Capítulo 9 - Não é um sinal
Não é um sinal
Marcela
Eu tive que fazer aquela piada. Foi mais forte do que eu. E ainda bem que o Eduardo não era de ficar ofendido por nada e foi ótimo ver aquele sorriso constrangido dele subir pelos seus lábios — as vezes, em momentos como aquele, os olhos dele pareciam mais esverdeados com pontinhos dourados. Como era possível aquilo, senhor?
— Ah, sabe? Você está usando o cabelo solto. É um sinal — ele apontou para mim e eu meneei minha cabeça, esperando minha bendita Eugência.
— Tudo parte do meu plano — eu não queria sorrir, porém ele já estava no meu rosto quando eu notei o que estava fazendo e não adiantava fingir que eu não o havia feito.
— E como foi o encontro com o pirulito louro? — ele indagou, dando um passo na minha direção quando uma guitarra pouco afinada tocou e eu me encolhi.
Outra pessoa me empurrou e eu dei espaço para um coitado conseguir pedir a sua cerveja Mautava — essa daí não havia me conquistado muito, eu ainda preferia a original, mesmo que eu não fosse lá muito fã de cerveja —, deslizando para a direção de Eduardo.
Daniel Cirurgião estava atrasado dez minutos e esta era a vida. Espero, pelo menos, que desta vez que minha lingerie linda e desconfortável valesse o meu esforço, pois seria muito triste um terceiro encontro horrível em menos de sete dias.
Eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo, mas o carma não poderia me odiar tanto.
— Não somos amigos o suficiente para essa conversa, Eduardo — eu me inclinei no balcão, querendo chamar a atenção do barman, que estava sendo atacado com pedidos por muitos ângulos para dar atenção a mim.
— Ah, tão ruim assim? Pior do que o veterinário de Lhasa? — ele arqueou as sobrancelhas na minha direção, divertindo-se as minhas custas.
Acho que eu poderia lhe conceder este gostinho depois da última vergonha que ele passou comigo.
— Foi bem... engraçado — eu respondi, tentando conter uma risada ao me lembrar da reação do Rogger quando eu o beijei.
Deus, como ele sequer conseguia transar com uma pessoa se ele não aguentava um beijo no pescoço?
— Isso não parece ser ruim — ele considerou e eu revirei meus olhos, ainda me esticando no balcão para pegar a cerveja — o que pediu?
— Uma Eugência — eu lhe respondi e uma pessoa me empurrou ainda mais para o lado, me jogando contra o corpo do Eduardo — não é um sinal.
— Foi eu te elogiar uma vez que já está se jogando em cima de mim, eu sabia que meu charme era magnético — ele brincou, porém passou o braço ao meu redor para que as pessoas parassem de me jogar de um lado para o outro como uma bolinha de pingue-pongue — vou te ajudar, calma.
Eu senti minhas costas contra o peito de Eduardo, mais próximo do que um dia ele esteve de mim, e eu estava prestes a pedir que ele me afastasse quando o seu braço passou pelo meu ombro. Eu sabia que ele era mais alto do que eu — a maior parte das pessoas acabava sendo levemente mais alta que eu — só que eu nunca tinha notado que ele era tão mais alto que eu. Praticamente uma cabeça de distância.
Era como se o meu corpo inteiro estivesse em alerta, sentindo uma das suas mãos levemente em minha cintura e o seu corpo me aquecer.
Eduardo tinha cheiro de...
— Oh, meu consagrado! Quatro Eugências e uma taça de Merlot! — ele disse com firmeza e eu me abracei, sentindo meus pelos se arrepiando.
Meu celular tocou e eu vi que Daniel me avisou que estava estacionando e logo me encontraria.
— Hum, então esse daí é a vítima da vez? — Eduardo comentou próximo do meu ouvido e eu girei meu rosto para tentar olhá-lo, sentindo seus lábios encostarem de leve em minha bochecha antes de se afastarem.
A música estava alta, mas ele não precisava ficar tão próximo assim, não é?
— Espiar a conversa alheia é feio, sabia? — eu bloqueei a minha tela, não respondendo a mensagem, pois ele chegaria daqui a pouco e não fazia sentido apenas responder "ok, eu sou a mulher espremida contra o balcão do bar".
Edu apenas levantou as mãos duas mãos, rendendo-se, enquanto eu olhava para trás, a procura dos cabelos castanhos e dos um e oitenta e sete prometidos de Daniel, porém tudo o que eu vi foi Leandro estreitando seus olhos na nossa direção e eu acenei para ele, que se derreteu em um sorriso meio estranho na minha direção. Ao lado dele tinha uma sósia versão feminina do Eduardo, talvez a famosa Cecília que tanto ligava pro trabalho a procura dele, e uma mulher loira maravilhosa que com certeza havia acabado de sair de uma Vogue.
— O Leandro e sua irmã estão saindo? — eu perguntei para Eduardo ao vê-lo mirar seus olhos na mesma direção que eu havia olhado antes.
— Eu espero não saber, sinceramente — ele me confessou no meio de um riso — seria traumático conhecendo a fama dele.
— Nossa, você é muito tranquilo. Meu irmão é um doce, mas é super ciumento — eu considerei em um suspiro, ele era um dos motivos para eu nunca ter levado um namorado para casa em tantos anos.
— Eu não sabia que você tinha um irmão — Eduardo comentou e alguém o empurrou quando a banda começou a tocar um cover de Cage The Elephant, começando logo pela minha preferida da banda, Meophobia.
— E uma irmã — eu acrescentei, aproveitando que não dava para sair dali de qualquer maneira sem a minha cerveja e o barman não parecia muito animado em fazer um twister com seu corpo para atender todo mundo.
— Em três anos de relacionamento, eu não fazia ideia que eu tinha cunhados — ele sorriu para mim e eu o acertei de leve com meu cotovelo pela provocação — ei, sem agressividade.
— Ah, por favor, nem doeu — eu voltei a revirar meus olhos e eu balancei minha cabeça murmurando a música em um suspiro.
— Nunca pensei que você escutasse Cage The Elephant — ele continuava impressionado comigo e eu não tinha ideia se isso era algo bom ou ruim — eu curto essa banda também.
— Você gosta de uma banda que se chama enjaule o elefante? Eduardo, onde estão os seus valores? — eu brinquei e ele apenas riu, fazendo com que eu sentisse seu corpo tremer atrás do meu e eu sentir sua respiração no meu pescoço.
Deus, estava quente naquele lugar, não estava?
— Quatro Eugências e um Caberlot — o garçom enfiou as garrafas em nossas mãos, saindo antes que pudéssemos ao menos agradecer.
Peguei minha garrafa de Eugência e a taça de vinho para ajudar Eduardo a não tentar equilibrar três garrafas e uma taça em apenas as suas duas mãos.
— Eu tenho quase certeza de que este vinho aí não existe — eu comentei, começando a me afastar do bar e aproveitando que Eduardo estava abrindo espaço para mim.
— Tudo bem, duvido que a Cecília saiba a diferença de qualquer maneira — ele deu de ombros e eu respirei melhor já longe de todas as pessoas — se você quiser...
— Marcela? — eu ouvi uma voz masculina me chamando e Daniel Cirurgião não era um fake por mais que eu tivesse quase certeza de que ele fosse depois do seu perfil incrivelmente perfeito.
— Oi, Daniel — eu sorri para ele.
Eduardo equilibrou duas garrafas entre o seu corpo e o cotovelo, e eu lhe devolvi a taça de vinho que provavelmente era de sua irmã. Cecília amaria conhecer o Romeu e suas muitas indicações exóticas de vinhos.
— Boa noite. Obrigada pela ajuda com a cerveja, Edu — eu me inclinei em sua direção e dei um beijo em sua bochecha, sentindo alguns pelos da sua barba que estava crescendo raspando em meus lábios.
Eu me virei para Daniel e sugeri que fôssemos para o lado de fora do bar, aproveitando que estava mais fresco do que o lado de dentro.
Depois de duas Eugências, eu já havia prendido meu cabelo em um coque que estava se desmontando o tempo todo e Daniel havia mudado toda a disposição das nossas cadeiras para que ele pudesse estar sentado ao meu lado e não na minha frente.
Ele era engraçado — totalmente diferente do que eu imaginava um neurocirurgião ser, pode me chamar de preconceituosa, mas eu tinha meus motivos para estar ressabiada, não tinha? —, havia assistido mais filmes na vida do que um cinéfilo, tinha um pós barba que tinha cheirinho de madeira recém cortada e a mão dele estava sobre o meu joelho fazia mais de doze minutos.
— Não acredito que você trabalha no Hospital Capixaba-Paulistano — eu apoiei meu queixo em minha mão, que repousava na mesa — eu construí esse prédio. Meu primeiro projeto na CPN.
— Sério? Que coincidência — ele tomou mais um gole da sua cerveja.
Se fosse Eduardo, já diria que era um sinal.
— Seríssimo — eu assenti — foi o meu primeiro grande projeto. É muito bom você acompanhar desde a planta até a execução. Dá uma satisfação e realização que nem sei, viu? — eu me senti sorrir ainda mais, provavelmente mais pelo encontro bom do que pelo álcool.
— Eu te entendo, semana passada eu fui chamado para uma cirurgia...
— Não, por favor, eu não quero detalhes! — eu segurei a mão dele que estava em minha perna com força, em um desespero claro e evidente.
— Quem te traumatizou? — ele riu e eu tentei me afastar dele depois disso, contudo Daniel apenas segurou meu rosto e afagou minha bochecha com seu polegar.
Oh, bem...
— Marcela? — eu ouvi pela segunda vez na noite, porém, desta vez, eu reconheci a voz.
Rogério Cócegas?
Por impulso, eu fechei meus olhos e colei meus lábios nos de Daniel para evitar aquela conversa que eu não queria participar, que mesmo não entendendo nada do que estava acontecendo, apenas deixou sua mão deslizar pelo meu pescoço e segurou minha nuca, em um movimento tão correto que eu apenas suspirei em seus lábios.
Ele tinha gosto de mel de laranjeira e eu tive que admitir que aquela cerveja só ficava mais gostosa cada segundo que passava.
— Seria muito...? — ele murmurou contra os meus lábios e eu apenas os mordi, para que ele parasse de falar e continuasse a me beijar — precoce se eu...?
— Não — eu sussurrei, ainda de olhos fechados, completamente inebriada pelo seu beijo.
— Não...? — ele indagou, e eu apenas suspirei, abrindo meus olhos para ver que ele estava me olhando com um toque de confusão.
— Não seria precoce — eu esclareci e ele sorriu, pedindo a conta.
⟰
Daniel morava em um studio perto do Hospital Capixaba-Paulistano. Era relativamente pequeno, porém extremamente bem equilibrado. Ele havia feito uma jogada inteligente de fechar a sua sacada com vidro, então ganhou mais espaço de sala já que poderia usar a sacada como sala, ou melhor, quarto.
Além disso, por ele morar em um studio, eu vi na hora que a sua cama era uma box Queen e eu a aprovei.
— Quer beber algo? — ele me perguntou e eu o segui até a sua cozinha. Havia uma pequena adega de vinhos ao lado da geladeira — eu tenho um vinho do porto que estava esperando a companhia certa pra abrir.
— O que acha abrir, então? — eu sorri para ele e ele pegou um saca-rolha para abri-la, porém, quando tentou puxá-la, ela estava presa — quer ajuda?
— Não, eu consigo, a rolha está meio presa — ele fez um pouco mais de força e, ao finalmente abrir a garrafa, a rolha saiu voando com uma parte do líquido na minha roupa — Marcela do céu. Eu sinto muito.
— Tudo bem, é preto, eu... tudo bem — eu sorri levemente indignada que sempre algo estranho tinha que acontecer com meus encontros.
Não havia me sujado muito, porém eu sentia o meu vestido molhado contra a minha barriga.
— Eu tenho uma máquina lava e seca — ele tentou sorrir para mim, deixando a garrafa de lado — você pode usar um roupão enquanto eu lavo rapidinho. Sinto muito.
— Sério. Tudo bem — eu garanti — mas eu aceito lavar, se não for incômodo.
Ele me deu um roupão e eu entrei no seu banheiro, tirando o vestido preto e vendo que, pelo menos a minha lingerie estava seca e continuava maravilhosa no meu corpo.
Coloquei o roupão branco em cima do meu corpo e saí do banheiro com o vestido em mãos, vendo que Daniel havia colocado o vinho em duas taças e estava sentado em sua cama, trabalhando na música — eu não teria colocado uma música, mas Chat Faker nunca errava nesse tipo de situação.
— Dani? — eu o chamei e olhei ao meu redor — onde eu...?
Ele olhou para mim e parou o que estava fazendo, olhando-me, deixando provavelmente uma dúzia de palavras morrerem em seus lábios.
Eu andei até a sua direção e coloquei minha mão embaixo do seu queixo, levantando-o até a minha direção enquanto deslizava meu polegar pelos seus lábios — neste ponto eu já sabia que sua boca era macia e sua língua havia amado conhecer a minha.
— Eu preciso testar algo antes — eu comentei e inclinei meus lábios até o seu pescoço e o beijei ali, embaixo da orelha, notando que seus pelos se arrepiaram imediatamente — o que você sentiu?
— Marcela... — ele sussurrou meu nome e eu sorri contra a sua pele, colocando minhas pernas ao seu redor para me sentar em seu colo, o roupão de abriu um pouco e uma fresta da minha calcinha preta ficou visível. E eu tinha plena consciência de que ele estava morrendo de vontade para enfiar o dedo no elástico dela e descê-la pelas minhas coxas.
— Sem cócegas? — eu passei minha língua pelo seu pescoço e mordendo a pontinha da sua orelha, pois era essa a reação que eu esperava — não sentiu nada?
— Ah, eu senti — a voz dele, rouca, me disse quando ele passou o braço pela minha cintura e nos girou, deixando meu corpo cair contra o colchão em um movimento muitíssimo bem calculado que me roubou o fôlego.
Eu sabia que na posição em que estávamos, o roupão havia se aberto por completo e provavelmente minha lingerie preta estava se sobressaindo contra o tecido branco felpudo, porém eu não me importava nenhum pouco, porque eu coloquei aquele pedaço de tecido para ele ser admirado e, apenas depois, ser retirado.
Daniel se abaixou de novo, resvalando seus lábios contra os meus em algo que poderia ser apenas um suspiro, mas fazia com que o meu corpo inteiro se contorcesse por dentro.
Eu fechei meus olhos e o beijei, sentindo suas mãos escorrerem do meu pescoço para baixo, tocando-me em lugares que estavam em chamas enquanto eu só conseguia pensar que eu queria sentir o seu corpo no meu, sua pele na minha. Eu queria sentir tudo dele, então comecei puxando sua blusa para cima quase o derrubando pela surpresa.
Neste momento que ele se afastou de leve em mim, eu o empurrei para trás e ele saiu de cima de mim, dando-me espaço suficiente para que eu me levantasse da cama, ficando de costas para ele, e deslizasse o roupão pelos meus ombros, espiando-o pelo canto dos meus olhos apenas para ver que ele não conseguia tirar os olhos de mim.
Eu levei minhas mãos para as costas e abri o fecho do meu sutiã com delicadeza, deixando-o cair pelos meus braços, preparando-me para me virar para ele e andar em sua direção, porém Daniel já havia me tomado nos braços, comprimindo meu corpo contra a parede gelada.
Eu não me importei. Nenhum pouco.
Suas mãos passaram pelas minhas coxas e ele me puxou para cima, então eu abracei sua cintura com as minhas pernas e comecei a me concentrar no seu cinto para arrancar logo aquela calça — uma fivela simples, amém.
Arranhei suas costas quando ele se despiu do restante das suas roupas, e colocou meu corpo sobre a sua mesa da sala, dando beijos delicados que percorreram dos meus lábios até meu ventre, mordiscando minha pele nesta trilha e deixando suas mãos deslizarem pela pele sensível do meu seio em um toque que não era suave demais para ser imperceptível, porém não era bruto também. Eu amava sair com médicos, pois normalmente eles conheciam muito bem o corpo feminino.
Eu estava tão quente que temia entrar em combustão sempre que sua barba arranhava minha pele e os seus dentes se arrastavam pelas minhas coxas e eu me contorcia no seu toque, suspirando seu nome mais vezes do que eu conseguia contar.
De verdade? Eu esperava que seus vizinhos não fossem tão críticos quanto o Agenor em relação ao barulho, pois a música já não estava mais tão alta e eu acabei conhecendo todos os cantos do seu studio.
⟰ ⟰ ⟰ ⟰ ⟰ ⟰ ⟰ ⟰
PESSOAL ISSO NÃO É UM TESTE! REPITO! NÃO É UM TESTE!
A Maria pediu no último capítulo que precisava do próximo e a fumacinha branca saiu! O que vocês não pedem que a gente não faz sorrindo?
No meio de um bar lotado (justamente nosso bar preferido) Marcela e Eduardo!!!! Eu adoro a conversa dos dois e todos os "não sinais" que existem entre eles.
Edumara e Danicela? Jesus, só eu to vendo trocado aqui? hehehe
MARCELA FINALMENTE TEVE UM DATE DECENTE SENHOR AMEM OBRIGADA! Será que o Dani é o cara certo?????
E como será que o encontro do nosso arquiteto preferido vai acabar?
Gente, essa história está incrível e as coisas estão começaaaaando a acontecer!
A Gabs e eu falávamos bastante antes de postar CEM sobre "e se o pessoal não gostar por não ser exatamente como AER?" e o retorno de vocês está acima das nossas expectativas! Vocês são os melhores leitores desta plataforma e eu tenho provas!!!
Não esqueçam de nos contar o que estão pensando e da estrelinha!
Beijinhos!
Libriela <3
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top