Capítulo 4 - Ophiocus

Ao ler o feitiço, Alisha recobrou todo o controle que tinha sobre si, os latidos constantes de Lucky haviam trazido sua mente de volta a realidade, quebrando totalmente a magia que comandava o corpo de sua dona.

Tudo começou a ocorrer de forma rápida o bastante para não lhe dar tempo de gritar ou fugir, mas ela podia ver com clareza tudo o que acontecia e nao podia fazer nada para impedir, não sabia como fazer.

A primeira coisa que aconteceu lhe foi tão surreal quanto as coisas que aconteceram depois. Uma luz havia começado a emanar com força vinda dos pisos do chão em que ela estava em pé, a separando de seu cachorro — que latia incessantemente enquanto andava ao redor daquela barreira procurando uma forma de entrar — e de todo o resto do quarto.

Algo em sua mente a gritou para que abraçasse o livro com força e não largar a chave, foi o que fez sem pensar duas vezes.

Em seguida ocorreu algo que seria totalmente inexplicável pela ciência humana da atualidade. Uma gigantesca força invisível puxou Alisha a tirando do chão e a fazendo mergulhar no brilho que se erguia para o teto e tomava todo o quarto. Quando ela foi engolida pelo brilho, ele aumentou repentinamente a ponto de sair pelas janelas, e, com a mesma velocidade com que apareceu, ele cessou totalmente fazendo Lucky correr apavorado para o espaço vazio da mesa do computador.

Ela tinha a sensação de viajar a velocidade da luz enquanto vagava em sua própria mente, vendo o borrão de estrelas e planetas passar diante de seus olhos e sendo deixados para trás.

Por um instante ela tinha a certeza de que tinha acabado de atravessar a Via Láctea e que estava passando pelos planetas do Sistema Solar, porém, com as cores diferentes daquelas conhecidas e apresentadas nos livros de ciência do colégio.

Quando chegou cada vez mais perto do sol, ela passou a sentir algo semelhante a gravidade ou alguém a puxando para o solo, a fazendo entrar em uma queda livre, lhe proporcionando um frio na barriga e um embrulho no estômago.

Como se subitamente a velocidade fosse diminuída até não existir, Alisha se chocou com o chão com força o suficiente para ser comparado a uma queda da própria altura, nada grave para machuca-la e isso a confundiu tanto quanto o fato de que ela havia batido a cabeça no chão. Mas que porcaria aconteceu?! A viagem e a queda foram apenas uma ilusão? Eu estou morta? Bebi alguma coisa que não devia?

A garota sentiu a umidade no corpo. Ótimo, estou mortinha da silva. Aposto que estou deitada em um laguinho de dez centímetros de profundidade e que estou usando um vestido branco e sandálias de veludo de mesma cor! Ela abriu os olhos, que se arregalaram ao ver que estava deitada no gramado de floresta mais belo que já vira. Era de um verde escuro que tinha certa vida, o mato aparentemente nunca havia sido aparado. A ventania que cantava pelo céu, tingido de lilás e dourado pelo sol nascente, balançava a grama tão belamente que era como se a mesma dançasse em sincronia com a música que tinha o canto dos pássaros a ajudando com o refrão.

As árvores eram altas, de troncos grossos e cobertos de seiva ou cogumelos. Haviam algumas abelhas aqui e acolá, roedores entrando e saindo de suas tocas e insetos buscando seu alimento.

Alisha se levantou sentindo o gramado sob os pés descalços e pegou o livro do chão, ele estava trancado e a chave era uma caixinha novamente. Sua boca estava suavemente entre aberta enquanto seus olhos estavam banhados em um brilho de espanto e admiração ao observar a paisagem. No céu, onde o brilho das estrelas desaparecia, pássaros voavam longe em formação "V" para a longa viagem que é a migração.

Em terra, a floresta enchia a visão da jovem, não havia casas, carros, prédios ou placas. Nem nada que pudesse ser utilizado como ponto de referência para Alisha saber onde estava. Era tudo tão lindo e natural que era quase impossível acreditar que não era o mais belo sonho que já tivera.

- Eu morri? Eu tô no céu? Tô inteira? - Ela passa a apalpar e apertar o próprio corpo em vários pontos como se para garantir que estava viva. Então, quando termina, ela se belisca. - Aí, tô viva e não é sonho. Onde é que eu tô?

Sua barriga ronca.

- Será que tem pão? Eu tô com fome. - ela para de pensar no lugar em que está para pensar na comida que irá ingerir. - Tenho de resolver isso primeiro.

Enquanto tentava assimilar tudo que havia ocorrido nos últimos minutos (ou segundos) para não entrar em pânico, na terra úmida tem início um movimento subterrâneo que criava uma larga elevação no solo. O som lhe chamou a atenção a tempo de ver uma grande lacraia, do tamanho de um cão de porte médio, saindo da elevação em sua direção.

Com um grito de susto e nojo, Alisha deu um chute de bicuda no quilopode o enviando para longe. Ela limpou o pé com uma folha de árvore para substituir o pensamento de ter tocado a lacraia pelo que ela sabe que limpou o pé que precisou usar, lamentando ter perdido os chinelos quando foi consumida pelo brilho em seu quarto. O receio do episódio voltar a acontecer fez a jovem resolver caminhar para a direção onde o espaçamento entre as árvores se tornava cada vez menor e o céu mais visível.

Ao alcançar a área menos coberta, notou ser uma clareira com um caminho de terra, marcado por duas linhas fundas na areia enlameada que secava, havia também marcas de ferradura bem visíveis feitas ao mesmo tempo ou até antes que as marcas retas.

Reconhecendo as marcas na terra como sendo de carroças puxadas a cavalo, cujas ferraduras seguiam um único sentido, Alisha se pôs a segui-las para uma determinada direção na esperança de encontrar pelo menos uma das carroças que por ali passou.

O sol se erguia devagar enquanto as horas de caminhada se seguiam, dando ao céu seu tom lilás total. Alisha jazia cansada e com os pés doloridos por andar descalça pela trilha cuja areia estava tão quente que um ovo poderia ser frito e devidamente temperado nela.

Quando ela pensou em finalmente parar para descansar sob a sombra de uma árvore alta, uma muralha de pedra começara a tomar seu campo de visão com os portões abertos para visitantes e, no topo, guardas trajando armaduras reluzentes para conseguirem ver além das árvores mais próximas.

Para haver portões desse tamanho protegidos por guardas armados, deve haver algo de importante dentro, certo? Pensou. Pode ser minha salvação.

Ao se aproximar sob o olhar julgador dos guardas e atravessar timidamente os imensos portões de aço da muralha, Alisha se vê em uma cidade de aparência medieval, com casas rusticas feitas de pedra e madeira, porém, construídas com perfeição. Nas barracas de madeira que estavam instaladas pelas ruas, eram vendidas frutas cujo cheiro doce atiçou o estômago da jovem faminta a fazendo abraçar o livro com força para pressionar seu estômago e tentar disfarçar seu roncar de fome.

As pessoas que por ali andavam trajando vestes de tecidos volumosos e quentes; algumas pessoas a olhavam com desdém, outras com curiosidade e interesse. No entanto, no final, todas cochichavam sobre a mesma coisa: o quanto ela era esquisita.

Inconsciente do que estava de errado consigo, a jovem continuou a andar pela cidade naturalmente, procurando alguém que pudesse a ajudar a voltar para seu mundo. Isso se ela tivesse mesmo mudado de dimensão ou apenas viajado para o passado, porque dúvidas sobre isso surgiam em sua mente a cada passo que dava e ela começara a sentir-se uma YouTuber criando teorias de conexões entre jogos e filmes famosos.

Ela seguiu para a direção das barracas de madeira que vendiam frutas cujos vendedores gritavam para chamar clientes. Alguns cantavam ou rimavam seu chamado como algo do tipo "venham, venham. Experimentar as melhores frutas do reino", outros tinham placas de madeira escritas com tinta e poucos apenas chamavam. Ao se aproximar de uma delas, a velha e enrugada vendedora olhou Alisha de cima a baixo com seus olhos esbugalhados de forma analítica e curiosa.

- O que deseja, minha jovem? - sua voz esganiçada revela todo o interesse que tinha em Alisha, que olhava todas as frutas a mostra na barraca. Algumas conhecidas e outras totalmente desconhecidas e exóticas.- Tenho de tudo. Desde frutas a elixires de cura, e tudo por um preço muito acessível.

- Quanto é um cacho grande de uvas roxas?

- Apenas uma moeda de bronze, queridinha. Uma pechincha, não?

- Uma moeda? - ela pergunta confusa. Isso está muito barato pro meu gosto. - Sim, uma pechincha, mas eu não tenho nenhuma. Acabei de chegar e nem sei onde estou. A senhora não poderia me dar para que eu a pague depois?

- Não posso fazer isso. Já fiz tal caridade a muitos e não me pagaram um tustão sequer. - o olhar da velha cai sobre o livro. - Você Parece ter algo de valor em mãos. Que tal uma troca? O livro, pelas uvas.

Alisha torceu o nariz pensativa. Trocar o livro pelas uvas? Que tentação. Sua barriga roncar novamente, dessa vez mais forte. Ela fecha os olhos com vontade tentando ignorar a fome. Ahhhhhhhhhh o que eu faço? Estou morrendo de fome! Só que eu não posso dar o livro, algo me diz que não devo. Mas as frutas cheiram tão bem...

- Então, o que me diz, minha jovem? - a velha persiste. - Posso escutar claramente seu estômago implorando por comida, deve ter feito uma longa viagem para estar com tanta fome. E o livro não está lhe sendo útil, então, porque não o trocar por seu alimento? Lhe dou dois cachos ao invés de um.

Os lábios da jovem se uniram em uma linha reta e se abriram suavemente para dar uma resposta para a velha senhora a sua frente.

- Sinto muito, mas eu não aceito, apesar de sua oferta ser muito gentil. - ela nao entendia o que estava acontecendo consigo. Ela queria trocar o livro pelas uvas, mas ela respondeu "não". Porque? O que lhe impedia de executar a troca? Talvez porque tenha sido um presente do Sr. Mingzhi. Ele ficaria tão desapontado se soubesse que eu troquei o livro por um simples cacho de uvas roxas. - Prefiro conseguir dinheiro o suficiente para paga-la.

- Bom, já que é assim, espero que consiga e venha comprar na minha mão. Ou te encontrarei e irei te esfolar viva. - Alisha fica parada apenas olhando para a velha, que sorri revelando alguns de seus dentes faltando e outros amarelados. - Estou brincando, queridinha.

A velha começa a rir. Alisha força uma risada, se despede e sai dali querendo pensar que as surpresas e sustos acabaram.

Até que houve uma gritaria vindo de uma casa de madeira e as portas foram abertas revelando um homem alto com uma cicatriz no olho direito e uma túnica de coloração preta e cinza, acabando totalmente com a esperança de não haver mais surpresas ou sustos.

Ele carregava consigo uma garrafa de bebida cheia, e pelo seu estado, estava longe de ser a primeira que foi parar em sua mão na última hora. Ele gritou algo para uma pessoa dentro do bar que respondeu com: "Apenas retorne aqui quando tiver em mãos moedas de ouro o suficiente para pagar pelo prejuízo!", fazendo o homem embriagado rir e dar mais um gole em sua bebida.

Por um instante Alisha pensou ter visto o homem a observando de forma ameaçadora de rabo de olho ao mesmo tempo que toma um comprimido o misturando com o álcool, a fazendo engolir em seco e andar mais rápido para sair dali. Quando a sensação de perigo começou a passar, a velocidade dos seus passos diminuiu junto, para então, finalmente parar para descansar.

Poucas pessoas passavam por aquele lugar que parecia ser a área da mais baixa classe, afinal, as roupas trajadas pareciam ser feitas de sacos de batata e a maioria dos moradores estavam descalços. Pedir informação se tornara uma tarefa difícil a partir do momento em que as pessoas se afastavam de Alisha, a achando uma total estranha ou simplesmente a ignoravam.

Apenas um desconhecido se aproximou, era um senhor barbudo com roupas de mesmo padrão dos outros e um pouco de areia lhe sujando a calça.

- Olá senhorita, precisa de ajuda? - ele pergunta simpático, despertando em Alisha um sentimento de desconfiança. - se Perdeu de seu caminho?

- Por favor, pode me dizer onde estou?

- Onde está? Senhorita, não há erro, sua bela pessoa está em Ophiocus, governada por vossa majestade, Damian Ophiocus.

Ophiocus é cobra. Cobras são sinônimo de falsidade!
Alisha ri nervosamente:

- Que nome peculiar.

- Venha comigo - Alisha Olha a mão que fora estendida para ela -, mostrarei nosso magnífico reino.

- Obrigada, mas recuso. Eu posso conhecê-lo sozinha se prestar atenção por onde passar, sabe, para isso que existe o senso de direção.

Agradecendo novamente pela oferta, Alisha da as costas e sai andando a passos rápidos para longe do homem o deixando para trás com a intenção de se afastar o mais rápido possível sem precisar transformar seu andar em corrida.

Houve um tranco quando seu pulso foi segurado com firmeza a impedindo de continuar a se afastar. Alisha olhou para o homem enquanto puxava o braço para se libertar do aperto.

- Me largue ou eu grito!

- Você não tem essa força toda menininha. - ele sorri. - Apenas venha comigo e eu não lhe farei mau algum.

Como ela segurava o livro com a mão livre, Alisha chuta a canela do mais velho o fazendo grunhir de dor e se encolher. Consequentemente o aperto se tornou mais forte para ela não escapar. Poucas pessoas passavam por ali, mas aquelas que viam a cena não se importavam e apenas continuavam a carregar suas sacas de frutas e verduras para casas e barracas.

Malditos. Vou pegar cada um de vocês depois. Não são nada diferentes do pessoal da Terra.

Houve um estalo alto de vidro se quebrando e o braço de Alisha fora solto de forma inesperada. Ela se desequilibrou caindo sentada na terra e levantou rapidamente se afastando.

O homem levou as mãos a cabeça com um gemido de dor e se virou para seu agressor. Era o homem embriagado que fora expulso do bar. Em sua mão jazia uma garrafa de bebida quebrada que pingava no chão o resto do líquido que havia dentro.
O bêbado revirou os olhos quando o homem a sua frente o ameaçou com palavras e gestos de ódio. O seu tédio era evidente.

- Vai procurar o que fazer. - ele vai até Alisha pondo uma mão em seu ombro para a impedir de sair e olha ameaçador para o homem. - Ela já possui um guia com capacidade o suficiente para ajudá-la a conhecer a cidade.

- Isso não lhe da o direito de me golpear com a porra da garrafa. - Alisha apenas queria sair daquele lugar, mas o bêbado(que não parecia nem um pouco bêbado) segurava seu ombro com um aperto firme. - Você tem noção de com quem está se metendo, bêbado?

- Sim. Com um idiota que não sabe o seu devido lugar.

Um brilho maldoso se passou nos olhos bicolores de seu salvador, proporcionando a Alisha a sensação de que alguém ali viria a morrer. Como se percebesse os pensamentos de Alisha, o homem da garrafa aliviou o aperto em seu ombro e saiu andando a arrastando consigo a fazendo entrar novamente em agitação.

- Ei, me solte! Pra onde está me levando?

- Para um lugar seguro, humana.

-... Qual o seu nome? - o homem não respondeu. Ele parecia estar a ignorando, ou simplesmente não ouviu. Alisha parou no lugar. - Qual seu nome, o que você faz, e pra onde está me levando. Diga.

Diante do pequeno interrogatório, ele suspira buscando paciência.

- Chamo-me Heilos. Faço parte da guarda real e estou a levando para o castelo. Sua presença aqui deve ser de conhecimento do rei para garantir que a senhorita não será um perigo futuro. - os olhos dele caem sobre o livro que a jovem tem em mãos. - Pelo visto será um problema imenso ter você aqui.

- como pode saber? Nem me conhece.

- A única coisa que precisa saber agora, é que esse livro é, de certa forma, amaldiçoado. E que aquele que o tiver, sem dúvidas será um imã de problemas.

- Explique.

- Você acha que pode me humilhar daquele jeito e sair como se nada houvesse acontecido? - era o mesmo homem de antes. Heilos se virou para encara-lo, ele não tinha mais paciência e a tensão que emanava dos dois fez com que Alisha se afastasse considerando fugir.

- Você não sabe mesmo quando parar. Garota, se você fugir, vai ser pior pra você.

- Você é o guerreiro mais baixo que Ophiocus já teve em seus séculos de existência. - ele insinua -Espero que nada ocorra com vossa majestade para um traste como você não subir ao trono, só afundaria o reino na perdição. Que Maharpayã nos proteja.

Heilos fechou as mãos em punho e avançou. O homem não teve como defender-se do forte soco que levou no rosto, seu nariz foi tingido de vermelho e saiu do lugar de forma bem aparente.

- Não ponha meu nome na linha de sucessão do trono. - Heilos rosna o olhando com total desgosto que uma pessoa pode sentir por outra. - Eu nunca quis o sangue que tenho, mas no final, todos somos escravos dos desejos de alguém da família.

Com a mão limpa ele volta a guiar Alisha para o castelo. Ao erguer o olhar ela vê um grande castelo, construído de pedras lisas, se erguendo de forma majestosa e intimidante, possuindo cinco torres de tamanhos diferentes e topo em forma de cone, sendo a principal delas tão alta que parecia prestes a rasgar o céu. As bandeiras de cor preta com uma serpente pintada em branco criando um contraste bem visível balançavam com o vento suave.

Ela deixou escapar um evidente "que lindo"

- Pelo visto nao há tais construções em Hydarth. - Alisha desperta do encanto da beleza do castelo e olha para Heilos de forma confusa.

- Hydarth? O que é Hydarth?

- É como chamamos seu mundo. - Ele cumprimenta com um aceno de cabeça os dois guardas da entrada dos grandes portões do muro que separava toda a área do castelo do resto da cidade. - Apesar de conhecermos a existência dele, os de seu mundo não vem para o nosso. Raros são os casos.

- Hamram. - Alisha Não havia prestado atenção na fala do guerreiro, o enorme jardim do castelo se tornara interesse maior.

A trilha de terra seguia reta até a escadaria da entrada do castelo, mas haviam outras ligadas a essa. Algumas cruzavam entre as árvores, flores e arbustos, outra seguia para o estábulo onde eram mantidos os cavalos e as carruagens. Mas havia um único caminho de pedras que levava para uma grande torre de tijolos pretos, ela era tão alta que de longe poderia ser confundida com uma das torres do castelo, em seu topo havia um círculo com dois ponteiros de ferro, era uma torre de relógio protegida pelas amedrontadoras gárgulas de pedra que estavam em seu topo.

No meio da grama baixa havia bancos para se aproveitar a paisagem e uma fonte que suga a própria água para expelir e assim mantém um ciclo infinito sem esvaziar.

As flores eram de certa forma raras. Ela reconhecia algumas por causa do hobby botânico de sua avó materna. Rosas negras de Halfeti, Rosas Arco-íris, Orquídeas Azuis e Flores Morcego-Preto decoravam a paisagem.

Heilos guiou Alisha pelas escadas diretamente para dentro, onde foram recebidos pelo chão forrado com um carpete vermelho por toda a extensão do longo corredor iluminado por lampiões cujas velas não derretiam, tapeçarias contando histórias que a adolescente não tinha noção sobre o que se tratavam, lustres e enfeites de parede e teto aparentemente feitos de ouro maciço.

As portas duplas de madeira carmesim que guardavam os cômodos passavam devagar de acordo com o andar da dupla. As vezes cruzavam com o caminho de um guarda ou outro, mas todos possuíam uma espada em sua bainha e trajavam um peitoral de couro.

Alisha franziu o cenho em confusão ao ver um guarda com um padrão diferente nas roupas ir em direção a eles. Isso se aquele homem de aparentemente um metro e setenta e cinco centímetros de altura fosse um guarda.

- Heilos, já estava indo te buscar no bar tendo em mente que havia sido dominado pelo álcool. - Heilos o cumprimenta com um aceno de cabeça, ignorando totalmente sua fala desnecessário e o homem, com uma careta como se pensasse "mas que cara chato", olha para Alisha e logo a careta se desfaz dando lugar a curiosidade. - Vejo que trouxe um brinquedo. Então era dela que os guardas tanto falavam. Quem é ela? Está desarrumada demais para ser uma meretriz.

A garota olha para o homem que vestia algo parecido com um moletom com um capuz grande o suficiente para bloquear a claridade e lhe esconder os traços, principalmente seu chamativo cabelo bagunçado de cor azul escuro.

- Meretriz?! Meretriz é a tua... Ôia...- Alisha protesta e Heilos começa a falar a cortando imediatamente. A garota resmunga baixo o suficiente para apenas si mesma ouvir e cruza os braços.

- Muito bem observado Lancer, ela não é uma meretriz. É uma habitante de Hydarth.

- Hydarth? Está falando sério? - Heilos assente - Já que esse é um caso de urgência, o rei deve atendê-los em pouco tempo. Sigam-me.

O homem, cujo nome era Lancer, os guiou até o final do corredor mais longo onde um enorme par de portas vermelhas com entalhos em serpentes douradas se fez visível, com dois guardas a protegendo empunhando lanças maiores que seus corpos, cruzadas na frente da porta dupla para bloquear a passagem.

Os guardas analisaram ambos os homens de cima a baixo procurando alguma arma, e então olharam para Alisha com clara confusão no olhar.

- É uma longa história. - Heilos olha para os guardas com superioridade. Se ele é um guerreiro, qual sua patente afinal? - Que deve ser esclarecida na presença do rei.

Os vigilantes da porta assentiram com um aceno suave de suas cabeças e descruzaram suas lanças permitindo a passagem do trio pra a sala do trono. Lancer abriu ambas as portas com um único empurrar e Heilos entrou levando Alisha consigo.

Há uma descida de escadas que no meio do caminho para e se divide em duas para as laterais, levando para o enorme salão da sala do trono, onde o rei realiza suas festas e reuniões com os generais ou aliados. Essa sala parece ser mais um salão de festas do que uma sala do trono.

Em cima de uma elevação havia dois tronos de pedra com o assento disfarçadamente colchoado. No maior estava o rei, cujo os olhos azuis cansados percorriam um pergaminho o lendo e assinando com uma pena cinza no final. Sua coroa jazia em sua cabeça tornando seu cabelo acastanhado mais volumoso, o obrigando a se cachear levemente para dentro e contrastar com os pelos faciais que cresciam.

No trono ao lado estava a rainha, sentada com uma perna sob a outra, deixando a mostra seu salto alto marrom e um romance de muitas páginas em mãos. Seu cabelo cacheado estava baixo pelo peso de sua coroa prateada com pequenas esmeraldas encrostadas, combinando com seus olhos; o vestido bege pouco volumoso era discreto mas bonito e desenhava as linhas de seu corpo. Suas feições eram tranquilas ao contrário de seu marido, mas ela não sorria ou expressava um sentimento sequer. Porém, mesmo assim, ela era a mulher mais bela que Alisha ja viu.

Quando os superiores os notaram e se sentaram corretamente em seus assentos, Heilos e Lancer fizeram uma reverência enquanto Alisha permaneceu parada sem saber o que fazer. O rei toma a palavra.

- Heilos, Lancer. É um prazer os ver depois de tanto tempo afastados das missões. - seu olhar crítico pesa sobre Alisha e a rainha aparenta sentir interesse no caso, afinal, marcou a página em que parou e fechou o livro. - O que os levou trazer a senhorita para nossa presença?

- É bom ficar um pouco afastado do campo de batalha, ajuda a manter a mente sã. - Lancer sorri de forma carismática para o rei, conseguindo fazer com que o mesmo sorria mesmo que levemente. - O senhor deveria experimentar.

- Se um dia eu puder...

- Majestades - Heilos começa - , sinto por atrapalhar seus afazeres, mas está garota possui algo que é de seu interesse. Eu a interceptei na área humilde da cidade e percebi que ela possuía nada mais nada menos que o próprio Kniga.

- O Kniga? - a rainha estava espantada, seu olhar se cruzou com o de seu marido, checando para ter a certeza de que pensavam a mesma coisa. Ela voltou seu olhar para Heilos. - Mas onde está o Zashti? Ele é seu guardião!

- Minha Senhora, eu teorizo que ele tenha falecido, até porquê, em Hydarth o tempo corre duas vezes mais rápido que aqui. Afinal, Daechya é um mundo envolto de magia e...

Alisha interrompe as palavras que eram proferidas por Lancer.

- Chega! - seu rosto estava vermelho, ela achava que devia estar saindo fumaça por suas orelhas.- Eu não sou daqui e nao estou entendendo porra nenhuma! Daechya? Hydarth? Kniga? Livro amaldiçoado? Alguém me explica!

A rainha se levantou com as mãos entrelaçadas na frente do corpo, desceu os três degraus da pequena escada da elevação do trono e se dirigiu para Alisha com um andar elegante digno de uma mulher da família real.

Ela emanava uma aura tranquila que parecia flutuar por todo o grande cômodo com tanta delicadeza quanto uma bailarina exercendo seu trabalho no palco, e toda aquela "dança" estava hipnotizando Alisha. A enfeitiçando na presença de todos, induzindo-a a relaxar perante aquela situação estressante.

- Sei que deve ser difícil para você, estar em um mundo que não conhece e com pessoas que não sabe se são confiáveis. Mas você não pode agir tão agressiva para com as pessoas, elas podem a machucar por isso. - Alisha estava parada olhando fixamente a rainha, que levou a mão ao rosto da jovem e acariciando sua bochecha. - Qual seu nome, minha menina? E como achou o livro?

- Chamo-me Alisha. - Sua mente vagava pelo toque carinhoso da rainha, as palavras eram proferidas por sua voz sem controle. - Eu achei o livro no depósito do meu local de trabalho e meu chefe permitiu que eu ficasse com ele porque não fazia parte de seus produtos.

- Obrigada, Alisha.

Acordando com as palavras de agradecimento e o brilho da estrela de oito pontas que tranca o livro, Alisha se desvencilhou da rainha e escapou de seu toque, raiva e desconfiança eram vistos em seus olhos jovens.

- O que você fez comigo? O que foi aquilo?

- Desculpe-me, eu apenas tentei acalma-la com um pouco de magia. Por favor, não leve isso a mau.

Os olhos do rei pesaram sobre o livro nas mãos de Alisha. Ele levou as mãos para ele enquanto olhava para a garota pedindo sua permissão para pegá-lo. Ela cedeu ao pedido após analisar de cima a baixo o rei e esconder atrás das costas a chave de oito pontas. Agora o Kniga estava envolvido em suas mãos reais, seu peso era surpreendentemente leve para o material da capa, a tranca e as numerosas páginas nunca escritas que faziam parte de sua composição. O rei a olha.

- Onde está a chave?

- Eu não sei. - ela olha em seus olhos castanhos - Eu não vi quando acordei, estava apenas o livro.

— Ela deve ser encontrada — Heilos observa —, ou então poderão tomar coragem e programar um ataque.

- Sim, caro Heilos, esta certíssimo. Mas de qualquer forma, é incrível que ele a proteja. - ele passa a olhar minuciosamente todo o livro que jazia trancado. - O que é estranho, ela não deve ser o Zashti. De acordo com nossos estudiosos, o tempo de Hydarth corre duas vezes mais rápido que o nosso, mas mesmo assim, não seria tempo o suficiente para dar tempo do anterior falecer.

- Majestade. Meu chefe me disse que a muitos anos atrás, um jovem chegou ferido e confiou o livro a ele, e então, foi embora dizendo que voltaria para buscar o que era seu, mas nunca voltou.

Desta vez, Lancer, que estava pensativo, toma a frente.

- Então esse é o objetivo do livro. Ele a escolheu para encontrar seu protetor. Mas para isso ele a fez sua protetora temporária.

- Não é bom tirarmos uma conclusão tão precipitada quanto essa Lancer, há a possibilidade de não ser exatamente isso. - o rei adverte. - Temos de o guardar em um local seguro e reforçar a segurança do reino. Com o aparecimento dele, sem dúvidas Khoasang já está planejando sair de seu esconderijo imundo para nos atacar. - ele olha para Lancer e Heilos. - Lancer, mantenha-se atento e mande quatro de seus aprendizes para cada torre, é bom termos batedores de longa distância em pontos altos estratégicos. E Heilos, quero que ordene os cavaleiros que fiquem alerta a qualquer coisa estranha e aumente o número deles nas ruas e arredores do reino, mande alguns mais para a muralha também. Irei providenciar possíveis abrigos para os cidadãos e entrarei em contato com os reinos aliados, principalmente Dragonstone. Todos devem estar preparados para proteger o reino e lutar. Vocês estão dispensados.

- Sim, meu senhor.

Os dois respondem fazendo uma reverência a realeza e saindo pela porta escondida atrás da escada normalmente utilizada pelos serviçais.

- Zithar, por favor, leve a jovem Hyd para um aposento e de a ela uma roupa mais confortável. Irei por o livro em um cofre e entrar em contato com os outros reinos.

- sim, querido. - Zithar, a rainha, pegou uma das mãos de Alisha enquanto seu marido saia. - Venha, minha criança.

Pelas escadas da entrada principal Zithar levou a garota de volta pro mesmo corredor onde estava a minutos atrás. A medida que caminhavam os guardas faziam uma reverência que consistia em juntar os pés com a coluna ereta e levar a mão direita ao peito enquanto a esquerda segurava sua lança ao seu lado. A rainha cumprimentou todos eles com um "bom dia" simpático, conversando com eles e com os servos que por elas passavam de igual para igual.

Zithar abordou uma das serviçais e pediu que ela lhe levasse uma bacia cheia de água quente e roupas limpas para o quarto para onde estavam seguindo. Enquanto a rainha conversava com a serva, Alisha estava em frente a uma tapeçaria pendurada contra a parede de pedra. A imagem nela pintada era um vulcão explodindo lava para todos os lados em uma paisagem deserta cujo céu era coberto por um verde sombrio.

- Alisha? - Zithar a chama.

Ela não ouvia, a adolescente apenas olhava fixamente para a imagem que parecia se movimentar e levou a mão ela, tocando o tecido.

Aquela tapeçaria a chamava. As figuras dela começaram a se mover e então a passar como imagens quebradas e rápidas em sua mente. Ela ouvia tudo dito em todas as passagens, mas era rápido demais para entender e as falas começaram a se misturar dificultando mais seu entendimento. Eram peças soltas de um grande quebra cabeça que deve ser montado, no entanto, essas peças estavam espalhadas e tinham de ser encontradas e alinhadas.

Seus olhos se fecharam, e quando voltaram a abrir ela estava em um lugar alto e envolto de um calor insuportável a fazendo começar a suar frio. O liquido vermelho fervente borbulha e o cheiro da lava queima o interior de suas narinas dolorosamente.

Rugidos em uníssono invadiram seus tímpanos de forma estridente, várias bestas enormes de pele escamosa saíram da escada e cercaram a sacada do (agora notado o que é) pagode. Ninguém parece ter a visto também, e uma daquelas feras a atravessou como se a mesma fosse um mero fantasma no meio do caminho.

Havia um garoto magro que aparenta ter sua idade, ele estava cercado pelas bestas, e parecia falar sozinho. De frente para uma queda mortal, e de costas para bestas famintas. Não havia escapatória.

- Você esta certo. - o garoto começa - Um homem sozinho não pode vencer uma guerra, mas possui a capacidade de adia-la.

Uma voz raivosa gritou ecoando por todo o lugar assustando Alisha.

- PEGUEM-O!

As bestas avançaram, o garoto pós uma mão na sacada para pegar impulso enquanto a outra segurava algo, de relance Alisha percebeu ser o livro que ela havia encontrado, o chamado Kniga. Havia o reconhecido pela fechadura estrelada que, milagrosamente, estava aberta.

O impulso do garoto o mandou para o lado de fora do pagode ao mesmo tempo que as bestas avançaram para a sacada tentando agarra-lo em pleno ar nem que fosse pelas roupas surradas. No entanto, eles não conseguiram pegá-lo porque seu corpo tomou velocidade durante a queda e as grades de madeira os impediram.

Alisha correu para a sacada se esgueirando pelos monstros e se apoiou olhando para baixo, vultos se agitavam e rugiam lá embaixo. O garoto abraçava o livro aberto com força, algumas palavras saíram da boca dele quando o mesmo estava perto do chão, e sua voz jovem ecoou com clareza na mente da garota o feitiço que ela também proferiu: dee kêí veg

O brilho, ao invés de sair do chão como quando ocorreu com a jovem, saiu desta vez das próprias páginas do livro e consumiu o corpo do jovem. Quando ele ia se chocar no chão, ele simplesmente desapareceu levantando a poeira da terra árida. As bestas rugiram em pura raiva.

Enquanto estava entretida com o que aconteceu, uma mão esquelética de cor preta se esgueirou pelas suas costas e tocou seu ombro, a puxando para trás de forma súbita a fazendo gritar em pânico e se virar para agarrar o pulso de quem a tocava.

- Alisha! Está tudo bem! Sou eu... - era Zithar, ela estava preocupada e segurou a mão que estava em seu pulso a acariciando. - O que você viu?

- Nada. - Alisha olha para a mão da rainha enquanto era acariciada, era uma mão normal. De pele, carne, bracelete e o osso. - Só me encantei pela imagem, eu acho. Parece bem real. Hehe... A Senhora me assustou, eu estava entretida.

Zithar ergueu uma sombrancelha de forma desconfiada mas nada sobre isso foi mencionado. Alisha ja previa que em algum momento teria uma conversa séria com a rainha.

- Tudo bem, conversamos depois.  Agora, você tem de ver seu quarto.

A rainha sorriu com ternura e guiou a jovem para o quarto. Havia uma cama de solteiro com um colchão antigo encostada na parede; uma janela antiga fechada por duas portinhas de madeira e coberta por um par de cortinas; uma cômoda de madeira pura e tres gavetas com puxadores feitos de ossos; e uma pequena abertura sem porta que era o banheiro, que era todo pintado de branco e consistia apenas em uma banheira pequena de pedra coberta com mármore, um vaso sanitário antigo de cor branca e uma pia.

- Sinto muito pelo quarto estar assim, Damian não se interessa em pedir que alguém os arrume, portanto, você pode decorar do jeito que melhor a agradar. - Alisha assente olhando para a rainha que já estava esticando o lençol da cama com um olhar nostálgico.

A serva chegou com dois vestidos e uma toalha dobrada e outra serva com uma bacia de água. A toalha foi pendurada no apoio metálico pintado de ouro que havia ali e os vestidos foram deixados em cima da cama para que a jovem pudesse escolher qual iria usar.

O líquido foi despejado na banheira a enchendo um pouco, o resto foi completado com a água fria da pia para deixar em temperatura morna e puseram também um líquido carmesim com um pouco de rosa choque e roxo com cheiro de rosas na água, que se tingiu levemente com aquela cor. O que é isso mesmo? Aromatizante? Alisha não se lembrava o nome dado a aquele líquido, mas ela tinha a certeza de que era um nome fácil. Ou então, sais de banho? Aff! Depois eu lembro.

- Obrigada.

- Não há de que, minha querida. - a rainha dispensa as servas, que abaixam a cabeça em sinal de respeito e saem fechando a porta. - Agora venha, irei ajudá-la a se limpar.

- Como é que é?

Zithar riu se divertindo com a reação da mais nova. Enquanto isso, Alisha apenas a encarava com as sombrancelhas erguidas, os olhos esbugalhados e a boca suavemente aberta.

- Por favor, deixe-me lava-la. Eu sinto falta de fazer essas coisas tão simples. Afinal, eu não tenho sangue real e cresci no campo.

Com o rosto corado de vergonha Alisha cedeu a insistência da rainha e se despiu entrando na banheira em seguida, aumentando o volume da água o suficiente para a banhar até os ombros.

Zithar se ajoelhou no chão e começou a ensaboar a garota e a molhar seu cabelo com a água da banheira para então lava-lo também. Alisha notou que a rainha estava a banhando do mesmo jeito que se faz com uma criança de colo, com muita paciência e cuidado. E ela não entendia o porquê, apenas aceitava que a mulher cuidasse dela, afinal, vai que ela se aborrece e desiste de dar conforto a sua visitante?

~~~~

O rei caminhava por seu castelo com o livro em mãos, seguindo para o último cômodo nos fundos do castelo, onde ficava o cofre com as riquezas adquiridas nas batalhas, cuja entrada é guardada por quatro guardas e apenas o próprio rei sabe como abrir a porta guardada.

Ao chegar, os quatro guardas o cumprimentaram.

- Ninguém ousou chegar perto dos tesouros do reino, rei Damian. - um dos guardas diz, Damian sorri.

- Bom trabalho.

Ele foi até a porta, girou a fechadura e entrou numa sala vazia. A porta bateu atrás de si e ele seguiu para a parede, onde ele apertou um dos tijolos e a parede de pedra saiu do lugar revelando uma sala cheia de moedas de ouro, jóias, pedras preciosas e outros bens de valor. Também havia duas armaduras reluzentes montadas uma em cada canto, sendo a primeira com um machado de duas pontas e a segunda com uma espada.

Ele foi até o pedestal que havia no centro e tirou dali o colar de pérolas o jogando junto com as outras jóias. O livro foi direto em seu lugar, no centro do pedestal com um vidro sendo posto com o objetivo de o proteger do exterior.

Com curiosidade Damian olhou todos os tesouros para garantir que não estava nada faltando e saiu da sala, fechando a passagem secreta e voltando todo o caminho que fez anteriormente, só que com a mente mais tranquila.

~~~~

Alisha estava limpa, trajando um vestido marrom que é longo o suficiente para arrastar no chão, por esse motivo ela estava em pé com uma serva ajoelhada cortando o vestido para deixá-lo na altura dos seus joelhos. Zithar estava ao seu lado, estranhando o tamanho com que o vestido ficou.

- É assim que se vestem em Hydarth? - a rainha pergunta quando o trabalho de cortar terminou.

- Sim. E olha que está até formal. Lá em... Hydarth, como vocês chamam né? - Zithar assente - É, lá em Hydarth as pessoas usam roupas um tanto... Reveladoras.

- Mas não as vêem como meretrizes?

- Meretrizes? Algumas, mas sao poucas, eu acho, e eu não conheço nenhuma. Porém, lá às mulheres possuem uma liberdade maior garantida pela lei, então mesmo que uma mulher ande sem roupa alguma, ninguém tem direito de toca-la sem sua permissão.

- Aqui não é assim. Se uma mulher não andar coberta, é vista como meretriz e vista com maus olhos. Então aquelas que não exercem a profissão evitam vestes desse estilo para não serem confundidas e, consequentemente, violentadas.

- Bom, então acho que terei de me acostumar. - quando Zithar ajeitou as alças de seu vestido para por no lugar, um pequeno frasco com um líquido branco se revelou como sendo o pingente escondido em seu decote formal. Porque ela esconde o pingente do colar? - O que tem nesse frasco?

- hum? - a rainha olhou para o decote e viu o pingente, o pegando delicadamente com um olhar vazio. - É o veneno de uma Kãneli. Se for ingerido, apenas essa pequena quantidade é suficiente para parar todas as funções do corpo de uma pessoa alta e totalmente saudável. É incurável, e minha fonte de defesa.

Alisha a olhou confusa:

- Se defender com um veneno que só surte efeito se ingerido? Porque não usa um que queima a pele se apenas tocar, um spray de pimenta ou uma adaga? Seria mais prático, não?

- Seria previsível demais. - Zithar sorri. - Mas, quem esperaria que sua prisioneira envenenasse sua bebida, ou comida?

- Tá, ponto seu. Zithar, um. Alisha, zero. - ela pensa um pouco. - A senhora ainda não respondeu as minhas perguntas.

- Ah, sim. Claro. Irei responder todas as suas perguntas, mas tem coisas que não consigo explicar sem ajuda. Por esse motivo, me retirarei por agora para buscar ajuda na biblioteca real. Amanhã terá todas as suas respostas, no máximo. Por enquanto, descanse.

- Vou cobrar ein? Não gosto que me passem a perna.

A rainha riu e se levantou para sair, deixando Alisha sozinha para se acostumar com seus aposentos. A garota começou a olhar ao redor e a mexer em todos os móveis, principalmente na cômoda, onde ela escondeu a chave do Kniga na última gaveta. Ao perceber a chave em seu lugar ela suspirou de alívio, pôs o vestido reserva por cima para esconder e se afastou olhando ao redor para memorizar cada detalhe do lugar e só então perceber que estava realmente em um quarto de castelo.

- Eu estou em outro mundo... Isso é surreal. E é incrível! - ela se joga de costas na cama, cujo colchão afunda sob o impacto e volta ao normal a fazendo quicar e rir enquanto seus cabelos úmidos se espalhavam pelo lençol. - RÁ! Chupa essa sociedade! Existe magia sim! Existem universos paralelos sim! E a primeira a descobrir esse lugar é brasileira! Bando de otários! Haha!... Eu tenho de ser estudada por algum cientista maluco, sou normal não.

Ela ria sozinha com as próprias palavras e pensamentos. Imaginava as reações de Marla se a mesma estivesse ali com ela. Tinha a certeza de que ela gritaria e ficaria falando (ou melhor, gritando) o quanto aquele lugar era incrível pelo resto da eternidade.
Mesmo depois de reencarnar ela continuaria falando sobre esse lugar, sem dúvida. E ainda contaria para os filhos, netos, bisnetos, tataranetos e por aí vai.

Seus olhos estavam pesando finalmente, o que viu na tapeçaria voltou a se passar por sua mente, que repassava tudo o que aconteceu nesse dia. Desta vez eram imagens inteiras e bem detalhadas, com todos os sons claros e distintos. Sua memória trabalhava para gravar todos os acontecimentos. Seu corpo se tornou mole sobre o colchão macio e o vento entrava pela janela refrescando o quarto. Do lado de fora ela ouvia os servos andando e conversando. Finalmente todos os fatos foram organizados, e Alisha pode descansar mesmo não tendo cedido ao sono, ela preferia permanecer desperta para quando Zithar chegasse e a levasse para o jantar.

O tempo parecia passar mais lento do que o normal, pela janela ela via o sol descendo devagar em direção a linha do horizonte. Meu Deus! Que lento!

Aos poucos as horas passavam. Alisha sempre mudava de posição para tentar se entreter enquanto espera a chegada da rainha. Em um momento está de bruços, em outro estava sentada, ou deitada com o quadril alinhado com a quina entre a parede e o colchão com as pernas cruzadas na parede. As vezes ela voltava a analisar todos os cantos acessíveis do quarto ou cantava algumas músicas aleatórias.

- O tempo passou, e o mundo mudou. O tempo passou, e o povo desumano ficou.

Batidas ecoaram. Toc toc toc na madeira, alguém pedia permissão para entrar. "Entre" foi a única palavra dita por Alisha, a porta foi aberta revelando uma bela serva, que um vestido azul marinho estava a usar.

— A rainha Zithar me pediu para leva-la para a sala de jantar. Por favor, me acompanhe.

— Claro, só um instante.

Após endireitar-se na cama Alisha levantou e penteou o cabelo de qualquer jeito, o prendendo em um trançado firme para que os fios rebeldes estivessem controlados. 

Seu vestido jazia amassado, mas isso não era incomodo para a jovem Hyd, que seguiu a serva pelos corredores do castelo. Na porta de entrada a serva parou Alisha e se abaixou, ajustando o vestido da garota da forma mais apresentável possível.

— Agora está mais perto do que chamados de digno para se utilizar em um jantar com a realeza.

A serviçal sorri e abre as portas duplas revelando um grande salão com uma longa mesa de madeira bruta no centro. Tanto Zithar quanto Damian estavam presentes, sendo eles sentados em assentos próximos. A humilde serva sentou Alisha no lugar que lhe foi reservado pela rainha e apenas saiu depois que recebeu o agradecimento por guiar a garota estrangeira. Logo alguns criados começaram a chegar carregando bandejas com taças ainda vazias e comida pronta com maestria.

Notas da autora;
Hello aventuzueiros.
Eu estou de férias! E para comemorar, está saindo esse capítulo.
Votem, comentem e compartilhem para a história ganhar repercussão e atrair mais leitores.
Até a próxima.

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