas a impediam de sair, assim como o cinto de segurança, que a mantinha fixa no lugar.
Marla se afastou. Pegou do chão o paralamas quebrado do carro e o encaixou na janela, começando a fazê-lo de alavanca para arrancar a porta, que estalava.
Quando os dois Armyasenkis terrestres se viraram para a cena, atraídos pelos estalos da porta, Alisha parou, se escondendo atrás de um carro grande, cujo teto havia sido esmagado por um poste telefônico caído.
Ambos rosnam, e começam a se aproximar. Marla xingou alto, pondo mais força na alavanca. A mulher chorava, tentando se livrar do cinto que não a soltava. Ao perceber, Marla desencaixou a alavanca e a usou para forçar o cinto de segurança, afastando o airbag vazio e tentando arrancar a fita negra dos mecanismos internos.
Alisha, tomando impulso na janela quebrada, subiu no teto do veículo e pegou um dos destroços que ali estavam. Com toda a sua força, ela lançou a pedra na cabeça de uma das criaturas, que, imediatamente, a olhou.
Para sua surpresa, a grande besta a ignorou, e voltou a avançar com seu colega na direção de Marla. Com um rasante, o Armyasenki alado foi em sua direção. A mandíbula, aberta, estava pronta para a abocanhar, enquanto sua língua, comprida e bifurcada, se contorcia, louca para se enrolar no crânio da Zashti e o arrancar de dentro da sua pele.
Ele a agarrou com suas poderosas mãos, apertando sua cintura, enquanto sua língua tentava adentrar em sua boca. Sentindo as garras querendo perfurar sua carne, e evitando que ele conseguisse agarrar seu crânio, ela sorriu e agiu. Estenda! O comando foi direcionado para seu bracelete, que obedeceu de forma rápida e imediata. Ele se contorceu, mudando imediatamente de forma, se tornando uma espada.
Ela brandiu a lâmina, cortando a língua da criatura. O Armyasenki urrou, com a língua se contorcendo no colo da garota, e queimando sua roupa com seu sangue ácido. Mais um movimento, e a lâmina estava perfurando o rosto do monstro alado, deixando-o cego. A espada foi girada, destroçando carne e alcançando o núcleo da sua consciência e conhecimento, o atravessando. O Armyasenki urrava de dor. A falta de sinapses nervosas o fez perder o controle do próprio corpo, e então, falecer.
A grande massa de carne, ossos e músculos, que era o corpo do monstro, passou a cair com velocidade. Alisha, desesperada, arrancou a lâmina da cabeça do Armyasenki e se pôs por cima dele. O corpo se chocou com o asfalto, espalhando ácido por toda a parte, e assustando os dois Armyasenkis terrestres.
Ela se levantou, descendo do cadáver, deixando a grande lâmina arrastar no chão. Respirou fundo, percebendo que parte de sua farda, e mochila escolar, estavam cheias de buracos, por causa do respingo do sangue ácido.
- De onde você veio, Energúmena?! - Marla grita, empunhando o paralamas do carro como um taco de baseball, ao invés de uma alavanca.
- Fique aí. Eu cuido de tudo. - ela disse tudo com falsa convicção. - Eu acho.
- Eu te ajudo! E responda a minha pergunta!
- Não! - ela percebia que Marla queria fugir, desejava fugir. Entretanto, seu orgulho não permitia. Alisha a amaldiçoou por ser tão orgulhosa. - Fuja!
- Eu não! Foge você! Além disso, temos muito o que conversar!
Respirou fundo, ergueu os braços, e segurou o cabo da espada com ambas as mãos. Esperando assustar as criaturas, ela caminhou, a lâmina refletindo os raios solares.
Um dos Armyasenkis rugiu, aceitando o desafio da garota, e assumiu uma posição entre ela e seu parceiro, que continuava a avançar para o carro capotado.
Marla tremia. Seu corpo moreno estava encharcado de suor, e a poeira grudava em sua pele. Sua bermuda jeans, assim como sua blusa branca, estavam completamente sujos de poeira, enquanto seu penteado estava totalmente desfeito. Ela estava na defensiva, não apenas por causa da mulher presa, mas também porque ela queria se defender. Queria sair viva daquilo. Queria terminar a última unidade, passar diretamente para o terceiro ano do ensino médio e cursar a faculdade de moda. Talvez até viajar para a França para conseguir uma boa especialização. Em suma, não desejava morrer ali, e se morresse, iria ser lutando.
Uma risada interna, que podia ser comparada a um ruído animalesco, ecoou do fundo da garganta larga do réptil bípede que se aproximava. Por um instante, Marla fraquejou, se perguntando como aquilo era possível. Seus olhos mal puderam acompanhar o movimento poderoso da criatura.
Ela gritou, saltando para o lado quando a enorme mão golpeou com suas garras, atingindo a porta do carro e a mandando para longe. A porta voou, pousando despedaçada na rua a quase cem metros de distância do carro a que ela pertencia. Com a visão, Marla permaneceu congelada por alguns segundos, segurando o paralamas e processando o ocorrido. Quando o Armyasenki se virou para tentar a atacar mais uma vez, ela gritou e, com um movimento totalmente controlado pelo medo, golpeou a criatura no rosto com a peça metálica.
O paralamas, cedendo ao impacto, se partiu, como uma faca de cozinha tentando partir uma rocha maciça ao meio.
O maxilar da besta trincou, revelando os dentes afiados, amarelados e dobrados para dentro, para que sua presa mão escapasse de sua mordida. Saliva transbordou pelos cantos de seus beiços, pingando no chão enquanto sua língua longa e bifurcada dançava fora da boca, como uma cobra esperando para dar o bote.
Marla recuou, tremendo da cabeça aos pés. Suas pernas estavam prestes a falhar na missão de mantê-la de pé. Diante dos seus olhos, a língua do Armyasenki se aproximou de seu rosto, então, quando estava prestes a entrar por suas narinas, foi cortada e caiu no chão, espirrando ácido na roupa da morena.
O Armyasenki rugiu se afastando. Uma figura avançou, a katana foi brandida, retalhando a besta. Primeiramente, no abdômen, então, no peito e, diversas vezes consecutivas na cabeça, até que seu corpo perdesse totalmente os movimentos.
Quando finalmente chegou ao fim e o corpo caiu imovel, a figura recuou, mantendo seu corpo coberto por sua capa marrom e escalando um predio, correndo por seu telhado e desaparecendo. Alisha chegou correndo, avançando contra a amiga com um abraço e se afastando, segurando-a pelos ombros tensos.
- Você está bem? Esta ferida? Eu sinto muito, isso é minha culpa! Eu...
A Zashti, desesperada, havia dito muitas coisas a mais, enquanto mexia no cabelo, o bagunçando mais. Entretanto, Marla não prestou atenção, apenas olhava fixamente para o corpo do segundo Armyasenki, que estava a poucos metros de distância. Estava tremendo, com as pernas bambas, e os olhos vermelhos por causa do choro. Ela estava amedrontada.
Quando Alisha se aproximou para a abraçar novamente,a morena se afastou bruscamente e, com um grito de ódio, acertou um soco de direita no rosto da amiga, a derrubando no chão.
- Como você OUSA me por nessa situação sem meu consentimento?! - Alisha, que estava com o nariz sangrando, olhou para ela com os olhos arregalados. - Eu e muitas outras pessoas fomos ATACADAS por esses... Esses... Monstros! Pessoas foram mortas, e EU quase MORRI! E, do NADA, VOCÊ enfrenta as bestas com a ajuda de alguem encapuzado! O que você estava me escondendo, Alisha?! Era isso todo esse tempo?! Você faz parte de um órgão secreto que caça criaturas místicas?!
- Adoraria que fosse isso, mas o buraco é muito mais embaixo e... Encapuzado? Que encapuzado?
- EU NÃO QUERO SABER! - de morena, Marla se tornou vermelha. Alisha se levantou e foi até ela devagar. - Você mentiu pra mim! Eu sempre me abri com você e te ajudei! Já é a SEGUNDA vez que eu quase morri por SUA causa! Tem algo a mais para dizer?!
Alisha a segura pelos cotovelos.
- Sim, tenho. Mas por favor, pare de dar pití. Eu sei, é estranho, mas por favor, apenas me ajude e eu JURO pela minha vida que te contarei tudo. Ok? - após alguns instantes tensos de silêncio, Marla assente. - Obrigada, mesmo. Agora, vamos tirar essa mulher do carro e sair daqui antes que outro helicóptero chegue.
O bastão se estendeu, se tornando um tipo de lança, como a do Lancer. Juntas, elas quebraram os mecanismos dos cinto de segurança e tiraram a mulher de dentro do carro. Nervosa e assustada, a mais velha agradeceu e saiu quase correndo, para fugir daquele lugar.
Alisha segurou a mão de Marla e, a passos rápidos, elas começaram a deixar aquele lugar quando puderam ouvir vozes ao longe, mandando cercarem o lugar.
Espere, fique. Uma voz diz, mas Alisha ignora. Foi então que Marla parou bruscamente.
- O que foi?!
A morena engoliu em seco.
- Aquilo é... Normal?
Notas da Autora:
Olá aventuzueiros! Obrigada por acompanharem a história até aqui, espero que ela não esteja chata.
Fiquem atentos, o próximo capítulo será: Sincronia.
Nos vemos no Capítulo 5 de Baía dos Imortais, ou em Dragonjin 3, ou aqui mesmo.
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