Capítulo 19 - Trapaças

Todos estavam a postos na linha de largada. A familia real de Dragonstone assistia de longe, ambos os príncipes olhando diretamente para Marla, que estava montada no cavalo mais forte do estábulo. Sentindo o calor da corrida, a negra prendeu seu cabelo num coque apertado, olhando para o espaço vazio ao seu lado e se perguntando o que diabos Alisha estava fazendo para nao ter se juntado a ela ainda.

De onde assistia, Kaden e Edrion observavam a inquietude da humana, enquanto seu cavalo raspava os cascos no chao e balançava a crina, tambem inquieto. Kaden, o mais velho, olhou para seu irmao mais novo, Edrion, e ambos permaneceram numa conversa silenciosa. Fiwrah pareceu perceber, e sorriu fechando os olhos, um sorriso alegre e confiante.

- Ela vai ficar bem, se acalmem.

- Eu não... Não estávamos pensando nela - Kaden intervém, mas um pouco ruborizado.

- É claro que estavam. Não sou lerda. - Fiwrah sorri, olhando para seus irmãos e compreendendo a confusao deles. - Nao se estressem. As vezes acontece de dois dragoes terem de dividir uma parceira, apesar de ser raro. Deve ter algo a ver com o fato de que, em outra vida, vocês dividiram o mesmo corpo.

- Podemos nao falar disso, por favor?

- Claro, Kaden. Sem problemas. - ela apenas pisca um olho, divertindo-se com eles. - Ah, olha, Alisha chegou. Marla parece feliz.

E ela realmente estava. Marla nao soube medir o próprio alívio de nao ser deixada sozinha em um desafio, mas parecia haver algo diferente com Alisha. Minutos atras ela estava assustada e ansiosa, mas agora, parecia ser a pessoa mais segura da vitória ali, como se nada que viesse a acontecer fosse poderoso o suficiente para sequer arranha-la. Naquele mesmo instante, Marla soube: ela estava tramando algo.

- Alisha, achei que você ia me deixar aqui.

A Zashti sorriu, acariciou a crina de seu cavalo e entao piscou um olho para sua amiga.

- Eu não a deixaria aqui.

Alisha parecia genuinamente tranquila, mas Marla podia sentir, através da sincronia que elas passaram a possuir, que ela estava desconfortavel, de certa forma. Era dificil saber o por que, a mais nova não permitia que muitos dos seus sentimentos vazassem pela conexão, por quaisquer que fossem os motivos.

Ja do outro lado, Alisha podia sentir tudo o que sua amiga sentia. Marla não era capaz de bloquear nada. A negra de cabelo super enrolado e pele macia tinha decaido, sua aparencia bem cuidada estava, pouco a pouco, desaparecendo. Sem oleo de coco, seu cabelo estava seco e embaraçado, cheio de fios rebeldes ou quebrados; e sem o hidratante de cheiro de jasmin, sua pele havia ressecado, se ela passasse a unha era provavel que apareceria uma trilha branca. Ja em seus pensamentos, muitas coisas nadavam para la e para cá, juntas ou separadas, mas o que mais chamava a atenção era a memória vaga da batalha contra os Armyasenkis, na Terra. Uma pessoa encapuzada, usando uma espada, salvou sua vida, e entao, desapareceu.

Era algo difícil de se saber. Atraves da sincronia, a memoria de Marla estava quebrada, e um pouco embasada, provavelmente por causa de seu estado de pânico naquele momento. De um jeito ou de outro, era impossível descobrir quem era, e o porte fisico nao se parecia com o de ninguem que Alisha conhecia. Mais isso havia sido acrescentado a sua lista de perguntas: Quem era aquela pessoa?

Perdida em seus pensamentos, Alisha nao percebeu que haviam dado a largada, e Marla foi responsavel por desperta-la.

- Vamos! Nao é hora de sonhar!

- Sim, claro. Vamos!

Com a mudança repentina de atitude, Alisha bateu as rédeas e cavalgou lado a lado com Marla, ambas trabalhando em equipe para ultrapassarem os outros.

Os tres herdeiros do trono de Dragonstone as acompanhavam com o olhar, curiosos para descobrirem o que as humanas fariam a seguir. Um sorriso surgiu nos lábios da princesa Fiwrah, que pediu licença e saiu daquele lugar, se dirigindo para o castelo e entrando no cofre. La dentro, estava o grande cachorro vermelho que protegia Alisha. Em sua mandibula, estava o Kniga e o bastão metalico de Alisha, firmes em seus dentes.

Nemesis rosnou para ela um aviso, para que a princesa se mantivesse longe dele, no entanto, ela o ignorou e retirou o familiar bracelete que usava naquele momento. Ele era belo, e seu ornamento era um cristal amarronzado e um par de olhos vermelhos que uma vez pertenceram a um belo cervo branco. Ela aproximou o cristal dos lábios e sussurrou para ele: de todo o meu coraçao, eu te peço, proteja-a. Nemesis entreitou os olhos amarelados, mantendo-se de guarda, mesmo que tudo aquilo lhe fosse familiar.

O canino procurou atentamente por sinais de emboscada, no entanto, a personificaçao de Heiwa estava ali. Na sua frente, recitando um pequeno feitiço de proteção para um bracelete de cristal e arriscando suas maos para prende-lo na sua coleira.

- Eu sei o que elas irão fazer - disse a princesa, com seus olhos brilhando en lilás, revelando a presença espiritual da dragonesa naquele corpo. Da mesma forma que a criança se manifestou para Alisha em Hydarth. - Vão trapacear, forjar a propria morte para fugirem.

Nemesis resmungou baixo, mas a dragonesa demonstrou ter ouvido e entendido sua linguagem.

- Voce fez um otimo trabalho la na Cidadela, e no Templo - ela acaricia suas orelhas e ve sua cauda balançar. - Mas nós dois sabemos que seu trabalho ainda nao terminou.

O brilho lilas desapareceu, e Fiwrah assumiu o controle do seu corpo, respirando fundo e arrumando o cabelo. Em segredo, ela providenciou uma mochila para cavalos e a prendeu na garupa do cachorro vermelho de dois metros, colocando o as coisas que ele carregava la dentro.

Em agradecimento, Nemesis lambeu seu rosto, e em seguida, correu. Suas almofadas amorteciam o som das suas patas contra o chao, e suas garras lhe davam impulso, permitindo que ele corresse rapido dentro do castelo para alcançar o lado de fora, onde Marla e Alisha cavalgavam para a vitória.

A negra cavalgava rapidamente, desviando das montarias dos outros corredores. Gritou de raiva quando tentaram derruba-la do cavalo, procurando qualquer coisa que pudesse usar como arma para se defender, no entanto, nao havia nada. O corredor, que montava em uma criatura similar a um rinoceronte, tirou da armadura de seu animal um tipo de lança, e tentou espetar Marla varias vezes.

- ISSO É TRAPAÇA!

Na proxima tentativa, a humana segurou o cabo da lança, com a lamima apontada perigosamente para seu peito. Quando aquele corredor tentou mata-la com a posição, o cavalo que ela montava relinchou e empinou, puxando o homem de cima de sua montaria e o derrubando. A negra sorriu, pegando a lança para ela e batendo as redeas de sua montaria.

- É isso ai! Uhuuu!

- Mandou bem! - Alisha gritou ao seu lado, conseguindo a alcançar. - Kaden te ensinou bem!

- Que mane Kaden. Ele so sabia me derrubar.

Mais a frente, o terreno se tornou acidentado e estreito. A direita, havia um penhasco, e a esquerda, uma vala cheia de arvores mortas cujos galhos pareciam prontos para fazer espetinho de alguém.

O cavalo de Alisha se assustou com o chicote de um dos adversários, e a Hyd escorregou para o lado, segurando-se na garupa e pescoço do animal, com as pernas balançando para a queda. Marla tentou se aproximar por trás para alcançar sua amiga, mas nao conseguiria se estivessem em montarias diferentes, sua unica chance era pular para o cavalo da Zashti e ajuda-la. Com muito medo e agarrando o pescoço de sua montaria com força, ela se esticou, tentando passar de um cavalo para o outro.

Algo se enrolou com força no tornozelo da negra, fazendo-la gritar de dor e quase cair do cavalo. Haviam chicoteado sua perna, e a ponta de metal do chicote estava enrolada em seu tornozelo, para que o adversario pudesse puxar e derruba-la na vala.

- Alisha segura firme! Eu vou cuidar dele primeiro!

- Eu nao tenho muita escolha!

Marla puxou a lança e, com certa dificuldade, virou o tronco, erguendo o braço e lançando a arma com toda a força que podia naquele momento.

No entanto, ela se atrapalhou e a lança caiu. A montaria do adversário passou por cima da lança por acidente, sendo ferido pela lâmina e tropeçando nas próprias patas, caindo no chão sangrando. Marla foi puxada junto, rolando vala abaixo e se ferindo no cascalho, so nao sendo empalada pelas arvores mortas por que o chicote ainda preso em sua perna ficou preso no vao de uma pedra.

Ferida, e presa de ponta cabeça em cima de folhas mortas e cascalho, Marla permaneceu la, descabelada e incapaz de se soltar. Olhou para o lado, vendo o corpo do adversário empalado nos galhos, rezando mentalmente para que o chicote nao se desenrolasse de sua perna.

Enquanto Marla sentia a pressão em seu cranio aumentar, Alisha ainda era arrastada por sua montaria, segurando-se para nao cair e gritando pela amiga, mas nao recebia resposta. Após muitas tentativas, conseguiu agarrar as rédeas do cavalo e puxou com força. O animal relinchou, parando no mesmo instante de cavalgar. A Zashti suspirou aliviada e conseguiu sair do perigo, olhando os vários metros que ela percorreu sendo arrastada.

- Ótimo.

Suspirou, desistindo da corrida. Montou no cavalo e bateu as redeas, o animal trotando calmamente todo o caminho de volta. Por sorte, os outros estavam ocupados demais pensando em ganhar.

- Marla!

E mais uma vez, nao houve resposta. Voltou a chamar uma, duas, tres vezes, e a resposta nao veio. Talvez ela ainda estivesse longe, ou caiu fundo demais. Qualquer probabilidade e maluquice estava valendo, menos a morte.

- MARLA!

- AQUI EMBAIXO!

Alisha desceu rapidamente do cavalo, olhando Marla pendurada de ponta cabeça e com um semblante cansado, alem de cortes pelo corpo e um cadaver empalado perto dela.

- Quebrou alguma coisa?

- Não - ela choraminga. - Eu to um caco amiga. Me tira daqui. Eu so quero ir pra casa.

- Eu vou pensar em alguma coisa. Aguenta firme.

- Eu não tenho muita escolha.

A Hyd olhou ao redor, procurando por coisas que pudessem ajuda-la a salvar sua amiga, mas nao havia nada e ela nao era um gênio do improviso do tipo que faz uma bomba com chiclete, isqueiro e sapato.

Enquanto Alisha buscava um meio de salva-la da queda, Marla permanecia imóvel para o chicote não se soltar dela e, aproveitando que ainda tinha consciencia para pensar, imaginava-se em um dos dias tranquilos em casa, no meio de uma tarde chuvosa, deitada no tapete, vendo um filme na televisão. Como ela adorava essas memórias, de quando sua vida era apenas comer, dormir e brincar com amigos imaginários. Lembrou-se do principal amigo que ela havia criado, um enorme Leão chamado Nemeia, grande o suficiente para um adulto cavalgar nele.

Sorriu fraco de olhos fechados, evitando encarar a situaçao em que estava. Por que isso esta acontecendo comigo? No fundo de sua consciencia, ela podia ouvir a voz de Alisha dizendo alguma coisa, no entanto, nao entendeu nenhuma palavra. Como ela se tornou mais forte que eu? Isso não está certo...

Em um instante, o chicote se soltou da rocha. Alisha gritou, tentando agarrar, e deixando o instrumento escapulir. Nemesis saltou do meio das árvores, agarrando a garota negra em sua garupa e escalando a queda ate chegar ao topo.

Sem deixar qur as amigas se cumprimentassem, o grande cão vermelho pôs a Zashti em suas costas também. Com os sinais dele, ela mexeu em sua bolsa e tirou de la um cristal estrelar, que com o estimulo certo abriu um portal para Ophiocus. O trio atravessou a grande porta de energia, se vendo dentro de um dos corredores do castelo.

Marla olhou tudo impressionada, em seguida, abraçou Alisha, que retribuiu o gesto.

- Obrigada. Se nao fosse por voce, eu estaria perdida.

- Você sempre vai poder contar comigo.

E ambas permaneceram naquela posição como as amigas que eram. Conversando, sorrindo e desabafando, Marla finalmente se sentindo segura graças a garantia de Alisha que o lugar era agradável.

- Pequena menina! - Quem entrou abrindo as portas pesadas como se nao fossem nada, foi o Sieron. O grande viking avançou sobre as duas, as abraçando apertado e as tirando do chao. - Estivemos preocupados, e sua amiga tambem nos preocupou.

- Oi - é a unica coisa que Marla consegue dizer, em choque.

- Sieron! A saudade é minha! Quando vamos pra Drakkar?

- É so marcar! - ele ri, e Marla continua sem entender como Alisha entendia a língua que eles falavam. Nao era uma difernça tao grande, mas havia diferenças, e Marla conseguia misteriosamente entender parte do idioma. - Será bem vinda! Voce e sua amiga!

Carinhosmente, ele da um tapa forte no ombro de cada uma. Alisha, ja acostumada, permaneceu no lugar e devolveu o golpe; e Marla quase foi mandada para o chao. Por sorte, o viking a segurou e, com um sorriso, guiou as duas pelos corredores ate o aposento da Zashti.


Nota da Autora:
Ola aventuzueiros!
Desculpe a demora de postar, e desculpe a pressa de concluir o capitulo, eu vou ajeitar isso depois, é que eu conclui morrendo de sono e quase errei a narração de muitas cenas. Meu cérebro tava confuso e nao sabia se gerava o sonho da noite ou a narração do capítulo kkkkk
Bom, era so isso. Nos vemos em Dragonjin.

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