Culpa 4



Gostaria de pensar que um dia eu ainda posso sentir um amor tão puro quanto o de Romeu e Julieta. Sabe...acho que todos nós esperamos por um amor ardente que vire nossos estômagos e faça nossa cabeça girar, que nos faça questionarmos tudo o que pensávamos antes de conhecermos aquela pessoa. Daniel Duarte estava partindo. Malas nas mãos e cabelo penteado. Bem, era ao menos assim que eu o imaginava partindo. Meu orgulho não vacilou, negando-me o direito de ir vê-lo partir. Não conseguiria deixá-lo, mas sabia que tinha de fazê-lo. Por mais que ele tivesse de partir, algo em meu subconsciente me faria gritar no meio de um aeroporto lotado para que ele ficasse. Isso seria doloroso para nós dois. Ele tem de ir, se não estarei apenas confirmando que o egoísmo humano é mais forte do que qualquer outro sentimento. Não posso acreditar nessa possibilidade. Assim, num dia quente de fevereiro, abril, deixei Daniel Duarte partir, seus lábios cheios de nicotina não tocariam mais os meus e seu sorriso errante não me arrancaria suspiros. Acontece. Tento acreditar que foi a melhor decisão.

Agora, memórias inalteráveis de um romance breve e frágil permanecem em meu subconsciente, não por vontade própria, mas por uma autopunição. Nunca fui realmente verdadeiro com Daniel. Não disse as coisas que gostaria de falar. Poderia culpar a sociedade, seria muito mais fácil, não? Mas me recuso. Aceito meu erro. Agora, ao menos, creio que a vida dele terá um caminho certo a seguir. Não poderia ser tão egoísta a ponto de arruiná-lo, não por causa de um sentimento tão propício a desilusões como o amor.

Meu coração se aperta agora, mas sei que, já na velhice, olharei para as memórias com fervor, lembrando-me de cada beijo e cada toque, de cada palavra que flutuou dos lábios dele e encontraram os meus. Memórias intocadas pela frieza da realidade. Culpe-me por tê-lo deixado ir, não me importarei. Embora confuso e aparentemente desolado, sempre continuarei a acreditar numa das verdades mais negligenciadas pelas pessoas: o amor é injusto.


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