XXIII. Restrição
A parede negra esconde aqueles que lutavam, os isolando do restante do mundo. Wem e Sadh não demoram mais que um segundo desde que a esfera maciça se formou, mesmo assim, ao colidirem com o preto, nada puderam fazer. A barreira era absoluta.
— Aurora! — Sadh súplica pela companheira. — Destrua isso Wem!
Os golpes estrondosos dos cristais nada adiantavam, nem se quer um mísero risco foi feito. O olhar desesperado é nítido no rosto de Sadh, pois a Aurora estava caída e sozinha, tinham que conseguir romper tal empecilho.
— Droga! Deve ter um ponto fraco... — Sadh é interrompido.
— Não... não há nada a se fazer. — Wem parecia triste ou preocupado.
— Como assim? Aurora está lá dentro! Temos que fazer ALGUMA COISA! — Sadh responde aos berros.
— Eu já enfrentei essa maldição... se uma condição é imposta, a barreira não caíra sobre nenhuma circunstancia além do tempo. — Wem para com seus golpes baldios.
— Não pode ser... pera, quanto tempo até ela se desfazer?! — Sadh parece recuperar um pouco das esperanças.
— 5 minutos. — Wem responde apertando seu braço de cristal.
O caos fora da restrição era semelhante ao de dentro, o medo, o desespero e a dor permeavam o escuro. Aurora tenta se levantar, seu corpo doía a cada movimento, estava chegando no seu limite físico. Por outro lado, o seu oponente tinha apenas pequenos cortes que nem foram causados por ela, teria a sonhadora alguma chance?
O sangue ainda corria em suas veias, dando lhe adrenalina ao ver seu carrasco se erguer. Sua espada tremia no ritmo do pingar sanguíneo, a respiração pesada e frenética tentava compensar cada gota desperdiçada.
Seu coração acelera ao ouvir as batidas do lado, as vozes de seus amigos estavam tão claras que pareciam falar ao seu lado, era como se aquela enorme barreira não impedisse o som. Ela tenta proliferar palavras, mas sua garganta estava seca demais, dessa forma, apenas alguns grunhidos ecoam.
De pé, Mertivo não ousaria desperdiçar sequer um segundo lá dentro, não queria sair de lá com um monstro deplorável a espreita. Porém, antes que a morte se lambuzasse com o deleite da dor, o assassino percebe o completo silêncio, o vazio absoluto. Um sorriso surge em seu rosto, afinal deu uma grande sorte.
— A audição dessa vez? Não conseguirei ouvir seu último suspiro. — Sua fala era prepotente e orgulhosa.
Os anéis ensanguentados são presos em suas roupas, o combate seria limpo. Aurora se questiona o porquê das armas de ouro serem poupadas; por isso, aperta sua espada o mais forte que consegue, determinada em sair viva dali. Os dois avançam.
A luz das primeiras faíscas iluminavam a noite encoberta, o barulho de metal era pavoroso tanto dentro quanto fora. A força dos combatentes era a máxima, porém ela tendia a um lado. Como há alguns minutos, Aurora não conseguia competir na força bruta, perdendo espaço a cada encontro metálico.
Não havia muitas raízes sobrando no subsolo, a maioria foi exilada ao mundo externo, por isso, Aurora teria que poupá-las para se defender dos sóis da morte. No entanto, o que faria para se manter de pé? Se ousasse cair mais uma vez, não restaria nenhuma chance de sobrevivência.
Seus passos para trás a levam para a barreira completamente sólida e gélida. Apesar da aparente rigidez, conseguia distinguir perfeitamente o assoviar do vento, o qual tentava esconder duas respirações. A secura não a impede, tenta falar mais uma vez, arranhando a garganta, uma palavra escapa: Ajuda.
As batidas violentas retornam a tal ponto do chão tremer. A força nada adiantava, nem mesmo quando ouve "Dash" pode ver algum sinal de ajuda, o desespero a consumia. Na sua primeira falha, a lâmina desce sem obstáculos, seria certeira, todavia um vento diferente passa por trás de sua nuca, sete correntes de ar.
As lâminas de Sadh atravessam o escuro como se fosse nada, afinal, a regra não as proibia. Por pura sorte ou coincidência, uma das armas impede o ataque inevitável além de acertarem o Mertivo, causando alguns cortes em seus braços e abdômen, nenhum letal ou profundo.
Aurora não foi atingida, nem mesmo um fio de cabelo foi debilitado, provavelmente porque o Wem e Sadh supuseram sua localização pela sua voz. A jovem de olhos pretos e brancos decide aproveitar a brecha, dessa forma, uma espetada é desferida em direção ao peito do homem.
O golpe letal é facilmente notado pelo assassino, por conseguinte, o mesmo ignora as adagas que cortavam a sua carne e direciona seu acínace para repelir a maior ameaça. Apesar de sua rápida reação, não consegue impedir completamente aquilo que o empalava, sendo assim, a lâmina esquisita abre um caminho de sangue enquanto era empurrada.
Um ferimento profundo e largo atravessa metade do peito de Mertivo. O mesmo estava indignado, o serviço era para matar uma inocente princesa protegida pelo homem mais forte do mundo, o qual nada poderia fazer para romper a sua barreira. Mas, essa maldita herdeira tem uma maldição, além de estar acompanhada de outro ser amaldiçoado, isso não foi citado no contrato.
Não poderia lutar contra aquelas adagas naquele momento, o serviço já teria acabado se não fosse por elas. "Malditas sejam" era o que pensava. Suas mãos se juntam no momento que a Aurora se recompunha e quando as armas voadoras se direcionavam para fora da barreira em direção reta. O mesmo ritual de outrora é deferido, todavia, a palavra dita se difere, "Armas".
Sadh deixou seu poderio ultrapassar as barreiras para preparar uma ajuda surpresa, uma vez que, não resolveria nada manter as suas adagas lá dentro, já que não conseguia enxergar o interior. No entanto, ao ouvir a respiração de Aurora mais uma vez, viu seus armamentos tão impotentes como seu corpo, o preto os bloqueava.
Isolada como nunca, Aurora consegue ouvir as tentativas falhas de ajuda, teria que lutar sozinha mais uma vez. Ela esperava um avanço de Mertivo, porém, o viu colocar outra ampulheta em seu colar quase preenchido, um menor que o anterior.
"Para que serviam esses troços de areia? Eles contam o tempo?", Aurora se pergunta sem a menor ideia do que seria uma ampulheta. Com essa linha de pensamentos, ela arrisca deduzir que serviriam para indicar o tempo restante de cada delimitação. Então só teria que aguentar até o cair do último grão?
Não precisava ir para cima, afinal o tempo estava correndo ao seu favor, ficaria ali, defendendo e esquivando o máximo que pudesse, tentando manter distância. Contudo, a sua ideia se viu defasar ao dourado, as armas que no passado estavam guardadas, agora giravam sobre o completo breu.
Mertivo não tinha as disparado antes da repetir aqueles gestos estranhos, "Seria isso a nova limitação?" Aurora se pergunta.
Os anéis cintilantes rodavam em extrema velocidade no perímetro, sendo quase impossível acompanhar todos ao mesmo tempo, poderiam vir em qualquer direção. O resultado é previsível, antes mesmo que pudesse pensar em levantar as raízes, um arco funesto rodeia sua cabeça, decepando parte de seu cabelo e de sua orelha esquerda. Uma fisionomia diversa surge em seu rosto, um lado devastado e outro prestes a ser.
Os demais dilaceram sua coxa esquerda, braço direito e tórax. Porém, não conseguem causar tamanho estrago como o primeiro, a dor já havia a alertado. Em nenhum momento Aurora considerou usar as raízes, ela parecia planejar algo conforme o áureo voltava a rodeá-la.
Nesse meio tempo, uma das armas passa perto de Mertivo, cortando a sua mão sem resposta antecipada, como se ele não tivesse notado a arma, ou então não sabia onde seu membro se encontrava. Aurora também se lembrou do seu lançamento, foi mais exagerado e rude que os anteriores.
"Esse boboca perdeu mais um sentido? Qual?" Ela se pergunta quando lembra da fala sobre a audição. Talvez isso traria uma vantagem, até uma reviravolta na luta, só teria que se livrar das circunferências cortantes.
A cada investida, aquilo que a cortava perdia um pouco de velocidade a tal ponto que teriam que voltar para a posse do assassino para terem relevância. Aproveitando-se da brecha, as poucas raízes que Aurora detinha saltam para fora da terra, se agarrando e se contorcendo no resplendor do dourado.
A madeira disforme e dilacerada inutilizou as 4 armas, as prendendo no próprio corpo. Antes que pudesse haver qualquer tentativa de recuperação por parte de Mertivo, as partes da planta começam a se enterrar na terra, levando com sigo os objetos.
Abaixo do barro gélido, escondidas entre as pedras e cascalhos, os anéis dilaceradores desaparecem. Aurora não arriscaria usá-los contra seu dono, devido ao risco de serem recuperadas. Assim, o duelo continua entre espadas.
Como Aurora imaginou, os movimentos do assassino estavam deteriorados, eram bruscos e inconsequentes, dessa forma, possibilitavam diversas aberturas. As diferenças de músculos são compensadas, assim alguns pequenos ferimentos surgiam em ambos a cada bater do ferro. Um corte na mão ou no braço era corriqueiro, nenhum letal ou grave, só serviam para o desgaste.
A situação tinha que melhorar apesar da aparenta igualdade, em uma briga até cansaço, aquele que menos havia se ferido tinha vantagem, e esse não era o caso da jovem ensanguentada. Simultaneamente a isso, Wem e Sadh tentavam compreender o que de novo tinha sido determinado.
— Por que as adagas não passam? Ele bloqueou os objetos também?! — Sadh batia seu arsenal furiosamente.
— As regras não podem ser tão amplas. — Wem fala enquanto recolhia uma pedra no chão.
O brutamontes demonstra que o pedregulho atravessa sem problemas o negro absoluto.
— Armas. — Wem complementa.
— Mas saber disso não ajuda em nada! Não ficaremos jogando pedrinhas no escuro! — Sadh menospreza a ajuda.
— Seres vivos e armas não podem sair nem entrar. — Wem parece ignorar o comentário anterior. — A general morta não criava o fogo, apenas o controlava.
Apesar das falas sem exaltação, o rosto de Wem demonstrava preocupação. O ruivo pega uma das lâminas de Sadh enquanto olhava e juntava as pedras e os galhos secos ao redor. Uma pequena fogueira é limpa da neve e recheada de galhos e folhas secas. Porém, estava apagada, por enquanto.
Até que um sílex, um pequeno quartzo negro, surge por de baixo da neve, Wem segura a pequena pedra e a raspa contra o metal que segurava, gerando algumas faíscas. O fogo demora para acender, no entanto, quando a primeira fagulha se levanta, rapidamente se espalha por todo combustível biológico, se fortalecendo a cada cinza que voava.
— Aurora se apossou da maldição "Combustão", ela pode manipular o fogo — Wem sabe sobre o possível nome por meio da Aurora, que havia lhe dito, afinal só ela sabia ler tais símbolos.
— Que fod... Mas ela conseguirá usar a maldição? Ela já tinha tentado antes e não conseguiu, não é? — Sadh pergunta com um pouco de esperança e medo.
— Eu não sei... — Wem responde enquanto coloca mais material para queimar.
O cheiro da fumaça circula no domo, porém ninguém prestou atenção. Os ferimentos se acumulavam, atingindo as camadas mais profundas da carne a cada golpe, o combate diminuiu de ritmo conforme ambos os duelistas perdiam seus fôlegos. Chutes, socos, joelhadas se tornaram comuns, com os hematomas disputando a dor com os cortes.
O ponto perigoso estava chegando, a sua vantagem era a esgrima momentaneamente superior, porém, quanto mais corporal o combate se tornava, mais a discrepância física era notória. Aurora recebera diversos chutes em suas costelas em virtude a sua baixa estatura, a respiração se tornou difícil perante o inchaço.
Ela nada poderia fazer para contra-atacar, apesar disso, tentava se defender com o braço lesionado, mas não conseguia segurar a perna de Mertivo para tentar derrubá-lo. O oponente também acumulava desgastes, suas mãos estavam roxas e suas pernas sangravam devido aos ataques contra a princesa, a qual sempre tentava devolver uma cotovelada.
O tempo passava, só restavam 2 minutos, a segunda ampulheta se encontrava quase vazia. Porém, o esgotamento da restrição não significaria necessariamente a volta da ajuda externa, afinal, como eles saberiam que a barreira começou a falhar?
A diferença de exaustão era tanta que, em determinado momento, Mertivo consegue segurar o ataque de Aurora com a sua mão, prendendo o seu braço junto ao seu. A sua espada estava livre para fazer o que bem entendesse, assim ruma em direção ao peito desprotegido da donzela. Por pura reação, Aurora faz o mesmo que o adversário, ambas as armas apontadas para o pescoço de cada um, com apenas um braço impedindo o descanso eterno.
Os membros inferiores se tornaram o foco do embate, com a dor vinda de golpes baixos sendo a principal arma de desmoralização, quem cedesse estaria morto. O pulso de Aurora estava mais solto do que seu oponente, dessa forma sua espada se movia levemente, usando sua afiação para fazer pequenos cortes no rosto do adversário.
Os movimentos estavam estáticos apesar do extremo esforço de ambos, Mertivo não podia lutar mais contra o tempo. O assassino solta sua espada, a qual cai bem em cima do pé de Aurora, adentrando na sua carne ao ponto de ficar ereto, sem tombar para nenhum lado. A surpresa, a dor e a moderação do perigo fizeram o braço da jovem relaxar. Assim, unindo toda a sua força no punho, Mertivo soca o rosto de Aurora mesmo que precisasse negligenciar a sua mão que o defendia da espada da garota. O que resultou em um corte no seu supercílio.
O equilíbrio desmoronou, todos os seus esforços para se manter parada perderam os eixos. Aproveitando o momento de fragilidade, Mertivo a segura pelo braço com as duas mãos e ataca com seu joelho. O rádio não resiste, o osso é esmigalhado enquanto rompia as camadas de músculo, uma fratura exposta transforma seu braço em uma meia-lua.
A dor e o pavor no mar preto estrelado era tremenda, o branco lançava o vermelho da vida, era sua primeira vez que via do seu próprio corpo, pena que não poderia contemplar ou temer aquela visão por muito tempo.
Mertivo volta a pegar sua adaga árabe, a levanta na altura do pescoço da perdida, a qual não detinha defesas. O vento e o ruído do nunca amanhecer ecoam pelas árvores, pelas pedras e pela neve, era uma boa música de epílogo.
Desafiando o limite da razão e da angústia, a jovem que babava sangue, joga seu membro destroçado a frente da sintonia. Atravessado como papel, a mais fina das agulhas toca no pescoço, porém não há mais forças para continuar em sua rota. A morte não poderá desfrutar dessa consoada, já que o prato principal se recusava a perecer.
Usando a última arma que lhe restava, Aurora choca a sua cabeça contra o seu ceifador, espalhando sua saliva avermelhada sobre o rosto do outro. Os dentes semelhantes em cor ao líquido agarram o colar do tempo, o puxando até ser arrancado do pescoço de seu dono.
A arma sofisticada ficou encravada na carne enquanto Mertivo dava alguns passos para trás. Aproveitando esse momento, Aurora solta a sua espada em cima da mão inutilizada. Em movimentos rápidos receados de extrema dor, a garota já não sorridente amarra os seus dedos ao redor do cabo, utilizando a corda enroscada com os marcadores de tempo para a fixação. Todo processo foi feito pelo braço dormente.
Por fim, Aurora abocanha o cabo da arma que a atravessava, puxando-a enquanto o sangue jorrava. A jovem o cospe ao chão, mostrando o rombo no meio da deformação. Quando o metal toca o solo, a sangrenta avança em seus poucos momentos de vantagem, completamente delirada na aflição.
Sua visão já se escurecia devido à falta de pressão, por isso seus golpes eram desesperados e fadigados, consistindo em simples espetadas em busca da empalação. Mertivo não tem muita dificuldade de desviar dos cansados ataques, porém estava apressado, muito apressado.
Mertivo realiza uma joelhada nas costelas de Aurora, sempre no mesmo lugar, para que a dor ou o partir dos ossos a rendesse. No processo, decidiu sacrificar a espádua para acertar um golpe limpo. O membro é perfurado, todavia, consegue desestabilizar a fúria momentânea de sua oponente.
Em um pulo almejado para se rearmar, consegue sentir suas costas serem rasgadas junto aos tecidos escuros, entretanto, o assassino consegue alcançar a sua espada jogada entre a terra e o sangue. Os dois estavam equipados novamente, porém apenas um tinha os braços em condição para lutar. Os golpes desengonçados de Mertivo eram superiores à defesa defasada de Aurora, dessa forma, a empurrando mais uma vez em direção ao domo.
Se o cordão afrouxasse ou a espada se distanciasse, era o fim. Não havia para onde correr ou fugir, sentia a gélida muralha negra encostar em suas sofridas costas novamente. A falta de sangue começava a afetar seus sentidos, sua mente estava fraca, se perdendo nas nuvens da loucura da iminente morte. O frio congelava a sua delicada pele, estava congelante apesar do seu corpo arder por dentro, um calor cada vez menor.
Uma onda térmica arregala seus olhos, sentia por trás de si pequenas labaredas, as quais pareciam a tocar mesmo tão distantes. Os pulmões pesados enchessem de ar um pouco menos gélido, apesar da mísera mudança, Aurora sentia o calor de um abraço em volta de si.
Desejando mais desse afeto caloroso, aspirando abraçar os seus amigos com seus próprios braços, para se confortar, percebia a fagulha em seu coração crescer. O resplendor da noite cruza o gélido preto, em um brilho que pareciam mais de mil sóis nos olhos desnorteados da jovem angustiada. Sentia paz enquanto os novos símbolos brilhavam junto ao fogo, estava controlando a pequena fogueira.
A faísca em seu coração se torna um grande incêndio, já não tremia de frio e medo.
O ardor rejuvenescente toma outro significado, não teria o proclamado sonho se não pugnar. A dor reluzente passa do afago ao desespero, os tecidos leves e esdrúxulos são perfeitos combustíveis para o assar da carne. No meio do desespero de ser queimado vivo, Mertivo não percebeu Aurora enraivecer seus olhos, a lâmina não fraqueja, em frente a barriga do malfeitor. O assassino era esfaqueado repetidas vezes.
Tão embravecido quanto a sede de sangue da jovem já não mais pura, a sua mão desiste de abafar o incontrolável vermelho brilhante. Um soco da mais pura demonstração de rancor, os ossos da costela não resistem as repetidas tentativas de rompo e cedem. O pouco ar que Aurora conseguia inspirar perdia espaço ao sangue que adentrava em seus pulmões.
O ápice da exaustão e dor extrapolam as forças das pernas de Aurora, sua mente girava enquanto o corpo caia ao chão. Estava paralisada no limite do seu ser, nem se quer um dedo conseguia mexer.
Aquele que queimava via sua pele cada vez mais deformada, o inferno se expandia por suas vestes, carbonizando sua carne onde tocava. Não havia escolha, suas mãos retornam ao ritual, girando sobre si mesmas enquanto formavam um círculo. Antes de sua boca ficar completamente seca, uma palavra é dita: ar.
As labaredas resistem por algum tempo, no entanto, conforme o oxigênio dava lugar ao carbono, seu poderio diminuía. Quando a última molécula queimou, os dois combatentes se encontram no chão, delirando na agonia. Nesse momento Mertivo viu a dor se extinguir de seu corpo, não sentia mais nada devido ao custo de sua maldição.
Não havia ar para seus pulmões, então as desesperadas respiradas nada serviam. Doutrinando as reservas de seu corpo, Mertivo se levanta com enorme esforço, seu rosto, outrora escondido, agora estava deformado e irreconhecível, porém seus olhos funcionavam bem, olhavam para seu acínace fincada na terra.
Com passos lentos e doídos, o assassino pega a sua última arma, determinado a dar o fim no contrato. Todavia, quando se aproximava da indefesa, viu sua barreira começar a rachar, os cinco minutos enfim chegavam.
Em um conflito interno, viu pequenos pedaços negros caírem em direção ao solo. Não lhe restava mais tempo, não se mataria para dar um fim na jovem, afinal, suas motivações não tinham remorso, ódio ou amor, apenas estava fazendo o seu trabalho.
No pouco tecido que lhe restava, Mertivo puxa uma grande bola feita de tecidos e a joga no chão, levantando um excesso de fumaça branca que fica presa no domo.
Quando as limitações expiram, a estrutura desmorona. O branco dificulta o encontro, mas em poucos segundos, os olhos, já verdes, de Aurora conseguem enxergar um rosto amigável antes de se fecharem.
A fumaça se desfaz com o ventar da noite, relevando assim que apenas a trupe da Aurora se mantinha no local. As corujas de pupila dilatada observavam todo o decorrer, porém, um pequeno camundongo de olhos iguais as aves de intromete na peça teatral, sendo rapidamente predado pelos outros expectados.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top