Capítulo 16 - A Cobra e a Fênix

- Raniel! - Zithar chamou, caminhando Templo adentro, procurando pelo mago, mas encontrando seu aprendiz sentado na frente da estátua de Maharpayã. - Jack, você viu o Raniel?

- Claro, majestade - o pequeno sorri. - Ele está na sala secreta, mas cuidado. Os caldeirões estão acesos.

- Obrigada.

Ela sorri suavemente de volta, e Jack abre a passagem. A rainha entrou, e assim como o aspirante a mago tinha dito, todos os vasos liberavam fogo azul, enquanto o caldeirão do centro se alimentava do fogo e produzia a fumaça que, entre as pilastras douradas entrelaçadas, criava o globo terrestre de Daechya.

- Sabia que viria, Zithar. - diz o mago cego, se virando para que a rainha o encarasse. - Como se sente?

- Péssima. - repentinamente, sua tranquilidade se transforma em desespero e ela cai de joelhos, chorando. - Por que você deixou que eu fizesse aquilo?!

Raniel foi ate ela, a tateando e acariciando seu rosto para enxugar suas lagrimas, entao, se ajoelhou em sua frente.

- Era necessário você matar Marylin, para que sua Essência Vital fosse ate Dunjoi e guiasse Alisha até a prisão de Heilos.

- Por que?! Agora minhas maos estao sujas de sangue, e eu serei executada do jeito que Tyrkan sempre quis me executar.

- Eu sou cego Zithar, mas os deuses me permitem ver muitas coisas, e uma delas é que era necessário voce fazer isso. Se isso não acontecesse, Alisha se perderia, e ficaria presa lá ate a próxima encarnação, do mesmo jeito que aconteceu em uma das encarnações passadas. Então, Khoasang venceria.

Houve um momento de silêncio. Zithar parecia processar as informações com sucesso, mas suas maos tremiam. Raniel podia ver o medo e a culpa em seu olhar.

- Eu entendi. - ela engole em seco. - Me diga uma coisa, por que lutamos tanto, se a história sempre recomeça da mesma forma?

- Imagine nossa história como aquele jogo de Hydarth, o Xadrez. Nós jogamos, mas nao importa o lado que vença, todas as peças voltam para o mesmo lugar, prontas para recomeçar a partida da mesma forma até, finalmente, uma partida diferenciada ser iniciada. E a julgar pelo andar da carruagem, finalmente teremos um final diferente.

- O que tenho de fazer?

- Cuide de Alisha, voce estando viva ou morta. - Raniel, sentado ao lado do túmulo que Damian fez para Zithar no campo, repete o que disse a ela horas antes de ser queimada viva. - E não pare, nem que tenha de matar alguém.

Se apoiando na bengala, ele se levantou, beijando a rosa que tinha na mão e colocando sobre o túmulo.

- Se lhe serve de consolo, Heilos está trabalhando para as meninas sobreviverem a última fase.

Ao sentir o vento gélido lhe acariciar a face, o mago sorriu, sentindo a familiaridade do toque da amiga. Então, começou a caminhar de volta para o Templo de Maharpayã, ignorando completamente a caravana real que era recebida em Ophiocus.

***

Da caravana real saiu uma mulher linda e imponente, acompanhada da sua filha, a princesa Molly, a mais provavel herdeira do trono de Phoenix. Ambas usavam vestidos dignos ds realeza, com acessórios que possuiam um alto valor comercial, além da própria carruagem em que vieram ter decorações douradas e ser protegida pelos mercenários mais habilidosos de Phoenix, logo, eram os mais caros. Elas ostentavam com felicidade, sem se importar com o que os outros diriam ou pensariam.

- Esse lugar esta um horror. - sibila a rainha, erguendo seu vestido e entrando no castelo, seguida pela filha. - Onde está o anfitrião?

- O rei não pôde comparecer, majestade. - Kauane, que usava seu uniforme de arqueira, resolve receber a mulher. - No entanto, o...

- Como o rei me convida e não está presente?!

Kauane respirou fundo, mantendo sua calma.

- Senhora, um assunto urgente surgiu e precisou de atenção. Por isso...

- Um assunto mais importante que receber a rainha mais bem sucedida da historia?

A indígena franziu as sobrancelhas, deixando sua educação de lado e encarando a mulher loira. Percebendo que sua indireta atingiu o objetivo, a rainha sorri ladino, fazendo Kauane deixar escapar um rosnado agressivo.

Antes que Kauane cortasse a garganta da rainha, Damian se aproximou, pondo a mao em seu ombro para a acalmar e, finalmente, a dispensando.

- É um prazer ve-la novamente, Isabell Phoenix. - ele olha para a mais nova - E voce tambem, Molly. Estao divinas, como sempre.

- E entao, tio Damian, como vai a vida de servo? - Molly sorri, mas o que ela nao esperava, é que Damian fosse sorrir de volta.

- Bem. Muito melhor do que ser um monarca falido.

O sorriso da rainha se desfez, e o de Damian aumentou.

- Você não é mais o rei, nao tem o direito de falar assim com alguem da realeza.

- Sim, eu tenho. Se eu te tratava assim quando rei, não vou deixar de tratar tendo me tornado o braço direito do rei. Agora vá direto ao ponto, você esta atrasando demais o assunto.

- Eu desejo falar com o atual rei. - volta a repetir - Sua serva não foi muito educada.

- Ela foi mais educada do que vocês merecem. Ela disse e eu repito, um assunto importante surgiu e ele precisou sair.

Damian encarou a monarca de Phoenix. Molly percebeu que ele estava diferente, mais frio e com menos brilho no olhar, logo se mantendo quieta, deixando sua mae - e rainha - resolver o problema.

- Que assunto?

- Uma guerra, senhora Phoenix. Você estaria atualizada se não tivesse quebrado o tratado com Dragonstone.

- Claro que quebrei. Aquele velho é muito chato e...velho. Além de não ter permitido que seus filhos se casassem com os meus.

- Ele nao estava errado, talvez os filhos tivessem a mesma tendência da mãe, matar o companheiro e assumir completamente o trono e a fortuna.

- Aliás, soube que Heilos tem filhos. Isso é verdade? - pergunta interessada.

- Sim, mas ambos morreram quando eram crianças.

- Jura? Que azar... Quer dizer que minha viagem não valeu de nada.

O ex-rei de Ophiocus franziu as sobrancelhas, seu olhar passando a transmitir todo o desgosto e raiva que sentia, quase tornando visivel o conjunto de veias que passavam pela sua testa.

- Azar para você, que não pôde se aproveitar da vida deles pra casar seus filhos. Mas para Heilos foi uma dor, e para Zithar foi maior ainda. Então, antes que realmente arranje problemas, sugiro que fique quieta e vá para o aposento que lhe foi preparado. Amanhã, vocês entrarão em sua caravana dourada e irão embora.

- Você fica muito atraente quando sério, sabia? Uma pena que escolheu a bruxa ao invés de mim.

- E eu não me arrependo, Isabell Phoenix.

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