Capítulo 5 - Carvalho Pinheiro Nogueira

Carvalho Pinheiro Nogueira

Marcela

Normalmente eu pegava o ônibus para ir pro trabalho, mas como o Romeu trabalhava perto de mim no Morumbi, ele acabou de dando carona naquele dia já que ele e Túlio dormiram em casa — o que foi ótimo, na verdade, pois o vestido branco estava no meio das minhas coxas e eu tinha certeza de que se eu levantasse a mão para segurar na barra do ônibus, todo mundo veria o shorts segunda-pele que eu coloquei.

— Você está maravilhosa, Celinha, tanto o Rogger quanto o projeto estão no papo — ele me deu um beijo no rosto e eu sorri, pois só ele mesmo para conseguir me convencer naquelas coisas tão absurdas.

— Rom, se eu precisar de um vestido pra fechar um projeto, posso muito bem jogar meu diploma no lixo — eu segurei o rosto dele com força e beijei a sua testa — mas eu aceito a sorte com o Rogger.

— Temos treze dias, querida! — Ele anunciou em alto e bom som enquanto eu abria a porta do quarto e saía do seu Fox branquinho.

Treze dias. Ele nem precisava me lembrar, porque minha mãe estava me cobrando os documentos do meu namorado fazia mais de uma semana, e eu só disse que ele ainda não havia me mandado.

Eu precisava arranjar uma vítima o mais rápido possível.

Passei meu crachá pela catraca e me girei para dentro, apertando o botão do elevador, enquanto respondia alguns e-mails do meu engenheiro calculista, Marcos Galetto, que queria bater mais uma vez os números da estrutura da entrada do prédio que era arredondada — charme de Eduardo — e ele não tinha certeza se as treliças que havia pensado anteriormente teriam resistência suficiente para aguentar a tração.

Eu suspirei, abrindo o orçamento que a Andreia do setor de planejamento financeiro mandou já no layout da apresentação e era só eu copiar e colar (coloquei na minha lista de favores de eu lhe comprar um café assim que terminasse o meu martírio como agradecimento, porque aquela era a quarta versão que ela me enviava depois que Eduardo revolvia inventar mais alguma firula).

Encostei minhas costas contra o fundo do elevador e ouvi uma pessoa quase morrendo do coração a minha frente e eu levantei meus olhos do aparelho.

O Valter, meu melhor amigo e maior fã, estava me olhando boquiaberto e a porta do elevador se fechou no corpo dele para depois se abrir de novo.

— Eu vou de escada — ele murmurou e saiu correndo.

É, acho que ele nunca mais tentaria argumentar comigo sobre as propriedades exotérmicas do cimento — acredita que ele disse que eram endotérmicas? É um tombo atrás do outro, viu?

Ah, e se alguém dissesse que uma prancheta voou acidentalmente da minha mão contra a parede, aquilo foi um boato mal contado. Eu a joguei na mesa e não na parede.

Assim que eu cheguei no décimo quinto andar, cumprimentei meia dúzia de pessoas, ouvindo uma mensagem de voz da Renata, a sócia responsável pela parte de engenharia da Carvalho Pinheiro Nogueira, minha empresa. Ela apenas estava me avisando que havia acabado de viajar para Bahia, pois uma obra estava dando vazamento e ela tinha que controlar a situação — ainda bem que meu nome não estava naquele projeto, senão eu estaria no avião com ela e Eduardo faria toda apresentação da Torre Norte, o que era perigoso.

— Bom dia, Marcela — Igor, do setor de suprimentos, me cumprimentou e eu murmurei um "Olá" indiferente para ele, pois na última festa de fim de ano ele só me deixou em paz quando eu ameacei chamar a segurança para retirá-lo dali, então eu só conversava com ele quando estritamente necessário.

Ouvi alguns murmúrios atrás de mim enquanto eu passava e tentei focar apenas em chegar na minha mesa, pois eu tinha certeza de que a pior ideia do universo foi ter usado aquele vestido naquele dia e eu nunca escutaria o fim daquela história.

Eu me sentei em minha cadeira e apertei o enter do meu teclado, digitando meu login e senha e esperando a eterna demora da rede conectar com meu computador.

Coloquei um casaquinho que eu deixava no encosto de minha cadeira em minhas pernas e foquei no trabalho, finalizando a apresentação enquanto esperava Eduardo chegar para bater os últimos detalhes do telhado verde e do reuso de água da chuva que eu havia prometido na noite anterior.

Ele chegou meia-hora atrasado, mas me compensou com um cappuccino com canela, que era a maneira que ele tentava me amansar antes de soltar um absurdo épico.

— Não — eu disse assim que ele puxou a cadeira da sua mesa para se sentar ao meu lado. Ele estava usando uma blusa azul que era exatamente da cor dos seus olhos e eu duvidava que aquilo era sem querer, pois ele sabia muito bem que aquele olhos azuis em contraste com seus cabelos negros eram a fantasia das mulheres da empresa.

Menos a minha, quero dizer.

— Mas eu não disse nada — ele respondeu cautelosamente.

— Não precisa dizer para eu saber que a resposta é não. Teste de lógica. Cappuccino significa que você precisa me convencer de algo e a minha resposta é não — eu revirei meus olhos, pois ele era extremamente previsível e eu vi que Alexandre, o engenheiro júnior ao meu lado, apenas tossiu e se levantou para não ter que presenciar mais um de nossos embates nada politizados.

— Ok — ele suspirou e me entregou o seu celular para que eu lesse uma troca de mensagens do celular.

Fernando Nogueira: - aço.

Fernando Nogueira: + moderno

Fernando Nogueira: Fala com a Marcela. Precisamos ajustar o projeto de hoje

Eu respirei fundo e fechei o meu rosto, pois, dentre os três sócios da CPN, apenas Fernando gostava de se meter no trabalho dos funcionários de última hora e achava que um projeto que demorou quatro meses para ser elaborado conseguiria ser reestruturado em seis horas.

— Não surta — Eduardo me pediu, guardando o celular em seu bolso e olhando para mim de cima a baixo com os lábios entreabertos como se seu cérebro tivesse parado de funcionar e eu bem que poderia fingir que ele teve uma convulsão para fugir daquele lugar e não passar a vergonha de apresentar aquilo.

E eu tinha tanto orgulho da Torre Norte que nós desenvolvemos. Era um dos melhores projetos de engenharia e arquitetura da empresa que eu e Eduardo já havíamos projetado, porém, pelo jeito, ele nunca veria o sol.

— Perdeu alguma coisa nas minhas pernas, Eduardo? — eu levantei uma sobrancelha para ele e cruzei meus braço, esperando que ele tivesse a decência de parecer minimamente constrangido com a sua atitude, porém ele apenas deu de ombros e sorriu para mim, sabe, aquele sorriso torto de quem conseguia se safar de quase tudo com ele? — Tá. Seis horas. Tem algum plano?

— Painéis solares? — ele riu de desespero e se levantou — vamos, acho melhor a gente usar a sala de Guerra para tentar focar nisso.

Eu esfreguei meus olhos e o segui, com o meu café e caderno em mãos, enquanto ele estava com o seu Ipad.

Assim que eu entrei na sala, Eduardo fechou a porta atrás de nós e abriu um sorriso incandescente, porém eu o parei quando estreitei meus olhos em sua direção.

— Temos seis horas para mudar todo o projeto, seja lá o que estiver passando pela sua cabeça, se não for sobre "menos aço" ou "mais moderno", você pode guardar dentro da sua mente e depois, e apenas se for um sucesso, eu juro que te escuto — eu me sentei e ele desfez o seu sorriso, concordando comigo mesmo que estivesse resignado.

Então nós passamos a próxima hora discutindo sobre estruturas metálicas para deixar um prédio de trinta e oito andares mais leve sem que ele tentasse enfiar bambu em toda a sua estrutura, o que, mesmo que ele não quisesse, teve que concordar que talvez não fosse o melhor momento de tentar estar certo.

Eu comecei a pesquisar na internet alguns exemplos de prédios que estavam adotando aquela pegada mais sustentável e...

Hearst Tower em Nova Iorque — eu me recordei, pegando o Ipad dele e mostrando a edificação — eles utilizaram boa parte do material da demolição do prédio anterior, tipo 80%, e possui essa estrutura, Diagrid, que é uma configuração em diagonal e não vertical, usando 20% menos aço do que os outros e ainda permite mais luz natural entrar no prédio.

— Podemos colocar um sistema de reuso de água? — ele arqueou as sobrancelhas, dando zoom nas imagens e inclinando a sua cabeça ao invés de girar a tela.

— Vamos mudar tudo de qualquer maneira, então, por que não? — eu ofereci e Eduardo comemorou silenciosamente — consegue esboçar algo? Preciso passar pela Andreia para reavaliar os custos. E o Marcos vai precisar validar se a malha diagonal vai conseguir suportar toda tensão.

Eduardo apenas resmungou algo para mim e eu liguei para os dois, pedindo que eles aparecessem imediatamente na sala, explicando a situação e vendo as mãos de Marcos tremerem, pois ele odiava refazer cálculos, principalmente quando ele havia se sentido confortável com os resultados anteriores.

A Andreia chamou o Galileu, do setor de logística, e o Igor, de suprimentos, que pareceram mais do que contentes em nos ajudar — ouvi dizer que eles estavam em um projeto terrível de um estacionamento de um shopping que havia sido bloqueado pela justiça.

Quando deu duas da tarde, Galileu pediu Generalle para nós — aquela saladona maravilhosa que fez os olhos de Eduardo brilharem e um estrogonofe que era a minha cara de tão delicioso. Eu tive que comer com um papel toalha como babador para ter certeza de que eu não iria sujar o vestido e tive que brigar duas vezes com o Igor para focar no trabalho e não em dar em cima da Andreia.

— Próxima vez, a gente não passa meses no projeto, só esperar até o último minuto que dá na mesma — Marcos resmungou e por mais que eu tivesse vontade de o mandar calar a boca, ele tinha razão.

Igor nos informou que este novo planejamento realmente gastaria menos aço, porém precisaria de mais vidro, o que acabaria balanceando as coisas no final, e ele apenas foi indiferente ao reuso de água, pois, de acordo com as suas palavras, isso ficava bonito e era só uma calha mais enfeitada.

Andreia me passou uns custos preocupantes e eu peguei o meu celular para conversar com o Sidney, nosso fornecedor de materiais vítreos, e nós tivemos um debate acalorado sobre ele me conseguir 5% de desconto que eu lhe daria preferência no próximo projeto para sua empresa — ele foi relutante e queria me oferecer apenas 2%, só que eu lhe expliquei que aquilo não era exatamente uma negociação e que nós poderíamos abrir a concorrência de novo no setor de Compras se ele quisesse. Óbvio que ele não queria, então apenas aceitou.

Galileu me disse que no quesito de logística, daria na mesma os dois projetos, porém este novo poderia acabar demorando duas semanas a mais por causa do sistema de ventilação a base de dutos de ar inteligentes que Eduardo queria colocar e eu decidi não bater boca, pois nos custaria menos em ventilação e ar condicionado e eu não tinha tempo para argumentar sobre o quesito poeira e sujeira da rua — isso eu cuidaria depois.

Eram quinze para as seis da tarde e Eduardo estava consolidando todas as informações que conseguimos naquele curto espaço de tempo, tendo que transformar uma apresentação concreta e realizável em um projeto idealizador e cheio de inovações.

Ficou até que bom, mesmo que o Marcos já tivesse refeito as contas trinta vezes e dissesse que estávamos abusando da margem de segurança de 5% do aço e do vidro, só que eu aceitava aquele número se ele me dissesse que ele aceitava — dois CREAS em jogo, querido.

Cinco para as seis, Galileu, Marco e Andreia já haviam saído dali para finalizarem os seus dias e apenas tentarem desentupir suas caixas de e-mail para sextarem quando Igor apenas sorriu para mim e eu revirei os olhos.

— Belas pernas, Marcela — ele piscou para mim, apoiado na porta aberta da sala, chamando a atenção de mais pessoas do que era realmente necessário.

E todo mundo ficou encarando minhas pernas, como se nunca tivessem visto um par de pernas na vida.

— Sabe, Igor, depois do dia que a gente teve, você realmente acha que eu quero ouvir sobre as minhas pernas? — eu arqueei minhas sobrancelhas, respirando fundo para não pegar o bloco de notas daquela mesa e tacar na testa daquele projeto de homem que deu errado.

— Ah, bem, você veio com esse vestido... — ele deu de ombros e deu uma risadinha casual que não tinha nada de casual.

— Tá com saudade da Gisele? Posso marcar uma conversa sua com ela caso você queira. Terceira advertência significa o quê mesmo? Suspensão, multa ou demissão? — eu franzi meu cenho e vi o seu pomo de adão magricelo engolindo a seco com a menção do RH.

Ele saiu da sala, não antes de me xingar de alguns nomes nada delicados, porém eu já havia ouvido coisa pior e a orelha da minha mãe deveria queimar 24 horas por dia de qualquer maneira — qual a necessidade de xingar as mães das pessoas quando estavam bravos? Eu realmente não entendia e não apreciava, pois era só uma tentativa de me desmoralizar.

— O cara não tem nenhum tato, por favor — Eduardo resmungou e salvou a nossa apresentação levantando-se da cadeira em que estava — primeiro elogie o cérebro e depois as pernas, é o que eu digo.

— Se eu não precisasse de você pelos próximos minutos, eu te jogaria da janela — eu sorri para ele e me perguntei se ele flanaria pelos ares pela quantidade de mato que ele consumia — um acidente. Ups.

— Ainda bem que você precisa de mim, não é, Má? — ele piscou para mim e se encaminhou para a sala da apresentação.

Assim que Eduardo terminou a sua parte de arquitetura sustentável e inovadora, eu comecei a explicar a engenharia por trás do projeto para donos do terreno da Torre Norte, que seria a nova sede da sua empresa. Oliver e Matheus Kaiser eram gêmeos idênticos, porém um estava sorrindo para apresentação e o outro estava com o rosto fechado, encarando entre Eduardo e a minha pessoa com completa confusão.

A reunião já havia começado dez minutos atrasada, porque Fernando Nogueira e Thales Carvalho haviam se atrasado e apenas Renata Pinheiro havia tido a decência de chegar mais cedo — aquele era um contrato com muitos zeros e os dois sócios pareciam que queriam jogar tudo pelos ares.

Não no meu turno.

Quando finalizamos a apresentação, eu tinha certeza de que Renata estava sorrindo, impressionada com o que nós conseguimos fazer acontecer em menos de um dia de trabalho, e aquilo me deu um pequeno ânimo para acreditar que aquele seria o maior gol que faríamos naquele ano.

— Muito bem — Oliver Kaiser agradeceu e voltou a olhar para nós dois — eu só gostaria de agradecer o engenheiro responsável pelo projeto. Realmente é uma das melhores plantas que recebemos nos últimos tempos, principalmente com o nível de detalhamento e custos apresentados.

— Sou eu — eu dei um passo a frente, tentando não sorrir demais.

Oliver viu.

— Sério, Marcelo Noronha? Eu me correspondi com ele por meses para conversarmos sobre o assunto — ele olhou para Eduardo e eu respirei fundo.

— Na verdade é Marcela Noronha. Engenheira responsável pelo projeto da Torre Norte. E este aqui é o Eduardo Senna, nosso arquiteto designado — eu apontei para Eduardo tentando fingir plenitude, pois aquilo era algo que acontecia com mais frequência do que eu gostaria.

Oliver se afundou em sua cadeira e Matheus apenas se levantou da sua e nos cumprimentou, comentando de como ele havia gostado do projeto como um todo e que ele gostaria de nos levar para uma visita de campo na semana seguinte para que pudéssemos explorar mais a opção de utilização de luz natural no edifício.

Ele segurou a minha mão por dois segundos a mais do que havia segurado a de Eduardo e seus olhos deixaram de olhar os meus apenas para descerem até o meu busto e voltar até meu rosto.

Eu mantive o rosto tranquilo e profissional o tempo que consegui, pois eu precisava daquele emprego e precisava daquele cliente.

Quando os irmãos Kaiser saíram, Renata disse que estava extremamente orgulhosa e sabia que nos colocar como dupla havia sido uma jogada vencedora e que ela estava ansiosa para tirarmos o projeto do papel para executá-lo.

Fernando e Thales nos cumprimentaram, também, e eu não tenho certeza de quem comentou aquilo, pois eu apenas estava fazendo as contas que agora eram seis e quarenta e sete e...

— Boa, Marcela! Esse vestido foi uma jogada de mestre! Sempre que formos fechar um contrato, você tem que usá-lo — então eles foram embora rindo e ficou apenas eu e Eduardo na sala.

Basicamente não importava se eu fosse uma profissional incrível, contanto que eu usasse um vestido bonito, então estava tudo bem?

— Fizemos um ótimo trabalho — Eduardo me cumprimentou, sentindo que algo estava errado, porém ele não tinha que saber exatamente o que era, pois ele era homem e homens não entendiam aquilo.

— Claro — eu respondi sem humor, amassando um pedaço de papel que estava na mesa e o acertei no lixo antes de sentir meu celular vibrar e ver que era uma mensagem de Rogério que ele acabaria atrasando cinco minutos.

Droga! O encontro!

— Edu, você mora no Itaim, não mora? — eu perguntei para o Eduardo e ele apenas assentiu para mim — consegue me dar uma carona até o Nakka, restaurante japonês?

— Por que você não vai no Oguru? É aqui perto e tão bom quanto — ele sugeriu e eu revirei meus olhos — ah, Marcela Noronha precisa ir para o Itaim especificamente?

— Pode me dar carona ou não? — eu saí da sala, vendo que o nosso andar estava quase vazio e que só nós dois havíamos restado.

— E perder a oportunidade de ficar em um trânsito de trinta minutos com você no mesmo carro que eu? Jamais — ele desligou seu computador e colocou o seu blazer — vamos, meu carro fica no G2.

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Genteee, é oficial, eu e a Gabs enlouquecemos de vez!!!!!!!

Capítulo em dias seguidinhos? Seria isso um sonho?

Mais um dia enlouquecedor na vida de uma engenheira (ou de qualquer pessoa que tenha um chefe como o Fernando, vamos combinar haha). E aqui a gente coloca um pouco sobre o que várias mulheres passam no dia a dia no mercado de trabalho )))): #PobreMá

Edu vai dar carona para Má e eu to UM SURTO EM FORMA DE GENTE <3

Próximo cap é divertidíssimo e muito intenso. Alguém adivinha o que pode acontecer?

A gente ta amando que vocês estão falando com a gente por todos os cantos sobre a história!!!!!!! Obrigada por todos os votos e comentários, eles sempre nos motivam a continuar postando e escrevendo!

Beijinhos (será que a gente aprende a se controlar?)

Libriela <3

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