Capítulo 59 - Morte ao Jack!

Morte ao Jack!


Marcela

— Dona Marcela, a senhora está bem? — Luciano, o porteiro da noite me perguntou quando eu notei que havia tropeçado na entrada do prédio e simplesmente... não havia levantado.

Eu havia apenas me enroscado no meu próprio pé e cai de quatro no chão, mas eu estava tão anestesiada com a briga que eu não sei se machuquei meu corpo ou como um pé se prendeu no outro, então eu apenas parei ali e fiquei, olhando para a rachadura da cerâmica, para o rejunte que estava saindo e para... para todas as falhas que a gente ignorava todos os dias e só via quando realmente parava para olhar.

E agora eu não conseguia parar de olhar as minhas, sentindo que todos os fragmentos que formavam Marcela Noronha estavam prestes a ceder.

Eu queria tanto me manter inteira, mas eu não sabia como.

Não fazia ideia de como eu havia parado ali, então como possivelmente eu conseguiria me levantar?

— Estou — eu assenti, começando a me mover quando eu senti algo molhado contra o meu rosto, só que eu estava com o rosto encarando o chão, então não poderia ser chuva.

O que... aconteceu?

Eu pensei... eu pensei que ele estar aqui significava que ele havia recebido minha mensagem e nós estávamos... bem?

Então por que a gente começou a brigar?

Eu pedi um tempo.

Eu pedi espaço.

Por que ele não conseguiu me dar isso?

Por que ele veio brigar comigo quando eu pedi desculpas?

Minha respiração se prendeu na minha garganta e eu tive que aceitar a ajuda do Luciano para conseguir me levantar, porque minhas pernas não me obedeciam, então ele teve que caminhar comigo até o elevador e comentou que o melhor seria eu passar um anti bactericida nas mãos por causa dos arranhões.

Havia alguns riscos vermelhos em minha pele e eu me perguntei se era assim que um coração saía depois de uma briga, porque eu tinha certeza de que ele não deveria doer tanto se não estivesse machucado.

Quando eu levantei meus olhos para cima, notei que eu já estava no meu andar e eu não consegui entender quando é que ele havia se movido até ali, porém eu acho que o problema era eu e não o tempo.

Acho que... o problema era definitivamente eu.

Enfiei a chave automaticamente em minha porta e a abri, vendo que Retúlio estava deitado em meu sofá com a pele morena, o sorriso brilhante e um... e um amor tão lindo e tão forte, que o vácuo de sentimentos que eu me encontrava implodiu.

De repente.

Em mim.

E eu senti.

Tudo.

Meu joelho vacilou e eu apoiei minha mão contra a parede para não cair, porém a pressão que eu senti no meu peito no segundo seguinte fez com que eu acabasse derrubando minha mochila no chão, chamando a atenção do casal enquanto eu tentava recuperar o meu ar, porém tudo o que eu conseguia era soluçar enquanto eu me encolhia contra a parede e meu corpo sucumbia.

O que nós éramos? O fogo. A chama. A brasa. As cinzas. Nada.

E doía.

Doía tanto que eu queria arrancar aquela bosta de coração do peito, porque não era para ser assim!

E de repente eu entendia, todas as vezes que Romeu chorou no meu ombro por um desamor ou todos os antigos corações partidos de Marcele. Era como se eu não conseguisse respirar, como se eu estivesse sufocando, então eu apenas comecei a desabotoar os primeiros botões de minha blusa.

Só que mesmo quando ela já estava completamente aberta, o aperto em meu peito continuava, com o peso de todas as palavras que eu disse me afogando. Todas as palavras que eu não disse me sufocando. E tudo o que eu consegui fazer foi abraçar minhas pernas e enfiar minha cabeça entre meus joelhos para tentar melhorar.

Mas aí eu lembrava dos seus olhos e as lágrimas escorriam com mais intensidade pelo meu rosto...

— Celinha? — eu senti os braços de Romeu ao meu redor, puxando-me contra o seu corpo e eu me agarrei contra sua camisa, porque eu me sentia sem chão e não havia nada que me mantivesse onde eu estava a não ser ele — o que aconteceu?

— Ai, Má — Túlio colocou uma mão em meu joelho e o apertou com carinho — foi o poliuretano de novo?

— Claro que não, né, Tutti! Olha a cara dela! Com certeza foi a argamassa de argila! — Romeu me defendeu fracamente e eu apenas neguei com a cabeça contra o seu peito, ouvindo um barulho alto e abafado, como se fosse um grito contido.

Só depois de um tempo eu notei que era meu. Eram todos os sentimentos que eu estava tentando guardar no meu peito, implorando que eu os liberasse para que eles finalmente parassem de me matar lentamente. E, por mais que eu soubesse que aquilo seria o melhor para mim, nem mesmo com Romeu, eu consegui.

E era isso, não era? O problema de tudo era que quanto mais ele queria saber, menos eu queria contar. E como ele pôde pensar que eu estava com o Rogger? Como ele pensou que eu o estava usando? Será que ele simplesmente não entendia nada por que não queria ou não conseguia? Será que ele era tão cego para não entender a merda de empresa que nós trabalhávamos?

Bem, isso ele com certeza sabia, porque para ele a CPN estava começando a melhorar agora. Novos projetos. Nova equipe. Novos sonhos. Ele havia plantado isso e merecia colher todas as coisas boas que lhe aguardavam, mas...

O que havia me restado? Uma dupla de um. Uma fama sem precedentes. Um lugar onde as pessoas ou me odiavam ou tinham medo de mim. Que bosta.

Que bosta!

— Marcela, por favor, fala comigo. Eu tô desesperado aqui — Romeu sussurrou contra o meu ouvido e eu tentei recuperar o meu fôlego em pequenos suspiros, porém o quanto mais eu tentava mantê-lo estável, mais ele me olhava com deboche e falhava — quem te machucou?

— Rommi... eu... — eu tentei falar, porém minha voz rasgou dentro da minha garganta e eu notei o quanto ela estava inchada, como se tivesse absorvido todas as palavras erradas que eu havia dito em minha vida e tivesse decidido que aquele era o momento da vingança.

— É sobre trabalho? — ele indagou com suavidade, fazendo carinho nas minhas costas e eu o apertei com mais força.

Era sobre trabalho. Mas não era apenas sobre trabalho.

— Cela, vem cá — eu senti a mão de Tutti contra o meu cotovelo, separando-me um pouco do meu melhor amigo para que o pediatra pudesse limpar minhas lágrimas — vou preparar uma água com açúcar para você. Quer um banho?

— Eu não...

— A gente fica com você, Celinha. Você não vai ficar sozinha — Romeu me prometeu e eu acho que foi com aquela promessa em mente que eu fui tomar um banho, porque eu tinha medo de que quando eu saísse dali, eles tivessem ido embora e eu tivesse que enfrentar aquela noite completamente sozinha.

Porque era isso. Eu não queria mais ficar sozinha, só que eu não sabia como pedir para as pessoas ficarem. Não sabia como... como dormir uma noite sem Eduardo do meu lado. E talvez isso fosse a razão da minha insônia nos últimos dias.

Quando eu saí do banho, Romeu havia preparado uma fortaleza de travesseiros e cobertores no sofá da minha sala e ele deu dois tapinhas no espaço ao seu lado, pegando a toalha que estava enrolada em meus cabelos e começando a secá-los.

Ele odiava secar meus cabelos, porque ele reclamava que eram compridos demais e demorava uma eternidade, contudo, naquele momento, ele o fez sem que eu precisasse pedir.

Túlio colocou um copo de uísque em minha mão e eu meneei minha cabeça, porém ele apenas me olhou com aquele seu jeitinho médico que não deveria ser contrariado, do mesmo jeito de quando ele me receitava algo que era mais parecido com veneno do que antídoto e me forçava a tomar.

— Ordens médicas — ele comentou e eu senti Romeu deixar seus dedos passando pelos meus cabelos, tentando ajeitá-los, mas de que adiantava os cabelos estarem em ordem quanto todo o resto estava desmoronando? — vai te ajudar a se acalmar. Pelo menos um pouco.

Eu assenti e tomei um gole com um pouco de dificuldade em engolir, porém deixando o líquido arranhar meu esôfago em seu caminho, aquecendo-me por inteira mesmo que eu não soubesse que estava com frio.

E eu acho que esse foi o empurrão que eu precisava para sentir o restante da compostura que eu estava tentando manter ruir, mesmo que eu soubesse que ela estava muito distante de mim de qualquer maneira.

— Eu acho que eu e o Edu... — eu tentei dizer em um só suspiro para não hesitar, mas minha voz falhou e eu abaixei meu rosto, sentindo que meus olhos haviam voltado a marejar.

E, por mais que meu coração estivesse completamente despedaçado por causa de Eduardo... ele era apenas uma das coisas que me assombrava de noite quando eu fechava meus olhos.

A gente nunca deveria ter misturado as coisas

O que você acha?

Qual é a porra do problema comigo?

E você veio

E aquelas palavras se repetiam em minha mente. Eu não sabia se eram ameaças ou profecias, mas eu só sentia que eu estava dentro de uma cova funda e cada vez que uma destas frases passava por mim, era como se jogassem mais e mais terra ali. Em cima de mim.

Como Eduardo poderia pensar algo assim? Como ele pôde achar que eu tinha algo com o Rogger? Será que ele não... não havia entendido tudo o que eu coloquei em risco por nós dois? Não foi apenas a merda do coração que ele partiu sem pensar duas vezes. Não. Foi o meu CREA naquela bosta de restaurante de bambu! Foi a minha reputação na empresa caso alguém soubesse de nós... pena que esta fofoca chegou tarde, porque aparentemente você não precisava transar para que as pessoas já te achassem uma vadia.

— Ele te machucou? Eu vou matar aquele merdinha... — Romeu começou a se levantar, porém Túlio apenas se colocou na frente dele, impedindo-o de sair correndo atrás de Eduardo e se humilhar quando machucasse a mão ao errar um soco.

— Rom, não... — eu segurei a barra da sua blusa e ele olhou para mim e eu acho que algo dentro do meu olhar fez com que ele hesitasse, porque ele apenas deixou o seu peito de pombo pronto pra batalha murchar — a gente só... não funciona. Juntos.

— Cela, eu nunca vi duas pessoas que funcionassem tanto quanto vocês — Túlio se ajoelhou na minha frente e eu desviei o meu olhar do dele.

Porque ele estava errado. E muito.

— Nós não... — eu segurei o copo com mais força na minha mão e virei o conteúdo inteiro que havia ali.

— Não pode ter sido tão ruim. Estamos falando do Cristal... eu sei que se vocês se sentarem e conversarem... — o pediatra continuou e eu fechei meus olhos com força, porque eu amava Getúlio Alves, mas eu estava a uma palavra de mandá-lo capinar um lote e parar de falar sobre algo que ele não entendia.

Eu não queria conselho.

Eu não queria uma solução.

Eu só queria me sentir uma merda que foi tratada como lixo de novo e de novo e de novo por tantas pessoas diferentes que eu queria apenas... eu estava tão cansada.

— Tutti, para. Foda-se isso. Foda-se que é o Cristal. Ele machucou a Marcela — e, pela primeira vez, eu vi Tutti recuar quando Rommi cruzou seus braços.

— Eu só estou falando que pode ter uma explicação — e aí ele percebeu algo e me olhou — por que vocês terminaram?

Acho que o meu olhar mostrou como aquela pergunta me enjoou, porque eu apenas passei as minhas mãos pelos meus cabelos e eu me levantei do sofá, abrindo a sacada para ventilar um pouco e fazer com que aquela sensação deixasse meu corpo.

A gente nunca deveria ter misturado as coisas

O que você acha?

Qual é a porra do problema comigo?

E você veio

Só que não funcionou, porque eu apenas tive a impressão que era como se ele estivesse na minha frente de novo, olhando-me com tanta frieza que eu tive certeza de que se eu mergulhasse no seu olhar, morreria congelada e ele não pensaria duas vezes em me deixar ali.

E... e não era para ser assim. Era para ele ser o meu porto-seguro. Meu apoio. Meu... era para ele realizar meus sonhos e não...

— Caralho, Getúlio! É tipo chutar um cachorrinho machucado! — Romeu se colocou na minha frente, como se Túlio realmente fosse me chutar, mas pelo seu olhar estreito e pouco amigável, eu tinha quase certeza de que eu não era mais a pessoa que ele miraria o chute.

— Tá, Romeu, não é só porque é o nosso cachorro que a gente passa o pano por tudo, tá? Vai que ela mordeu! — Túlio claramente se empolgou na metáfora e, por reflexo, eu mordi meus lábios, sabendo que eu havia latido e mordido. E eu sinceramente não sabia dizer quem havia saído mais machucado da briga, mas eu sabia que se nós contássemos o quanto a vida estava batendo...

Não havia nem competição, porque eu sentia que meus machucados não conseguiam nem ao menos se fechar antes de um novo aparecer.

— Olha pra cara acabada dela, querido, você acha que alguém que pensou em machucar quem ama faria isso? — Rom apontou para mim e eu me encolhi, porque eu sei que ele estava me defendendo, mas... porra Rommi.

— Eu só quero entender o que está acontecendo, anjo — seu marido revidou dois tons acima, quase com uma voadora verbal.

E aquilo, eu acho, foi o fim.

Eu nunca vi Retúlio brigar assim. Por nada. E eles estavam brigando por mim.

A gente nunca deveria ter misturado as coisas

O que você acha?

Qual é a porra do problema comigo?

E você veio

— Ele odeia trabalhar comigo — eu disse, por fim, e os dois pararam para me olhar, com interrogações tão grandes no olhar que eu apenas fechei os meus antes de continuar, porque não aguentaria dizer aquilo e acompanhar as suas reações — ele disse pro RH. Odeia. Sente vergonha. Ele acha... ele acha que eu estou transando com metade de São Paulo. Exatamente como toda a empresa. E aí... se ele realmente pensa isso de mim hoje, será que ele sempre pensou assim e eu que não notei? — eu abri meus olhos para eles, vendo um conflito de expressões que refletia muito bem como eu me sentia.

— Cela... — Túlio começou a falar, porém nem mesmo ele sabia o que dizer por sua hesitação — não pode ser verdade. Se você sentar com calma e conversar com o Cristal...

— Getúlio, para — Romeu apontou o dedo para o pediatra, tremendo. Não sei se era de raiva do seu marido, de Eduardo, ou de mim ter estragado a volta da sua lua de mel.

— Rom, Tutti, não briguem, por favor — eu pedi, mas eu acho que eles já não estavam mais prestando atenção, pois seus olhares estavam fixados um no outro em uma conversa que eu conseguia praticamente acompanhar mesmo que nenhuma palavra fosse proferida.

— Desculpa, Cela, mas eu... eu acho que vou embora — Getúlio me deu um beijo breve na cabeça e pegou o seu casaco — eu espero que vocês consigam se resolver.

— Tutti... — eu o chamei, mas ele já havia saído — Rom, não faz isso. Vai atrás dele.

— Não. Você é minha garota. Eu nunca vou te deixar sozinha — e, com isso, ele nos serviu algumas doses de uísque, por ordens médicas.

— A Rose fez certo! Morte ao Jack! — Romeu berrou contra a minha televisão, basicamente abraçado com ela depois que a garrafa havia acabado e nós havíamos tido a péssima ideia de beber a tequila que havia ali e... eu sabia que a gente deveria ter usado copos de shot para isso, e não apenas enchido o cu de tequila com o copo de uísque, mas quem disse que eu estava ouvindo o bom senso? O Jose Cuervo me disse que ele poderia anestesiar meus problemas e eu... e eu quis acreditar nele.

Eu olhei para a Kate Winslet que murmurava juras de amor para o Leonardo DiCaprio e eu limpei uma lágrima silenciosa que teimou em escorrer pelo meu rosto, porque... porque o Eduardo era o meu Jack, cantando aquela música ridícula com direito a flauta boliviana e cheiro de maresia, mas quando foi a sua vez de me dar um espaço na sua porta, ele me empurrou no oceano.

Mais uma mentira pra conta.

Talvez fosse a sua justiça poética por anos odiando o que a Rose fez com o Jack.

— Isso! Cuida primeiro de você, porque o Jack fez merda o filme todo! Se livra dele antes que ele te machuque! — Romeu continuou ronronando contra a televisão e eu temi que ela tombasse em cima dele.

Será que iria quebrar? Provavelmente.

Eu iria rir? Espero que sim.

Eu iria ajudá-lo? Depois de rir? Sim.

Antes? Não.

— Rom, vamos trocar de filme? — eu pedi e ele piscou duas vezes antes de se jogar em cima de mim como uma pluma de setenta quilos.

— O próximo é um clássico. Esse daí é sobre uma mulher empreendedora que deu a volta por cima — ele me explicou e precisou de cinco minutos para escrever o nome do filme certo, porque ele não conseguia acertar a ordem das letras.

E foi aí que começamos a assistir Uma Linda Mulher.

E no começo foi engraçado. O carro. O flerte. A banheira...

Só que havia uma cena ali que eu não me recordava que...

Quando o melhor amigo do Richard Gere tentou se aproveitar da Julia Roberts, meu corpo teve um espasmo involuntário e eu me encolhi, afastando-me de Romeu, porque era como se eu conseguisse sentir de novo as mãos de Matheus Kaiser contra a minha coxa, me segurando pelo braço e...

— Marcela — Romeu me chamou e segurou o meu rosto, limpando minhas lágrimas com o olhar aterrorizado e... irado? — Marcela, o Eduardo...?

Eu meneei minha cabeça automaticamente, porque esta cicatriz não tinha o seu nome.

Só que meu melhor amigo não pareceu exatamente convencido, então eu apenas coloquei minhas mãos em cima das dele, pedindo pelo amor de Deus que ele acreditasse em mim, porque aquele arquiteto insustentável poderia ter partido meu coração em milhões de pedacinhos não recicláveis, mas ele nunca encostaria um dedo em mim.

Isso era algo que não deveria nem ser questionado.

— Cela, aconteceu alguma coisa que você não quer me contar, mas que se você apenas concordar, eu vou entender? — ele murmurou as palavras e eu não sabia o que dizer.

Por que não havia acontecido. Mas havia. Havia e isso fez com que o meu mundo virasse de cabeça para baixo, por isso eu anui.

— Ai, meu amor — ele passou minhas pernas pelo seu colo, aninhando-me em seu peito com tanto carinho que eu não ousei dizer que eu não queria estar ali. Porque eu queria. E eu tinha uma puta sorte por ter uma pessoa como Romeu Sampaio para chamar de melhor amigo — eu não acredito. Eu não acredito que isso aconteceu com você.

E Romeu entendeu tudo, mesmo que eu não precisasse dizer nada.

A gente nunca deveria ter misturado as coisas

O que você acha?

Qual é a porra do problema comigo?

E você veio

— Eu não... — eu tentei falar, mas as palavras morreram dentro do meu peito e eu solucei mais algumas lágrimas para fora.

Por que eu simplesmente não conseguia falar sobre aquilo?

— E o Eduardo não fez nada? Eu teria metido a porrada nele. Que nem o Richard Gere fez — ele apontou para a televisão na exata cena do soco e eu me aprocheguei mais contra o corpo de Romeu, porque ele estava me transmitindo uma paz que eu não havia encontrado desde sexta.

— Eu não... não sei se um dia vou conseguir falar isso pra ele — eu o abracei, sabendo que ele iria tentar me olhar nos olhos, mas eu não precisava de um sermão naquele momento — não to pronta, Rommi. E se ele achar que...?

— Se ele achar qualquer coisa, eu realmente atropelo o cara.

— Sua carta ainda está vencida.

— Patinete elétrico também faz estrago — ele beijou minha cabeça e eu sorri contra o seu peito, mesmo que eu soubesse que ele realmente o faria — e eu acho que você deveria falar sobre isso. Comigo. Ou com alguém.

— Eu não... — comecei a me negar, porém suas mãos apenas me apertaram com mais força.

— Quando você estiver pronta. Quando quiser. No seu tempo. Mas eu acho que você não deveria ficar com isso dentro do seu peito para sempre — ele sussurrou contra o meu ouvido e eu funguei contra sua blusa e concordando, mesmo que eu soubesse que esse tempo era tão relativo que talvez nunca chegaria — você é tão forte, Marcela Noronha, e nem faz ideia disso. E eu te amo tanto que eu me sinto quebrado por não estar aqui com você. Por você.

— Eu também te amo, Rom — eu murmurei com toda força que me havia restado — e eu acho que você deveria ir para sua casa para se resolver com o Tutti. Vocês acabaram de voltar da lua de mel e eu não consigo acreditar que brigaram por minha causa, porque...

— Eu vou, Celinha, mas hoje eu vou ficar aqui com você. E amanhã. E depois. E todos os dias que você precisar de mim — ele beijou minha testa e eu coloquei minha mão em cima das dele — eu sei que você quer o seu espaço e toda essa ladainha que eu escuto há anos, mas eu continuo aqui. Sempre. E quando você me quiser fora, eu vou. Mas enquanto me quiser aqui, eu fico.

Eu estava prestes a argumentar quando ele puxou meu rosto para cima, calando-me com a quantidade de sentimentos que escorriam dos seus olhos, porque mesmo que Romeu Sampaio não fosse o tipo que demonstrava todos os seus sentimentos com palavras, ele demonstrava com ações. Com o olhar. Com um abraço. Ou só em segurar meu rosto e apoiar sua testa na minha — e eu acho que nós éramos tão bons um para o outro por isso, porque eu também nunca fui um livro aberto, mas de alguma maneira a gente se entendia.

E eu fechei meus olhos, concordando, porque eu não queria encarar aquela noite fria sozinha, só que quando eu inspirei o seu aroma de Invictus, no fundo do meu coração eu queria que fosse One Million, então eu voltei a chorar.

Até Romeu me atingir com um travesseiro em uma guerra que fez até mesmo o pobre Seu Agenor interfonar para saber se estava tudo bem — e não estava nada bem, mas quem disse isso foi Romeu, logo antes de vomitar no meu tapete.

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Depois das emoções e surtos de ontem, seguimos aqui na avenida do descontrole com esse capítulo que destrói a alma, mas aquece o coração.

Marcela sofrendo pela briga com o Edu... bem, não é só pela briga, né? A briga foi a gota d'água do copinho que acabou de transbordar.

E para todo mundo que achou que Romeu Sampaio faria Marcela Noronha ver as coisas com clareza... bem, o Rommi ama a Má demais, e talvez por isso ele sempre vai colocá-la em primeiro lugar para tudo, inclusive para isso.

Esperamos que estejam gostando! Atualmente a gente está ladeira abaixo no nosso fusquinha sem freio, mas na expectativa que vamos retomar o controle e a subida esteja logo ali!!!!

Não esqueçam da estrelinha (a gente notou que o wattpad teve instabilidade nos últimos dias e não computou vários votos, então dá um olhadinha se isso pode não ter acontecido contigo e aquece nosso coraçãozinho hihihi) e continuem surtando com a gente!

"Enquanto tiver surtos de vocês, teremos capítulos de CEM", Briela, Li, 2021

Beijinhos,

Libriela </3

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