Prólogo
A sensação de estar balançando, foi o que fez com que o corpo da mulher despertasse totalmente.
Em estado de alerta, ela abriu os olhos e rapidamente se sentou. Sentindo uma pressão absurda em seu estômago e a sensação de enjoo lhe dominar no mesmo instante. Sua cabeça deu pontadas e tudo pareceu girar ao seu redor, dificultando que ela reconhecesse o lugar onde estava. Sua visão escureceu por longos segundos, o que foi o suficiente para que ela sentisse o vômito subir por sua garganta.
A única coisa que conseguiu fazer, foi jogar o corpo pro lado, inclinando a cabeça pra baixo, colocando tudo o que havia em seu estômago pra fora.
Isso lhe trouxe um imenso alivio e diminuiu a pressão em sua barriga, que outrora ela pressionava. Mas sua cabeça latejou ainda mais, enquanto a mulher tentava novamente abrir os olhos.
Havia um balde logo abaixo dela, bem posicionado ao lado da cama onde ela se encontrava deitada. O que impediu que ela sujasse todo o chão de madeira envernizado.
Onde estava?
Arrastou os pés para fora da cama, os apoiando no chão, mas não sentia firmeza alguma em seu corpo. Era como se tivesse um peso sobre si, a empurrando para baixo, querendo que ela voltasse a deitar novamente.
Olhou ao redor, o quarto era pequeno, bem estreito, com uma única cama baixa, uma mesinha com vários papéis, uma luminária e duas portas, uma que deveria ser a saída e a outra possivelmente o banheiro. Havia algumas espadas penduras ao redor da parede, uma cabeça de animal logo ao lado também empalada contra a madeira, uma pilha de roupas jogada em um canto e um cheiro forte de álcool que parecia dominar todo o local.
O cheiro era bem familiar.
Lembrava Shanks. O cheiro de álcool costumava ser quase o perfume natural do Pirata.
E essa simples constatação, fez com que a mulher se recordasse de sua última lembrança, antes de tudo se tornar um borrão.
Ela estava discutindo com Shanks, como sempre, ambos estavam brigando. Até ela sentir sua cabeça girar e tudo se tornar escuridão, enquanto ouvia o ruivo gritar seu nome.
Aquele era o quarto dele, sem sombra de dúvidas. Mesmo que ela nunca tivesse estado presente ali antes, reconheceria o cheiro característico do ruivo.
Não precisava ser esperta demais para saber que provavelmente o ruivo havia lhe drogado. Mas em que momento? Ela não se lembrava de ingerir nada quando estava na presença dele. Mas se Shanks estava na mesma ilha que ela, não duvidava que ele pudesse ter feito algo para captura-la e tê-la como prisioneira em seu navio.
E foi com esse pensamento, que Selene usou de todo seu ódio para conseguir se levantar daquela cama. Ela quase caiu no segundo em que ficou de pé, mas conseguiu se agarrar na parede, o quarto era estreito o bastante para tudo ser muito próximo, inclusive, a cama ser próxima o suficiente da parede onde ela se escorou. Ela sentiu uma nova onda de enjoo, junto de uma sensação de calafrio por todo seu corpo.
Que merda era aquela que estava acontecendo consigo? Ela nunca havia ficado doente em toda a sua vida. Não tinha como ter pego algo venéreo em alguma ilha.
Deu alguns poucos passos para chegar até a porta, estendendo a mão na direção da maçaneta assim que estava próxima o suficiente. Mas a madeira se abriu de uma única vez, ela cambaleou para trás e cedeu.
Esperou pela pancada de seu corpo no chão, mas ela estava sendo amparada por um braço forte, que rodeou sua cintura e a puxou para cima, junto do corpo quente e grande. O cheiro de álcool foi a primeira coisa que ela sentiu e que irritou profundamente seu nariz, já que só fez intensificar a nova vontade que ela tinha de vomitar.
— Onde pensa que está indo? — A voz irritantemente grossa dele, fez ela se debater em seus braços, parecendo uma gelatina devido aos movimentos lentos e a pouca força que tinha.
Selene não conseguiu responder, ela apenas se jogou para trás, levando uma mão sobre a boca, antes de conseguir se livrar do aperto do ruivo e cair de joelhos no chão, com o rosto logo acima do balde, onde ela vomitou muito mais do que antes.
Ela apoiou suas mãos ao redor do balde e só então pode perceber o quanto seus braços tremiam, seu corpo inteiro na verdade. Ela parecia tão leve e ao mesmo tempo tão pesada, como se toda a energia de seu corpo tivesse sido drenada.
— O que você... Fez comigo? — Sua voz saiu num tom choroso. Ela não queria demonstrar esse tipo de fraqueza, ainda mais na frente daquele homem. Mas foi impossível, ainda mais que ela aparentemente havia perdido todo o controle sobre si.
— Que? Eu? — O tom dele soou com certa indignação, enquanto a morena ouvia os passos pesados dele dentro do pequeno cômodo. — Eu salvei sua vida.
Levou longos segundos, até Selene conseguir se soltar do balde e tombar seu corpo pro lado. Suas costas acertaram a parede e ela gemeu dolorosamente com o impacto, erguendo a cabeça para encarar o ruivo em pé do outro lado. Ele não estava sorrindo, mas ela o conhecia bem. Ele deveria estar se divertindo com o estado dela.
— Do que está falando?
— Você foi envenenada.
Aquela informação ressoou por sua cabeça. Selene fechou os olhos e respirou pesadamente, tentando se recordar de que momento ela havia se descuidado e se permitido ser envenenada. Ela não conseguia lembrar de nada que a levasse aquele estado. O que a fez abrir os olhos para encarar o ruivo novamente.
— O que me faria acreditar que não foi você quem me drogou e me trouxe para a merda do seu navio?
Shanks estalou a língua no céu da boca e então riu.
— Acha mesmo que eu faria isso? Depois de vinte anos, você ainda pensa assim de mim, querida?
— Não me chame de querida, seu imbecil.
— Você já foi melhor nos insultos. — Ela o observou caminhar para perto de si, a agarrando pelo braço de forma rude, puxou-a para cima como se ela fosse uma boneca de panos e então a empurrou para que caísse sobre a cama. — Fique deitada, vou chamar o médico para vê-la. — Ele ditou num tom sério, lhe dando as costas e saindo do quarto logo em seguida.
Selene ouviu apenas o impacto da madeira, antes de tombar a cabeça contra o travesseiro e apagar novamente.
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