XI. Sadh
*Sul da capital*
Um batalhão marchava em uma assolada estrada de pedra, era composta por dezenas de soldados, ou até mesmo chegasse a uma centena. Eles caminhavam ao comando de uma mulher em cima de um cavalo preto, era a Rell.
Após horas andando a dia finalmente começou a chegar em seu fim. Com isso, barracas e tendas começam a ser montadas em uma pequena planície ao lado da estrada. No meio disso, uma luz pode se ver ao longe, mas vinha constantemente, se aproximando em uma velocidade que não pareciam pessoas andando.
Os guardas logo se posicionam a identificação dos suspeitos e quando finalmente chegam, veem 10 templários, todos a cavalo. Vestiam sua armadura completa, armadura de placas, cota de malha e capacetes típicos da legião. Porém, um não usava o capacete, sendo ele o que estava na frente da formação.
Tinha um cabelo amarelado e um rosto amigável, era Meroveu. Ele se aproxima e os guardas o reconhecem no mesmo instante e logo tentam se desculpar, entretanto, Meroveu não parecia se importar com isso e apenas pergunta quem está no comando.
Enquanto isso, Rell já estava em sua barraca, a maior do acampamento, deitada em sua cama, olhava um mapa. Analisava as vilas próximas, onde seus alvos poderiam estar, sua única dica era que estavam a sudoeste, mas havia dezenas de pequenos vilarejos onde poderiam se esconder.
Não poderia errar, uma missão dessa pesaria muito em sua carreira, já que foi recentemente promovida a general, sendo muita questionada sobre estar apta para o cargo, principalmente pela alta cúpula militar.
Até que de repente uma sombra humanoide aparece na entrada da tenda, porém não parece querer adentrar no lugar. Pois, fica apenas esperando do lado de fora.
Não demora muito para ela perceber tal peculiaridade e abre a tenda, dando de cara com Meroveu.
— Senhorita Rell, uma graça te encontrar a essas horas. Meroveu cumprimenta com um sorriso amigável.
— Meroveu, o militar mais pacífico que já encontrei. Rell debocha.
— O mundo não precisa mais de guerras do que já tem.
— Claro que precisa, das guerras surgem os fortes.
— A pessoa mais forte é aquela que vence sem nem competir.
— De novo com essas frases? Vamos direto ao assunto. Por estar passando por aqui, presumo que está indo a capital, acertei?
— Haha!... Acredito que estamos indo tratar do mesmo assunto.
— O que quer dizer?
— Eu sei que o Wem e a princesa estão vivos.
Apesar de disfarçar bem, Meroveu claramente percebe um tom de surpresa em sua movimentação corporal.
— O quê?
— O papa ainda não sabe, mas os rumores se espalham rápido.
— Pense bem antes de declarar uma afirmação dessa velhote.
— Eles devem estar a sudoeste daqui, pelas minhas previsões, em uma vila ferreira provavelmente.
— Quem lhe disse isso?
— A igreja tem olhos para todos os lados.
— Eu disse quem.
— Essa não é uma missão oficial, não é? Quem será que te enviou pessoalmente? Moretti, Traitore ou será o líder que veio?
— Cala a boca... se não...
— Se não o quê? Vai me matar? Começar outra guerra? Imagino o que o contra império faria com você depois disso.
— CALA A BOCA!
— Não está falando alto de mais? Ou os soldados realmente sabem dos detalhes da missão?
Ao meio da sua crise de raiva, Rell pega o mapa e, com sua mão, o coloca no fogo de uma tocha, o queimando devagar. Lentamente sua raiva se esvai e percebe a situação que está.
— ... O que você quer? Ela pergunta raivosa.
— Apenas resolva isso, mas pense pelo lado bom, ganhará o reconhecimento que tanto precisa, não é general?
Sem mais nenhuma palavra, Meroveu se levanta e sai da tenda.
— Desgraçado... HAHAHAHAHAHA! Você ganhou sem nem competir não é? Desgraçado. Diz Rell olhando a sombra dele se afastar.
*Vila ferreira*
Aurora tenta disfarçar seu susto ao ouvir aquele nome, porém ela é péssima nisso.
— Me conhece é? Pergunta ironicamente Sadh.
— N-não... Claro que não... Aurora responde sem entender a ironia.
— Você disfarça tão bem.
— Obrigado... quer dizer... eu não estou disfarçando.
— Hahaha! Você é engraçada.
— Obrigado?
— O que você está fazendo por aqui?
— Bem... queria minha espada de volta, uma que foi pega por um ladrãozinho.
— Essa aqui? Diz Sadh olhando para sua cintura.
— Essa aí. Aurora responde perdendo a paciência.
— Toma, não tenho interesse nela.
Ela a solta e entrega a espada nas suas mãos.
— Valeu! Pera aí... por que você roubou ela então?
— Para você vir aqui.
— E-eu?
— Vem cá estrelinha.
Ele começa a andar na direção contrária a do muro, se encaminhando em direção a um pequeno bosque. Aurora fica com algum receio de segui-lo, mas como não tinha nada melhor para fazer acaba indo.
O bosque estava repleto de folhas alaranjadas, dando um aspecto muito bonito para a última folhagem antes do rigoroso inverno. Porém, apesar do lugar deslumbrante, o inquietante silêncio assolava, apenas o som de passos em cima de folhas secas evitavam a completa falta de som.
Enquanto olhava as folhas caindo do topo das mais altas árvores, Aurora nem percebe que havia uma estrutura em sua frente. Era feita de tábuas de madeira, construída de forma que um robusto tronco servisse como sustento, assim assumindo uma forma bem infantilizada. Quando para de escutar o som das pegadas da pessoal em sua frente, finalmente a percebe.
— Legal né? Se Vangloria Sadh.
— Parece uma casa na árvore, mas no chão. Responde Aurora indo em direção dela.
— Aqui que eu moro.
— Por que o senhor moraria numa casa de criança?
— Não me chame de senhor... além disso, por que ela não seria uma boa cara a se morar?
— O senhor já está velho... tem filhos por aqui?
— Velho? Filhos?... Pareço ter quantos anos?
— Uns 35 eu acho.
— T-trinta e cinco?... o-o tempo passa rápido né?
— É... porém, mudando de assunto, por que me trouxe aqui?
— Ter alguém jovem como eu por aqui.
— Eu não tenho 30 anos.
— Já entendi... Mas gostaria de fazer algo?
— Algo?
— Alguma brincadeira, sei lá.
— O senhor não está muito crescido para isso não?
— S-só esquece a minha idade...
— Então tá... Eu acho...
Os dois ficam olhando para os lados, sem jeito para continuar aquela conversa, como se fossem dois adolescentes que acabaram de se conhecer.
— O-olha... tem uma bola lá dentro, se quiser vou pegá-la... Sadh sugere.
— P-pode ser... Aurora confirma.
— Vou lá então...
Ele caminha rapidamente em direção a casa e adentra no local, depois disso alguns sons de coisas sendo derrubadas saem pelas frestas das tábuas irregulares. Ele deveria estar procurando por tal brinquedo. Depois de algum tempo, ele sai de lá com uma bola de tecido branca em suas mãos.
— Trouxe a bola.
— Legal.
— Quer jogar algo... tipo chutar ela ou algo assim?
— Pode ser.
Sadh solta a bola no chão e começa a dar pequenos chutes enquanto ia em direção oposta a de Aurora, porém quando percebe que ela estava imóvel olhando para ele, decide parar.
— N-não vai jogar?
— N-não sei como joga... nunca joguei.
— Entendi... tipo você chuta a bola e tenta manter ela com você, e se tiver comigo você tenta pegar ela.
— Ata...
Aurora começa a caminhar com pequenos passos em direção a Sadh, então chuta a bola e continua andando em direção a ela, enquanto o Sadh anda atrás dela, com ambos constrangidos.
Apesar do começo ruim, bastaram alguns minutos para a brincadeira começar a se agitar, com ambos fazendo cada vez mais esforços para se manter com a bola. Assim ficaram horas, correndo, chutando e às vezes caindo, até que o estomago de Aurora começou a roncar, porém, de imediato ela não percebeu.
Quando estava com a bola e viu Sadh correr em sua direção, decidiu tentar passar a bola entre as pernas dele, assim, quando ele se aproximou, ela chutou. Todavia, o plano não ocorreu bem como o esperado.
A bola acabou indo em direção ao pé que estava preste a pisar no chão e assim fazendo ele dar um passo em falso, e por consequência perdendo o equilíbrio. No final de tudo isso Sadh acaba caindo por cima da Aurora, os dois acabam rolando por cima de macia grama e parando com ele em cima dela, os seus rostos acabam ficando bem próximos.
Imediatamente os dois começam a gargalhar pela situação, alguns segundos se passam e aos poucos as risadas se esgotam, ficando assim os dois olhando um para o outro. Sadh observa bem os olhos daquela jovem em sua frente e depois o rosto, tirando por pequenos arranhões e curativos, não havia nenhum defeito nele. Assim ele parece se encantar.
— V-Você é muito bonita...
Nesse momento ela fica um pouco corada e surpresa com a resposta, enquanto ele já estava corado desde que a olhava.
— O-obrigado senhor...
— Ah! Não me chama de senhor de novo.
— Tá!... Obrigado Sadh.
Assim os dois ficam se olhando meio sem jeito, até um som cortar esse momento, a barriga da Aurora ronca.
— Oh! V-você tá com fome é? Sadh pergunta meio tímido.
— A-acho que estou... Aurora responde igualmente constrangida.
— L-lá dentro tem algumas frutas... se você quiser comer...
— P-pode ser...
— Vamos lá então...
Ao adentrarem na casa, consegue-se ver um lugar confortável, com alguns móveis de madeira básicos, mas claramente feitos por alguém que sabia o que estava fazendo. Em cima deles havia vários objetos diferenciados, que não seguiam nenhum padrão aparente.
No canto do lugar havia uma pequena mesa e com apenas uma cadeira, e ao lado delas um balcão com algumas frutas.
— Pode se sentar ali se você quiser... e escolhes quantas frutas quiser também...
— Tá bom.
Ela se aproxima das frutas, vê algumas variedades: peras, maçãs, figos, romãs e uvas. Eram únicos tipos de comida visível, além disso, todas estavam e pequenas quantidades, como se pudessem ser segurada apenas com uma mão.
Aurora acaba escolhendo uma maçã e uma pera, queria mais um pouco, porém julgou não ser o correto. Ao se sentar percebe que o Sadh fica em pé encostado em uma parede, não olhando diretamente para ela.
— Não vai se sentar? Aurora pergunta.
— Só tenho uma cadeira... sabe como é... não se recebe muitas visitas hoje em dia.
— Então senta aqui do meu lado!
— O-o quê?
— Não vou deixar você ficar em pé enquanto eu como.
— Não precis-
— Senta logo vai.
Aurora fica no canto da cadeira e dá uns tapinhas na outra da metade com a intenção de chamá-lo, que vai sem jeito. Quando ele se senta, ela dá uma pequena risada e começa a comer as frutas, as quais estavam bem frescas. Ela oferece uma mordida pro Sadh, porém ele recusa, assim rapidamente só sobram os miolos.
— Estavam deliciosas! Aurora agradece.
— Que bom que gostou. Sadh dá um pequeno sorriso.
— Meu estomago aqui tá bem cheiinho.
— ... Posso te perguntar algo?
— Claro!
— O que são esses seus ferimentos?
— Ah! É que lutei recentemente. Perdi até pedaço de um dedo, olha! Aurora levanta a sua mão com o dedo reduzido.
— E-entendi... Como foi essa luta?
— Foi super legal! Lutei contra um bicho grandão que fazia *PUM* quando batia. Aí eu *ZOOM* desviava e subi em cima dele e *CRACK* um monte de espinho surgiu e me machuquei toda!
— Contra o que você lutou?
— Lutei contra um monstro grandão de carne... inclusive foi com essa espada que eu lu-
Quando ela segurou o cabo de sua espada, duas estrelas aparecem, no coração de Sadh e a outra em sua boca. Assim ela ficou calada por alguns segundos.
— Aurora? Tudo bem? Pergunta Sadh.
— V-você é um ser amaldiçoado? Diz Aurora suando frio.
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