XVIII. Concessão

As tropas marchavam em seu cerco, não havia escapatória e nem esconderijo. Os soldados batiam nas portas ferozmente, exigindo suas entradas, caso não fosse aberta, era arrombada e invadida. Lá conferiam todos os armários e iluminavam os moradores com tochas, procurando por alguém cujo rosto estava desenhando em um papel.

Era a face de Aurora, apesar disso, nenhum dos guardas sabia realmente de quem pertencia tal feição, ninguém se lembraria do rosto de uma já esquecida princesa morta.

Três pessoas se esgueiravam na escuridão, se escondendo entre vielas deixadas das casas, todavia, a cada passo de um soldado, ficavam mais acuados na pequena vila. O terror os dominava, parecia iminente as suas descobertas, não havia uma brecha, parecia que aqueles soldados haviam sido avisados sobre a arquitetura local para um cerco perfeito e sem falhas.

Enquanto isso acontecia, a igreja já havia sido tomada, com todos os refugiados e feiras sendo rendidos até segunda ordem, todavia, na sala do padre, duas pessoas conversavam, ou melhor, uma era interrogada.

— Qual o objetivo de Meroveu ao vir aqui? — Rell questiona enquanto passa o dedo na sua espada.

— Meroveu nunca veio aqui. — O padre René tenta negar, dizendo com uma voz convicta.

— Hum... Me encontrei com ele na estrada, não adianta vir com mentiras, santo padre. — Rell tinha um tom de sarcasmos em sua fala. — Por que ele veio nessa vila abandonada por Deus?

— Deus não abandona seus fiéis.

— Não mude de assunto, apenas me responda.

— ... Se não o quê? Você é dos revolucionários, se fizer algo contra um padre, a igreja ficará furiosa.

— Hahaha! Acha mesmo que ligo para isso? Além do mais, um padre morrer em um desastre é algo acreditável, não é? — Rell pergunta em uma clara ameaça.

— O que quer dizer?

— Apenas responda minhas perguntas.

René não tinha muitas opções, sabia que uma invasão acontecia   pelos barulhos por trás das paredes, porém, não havia nenhum sinal ainda de matança, quanto tempo isso duraria? Por outro lado, contar o interesse daquele homem seria a causa de sua morte. Não havia boas saídas.

Como aquela mulher sabia disso? Ela estava espionando? O próprio Meroveu contou a ela? Essas dúvidas não o ajudariam naquele instante, assim, confessa pelo bem dos seus seguidores. Alguns minutos se passam com o padre revelando tudo que havia dito e ouvido na noite anterior. Rell apenas escutava sem reação enquanto passava o dedo no fio de sua espada.

Ao terminar o monólogo, ela abre um sorriso.

— Não sabia que aquele homem gosta tanto de mitologia. — Sua voz era o puro sarcasmo.

— ...

— Era só isso, sacerdote. — Ela diz enquanto se levantava. — Oh! Quase me esqueci... Meroveu lhe mandou um presente.

Sua lâmina corta rapidamente a garganta daquele homem, o qual não tem outra reação a não ser tentar estancar o sangue com suas próprias mãos. O medo da morte o consome, o fazendo assim a olhar com desespero, percebendo que ela mantinha um sorriso sádico.

Entretanto, aquela morte seria tratada como assassinato caso achassem o corpo. Por isso, Rell faz um pequeno movimento com as suas mãos, as chamas começam a saltar de suas tochas, incendiando o corpo do desesperado.

Queimando na agonia de morte, rapidamente começa a perder seus sentidos: visão, olfato, tato, paladar, todos consumidos pelas chamas. Surpreendentemente a audição se mostrou mais duradora que os demais, o fazendo escutar algo além da sinistra risada da general, uma última voz vinda daquela desgraçada: "Agora estamos quites, negociador". Depois disso só um grande clarão, acompanhado de um perpétuo zunido, estava morto.

Nesse meio-tempo, as ruelas ainda não vasculhadas estavam cada vez mais escassas, suas sombras são iluminadas pelas tochas dos invasores. Não parecia haver uma fuga para os três, um combate se mostrava cada vez mais inevitável.

O medo domava os mais novos enquanto eram guiados por Wem em um labirinto sem saída. Apesar da situação, seu rosto não expressava medo algum, no máximo alguma preocupação, se diferindo muito dos seus companheiros.

Um grito, um alarme. A hora havia chegado.

Dezenas de soldados começam a invadir o centro da vila, seguindo o som de um semelhante, enquanto isso, alguém se deliciava com tal anúncio. O medo da morte pesava a espada daquela jovem, seria a primeira vez que ceifará vidas com suas próprias mãos. Não sabia como agir, nem como pensar, será que só precisaria voltar ao banco e assistir à carnificina? Mas se o sangue também for os seus aliados? Ela poderá impedir?

Antes que pudesse dar o primeiro passo, seus amigos já haviam começado. Sadh joga suas lâminas, cortando as articulações frágeis das armaduras, por causa disso, diversos cortes começam a aparecer em seu corpo. Já Wem apenas andou na direção deles, Aurora não viu o primeiro ataque do colosso, no entanto, muito sangue escorria pelos seus dedos de cristais. Ele apenas cortava e amassava a horda de soldados, as armaduras vestidas por esses se mostraram inúteis.

Aurora decide finalmente agir, segura sua espada com toda sua força e tenta duelar com um dos homens. Seus golpes eram fracos e sua técnica era pífia, assim se tornou um oponente fácil para um soldado experiente, que não tentou usar de ataques mortais, parecia querer capturá-la, talvez essa intenção tenha a salvado de uma morte precoce.

Ela defendia os ataques com muito esforço, não conseguindo nenhum segundo para pensar em alguma investida, assim lentamente era empurrada para trás. Todavia, lutava com todos os seus esforços. Ponderava ativar seus olhos de estrela, mas ela nem ao menos sabe como fazer isso.

Enquanto alguns soldados já haviam caído e outras dezenas se agrupavam nas pequenas ruas, uma luz começa a surgir e se espalhar, a igreja estava em chamas. Lá queimavam todos os que poderiam ter ouvido o assassinato que ocorreu outrora. Porém, o incêndio parecia se espalhar rápido demais, como o vento o carregasse.

Dezenas de moradores começam a fugir de suas casas devido ao medo das gigantescas labaredas e do combate violente que se seguia. Um caos completo toma conta da vila que está prestes a estar em ruínas. Os fazendeiros viam tal situação, mas nada poderiam fazer, nenhum reforço estava próximo, assim, só restavam fugir como junto ao povo.

As chamas esquentavam aquela noite de outono, lentamente a cidade se tornava um verdadeiro inferno. O cansaço começa a dominar Aurora, a qual não aguentava mais defender daqueles golpes pesados, por isso, vai fraquejando a cada defesa.

Se aproveitando disso, o soldado logo a golpeia estrondosamente em um ataque vertical. A espada de Aurora defende, mas suas pernas cedem. Indefesa no chão, não havia oportunidade de se levantar naquele instante, o soldado segura sua perna e a arrasta. A terra e grama não a ajudavam a se prender, seus dedos deixavam marcas no chão, estava desesperada.

Uma salvação veio, uma lâmina é arremessada, encravando no olho do sequestrador, diante da dor, ele solta a Aurora, que rapidamente se levanta e recompõe sua postura defensiva. Atacando o soldado no rosto por puro impulso e medo, muito sangue jorra e ele cai morto.

Aurora fica em choque, havia matado pela primeira vez em sua vida. Suas mãos tremem e algumas lágrimas escorrem do seu rosto, não por tristeza, era algo mais complicado, um sentimento preso em seu coração.

Uma mão a toca no ombro, um gesto amigável, todavia, ela se vira e ataca devido à situação, dando de cara com Sadh que defendeu seu ataque com uma de suas lâminas, já esperando tal reação.

— Tudo bem? — Sadh pergunta enquanto a abraça, todavia ainda mexia seus dedos, controlando suas lâminas para afastar os inimigos.

— E-eu não sei... — Aurora dizia apertando ainda mais o abraço. — Eu o matei... eu sabia que esse tipo de coisa poderia acontecer... m-mas... por que estou me sentindo assim?

— Eu também fiquei arrasado quando matei pela primeira vez... talvez até pior que você... porém temos que ser fortes, se você fraquejar, eles não terão pena de você. — Sadh tenta a consolar.

— ... Se isso acontecer com um de vocês? Eu os trouxe para o grupo... eu não quero perdê-los, não quero perder mais ninguém. — Aurora diz isso sem saber ao certo a origem de suas palavras, vindas do seu subconsciente.

— Nós aceitamos vir... e não vamos morrer, afinal temos que vencer o Mestre das maldições não é? — Sadh se afasta do abraço a olhando diretamente.

Algumas lágrimas ainda escorriam do rosto da jovem, porém ao ver o rosto de Sadh ser cada vez mais marcado por cortes, decide lutar para que ele não precise mais se machucar para protegê-la. Com um simples sorriso ao meio do choro se levanta com seu amigo e começa a lutar com determinação.

O combate segue com dezenas de corpos, as labaredas finalmente alcançam as casas ensanguentadas, as consumindo suas estruturas de madeira e espalhando cinzas pelas ruas. Uma pessoa andava por esse caminho de sofrimento, olhando indiferentemente os corpos de seus soldados, apenas procurava por certa pessoa.

Ao encontrar o ápice da tormenta, logo abre gigantesco sorriso ao ver o rosto de uma bela jovem. As chamas começam a crescer no local, arrastando as brasas em volta da sua presa. Assim, em poucos segundos, gigantescas chamas rodeiam os dois amigos. Os soldados recuam, como se soubessem o que aquilo significasse.

Os dois se olham confuso pela aparente paz, não sabiam que soldados tinham tanto medo de fogo. Devido à trégua, respiram um pouco antes de ir ajudar Wem. Entretanto, uma sombra surge no caminho, vinda por trás do fogo, uma forma humanoide começa a surgir. Uma mulher de cabelos ruivos e pontas pretas passa sem problema pela incineração.

Enquanto isso acontecia, Wem lutava com diversos soldados, seus casacos já acumulavam rasgos e furos, todavia não havia nenhum ferimento em sua pele. Quando o calor insuportável começou a dominar o ambiente, ele vê as gigantescas chamas. Uma investida é feita em direção ao local, porém o exército inimigo não o deixa avançar livremente. Por isso, o encontro dos seus aliados com a general segue sem interrupções.

— Uma honra encontrar você, Aurora. — Rell diz isso com um sorriso macabro no rosto.

— Q-quem é você?... E como sabe meu nome? — Aurora pergunta sem afrouxar sua postura.

— Hahaha! Digamos que eu sou... — Uma bola de fogo começa a envolvê-la. — Uma grande fã!

Rell avança trazendo consigo uma capa de fogo. Sadh lança suas lâminas em direção à agressora, todavia todas são expelidas com uma espada, mostrando que a ruiva era uma grande duelista.

Aurora toma uma posição defensiva, esperando o ataque, já que, obviamente, ela era o alvo daquela mulher. As duas espadas colidem, Aurora sente um extremo ardor em sua face, as chamas que envolviam aquela mulher eram bem reais, todavia, ela não parecia ser afetada, já que sorria perversamente.

— Não achei que uma donzela teria tanta força. — Rell Ironiza. — Será que devo pegar mais pesado?

As chamas escalam as duas espadas, causando um extremo brilho diante dos olhos de cada uma. Porém, elas não se mantém muito tempo ali, as faíscas começam a saltar para o corpo de Aurora, queimando sua pele onde tocavam.

Logo em seguida, pedaços se soltam completamente, caindo nos braços da jovem, deixando enormes lesões. Sadh não ficaria apenas assistido aquilo, então segura duas lâminas e parte para cima, almejando um ataque vertical.

A militar facilmente percebe a intenção do rapaz, então, dá um grande chute na barriga de Aurora, a derrubando e logo em seguida mira sua espada para o outro oponente, jogando nele uma chapa de labaredas. O mesmo não vê outra saída a não ser dizer "Dash", aparecendo atrás dela.

As lâminas em suas mãos são arremessadas, acertando de raspão o rosto da general, que teve que desviar do golpe em completamente despreparada.

— Hahaha! Que maldição é essa, rapazinho? — Rell pergunta limpando o sangue do corte com seu dedo. — Você daria um ótimo militar.

— Obrigad... digo, não vou cair no seu charme. — Sadh responde um pouco sem graça.

— Hum! Realmente seria um bom soldado, pena que eu não gosto de concorrentes. — Rell avança em Sadh, todavia, um golpe lateral desvia sua atenção.

Era um golpe limpo, habilidoso, não era possível ter vindo de uma princesa que nunca havia sido treinada. No entanto, diante dos seus olhos estava a garota a qual havia chutado recentemente, com os olhos negros acompanhados de uma pupila branca em forma de uma estrela de 4 pontas.

Com o choque, Rell acaba perdendo o impulso, assim é jogada a alguns metros. Ela passa a mão no local do ferimento, o sangue manchava seu casaco, era profundo, mas não letal. Rapidamente volta com sua postura, esperando que os dois avançassem em sua posição.

Todavia, o que viu foi exatamente o oposto, a princesa lutava contra seu amigo, golpeando as lâminas dele para longe a fim de avançar.

— De novo isso, Aurora? Não é hora para uma revanche! — Sadh tenta conversar com Aurora, mas ela não parecia o ouvir.

Rell abre um grande sorriso, não sabia o que aqueles olhos significavam, porém, estava claro que a descontrolava. Aproveitando a brecha, começa a reunir mais e mais brasas em sua volta, as quais não parecem surgir por causa dela, sendo apenas atraídas das casas.

Sadh no meio daquilo tudo percebe intenção da general, além que entende que ela não criava fogo, apenas o controlava. Porém, não poderia evitá-la, suas lâminas se esforçavam para segurar Aurora.

Por que ela está agindo assim? Pensava que só atacava inimigos, porém ela não hesitou em avançar no ser que estava mais próximo a ela. Pensa em como trazê-la de volta, pois, se isso continuar, não durarão muito tempo contra aquela mulher cada vez mais brilhante.

Neste ínterim, Aurora se vê novamente no teatro, assistindo ela mesma lutar contra seu amigo. Suas preocupações foram atingidas, ela atacava todo ser amaldiçoado perto de si. O desespero começa a dominar, não poderia deixar que aquilo se prolongasse, eles precisavam lutar juntos para vencer, então, por que aquela mulher insiste em avançar no alvo errado?

Ela não consegue apenas apreciar o espetáculo sem tentar nada, mesmo se sentindo impotente, avança em direção ao palco, sem saber ao certo o que faria.

Os esforços de Rell começam a gerar consequências, seu vulto começa a se distorcer pelo extrema temperatura, assim, quando se sente satisfeita, toda combustão ruma para sua espada mirada em direção de Aurora. As chamas começam a se acumular na ponta, formando uma grande esfera de luz.

O minúsculo sol é lançado em extrema velocidade, deixando um rastro luminoso pelo ar. Não havia esquiva e nem defesa para aquela jovem, mesmo que pusesse a espada em sua frente, nada adiantaria diante da dimensão do ataque. No entanto, ela havia um companheiro, suas lâminas começam a se reunir em um disco bem a frente a esfera, assim se colidem. Apesar da aparência amedrontadora e com um incrível poder de destruição, era extremamente instável, se dilacerando com o impacto, se dissolvendo pelos céus, assim não causando nenhum dano.

Todavia, a situação não havia melhorado, as lâminas de Sadh começam a derreter, além do fato que estavam muito distantes de seu dono, por isso, o salvador se torna uma presa fácil para a salvada.

Vendo tal situação, Aurora não teme em se jogar no palco, tentando impedir o pior. As duas começam a disputar pelo controle da espada, cada uma impondo sua vontade. Por causa disso, o corpo acaba ficando paralisando no combate real.

A com olhos estrelares parece perder a paciência e diz uma única palavra, "Sente". As pernas fraquejam e sua força se esvai, entretanto, a de olhos esmeralda não desiste, não cairia uma segunda vez naquele dia, sua motivação e o desejo do bem do amigo fazem que ainda se mantenha de pé.

— Não!... Ele não é nosso inimigo. — Aurora começa a direcionar a espada, não se opondo ao movimento da outra, apenas o direcionando em direção a Rell. — Ela é nossa adversária.

Alguns girassóis começam a brotar entre as frestas do palco. A de olhos negros observa tudo em silêncio, parecendo desgostar daquelas flores que ali se propagavam, assim parece ceder ao desejo de sua semelhante.

O branco toma sua mente até um cenário surgir lentamente na sua visão. Aurora já não estava mais naquele teatro estranho, nem no campo florido, estava em uma vila queimada, apontando sua espada em direção a uma general.

Ela não sabia como e nem por que retornou ao mundo real, ficou primeiramente aliviada, podendo cessar seu embate contra Sadh. Todavia o medo logo começa a surgir, não teria mais a esgrima da outra, o que culminaria em ser um peso para Sadh.

— A-Aurora? — Sadh pergunta ao perceber que a jovem havia ficado muito tempo parada, porém ainda mantinha certa distância por desconfiança.

— Sadh! — Ouvir a voz do amigo a aliviou. — Desculpa por te atacar de novo, prometo compensar... eu vou te dar um sabonete!

— Você voltou!... Pelo menos em partes, eu acho...

— Em partes? Como assim?

— Seus olhos continuam estranhos.

Inconformada com a situação, olha para sua espada, encontrando a sua imagem no reflexo entre as gotas de sangue ali presentes, seus olhos ainda estavam brilhantes. Era verdade, será que finalmente havia se tornado apenas uma consigo mesma?

Antes que pudesse celebrar ou se questionar mais sobre o assunto, teve que focar em sua inimiga, a qual não parecia disposta a assistir tal cena. Uma ofensiva recheada de chamas surge no seu lado, o que faz Aurora tremer, era disso que tinha medo, não ser capaz de se defender novamente.

Todavia, sua espada é movimentava por suas mãos, talvez por puro instinto. Não, pensando melhor, não foi uma reação espontânea, foi um movimento perfeito e delicado, como se tivesse sido treinado por anos.

As espadas colidem, o calor imensurável volta diante de seus negros olhos, os mesmos que ficam cara a cara ao sorriso de Rell. As duas se afastam sem perderem sua postura, Sadh volta a direcionar suas armas, esperando um movimento, não deixaria Aurora lidar com isso sozinha novamente.

— Hahaha! Tem certeza que você é a princesa? — Rell se divertia até aquele momento.

— Princesa? — Sadh pergunta desentendido para a Aurora.

— E-eu não sei do que você está falando... sua boboca! — Aurora tenta disfarçar incrivelmente mal.

— Mentirosa. — Rell começa juntar um verdadeiro incêndio em volta de si.

Em sua mão desocupada, uma garra de fogo é formada, assim um ataque é feito. A arma de faíscas crescia conforme se aproximava de seu alvo, em um ritmo inevitável de ser desviado. Por causa disso, Sadh deixa os questionamentos para depois, objetivando em se segurar na Aurora e dizer "Dash".

A garra passa, deixando um rastro de carbonização em seu caminho, porém, não acerta nenhuma pessoa. Sadh e Aurora surgem 5 metros para trás no mesmo instante que desapareceram, completamente ilesos das perversas chamas.

Aurora olha para seu amigo deslumbrada, não esperava que poderia ir junto quando ele usava aquele poder. Já o Sadh olhava para ela com um sorriso meio forçado, preocupado pela quase morte dos dois.

— E aí!... como foi? — Sadh pergunta já reposicionando suas lâminas para perto de si.

— FOI MUITO LEGAL! — Aurora responde animada.

— Sério? A dor não te incomodou?

— Dor?

Rajadas brilhantes são arremessadas nas suas direções, assim, não restando mais tempo para diálogos. As adagas começam a cortar os ataques flamejantes, culminando em sua dissolução pelos ares, formando uma linda e fervente chuva de centelhas. Os olhos estrelares de Aurora focam naquele cenário, as chamas "derrotadas" apenas retornavam para alguma fogueira, por causa disso, seu poder não diminuía, a cada segundo, a disparidade de força aumentava.

Necessitavam vencer rapidamente, se não aquela mulher usaria toda a vila como seu combustível. Por causa disso, se lembra do seu confronto contra Sadh, recordando da utilização de uma maldição, ela olha para sua espada, o nome encravado ali estava, assim forja seu plano.

— Sadh! Me dê cobertura! — Aurora grita enquanto corria em direção contrária as chamas.

— O que você vai fazer? — Sadh pergunta sem nem poder olhar para trás.

— Vou trazer ajuda! — Aurora responde já distante.

Sua surtida se mostrou longa, achar alguma árvore intacta no meio daquele incêndio se mostrou uma tarefa intrica e lenta, acarretando uma preocupação sobre a efetividade de seu plano. Todavia, no meio do desespero, uma árvore é vista, suas folhas alaranjadas se tornavam negras, porém, ainda estava com o tronco de pé.

Mesmo não sendo sua ideia inicial, não teria outra escolha, se aproxima correndo, sem nem saber ao certo como ativar seus poderes. Ela tenta lembrar de algo que o padre ou ela realizaram, só se lembrando do pano com seu sangue completamente seco. Assim, não hesita em furar a grossa casca com sua espada diversas vezes, a fim de encontrar algo para beber.

Não demora para um líquido viscoso e pegajoso começa a transbordar do buraco, sua aparência não era das menores, todavia Aurora não tinha tempo a perder. Sua boca se aproxima da seiva, assim a bebe com uma cara desconfortável, porém, nesse meio tempo, encostou sua mão na planta, além de desejos que ela se mexesse se proliferaram.

Nada acontece ao longo de 5 segundos, o que a preocupa e a se faz questionar se havia bebido aquele líquido atoa. Todavia, depois disso a casca começa a tremer, Aurora dá um passo para trás e assim deslumbra a visão da árvore retorcendo em si, seus olhos estavam encantados e seu corpo pouco faz para disfarçar sua animação.

Porém, algo a assusta, um olho se forma no buraco de sua espada, o mesmo de antes. Era a primeira vez que ela o vê pessoalmente, parecia ser formado por neblinas e nuvens e passa uma sensação, o mesmo que sentia quando a sua outra eu olhava para ela.

Seu real significado e sentido ela não compreendia e não queria entender de imediato, precisava ajudar Sadh o mais rápido possível. Então de alguma maneira consegue fazer a árvore começar a se enterrar na terra, apagando o fogo que a consumia, depois disso, Aurora não demora para correr de volta para o combate.

A situação de Sadh começa a ficar tensa, suas lâminas tinham cada vez mais dificuldade de parar as rajadas flamejantes de Rell, a qual se envolvia cada vez mais na luz vermelha. Uma estratégia tinha que ter tomada, esperar a Aurora era uma opção, mas quanto tempo ela demoraria? Provavelmente ela tentou usar alguma árvore como fez outrora contra ele, porém, raízes realmente seriam efetivas contra aquela clarão ardente?

Com dúvidas em sua mente, receoso, decide avançar, já que conseguiria fugir com seu "Dash" caso necessário. Suas lâminas se aproximam de seu corpo, o defendendo para sua aproximação, então isso, Rell apenas assistia à ideia tola daquele homem sem se mover.

Já próximo do seu alvo, diversas gotas de suor surgiam no seu rosto, talvez por medo, mas principalmente pela temperatura escaldante. Ele joga suas lâminas que adentram nas grossas chamas, culminando em cada uma de suas armas ficarem incandescentes a medida que se distanciavam. Quando estavam prestes a atingir, as adagas são golpeadas, estraçalhadas ao meio, suas partes derretiam em pleno ar, bastando um pequeno ataque para se deformarem por completo.

As lâminas destruídas não demoraram para ressurgir pelas costas de seu dono, de uma maneira inexplicável estavam ali intactas. No entanto, isso não era motivo de comemoração, seus ataques se mostraram inúteis naquela situação, além disso, estava próximo dela, completamente sem maneiras de revidar. Talvez teria sido melhor apenas esperar a Aurora.

Sua boca grita a palavra, assim some de sua posição, todavia, ainda estava longe da segurança. Rell já havia entendi a distância percorrida daquela maldição, assim diversas rajadas haviam sido soltas em todas as direções, consequentemente uma exatamente onde ele estava.

Não havia tempo para dizer novamente, seus pulmões estavam vazio devido à utilização anterior, além disso, suas armas estavam distantes, não havia fuga.

Quando pensava estar perdido, uma raiz surge da terra seca, bloqueando o ataque com seu próprio corpo. Aurora havia finalmente chegado.

Ela não hesita em avançar na direção de seu companheiro, ficando em uma posição de batalha ao seu lado. Os dois olhares se cruzam, aliviados de ambos estarem bem.

— Você chegou! — Sadh diz dando um soquinho no ombro dela.

— Desculpe a demora... foi difícil achar uma árvore que não fosse carvão. — Aurora responde meio envergonhada pela recepção.

Distante da cena, Rell se questionava a origem daquela planta, não era possível tudo aquilo ser de uma só maldição, eram muito opostas entre si, a única resposta seria 3 maldições. Todavia, aquele homem teria duas, pelo menos, como isso era possível? Além disso, a princesa teria que ter uma, isso não estava nos relatórios.

Parte de suas dúvidas é respondida quando ela analisa a espada nas mãos da donzela, sem dúvidas era do imperador valôm, todavia havia uma estranha neblina em sua volta. Rell sabia as origens daquela espada e suas ligações com maldições, ali estava o fim do mistério acompanhado de um ótimo espólio.

Assim decide acabar de uma vez com aquilo, Wem não demoraria para matar todos aqueles fracos soldados, precisava lutar séria a partir de agora. Em uma investida, começa a correr em direção aos seus alvos, os quais não a deixaria avançar tão fácil. Lâminas e raízes surgem em sua frente, todavia, ambas eram fracas contra seu resplendor. Assim, quando chegavam perto de sua imagem, eram facilmente destruídas por sua espada sem o menor esforço.

Isso preocupa ambos do outro lado, um combate corpo a corpo diante daquele incêndio ambulante não era uma opção, todavia não poderiam simplesmente continuar ataques inúteis. A tensão domina o ambiente conforme a oponente se aproximava.

Considerando segurar Aurora novamente para desaparecerem dali, Sadh ergue sua mão em direção dela, todavia, seu plano é frustrado por dezenas de borrascas cintilantes, só restava cada um se esquivar individualmente pelas aparentes golpes aleatórios.

Todavia, era de engano de Sadh achar que a ordem dos ataques era aleatória, todos foram planejados para serem esquivados em uma certa direção. Assim, quando Sadh percebeu que a general prepara um soco repleto de labaredas, quase diz a palavra para sua fuga, entretanto, percebe que Aurora es encontrava atrás de si, pois acabava de desviar de uma rajada.

O golpe era eminente, porém seu coração ordena que ficasse calado, para que o ataque não ferisse a amada.

As chamas queimam o seu corpo antes mesmo do impacto, sua visão é tomada pelo vermelho do inferno. É arremessado por diversos metros, colidindo com uma casa qualquer. Toda a parte frontal estava extremamente queimada e carbonizada, com o sangue escapando entre as fissuras da pele destroçada.

Apavorada pela condição de seu amigo, sua primeira reação é tentar correr para salvá-lo, sem saber ao certo se estava vivo ou morto. Porém, é interrompida pela causadora de tal discórdia, as chamas começam a afastar da dona, revelando completamente seu corpo outrora embaçada e escondido ao meio do vermelho.

Diversas queimaduras e partes carbonizadas que não estavam ali antes eram visíveis na sua pele exposta. Porém, suas roupas estavam intactas, relevando que não foi o fogo propriamente dito o causador daquelas marcas.

— Agora sou só eu e você! Queridinha. — Sua voz era repleta de sacarmos e ódio.

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