Capítulo 58 - Tsunami
Tsunami
Eduardo
Havia uma grande possibilidade de eu ter batido um recorde de saída rápida da CPN. Quando eu coloquei os olhos em Marcela e vi que ela estava com... Que ela estava com... Eu simplesmente virei as costas e voltei para o elevador antes que ela me visse, saindo de lá com mais pressa do que quando estava chegando ansioso para falar com ela.
Tenho certeza que fui um escroto com a Joana da portaria e ela não merecia só porque eu estava... O que eu estava?
Puto? Pra caralho.
Triste? Pra caralho também.
Confuso? Totalmente.
Eu simplesmente não podia acreditar que depois de tudo... Ela estava com ele. Que ela precisava de um tempo de mim, mas não dele. Que...
Fechei os olhos e recostei na poltrona do carro, tentando encontrar uma calma que claramente eu não tinha, pelo menos não naquele momento. Não depois de eu ter acreditado fielmente que a gente ia se resolver, que ia provavelmente sair dali como um casal e que eu diria para Marcela todas aquelas coisas que eu sentia por ela.
E, de repente, amar Marcela era uma bênção e uma maldição, porque eu tenho certeza que uma bênção não pareceria estar me rasgando de dentro para fora, criando um corte tão profundo como se um gancho tivesse me atravessado. Um arpão. Qualquer instrumento perfurocortante que causasse um estrago sem precedentes.
Ela estava com o Pirulito Louro. Dentro da CPN, onde qualquer um podia chegar e ver. Se fosse eu, provavelmente ela teria me feito ficar a umas quatro mesas de distância para que ninguém pudesse ver a gente... Perto. Para que ninguém desconfiasse que havia algum tipo de envolvimento além do profissional entre nós dois.
Então...
O problema era comigo? Não era a questão de ter que oficializar pro RH, ou dos nossos colegas de trabalho saberem? O problema não era que eles soubessem que ela estava se envolvendo alguém, mas comigo?
Eu não era uma pessoa ruim. Quero dizer, eu sempre achei que não. Minha fama sempre foi sobre ser o arquiteto sustentável, mas, até aí, tudo bem, acho que não estava cometendo nenhum pecado capital, só tentando ser uma pessoa na média.
O que eu tinha feito? O que tinha de tão errado assim comigo que repelia Marcela?
Caralho.
O que eu precisava fazer para que não doesse tanto?
Era como... Eu me sentia como quando descobri sobre Ágata e Aristeu. Só que umas quinhentas vezes pior, porque, sinceramente, eu não fazia ideia de como fazer parar... A Marcela, caralho, eu amava a Marcela!
Apoiei minha testa no volante, sentindo minha própria respiração pesada e tentando entender, procurando uma explicação... Mas que porra de explicação havia? Estava tudo lá, diante dos meus olhos, literalmente.
Eu não conseguia voltar lá e confrontar Marcela com a minha presença.
Eu não conseguia pensar em voltar para casa e ter que contar para Henrique Francisco que eu era um perfeito idiota e ter que lidar com o seu olhar de pena e, possivelmente, o de Leandro também. E, ao invés de comemorar as coisas boas daquele dia, usar um monte de espumante caro para ficar bêbado até esquecer tudo.
Um coma alcóolico provavelmente me cairia como uma luva. Pelo menos eu não ia sentir aquela coisa dentro do meu peito praticamente me engolindo e me levando para algum lugar sombrio onde eu nunca tinha estado antes.
Mas eu também não conseguia ficar ali, parado em frente a CPN como se esperasse apenas para ter um vislumbre de quando Marcela fosse embora... Acompanhada, talvez?
Então eu dei partida no carro e dirigi, sem qualquer rumo, sem nem muito apego sobre para onde estava indo, mas apenas porque, com um carro em movimento, eu era obrigado a concentrar minha atenção em outra coisa.
Coloquei uma música para abafar meus pensamentos e aquela porra de playlist de música sertaneja começou a tocar e, como se o Spotify soubesse exatamente o que eu não precisava ouvir, estava tocando a pior música possível para aquele momento.
Ele não tem o meu beijo, o meu cheiro, o meu corpo,
Meu amor safado, suado e gostoso, não tem, ele não tem...
Mas talvez o problema fosse justamente o meu beijo, o meu corpo, o meu cheiro...
Talvez o problema fosse eu.
Eu me sentia tão... Estúpido.
Por ter acreditado que era recíproco.
Os sinais do tsunami... Eles claramente estavam ali. Em cada vez que ela corria do meu carro. Em cada disfarçada rápida antes que o elevador abrisse. Em cada vez que ela exigia que eu a chamasse de Marcela e não de amor. Em quando ela não quis que as pessoas soubessem que ela era a engenheira do restaurante de Cecília para não levantar suspeitas.
Eduardo Senna, idiota o suficiente para ignorar os sinais do desastre eminente.
Desliguei o som porque aquele sertanejo ia acabar me fazendo bater o carro por pensar demais e não de menos, como era o objetivo, e eu precisava de clareza. Eu precisava entender. Colocar os pingos nos is. Eu tinha ido até ali para conversar com Marcela e dizer... Tudo.
Eu me odiei por saber que eu ainda precisava falar com ela depois do que eu vi e sabendo o quanto ia doer. Não era a conversa que eu estava esperando ter, mas, pelo sim ou pelo não, aquilo que a gente tinha precisava sair de cima do muro e pender para algum lado.
— Não seja estúpido, Eduardo — murmurei para mim mesmo quando pensei em desistir.
Novamente, eu me sentia uma vaca indo para o abate, mas, mesmo assim, fiz o contorno e dirigi... Não para a CPN, para a casa de Marcela.
Só o som do motor do carro se misturava com o turbilhão de pensamentos de culpa e autopiedade que eu estava tendo naquele momento. E, quando eu estacionei em frente àquela fachada absolutamente familiar do prédio de Marcela, eu só tinha os meus pensamentos em looping, se repetindo e se repetindo e espalhando aquela coisa amarga e ruim por todo o meu sistema, até que eu não pudesse mais distinguir aquilo de qualquer pensamento racional.
Eu saí do carro porque me senti quase claustrofóbico ali dentro, mas nem a lufada fresca do ar noturno de São Paulo me fez sentir que estava respirando direito. Eu só estava me sentindo profundamente sufocado pelo que não tinha sido dito, pelas entrelinhas, por aquele muro que existia entre Marcela e eu e que, ironicamente, eu nunca tinha percebido.
Só que por mais que estivesse doendo, eu não estava realmente preparado para a dor que foi quando aquele Uber parou em frente ao prédio e Marcela saiu dele, colocando a bolsa no braço e acenando para o motorista, que afastou vagarosamente demais aquele Argo.
Ou talvez as coisas estivessem devagar apenas na minha cabeça.
E aí Marcela olhou para mim. Seus olhos castanhos, cheios de tons diferentes intrincados, encontraram os meus com surpresa e carinho e ela... Sorriu.
Eu quase me curvei para frente por causa da dor no meu peito, que aumentava a cada passo que ela dava na minha direção, com aquele sorriso nos lábios que claramente estava me dizendo alguma coisa, ainda que eu não estivesse entendendo.
Eu amava aquele sorriso.
E era por isso que parecia que eu estava levando um soco atrás do outro.
Marcela veio até mim e não pestanejou nem por um segundo quando envolveu meu tronco com os braços, juntando seu corpo com o meu daquele jeito que me fazia acreditar que era sim, recíproco. Que era sim de verdade. Que nós dois éramos sim... Algo certo.
Eu apoiei minhas mãos nas costas dela por um reflexo, porque eu tinha feito isso por tanto tempo que meu corpo sabia automaticamente como agir. Fechei os olhos em um momento de fraqueza, aspirando aquele aroma de Good Girl e Marcela, odiando amar aquele cheiro e desejando que tudo pudesse ser como antes, quando era simples e fácil estar com ela.
Mas não dava. Não depois de... Não.
O veneno que tinha sido a acusação sobre Tamara, Rogério, aquele objetivo claro de estar comigo desde que ninguém soubesse... Aquilo correu pelas minhas veias e eu abri os olhos para ver Marcela ficando na ponta dos pés e sua boca vindo para a minha, precedendo um daqueles beijos que fariam minhas pernas tremerem e meu coração quase saltar do peito.
Uma fração de segundo bastou para que eu me lembrasse porque estava ali e eu virei o rosto antes que ela me beijasse e eu me deixasse ser feito de idiota mais uma vez.
— Então quando nós estamos sozinhos você quer me beijar? — perguntei, notando como minha voz soou amarga enquanto eu tirava as minhas mãos de Marcela e dava um passo para trás para abrir um espaço entre nós e quebrar o contato.
Marcela deu um passo para trás no mesmo momento, olhando para mim com as sobrancelhas apertadas, assim como os lábios, hesitando por um segundo como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.
— Do que você está falando, Edu? — perguntou, mordendo devagar o canto do lábio enquanto olhava para mim antes de prosseguir: — Se for sobre a briga do elevador, eu sinto muito mesmo. Eu não acredito de verdade naquilo. Eu só estou... desculpa. A gente pode esquecer e...
Neguei com a cabeça.
— Não é sobre isso, Marcela. Basicamente é sobre você sempre sair correndo do meu carro de manhã, mas também sobre se afastar de mim toda vez que o elevador está prestes a abrir, ou então quando você foge de mim cada vez que a gente passa dois minutos juntos dentro da CPN, ou sobre não me deixar comentar sobre o projeto do restaurante que a gente faz junto pra ninguém. — As palavras saíram de mim sem que eu tivesse exatamente algum tipo de controle sobre elas. Elas simplesmente foram expelidas como um jato, todas juntas, misturadas, de uma vez.
Marcela recuou mais um passo enquanto eu afundei as mãos nos bolsos, apenas aguardando que ela processasse.
— Como assim? Você sabe muito bem qual é o motivo disso tudo, Edu, de tudo o que aconteceria se... — ela hesitou, ainda me olhando daquele jeito confuso, procurando alguma lógica no que eu estava falando.
Talvez do seu lado da moeda, tudo fizesse sentido, mas do meu... Bem, eu não curtia que a pessoa que supostamente estava comigo fugisse de mim ou me mantivesse em segredo. Especialmente quando tudo bem ser vista com outra pessoa.
Como, caralhos, eu podia saber qual era o problema comigo?
Porque claramente havia um problema comigo, porque eu não era bom o suficiente pra ninguém que eu tinha amado.
Eu não era bom o suficiente para Marcela.
— Não, Marcela, eu não sei o motivo disso. Eu não sei o motivo para você não querer estar ou ser vista comigo quando tudo bem se alguém chegasse e te visse com o Pirulito Louro na CPN.
— O quê? — Marcela perguntou e não era só confusão que havia nas suas feições dessa vez. — Como você sabe disso?
Puta que pariu. Eu acho que essa era a pior coisa que ela podia ter dito porque... Não era pra eu saber? Eu não podia saber que ela tinha encontrado o Rogério?
Pelo amor de Deus, a que ponto da estupidez eu tinha chegado?
— Era segredo? — perguntei, as palavras saindo como veneno da minha boca.
— Você realmente está achando que eu...? — Marcela disse, erguendo as sobrancelhas e deixando os lábios entreabertos por um momento, como se estivesse realmente tentando entender o que poderia ser dito depois. Buscando as palavras exatas. Ela suspirou, deixando o ar escapar pelas narinas de um jeito pesado, cansado — O Rogger apareceu na CPN com um jantar e me ligou, não foi nada planejado e nem aconteceu nad...
— Não precisa explicar, Marcela. Eu entendi.
Algo no olhar de Marcela mudou. Ela não estava mais me olhando daquele jeito de quem tentava entender alguma coisa, ao contrário. Havia um toque de raiva ali, talvez mágoa, talvez cansaço. Talvez. Acho que eu não era a pessoa certa para tentar explicar o que se passava na cabeça de Marcela Noronha, embora por um tempo eu tenha achado que entendia exatamente o que se passava com ela.
— O que você pode ter entendido, Eduardo, se não aconteceu porra nenhuma? — Aquela coisa que tinha no seu olhar quando ela desceu do Uber e me viu no seu portão, que apareceu exatamente no mesmo segundo que ela sorriu, desapareceu. — Eu sei que eu errei quando falei sobre a Tamara, mas eu... você acha mesmo que eu..? Eu não minto para você. — Ela ergueu um dedo em riste, daquele jeito mandão que eu costumava achar incrível, mas que agora parecia apenas... Eu não sei. Parecia apenas me acusar de algo e eu acho que ela não tinha realmente esse direito depois de... — Aparentemente quem mente na nossa relação é você.
O quê?
Quem mentia era eu? O filho da puta apaixonado? O filho da puta que a amava?
Eu dei uma risada amarga pela ironia.
Eu podia ter estado com Tamara e tinha escolhido Marcela, porque além de burro como uma porta para acreditar que nós dois estávamos na mesma sintonia, eu era fiel e simplesmente não conseguia sequer me sentir atraído por outra pessoa que não fosse Marcela Noronha. E agora ela vinha com essa de que eu estava mentindo?
O grandessíssimo caralho!
— Eu? — perguntei, incrédulo porque eu nunca, literalmente nunca, tinha mentido para ela. — Quando foi que eu menti para você, Marcela? Eu vi você com o Pirulito Louro pelas minhas costas e eu que minto?
Marcela levou as mãos às têmporas e as deixou cair com um suspiro resignado.
— Você realmente viu algo com o Rogério ou está deixando sua imaginação trabalhar, Edu? — perguntou, em um tom de voz mais alto e mais duro do que em qualquer outra conversa que nós já tivéssemos tido, incluindo as discussões referentes aos projetos. Daquela vez, fui eu quem recuei, mas Marcela avançou na mesma proporção. — Mas faz sentido você pensar o pior de mim, não é? Porque há três anos quem está te atrasando sou justamente eu, então por que eu mereceria o benefício da dúvida? Além de destruir todos os seus sonhos de arquiteto ambientalista socando aço e vidro nas obras, o que mais eu fiz para você odiar trabalhar comigo?
Aquilo era um tipo de estratégia de que a melhor defesa é um bom ataque? Por que ela estava falando de trabalho quando...?
— Eu não estou falando na porra da CPN aqui, Marcela! — Vociferei, negando com a cabeça. — Eu nunca disse que odeio trabalhar com você e a questão aqui não é...
— Não falou? Tem certeza? — A ironia na voz dela deixava as coisas ainda piores do que já estavam. Eu sentia que eu podia explodir a qualquer momento porque havia algo crescendo no meu peito e tomando proporções avassaladoras. Algo que era um misto de dor e raiva, eu acho. — Porque eu conversei com a Gisele sobre como você está insatisfeito com o seu trabalho na CPN. Você não pensou em falar comigo primeiro antes de espalhar o quanto eu sou uma engenheira intransigente que não aceita nenhuma das suas ideias para salvar o planeta?
Acho que ela viu a confusão no meu rosto por uma fração de segundo.
É claro que eu não tinha pensado em falar porra nenhuma com Marcela, porque não tinha nada para falar. Eu não odiava meu trabalho e não odiava trabalhar com ela e, se tinha algo em que eu jamais poderia questionar Marcela Noronha, era na sua qualidade como engenheira.
Eu adoraria saber quando foi exatamente que eu a queimei dessa forma para a Gisele, porque até onde eu me lembro, eu era um "boiola do caralho" quando se tratava de Marcela e, muito ao contrário do que ela estava achando, eu tinha orgulho de cada projeto que fizemos juntos e realmente a considerava a melhor dos melhores. Assim como nossos projetos, porque eu sabia que nós dois éramos profissionais melhores juntos.
— Bom, Marcela, é um pouco difícil falar com você quando você deixou muito claro que não quer falar comigo. Como eu poderia saber que você está falando comigo agora? Porque parece que eu troquei umas duas palavras com você desde sexta-feira e só porque eu insisti muito.
— Uau, desde sexta... Realmente, nos outros três anos você não teve nenhuma oportunidade para falar comigo sobre isso — disse ela, cruzando os braços de forma brusca, externando sua raiva. — Mas deve ser mesmo difícil conversar comigo nesses anos ininterruptos de sofrimento, vou tentar entender o pobre arquiteto.
Não era possível.
Como o assunto tinha chegado ali?
Toda a briga sempre era uma bola de neve que crescia numa velocidade avassaladora, mas não tinha porra nenhuma a ver com o trabalho e sim com Marcela achar que eu era ótimo em casa, mas não em público, como uma pantufa. Aparentemente eu era ótimo na cama dela, mas só lá.
E aquilo que eu sentia? Bem, era aquilo que eu sentia mesmo. Sozinho. Platonicamente.
— E esse tempo todo eu achei que como engenheira-arquiteto a gente mandasse muito bem.
— Eu também, mas aparentemente só eu achava isso, não é? — Ela negou com a cabeça e emendou rápido quando eu abri a boca para responder: — Você odiou tanto trabalhar comigo que sequer me considerou para ser a engenheira do seu setor! Eu não sou boa o suficiente pra você? Pra sua área nova?
— Marcela, caralho, o quê? — questionei, sinceramente sem entender aquilo ou como a gente tinha começado a discutir sobre a CPN. Ergui as minhas mãos como se estivesse fazendo uma prece apenas para ver que estavam trêmulas. — Não foi como se Renata, Thales e Fernando tivessem chegado com um leque de engenheiros e me perguntado qual deles eu escolhia para trabalhar comigo! Não tenta desviar da porra do assunto, porque eu não escolhi o engenheiro e é de conhecimento geral que você odeia construções verdes!
— Você chegou a essa conclusão antes ou depois de nós começarmos a construir juntos um restaurante de bambu? — ela me perguntou com os lábios tremendo.
Caralho.
Caralho.
Caralho.
— Marcela, eu vou deixar as coisas claras aqui. Eu não odeio o meu trabalho e não odeio o jeito que você trabalha como engenheira, muito pelo contrário. Aliás, tudo o que eu sinto por você vai totalmente na mão oposta do que você está sugerindo e... — Suspirei sob o olhar analítico da engenheira, que ainda me encarava como se eu fosse uma equação extremamente complexa e que talvez ela não estivesse com tanta vontade assim de resolver. — O que eu odeio, e odeio pra caralho, é que você se envolva comigo, mas queira me manter como um segredo sujo. Por que tudo bem se alguém te ver com o Rogério e comigo rolar quase uma ordem de restrição para que eu fique longe? — eu hesitei por um breve segundo, porque a pergunta que eu não queria fazer precisava ser feita: — Qual é a porra do problema comigo?
Eu estava me sentindo tão usado que simplesmente não consegui segurar e vomitei aquilo para fora como se fosse algo tóxico que o meu corpo precisava expelir antes que acabasse me matando.
Marcela piscou os olhos várias vezes e, de novo, eu soube que tinha alguma coisa ali. Algo que eu deveria entender, mas eu estava tão cego de raiva que não tenho certeza nem se estava realmente vendo o rosto dela ou simplesmente um borrão que lembrava vagamente.
Ela estava com raiva, mas, até aí, éramos dois.
A mágoa era recíproca também.
— Você sabe o problema. Eu te disse, você viu e... Eu coloquei meu CREA em jogo pelo seu sonho verde, Eduardo. Realmente não significou nada? — questionou em um tom mais baixo.
Tinha significado, é óbvio. Tanto que eu tinha me apaixonado. Tanto que eu tinha deixado a porta do meu coração escancarada para que ela entrasse e fizesse dali sua casa, porque eu achei que aquilo... Que ela arriscar algo que ela valorizava tanto por mim era o jeito dela de dizer que queria morar ali.
E, de repente... Ali estávamos nós. Cheios de acusações, de raiva e ressentimento.
E eu simplesmente... Eu não sabia qual era o problema! Qual era a peça defeituosa que estava comprometendo todo o mecanismo que parecia funcionar tão bem?
Ou será que, de verdade, nunca tinha funcionado? E eu só... Quis pensar que sim?
— A gente nunca deveria ter misturado as coisas. A gente só funcionava como equipe — eu disse, após um suspiro resignado, cansado demais daquela discussão que não nos levaria a nada, porém, que tinha deixado claro que...
— Aparentemente não funcionava, não — ela colocou para fora em um sussurro.
A gente se encarou, olhos nos olhos, por um segundo que pareceu um infinito. Havia mágoa, tristeza, raiva e mais uma série de sentimentos ruins naquele olhar de Marcela, e eu sabia que aquele olhar era o reflexo do meu.
Um segundo.
Tenho certeza que não durou mais do que isso.
Mas doeu para uma vida inteira.
Porque, apesar de tudo... Eu não tinha automaticamente parado de amar Marcela. E vê-la daquele jeito ainda me fazia sentir um merda do caralho, mesmo que eu me sentisse tão, tão, quebrado que nem sabia se havia um jeito de consertar.
Eu baixei meu olhar, ela se virou para entrar no prédio e eu voltei para o carro, só então me dando conta do quanto minhas mãos estavam tremendo e do nó enorme na minha garganta.
Olhei mais uma vez, mas Marcela não estava mais ali.
E eu fui embora também.
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Próximo capítulo era para sair só segunda, mas depois dos surtos de ontem, a gente não resistiu <3
Depois desse capítulo a gente só consegue citar Simon & Garfukel e dizer: Hello darkness my old friend...
Pois é, galera. Para quem achou que a gente estava no fundo do poço... A gente era feliz um capítulo atrás e nem sabia.
Alguém conseguiu prever que era isso que ia acontecer?
Ninguém estava pronto para uma briga de Mardo, pelo menos não uma desse nível! Se serve de consolo (spoiler: provavelmente não serve), Libriela chorou tanto nesse capítulo que dava para dar banho na população de um pequeno país e ainda sobrava para lavar umas calçadas.
E a pergunta que não quer calar é: e agora? Será que eles vão se acalmar e conversar e ver que todo mundo entendeu tudo errado? Ou será que vai ser só uma sucessão de tudo dando errado conforme o esperado?
Sem palavras além de... Libriela sente muito e não se responsabiliza pelos danos emocionais possivelmente ocasionados aqui (e nem daqui para frente).
Não esqueçam de contar para a gente o que acharam e do votinho, alecrins dourados. E não odeiem a gente ainda, porque... Bom, não podemos dar spoilers, né?
Beijinhos com band-aid para colar nos machucados pós capítulo,
Libriela </3
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