Para Alisha e Marla, a semana havia sido agitada. Em geral, nao havia nada que ambas pudessem fazer, no entanto, Edrion sempre dava um jeito de levar as duas para treinar escondido. Marla era a que mais se deliciava com os encontros, provocando Kaden até sua paciência desaparecer. Mas Alisha, ela nao tirava proveito algum desses dias. Sempre acordava mais cansada do que quando ia dormir, além de sempre ouvir o som de metal enferrujado.

Aquele som estava a incomodando há dias. Era sempre o mesmo, as vezes acompanhado de uma pequena visão.

Era o barulho insuportavel de rodinhas enferrujadas de carrinho, ecoando por aquele grande túnel iluminado com poucas lamparinas. Havia um líquido vermelho pelo chão e paredes, além de um cheiro insuportavel e trilhos para o carrinho se deslocar. Ela nao sabia o que era aquilo, mas suspeitava ser uma mina abandonada.

Perfeito, mais um pra me perturbar. Levantou-se da cama e vestiu seu uniforme de batalha. O dia estava começando, e em poucas horas a última fase iria decidir seus destinos. Procurando por Marla, saiu da área dos prisioneiros e caminhou por todos os locais que tinha liberdade, entrando na sala onde treinavam e encontrando sua amiga sendo pressionada contra a parede pelos príncipes. Edrion a beijava com carinho, a mantendo confortável, enquanto Kaden lambia e mordiscava seu pescoço a fazendo arrepiar.

- Ei! - Alisha chamou, assustando os três.

- Oi. Ja tava acordada? Foi mal. - Marla sorri como se nada tivesse acontecido e caminha até Alisha, a pegando pela mão e a tirando dali. - Está doida? Como você entra sem bater?

- Talvez por que não é um quarto nem um banheiro?!

-... Ta. Você tem um ponto.

- O que diabos você tinha na cabeça Marla?!

- Bom, são dois príncipes, bonitos, legais, e que eu nunca iria conhecer no mundo humano. - Alisha continuava a olha-la fixamente - Apenas aproveitei

- Você tem noção do rolo que isso pode dar?

- Sei, e nao vai dar em nada. Sabia que dragões possuem uma alma correspondente e que ficam com elas pra sempre? Ah! Também sabia que uma pessoa pode ser a alma correspondente de dois dragões diferentes?

Alisha permanece quieta, processando a informação, mas resolve ignorar para a própria saúde mental.

- Ta. Vá se vestir. Temos de comer e ir escolher uma montaria.

- Ta bom. Vamos logo.

***

Heilos jazia sentado na grande mesa do jantar, enrolando para comer por estar pensando no que viria a ocorrer no futuro, completamente curvado na cadeira, com o queixo apoiado no punho. Sua mente estava inundada de pensamentos problemáticos. E aquelas roupas apertadas e formais da realeza o incomodavam mais do que imaginou. O guerreiro olhou para a cadeira onde a rainha deveria se sentar ao seu lado, totalmente vazia, assim como viria a ficar pelos próximos anos.

Então, sentiu um golpe em sua barriga, o fazendo ficar ereto no trono.

— Que desleixado. — Diz Damian, que havia golpeado o irmão com o cabo da espada. — Para um Mestre de Guerreiros, você é muito desleixado. Tem de aprender a se sentar se quiser ser rei.

Seu olhar era ríspido. Não expressava nem um sentimento sequer. Mas Heilos sabia tudo o que ele sentia, afinal, ambos compartilhavam do mesmo sentimento. Heilos se ajeitou no trono e olhou para o irmão.

— Não esconda-se atrás dessa máscara, não combina com você

Damian franziu o cenho

— O que quer dizer com isso?

— Não se faça de idiota, porque você não é. — Heilos olhou o irmão nos olhos. — Quando duelamos, você não tinha brilho algum no olhar, estava desleixado e não se importava com golpes baixos, o que não é de seu feitio. Você desistiu antes mesmo de eu exigir o trono, queria sair deste lugar, esquecer o que aconteceu, mas sabia que não era possível, por isso você aceitou o desafio, apenas para que todos aceitassem que não seria mais você sentado no trono. Mas uma coisa que eu nao entendo, é por que você escolheu ficar e ser meu conselheiro.

- Por que ela está morta, mas você, meu irmão, está vivo. Se eu fosse embora, o reino viraria um caos, você não se da muito bem com o nosso pai, nem com o Skure.

- Em cheio.

Heilos riu levemente, mas logo assumiu uma postura séria, quando a rainha e a princesa de Phoenix adentraram no salao.

Molly os cumprimentou com uma pequena reverencia e um "bom dia", logo se sentando no lugar reservado para ela. Ja sua mae, Isabell, nao os cumprimentou, apenas se sentando ao lado da filha e deixando o servo servi-la.

- Você ainda não me falou o assunto, majestade.

- Claro. Sinto muito. Um imprevisto surgiu, mas ja foi resolvido. Minha atenção esta completamente voltada para você agora. - Heilos sorriu falso, servindo vinho para ela. - Vamos falar de negócios.

- Hum. Isso é interessante. Sobre qual negócio?

- Minérios. Phoenix é o reino com o solo mais rico, logo, é mais facil de extrair riquezas. Gostaria que nos unissemos. Assim, Ophiocus teria metal para suas armas, e Phoenix teria soldados.

- Apenas isso? Achei que seria algo mais...interessante.

- Vocês também teriam apoio caso a guerra chegasse até lá, e ficariam com a maior parte dos minérios extraidos. Tenho interesses apenas no ferro.

A rainha pensou, e pensou, enquanto bebia seu vinho e sua filha comia, fazendo questão de deixar um pouco de mistério no ar. Tudo isso para deixar Damian e Heilos desconfortáveis.

- Considere minha assinatura no contrato.

***

O

café da manha havia sido corrido para todos os participantes. Todos queriam começar logo para nunca mais voltarem para a prisão, nem que para isso precisassem matar. As montarias haviam sido escolhidas e estavam a postos, todas com suas respectivas selas. Marla escolheu um cavalo grande, rezando mentalmente para que fosse forte e veloz, capaz de acompanhar as outras montarias, que eram animais que ela não conhecia. Ali, cavalos eram minoria.

Os animais que sobraram no estabulo eram todos equinos, e Alisha tinha de escolher um deles. Estava nervosa, nao entendia nada de animais, muito menos de cavalos. Aquela escolha teria de ser na sorte.

Olhou todos, e seu olhar travou em um belo cavalo branco, que parecia nao se importar com sua presença. Pegou a sela e abriu a cerca, indo ate o animal e tentando prender o equipamento nele.

A cada tentativa dela de montar, o cavalo se afastava, fazendo-a cair no chão e ficar suja de palha. Alisha foi derrubada no minimo seis vezes antes de pegar um laço e tentar prender o equino. No entanto, ele se assustou, relinchando e indo cada vez mais para dentro do estábulo. Em seus cantos, todos os outros cavalos tambem se agitaram, e a Hyd apenas os olhou com estranhesa.

- O que está acontecendo com vocês?

Houve o som de garras contra o chão. Alisha se virou rapidamente, pronta para usar o laço como arma, mas sorriu aberto ao dar de cara com a fofa pelagem vermelha do grande canino a sua frente.

- Nemesis!

O cachorro começou a abanar a cauda e a lamber sua mestra, fazendo-a rir e o abraçar, passando os dedos pelo seu pêlo.

- Senti tanto sua falta grandão. - ela o solta, se afastando para conseguir olhar em seus olhos dourados. - Por que esta aqui?

Nemesis se chaqualhou, e sua coleira girou em seu pescoço, revelando algo preso no pingente. Alisha pegou o pequeno rolo e o abriu, tirando de dentro um pergaminho minúsculo que havia escrito e assinado por Raniel.

- Heilos te mandou para ser minha montaria... Espera um pouco. Aquele miserável não estava doente?! Aquele desgraçado miserável! Ele vai ver o dele! Nemesis, temos um desafio pra ganhar!