Capítulo 20 - Para reviver, ou apodrecer

No quarto, Zithar chorava. A maquiagem borrada manchava seu rosto e vestido. Suas mãos tremiam. Seu coração havia se partido mais uma vez, não aguentava aquela dor, ela precisava destruir alguma coisa, precisava trazer Alisha de volta. Zithar havia arrancado o apoiador de toalha e começado a bater em tudo no banheiro, quebrando a louça da pia e da banheira enquanto gritava de ódio. Ao esbravejar, ela largou tudo e voltou a chorar alto, abraçando o próprio corpo com força.

Marylin voltou para o quarto com um copo de chá quente, então, fez com que a monarca bebesse todo o líquido.

— Eu a perdi... — ela repetia. — Eu a perdi também, Marylin! Eu perdi mais uma criança...

— Não foi culpa sua, minha rainha. — A serva estava tranquila apenas no exterior, porquê o interior estava totalmente perturbado. Alisha havia se tornado sua amiga. Saber que ela havia se matado com o veneno que Zithar planejava beber, era muito para ela. — Raniel vai resolver isso. Vai trazê-la de volta.

Zithar balançou a cabeça, negando a afirmação.

— Não, ele não vai. — diz entre soluços. — Ela sabia o que estava fazendo. Ele não vai trazê-la de volta.

— Acha que ela fez aquilo com algumas propósito?

— Eu não acho, eu tenho certeza. — zithar se levanta e lava o rosto, tirando toda a maquiagem. — Limpe os pedaços de louça do meu banheiro, por favor. Em seguida, me encontre no meu altar para Maharpayã. Seja rápida.

— Quer que eu leve alguns incensos?

— Sim, por favor. Eu preciso fazer uma oração aos espíritos, para que guiem a Essência Vital de Alisha.

***

Com o corpo mole de Alisha nos braços, Sieron cavalgou rapidamente para o Templo de Maharpayã.  Ele fez pouco caso para entrar. Apenas chutou a porta, a arrombando e entrando com a garota. Raniel o abordou e, ao sentir o estado da jovem, jogou no chão tudo o que estava sobre a mesa, ordenando que o viking colocasse o corpo lá.

O mago começou a analisar o corpo da jovem. Enquanto isso ocorria, Kauane entra correndo no templo. Seu vestido estava rasgado, deixando suas canelas e pés descalços de fora. Ela estava suada, a maquiagem havia sido borrada, e seu cabelo estava desarrumado, já sem todas as presilhas que o enfeitavam. A nativa havia corrido do castelo até o templo, sem se importar em pegar um cavalo. Não queria perder tempo.

Sieron perguntou o que havia acontecido, Kauane não demorou de explicar o que viu: Alisha fazendo Zithar de refém, com uma faca em sua garganta, então, sendo apunhalada no estômago por Skure, que tentou evitar sua fuga e foi esfaqueado também. Foi então que o viking contou sobre o veneno que a Zashti havia ingerido. Contou como seus músculos começaram a ter espasmos, e como a espuma e o sangue escorriam de sua boca. Ela havia se matado.

Quando chegou a um veredicto, Raniel acenou negativamente e se afastou do corpo. Kauane se revoltou com o pouco caso do mago.

— Por que não a traz de volta?!

Raniel suspira.

— Não conseguem ver?

— Ver o que?! — os dois amigos da jovem dizem em uníssono.

— Por ser jovem, e vir de Hydarth, ela possui uma Corrente d'alma muito forte, por causa da ligação que ela tem com bens materiais e aqueles que estão vivos. — ele começa a explicar, enquanto procura por algo nas caixas enfileiradas no chão. — Sem seus dons, ela não poderia chamar Mautke, então, ela foi até ele.

— Espera! — Sieron interrompe. — Está dizendo que ela fez tudo isso para ver Mautke?

— Exatamente. Agora, me ajudem a lixar, ou arrancar, a pele dela. Precisamos tirar todos os símbolos que foram desenhados em seu corpo.

***

— O que fez, foi muito perigoso, não há garantia que sua Corrente d'alma seja forte o suficiente para aguentar por tanto tempo, ela pode simplesmente desaparecer e você ficar aprisionada aqui. — diz Mautke, guiando a alma de Alisha para Dunjoi. — Saiba que Mingzhi Gulao não está aqui.

— Sim, eu sei. — ela responde, o vestido estava rasgado e sujo de sangue, mas não havia mais o ferimento do punhal. Em suas mãos, jazia o bastão  que Mingzhi havia lhe dado, aquele que ele diz que um dia pertenceu a sua mãe. Por que estava com ele? Talvez porquê morreu com ele em mãos? — Mas Heilos está.

— Acha que conseguirá trazê-lo de volta?

— Eu não acho, tenho certeza. — os olhos vermelhos de Mautke brilham ao encararem a determinação no olhar da jovem. — Tenho algo dentro de mim que pode trazê-lo de volta, uma pequena parcela do poder de Maharpayã. Ele me entregou isso durante um dos meus sonhos, e disse Uma vida por uma vida. Eu não entendi no momento, mas com a visita de Heiwa, eu fui capaz de entender. Heilos não devia ter morrido, a missão dele ainda não terminou, ele vai ser importante para nossa vitória. Sem falar que, de acordo com as palavras de Khoasang, o acordo só funcionária até a morte. Não há nada que dizia sobre vida após a morte, ou ressurreição.

Como se estivesse admirado com as palavras da adolescente, Mautke ri. Uma risada que parecia se tornar cavernosa quando amplificada pelo capuz.

— Não será fácil. Para sair, ele terá de enfrentar seu crime mais imperdoável.

***

Do lado de fora do castelo, Narvi estava com Nêmesis. O grande cão estava solto, no entanto, permaneceu deitado, quieto, olhando para um ponto inexistente. O Mestre dos Assassinos suspirou, fazendo de tudo para que o canino se levantasse ou comesse algo, mas de nada adiantava.

— Nêmesis, você tem de levantar.

— Por que ainda gastar tempo com esse cão? — Narvi se vira, encontrando Skure. Ele estava com o braço e o ombro enfaixados. — Ele não vai te obedecer.

— Eu tava torcendo pra Alisha acertar a lâmina no seu pescoço, sabia?

— Por que tanta confiança na garota? Eu não entendo. Ela tentou matar a rainha e o vilão da história sou eu?

— Ela não tentou matar a rainha, Skure. — O assassino franze o cenho, encarando o Mestre de Armas com seriedade. — Ela estava atrás do pote de veneno de Kãneli que estava no pescoço da rainha, e ela sabia que não poderia simplesmente pedir. Nossa rainha não iria querer perde-la, iria recusar o pedido. Ou seja, só restou a Alisha cortar o cordão.

— E porquê ela escolheu aquele momento?

— Acorda, Skure. Heilos a treinou, Kauane a ensinou a sobreviver e Sieron lhe ensinou como fazer magia. Ela tinha noção de que, se fizesse isso sem uma certa proteção, poderia ser morta de um jeito que não a favoreceria.

A mente de Skure parece se iluminar com isso.

— Ela estava atrás da proteção da ordem do rei. — Narvi assente. — E fingiu que cortaria a garganta da rainha porquê a mesma sabe usar magia, e não hesitaria em usar para impedir os planos da garota. Não havia como prever que a pirralha fosse ameaçar sua vida.

— Exatamente. — as orelhas de Nêmesis se põe em alerta, e o cão se senta, estufando o peito e olhando para o assassino. — É questão de tempo para ela voltar, e provavelmente, não sozinha.

***

Alisha correu por Dunjoi. Via as almas endividadas arrastando pedras enormes incessantemente, e aqueles que paravam o trabalho eram empurrados por seres de forma humanoide, mas seus rostos não eram humanos nem nada parecido. Seus olhos eram no lugar da boca sendo que alguns deles tinham apenas um ou nenhum. Haviam chifres retorcidos ao invés de orelhas e seus corpos variavam no tamanho, uns eram altos, baixos, esguios e aqueles que mais chamavam a atenção eram grandes e brutos. Porém, todos eram constituídos de um tipo de massa marrom gosmenta.

A garota se arrepiou ao perceber que, esses seres, eram almas podres que não tiveram a chance de consertar seus erros. E, por isso, se retorceram, se tornando algo nem humano, nem animal. Apenas servos dos pecados que cometeram.

No entanto, Alisha percebeu que nenhum deles se parecia, realmente, com os Armyasenkis que serviam a Khoasang, então: se não vêm de Dunjoi, como Khoasang descobriu como cria-los? Era a segunda pergunta que martelava a mente de Alisha, enquanto a segunda era: Como posso tirar Heilos daqui?

Durante sua busca corrida, todos os lugares pareciam a mesma coisa. Ela correu de um lado para o outro, passando por corredores e subindo morros, mas não havia nenhum sinal de Heilos. Ela parou, rosnou alto e bateu o pé no chão, respirando fundo para recuperar o fôlego enquanto seu corpo doía. Ela urrou de dor, sentindo como se sua pele fosse cortada e descascada, como a casca de uma fruta. Era uma dor quase insuportável, que ia e vinha. Isso a fez fraquejar, então, suas pernas cederam, fazendo-a cair ajoelhada na terra árida e avermelhada.

Quando estava prestes a perder as esperanças de que pudesse encontrar a alma do guerreiro, ela ouviu passos e olhou para trás. Era uma Essência Vital. Possuía a silhueta de uma pessoa, uma mulher, para ser mais exato. Ela não pôde ver seu rosto por causa do brilho branco que emanava, mas era capaz de sentir sua energia. Era algo familiar, no entanto, triste.

A Essência estendeu a mão, esperando uma reação de Alisha. A garota segurou-se e se levantou com sua ajuda. Aquela alma, sem rodeio, começou a correr por Dunjoi, Alisha precisou ir atrás. Elas correram por algum tempo, até mais a frente ela pôde ver uma construção enorme em andamento, não tinha janelas, apenas grandes portas duplas de madeira bruta.

A essência olhou para Alisha, apontou para a entrada do prédio sinistro e então, desapareceu.

A garota encarou a construção, percebendo que as almas levavam as rochas para construir aquele lugar. Como os egípcios para construírem as pirâmides.

Então é para que todas aquelas rochas são levadas. pensou. Não sei se sinto pena ou não dessas almas, afinal, elas estão aqui porque foram ruins em vida, mas sofrerão até poder reencarnar, ou não, sendo que a morte deveria dar paz de espírito.

Suas mãos tocaram as portas, a frieza daquele lugar lhe proporcionava calafrios que sentiu apenas quando viu Khoasang torturar Sieron. O medo corria por suas veias. O que tem do outro lado?

Considerou desistir e voltar para seu corpo, mas Lembrou-se de Heilos e de tudo que ele fez por ela nos últimos meses, mesmo que tenha sido apenas para concluir seu trabalho.

Permitiu que a coragem enchesse seu peito e usou toda a sua força para empurrar um dos lados da porta. A porta se abriu aos poucos, mas começou a se fechar rapidamente por não ter nada para a segurar, não houve outra solução a não ser rezar e saltar para dentro pelo pequeno espaço que restava, e foi isso que Alisha fez. A porta bateu pesadamente atrás dela, se alguém não conseguisse passar com certeza seria esmagado pela força avassaladora. Ergueu o olhar, estava diante de um corredor praticamente infinito com uma quantidade indefinida de portas duplas de madeira em tamanho normal, ao lado de cada porta havia um lampião aceso, as velas nunca derretiam.

Se levantou e começou a andar pelo longo corredor. or cada porta pela qual passava ela escutava gritos sôfregos vindos de dentro dos cômodos, mas um som em meio a tantos lhe chamou atenção. Um choro baixo e sofrido que fez seu peito apertar, estava ficando com vontade de chorar também.

Quase como se estivesse hipnotizada, Alisha seguiu andando até parar em frente a uma porta específica, ela estava trancada e rachada, e o choro vinha de trás dela, quem quer que esteja lá dentro quis muito sair.

- PARE! NÃO FAÇA ISSO! - uma voz masculina gritou desesperada de lá de dentro em meio ao choro.

Alisha arregalou os olhos, desesperada.

- HEILOS! - Alisha gritou, tirou o pedaço de madeira que trancava a porta e entrou.

Ao entrar ela se deparou em um campo banhado a sangue e coberto de cadáveres, havia uma casa de madeira, ela estava em chamas. Logo, a jovem reconheceu o cenário. O mesmo que Heilos descrevera após acordar do pesadelo proposcionado pela névoa. Aquele pesadelo que o fazia perder o sono.

- Vocês fizeram isso, seus inúteis. Trouxeram eles para cá. - a versão mais jovem de Heilos levantou a espada, a apontou para duas crianças de cinco anos, um menino e uma menina, gêmeos. Ele não estava normal.

- Não faça isso! Eu te imploro! - Heilos tenta segurar a espada, mas ela o atravessa,já que o mesmo era apenas um fantasma naquela cena.

As duas crianças choravam e tentaram correr, mas o "Heilos" os agarrou e os atravessou com a espada. Sangue espirrou para todo o lado, as crianças jaziam sem vida no chão.
Heilos caiu de joelhos diante os cadáveres, o mesmo não parava de chorar. Alisha Não conseguia se mover, levou as mãos aos lábios para tentar conter o choro. Ela nunca havia visto aquele guerreiro chorar.

A paisagem começou a mudar como mágica, o campo não estava mais ensanguentado, da cabana só restou a madeira queimada da fundação e dos móveis. Onde estavam os corpos das crianças, haviam dois pequenos túmulos, com uma pedra marcando o local.

- Eu os matei. Eu matei meus filhos... - Heilos repetia para si mesmo, a voz embargada.

- O erro incorrigível, o crime imperdoável... - Alisha sussurrou baixinho, repetindo para si mesma o que Raniel havia descrito em sua visão.  — Diante as faces gêmeas, o vídeo se quebrará... Céus, o vidro não se referia a vidro, propriamente dito. Se referia a um coração partido...

- Papai! - duas vozes infantis disseram em uníssono, Heilos levantou o olhar dos túmulos e viu as duas crianças. Ele sorriu por entre as lágrimas, mas o sorriso desapareceu quando seus filhos o olharam com raiva. - Você nos matou!

- Ousou esquecer de nós! - a menininha fala.

- Não visita nossos túmulos há anos! - o menininho diz.

- Qual a desculpa que vai dar? - ambos falam.

- Apagaram tudo. Absolutamente tudo. — Sua voz estava baixa, trêmula por causa do choro que ele tentava conter.  Ele estava sofrendo. — Eu não me lembrava de nada daquele dia...

As duas crianças gritaram:

- Mentiroso! Eu nunca vou lhe perdoar!

Uma espada apareceu para cada um, eram as espadas que Heilos usava nas batalhas. O guerreiro abaixou a cabeça, expondo sua nuca, seus cabelos tombaram para a frente de seus olhos, que encaravam novamente os pequenos túmulos. As espadas foram descidas.

Mas a cabeça de Heilos não havia sido separada de seu corpo. Ao abrir os olhos, o guerreiro vê ambas as lâminas presas no chão e Alisha ao seu lado, abraçando seu corpo tenso. Ela olha em seus olhos e toca seu rosto, enfiando as unhas em sua pele.

- Heilos, não é real! É apenas coisa da sua cabeça!

- Com você... Chegou aqui?

- Eu morri para vir te buscar. E vou fazer isso!

- A troco de que? Sabe que não irei agradecer, nem nada.

- Eu não o deixaria aqui. Vamos! Eu não tenho muito tempo!

Heilos não responde, nem estava mais prestando atenção, seus pensamentos vagavam procurando um motivo plausível o suficiente para Alisha estar diante dele. Ele pensava: Ela está fazendo isso em troca de algo valioso, não mais motivos.

Quando Alisha se levantou, algo a atinge a mandando para longe de Heilos, que continuava mergulhado em pensamentos, inconsciente do que ocorria no cômodo. Sua raiva, sua tristeza e sua dor fortaleciam aquele lugar, tornando as ilusões cada vez mais reais.

- aí ai ai ai. Que viagem é essa vei? Qual o problema de vocês?! - Alisha pergunta, se levantando com uma mão nas costas, no local onde o impacto com o chão foi maior.

- Você deseja tira-lo de sua punição. Isso é um crime gravíssimo que deve ser pago com a eliminação de sua alma.

As vozes das crianças estavam se distorcendo, seus corpos se tornando algo assustador e animalesco que fazia as pernas de Alisha tremerem, um deles era negro como a noite e o outro era de um azul escuro. Criaturas como aquelas que ela viu do lado de fora. Aqueles que aplicavam as punições para as almas.
Naquele momento ela desejava que Sieron, Kauane ou que até o próprio Nêmesis aparecesse e a ajudasse, afinal, ela era uma iniciante! Não tinha condições de lutar contra aquelas coisas.

Os dois demônios em corpo de criança tiraram as espadas de Heilos da terra, cada um deles com uma. Um deles andou em direção a Alisha, que andava para trás pensando em uma solução, e o outro fora para o Heilos que ainda estava fragilizado. Era tão estranho ver aquele homem sanguinário em um momento tão delicado, era como se não fosse o mesmo guerreiro que Alisha conheceu.

Alisha voltou seu olhar para o Demônio quando sentiu suas costas tocar a parede fria de pedra, a fazendo ficar ereta. Aquele ser levantou a lâmina curvada acima de sua cabeça e a desceu. Em um movimento rápido comandado pelo instinto de sobrevivência, Alisha ergueu seu bastão metálico que, com um pensamento seu, se estendeu tornando possível o bloqueio do golpe.

O demônio afastou a lâmina e a desceu novamente, desta vez com mais força. Alisha rolou para o lado conseguindo escapar.

- Só sabe fugir como um mero rato, assim como aquele velho chinês. Nossos irmãos devem estar se deliciando com sua alma neste momento. - o demônio cospe as palavras com o propósito de desestabilizar Alisha, seu objetivo foi cumprido.

- Não fale do Senhor Mingzhi!

O bastão mudou de forma, se tornou uma espada esbelta e afiada, sua lâmina refletia a luz dos lampiões com perfeição. Alisha avançou no demônio, desferindo golpes fortes e cheios de raiva. O tilintar das lâminas se chocando com ferocidade ecoava pelo cômodo. Para Alisha, não havia nada além do demônio a sua frente.

A jovem se esquivou de um golpe, nesse momento seus olhos se desviaram da batalha a sua frente e travaram em Heilos, que estava caído no chão recebendo em seu corpo semi-imóvel uma série de golpes poderosos do outro demônio, seu nariz sangrava sem parar.

Pelo canto de sua visão, Alisha pôde ver o reflexo da lâmina do demônio que enfrentava. A defesa foi mau executada, sua espada voou de sua mão e voltou a ser um bastão assim que entrou em contato com o chão.

No momento seguinte, o demônio a agarrou pelo braço e a lançou com força na parede. Houve o choque, sua nuca fora diretamente na estrutura. Agora Alisha estava caída no chão, sua nuca sangrando e sua visão desfocada.  Seus membros estavam se tornando dormentes, e a força se esvaía de seu corpo, seu tempo alicestava se esgotando.

- Você possui a força de vontade
No entanto, isso não é nada sem força física e tática.

Sem demora o demônio ameaçou a agarrar pelos cabelos, mas um vulto negro se bate com brutalidade na besta o levando junto, Alisha percebe que o vulto era o segundo demônio. Ambas as bestas estavam caídas no chão e havia rachaduras na parede onde ambos haviam se chocado.

Um estalar de dedos ecoa auto e claro:

- Como ousa encostar suas mãos imundas nela? Seu rato.

- Você está sem sua magia! - o demônio azul grita com raiva, seu rosto estava banhado em uma gosma preta que Alisha teoriza ser o tipo de sangue dele.

- Em compensação, estou cheio de ódio. - Heilos anda até os demônios gêmeos e puxa as espadas de suas mãos.

Quando o guerreiro fez menção de os atravessar, os dois mudaram de forma, retornando às das crianças quando eram vivas, Heilos hesitou.

- Você nos mataria de novo papai? - os dois dizem em uníssono, as vozes mais uma vez fizeram o maldito favor de o desestabilizar.

- Claro que eu mataria vocês dois. - Heilos sorri vitorioso e atravessa as lâminas no crânio de ambos os demônios, que brilharam numa luz amarela e explodiram, seus pedaços caíram no chão e se tornaram cinzas.

Todo o cômodo em que estavam começa a tremer. As paredes passaram a rachar do chão ao teto, que começou a ruir.

- Ao mata-los está obrigando a ilusão a se desfazer. Temos de sair daqui. - Alisha levanta, pega o bastão do chão e agarra a mão de Heilos, o puxando com ela para a porta pela qual entrou.

Tudo estava desaparecendo e a porta era a próxima.

Com o acelerar das passadas, alcançar a porta foi possível, ambos passaram por ela a tempo e a mesma desapareceu, dando lugar para a parede de pedra.

- Tenho de te ajudar e... - Heilos a interrompe.

- Eu não sou sua prioridade.

- E qual é?!

- Levar você de volta a Daechya. - Heilos contém um rosnado impaciente - O Kniga não deve ficar sem sua Zashti. Que por acaso agora é você, já que, como o demônio disse, Mingzhi está morto.

- Não posso deixar você aqui! Se não, eu morri atoa!

- Na verdade, pode sim.

— Não! — ela diz com tanta convicção, que cala o guerreiro. — Eu não posso te deixar! Não era pra você ter morrido, a própria dragonesa da pureza me disse isso! Eu vou te levar de volta e, se eu não conseguir, que minha alma apodreça nesse lugar.

— Isso é um tiro no escuro.

— Sim, é. Mas você morreu por minha causa, e vou consertar isso.

Ela segurou o pulso só guerreiro e saiu correndo daquele lugar, o puxando com ela. Suas pernas estavam fracas, ela sentia frio e seu corpo se tornava cada vez mais dormente. Mesmo estando determinado a tirar Alisha daquele lugar, ele ainda estava fragilizado, lembrando-se detalhe por detalhe do pior dia de sua vida.

O pequeno exército mandado pelo rei de Dragonstone. Uma tocha e a cabana em chamas. A tentativa de aprisionamento, o choro dos gêmeos, a garganta aberta que hoje é apenas uma cicatriz. O assassinato dos soldados, o banho de sangue, a hemorragia que o matava lentamente. Instintivamente, ele levou a mão até a enorme cicatriz vertical em seu pescoço.

Cerrou os dentes ao se lembrar da perca de controle, então, de ter agarrado os próprios herdeiros e ter os matado com sua espada. Em seguida, não havia mais nada. Suas memórias haviam sido apagadas. Havia ficado, por anos, sentindo uma enorme culpa, mas nunca soube o por quê disso. Agora, ele sabia, e desejava não saber.

Ele estava distraído, e Alisha focada demais no caminho que seguia, apesar de não saber exatamente para onde ir. Os instintos do guerreiro o alertaram. Ele parou, puxando a Zashti para seus braços e a abraçando de forma protetora, evitando que ela fosse acertada por uma pedra que foi lançada. Heilos rosnou e, com o braço livre, brandiu uma de suas espadas, cortando ao meio a criatura que tentou impedir a fuga da dupla.

O corpo, dividido ao meio, caiu para os dois lados, deixando massa escura, gosma e os órgãos digestivos a mostra, escorrendo para fora do corpo.

Tendo ganho tempo, ambos voltaram a correr sem rumo. Foi então que Alisha ouviu o som de água e resolveu segui-lo, atraindo a atenção dos seres humanóides presentes.

— Para onde você está indo?!

— Eu ouvi um rio! — ela responde. — Temos de seguir o rio!

Sem escolha, ele corre atrás dela, a seguindo e abatendo os demônios que se aproximavam.

Quando o som se tornou mais alto, Heilos também foi capaz de escutar. Então, se surpreendeu ao perceber que Alisha estava certa. Havia um rio vermelho que percorria toda a extensão de Dunjoi, que era uma versão plana, rochosa e vermelha de Daechya. Um pouco mais a frente, o rio se dividia, formando um delta, e se tornava uma cachoeira, que caia para o vácuo aparentemente infinito.

Alisha sorriu, no entanto, seu corpo fraquejou e ela jurou que, por um instante, viu os rostos de Kauane e Sieron a sua frente. Suas pernas se tornaram dormentes, então, ela caiu. Seu peito ardia, como se estivesse sendo queimado. Sentindo diversas descargas elétricas percorrendo seu corpo, fazendo-o ter espasmos musculares.

— Não...ainda não...

Heilos a pegou no colo. A garota arrepiou ao sentir a pele fria e morta do guerreiro contra a sua, que se tornava quente e cheia de vida.

Ele correu para a queda d'água. Alisha puxou seu bastão e o fez se estender, o prendendo nas rochas. Com o impulso, ambos conseguiram chegar na porção de terra do delta. Os humanoides pararam na beira do rio, se agitando, procurando como chegar até a dupla.

— Não temos muito tempo. — Heilos ergue Alisha do chão, a segurando pelos braços e a mantendo de pé. — Você tem de parar de resistir.

— Não enquanto não te dar o que você precisa. — ela estava ofegante, a queimação em seus pulmões dificultava sua respiração. — Está dentro de mim, como uma névoa nos meus pulmões, mas eu não sei como...

— Eu sei.

Inesperadamente, ele uniu seus lábios aos da garota. Alisha corou, permanecendo estática, sem saber como reagir e, acima de tudo, ela não sabia beijar. Entretanto, o guerreiro parecia não se importar e fazia questão de guia-la nessa descoberta. Quando a Zashti tentou recuar, ele segurou sua cintura com uma mão e a nuca com a outra, a detendo. A adolescente sentiu seu corpo esquentar mais, se preenchendo com vida e uma sensação que era ainda desconhecida. Enquanto ela permanecia hesitante, o guerreiro estava seguro, sabia o que fazer e como fazer. Toda a quentura que ela sentia se acumulou em seus pulmões, se tornando densa como um tipo de névoa, então, começou a subir lentamente por sua garganta, atravessando para o guerreiro através da união de suas bocas.

Ela não soube por quanto tempo se beijaram, mas apenas pararam quando aquela massa densa de ar deixou seu corpo e passou a habitar o do guerreiro. Sentia-se mais leve, sem aquela pressão que o poder de Maharpayã exercia sob seus pulmões. Respirar havia se tornado fácil, fácil até demais.

As mãos do guerreiro não estavam mais tão frias. Haviam ganho uma quentura agradável, como se estivesse retornando a vida, no entanto, ele não estava instável como ela.

Eu sinto muito. Ela o ouviu dizer, então, sentiu seu corpo cair, sem nada para a parar. Alisha gritou, percebendo que Heilos havia a jogado da chachoeira, deixando-a cair para ao vácuo. Tentou agarrar-se a algo, entretanto, não havia nada onde pudesse buscar apoio. A cachoeira, vermelha como sangue, invadiu sua visão, fazendo-a lembrar-se que já viu aquele cenário.

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