XII. Encontro

A tarde estava perto do seu fim, a lua sobrepujava o sol e azul se tornava preto. Em uma cidade ferreira, as luzes das fuligens incandescentes começam a se destacar diante da crescente escuridão. Um embate corria não muito distante dali, mas o suficiente para o som das forjas abafar completamente qualquer vestígio do que ocorria no lugar.

Começando da maneira mais patética possível, Aurora sendo expulsa da casa com tapas. Porém, não eram de Sadh ou coisa parecida, eles vinham de uma lâmina, a qual se movia por conta própria.

Quando finalmente passa pela porta, a lâmina volta e a fecha, a deixando sozinha lá fora.

— EI! ISSO NÃO FOI LEGAL! Aurora reclama batendo na porta.

— Vai embora. Diz Sadh.

— Eu não vou, já disse que não sou do contra império!

— O que você quer então?

— Quero que você se torne meu companheiro para gente te curar das suas maldições.

— Não tinha uma desculpa melhor?

— NÃO É DESCULPA!

— Aham! Não me importa se você seja de outra coisa ou sei lá, não vou me juntar.

— Mas a gente precisa de você para derrotar o mestre das maldições.

— Mestre das maldições? Que ideia estúpida!

— A IDEIA NÃO É ESTÚPIDA A SUA... CASA QUE É ESTÚPIDA!

— Não fala mal da minha casa, fui eu que construí!

— Você que começou!

— Vai embora logo. E não conta para ninguém que estou aqui, não quero ter que me mudar de novo.

— Já disse que não vou embora, vou te tirar daí de qualquer maneira, seu boboca!

— Vamos fazer assim.

Nesse momento Sadh aparece no topo da casa, sete lâminas o rodeavam, porém, ele não segurava em nenhuma, mas pareciam estar sobre seu controle.

— Vamos fazer uma pequena luta, se você ganhar, eu vou com você.

— EBA! Se prepara então qu-

— Mas se eu ganhar eu não vou e você vira minha namorada.

— Quê? NÃO VOU NAMORAR UM VELHO!

— JÁ FALEI QUE NÃO SOU VELHO!

— E ESSA CARA ENTÃO?

— SÓ ESQUECE A MINHA CARA!

Depois disso, um certo clima de desconforto perpetuou por alguns segundos, com os dois ficando corados e constrangidos, até que Aurora dá um suspiro e segura sua espada em posição de batalha.

— E-eu aceito.

— A-aceita? Então tá...

Então as sete lâminas disparam em direção à Aurora, assim a pegando de surpresa. Apesar de conseguir se defender de algumas, duas passam pela sua espada e dão uma lapada em sua testa, a fazendo perder o equilíbrio e cair de bunda no chão.

Ele claramente não queria machucá-la, senão teria usado o gume das adagas, porém não parecia poupar esforços para conseguir seu tão desejado prêmio. Pois, mesmo com ela no chão, os tabefes não sossegavam, vindo um após o outro, não a deixando se levantar.

— Não está machucando muito não né? Sadh pergunta um pouco preocupado.

— Ai! Um pouco Ai! Ameniza a Aurora.

— Se quiser desistir...

— Ai! Ainda não.

Mesmo com a total desvantagem, ela permanecia persistente, convicta que conseguiria um novo parceiro. Com tal determinação, pula em uma pequena brecha deixada pelas lâminas, conseguindo sair daquele enxame. Porém, antes mesmo de qualquer comemoração, teve que sair correndo, visto que as adagas não desistiram de persegui-la.

Mesmo com a fuga, não tinha um plano claro em sua mente de como ganharia, suas habilidades em combate não pareciam com nada daquela vez, uma completa amadora em cima de um palco.

Mas mesmo assim só fugir não o venceria, ela tinha que o encarar, então em um movimento totalmente precipitado, se vira em direção as perseguidoras, todavia, uma dessas lâminas já estavam bem próxima a sua cabeça. Quando se virou repentinamente, acabou causando um pequeno corte em sua bochecha e ao mesmo instante um semelhante aparece no braço de Sadh inexplicavelmente.

Ele segura o ferimento, mas se preocupa com a Aurora e olha se ela está bem.

— ESTÁ TUDO BEM COM VOCÊ AURO- Ele interrompe sua frase incrédulo.

Todas os outros possíveis ataques são desviados de tamanha destreza, que nem parecia mais a mesma pessoa. As lâminas acabam caindo na terra ou sendo redirecionadas para cima.

Assim ela se vira para ele, revelando a íris de seus olhos completamente negros com apenas uma grande pupila em forma estrela de 4 pontas se diferindo de tal escuridão.

— Parece que acertei no apelido. Diz Sadh ainda meio confuso.

Ela dá um grande avanço em sua direção, o desesperando para chamar suas armas para defende-lo, entretanto nenhuma delas parecia ser eficaz, por serem simplesmente expulsas da trajetória dela.

Desse modo ela facilmente o alcança, escalando a casa encravando sua espada entre as fracas tábuas. Ficando praticamente cara a cara, porém ela não estava com uma postura amigável, preparando um golpe possivelmente letal.

Quando estava prestes a atingi-lo, um sorriso surge no rosto de Sadh. Uma palavra ecoando pelos seus dentes, "Dash".

Ele simplesmente some de sua frente, sem mais nem menos, como se deixasse de existir. O golpe obviamente não acertou em nada, porém logo em seguida ela é golpeada por trás. Sadh segurava uma das adagas e com a lateral dá uma grande lapada na bunda da Aurora, fazendo ela cair da casa.

— Tudo bem aí? Pergunta Sadh olhando para baixo.

Aurora não demonstrava reação, porém, por dentro estava bem confusa e cheias de perguntas: o que aconteceu? As lâminas não são seu poder? Ele tem quantas maldições? Podem um ser amaldiçoado ter mais de uma maldição? Por que ela usou aquele golpe agressivo?

Esses pensamentos vêm em um teatro, o mesmo que ela estava quando lutou contra o padre. Ela apenas assistia à situação, porém decidiu se levantar e se aproximar, para ver de perto o que estava acontecendo.

Aurora se levanta da grama e olha para cima, aparentemente não havia nenhum machucado sério, apenas alguns pequenos arranhões.

— Você tem que ir com mais calma, se não vamos nos machucar de verdade, além disso, o que são esses olhos em?

Sem dar nenhuma resposta, ela tenta avançar novamente, entretanto Sadh dessa vez estava mais preparado, já segurando uma adaga, assim se defende e a empurra para trás. Ela percebe que o golpe dele estava mais forte, exatamente duas vezes mais forte.

Então ele poderia somar as forças de seu corpo mais o da espada, desse jeito seu golpe parecia de um homem bem forte, muito mais que seu corpo indicava. Isso dava uma vantagem extrema, já que a Aurora não conseguiria competir na brutalidade.

Já com isso em mente, ela avança novamente, dessa vez usando um impulso para derrubá-lo da casa, o que deu certo. Assim os dois voltavam para a mesma grama amassada que brincaram não muito tempo atrás.

Ela ataca agora através de ataques consecutivos, tentando achar uma brecha entre seus movimentos, porém viu sua escolha ser gradativamente superada. Sadh agora segurava duas lâminas, deixando a vantagem dos múltiplos golpes quase sem efetividade. Enquanto as outras 5 armas faltantes estavam em sua volta, destruindo qualquer brecha que poderia surgir.

Assim, com a força dele, ela foi lentamente empurrada para trás, até chegar na árvore onde estava a casa. Dessa forma, terminou forçada contra ela, o que resultou na Aurora tropeçando nas raízes expostas.

— A-acho que ganhei né? ... A aposta ainda está valendo? Diz Sadh um pouco tímido e confiante na sua vitória.

Mas sua alegria não duraria muito, Aurora encosta sua mão na árvore e espera 5 segundos, mantendo a cabeça baixa, como se estivesse derrotada. Durante esse tempo, a palavra entalhada em sua espada começa a brilhar com uma luz esverdeada, porém ela propositalmente apontou-a para baixo, para que Sadh não notasse.

Então depois disso a árvore começa a se mexer, se retorcendo sobre si mesma, destruindo a casa com sua casca. Sadh só pode olhar preocupado vendo sua tão trabalhada moradia ruir conforme mais distorcida a árvore se tornava.

Depois disso uma névoa dourada começa a se formar em volta da espada da Aurora, e no buraco perto da bainha surge o que se parece um olho, o qual tinha uma íris preta que parecia a pupila de um gato. Já a sua própria pupila era completamente vermelha.

Aurora, aproveitando o espaço, tenta atacar mirando em sua garganta, entretanto, a que sua eu que assistia a tudo isso se desespera e pula no palco tentando impedir, segurando no braço dela mesma. Na realidade o golpe é subitamente desviado para o lado.

Sadh leva um susto e rapidamente pula para trás, remontando sua postura.

— Por que você fez isso Aurora? Demorei muito para construir essa casa! Além disso você é um ser amaldiçoado também? E que olho é esse?

Ela permanecia estática, pois em sua cabeça, suas duas versões ainda brigavam em cima do palco.

— Não machuca ele, sua boboca! Eu não sou assim, não machucaria um amigo que me deu comida!

Ela tentava tirar a espada da mão da outra, porém seus atos pareciam não surtir efeito. Até que ela olha com mais atenção para os detalhes do rosto e se vê no reflexo dos olhos, as duas eram praticamente iguais, só com apenas uma diferença. Os seus olhos eram verdes, o dela eram pretos com estrelas.

Ela se lembra da pergunta do Wem sobre seus olhos, mas por que eles estavam assim? Antes de pensar qualquer outra coisa, uma palavra sai da boca daquela que atua, "Senta" e sem questionamentos, Aurora assim fez.

A batalha volta a acontecer, com a Aurora novamente avançando em direção a Sadh, tentando acertá-lo de alguma forma, porém todos seus ataques conseguiam ser anulados. Entretanto, tudo isso era apenas uma distração. Embaixo dos seus pés, a terra começa a tremer e quando Sadh se dá conta já era tarde demais.

Rompendo o chão, uma raiz contorcida surge e mira um golpe em suas pernas. Com a visão periférica ele repara o golpe, porém não havia nenhuma lâmina para defende-lo por baixo. Por isso ele grita aquela palavra mais uma vez, "Dash".

Mas isso não foi tão efetivo, pois apesar de sair da situação, uma parte do golpe ainda o acertou, assim um corte marca uma de suas pernas. Por sorte ele escapou antes do corte ter sido maior, se não a mancha vermelha em sua calça poderia ter sido bem maior.

Ele segura bem suas adagas e se prepara para as investidas, pois ainda não sabia se Aurora realmente era uma inimiga ou só estava levando a luta muito a sério. Então pro seu próprio bem lutaria com respeito, mas não a machucaria.

O combate seguiu de uma maneira diferente. Ao contrário de alguns minutos atrás, Sadh não a encarava mais de frente, simplesmente mandava algumas de suas adagas a atrasarem, mantendo-a praticamente presa em um local só.

Mesmo que ela defendesse todos os ataques vindo por autoria de Sadh, após desviadas, os sabres em menos de um segundo se reorganizavam e voltavam um após o outro.

Porém, estava claro que ela planejava algo, gradualmente a árvore, que uma vez já foi lar de Sadh, se enterrava mais e mais para de baixo da terra, se contorcendo para ir mais fundo, ao ponto que nem se parecia mais uma planta.

Até que tanto esforço começa a dar resultado, do mais fundo do solo raízes começam a ser expulsas para fora e se direcionam em direção a Sadh, que já esperava por isso. Usando duas armas que havia deixando com sigo, começa a cortar as raízes, porém quanto mais cortava, mais grossas surgiam.

Até chegar ao ponto que seu golpe não consegue cortá-las completamente e então ele é atingido com algo semelhando ao um soco na barriga, que o empurrando para trás.

— Vai me atacar até com o tronco é? Não quer me namorar tanto assim?

Obviamente ele não recebe nenhuma resposta.

— Porém, eu não quero perder.

Nesse momento ele joga uma de suas adaga que segurava, indo duas vezes mais rápida que o comum devido ao impulso inicial. Na trajetória estava Aurora, que percebe o golpe vindo e já antecipa os movimentos. No entanto, quando estava prestes a colidir, a lâmina sobre subitamente, desviando de qualquer defesa possível e dando uma grande bofetada na testa da Aurora.

Assim ela acaba caindo no chão, as lâminas param no ar para não machucá-la e ele dá um pequeno sorriso.

— E agora? Ganhei?

A resposta não poderia ser mais clara do que uma chicotada de uma raiz em suas costas. Aproveitando a brecha ela rapidamente se levanta e parte pro ataque, porém quando estava prestes a acertar, Sadh novamente diz Dash e some de sua vista.

— Para com isso! Já está machucando! Além disso, já ganhei algumas vezes! Como que faz para acabar em? Sadh pergunta indignado.

— Já acabou. Uma voz no bosque.

De repente uma sensação de medo e desgosto surge em seu corpo, tomando toda sua razão e pensamento em sua mente. Sadh se vira bem devagar perante tal mau e observa no meio da floresta um homem gigante coberto de casacos.

Lá estava o demônio, a singularidade do medo dos seres amaldiçoados, o fim de todos eles, lá estava Wem. Mesmo sem nem ver seu rosto, só ele conseguia causar tanto pavor em uma alma.

Diante do seu caçador, Sadh não consegue fazer nada além de se ajoelhar pelo medo e se perguntar como ele ainda estava vivo, como o império caiu se ele ainda estava de pé? Como perderam com o exército de um homem só?

Aproveitando da oportunidade, Aurora lança um golpe mirando a garganta. Entretanto, suas mãos começam a ficar sem forças, como se a energia dela estivesse sido drenada, assim a forçando a soltar a espada.

Ela cai de joelhos no chão e lentamente seus olhos começam a voltar ao normal.

Wem se aproxima com um brilho vermelho escapando nas falhas dos tecidos, ele encara o aterrorizado homem em sua frente, e depois para a Aurora que olhava para baixo, ainda fora de si.

— Quem é você? Wem pergunta friamente.

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