ᴘʀᴏʟᴏɢᴜᴇ












O VENTO SOPRAVA FORTE, trazendo o cheiro do mar salgado pelas janelas abertas da sala do trono. As chamas das tochas oscilavam, lançando sombras erráticas nas paredes de pedra. Maria Dalia estava de pé, de costas para o trono, olhando fixamente para o horizonte distante, onde o céu cinzento se misturava com o oceano agitado.

Ela sabia que algo estava para acontecer. Seu pai, o Rei das Ilhas de Ferro, havia enviado um mensageiro para chamá-la, algo raro. Sempre que ele desejava vê-la, era com certo distanciamento, como se ela fosse apenas mais uma serva. Mas dessa vez, a urgência no tom do mensageiro indicava que este encontro seria diferente.

A porta pesada se abriu com um rangido, e Maria Dalia não se virou. Ela sentiu a presença imponente de seu pai antes mesmo de ouvir seus passos pesados.

── Maria Dalia ── a voz do rei ecoou pela sala, fria e cortante como o vento do mar. ── Precisamos conversar.

Finalmente, ela se virou para encará-lo. Seus olhos, sempre carregados de uma fúria silenciosa, encontraram os dele, endurecidos pelo poder e pela experiência. O rei ficou parado por um momento, observando-a, como se estivesse tentando medir a força de sua filha antes de prosseguir.

── O que deseja de mim, pai? ── Ela perguntou com cautela, cruzando os braços.

Ele respirou fundo, suas feições sombrias suavizando-se apenas por um instante. O rei não era conhecido por demonstrar carinho ou fraqueza, mas naquele momento, algo em seu olhar parecia... diferente.

── Chegou a hora da verdade ser dita. ── Ele começou, sua voz firme, mas com um tom inesperadamente suave. ── Durante anos, mantive você à margem, como se fosse uma vergonha escondida. Fiz isso para te proteger, para evitar que o peso do nosso nome caísse sobre você de uma forma que você não estava preparada para suportar.

Maria Dalia apertou os punhos ao lado do corpo. Ela sabia o que ele estava prestes a dizer, mas mesmo assim, as palavras dele pareciam uma lâmina afiada contra sua pele.

── Eu sou uma bastarda, não sou? ── Ela disse, a voz baixa, mas carregada de amargura.

O rei balançou a cabeça lentamente.

── Sim, você nasceu fora do casamento. Mas isso não importa mais. ── Ele deu um passo à frente, os olhos queimando com uma intensidade que Maria Dalia raramente via nele. ── Não importa se você é bastarda ou não. Você é minha filha, e é assim que será para o povo. Vou dizer a todos que você carrega meu sangue e que o trono de ferro do mar é tanto seu quanto seria de qualquer outra filha legítima.

Ela ficou em silêncio, processando aquelas palavras. Era algo que ela sempre desejou ouvir, mas agora que a verdade estava diante dela, tudo parecia surreal.

── O povo... aceitará isso? ── Ela perguntou com hesitação.

O rei sorriu, um sorriso duro e cruel.

── O povo aceita o que eu mando. Sou o Rei das Ilhas de Ferro, e minha palavra é lei. ── Ele se aproximou mais, colocando uma mão pesada no ombro de Maria Dalia. ── Eles não precisam saber dos detalhes. Apenas que você é minha filha. E será vista e tratada como tal.

Maria Dalia sentiu um turbilhão de emoções dentro de si. Havia orgulho, claro, por finalmente ser reconhecida. Mas também havia medo. Medo de que, com essa revelação, viessem novos inimigos. Afinal, ser reconhecida como filha do rei a colocaria diretamente no caminho de intrigas e perigos que ela sempre evitou.

── E o que você espera de mim? ── Ela perguntou, sua voz agora mais firme, determinada a entender o verdadeiro motivo por trás dessa decisão.

O rei a olhou com um brilho de admiração em seus olhos.

── Espero que você lute pelo seu lugar. Você é uma Greyjoy, Maria Dalia, seja bastarda ou não. E eu espero que você mostre isso ao mundo. Quando o povo souber, muitos irão te questionar, alguns irão te desafiar. Mas você vai provar que é digna desse nome. Você não é apenas minha filha. Você é herdeira das Ilhas de Ferro. ── Ele deu um passo atrás, soltando seu ombro. ── O mar é cruel, filha, mas nós somos mais fortes.

Maria Dalia engoliu em seco, sentindo o peso da responsabilidade desabar sobre ela. Mas ao mesmo tempo, sentiu algo diferente crescendo dentro de si. Uma chama de desafio, de determinação.

── Eu não vou decepcionar você. ── Ela disse, com um olhar afiado.

O rei sorriu novamente, dessa vez com algo que se aproximava de orgulho genuíno.

── Eu sei que não vai.

Ele se virou e caminhou em direção à porta, deixando Maria Dalia sozinha com seus pensamentos. Quando a porta se fechou atrás dele, ela respirou fundo, olhando novamente para o mar.

Agora, mais do que nunca, ela sabia que sua vida nunca mais seria a mesma.






TRÊS ANOS HAVIAM PASSADO desde da conversa da Maria e do seu pai. O castelo estava mais silencioso do que de costume naquela noite. O vento soprava do mar, sibilando através das janelas abertas, enquanto Maria Dalia estava sentada no chão de pedra fria. Seus olhos acompanhavam o vai e vem incansável de seu pai, que andava nervoso pelo salão, as mãos atrás das costas e o cenho franzido.

Ela já o havia visto ansioso antes, mas não dessa maneira. As mãos trêmulas, os lábios apertados em uma linha fina. O silêncio entre eles era quase sufocante até que Maria, com sua curiosidade e ousadia, quebrou a tensão.

── Você deseja um menino, não? ── A voz dela soou firme, embora com um toque de amargura. Ela sabia que os homens das Ilhas de Ferro davam mais valor a filhos homens. Isso era algo que ela crescera ouvindo.

O rei parou de andar por um instante e olhou para a filha. O silêncio que seguiu foi tão pesado quanto o anterior. Ele não respondeu de imediato, apenas olhou nos olhos de Maria, como se estivesse ponderando sobre as palavras certas a dizer.

── É claro que todos esperam um herdeiro homem ── ele respondeu, a voz grave. ── Mas a questão não é o que eu desejo, é o que é necessário para as Ilhas.

Maria desviou o olhar, tentando disfarçar a pontada de dor que aquelas palavras traziam. Ela sabia que seu lugar ainda era incerto, apesar do reconhecimento de seu pai. Ser a filha bastarda de um rei era uma posição perigosa, e a chegada de outro filho – especialmente um menino – poderia mudar tudo.

── E o que você fará se for uma menina? ── Maria perguntou, desafiadora.

O rei soltou um suspiro pesado e se aproximou, ajoelhando-se à sua frente para que seus olhares ficassem no mesmo nível. Seus olhos estavam sombrios, mas não havia raiva ali, apenas cansaço.

── Se for uma menina, ela será tão Greyjoy quanto você, e eu vou protegê-la como protejo você. ── Ele fez uma pausa, tocando o ombro de Maria com firmeza. ── Mas isso não muda o fato de que nosso povo precisa de um líder forte, alguém que possa carregar o nome Greyjoy e comandar o mar com mãos firmes.

Maria assentiu lentamente, mas ainda havia algo em seu peito que a incomodava.

── Eu sou forte. ── Sua voz soou firme, embora não pudesse esconder a emoção por trás dela. ── Eu posso carregar o nome Greyjoy. Mesmo que o trono não seja meu de direito, eu posso lutar por ele.

O rei a olhou por longos segundos, seus olhos avaliando cada palavra que Maria dizia. Finalmente, ele se levantou, a sombra de um sorriso tocando seus lábios.

── Eu sei que você é forte, Maria. E nunca duvidei disso. ── Ele se virou, voltando ao seu ritmo de passos nervosos. ── Mas há coisas que você ainda precisa aprender, responsabilidades que vão além da força física. O tempo dirá se você está preparada.

Maria ficou em silêncio, observando-o mais uma vez se perder em pensamentos. Sabia que não seria fácil, mas dentro de si uma chama continuava queimando. Ela lutaria para provar seu valor, mesmo que seu pai não estivesse completamente certo disso. E se sua meia-irmã fosse mais uma menina, bem, Maria cuidaria dela como prometera, mas sempre com um olho no futuro – um futuro onde ela não seria esquecida.























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